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Caso Clínico do dia Paciente do sexo masculino, 19 anos, estudante, branco, solteiro, estava voltando de uma festa dirigindo em alta velocidade durante a madrugada, quando perdeu o controle de seu veículo e bateu contra um poste de iluminação pública. Foi socorrido pelo SIATE e foi encontrado desacordado no meio das ferragens, sem cinto de segurança e com sinais de embriaguez. Foi imobilizado pelos bombeiros e instalado o colar cervical. A pressão arterial estava 80/40 mmHg, o pulso rápido e fino (FC = 128) e a saturação de O2 em ar ambiente foi de 95%. Não havia sinais de sangramento externo. Dois acessos venosos calibrosos foram obtidos e reposição de volume foi iniciada com solução salina isotônica (SF 0.9%). Foi rapidamente transferido para o Hospital de referência para traumatizados mais próximo. Durante a avaliação inicial, na sala de emergência, a pontuação na escala de coma de Glasgow foi de 5 (AO = 1; RV = 1; RM = 3). Ele foi imediatamente intubado para proteção das vias aéreas e colocado em ventilação mecânica. O exame neurológico mostrou flexão espontânea de ambos os braços (postura em decorticação), além de pupilas isocóricas e fotorreagentes. Não havia sinais motores focais aparentes. Um US focado em trauma (FAST) foi rapidamente realizado e detectou líquido livre na cavidade abdominal e uma punção com agulha guiada pelo US revelou sangramento intracavitário. A TC de coluna cervical afastou fraturas ou desvios da coluna e a TC de crânio é mostrada abaixo. A equipe da cirurgia geral indicou laparatomia exploradora de emergência e a neurocirurgia indicou a colocação de um cateter de monitorização da pressão intracraniana (PIC), ambos os procedimentos realizados simultaneamente. Ruptura de baço foi detectada na laparotomia e uma esplenectomia de emergência foi realizada. O paciente foi transferido imediatamente após as cirurgias para a unidade de terapia intensiva. Descrever a epidemiologia do trauma cranioencefálico (TCE). O TCE é uma das principais causas de morte e incapacidade em todas as idades, com pico entre jovens de 15-25 anos, sendo a principal causa de morte entre pessoas com menos de 25 anos. Os homens são afetados 3 a 4 vezes mais do que as mulheres. Muitos pacientes morrem antes de chegar ao hospital, com cerca de 90% das mortes pré-hospitalares por acidente apresentando TCE associado. C. Martiniuc, Gh. Dorobat Polytrauma with Brain Injury 111 In the third postoperative day the bacteriology came positive in the tracheal secretions for Pseudomonas aeruginosa, with negative hemocultures, urine and feces cultures. The chest X ray was suggestive for bronchopneumonia; the lab tests showed, apart from the inflammatory syndrome, a severe anemia (hematocrit 19%), but also moderate thrombocytopenia with altered coagulation tests, a low albuminemia and unconjugated hyperbilirubinemia – signs of liver failure. The anemia was hemolytic. The patient became oliguric, with a serum creatinine value of 2.2 miligrams per deciliter. With the procalcitonin test positive, we suspected severe sepsis of pulmonary origin. (Surviving Sepsis Campaign, 2004). At that time, the patient had a SOFA (Sequential Organ Failure Assessment) score of 14 (6). We performed initial fluid resuscitation (first 6 hours) according the Surviving Sepsis Campaign 2004 guidelines (5). The patient received broad spectrum antibiotics until the positivation of cultures; aftewards, as guided by the antibiogram (the strain had sensibility for imipenem) She also received erytrocite mass, fresh frozen plasma and albumin. For two days we initiated inotrope (dobutamine – 5 µgrams/kilogram/ minute) and vassopressor therapy (dopamine – 6–10 µgrams/kilogram/ minute) because of the hemodynamic instability. We did not have the possibility of inserting a Swan Ganz catheter, which would have been useful for managing the hemodynamic parameters. Figure 1 Cerebral CT