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06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/18 PERCEPÇÃO MUSICAL AULA 1 Prof.ª Bruna Kaiser Wasem 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/18 CONVERSA INICIAL A percepção musical é um dos pilares mais importantes da educação musical. Como campo do conhecimento, a música pode ser traduzida ou expressa por diferentes sons e precisa ser ouvida para ser compreendida. É por meio da audição que temos o primeiro contato com as inúmeras formas pelas quais a música pode ser apresentada. Após a captação das informações sonoras pelo ouvido humano, é o cérebro quem irá se encarregar de interpretar e compreender o ambiente sonoro em questão. Com base nessa ideia e como continuação da disciplina Princípios da Percepção, ministrada anteriormente, vale lembrar que a percepção musical se caracteriza por estudos musicais em que são realizados treinamentos auditivos compostos por diferentes tipos de atividades tais como solfejos, ditados e exercícios rítmicos (Barbosa, 2009). Entretanto, o conceito de percepção musical é significativamente mais amplo do que apenas distinguir diferentes sons. Como explanado por Caznok (2008, p. 138), o conceito real da percepção musical é traduzido como uma nova forma de ouvir, perceber e sentir música, em que diferentes modalidades perceptivas, incluindo variadas sensações, são afloradas por quem ouve. Levando em conta a complexidade de realmente otimizar a nossa percepção musical, no decorrer desta aula serão apresentadas algumas considerações sobre a escuta; aspectos da relação entre a audição musical e o professor de música e como este pode refletir sobre as suas práticas de ensino; o desenvolvimento de automatismos de base da educação musical; a “paisagem sonora” na educação musical e, por fim, alguns aspectos da memorização e os chunks na percepção musical. Obs.: os áudios mencionados ao longo deste material estão disponíveis na videoaula. TEMA 1 – CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESCUTA Como as pessoas escutam música? Existe diferença entre a escuta de músicos profissionais, amadores e pessoas leigas em música? Um ouvinte que toca um determinado instrumento musical 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/18 tem uma audição mais apurada ao escutar determinada obra musical em comparação ao ouvinte que nunca estudou música formalmente? A resposta para essas perguntas parece óbvia, principalmente se pensarmos que o conhecimento musical prévio pressupõe uma maior habilidade de percepção musical. Contudo, é preciso refletir sobre essas e outras questões quando passamos a encarar a percepção musical no âmbito educacional. O treinamento auditivo é uma disciplina necessária para a formação de qualquer músico, independentemente do estilo e gêneros musicais para os quais este venha a se especializar. Assim como os músicos performers que exercem sua atividade “tocando” para os mais variados públicos na maior parte do tempo, o professor de música também precisa desenvolver sua habilidade de escuta e percepção para que possa ensinar seus alunos da melhor forma. É possível refletir sobre dois tipos básicos de escuta musical: a escuta passiva e a escuta ativa. Quais são as diferenças entre ambas? Inicialmente, é possível considerar a escuta musical passiva como aquela em que o ouvinte não se engaja corporalmente com a música, apenas ouve e se deleita com a obra musical, seja ao dirigir, realizar tarefas domésticas ou qualquer outra atividade em que o foco de sua atenção não esteja totalmente voltado para a música em si. Pode-se dizer, nesse caso, que o ouvinte não está totalmente envolvido na análise cognitiva do material musical; é uma escuta para o simples prazer de se ouvir música. E quais são os principais aspectos envolvidos na escuta musical ativa? A escuta musical ativa permite o envolvimento do ouvinte com o som ouvido através de instrumentos musicais, do canto ou até mesmo de alguma expressão corporal que possa traduzir os sentimentos sentidos ou percebidos ao ouvir a música em questão. Essas expressões estão totalmente conectadas às sensações componentes da percepção musical, tais como: Sensações afetivas e emocionais: quando, por exemplo, nos envolvemos de tal forma com a música, sorrimos ou até mesmo lacrimejamos em função do som ouvido. Isso acontece, também, quando determinada frase musical nos proporciona lembranças de momentos específicos da nossa vida, sejam eles agradáveis ou não. Sensações auditivas: quando percebemos a intensidade sonora, altura dos sons ouvidos e o timbre, sejam esses sons musicais ou não, como por exemplo os sons de uma orquestra ou os sons de ruídos provocados por uma obra de construção civil. 