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LITERATURA 
POPULAR
Aline Azeredo Bizello
Características do conto 
popular
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Definir conto popular.
 � Analisar contos populares.
 � Comparar conto popular e conto erudito.
Introdução
“Quem conta um conto aumenta um ponto”. Esta é uma frase 
que, provavelmente, você já deve ter ouvido e repetido várias vezes. 
Por um lado, é uma expressão comum, cujo sentido está associado 
a certo grau de invenção ou exagero acerca de um relato. Por ou-
tro lado, quando falamos em conto popular, essa máxima expressa a 
essência desse gênero literário: sua ampla capacidade de se adaptar 
e de incorporar novos elementos. Os contos são universais, não há 
cultura que não conheça seus contos. Neste texto, você vai saber um 
pouco mais sobre esse gênero popular, suas características e alguns 
exemplos. Também vai perceber que há diferenças quando a palavra 
“conto” é empregada na literatura popular e na literatura erudita. 
Características do conto popular
Definir o conto popular de modo a conseguir abranger todas as suas formas 
e apresentações não é muito fácil. Isso porque a palavra conto, ao longo do 
tempo e conforme a cultura, tem adquire significados bem distintos.
Já que estamos tratando da literatura popular, vamos, então, considerar 
que conto é uma narração de aventuras – fabulosas, sérias ou engraçadas – 
cujo propósito é entreter, mas também transmitir algum ensinamento. Por 
pertencer a uma tradição popular, o conto é fiel a certa estrutura e modos de 
narrar. É certo que o contador tem alguma liberdade para contar, mas também 
precisa atender a alguns pressupostos.
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O teórico holandês André Jolles escreveu o seguinte sobre as personagens 
dos contos populares:
Satisfazem, ao mesmo tempo, o nosso pendor para o maravilho-
so e o nosso amor ao natural e ao verdadeiro, mas, sobretudo, 
porque as coisas se passam nessas histórias como gostaríamos 
que acontecessem no universo, como deveriam acontecer. (JOL-
LES, 1976, p. 198)
Isso quer dizer que os contos populares atendem a certa moral ingênua, 
em que a injustiça e o mau são punidos, enquanto o caráter elevado e as boas 
ações são recompensados. Por isso é que, no conto popular, as personagens 
são planas, não têm aprofundamento psicológico, porque servem ao propósito 
de representar condutas positivas e negativas.
Assim, se alguém contar um conto sem seguir esse princípio, estará sub-
vertendo a essência do conto popular, que é promover a persistência de temas 
e formas.
Em contrapartida, justamente por pertencer a uma tradição popular, o 
conto precisa estabelecer vínculos com o grupo ao qual se destina e é aí que o 
contador precisa adaptar e improvisar, incorporando elementos do contexto e 
dirigindo-se a um público específico.
Você sabe a diferença entre mito, lenda, anedota e conto? É bom não confundir. São todos 
gêneros literários populares, narrativos. O mito está associado a rituais, é uma forma sacrali-
zante, tem deuses e heróis como personagens. A lenda pode ter como personagens divin-
dades, animais, seres sobrenaturais e até humanos. Sua função é explicar a origem de algo 
ou apresentar um ensinamento. A anedota foca no comportamento humano, sua função 
é provocar o riso, o deboche. É um relato bem sintético, personalizado. O conto, por sua 
vez, é uma narrativa em prosa que pode apresentar alguns trechos em versos; seu objetivo 
é entreter, ainda que possa ter um aspecto de ensinamento ou mesmo provocar o riso. As 
personagens são de diversos tipos – seres sobrenaturais, humanos, animais. 
Provavelmente, a grande característica do conto popular – e isso o dife-
rencia de forma significativa do conto erudito – é seu processo de produção e 
circulação. Muitos contos populares que conhecemos vêm de duas fontes – ou 
de ouvirmos alguém contar ou de ler em algum lugar. Nos dois casos, há uma 
origem oral do conto.