scan on admission (see text for explanations) The patient responded well to the therapy. Gradually, the vasopressors were stopped. The hypoxemia score gradually improved, corelated with the chest X-ray images. Still, the patient continued to present pulmonary rales and subfever, which resolved after three days. The renal and livere failure responded well to fluid resuscitation. There was no need for renal replacement therapies. Figure 2 CT scan: postoperative day 1. One can observe the brain herniation through the craniectomy space Through the seriated neurological evaluations, the patient began to present reactivity at pain stimuli (withdrawal on the left side, right hemiplegia) – GCS – 6. The pupils were equal and reactive. The haemorrhagic cerebral injuries began to resolve, and the CT scan performed at day 4 showed the diminuation of the mass effect as the brain herniated through the craniectomy defect. (Figure 3). Sua incidência sobe à medida que aumentam os acidentes automobilísticos em países de baixa e média renda e que aumentam as quedas de idosos em pacientes com alta renda. Outro grande problema são os ferimentos por arma de fogo, sobretudo em países violentos como o Brasil. Cerca de 10% de todas as mortes nos EUA são devido à acidentes, com aproximadamente metade das mortes traumáticas sendo secundárias ao TCE. No Brasil são 125 mil internações anuais em pacientes entre 14-69 anos, perfazendo uma incidência anual de 65/100.000 hab., com mortalidade de 5.1/100.000 hab. Aproximadamente 75% dos traumas cranioencefálicos são leves, 15% moderados e 10% graves. Muitos sobreviventes apresentam incapacidade pessoal, laboral e social, necessitando reabilitação de longo prazo. Descrever a anatomia intracraniana básica e os princípios fisiológicos da pressão intracraniana, a doutrina de Monro-Kellie e o conceito de pressão de perfusão cerebral. O crânio é formado pelo couro cabeludo, calota óssea craniana, meninges e parênquima cerebral, que se divide em hemisférios cerebrais (lobos frontais, parietais, temporais e occipitais), diencéfalo (tálamo e hipotálamo), tronco encefálico (mesencéfalo, ponto e bulbo) e cerebelo. Existem dois compartimentos intracranianos separados por uma membrana meníngea conhecida como tenda do cerebelo ou tentório: (a) supratentorial – acima da tenda do cerebelo (cérebro e diencéfalo) e; (b) infratentorial – abaixo da tenda do cerebelo (tronco encefálico e cerebelo). O III par craniano (nervo oculomotor) passa na borda do tentório e pode ser comprimido durante herniações da porção medial do lobo temporal (conhecida como uncus), causando paralisia desse nervo associada com midríase, devido à lesão das fibras parassimpáticas da pupila. Como o trato corticoespinhal (piramidal) também é comprimido durante a herniação do uncus, há hemiparesia contralateral, geralmente com sinal de Babinski. Portanto, midríase ipsilateral e hemiparesia contralateral são sinais ominosos de herniação uncal transtentorial e significam iminente risco de vida. Separando os dois hemisférios cerebrais há outra membrana meníngea conhecida como foice do cérebro. Além da hérnia uncal transtentorial, outras hérnias cerebrais ANATOMIA DO ENCÉFALO O encéfalo é dividido, basicamente, em hemisférios cerebrais, tronco e cerebelo (figura 1). Ele é composto por 2 tipos de tecidos: a substância cinzenta, onde estão os neurônios (córtex, tálamos e núcleos profundos) e substância branca, que são os axônios, agrupados em tratos. Entre a substância cinzenta e a branca mielinizada há uma diferença de concentração de água de cerca de 5-10%, suficiente para diferenciar os dois tipos de tecidos pela TC e pela RM (figura 2). FIGURA 1: CORTE SAGITAL DO ENCÉFALO Tenda do Cerebelo podem ocorrer em pacientes com lesões em massa intracranianas e podem ser vistas abaixo: O couro cabeludo é extremamente vascularizadoe qualquer laceração dele pode causar sangramentos volumosos, com importante perda sanguínea, podendo