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/18 Sensações corporais: quando ouvimos determinado som que, de certa forma, nos obriga a realizar algum movimento com o corpo, seja ele para tentar acompanhar o ritmo da música ouvida ou para dançar. As formas de escuta mencionadas diferem basicamente por dois elementos centrais: o foco de atenção do ouvinte e a memória, que pode estar relacionada ao conhecimento musical adquirido, seja ele formal ou não. Tomando como referência as sensações proporcionadas pela escuta musical, cabe ressaltar que estas são provocadas por diferentes componentes musicais, tais como as frases da melodia, tonalidade, harmonia, ritmo, andamento, temas, seções da música, repetições presentes, timbre, textura musical, entre outros. TEMA 2 – AUDIÇÃO MUSICAL E O PROFESSOR DE MÚSICA De acordo com o educador Willems, a audição musical pode ser estudada sob três aspectos: sensorial, afetivo e mental. “Segundo sua concepção, há uma ordem construtiva, natural, necessária à criação, que ordena a natureza, ser humano, música e audição” (Fonterrada, 2008, p. 138). Alguns dos aspectos apresentados por esse autor são: sensorialidade, sensibilidade afetiva auditiva ou afetividade auditiva e inteligência auditiva, os quais possuem relação estreita com a capacidade sensório-motora, a sensibilidade afetiva e a inteligência do homem, incluindo, ainda, uma dimensão espiritual. Tratando-se da educação musical e seguindo esse raciocínio de que há muitos aspectos envolvidos na audição musical, o treinamento auditivo pode conter diferentes focos e objetivos durante uma atividade de escuta: Escuta para a reprodução do material sonoro ouvido, seja por meio de instrumentos, através do próprio corpo ou voz. Esta é uma atividade que demanda informações da memória auditiva do ouvinte para que ocorra com êxito. Nesse caso, o ouvinte precisa fazer uso da repetição e análise musical durante a escuta a fim de memorizar conscientemente o material ouvido. Escuta para a escrita musical e posterior reprodução, o que envolve associação dos sons ouvidos com os símbolos que os representam graficamente na partitura. Aqui, o cérebro do ouvinte solicita informações visuais e espaciais da memória de longo prazo, referentes ao aprendizado da grafia musical, que pode englobar outros elementos teórico-musicais. De forma resumida, consiste na busca por expressar o som ouvido de forma visual. 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/18 Escuta para o movimento, em que o ouvinte pode ter o objetivo de expressar os sons por meio de movimentos e gestos corporais. Aqui, podemos mencionar a dança, que pode existir como manifestação artística, como forma de divertimento ou para rituais religiosos. Ao utilizar o corpo, a dança pode seguir movimentos previamente estabelecidos (coreografia) ou improvisados (dança livre), e envolve a expressão de sentimentos, tal como a música. Escuta para apreciação e estímulo da criatividade, que pode se concretizar das mais variadas formas e por meio de diferentes recursos musicais e extramusicais. Exemplo:escuta para a criação e sonorização de histórias, o que representa um estímulo para que a imaginação do ouvinte possa aflorar. Esse tipo de escuta também demanda diversas informações da memória, pois o ouvinte pode fazer inúmeras associações, o que está relacionado diretamente com a sua história de vida, suas experiências e vivências pessoais. Eu seu livro o ouvido pensante, Murray Schafer (1991) traz uma série de reflexões pertinentes ao ensino de música. Esta é uma leitura recomendada para todos aqueles professores que almejam ampliar o seu olhar sobre o ensino e até mesmo sobre o seu próprio entendimento acerca do conceito de música. Infelizmente, muitos ainda acreditam que música é