Literatura popular64
Literatura_popular_U3_C06.indd 64 21/09/2016 15:37:23
O conto, ao apresentar um acontecimento seguindo uma estrutura pre-
visível (como você verá na seção a seguir), pode ser contado com palavras 
diferentes, mas sem perder o sentido. O contador da história pode improvisar 
e adaptar. Isso garante que o conto pertença a uma tradição oral e popular e 
que seja recontado diversas vezes. 
Quando lemos um conto popular, estamos diante de uma recolha, ou co-
leta, ou seja, alguém – um folclorista ou pesquisador – ouviu a história e fez o 
registro em livro. Desse modo, não se torna o autor do conto (porque o conto 
pertence à tradição oral), mas um divulgador. Muitas vezes, junto do conto, 
indica-se o nome da pessoa que contou ao pesquisador ou a região onde ouviu.
É o caso, por exemplo, dos contos coletados pelos irmãos Grimm na Eu-
ropa do século XIX, é o caso da coletânea do português Teófilo Braga (Contos 
tradicionais do povo português) e das coletâneas dos brasileiros Câmara Cas-
cudo (Contos tradicionais do Brasil) e Sílvio Romero (Contos populares do 
Brasil), estudiosos do folclore.
Mas por que existem tantas coletâneas de contos populares? Porque o es-
tudo e a coleta de contos da tradição oral tornaram-se muito comuns a partir 
do século XIX, época do Romantismo, em que se buscava valorizar a cultura 
de cada nação e os saberes do povo. Daí o interesse em tudo o que fosse na-
cional e o surgimento de recolhas de contos.
Uma coisa importante a destacar é que, ao fazer o registro do conto, o 
pesquisador “fixa” com as próprias palavra o que ouviu contar, quer dizer, 
registra uma versão do conto, que segue sendo contado oralmente e recontado 
em outras regiões e de outros modos.
Hoje em dia, com as novas tecnologias, é possível registrar, além do texto em 
si, o próprio desempenho de quem conta a história, por meio de áudio e vídeo. 
Porém, o conto popular é, em essência, oral. É nas rodas de contação de 
histórias que ele realmente se constitui e se transmite.
Contos e formas
Agora que você já leu sobre a condição de produção do conto popular, é fun-
damental que você conheça um pouco sobre sua estrutura. Como referido 
antes, há uma liberdade no modo de contar a história, mas há certa rigidez 
quando à estrutura do conto.
Em primeiro lugar, devemos considerar que existem muitos tipos de 
contos, divididos, em geral, por temas e estruturas. 
65Características do conto popular
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Observe, na tabela abaixo, uma proposta de classificação do conto popular 
feita por Câmara Cascudo e que foi adotada, no Brasil, por várias instituições 
que estudam o folclore brasileiro.
A importância de reunir os contos sob determinadas formas e temas tem a 
ver com um tipo de estudo. Já foi dito anteriormente, no texto, que as histórias 
populares começaram a despertar o interesse dos estudiosos principalmente 
TIPOLOGIA DEFINIÇÃO
Contos de En-
cantamento
São a maioria deles. Denominados também 
contos fantásticos, contos maravilhosos, contos 
de fadas. Em geral, há uma elemento mágico 
que ajuda o herói a vencer um desafio.
Contos de 
Exemplo
Incluem contos cujo relato da aventura atende 
a um princípio de moral, que destaca uma 
conduta, que ensina sobre caráter.
Contos de 
Animais
São as fábulas, propriamente. Os animais têm ati-
tudes humanas, com uma finalidade educacional.
Facécias São contos cômicos, relatando situações imprevistas, 
que levam ao riso. Histórias mais desenvolvidas que 
na anedota (as quais tendem a ser mais curtas).
Contos Religiosos Histórias em que há uma intervenção divina, a re-
lação do homem com santos, anjos, Jesus, Deus.
