Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ATIVIDADES RITMICAS E DANÇA Vanessa Dias Possamai Ritmo e musicalidade: som, movimento e expressão Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os princípios da teoria musical. Descrever os diferentes parâmetros sonoros. Analisar a notação musical. Introdução A música e o ritmo têm um papel importante na vida das pessoas e estão presentes no cotidiano de cada um. O ritmo especialmente se manifesta por meio do nosso próprio corpo, por exemplo, nos nossos batimentos cardíacos e em nossa respiração. Na educação física escolar, o ritmo se encontra como um auxiliar no desenvolvimento da criança, pois pode ser trabalhado na formação básica e técnica do movimento, além de na criatividade. Já para a música o ritmo é fundamental, tendo em vista que dita o tempo e o espaço para a criação de uma boa melodia. Assim, conhecer os elementos constitutivos mais elementares dessa linguagem, visando principalmente seu material sonoro, suas característi- cas, conhecidas como propriedades musicais do som, e seus parâmetros, pode contribuir para a compreensão da linguagem musical. Os elementos originam os parâmetros do som, e desses, por sua vez, originam-se os elementos de uma composição musical. É preciso, no entanto, reconhecer a estreiteza desses limites conceituais e ter claro que, na verdade, são maneiras distintas de se fazer referência às diversas dimensões de um mesmo evento sonoro. Neste capítulo, você vai identificar os princípios da teoria musical, vai conhecer os diferentes parâmetros sonoros e, além disso, vai aprender sobre notação musical. Princípios da teoria musical Para começar o nosso estudo, é preciso conceituar alguns termos, como o de música, para entendermos os princípios da teoria musical. A música é uma forma de linguagem que faz parte da cultura humana há muitos anos, podendo ser considerada uma forma de expressão e comunicação (BRASIL, 1998). Como características da linguagem musical, destaca-se o seu caráter lúdico e a existência de diferentes sistemas de composição musical. Podemos considerar a música como uma arte que pode infl uenciar diretamente as pes- soas, especialmente em seus lados afetivo, emocional e motivacional. Muitas vezes, ela tem um poder de recordação, ou seja, é capaz de fazer com que recordemos alguém ou algum momento que passou, estimulando a memória (BRASIL, 1998). Neste cenário, existem alguns elementos ou conceitos básicos que devem ser conhecidos e percebidos no contexto por eles formado e que se tratam dos elementos principais para a constituição da música, quais sejam: ritmo, harmonia e melodia. Partindo disso, consideramos ritmo como a percepção de duração do tempo, sua periodicidade; é algo que flui, move-se de modo regular e ao longo de um tempo. Segundo Cordero (2014), o ritmo pode ser definido como a estruturação de durações sonoras. Além disso, o ritmo tem como função expressar a energia por meio de acentuações e de alternância de tempos fortes e fracos dentro de uma peça musical. Outro elemento que constitui a música é a harmonia, que está relacionada à arte de combinar os sons, de fazer com que diferentes sons estejam em consonância entre si. A partir da harmonia, pode-se estudar a combinação de notas que soam simultaneamente. Em outras palavras, seria o resultado das sonoridades obtidas a partir da sobreposição de diferentes notas, isto é, soando ao mesmo tempo. Quando você mistura as notas musicais, o som dessa combinação pode expressar diversas sensações e emoções. Na música, observamos, muitas vezes, em acordes que acontecem durante os versos. A harmonia é importante para você compreender como montar os acordes, como combiná-los durante o acompanhamento e principalmente como usá-los para a transmissão de ideias e emoções; por isso, para muitos, é um principio considerado capaz de despertar emoções nas pessoas. Uma sequência de notas musicais, com uma sucessão