evoluir para choque hemorrágico e morte, caso não contido. Durante o trauma, pode haver sangramento fechado embaixo do couro cabeludo, conhecido como hematoma subgaleal. A calota óssea craniana é irregular e isso pode contribuir para lesões quando o cérebro se move bruscamente em seu interior, durante processos de aceleração e desaceleração no momento do trauma. Sua base divide-se em fossa anterior (lobos frontais), fossa média (lobos temporais) e fossa posterior (porção inferior do tronco encefálico e cerebelo). A calota craniana pode sofrer vários tipos de fratura durante um trauma. Além das estruturas ósseas são muito importantes as meninges: dura- máter, aracnóide e pia-máter. A dura é uma capa fibrosa muito resistente, que recobre e está firmemente aderida a todas as superfícies ósseas, e também emite projeções que ajudam a subdividir a cavidade craniana. As principais são a foice cerebral e a tenda do cerebelo (figura 5). As meninges cobrem o encéfalo e são formadas por 3 camadas (dura-máter, aracnóide e pia-máter). A dura-máter se adere firmemente à parte interna da calota craniana. Nesse espaço entre a dura-máter e a calota correm artérias meníngeas que podem se lacerar por fraturas de crânio e causar sangramentos conhecidos como hematomas epidurais ou extra-durais. Em alguns pontos, a dura-máter se abre em dois folhetos para formar os seios venosos cerebrais, que fornecem o retorno venoso do cérebro. Laceração desses seios pode causar graves hemorragias. Abaixo da dura-máter encontra-se a aracnóide, formando um espaço potencial entre elas conhecido como espaço subdural, fonte comum de sangramentos durante o trauma (hematoma subdural), devido à ruptura de pequenas veias-ponte entre a superfície do encéfalo e os seios venosos. A terceira camada de meninge é formada pela pia-máter que é firmemente aderida à superfície do encéfalo. Entre a aracnóide e a pia-máter forma-se um espaço preenchido por líquido cerebroespinhal (líquor), chamado de espaço subaracnóide. Sangramento para esse compartimento é comum durante traumas grave, conhecido como hemorragia subaracnóide traumática. O cérebro é composto de hemisférios direito e esquerdo (esse último dominante para a linguagem em quase todos os dextros e em 85% dos canhotos) e divide-se em lobos frontal (controla as funções executivas, emoções, função motora e expressão da fala no lado dominante), parietal (função sensitiva e orientação espacial), temporal (memória e emoções) e occipital (visão). O tronco encefálico é composto pelo mesencéfalo, ponte e bulbo, sendo que os dois primeiros contém a substância reticular ativadora ascendente (formação reticular), que é responsável pelo estado de alerta. Lesões graves dessa estrutura durante o trauma levam ao coma. Já os centros vasomotor e respiratório se localizam no bulbo. Lesões graves do bulbo causam colapso hemodinâmico e parada respiratória. Como o tronco encefálico abriga os núcleos dos pares cranianos III-XII, lesões do tronco podem causar paralisia de pares cranianos, associada a déficit motor. O cerebelo é responsável pela coordenação motora e equilíbrio. O sistema ventricular (ventrículos laterais, III ventrículo e IV ventrículo) é preenchido por líquor e se comunica com o espaço subaracnóide, formando a circulação liquórica. Pode sofrer hemorragias durante o trauma, com risco de hidrocefalia por obstrução das granulações aracnóides por sangue coagulado e frequentemente está desviado por hematomas com hipertensão intracraniana. O sistema ventricular pode ser visto na figura abaixo: A pia é muito fina e está aderida ao parênquima e entre as duas há a aracnóide e um grande espaço chamado subaracnóide, onde circula o líquor. Os demais espaços entre as meninges são virtuais: o extra ou epidural (entre a dura e o osso) e o subdural (entre dura e a aracnóide) (figura 6). Finalmente, é importante o líquido céfalo-raquidiano. Produzido nos ventrículos, ele sai para o espaço