para poucos, para uma elite dotada de talento e vastos recursos financeiros. Compositor e artista plástico, esse autor defende a ideia de que toda a população pode fazer música e apresenta proposições revolucionárias para a educação musical. Entre elas, aborda o conceito de limpeza de ouvidos e a noção de paisagem sonora, que será discutida em um dos tópicos seguintes. Schafer acredita que, antes do treinamento auditivo propriamente dito, é preciso reconhecer a necessidade de “limpar” os ouvidos. Como músico prático, ele considera que uma pessoa só consegue “aprender a respeito do som produzindo som; a respeito de música, fazendo música” (Schafer, 1991, p. 68). Essa chamada limpeza de ouvidos envolve a reflexão acerca de todos os sons do horizonte acústico captados pela audição, pois como o autor argumenta, os ouvidos são os órgãos dos sentidos mais expostos e vulneráveis. A seguir, destacam-se alguns elementos trabalhados por Schafer e aos quais ele propõe exercícios práticos para se trabalhar com os alunos de música: Ruído: som indesejável; qualquer sinal sonoro que interfere na escuta. Aqui, é possível destacar que, para muitas pessoas, até mesmo sons musicais podem representar um tipo de ruído. Schafer acredita que é preciso voltar aos exercícios simples, básicos, de audição, para que a capacidade auditiva, tão prejudicada pelo aumento indiscriminado de ruído e pelas 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/18 condições da vida moderna, recupere sua plena capacidade” (Fonterrada, 2008, p. 196) Silêncio: ausência de som. Muitos autores afirmam que o silêncio absoluto não existe. Em música, o silêncio protege o evento musical contra o ruído. As pausas dão destaque aos momentos de som presentes na música, podem gerar expectativa e suspense e ainda podem representar momentos de repouso musical, entre outros. Som: “corta o silêncio com sua vida vibrante”. Essa definição de Schafer aponta para o contraste com o silêncio. Ele mostra que o som pode ser curto ou longo, repetido rítmica ou ritmicamente e destaca o fonema como o som mais elementar da fala. Timbre: “a cor do som – estrutura dos harmônicos”. Característica particular de cada fonte sonora. Todo instrumento tem seu timbre peculiar, o que traz a cor da individualidade na música. Amplitude: traz a sensação de intensidade na escuta. A amplitude da onda sonora é uma propriedade física do som. Exemplo: um som pode ser mais forte ou mais fraco, pode seguir crescendo ou decrescendo. Melodia: combinação de sons de diferentes alturas; concepção horizontal da música, ou seja, sons que seguem uma linha contínua. A melodia é um dos aspectos que compõem o fazer musical e que mais facilmente um leigo reconhece como música. A fala também é composta de diferentes inflexões de altura, que podem ser consideradas como melodia da fala. Essas inflexões dão ênfase às palavras e ajudam na intencionalidade da comunicação do discurso verbal. Textura: é o resultado da interação de diferentes alturas e durações dos sons. Em música, ela pode ser monofônica, polifônica, difônica, homofônica, heterofônica, entre outras. Uma das formas mais simples de entender os diferentes tipos de texturas musicais é pensar em diferentes linhas melódicas como vozes. Uma melodia sem acompanhamento ou outras vozes simultâneas compõe o que chamamos de monofonia (ou monodia). Escute os exemplos a seguir: Monofonia instrumental: < https://www.youtube.com/watch?v=awebr-u9pk8> Monofonia vocal: < https://www.youtube.com/watch?v=8ftsfsscfbm> https://www.youtube.com/watch?v=awebr-u9pk8 https://www.youtube.com/watch?v=8ftsfsscfbm 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/18 Já a polifonia é uma textura em que duas ou mais vozes são independentes e não existe uma mais importante do que a outra. Exemplos de composições com polifonia são: a fuga, o cânone, a imitação, entre outros. Escute os exemplos a seguir: Polifonia vocal (apresentação didática): < https://www.youtube.com/watch?v=ao4peFIicwc> Polifonia medieval (instrumental e vocal): < https://www.youtube.com/watch?v=-33cpmt_tom> O canto difônico (ou canto dos harmônicos) é o canto de dois ou mais sons simultaneamente por uma única pessoa, que com muita técnica e habilidade, utiliza os espaços da cavidade