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1 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 Radiologia hepática: doenças difusas OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Citar as principais doenças que comprometem difusamente o fígado correlacionando os aspectos fisiopatológicos com as alterações nos exames de imagem Reconhecer as alterações clínicas das doenças hepáticas difusas correlacionando com os achados dos exames de imagem Conhecer as vantagens e desvantagens dos exames de imagem empregando de forma correta esses exames na avaliação das doenças difusas do fígado Citar as limitações dos exames de imagem aplicando de forma correta esse conhecimento na avaliação dos pacientes DOENÇAS VASCULARES HIPERTENSÃO PORTAL A hipertensão portal é um diagnóstico sindrômico, e não de uma doença, ou seja, são as doenças que levam a um regime de hipertensão do sistema porta. O sistema venoso portal drena todo o sangue do esôfago até o reto. Hipertensão portal = Aumento do gradiente de pressão portal. O aumento da pressão depende do fluxo e da resistência vascular. Então, o aumento da pressão portal pode acontecer por: Aumento do fluxo sanguíneo − Vasodilatação em órgãos esplâncnicos que drenam o sangue para a veia porta OU; Aumento da resistência vascular A resistência vascular pode aumentar: − Pré-hepática: na veia porta ou tributárias − Intra-hepática: pré-sinusoidal, sinusoidal ou pós-sinusoidal − Pós-hepática: veias hepáticas ou nos compartimentos vasculares que recebem o fluxo portal ao sair do fígado CLASSIFICAÇÃO De acordo com o local de aumento da resistência vascular. 1) Pré-hepática Trombose da veia esplênica, trombose da veia porta, esplenomegalia maciça (síndrome de Banti), cavernomatose da veia porta, estenose da veia porta. 2) Intra-hepática a) Pré-sinusoidal Esquistossomose, fibrose hepática congênita b) Sinusoidal Cirrose hepática, hepatite crônica c) Pós-sinusoidal Obstrução sinusoidal hepática (síndrome veno-oclusiva) 3) Pós-hepática Obstrução vascular ou congestão hepática Síndrome de Budd-Chiari, malformações congênitas na veia cava inferior, causas cardíacas (miocardiopatia restritiva, pericardite constritiva, ICC grave) Obs: Qualquer insuficiência do átrio direito leva ao aumento da pressão venosa central e, o aumento da pressão venosa central causa aumento da resistência vascular e consequente comprometimento hepático (o sangue não consegue fluir porque o coração está insuficiente) → Congestão hepática. A hipertensão portal não tem apenas relação com a veia porta, mas sim com todo o sistema venoso portal. 2 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 DIAGNÓSTICO Visualização de aumento das veias colaterais portossistêmicas (“varizes gastroesofágicas”) através da endoscopia digestiva alta (EDA) ou exames de imagem. São as colaterais que dão o diagnóstico do shunt portossistêmico. FISIOPATOLOGIA O fluxo portal normal é hepatopetal (de baixa resistência), no qual o sangue vai em direção ao fígado. Na hipertensão portal, o fluxo passa a ser HEPATOFUGAL, ou seja, para FORA DO FÍGADO. Primeiro, acontece vasodilatação do sistema porta para tentar comportar o fluxo que não está conseguindo passar pelo fígado normalmente(em qualquer altura – pré, intra ou pós). Devido à dilatação e congestão da veia porta e de suas tributárias, acontece o desenvolvimento de colaterais portossistêmicas e das suas tributárias. Esta alteração do fluxo leva à formação das varizes. Quanto ao desenvolvimento das varizes, elas podem ser: *Em relação à região que ela se encontra (esôfago, gástrica, retal etc.) Para → Antes/fora da alça intestinal, por exemplo Peri → Dentro da serosa Submucosas → Dentro da submucosa A mais “perigosa” em relação à sangramentos são as varizes SUBMUCOSAS. 