Contos Etio-
lógicos
Explicam a origem de algo ou a razão de existir 
daquele modo (por que o rato e o gato são ini-
migos, por que o negro é preto, etc.).
Demônio 
Logrado
Histórias que têm o Diabo como personagem principal. 
Apesar de sedutor e próximo do homem, é sempre 
vencido nos acordos que faz para “ganhara alma”.
Ciclo da Morte Histórias que têm a personificação da Morte. 
Ao contrário do ciclo do “Demônio logrado”, 
a morte sempre consegue o que quer.
Contos de 
Adivinhação
Contos em que, para ter sucesso, o herói precisa 
apresentar a solução para alguma adivinhação.
Tabela 1. Proposta de classificação do conto popular feita por Câmara Cascudo.
Literatura popular66
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a partir do século XIX. Nessas recolhas e análises, constatou-se o seguinte: 
o mesmo conto aparecia (com pequenas variações) em países e regiões bem 
diferentes e as ações das personagens seguiam uma previsibilidade (situação 
inicial – conflito – ajuda de elemento mágico ou atitude de valentia/esperteza 
– solução do problema – final feliz). As semelhanças eram tantas que foram 
compostos catálogos enormes, registrando várias versões da mesma história 
pelo mundo. Os estruturalistas, já no século XX, entre ele Vladimir Propp, 
expandiram esses estudos sobre o conto popular (mais especificamente em 
relação ao conto de encantamento, ou maravilhoso), categorizando funções e 
temas recorrentes nesse tipo de narração. 
Antti Aarne foi um folclorista que publicou, em 1910, a primeira sistematização dos 
contos. Esta foi aperfeiçoada por Stith Thompson. Essa classificação visava os aspectos 
comuns das narrativas e serviu de parâmetro para muitos estudiosos. Nela estão inclu-
ídos 24.260 temas principais, ou motivos, segunda a terminologia. 
O principal meio de interesse passou a ser o tema, não propriamente o 
modo de contar, como fica claro neste trecho de um conto recolhido pelo por-
tuguês Consiglieri Pedroso:
Fonte: CASCUDO, 2003.
Natureza De-
nunciante
Engloba contos em que os crimes e delitos dos per-
sonagens são revelados por algum elemento da 
natureza, como árvores que falam, por exemplo.
Contos Acu-
mulativos
São contos de articulação, encadeamento, 
trava-línguas, história-sem-fim.
Tradição Definição pouco precisa. Nesta categoria, Câmara Cas-
cudo inclui as histórias que tratam de hábitos e crenças 
coletivos, parte de uma tradição, mas que não têm a 
antiguidade necessária para serem consideradas lenda.
67Características do conto popular
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Rei com três filhas.
A fada dos jasmins foi ser madrinha delas todas, e o conde de 
Bello-Houver, padrinho.
A mais nova chamou-se Fina, a segunda Faladeira, a terceira, Pre-
guiçosa.
A Preguiçosa principiava a deitar-se, e era meia-noite, ainda esta-
va por se deitar; quando era para se levantar, ainda era meio-dia 
e não estava levantada.
A Faladora estava sempre à janela a falar de todos.
A Fina conservou a sua finura, sempre, sempre, até casar-se. Tinha 
15 anos. A fada foi dizer ao rei que fizesse uma torre para as meter, 
que receava algum naufrágio (sic).
O rei assim fez e meteu-as lá. A comida ia pela janela. [...]
(“A menina fina”, PEDROSO,2001, p. 219)
Figura 1. Rei com três filhas.
Fonte: arbit / Shutterstock.com
Por meio desse trecho, você consegue perceber que o folclorista estava 
interessado em registrar a sequência de eventos. Desse modo, as frases são 
curtas, e as ações pouco comentadas pelo narrador. Note isso especialmente 
no início (“Rei com três filhas”) e no final (“O rei assim fez e meteu-as lá. A 
comida ia pela janela”). Não há contextualização ou explicação dos fatos (por 
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que a fada receava um naufrágio?). O próprio pesquisador indica o estranha-
mento, ao utilizar a expressão latina sic, que significa “isso mesmo”.