de sons ritmados, organizados de forma adequada e que proporcionam um sentido musical é denominada melodia. A melodia faz com que reconheçamos a música logo no momento em que ela toca; é considerada a parte principal de uma composição Ritmo e musicalidade: som, movimento e expressão2 e é essencial que ela esteja equilibrada com a harmonia e o ritmo do som em questão. Podemos associar a melodia com uma forma de definir uma música, identificando-a mesmo sem a presença de outro componente musical — por isso, ela é considerada fundamental para uma música. Como observamos, esses três elementos estão ligados entre si e é a partir deles que a música é constituída. Existe uma relação próxima entre os princípios da teoria musical e a edu- cação física escolar, e o ritmo é um dos elementos que mais se aproxima dos conteúdos das aulas dessa disciplina. Porém, o professor deve entender que “[...] cada pessoa tem um ritmo próprio que lhe permite executar diversas atividades motoras que estimulem e impulsionem o movimento” (CORDERO, 2014, documento on-line), de modo que se trata de um fator inerente ao de- senvolvimento humano. Nesse sentido, o papel do professor é gerar estímulos que possam utilizar o ritmo como um elemento fundamental para trabalhar a coordenação motora, ao mesmo tempo que ocorre a integração funcional entre as estruturas corporais, psíquicas e espirituais (CORDERO, 2014). Laban, em 1978, interpretava o ritmo relacionado ao movimento como um manifes- tado por ondas rítmicas, constituídas pela velocidade, fluidez, intensidade e tamanho. Assim, o ritmo estava presente entre diversas combinações e, consequentemente, em diferentes movimentos. Laban (1978 apud CORDERO, 2014, documento on-line) observou “[...] que poderia haver certa relação entre acústica e o centro nervoso superior, pois, ao ouvir uma música ou ritmos, as pessoas fazem movimentos corporais espontâneos, como: movimentos de cabeça, pés, mãos, dedos, entre outros”. Podemos observá-lo em situações simples: por exemplo, ao tocar uma música em algum lugar com o uso ou não de um instrumento, o nosso corpo responde com gestos ou, muitas vezes, procuramos algo para reproduzir os sons escutados. Quando várias vozes ou sons são ouvidos em igual nível de importância, temos uma polifonia. Na polifonia, o compositor experimenta como as linhas melódicas se relacio- nam consigo mesmas. Então, as várias linhas são como que “trançadas”, elaboradas em um entrelaçamento. Na verdade, a polifonia soa muito mais como várias conversações paralelas acontecendo ao mesmo tempo. Sua leitura é “horizontal”, já que consiste na compreensão das várias linhas discursivas, que se relacionam em uma disputa entre si (COLÉGIO PEDRO II, [2019]). 3Ritmo e musicalidade: som, movimento e expressão Cordero (2014) complementa o que já dizia Laban em 1978: utiliza-se o sentido rítmico por meio da música para trabalhar diversas atividades físicas; o ritmo pode servir como ferramenta metodológica para a aprendizagem e a fixação de habilidades motoras e, a partir disso, o professor pode sugerir diversas atividades devidamente organizadas e sequenciadas para o aprendizado de uma destreza. Para o autor, uma criança com uma boa percepção e assimilação do ritmo conseguiria fixar de melhor forma uma determinada habilidade, considerando que pode ordenar o sistema muscular à percepção da intensidade. Então, o que é teoria musical? Não há exatamente um conceito determinado e único para definir teoria musical, mas podemos, a partir dos conceitos de harmonia, ritmo e melodia, defini-la como a constituição de toda a estrutura e do processo de formação da música. Além disso, precisamos considerar que a teoria musical está próxima de nós, em ações e sons escutados em nosso cotidiano. Mesmo não tendo conhecimento, passamos e sentimos as sensações fornecidas pela música, buscando reproduzir o ritmo a partir da nossa percepção temporal. Cabe