3 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 A magnitude e extensão das colaterais depende da: Severidade da hipertensão Gradiente de pressão entre os dois sistemas Duração da hipertensão portal Haverá desvio do sangue portal para a circulação venosa sistêmica sem passar pelo fígado a partir de anastomoses entre o sistema porta e o sistema venoso → COLATERAIS PORTOSSISTÊMICAS → Como o fluxo sanguíneo não está conseguindo passar, a solução do organismo é fazer anastomoses da circulação colateral com a circulação venosa sistêmica, com o objetivo de fazer com que o sangue chegue ao coração sem passar pelo fígado → Desenvolvimento das colaterais portossistêmicas e tributárias e fisiopatologia do fluxo hepatofugal → A partir das varizes os vasos colaterais vão procurar a circulação venosa sistêmica para realizar a anastomose e formar as colaterais portossistêmicas Então, as COLATERAIS PORTOSSISTÊMICAS são SHUNTS (desvios) para que o sangue do sistema venoso portal caia diretamente na circulação venosa sistêmica sem precisar passar pelo fígado → Formam o FLUXO HEPATOFUGAL O fígado, então, vai receber ↓ sangue, e, como o sangue não vai passar por ele, não será depurado, caindo na circulação sistêmica com muitas toxinas. Toda a clínica do paciente hepatopata com insuficiência hepática tem relação com o fluxo hepatofugal, porque o sangue vai cair na circulação sistêmica sem passar pelo fígado (ou seja, com toxinas) e o fígado também não receberá o necessário para que o seu metabolismo funcione plenamente. Colaterais portossistêmicas mais comuns: Gastresofágicas Paraesofágicas Paraumbilical Esplenorrenal Para o sistema da VMI Ou seja, se o paciente tem varizes esofágicas, significa que ele tem hipertensão porta etc. RECONHECIMENTO DOS VASOS 4 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 USG DOPPLER Método inicial e de ESCOLHA. Método IDEAL porque avalia QUALITATIVAMENTE e QUANTITATIVAMENTE o fluxo hepático → Avaliação funcional e anatômica, do padrão de fluxo, velocidade e direção O DOPPLER FAZ AVALIAÇÃO: Funcional e anatômica Padrão de fluxo, velocidade e direção O DOPPLER PODE EVIDENCIAR: Dilatação da veia porta Fluxo lento e hepatofugal Recanalização da veia umbilical Colaterais portossistêmicas Esplenomegalia Ascite Causa da hipertensão porta TC/RM Não utilizada de rotina porque é um exame com contraste venoso e radiação. A clínica + Doppler é o suficiente para diagnosticar o paciente. Não avalia direção ou velocidade do fluxo – Só por Doppler Fluxo hepatofugal Fígado cirrótico 1) Contornos nodulados/serrilhado 2) Ascite VARIZES (observar os enovelados) Tipo do fluxo Avaliação qualitativa do fluxo venoso DICA PARA ANATOMIA 1º) Definir os 3 maiores vasos: - Procurar a veia porta (maior) - A primeira veia que desce da veia porta é a mesentérica superior - A veia que segue para o baço é a veia esplênica. *Esplênica + mesentérica inferior = Veia porta 2º) Definir os demais vasos: - A veia que vem de baixo e segue para o baço é a mesentérica inferior (drena cólon esquerdo e reto) - A veia que sobe para o estômago é a gástrica esquerda 5 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 Angiografia por TC ou RM Indicado para pacientes que vão ser operados e se precisa de um mapeamento vascular do paciente, por exemplo, entre outras indicações. *Mas NÃO para o diagnóstico etiológico da hipertensão portal. − Vantagens: rápido, examina todo o abdome e faz reconstruções multiplanares e tridimensionais − Desvantagens: radiação ionizante, nefrotoxidade e alergia ao iodo + não avalia o fluxo qualitativamente COLATERAIS ESOFÁGICAS E PARAESOFÁGICAS 2/3 dos pacientes com cirrose desenvolverão varizes esofágicas São supridas pela veia gástrica esquerda e drenam para a veia ázigos (78%), VCI (12%), veias pulmonarese braquiocefálicas (<10%), então, o sistema da veia gástrica esquerda pode ir para a veia ázigos, VCI, veias pulmonares e braquiocefálicas COLATERAIS GÁSTRICAS E PARAGÁSTRICAS Os pacientes que têm varizes gástricas podem desenvolvê-las a partir do: IMAGEM 1: Sistema da veia gástrica esquerda − Veias entre o fígado e o estômago IMAGEM 2: Sistema das veias gástricas curtas − Veias mediais ao baço IMAGEM 3: Sistema das veias gástricas posteriores RECANALIZAÇÃO DA VEIA UMBILICAL Origem da porção umbilical do ramo esquerdo