sub-aracnóide pelos forames entre tronco e cerebelo e tanto desce em torno da medula como sobe para as convexidades cerebrais, ocupando os sulcos e as cisternas. Além das estruturas ósseas são muito importantes as meninges: dura- máter, aracnóide e pia-máter. A dura é uma capa fibrosa muito resistente, que recobre e está firmemente aderida a todas as superfícies ósseas, e também emite projeções que ajudam a subdividir a cavidade craniana. As principais são a foice cerebral e a tenda do cerebelo (figura 5). Sistema ventricular Lesões intracranianas podem causar hipertensão intracraniana e redução da pressão de perfusão cerebral, causando isquemia secundária. A pressão de perfusão cerebral é a diferença entre a pressão arterial média e a pressão intracraniana (PPC = PAM – PIC). A PIC normal é < 20 mmHg (média de 10 mmHg) e a PPC deve ser mantida > 60 mmHg. A doutrina de Monro-Kellie é vital para explicar a pressão intracraniana. Segunda ela, o volume total do conteúdo intracraniano deve permanecer constante, pois o crânio é uma cavidade rígida, incapaz de se expandir. Quando o volume intracraniano normal é excedido, a pressão intracraniana (PIC) aumenta. O sangue venoso e o líquor podem ser comprimidos fora do crânio, fornecendo algum grau de compensação inicial para a PIC. A curva de volume-pressão demonstra claramente que a pressão intracraniana se mantém relativamente constante com o aumento do volume de uma massa intracraniana (hematoma, por exemplo), até um determinado momento (ponto de descompensação), a partir do qual, pequenos aumentos do volume da massa aumentam drasticamente a pressão intracraniana, levando ao risco de herniações potencialmente fatais. O encéfalo apresenta um sistema interno de cavidades, o sistema ventricular, composto pelos ventrículos laterais, um terceiro ventrículo mediano, o aqueduto e o quarto ventrículo na fossa posterior (figura 3). Além dos tecidos nervosos, outras estruturas, que fazem parte da proteção, são muito importantes. A primeira delas é a caixa craniana, que no adulto é inextensível. Ela forma a cavidade craniana que não é única, mas está subdividida em fossas anterior, média e posterior; separadas pela asa do esfenóide e pelo rochedo respectivamente. Nos traumas fechados estes ossos e o assoalho da fossa anterior (que não é liso, apresentando irregularidades) são obstáculos contra os quais o encéfalo bate (figura 4). Em condições normais há um mecanismo de auto-regulação da pressão arterial média através de dilatação e constrição reflexa dos pré-capilares dos vasos cerebrais. A PAM varia de 50 a 150 mmHg para manter a pressão de perfusão cerebral. TCE grave pode interromper esses mecanismos de auto-regulação ao ponto que o sistema vascular cerebral não pode compensar adequadamente as alterações da pressão de perfusão cerebral. Em decorrência disso, se a PAM for muito baixa haverá isquemia e infartos cerebrais. Ao contrário, se ela for muito alta, haverá edema cerebral e aumento da PIC. Os vasos sanguíneos cerebrais também se contraem ou dilatam em resposta à pressão parcial de dióxido de carbono (pCO2) no sangue. Um aumento da pCO2 causa vasodilatação cerebral, com consequente aumento do fluxo sanguíneo cerebral e da PIC. Por outro lado, uma diminuição da pCO2 causa vasoconstrição cerebral, com diminuição do fluxo sanguíneo cerebral e da PIC. Portanto, lesões secundárias podem ocorrer devido à hipotensão, hipóxia, hipercapnia e hipocapnia. No manejo do TCE grave é fundamental manter a pressão de perfusão cerebral e reduzir a pressão intracraniana, mantendo a PAM e o volume intravascular normais, além de manter a oxigenaçãoe a ventilação normais. Descrever a avaliação primária e os procedimentos de ressuscitação de pacientes politraumatizados com traumatismo cranioencefálico grave (TCE). Explicar o papel da ressuscitação adequada na prevenção de lesões cerebrais secundárias. As lesões cerebrais primárias decorrentes do TCE frequentemente