comentar, ainda, que a música fez parte da sociedadeantiga e segue na moderna, de modo que pode ser considerada um elemento cultural que acompanhou, e acompanha, a humanidade em diversas épocas e sociedades. É a partir da música que muitas histórias são transmitidas e conhecimentos são produzidos e adquiridos. Quando refletimos sobre o assunto, podemos trazê-lo para a nossa realidade, na qual temos muito contato com os elementos musicais. Assim, é importante que o professor de educação física os inclua em suas aulas, tendo em vista que eles podem oferecer suporte para trabalhar questões como, por exemplo, ritmo corporal, sentir os batimentos cardíacos e nossa respiração. A música é um conjunto de sons e silêncios harmônicos de modo agradável ao ouvido. Porém, para conhecermos a música, que é o produto final de um conjunto de elementos, como vimos anteriormente, devemos aprofundar os nossos conhecimentos em alguns elementos denominados parâmetros sonoros, que são originados a partir de vibrações sonoras (ondas sonoras). A quantidade de vibrações por segundo é chamada de Hertz (Hz), e é a diferença nessa frequência (vibrações por segundo) que torna as notas diferentes entre si. Por exemplo, quando uma corda do piano vibra a 440 Hz, considera-se que produz o som identificado como Lá (GRIFFITHS, 1995). Ritmo e musicalidade: som, movimento e expressão4 Diferentes parâmetros sonoros Os parâmetros sonoros ou parâmetros de som são considerados propriedades básicas do som. Essas propriedades são denominadas qualidades intrínsecas do som e são quatro: altura, intensidade, duração e timbre. Segundo Wisnik (2007), podemos defi nir as propriedades sonoras da seguinte forma: altura: relaciona-se à criação de melodias; intensidade: refere-se à expressão dinâmica (sons fortes ou fracos); duração: determina a organização da música no tempo (ritmo); timbre: depende da sua fonte de produção sonora. O quanto serão usados ou não esses elementos vai depender do tipo de música que se irá produzir ou fornecer. É preciso reconhecer a importância dos diferentes parâmetros de som para a composição de uma música, pois esses quatros citados terão papel essencial para originar os elementos da música, o que veremos em breve. Cada um dos parâmetros do som mencionados tem suas características e definições particulares, e é preciso compreender que, sem equipamentos específicos, as pessoas não conseguem observar essas propriedades visivel- mente. Na Figura 1, por meio da demonstração de diferentes ondas sonoras, é possível ter uma base de como podemos assimilar visivelmente o que esses parâmetros seriam: altura, intensidade, duração e timbre. Todavia, devemos conhecer melhor essas propriedades especificamente. Figura 1. Representação gráfica dos parâmetros do som. Fonte: Nepomuceno ([2012], documento on-line). 5Ritmo e musicalidade: som, movimento e expressão Para definir as propriedades de som, utilizaremos as definições propostas por Ibañez (2010). A partir da Figura 1, a primeira propriedade que estudare- mos é a altura, que permite que possamos distinguir sons graves (som mais “grossos”), médios e agudos (sons mais “finos”). Ibañez (2010) explica que a altura é determinada pela frequência de uma onda e refere-se a quantas vezes por segundo uma onda completa um ciclo dentro de determinado referencial em um intervalo de tempo — representa, assim, a taxa de vibração no tempo da onda senoidal. É importante observar que a altura não tem relação com o volume da música. Então, podemos dizer que o fator que determina a altura seria a frequência da onda? Sim, e podemos relacionar com a faixa entre os 20 Hz a 20.000 Hz, na qual os ouvidos humanos conseguem captar sons. Os sons graves ou baixos são aqueles que estão na faixa de baixa frequência, enquanto sons agudos ou altos são aqueles que possuem suas ondas com uma frequência de vibração alta. A segunda propriedade é denominada intensidade e se refere à