VP, ao longo do ligamento falciforme Fluxo hepatofugal + Colaterais na parede abdominal → CABEÇA DE MEDUSA O paciente não terá hemorragia digestiva alta, mas tem maior predisposição a encefalopatia hepática 6 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 TROMBOSE PORTAL CRÔNICA A trombose portal é causada por um estado de: Hipercoagulabilidade, estase e lesão endotelial → Tríade de Virchow Por várias etiologias Mais frequentemente associada à cirrose A trombose pode ser: Completa ou parcial Intra-hepática ou extra-hepática Aguda ou crônica Tumoral A Trombose Portal Crônica frequentemente é associada com CIRROSE e a Trombose Portal Aguda com a PANCREATITE AGUDA. DIAGNÓSTICO Doppler → Método diagnóstico inicial; alta acurácia TC/RM → Avaliação etiológica A Trombose Portal Crônica leva a uma transformação cavernomatosa. A transformação cavernomatosa é formada a partir de uma proliferação de vasos na veia porta que aconteceu por causa de um trombo que estava impedindo o fluxo sanguíneo – Colaterais periportais → Trombose portal com vasos anômalos que foram recanalizados para a manutenção do fluxo sanguíneo Hipertensão portal Fígado diminuído (AZUL) acompanhado de esplenomegalia (VERMELHO) (SETA AZUL) Veia porta sem fluxo (estase) Esplênica (laranja) continuando com a porta (azul) CORTE DA TC→ O trombo NÃO opacifica com o contraste (ponto mais escuro dentro do círculo laranja) 7 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 OBSTRUÇÃO DO FLUXO VENOSO Doenças que causam obstrução do fluxo venoso SISTÊMICO. O fígado tem 3% do peso corporal e recebe 25% do débito cardíaco. Sangue drenado da veia central, veia sublobular, veias hepáticas, veia cava inferior e do átrio direito. A obstrução do fluxo venoso hepático leva à hepatopatia, aumento da pressão do átrio direito, ICC, cor pulmonale e doença do pericárdio. São classificadas a partir do nível da obstrução em: 1) Doença veno-oclusiva a) Sinusoidal b) Vênulas terminais 2) Síndrome Budd-Chiari a) Veias hepáticas b) VCI 3) Hepatopatia Congestiva a) Coração As alterações histológicas são idênticas em todas as patologias O paciente apresenta hepatomegalia, icterícia, entre outros, e pode apresentar congestão sinusoidal e necrose celular nas regiões perivenulares. Mas, a apresentação clínica é muito variável porque depende da extensão e rapidez da obstrução (uma coisa é uma obstrução parcial de uma veia do sistema porta, e outra coisa BEM diferente é a obstrução total da veia cava). Etiologia e tratamentos diferentes USG doppler é o exame inicial em TODOS os casos SÍNDROME BUDD-CHIARI Obstrução fluxo venoso nas veias hepáticas ou VCI Pode ser: Primária − Membrana ou trombose intraluminal Secundária − Compressão extrínseca ou invasão intraluminal (exemplo: tumor que obstrui as veias hepáticas ou VCI) Obstrução centrolobular → Elevação pressão sinusoidal → Redução fluxo portal → Congestão centrolobular → Necrose → Atrofia Aumento na pressão das veias hepáticas ou VCI que será transmitido para os sinusoides e consequentemente para o sistema porta. Logo, a Síndrome de Budd-Chiari provoca uma obstrução do fluxo venoso nas veias hepáticas ou VCI, que, ao obstruir, leva a um aumento da pressão nesses vasos, que será transmitido para os sinusoides e o sistema porta. A Síndrome de Budd-Chiari cursa com HIPERTENSÃO PORTAL. Mais incidente em mulheres entre 30-40 anos Assintomática → Fulminante Ascite + hepatomegalia + dor Classificada quanto à duração e severidade da doença: Aguda fulminante 5% Aguda 20% Subaguda 15-20% Crônica 8 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 Forma aguda → Necrose hepatocelular e insuficiência hepática – prioridade na vida de transplante Forma crônica → Hipertensão portal Causas comuns: Estados de hipercoagulabilidade, como desordens trombofílicas (deficiência da antitrombina III, deficiência da proteína C, deficiência da proteína S, mutação do fator V de Leiden e mutação do gene da protrombina) Desordens de pró-coagulação adquiridas, como mieloproliferativas (principalmente linfomas