são agravadas por lesões cerebrais secundárias. Pacientes com TCE grave que são admitidos com hipotensão arterial têm sua mortalidade duplicada. Se além de hipotensão também houver hipóxia, a mortalidade aumenta ainda mais. Portanto, é fundamental obter estabilidade hemodinâmica e ventilatória nos pacientes com TCE grave. Todos os pacientes devem ser avaliados segundo o protocolo ABCDE de prioridades. Primeiro deve-se avaliar a via aérea (saturação de O2 e necessidade de intubação). Os pacientes devem ser intubados se estiverem em coma (Glasgow de 8 ou menos), forem incapazes de manter uma via aérea adequada, estiverem hipóxicos (saturação de O2 < 90% após oxigenação adequada) ou estiverem em insuficiência respiratória. Em seguida deve-se avaliar as condições hemodinâmicas e apenas realizar o exame neurológico após a estabilização da pressão arterial. Caso isso não seja possível, deve- se fazer o exame neurológico e anotar no prontuário que o mesmo foi feito durante hipotensão refratária. Intubação orotraqueal precoce para proteger a via aérea e manter ventilação com FiO2 100% até que a gasometria seja obtida, fazendo então os ajustes apropriados da FiO2 para manter uma saturação de O2 > 98%. Nunca utilizar agentes sedativos e paralisantes de longa duração para a intubação, pois eles atrapalham a avaliação neurológica. Baixas doses de narcóticos podem ser dadas para analgesia e podem ser revertidos com naloxone, caso necessário. Benzodiazepínicos de curta ação (midazolam) podem ser usados para sedação e revertidos com flumazenil, se necessário. A pCO2 deve ser mantida entre 35-40 mmHg e a pO2 entre 90-100 mmHg. O recurso da hiperventilação com diminuição da pCO2 para diminuir a pressão intracraniana somente deve ser utilizado em pacientes com TCE grave com deterioração neurológica aguda ou sinais de herniação uncal (anisocoria com midríase paralítica ipsilateral e hemiparesia contralateral). A hiperventilação somente está indicada por curtos períodos de tempo, até que outras medidas de diminuição da PIC sejam implementadas. Hiperventilação prolongada com pCO2 < 25 mmHg não é recomendada. Entre 5-30% dos pacientes com TCE grave desenvolvem injúria pulmonar aguda com síndrome da angústia respiratória do adulto devido à tempestade de catecolaminas e reação inflamatória sistêmica secundárias ao trauma. Infelizmente essa complicação dificulta a estratégia necessária para controlar a hipertensão intracraniana (PEEP baixo, volumes correntes altos) e técnicas de proteção pulmonar (volumes correntes baixos, hipocapnia permissiva), resultando em pior prognóstico neurológico e maiores permanências na UTI. Hipotensão arterial geralmente não é devida ao TCE, exceto em estágios avançados, associados com morte encefálica ou se houver trauma medular associado, com choque neurogênico. Hemorragias intracranianas não têm volume suficiente para causar choque hemorrágico. Sempre que um paciente com TCE se apresentar com hipotensão refratária a volume, uma busca ativa de focos de hemorragia extracraniana deve iniciar imediatamente, antes mesmo da avaliação neurológica. Nessas situações, um ultrassom focado para o trauma (FAST) deve ser realizado, e caso indisponível, uma punção com lavagem peritoneal diagnóstica pode ser realizada. Em caso de hemorragias internas extracranianas (intra-abdominal, intratorácica, retroperitoneal ou ao redor de fraturas de ossos longos), a avaliação neurológica deve ser realizada após a correção cirúrgica do sangramento. Se a PA puder ser compensada (PAS > 100 mmHg), o paciente pode ser submetido à TC de crânio antes de ir para o centro cirúrgico para a correção do sangramento extracraniano, e caso uma lesão cirúrgica intracraniana seja detectada, os procedimentos podem ser simultâneos. Se o paciente estiver hipotenso, a exemplo do caso apresentado, é fundamental reestabelecer a euvolemia com infusão de fluidos isotônicos, eventualmente de produtos sanguíneos (sangue