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HERANÇA LIGADA AO SEXO CROMOSSOMOS SEXUAIS Têm extrema importância na diferenciação do sexo masculino e feminino na nossa espécie. Hoje se sabe que existem genes primordiais para características como desenvolvimento de testículos, isso é, no desenvolvimento da genitália interna/externa masculina e da genitália interna/externa feminina. → Efeito do cromossomo Y no desenvolvimento embriológico dos sistemas reprodutores O fato de estar presente ou não é determinante para o desenvolvimento sexual na nossa espécie, de forma que, quando ausente, os ovários se desenvolvem e, se presente, os testículos estão presentes. Até a sexta semana o fato do cromossomo Y estar presente não faz muita diferença, pois ainda é muito precoce e a gônada, ambivalente. Após isso, genes SRY (sex determining region on the Y) e TDF (testis- determining fator) presentes no cromossomo sexual Y começam a expressar os fatores para o desenvolvimento da gônada masculina. Em seguida, o tecido medular forma testículos típicos (túbulos seminíferos e células de Leydig) e, juntamente com a gonadotrofina coriônica da placenta resulta em andrógenos. Além disso há a influência de genes DAZ (deletado em azoospermia) e AZF (fatores de azoospermia) na espermatogênese. O cromossomo Y é um cromossomo pequenininho, com menos de 100 genes (~20 proteínas diferentes) e, atualmente, sabe-se que 68 codificam proteínas, 126 RNA funcional e há 399 pseudogenes. São genes restritos ao desenvolvimento gonadal e genital. O pareamento com o cromossomo X é na região pseudoautossômica (PAR) e, em casos raros em que há crossing over fora da PAR (um pouco abaixo), as características migram, de forma que podem existir homens XX e mulheres XY. As doenças ligadas ao cromossomo Y são extremamente raras e pouco citadas na literatura, assim, quando se fala de herança ligada ao sexo, refere-se ao cromossomo X – as heranças relacionadas ao Y são chamadas heranças holândricas (homem para homem, como a hipertricose auricular). → Cromossomo X O cromossomo X é maior e apresenta aproximadamente 1100 genes (800 proteínas, 300 RNA funcional e 300 ligados a doenças). Atualmente, 871 codificam proteínas, 480 RNA funcional e existem 886 pseudogenes. São genes não relacionados com a determinação sexual. Vários genes atuam na diferenciação sexual, por isso, mesmo na ausência do cromossomo Y pode ocorrer a formação de testículos. Como as mulheres não apresentam quantidade maior de produto gênico destes genes (XX)? Existe a chamada inativação do cromossomo X, que é um processo fisiológico normal que inativa a maioria dos genes em um dos X – é uma compensação de dose, em que há equalização da expressão de genes ligados ao X nos dois sexos. Assim, na primeira semana da embriogênese há a escolha aleatória do X que será inativado pelo centro de inativação do X (XIC), e que formará uma massa heterocromática, o Corpúsculo de Barr. Ela é mantida em cada linhagem clonal (sucessivas mitoses) e, por isso, as mulheres são mosaicos celulares em relação à expressão de genes ligados ao X. INATIVAÇÃO DO CROMOSSOMO X Existem características epigenéticas e cromossômicas que distinguem os X ativo e inativo: CARACTERÍSTICA X ATIVO X INATIVO Expressão gênica Semelhante ao X do masculino Maioria dos genes silenciados Estado da cromatina Eucromatina Heterocromatina RNA funcional Gene XIST silenciado RNAm de XIST expresso Histonas Semelhantes ao X masculino e autossomos Enriquecido para macro H2A Modificação de histonas Semelhantes ao X masculino e autossomos Enriquecido para marcar de heterocromatina Em pacientes com cromossomos X extra (seja homem ou mulher) o X extra é inativo. → Inativação do X em mulheres com doenças ligadas ao X tem importância clínica As mulheres apresentam mosaicismo, que é a proporção de células com alelo mutante no X ativo ou inativo que pode ser diferente nos tecidos. Na Distrofia Muscular de Duchenne (XLR), até mesmo mulheres heterozigotas podem ser manifestantes devido à inativação do X. Geralmente, em caso de herança autossômica recessiva é necessário que o indivíduo seja homozigoto para manifestar a doença, mas quando se trata de herança ligada ao sexo isso não é verdade absoluta. Dessa forma, se a mulher é XhXh é uma mulher afetada, mas se ela é XHXh ela é portadora e pode, ou não, manifestar a doença de acordo com o cromossomo que for inativado. → Genótipos e fenótipos nas doenças ligadas ao X – recessivas Em homens, nesses casos, são independentes de Y, por isso chamado hemizigoto. A herança recessiva é expressa em todos os homens que recebem o alelo mutante, e geralmente restritos aos homens – é uma herança que não se distribui igualmente nos dois sexos. Não há transmissão direta de pai para filho e os homens afetados geralmente têm filhas e filhos normais – a transmissão de homem afetado a todas as filhas e seus netos é de 50% de risco. No caso do daltonismo, a porcentagem de mulheres afetadas é mínima – 8% dos homens tem daltonismo (deuteranomalia de 4 a 5%) e 0,5% das mulheres. Os bastonetes são periféricos e responsáveis pela visão de preto e branco e os cones são centrais e responsáveis pelas cores. Diante disso, distúrbios dicromáticos graves estão relacionados a ausência de cones: protanopia (vermelho), deuteranopia (verde) e trinapia (azul). Os distúrbios tricromáticos moderados relacionam-se à variação do número de cones e à percepção enfraquecida: protanomalia (vermelho), deuteranomalia (verde) e tritanomalia (azul). O gene relacionado a protanopia, deuteranopia, protanomalia e deuteranomalia está no cromossomo Xq28 e o relacionado à tritanopia e tritanomalia no cromossomo 7. A hemofilia A, presente de 1:5000 a 1:10000 homens, possui clínica variável dependendo do fator, tal que os graves correspondem ao fator VIII < 1%, os moderados no fator VIII de 1 a 5% e leve de 5 a 30%. → Genótipos e fenótipos nas doenças ligadas ao X – dominantes Obs.: os termos recessivo e dominante é diferente das autossômicas devido as mulheres heterozigotas. Há a Se os cromossomos extras encontram-se inativados na Síndrome de Klinefelter e na de Turner por exemplo, por que as pessoas com cromossomo X extra (ou faltando) são fenotipicamente anormais? Isso acontece porque os cromossomos não são 100% inativados, tal que ~15% dos genes no X escapam da inativação. Figura 1. XH é alelo selvagem; Xh é alelo mutado e XZ é alelo mutado. inativação do X e da proporção de células nos tecidos pertinentes que tenham alelo mutante no X ativo ou inativo. Na herança dominante ligada ao sexo, a diferença da dominante autossômica se dá devido à ausência de transmissão de pai para filho – o pai só transmite o Y para o filho. Assim, homens afetados e mulheres normais geram uma prole de filhos normais e filhas afetadas. Quando a mulher é afetada, 50% dos filhos também são afetados, e as mulheres são mais afetadas que os homens (gravidade: nos homens é letal, nas mulheres é variável). Como exemplos de doenças temos a Síndrome de Rett (letal aos homens) e o raquitismo resistente à vitamina D. Homens afetados casados com mulheres normais têm todos os filhos afetados e nenhuma filha normal? Não, neste caso todas as mulheres são afetadas e todos os homens normais.