e leucemias***), hemoglobinúria paroxística noturna, síndrome antifosfolípide, câncer***, gravidez*** e uso de contraceptivos orais***) Causas menos comuns: Metástases, carcinoma hepatocelular, carcinoma adrenal, carcinoma de célula renal, doença de Crohn miscelânea (trauma, aspergilose, síndrome de Behcet, fibrose da veia cava) FISIOPATOLOGIA DIAGNÓSTICO Deve ser considerado em pacientes com ascite*, hepatomegalia e dor em QSD *Ascite refratária com alteração leve/moderada em teste de função hepática = SEMPRE SOLICITAR USG COM DOPPLER PARA AFASTAR BUDD-CHIARI Os outros exames laboratoriais são inespecíficos USG doppler é o método diagnóstico inicial SÍNDROME BUDD-CHIARI AGUDA EM USG DOPPLER/TC/RM USG DOPPLER Sensibilidade e especificidade em torno de 85% Mapeamento das veias hepáticas e avaliar o fluxo Evidencia fluxo anormal nas veias hepáticas, colaterais intra-hepáticas ou subcapsulares e não visualização da junção das veias hepáticas com a VCI TC/RM Pode ser feita, mas a USG Doppler é a 1ª escolha Evidencia hepatomegalia, ascite e veias hepáticas e VCI afiladas, com ou sem trombo e/ou sem fluxo Realce heterogêneo, maior realce central (fígado bom) → O sofrimento hepático e mais periférico 9 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 SÍNDROME DE BUDD-CHIARI CRÔNICA EM USG DOPPLER/TC/RM Veias hepáticas não visualizadas Hipertrofia do caudado − O caudado é irrigado pela artéria hepática direita e esquerda, da porta direita e esquerda; e sua drenagem é direto para a VCI − Como o caudado drena direto na cava, ele não sofre este regime de isquemia que acomete o resto do fígado − Então, como existe dano hepático, o lobo caudado vai hipertrofiar para tentar compensá-lo Compressão da VCI pelo aumento do caudado Sinais de hipertensão portal Estudo parênquima hepático − Atrofia hepática periférica (regime de isquemia) − Hipertrofia compensatória central (do caudado) − Hiperplasia nodular regenerativa − Cirrose Fígado dismórfico, caudado hipertrofiado e atrofia dos demais segmentos Circulação colateral intra-hepática e sistêmica Nódulos regenerativos hipervascularizados CONGESTÃO HEPATICA PASSIVA: HEPATOPATIA CONGESTIVA Congestão hepática passiva por causa da um problema NO LADO DIREITO DO CORAÇÃO Estase venosa hepática secundária a doença cardíaca A elevação da PVC é transmitida do átrio direito para as veias hepáticas *Igual à Budd-Chiari, mas SEM OS NÓDULOS. Nódulos só Budd-Chiari. (SETA AZUL) Mais escuro → Vasos obstruídos BUDD-CHIARI AGUDO Sofrimento hepático mais periférico (ESTRELA ROSA) ASCITE Diferença de atenuação entre a parte periférica e central Hipertrofia do caudado (VERMELHO) BUDD-CHIARI CRÔNICO COM CIRROSE Nódulos regenerativos e hipervascularizados + fibrose 10 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 Podeser causada por ICC, pericardite, derrame pericárdico e doença valvar, tricúspide ou pulmonar “Sistema de vasos comunicantes” Déficit na pulsação cardíaca → Congestão venosa → Transmissão passiva da hipertensão para os vasos sistêmicos e vasos hepáticos → Edema pré-sinusoidal e fibrose central → Congestão sinusoidal → Redução do fluxo portal → Hipertensão portal → Atrofia hepática → Necrose → Fibrose → Cirrose hepática USG Congestão venosa → Congestão sinusoidal → Redução do fluxo portal → Atrofia hepática → Necrose → Fibrose → Cirrose Veia hepáticas e veia cava inferior dilatadas Hepatomegalia Ascite (pela hipertensão portal e insuficiência cardíaca) Derrame pleural e pericárdico Doppler anormal TC/RM Fase arterial → Refluxo do contraste do AD para o fígado Fase portal → Retardo na opacificação das veias hepáticas e da VCI (maior tempo para opacificação das veias) FASE ARTERIAL FASE VENOSA → O aspecto no exame de imagem depende do grau, tempo de congestão, presença de isquemia ou infarto hepático Se proveniente de: ICC aguda/precoce → Hepatomegalia heterogênea Congestão passiva crônica → Fígado pequeno e cirrótico CONGESTÃO HEPÁTICA PASSIVA POR ICC Fígado em noz moscada Áreas com congestão sinusoidal e sangramento + regiões com