O trecho também serve para ilustrar a estrutura do conto popular, através 
da reprodução do número três – três filhas, duas com defeitos (preguiça e 
fofoca) e uma com virtudes. Esse tipo de construção é bastante recorrente. 
Serve para reforçar a virtude da personagem principal. 
Os personagens, ainda que possam ter nomes, representam categoria 
sociais. E essas categorias contrastam ricos e poderosos (reis, fazendeiros, 
padres) com pobres e humildes (aldeões, caboclos, vaqueiro). Independente-
mente disso, prioriza-se a virtude, a esperteza, o bem. Um dos finais felizes 
mais comuns é o casamento – símbolo do sucesso e uma espécie de prêmio às 
personagens que passam por alguma injustiça.
Há pouca descrição dos lugares, dos modos de ser, das causas, poucas expli-
cações. Isso porque as personagens e suas ações expressão condutas universal-
mente aceitas como certas ou erradas, e a prioridade é a ação, não a explicação 
ou a reflexão sobre posicionamentos. Há uma simplificação da conduta, uma vez 
que se desconsideram as especificidades ou alternativas. Violência, preconceito 
e punições são perfeitamente aceitos se satisfazem a ideia da justiça (punição dos 
maus e premiação dos justos). Observe o trecho do conto “Cabelos de ouro”:
Um homem e a sua mulher tinham dois filhos mas não havia que 
lhes dar a comer; uma noite estando deitados ouviu o pequeno 
estarem os pais dizendo:
– É necessário matar um destes filhos, porque não podemos com 
tanta família.
O pequeno acordou a irmãzinha, contou-lhe tudo e botaram a 
fugir de casa. 
(BRAGA, 1998, p. 121)
Na sequência do conto, três fadas presenteiam as crianças com dons. O 
cabelo da menina tornou-se de ouro e os dois podiam conseguir dinheiro ven-
dendo fios do cabelo. Porém uma velha os sequestrou para ficar com o ouro. 
Submeteu-os a uma vida de privações. No final, o rei descobre, salva os ir-
mãos e, atendendo ao pedido destes, mata a velha, manda fazer um tambor 
com a sua pele e uma cadeirinha com seus ossos. 
Ora, as crianças são recompensadas pelos sofrimentos, mesmo demos-
trando crueldade em relação à velha, crueldade esta justificada pelas ações 
más da velha. Também não há nenhuma ponderação em relação à conduta 
69Características do conto popular
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duvidosa dos pais – cuja solução para a pobreza seria matar um dos filhos. O 
foco do conto está na superação e na união dos dois irmãos. 
Outro elemento bastante preservado em vários tipos de contos é o estilo 
formular, uma espécie de estrutura cristalizada que aparece no início, ao 
longo do texto ou no final, conforme destacado a seguir.
FÓRMULA FUNÇÃO EXEMPLO
Inicial Introduzir a narrativa. Em 
geral, as histórias se passam 
em um passado muito 
distante ou no tempo do rei.
“Era uma vez”, “Era uma 
vez um rei que tinha três 
filhas”, “Num tempo muito 
distante”, “Quando os 
animais ainda falavam...”
Versos 
mnemônicos
São versos ou jogos de 
palavras que escondem 
algum significado cifrado 
ou resumem parte da 
história. As rimas ajudam 
na memorização.
“Pedro vai casar bem!
José vai casar melhor!
Mas João...
Passa-lhe a mão!” 
(“A princesa jia”, CAS-
CUDO, 2003, p. 61)
Encerramento São as fórmulas de encerra-
mento do conto, indicando 
o final feliz, empregando, 
muitas vezes, versos rimados.