percepção da amplitude da onda sonora, sendo o elemento que permite distinguir sons fortes e sons fracos. Baseando-se em Hast (1999 apud IBAÑEZ, 2010, p. 48) ainda completa que “[...] este parâmetro mede a força da vibração e indica a amplitude, o barulho ou a suavidade do som”. A intensidade é o que muitas pessoas confundem com “altura” ou “volume” do som e pode ser mensurada em uma unidade de medida conhecida como decibéis (dB). Baixos valores de dB dizem respeito a um som fraco, enquanto altos valores de dB se refe- rem a um som forte. Nesse contexto, considera-se que, quando mexemos no botão de volume de um aparelho de som, estamos alterando a intensidade da música. Aproximando do nosso campo de estudo, por exemplo: entre uma turma em silêncio fazendo uma prova e essa mesma turma animada durante o campeonato entre turmas na escola, ocorre uma variação da intensidade do som (alturas diferentes). A terceira propriedade do som é a duração, que é definida por Ibañez (2010) como a duração de um som dependendo do tempo de vibração da fonte sonora. Um som que dura um segundo a mais do que outro será, logicamente, percebido como um som mais longo. Vimos anteriormente que a intensidade está relacionada à força de vibração, enquanto a duração dependerá do período de tempo em que o corpo sonoro está vibrando. Na música, por exemplo, a duração também se aplica a momentos de silêncio, conhecidos como pausas. Analisando uma onda sonora, a duração produzirá um número maior (som longo) ou menor (som curto de ondas sonoras). Um exemplo de duração é o apito final de um jogo de futebol ou o tempo total de uma música. Ritmo e musicalidade: som, movimento e expressão6 O último parâmetro é o timbre, característica do som que nos permite distinguir uma fonte sonora de outra tendo praticamente os mesmos parâme- tros. A partir de Schafer (1991), Ibañez (2010, p. 49) cita timbre como “[...] superestrutura característica de um som que distingue um instrumento de outro, na mesma frequência e amplitude” (SCHAFER, 1991, p. 76). Ibañez (2010) esclarece que, na física, essa distinção de timbres entre dois sons pode ser percebida devido à variação na amplitude da frequência e dos harmônicos, resultando em uma onda não mais senoidal, mas, sim, em uma onda irregular, cheia de cristas e vales, que cada tipo de fonte sonora produz de maneira pe- culiar. Um exemplo de distinção de timbre é quando escutamos um conjunto musical e é possível distinguir os sons emitidos por cada instrumento que faz parte do conjunto, assim como também distinguimos os sons emitidos durante uma conversa entre diversas pessoas. Ainda podemos completar que é possível distinguir o timbre analisando como um som se inicia, mantém-se e termina ao longo do tempo. Wisnik (2007) aborda que os parâmetros sonoros atuam em uma dinâmica entre si por meio das alturas e durações, do timbre e das intensidades; repetido e/ou variado, o som se diferencia ilimitadamente. Essas conjunções dos parâ- metros considerando as durações produzem as figuras rítmicas, as alturas, os movimentos melódico-harmônicos, os timbres, a multiplicação colorística das vozes, as intensidades, as quinas e curvas de força na sua emissão. Como vimos, os parâmetros sonoros são constituídos por elementos pre- sentes em uma onda sonora que, consequentemente, está relacionada à música. Quando essas propriedades perceptíveis reconhecidas organizadas geram uma composição musical, criam diversos estilos musicais. Mas onde entra a educação física nesse meio? O professor utiliza as propriedades musicais não diretamente, mas a partir da música e dos diversos tipos de sons, que provocam certa “movimentação no corpo”, dando diversos sentidos e sensações. Para a educação física, o desenvolvimento da percepção auditiva é essencial, tendo em vista que sua estimulação promoverá a utilização de diversos segmentos corporais que, pela sua movimentação, gerarão o som rítmico de