necrose Dilatação das veias hepáticas *SEM trombose Contornos cerrilhados do fígado (AMARELO) Ascite HEPATOPATIA CRÔNICA COM ASCITE POR ICC “Aspecto em noz moscada” Refluxo do contraste do AD para o fígado Presença de contraste venoso quando ainda se tem contraste nas artérias Retardo na opacificação das veias hepáticas e da VCI + Realce heterogêneo do fígado (congestão, edema) 11 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 Veias hepáticas e VCI aumentadas Áreas amarelas com fígado normal ou com esteatose Não é usado para tomografia DOENÇA HEPÁTICA VENO-OCLUSIVA Obstrução nos sinusoides ou nas terminações venosas (primeiras vênulas que saem após os sinusoides) Síndrome de obstrução sinusoidal Obstrução das pequenas veias pós-sinusoidais Veias hepáticas e VCI pérvias Inflamação e progressiva oclusão venosa não trombótica Pode ser causada por injúria do endotélio sinusoidal por transplante de células-tronco hematopoiéticas, quimioterapia, radioterapia abdominal e uso de alcaloides pirrolizidínicos. Obs: É uma complicação da quimioterapia e pode levar à insuficiência hepática DIAGNÓSTICO Os exames de imagem são importantes para excluir outros diagnósticos (+ história do paciente) ACHADOS DE IMAGEM Hepatoesplenomegalia; ascite Edema da parede periportal e da vesícula biliar Fluxo hepatofugal no Doppler e aumento da resistência vascular (> 0,75) Alterações anatômicas da veia porta Veias hepáticas de calibre pequeno INFARTO HEPÁTICO Interrupção da entrada do sangue arterial que chega ao fígado. Necrose coagulativa e morte de hepatócitos por isquemia Incomum porque o fígado tem duplo suprimento sanguíneo Pode ser causado por iatrogenia, pós-transplante, pós-trauma, estado de hipercoagulabilidade, vasculite ou infecção Infarto = Área que não realça, pode ter necrose (e gás) AO EXAME DE IMAGEM Área hipoatenuante, periférica, em cunha, redonda, irregular ou tubular e paralela aos ductos hepáticos Necrose do epitélio biliar (100% nutrido pela artéria hepática) ÁREA DESVITALIZADA, SEM REALCE DO PARÊNQUIMA HEPÁTICO, até que se prove o contrário, é INFARTO. Atentar à história do paciente. Branco (áreas de esteatose) + Áreas mais escuras (hemorragia) IMAGEM CLÁSSICA: Infarto com área triangular Lembrar que é isquemia da artéria hepática 12 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 DOENÇAS INFLAMATÓRIAS ESQUISTOSSOMOSE Presença de vermes adultos nos ramos portais, no qual produzem ovos. Os ovos induzem reação granulomatosa fibrótica pré-sinusoidal. Pré-sinusoidal Causa fibrose periportal, pileflebite e peripileflebite Fibrose ao redor do ovo e do VA morto Fibrose de Symmers: fibrose periportal sem formação nodular ou destruição hepatocelular FIBROSE DE SYMMERS Granulomas endovasculares pré-sinusoidais Reação inflamatória Não desorganiza a arquitetura lobular Exames de imagem evidenciam espessamento fibroso e periportal AO EXAME DE IMAGEM Fibrose periportal Hipertensão portal Hepatomegalia Esplenomegalia USG DOPPLER Método de eleição na avaliação da fibrose periportal e suas repercussões na circulação portal Diagnóstico indireto e classificação (grau de ecogenicidade) das formas clínicas da doença Correlação da hiperecogenicidade periportal com o grau de fibrose periportal *= Verme SETA: Fibrose ao redor Esquistossomose = Fibrose periportal Fibrose periportal 13 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 CIRROSE Patologia: Distorção arquitetural hepática + fibrose + nódulos de regeneração Alteração histopatológica irreversível Achados avançados → TC Causas mais comuns: Vírus e álcool AO EXAME DE IMAGEM 1. Alterações morfológicas – Achados TARDIOS − Tamanho − Forma − Modularidades − Ecogenicidade, densidade e sinal − Hipertensão portal (ascite, esplenomegalia e varizes) 2. Etiologia da cirrose RM T2 → Fígado escurecido = Presença de ferro = Hemocromatose 3. Detecção de HCC PERDA DE VOLUME HEPÁTICO (1) Alargamento do espaço hilar periportal, alargamento da fissura interlobar e expansão da fossa da vesícula biliar (2) Intensificação do contorno hepático posterior CONTORNOS HEPÁTICOS (1) Liso (normal) (2) Nodular (3) Lobulado “Contorno serrilhado” - Contornos serrilhados - Ascite (SETA AZUL) - Sinais de perda de volume hepático (LARANJA) Ascite (ROSA) + perda de volume Borda irregular do fígado; aspecto difuso do parênquima; perda de volume Hemocromatose HCC Intensificação do contorno hepático + perda de volume Atenção à diferença entre as atenuações! 