total, plasma e concentrado de hemácias) e uso de drogas vasoativas. Todo paciente hemodinamicamente instável deve ter um cateter de artéria radial instalado para monitorização invasiva da PA. Outra observação muito importante é que o exame neurológico de pacientes hipotensos graves não é confiável, devendo primeiramente haver a estabilização hemodinâmica, para se fazer uma avaliação neurológica confiável. Recomenda-se manter pressão arterial sistólica (PAS) > 100 mmHg para pacientes entre 50-69 anos e > 110 mmHg para pacientes entre 15-49 anos e com > 70 anos. Ao contrário da hipotensão, alguns pacientes podem estar hipertensos, e quando hipertensão estiver associada com pressão de pulso alargada (diferença entre PA sistólica e diastólica) e com bradicardia (tríade de Cushing), a presença de hipertensão intracraniana deve ser suspeitada. A hipertensão arterial no TCE deve ser controlada com agentes de curta duração (labelatol, clevidipina ou nicardipina), devido à sua capacidade de estabilizar a PA. O nitroprussiato de sódio causa vasodilatação cerebral e aumento da PIC e deve ser evitado em pacientes com qualquer catástrofe neurológica. Descrever os componentes do exame neurológico focado no TCE. Tão logo o paciente esteja compensado do ponto de vista cardiopulmonar, um exame neurológico focado deve ser realizado. O crânio deve ser inspecionado e palpado na procura de fraturas, hematomas e lacerações do couro cabeludo. Fístulas liquóricas podem ser sugeridas pela presença de rinorréia liquórica, que pode ser diferenciada de coriza nasal pela dosagem de beta2-transferrina. Deve-se determinar a pontuação na escala de Glasgow, a resposta pupilar à luz, procurar por déficit neurológico focal motor (hemiparesia, desvio ocular, presença de sinal Babinski) e afastar fraturas da coluna cervical. Esses testes devem ser realizados antes de sedar o paciente. A resposta motora pode ser obtida com beliscões nos músculos trapézios ou com pressão sobre o leito ungueal bilateralmente. Quando o paciente demonstra respostas variáveis à estimulação dolorosa, a melhor resposta motora apresentada é a que deve ser utilizada para fins prognósticos. A manobra dos olhos de boneca (reflexo oculocefálico), o teste calórico no ouvido (reflexo oculovestibular) e a pesquisa dos reflexos corneopalpebrais devem ser obtidos pelo neurocirurgião. Nunca realizar a manobra dos olhos de boneca sem antes descartar uma lesão de vértebras cervicais, devido ao risco de lesão medular irreversível. Não é incomum que pacientes com TCE grave estejam intoxicados por álcool ou outras drogas. Nessas situações é comum que o médico subestime a gravidade do TCE devido à intoxicação. Entretanto, essa atitude nunca deve ser tomada e o paciente deve ser considerado grave até que se prove o contrário posteriormente. Escala de coma de Glasgow modificada Quando indicar tomografia de crânio em pacientes com TCE? A TC de crânio com janela óssea é o método de imagem de escolha para pacientes com TCE, sendo muito superior ao Rx de crânio. As principais lesões a serem procuradas na TC incluem: fraturas, pneumoencéfalo, hematoma epidural, hematoma extradural, hemorragia subaracnóide ou intraventricular, contusões e hematomas intracerebrais, edema cerebral e lesão axonal difusa. A ressonância magnética do crânio (RM) é superior à TC para detecção de lesão axonal difusa e pequenas contusões. Fratura linerar Fratura cominutiva com afundamento Pneumoencéfalo Lesão axonal difusaTodos os pacientes com Glasgow < 13 devem se submeter a uma TC de crânio sem contraste e com janela óssea tão logo quanto possível (após estabilização cardiopulmonar). Nesses pacientes, também é fundamental realizar TC de coluna cervical para afastar fraturas instáveis da coluna cervical, com risco de lesão medular irreversível. Em pacientes com Glasgow de 13-15, uma regra amplamente utilizada é a do “Canadian CT head rules”. Indica-se TC de crânio se houver qualquer um dos