acompa- nhamento desejado. Como dito anteriormente, a música tem uma capacidade de transmitir e provocarestímulos diversos, mobilizar sistemas cerebrais e gerar respostas emocionais a partir de suas propriedades. Dependendo do estilo musical (dife- rentes intensidades, alturas, harmonias, ritmos), a execução e a motivação para a prática corporal mudam. O ritmo ou as batidas da música são interligados proporcionalmente aos movimentos repetitivos do praticante de atividade física, como passadas, braçadas ou pedaladas. Inclusive, acredita-se que o ritmo 7Ritmo e musicalidade: som, movimento e expressão musical tem influência durante um esforço submáximo em esteira; músicas de ritmo acelerado (mais integradas às passadas), como o rock, produzem melhorias significantes no humor — mais que músicas lentas, como o bolero. Além disso, o estímulo rítmico gera a interação entre a audição rítmica e a resposta física, de modo que é importante aproveitar e trabalhar atividades com grande repertório motor. Notação musical Os tópicos anteriores abordaram a construção da música e seus elementos constituídos e deram ênfase aos parâmetros sonoros. Agora, abordaremos outro elemento musical básico, que, além de contribuir no aperfeiçoamento da percepção auditiva e no domínio da linguagem musical básica, permite-nos entender como é registrada a música. Esse registro é feito por meio da notação musical, ou seja, dos sinais que representam a escrita musical. Os símbolos utilizados na notação musical são uma forma de representar grafi camente a música e existem há milhares de anos. Representar a música por meio da escrita foi um processo criado há muito tempo, antes das atuais tecnologias, com o intuito de que as composições musicais ficassem registradas para que todos pudessem entender e reproduzi- -las. O sistema de notação ocidental moderno é o sistema gráfico, que utiliza símbolos escritos sobre uma pauta de 5 linhas paralelas e equidistantes e que formam entre si quatro espaços. Para conceituar alguns termos presentes na notação musical, vamos utilizar como base as compreensões de Braga (2002), que cita que existem sete termos importantes que devem ser considerados: notas, escalas, pauta, clave, figuras positivas e negativas (pausas) e acidentes. As notas musicais, segundo Braga (2002), são as representações gráficas do som no papel e representam a duração e a altura do som. França (2010) especifica que, em um plano bidimensional, a notação musical supõe um eixo horizontal para representar o tempo (as durações), e um vertical para as alturas, como em um plano cartesiano. “Do encontro dessas duas dimensões, temos diagonais para registrar subidas e descidas. Elas podem ser contínuas (melismas ou glissandi) ou descontínuas (sons discretos ou separados), com alturas definidas (por exemplo, de Dó a Lá), aproximadas ou indefinidas” (FRANÇA, 2010, documento on-line). As notas principais são 7, quais sejam: Dó-Ré-Mi-Fá-Sol-Lá-Si. Essas 7 notas ouvidas sucessivamente formam uma série de sons denominada escala. Ritmo e musicalidade: som, movimento e expressão8 Quando a série de sons segue a sua ordem natural (Dó-Ré-Mi-Fá-Sol-Lá-Si), tem-se um som mais agudo (Figura 2); escalas descendentes soam quando a série de sons segue a ordem inversa à natural (Si-Lá-Sol-Fá-Mi-Ré-Dó) e representam um som mais grave (Figura 3). Figura 2. Escala ascendente. Fonte: Braga (2002, documento on-line). Figura 3. Escala descendente. Fonte: Braga (2002, documento on-line). As claves estão ligadas à construção da pauta (já citada anteriormente) e servem para dar nomes às notas, sendo representadas por meio de um sinal antes da pauta. São três os tipos de claves: Sol, Fá e Dó. Braga (2002) explica que a clave de Sol é registrada a partir da segunda linha da pauta, o que sig- nifica que a nota localizada na segunda linha da pauta recebe o mesmo nome: Sol. A partir dela, todas as demais notas são nomeadas, seguindo a