14 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 FIBROSE HEPÁTICA (1) Trama no parênquima determinado pelos septos fibrosos (2) Espaços extravasculares com septos fibróticos ELASTOGRAFIA Demonstra correlação da cirrose com o grau de fibrose Mede grosseiramente o grau de dureza do parênquima hepático. Quanto mais duro, mais fibrose. → Permite avaliar cirrose sem presença de fibrose, ou seja, evidencia cirrose em estágios iniciais ASCITE USG → Método de eleição Confirma a mínima quantidade de líquido livre Guia paracentese Mais específico para avaliar o conteúdo líquido Na RM: DOENÇAS DE DEPÓSITO DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA Esteatose hepática. Diagnóstico anatomopatológico – Acúmulo anormal de lipídeos em células metabolizadoras de gorduras (fígado, rins e coração) Pode ser causada por: Drogas ou toxinas − Álcool, quimioterapia, cloreto de carbono, corticosteroides, fósforo, síndrome de Reye (aspirina) e tetraciclinas Infecção − Hepatite viral − Tuberculose “Aspecto rajado” Sem fibrose 15 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 Doenças metabólicas − Obesidade − Resistência à insulina − Má nutrição − Cirurgia de by-pass do intestino delgado − Dislipidemia − Doenças de armazenamento de glicogênio − Nutrição parenteral total Doenças crônicas − ICC − Apneia do sono obstrutiva − Fibrose cística − Doença inflamatória intestinal congênita Outros − Gravidez Se: Infiltração gordurosa isolada = Esteatose Esteatose + Inflamação= Esteatohepatite (NASH - Non-Alcoholic Steatohepatitis) Pode haver formação de fibrose e progressão para cirrose e carcinoma hepatocelular (HCC). O problema da esteatose é o maior risco de esteatohepatite, que seria uma inflamação da esteatose, que causa lesões hepáticas. QUANTIFICAÇÃO DA DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA Importante para avaliar a severidade da doença → Estudo da relação entre o fígado e o rim Padrão-ouro: Biópsia USG → Ideal para rastreio → Os métodos de imagem não conseguem diferenciar esteatose de esteatohepatite O normal é que o fígado tenha a mesma ecogenicidade que o rim no USG. Na esteatose, o fígado está mais branco (hiperecogênico) em relação ao fígado. Todas as imagens demonstram o fígado com algum grau de esteatose. USG Alto valor preditivo negativo A gordura altera a ecogenicidade do fígado (+ branco) e pode aumentar de tamanho → Hiperecogênico Pode-se realizar: Análise qualitativa − É operador dependente − Relação da ecogenicidade hepática com a ecogenicidade renal + perda da definição do diafragma e dos vasos Análise quantitativa − A partir da elastografia RIM FÍGADO 16 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 Observar a diferença de ecogenicidade entre o fígado esteatótico e os rins. Os rins aparentam estar mais escuros, mas na verdade o fígado está mais branco devido à presença de gordura. No fígado normal, é muito fácil a visualização dos vasos. Já no fígado com esteatose, é muito difícil → SETA AZUL Outro sinal de esteatose é o apagamento da linha do diafragma (mais difícil de visualizar) → SETA VERMELHA TC A gordura reduz a densidade hepática → Hipodenso Fase sem contraste: Densidade hepática normal 50-60 UH e 8-10 UH maior que a densidade do baço Fígado esteatótico hipodenso em relação ao baço e vasos hiperdensos em relação ao parênquima Quanto menor a densidade hepática, maior o grau da esteatose → Não deve ser usado no rastreamento principalmente em crianças ou em controles seriados RM Mais sensível e permite quantificar a esteatose. → Mais sensível para graus menores de esteatose do que a TC → Permite calcular percentualmente a quantidade