“Casaram-se imediata-
mente, contando a moça 
a sua história, e foram 
felizes até a morte” (“Al-
mofadinha de ouro”, 
CASCUDO, 2003, p. 66).
“Foi uma festa que durou 
três dias e eu estava lá, 
comendo do bom e do 
melhor e não arranjei nada 
para vocês porque vim 
comendo no caminho” 
(“A princesa sisuda”, CAS-
CUDO, 2003, p. 107).
Tabela 2. Estilo formular
Literatura popular70
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A partir dessas estruturas, como já apontado, as coisas acontecem como 
deveria acontecer – culminando em um final feliz e satisfatório. Afora isso, 
inúmeras versões são criadas, combinando temas, variando os personagens e 
os modos de contar, mas, de certa forma, mantendo-se a mesma sequência.
Na seção seguinte, vamos analisar o conto popular e sua relação com o 
conto erudito.
Conto: um gênero popular e erudito
O aspecto popular do conto insere-o em uma tradição. Isso quer dizer 
que está contextualizado em um meio que compartilha identidades e saberes. 
Por tal motivo, não precisa explicar ou aprofundar muitasdefinições, pois se 
espera que o grupo no qual o conto é produzido ou contado conheça parte 
dessas histórias e até tenha expectativas em relação a elas.
O conto erudito, por sua vez, compartilha vários elementos com o conto 
popular – texto em prosa, centrado em um acontecimento. Pode até reproduzir 
a estrutura do conto popular (final feliz, personagens). No entanto, é uma 
forma fixa, ou seja, não há versões, já que é resultado de uma produção indi-
vidual de um autor. Segue sempre a mesma sequência de palavras.
O conto erudito também não precisa corresponder à expectativa de um 
grupo. Pode, justamente, criar um estranhamento, rompendo com essa ex-
pectativa. Enquanto o conto erudito pode apresentar personagens complexos, 
fazer análise psicológica (lembre-se de que alguns contos podem enfocar 
apenas o que se passa na cabeça das personagens), o conto popular enfatiza 
ações e apresenta personagens planos, ocupando funções ou representando 
característica (o vaqueiro, o rei, o preguiçoso, a bela moça, a velha e assim 
por diante).
71Características do conto popular
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EXEMPLO 1 – A ONÇA E A RAPOSA
Não faças bem sem olhar a quem.
Um dia a raposa estava passeando, ouviu um ronco: u... u... u...
– O que será aquilo? Eu vou ver.
A onça enxergou-a e lhe disse: 
– Eu fui gerada dentro deste buraco, cresci, e agora não posso sair. Tu me ajudas a 
tirar a pedra? 
A raposa ajudou, a onça saiu, a raposa perguntou-lhe: 
– O que me pagas?
A onça, que estava com fome, respondeu: 
– Agora eu vou te comer. 
Agarrou a raposa e perguntou: 
– Com o que é que se paga um bem? 
A raposa respondeu: 
–O bem paga-se com o bem. Ali perto há um homem que sabe todas as cousas; 
vamos lá perguntar a ele.
Atravessaram para uma ilha; a raposa contou ao homem que tinha tirado a onça do 
buraco e que ela, em paga disso, a quis comer.
A onça disse: 
– Eu a quero comer porque o bem se paga com o mal.
O homem disse: 
– Está bom. Vamos ver a tua cova. 
Eles três foram, e o homem disse à onça: 
– Entra, que eu quero ver como você estava.
A onça entrou; o homem e a raposa rolaram a pedra e a onça não pôde mais sair. O 
homem disse: 
– Agora tu ficas sabendo que o bem se paga com o bem.
 A onça aí ficou; os outros foram-se.
(CASCUDO, 1952, p. 303)
Literatura popular72
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EXEMPLO 2 – O GATO E A BARATA
A baratinha velha subiu pelo pé do copo quase cheio de vinho, que tinha sido largado 
a um canto da cozinha, desceu pela parte de dentro e começou a lambiscar o vinho. 