bucal para destacar os harmônicos da própria voz. É um tipo de polifonia na mesma voz. Essa experiência permite novos planos de escuta e de emissão vocal. Em certas culturas, é usado para a meditação. Difonia (descrição e exemplo): < https://www.youtube.com/watch?v=vc9qh709gas> Outra textura é a homofonia, caracterizada por uma voz que se destaca das demais. Aqui, existe uma hierarquia: uma voz principal acompanhada de outras secundárias. Também conhecida como melodia acompanhada, uma das características mais perceptíveis da homofonia é a pouca independência rítmica entre as vozes. Atualmente, esta é a textura mais utilizada, principalmente na música popular. Homofonia (melodia vocal acompanhada): < https://www.youtube.com/watch?v=gl-eh9jz4pi> É possível ainda encontrar diferentes texturas em uma mesma música, seja ela vocal, instrumental ou ambas juntas. No exemplo a seguir, há trechos de polifonia e outros em que há uma voz principal destacada das demais (homofonia), pois em um arranjo vocal, as vozes também podem imitar e exercer uma função de acompanhamento: < https://www.youtube.com/watch?v=ytovcucpqr g> Ritmo: de acordo com Bohumil (1996), este corresponde à ordem e proporção em que estão dispostos os sons que constituem a melodia e a harmonia de uma música. Os ritmos podem ser regulares ou irregulares, calmos ou nervosos. Schafer (1991) destaca que um ritmo regular https://www.youtube.com/watch?v=ao4peFIicwc https://www.youtube.com/watch?v=-33cpmt_tom https://www.youtube.com/watch?v=vc9qh709gas https://www.youtube.com/watch?v=gl-eh9jz4pi https://www.youtube.com/watch?v=ytovcucpqrg 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/18 sugere divisões cronológicas do tempo real, como por exemplo o tique-taque do relógio, o que caracteriza um tempo mecânico. Enquanto isso, um ritmo irregular espicha ou comprime o tempo real, dando-nos a ideia de um tempo virtual ou psicológico. Exemplos de ritmos irregulares são as polirritmias presentes na música africana, árabe e asiática. TEMA 3 – AUTOMATISMOS DE BASE DA EDUCAÇÃO MUSICAL Automatismo é basicamente o ato de tornar automático algum conhecimento ou habilidade, seja ele(a), motor(a), perceptivo(a) ou cognitivo(a). O hábito de tocar determinado instrumento, por exemplo, permite que movimentos e gestos necessários para a performance musical sejam automatizados. Atos voluntários transformados em automatismos são reflexos de hábitos adquiridos, produto final da aprendizagem motora. Tratando-se do ensino de música, é preciso que o aluno desenvolva habilidades físicas (motoras, visuais e auditivas), mentais (perceptivas e cognitivas), entre outras para o seu desenvolvimento musical. A habilidade da leitura musical, por exemplo, é algo que demanda esforço e tempo de dedicação, pois existem obras simples de serem lidas e obras mais complexas. Dentro desse contexto, para se alcançar uma boa leituramusical e compreender uma partitura convencional, deve-se utilizar ferramentas que auxiliem nesse objetivo. A automatização da leitura, de movimentos ou gestos para o fazer musical, bem como a automatização da própria percepção durante uma escuta musical, permite a evolução do aluno e possibilita que este desenvolva a sua memória musical de forma global. Os automatismos de base são necessários, auxiliam no aprendizado musical integral e permitem que o aluno realize com eficiência exercícios de solfejo, composição, improvisação e a prática instrumental de forma geral. Entretanto, faz-se importante destacar que ler e escrever música não deve ser encarado como sinônimo de saber e aprender música, pois o fazer musical ultrapassa esse entendimento. Composição, apreciação e performance são janelas pelas quais várias competências musicais são evidenciadas e construídas. De forma ilustrativa, podemos pensar em uma pessoa que aprendeu a tocar violão de ouvido. Ela pode ainda não saber ler partitura e não conhecer cifras, mas tem o conhecimento prático, vivencial. Esse aprendizado pode ter sido informal, com ou sem instrução de 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/18 um professor, adquirido com horas e horas de exposição auditiva à música, treino do ouvido e das habilidades motoras nesse instrumento. No texto a seguir, o autor