sequência conhecida. Na escrita a partir da 4ª linha da pauta, a nota ganha o nome de fá. Assim, podemos pensar que a clave de Sol é utilizada para escrever as notas mais agudas do piano ou as notas que cantar ão vozes femininas de um coral. Na clave de Fá, ocorre o contrário: som mais grave no piano ou notas que cantarão vozes masculinas. As figuras positivas e negativas (pausas) foram definidas por Braga (2002) a partir do fato de que nem todas as notas têm a mesma duração, e as figuras positivas servem para representar as várias durações dos sons musicais. As pausas representam a ausência/interrupção do som, ou seja, o silêncio, com a mesma duração das respectivas figuras positivas. Os nomes das notas, seus valores e suas respectivas figuras estão representadas pela na Figura 4. 9Ritmo e musicalidade: som, movimento e expressão Figura 4. Quadro representativos dos nomes das notas, valores e figuras. Fonte: Braga (2002, documento on-line). Já os acidentes são sinais que servem para alterar o som das notas naturais. São eles, de acordo com Braga (2002, documento on-line), “[...] o sustenido, que aumenta meio tom (seminton) à nota, ou seja, torna aquela nota mais aguda; o bemol, que abaixa meio tom (semiton), ou seja, torna a nota mais grave; e bequadro, que anula a alteração realizada pelos dois acidentes citados”. Podemos considerar, ainda, que existe uma diferenciação dentro do con- ceito de notação musical que são as denominadas notação musical analógica e tradicional. A notação musical analógica, como o nome indica, baseia-se na analogia entre propriedades do campo auditivo e do visual. Alto, baixo, horizontal, vertical, contorno, proporção e outras são qualidades compartilhadas por esses dois domínios perceptivos. Já a escrita tradicional é o registro das durações que requer longo aprendizado (padrões rítmicos, compassos e divisão), No processo de musicalização, ela tende a se desenvolver naturalmente, como continuidade da movimentação pelo espaço (FRANÇA, 2010, documento on-line). A relação da educação física e notação musical surge a partir da dança, exatamente com Rudolf Laban, que, em seu livro Choreographie (1926), detalhou não somente um formulário novo da notação da dança, mas também os princípios e a teoria de um sistema completo da dança que se transformou, mais tarde, na “análise do movimento de Laban”. A partir do século XIX, essa técnica recebeu o nome de “notação coreográfica”. Ritmo e musicalidade: som, movimento e expressão10 Além disso, atualmente, é importante, ao trabalhar com música e movi- mentos, conhecer os elementos básicos sobre os quais ela se constitui. Por exemplo, você pode produzir uma música ou uma coreografia, transcrevê-la ela em forma de notação e reproduzir a música ou coreografia sem sequer tê-la ouvido ou visto antes. A notação de Laban foi elaborada justamente para solucionar esse “problema”. Em suma, a pessoa escuta, teoriza e analisa sobre o que escutou, permeia suas teorizações e análises no seu processo de escolha sonora (regência), de maneira a criar uma composição musical, baseada no atendimento ou na negação de suas preferências. Essa composição musical pode ser performada pelo próprio indivíduo compositor. Nesse caso, ela pode estar registrada em partitura (notação) ou não. Essa partitura pode ser entregue a outros indivíduos para que eles possam performar a composição musical ou analisar a forma de seu registro. Veja, a seguir, exemplos de como trabalhar harmonia com os alunos. Perceber, em diferentes músicas, os contrastes sonoros entre sons individuais (melodias) e sons simultâneos (harmonia). Por meio de exercícios de escuta musical, tentar identificar sons simultâneos. Buscar identificar se os sons simultâneos são resultado de fontes sonoras diferentes ou semelhantes. Por exemplo: acorde apenas com vozes, ou com vozes e instrumentos, com diferentes instrumentos, etc. Dividir os alunos em dois grupos e