Dada a pequena distância, que nas baratas vai da boca ao cérebro, o álcool lhe subiu 
logo a este. Bêbada, a baratinha caiu dentro do copo. Debateu-se, bebeu mais vinho, 
ficou mais tonta, debateu-se mais, bebeu mais, tonteou mais e já quase morria quando 
deparou com o carão do gato doméstico que sorria de sua aflição, no alto do copo.
– Gatinho, meu gatinho – pediu ela –, me salva, me salva. Me salva que assim que eu 
sair eu deixo você me engolir inteirinha, como você gosta. Me salva. 
– Você deixa mesmo eu engolir você? – disse o gato. 
– Me saaalva! – implorou a baratinha. – Eu prometo.
O gato virou o copo com uma patada, o líquido escorreu e com ele a baratinha 
que, assim que se viu no chão, saiu correndo para o buraco mais perto, onde caiu na 
gargalhada. 
– Que é isso? – perguntou o gato. – Você não vai sair daí e cumprir sua promessa? 
Você disse que deixava eu comer você inteira.
– Ah, ah, ah! – ria então a barata, sem poder se conter. – E você é tão imbecil a ponto 
de acreditar na promessa de uma barata velha e bêbada?
Moral: Às vezes a autodepreciação nos livra do pelotão. 
(FERNANDES, 1978, p. 17)
Pela leitura de ambos os contos, você pode perceber muitas semelhanças. 
A escolha desses exemplos parecidos é proposital, para podermos comparar 
alguns aspectos.
Os dois são contos curtos. Em geral, os contos populares são curtos, mas 
os eruditos não têm número de páginas definido (temos minicontos até contos 
de dez ou mais páginas). Além disso, os dois têm como personagens animais. 
São fábulas, ou seja, contos em que os animais reproduzem comportamentos 
humanos. Nos dois também temos uma moral, um ensinamento. Nos contos 
populares, além de divertir e entreter, os contos transmitem ensinamentos, pos-
suem valor utilitário. Nos contos eruditos, isso não é essencial, nem precisa 
ficar evidente; ou mesmo a moral, se houver, poderá ter interpretações distintas.
Mesmo assim, Millôr Fernandes buscou reproduzir, do conto popular, não 
só a forma – conto de animais – como o princípio de uma moral, ao final. 
Porém, os efeitos de sentidos de um e outro conto são bem distintos.
73Características do conto popular
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No caso do conto popular (Exemplo 1), devemos lembrar que se trata de 
um registro escrito decorrente da transcrição de um texto originalmente oral 
e, como tal, pode ser reproduzido, com variações, com outras palavras, ou 
mesmo trocando a raposa por algum outro animal que exerça o mesmo papel 
de colaboração. O conto erudito já nasce escrito, para ser lido, em um exer-
cício individual. Isso implica considerar diferentes interlocutores. O conto 
popular surge em um contexto de compartilhamento de cultura. O conto eru-
dito, ainda que seu autor tenha em mente a quem se destina, atinge públicos 
diferentes, sobre os quais não se tem controle.
O conto popular (Exemplo 1) apresenta-nos a relação entre a onça e a ra-
posa. A onça não se sente agradecida pelo fato de ter sido salva pela raposa. 
Quer comê-la. Para solucionar a contenda, ambas procuram o homem, devido 
a sua sabedoria. Este, em uma atitude de esperteza, com a ajuda da raposa, dá 
uma lição na onça, recolocando-a no buraco. A lição, repetida mais de uma 
vez no conto, é: o bem se paga com o bem. 
As atitudes e as falas das personagens evidenciam bem sua estrutura plana 
– ou seja, estão ali para representar os comportamentos, não para agir de 
forma independente ou evidenciar complexidade de personalidade. Não há, 
no conto, subentendidos; tudo é claro e direto. Não se permitem duplas inter-
pretações. Há uma simplificação do problema – sempre apresentado de forma 
a estabelecer opostos (certo e errado, bem e mal).