destaca a temática em questão, apontando para a importância do aprendizado baseado na escuta e não somente na leitura musical: A grande maioria dos métodos de ensino musical utilizados nas escolas brasileiras é baseada na leitura. O aprendizado baseado na escuta, “tirando” músicas “de ouvido”, característico das culturas populares, “orais” não é estimulado, sendo até mesmo reprimido. No entanto, se refletirmos sobre a capacidade dos músicos populares, como os “chorões”, “seresteiros”, “jazzistas” e “forrozeiros” de improvisar e compor melodias de uma forma tão espontânea, veremos que sua requintada acuidade auditiva e excelente memória vêm do fato de que seu aprendizado, diferentemente daquele proposto pela metodologia tradicional europeia, é realizado “tirando” músicas “de ouvido” com grande estímulo à improvisação e compreensão da harmonia” (Carrasqueira, 2018, p. 209) TEMA 4 – A “PAISAGEM SONORA” NA EDUCAÇÃO MUSICAL Você já parou para pensar que o mundo à nossa volta é composto pelos mais variados tipos de sons? Sons estes que podem ser produzidos pela natureza, pelo ser humano ou ainda por máquinas criadas pelo homem? Muito bem. Seguindo esse raciocínio, é possível chegar à conclusão de que cada ambiente contém uma espécie de paisagem sonora. Esses sons produzidos pelas mais variadas fontes sonoras são classificados como musicais ou não musicais, e muitos deles se caracterizam como ruídos e podem inclusive ser prejudiciais para a nossa saúde auditiva. Segundo Schafer (2001), a paisagem sonora consiste em todos os sons que ouvimos em diferentes momentos, sendo estes responsáveis por nos causar determinadas sensações durante a escuta. Paisagem sonora - [...] É nosso ambiente sonoro, o sempre presente conjunto de sons, agradáveis e desagradáveis, fortes e fracos, ouvidos e ignorados, com os quais vivemos. Do zumbido das abelhas ao ruído da explosão, esse vasto compêndio, sempre em mutação, de cantos de pássaros, britadeiras, música de câmara, gritos, apitos de trem e barulho da chuva tem feito parte da existência humana (Schafer, 2001) Desenvolver a habilidade de uma escrita musical que possa traduzir os sentimentos percebidos ou sentidos ao se escutar os mais diferentes tipos de sons de uma paisagem sonora é algo que auxilia no aprendizado musical. É preciso, antes de tudo, estabelecer uma conexão entre os sentimentos e a capacidade de descrevê-los verbalmente. Para que isso ocorra, é fundamental 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/18 trabalhar e exercitar a percepção auditiva, para exercitar a capacidade de traduzir verbalmente os sentimentos e sensações proporcionados pela escuta. Considere, agora, o exemplo a seguir. Se tivéssemos que representar graficamente a tempestade, como seria? O que é necessário para que ocorra a tempestade? 1. Aquele que é o anunciante da chegada da tempestade, mas, por vezes, sua intensidade varia no decorrer da mesma – vento. 2. Os resultados da presença do vento – folhas caindo. 3. Aqueles que nem sempre são muito presentes, mas sua presença é notada claramente quando eles aparecem – trovões. 4. Quando o vento é forte, além das folhas caídas, geralmente as ouvimos, quase sempre em um momento inesperado – portas batendo. 5. Normalmente a última a chegar. Por vezes fracas, ou até mesmo fortes, mas sempre lavando tudo o que encontra, deixando seus vestígios por todos os lugares – chuva. Tomando como referência a nossa descrição sobre a chuva, seus componentes podem ser simbolizados da seguinte forma: Figura 1 – Trilha de sons Fonte: De Castro, 2017. Definindo os componentes da chuva, agora conhecemos a partitura icônica. Esta é definida por representar sons por meio de imagens. Como explanado por Martinez (2003), a música alcança conexões não-verbais, as quais podem ser representadas por meio de imagens e símbolos que, por sua vez, podem expressar ou tornar mais visível os sons que ouvimos. 