de gordura no fígado DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA Tipos: Doença hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD) Doença hepática gordurosa alcoólica (AFLD) Formas no exame de imagem: Difusa Geográfica ESTEATOSE NA TC - Fígado hiperdenso (mais escuro) - Medir a densidade do fígado e do baço - Vasos brancos 17 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 Subcapsular Multifocal Perivascular Focal/nodular (simula tumor) − A RM é melhor para investigar esses casos FORMA FOCAL X LESÃO NODULAR ESTEATOSE COM FORMA FOCAL HEMOCROMATOSE Doença sistêmica, alto nível ferro plasmático e acúmulo nas células na forma de ferritina e hemossiderina Fígado: principal reservatório (hepatócitos e células de Kupffer), primeiro órgão que apresentará sobrecarga Metabolismo do ferro depende da absorção intestinal O ferro não tem mecanismo de excreção de ferro, então, não há mecanismo fisiológico para eliminar o seu excesso e ele será DEPOSITADO NOS TECIDOS Pode ser: Primária ou hereditária − Mutação genética (gene HFE) − Aumento da absorção duodenal de ferro Secundária − Outras doenças/condições que causam sobrecarga de ferro − Múltiplas transfusões (exemplo: paciente com anemia hemolítica) Existe relação linear entre a concentração de ferro hepática e no organismo. Forma difusa CLÁSSICO - Baixa visualização - T1 em fase (visualização quase nula, só se delimita por causa da T1 fora de fase) - T1 fora de fase área com perda de sinal - Sem impregnação pós- contraste NÃO realça após contraste e NÃO aparece em T2 18 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 HEMOCROMATOSE PRIMÁRIA OU HEREDITÁRIA Mutação no gene HFE e maior absorção intestinal de ferro. O excesso de ferro será depositado no pâncreas, coração e fígado, causando disfunções. A presença de radicais livres de ferro causa lesões celulares e: No fígado, leva a inflamação, fibrose, cirrose e carcinoma hepático No coração, cardiomiopatia No pâncreas, diabetes HEMOCROMATOSE SECUNDÁRIA Paciente com anemia hemolítica que precisa receber transfusão sanguínea “semana sim, semana não”. Nesses casos, haverá maior depósito de ferro no fígado, baço e ossos. HEMOCROMATOSE PRIMÁRIA OU HEREDITÁRIA Manifestações por volta dos 30 anos – cirrose, insuficiência cardíaca, diabetes etc. A hemocromatose deve ser investigada em pacientes com alteração das enzimas hepáticas e em casos de cirrose. TRÍADE CLÁSSICA: CIRROSE + DIABETES + HIPERPIGMENTAÇÃO CUTÂNEA USG Não é método de escolha para detectar ou quantificar o ferro hepático. Pode evidenciar: Hepatomegalia Aumento da ecogenicidade Sinais de hepatopatia crônica/cirrose Carcinoma hepático TC Aumento da densidade do fígado > 75-135 UH Avalia a hepatomegalia e os achados da cirrose Não adequado para a quantificação do ferro São outras causas de aumento da densidade do fígado: Doença de Wilson, depósito de glicogênio e uso de amiodarona RM Método mais sensível para diagnosticar e estimar (quantifica) a concentração de ferro hepático → A sobrecarga de ferro no fígado determina alteração de sinal na RM → O ferro é o composto mais ferromagnético na RM. Hemocromatose primária porque não há depósito de ferro no baço Fígado brilhante, parecido com esteatose, MAS com VASO NORMAL e DIAFRAGMA NORMAL. Fígado brilhante, mas não é esteatose. Fígado hiperdenso 19 Aula 07 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 DIFERENCIAÇÃO DA HEMOCROMATOSE PRIMÁRIA/HEREDITÁRIA E SECUNDÁRIA Hemocromatose primária ou hereditária − Ferro no fígado e pâncreas Hemocromatose secundária − Ferro no fígado, baço, medula óssea e SRE ROTEIRO Doenças vasculares − Hipertensão Portal − Trombose Portal Crônica − Doenças que determinam obstrução do fluxo venoso Budd-Chiari Congestão Hepática Passiva Doença Veno-oclusiva − Infarto Hepático Doenças Inflamatórias − Esquistossomose Cirrose Doenças de Depósito − Doença Hepática Gordurosa − Hemocromatose Fígado com esteatose Fígado com hemocromatose secundária (ferro no fígado e no baço)
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