ensinar a melodia principal da canção “Marcha soldado” para um dos grupos. Ensinar a melodia secundária da mesma marcha ao outro grupo e pedir que ambostentem cantá-las ao mesmo tempo, criando uma harmonia. Sugerir que, depois de dominadas as melodias, cantem, tentando ouvir o resultado melódico. Dependendo do resultado, pode-se acrescentar uma terceira melodia secundária e tentar fazer o mesmo. Para o trabalho com o ritmo, veja os seguintes exemplos. Relacionar o ritmo com a linguagem gestual desportiva. Fazer percussão corporal diversa; ora todos fazem o mesmo som, ora aumentam os sons corporais a cada música de linha. Podem ser definidos os sons corporais por linha rítmica. 11Ritmo e musicalidade: som, movimento e expressão A pauta não é suficiente para conter todos os sons musicais que o ouvido pode apreciar. Por esse motivo, usam-se linhas chamadas suplementares superiores ou suplementares inferiores, quando são colocadas, respectivamente, acima ou abaixo da pauta. Costuma-se, também, escrever notas nos espaços formados por essas linhas (espaços suplementares superiores ou inferiores). As linhas e os espaços suplementares são contados de baixo para cima, quando superiores, e de cima para baixo, quando inferiores. O número de linhas ou espaços suplementares não é limitado, mas não é comum empregar-se mais de 5 linhas e espaços suplementares superiores (SWANWICK, 2004). Neste capítulo, você viu que os princípios da teoria musical são divididos em ritmo, melodia e harmonia, e que a interação entre eles gera o que cha- mamos de música. Associados a eles, estão os diferentes parâmetros sonoros, identificados como: altura, duração, intensidade e timbre — que também exercem grande influencia na música. Finalmente, para que a música seja reproduzida por diferentes pessoas, gerações, instrumentos musicais, entre outros, é transcrita a partir de notações musicais. BRAGA, J. M. P. Elementos musicais a serem abordados na formação profissional em edu- cação física. 2002. 145 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física, Campinas, 2002. Disponível em: http://repositorio. unicamp.br/bitstream/REPOSIP/275356/1/Braga_JoseniMarleiPaula_M.pdf. Acesso em: 27 ago. 2019. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília, DF, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/ arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf. Acesso em: 27 ago. 2019. COLÉGIO PEDRO II. Portal da educação musical: o som e seus parâmetros. Disponível em: https://www.educamusicacp2.com.br/. [S. l.: s. n., 2019]. Disponível em: https:// www.educamusicacp2.com.br/. Acesso em: 27 ago. 2019. CORDERO, O. H. G. A música, o ritmo e a educação física. Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente, v. 5, n. 2, jul./dez. 2014. Disponível em: http://www. Ritmo e musicalidade: som, movimento e expressão12 faema.edu.br/revistas/index.php/Revista-FAEMA/article/download/237/378/. Acesso em: 27 ago. 2019. FRANÇA, C. C. Sopa de letrinhas: notações analógicas (des)construindo a forma musical. Música na Educação Básica. v. 2, n. 2, set. 2010. Disponível em: http://www.abemeducaca- omusical.com.br/revista_musica/ed2/pdfs/MEB2_artigo1.pdf. Acesso em: 27 ago. 2019. GRIFFITHS, P. Enciclopédia da música do século XX. São Paulo: Martins Fontes, 1995. IBAÑEZ, C. A. O som, seus parâmetros, e a música: o ensino dos elementos musicais. Dissertação (Mestrado em Educação) − Universidade Estadual de Londrina, Centro de Educação, Comunicação e Artes, Programa de Pós-Graduação em Educação, Lon- drina, 2010. NEPOMUCENO, N. Música: elementos formais da música. [S. l.: s. n., 2012]. Disponível em: https://arteducacao.wordpress.com/musica/. Acesso em: 27 ago. 2019. SWANWICK, K. Ensinando música musicalmente. São Paulo: Moderna, 2004. WISNIK, J. M. O som e o sentido: uma nova história das músicas. São Paulo: Companhia das letras, 2007. 13Ritmo e musicalidade: som, movimento e expressão
Compartilhar