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/18 TEMA 5 – MEMORIZAÇÃO E CHUNKS NA PERCEPÇÃO MUSICAL Memorização é a capacidade do cérebro armazenar informações que possam ser recuperadas posteriormente. No entanto, existem diversas formas de classificar a memória, sendo a classificação mais usual a seguinte: a) memória de curto prazo, b) memória de trabalho e c) memória de longo prazo. A memorização musical envolve a codificação, armazenamento e recuperação ou resgate das informações musicais. A memória musical compreende informações audíveis, cinestésicas (corporal) e visuais. Ela geralmente se faz presente no contexto de músicos e ouvintes. Em música, há a memorização do som das notas, da posição de cada nota na partitura e no instrumento, dos intervalos, dos acordes, da melodia e ritmo de determinada obra musical, entre tantos outros elementos. A memorização pode ocorrer por meio de uma série de agrupamentos dos elementos musicais, sendo esses agrupamentos chamados de chunks. Duhigg (2012) afirma que é por meio do processo de chunking que o cérebro converte uma sequência de ações em uma rotina automática, por agrupamentos, e nele (chunking) está a raiz de como os hábitos se formam. A memória “chunk” corresponde a um grupo de 3-5 itens relacionados por associação; um agrupamento musical composto por 3-5 notas poderia ser um chunk; e uma frase composta por vários desses agrupamentos seria um nível mais elevado de chunk (Snyder, p. 168). De forma resumida, pode-se dizer que chunks são “pedaços” ou fragmentos da música com um tamanho que o cérebro é capaz de gerenciar. Assim sendo, quanto menor a frase ou o agrupamento musical em questão, mais fácil será a sua memorização. Uma estratégia de estudo que pode servir a todos os músicos e estudantes de música é a divisão da música em “partes” ou seções, temas em frases e frases em motivos ainda menores. Veja o exemplo a seguir. A melodia da canção Asa branca, de Luiz Gonzaga, bastante conhecida do repertório da música popular brasileira, apresenta uma melodia que pode ser dividida em várias frases menores. Preste atenção em cada frase destacada. Tente cantar ou tocar cada frase isoladamente, e perceba como a divisão do tema melódico em vários chunks facilita a memorização do todo. 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/18 Figura 2 – Asa Branca Como bem explanado por Caregnato (2017), decorar e memorizar não são ações opostas, mas sim complementares, uma vez que é impossível que uma ocorra sem que a outra esteja presente. Contudo, alcançara memorização de uma música por inteiro, com todos os detalhes, não é uma tarefa fácil. Como afirmado por Dowling (1978), nós geralmente memorizamos um contorno melódico da música ouvida, lembrando algumas subidas e descidas, sem muito detalhamento. Isso acontece com a maioria das pessoas! Portanto, não se preocupe se não conseguir memorizar tão rapidamente as frases, acordes e ritmo de uma determinada música. O processo de memorização é complexo e é preciso desenvolver estratégias de estudo para que ele ocorra de modo satisfatório. É preciso treino e prática conscientes, buscar compreender a estrutura musical do objeto de estudo e não somente “executar” a obra musical por meio da repetição exaustiva. Por fim, quanto maior a familiaridade com uma obra musical, maior a compreensão e memorização de todos os detalhes presentes em sua estrutura. NA PRÁTICA Ex. 1. Suponhamos que ainda não sabemos de cabeça a sequência das notas musicais. Assim, iremos praticar o automatismo na leitura com uso das cifras correspondentes às notas musicais. Logo 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/18 abaixo, estão quatro sequências de notas. O exercício consiste em apenas completar o espaço vazio, com a nota adequada para o intervalo de 2ª. a) F - G - ___ b) A - B - ___ c) C - ___ - E d) ___ - E - ___ Ex. 2. Agora, faremos uma leitura descendente, preenchendo o espaço vazio com o intervalo de 3ª, de modo semelhante ao exercício 1. a) G - ___ - ___ b) A - F - ___ c) D - B - ___ d) C - A - ___ Ex. 3. Forçando um pouco mais a nossa memorização, vamos fazer uma leitura ascendente no intervalo de 5ª, preenchendo o espaço vazio. a) G - D - ___ b) ___ - B - ___ c) F - ___ G d) C - ___ - ___ Ex. 4. Para tornar a noção de paisagem sonora mais clara e aplicar as ideias acima de forma prática, ouça com calma e concentração o áudio localizado logo abaixo. Posteriormente, preencha os campos da tabela abaixo, buscando traduzir as sensações afloradas em diferentes trechos do áudio selecionado. Para exemplificar o exercício, nos 5:22 minutos