O conto erudito (Exemplo 2) é produto da intencionalidade de um autor. 
Não pode ser reproduzido com outras palavras. É fixo. A escolha temática e 
formal do conto, reproduzindo um gênero popular, já nos permite tecer al-
gumas conclusões. Em primeiro lugar, esperamos uma moral. Só que, neste 
caso, ela não é ingênua, nem resultado de uma simplificação do problema 
(bem e mal). Em segundo lugar, sabemos que os animais representam a socie-
dade e agem de acordo com os valores desta.
Como no outro conto, um animal está em perigo e precisa de ajuda. Porém, 
no caso do conto erudito, a própria situação já cria um efeito de sentido dis-
tinto – um copo de vinho, uma barata bêbada, os efeitos do álcool no cérebro. 
Há toda uma reflexão sobre o contexto que não aparece no outro conto – cujo 
espaço é a vida livre na natureza. O gato, ainda que na intenção de devorar 
a barata, ajuda-a, mas esta zomba de sua ingenuidade, o que resulta em um 
efeito oposto ao do conto anterior. Aqui não há a justiça esperada de pagar o 
bem com o bem ou uma punição caso isso não ocorra. O valor das ações é in-
terpretado de outra forma: “Às vezes a autodepreciação nos livra do pelotão”. 
Tal moral amplia e complexifica as relações, na medida em que propõe uma 
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dissimulação necessária à sobrevivência. Em outras palavras, a honestidade, 
que é um valor positivo, nem sempre resulta em algo positivo. Em alguns 
casos, pode ser mais benéfico a dissimulação e a autodepreciação. Há aqui 
subentendidos e ironia. 
O leitor do conto erudito reage a essa ironia, percebe a crítica social, re-
flete sobre as relações interpessoais. O leitordo conto popular aceita a moral 
ingênua, porque concorda com a máxima da igualdade entre as pessoas – que 
devem corresponder o bem com o bem (tendo como pressuposto a honesti-
dade). É uma visão mais idealizada, enquanto que, no conto erudito, a visão 
da sociedade é mais realista – sabemos que as pessoas não são de todo boas ou 
más, que agem de forma individualista, que se expõem e que, dependendo do 
seu interesse, podem até depreciar-se, colocar-se em posição inferior, parecer 
algo que não são.
Assim, o conto popular opera a partir de categorias mais amplas e totali-
zantes: o bem, o mal, o certo, o errado. Daí a moral ingênua, que não deve ser 
confundida com alienação ou limitação, mas como um recurso, uma escolha 
– enfatizar as relações interpessoais a partir desses temas universais, a partir
de pressupostos aceitos como irrefutáveis. Já o conto erudito pode tratar do
paradoxo, da dúvida, da relativização, porque não tem compromisso com uma
coletividade. Ele particulariza, enquanto o conto popular generaliza.
75Características do conto popular
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BRAGA, T. Contos tradicionais do povo português. 4 ed. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 
1998.
CASCUDO, L. da C. Contos tradicionais do Brasil. 13 ed. São Paulo: Global, 2003.
CASCUDO, L. da C. Literatura oral. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952.
COELHO, A. Contos populares portugueses. 5 ed. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999.
FERNANDES, M. Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro: Nórdica, 1978.
JOLLES, A. Formas simples: legenda, saga, mito, adivinha, ditado, caso, memorável, con-
to, chiste. São Paulo: Cultrix, 1975.
PEDROSO, C. Contos populares portugueses. São Paulo: Landy, 2001.
Leituras recomendadas
PROPP, V. As raízes históricas do conto maravilhoso. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
ROMERO, S. Contos populares do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1985.
SIMONSEN, M. O conto popular. São Paulo: Martins Fontes, 1987. 
76Características do conto popular
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