de vídeo, podemos ouvir sons que se assemelham a folhas caindo, além dos instrumentos tocando uma melodia que pode trazer uma sensação de que algo estava errado. Com base nessas considerações, preenchemos a primeira linha da tabela. Faça o mesmo para os outros momentos do áudio: 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/18 <http://aud.grupouninter.com.br/2021/ABR/10202100590-P078.mp3> Momento Componente Símbolo Sensações Ambiente 5:22 Chuva/folha ~~~~~~ Angústia/ aflição Pesado/ não agradável Tendo como pressuposto a prática de tarefas específicas como principal forma de apoio na compreensão dos aspectos musicais, vamos para mais alguns exercícios relacionados à memorização musical elementar. Ex 5. Quais as notas apresentadas na pauta seguinte, nomeadas da esquerda para direita, ao considerar as notas na clave de sol? a) C - D - E - F - G - A b) G - A - B - C - D - E c) E - F - G - A - B - C d) A - B - C - D - E – F Ex 6. E se utilizarmos a mesma figura da questão anterior, porém na clave de fá, como ficaria? http://aud.grupouninter.com.br/2021/ABR/10202100590-P078.mp3 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/18 a) C - D - E - F - G - A b) G - A - B - C - D - E c) E - F - G - A - B - C d) A - B - C - D - E – F Ex 7. Outro passo importante no processo de aprendizado da leitura musical convencional é o conhecimento das figuras musicais, seus símbolos, valores de tempo e pausas correspondentes. É necessário memorizar esses símbolos presentes na partitura convencional para que ocorra o aprendizado da notação musical e para que seja possível realizar a leitura e escrita musicais. Complete a tabela abaixo. FINALIZANDO Na aula de hoje, abordamos questões relativas à escuta musical e ao treinamento auditivo, bem como sua importância para o desenvolvimento musical de todo músico e educador musical. Dentre as questões discutidas, vimos a diferença entre escuta passiva e escuta ativa, além de suas implicações para a percepção musical, bem como a relação entre a audição musical e o professor de música, incluindo seus possíveis objetivos e elementos musicais a serem trabalhados e desenvolvidos na educação musical. Também estudamos sobre os automatismos de base na Educação Musical, o 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/18 que inclui algumas habilidades necessárias para se tornar um bom músico e a relevância de um aprendizado musical que ocorra não somente pela leitura, mas também pela escuta. Por fim, refletimos sobre a noção de paisagem sonora e aspectos da memorização e identificação de chunks para a percepção musical. GABARITO DAS QUESTÕES Ex. 1. a) F - G - A b) A - B - C c) C - D - E d) D - E - F Ex. 2. a) G - E - C b) A - F - D c) D - B - G d) C - A - F Ex. 3. a) G - D - A b) E - B - F c) F - C - G d) C - G - D ex. 5. Alternativa correta: c) E - F - G - A - B - C 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/18 ex. 6. Alternativa correta: b) G - A - B - C - D - E Ex 7. Primeira linha: 4 e 4 Segunda linha: Mínima Terceira linha: 1/4 e1/4 Quarta linha: Pausa de Colcheia Quinta linha: Semicolcheia; 1/16 Sexta linha: + Sétima linha: Semínima pontuada; 1 + 1/2 = 1,5 REFERÊNCIAS BARBOSA, Maria Flávia Silveira. 157 f. Percepção musical como compreensão da obra musical: contribuições a partir da perspectiva histórico-cultural. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. CAREGNATO, C. Memorização, percepção musical e cognição: oito questionamentos do dia-a- dia. Revista Vórtex, v. 5, n. 3, 2017. DE CASTRO S.; NUNES, A. Trilha de sons: construindo a escrita musical. Música na educação básica, v. 4, n. 4, 2017. DOWLING, W. J. Scale and Contour: two components of a theory of memory for melodies. Psychological Review, v. 85, n. 4, p. 341-354, 1978. FONTERRADA, M. T. de O. De tramas e fios: um ensaio sobre música e educação. 2 ed. São Paulo: Editora Unesp, 2008. MARTINEZ, J. L. Ciência, significação e metalinguagem: Le sacre du printemps. Opus, Campinas, v. 9, p. 87-102, dez. 2003. 06/05/2021 UNINTER - PERCEPÇÃO MUSICAL https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 18/18 MED, B. Teoria da música, 4. ed., 1996. SCHAFER, R. M. O ouvido pensante. São Paulo: Editora Unesp, 1991.
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