eventos abaixo: - Glasgow < 15 duas horas após o trauma. - Suspeita de fratura de crânio aberta ou em afundamento. - Qualquer sinal de fratura de base de crânio (sinal do Guaxinim – equimose periorbital, sinal de Battle - hematoma retromastóide, otorragia ou hemotímpano, rinorréia ou otorreía liquóricas, lesões dos pares cranianos VII e VIII). Rev Assoc Med Bras 2002; 48(4): 275-96294 I magem em Medicinamagem em Medicinamagem em Medicinamagem em Medicinamagem em Medicina IIIIINTUBA«(ONTUBA«(ONTUBA«(ONTUBA«(ONTUBA«(O NASONASONASONASONASOTRAQUEALTRAQUEALTRAQUEALTRAQUEALTRAQUEAL DEDEDEDEDE ALALALALALTTTTTOOOOO RISCORISCORISCORISCORISCO ñ F ñ F ñ F ñ F ñ FRARARARARATURASTURASTURASTURASTURAS DEDEDEDEDE BASEBASEBASEBASEBASE DODODODODO CR¬NIOCR¬NIOCR¬NIOCR¬NIOCR¬NIO EEEEE FFFFFACEACEACEACEACE MEDIALMEDIALMEDIALMEDIALMEDIAL Trauma grave de face e cr‚nio apÛs queda de 15 metros. No primeiro atendimento, coma Glasgow 5, respiraÁ„o irregular, hematoma periorbit·rio, saÌda de liquor pelos ouvidos e narinas, e Ûbvia deformidade craniofacial. Foi realizada intubaÁ„o orotraqueal para o controle da via aÈrea por suspeita de trauma coluna cervical. A tomografia mostra as m˙ltiplas fraturas cranianas, incluindo base do cr‚nio e da face medial, contra-indicaÁıes absolutas da passagem de tubo nasotraqueal ou de sondas nasog·stricas, pelo risco de penetraÁ„o no cÈrebro, atravÈs da placa cribiforme fraturada. LUIZ FRANCISCO POLI DE FIGUEIREDO TRABALHO REALIZADO NO CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA DO HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN Rev Assoc Med Bras 2002; 48(4): 275-96294 I magem em Medicinamagem em Medicinamagem em Medicinamagem em Medicinamagem em Medicina IIIIINTUBA«(ONTUBA«(ONTUBA«(ONTUBA«(ONTUBA«(O NASONASONASONASONASOTRAQUEALTRAQUEALTRAQUEALTRAQUEALTRAQUEAL DEDEDEDEDE ALALALALALTTTTTOOOOO RISCORISCORISCORISCORISCO ñ F ñ F ñ F ñ F ñ FRARARARARATURASTURASTURASTURASTURAS DEDEDEDEDE BASEBASEBASEBASEBASE DODODODODO CR¬NIOCR¬NIOCR¬NIOCR¬NIOCR¬NIO EEEEE FFFFFACEACEACEACEACE MEDIALMEDIALMEDIALMEDIALMEDIAL Trauma grave de face e cr‚nio apÛs queda de 15 metros. No primeiro atendimento, coma Glasgow 5, respiraÁ„o irregular, hematoma periorbit·rio, saÌda de liquor pelos ouvidos e narinas, e Ûbvia deformidade craniofacial. Foi realizada intubaÁ„o orotraqueal para o controle da via aÈrea por suspeita de trauma coluna cervical. A tomografia mostra as m˙ltiplas fraturas cranianas, incluindo base do cr‚nio e da face medial, contra-indicaÁıes absolutas da passagem de tubo nasotraqueal ou de sondas nasog·stricas, pelo risco de penetraÁ„o no cÈrebro, atravÈs da placa cribiforme fraturada. LUIZ FRANCISCO POLI DE FIGUEIREDO TRABALHO REALIZADO NO CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA DO HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN ISSN 1679-5458 (versão impressa) ISSN 1808-5210 (versão online) Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac., Camaragibe v.12, n.4, p. 69-72, out./dez. 2012 71 A LV ES , e t a l. DISCUSSÃO Apesar de incomum em casos de trauma em face, quando este envolve os seios paranasais ou células mastoides, ao se associar com fraturas de base de crânio, pode desenvolver pneumoencéfalo4. No caso descrito, pode-se observar sintomatologia assim como imagem em TC, sugestiva de presen- ça de ar em região intracraniana 12 horas após atendimento inicial, o que geralmente ocorre em 6 horas³. A profilaxia antimicrobiana aplicada levou em consideração sua origem traumática, optando-se por Ceftriaxona devido ao fato de seu alto potencial cruzar a barreira hematoencefálica, com o intuito de prevenir infecção posterior, meningite ou abscesso cerebral.5 Apesar de não referida na literatura pes- quisada, a Dexametasona foi utilizada com o intuito de prevenir edema cerebral e consequentemente alterar em pressão intracraniana. A regressão do pneumoencéfalo e sua sintoma- tologia ocorreu espontaneamente, como observado na literatura², sem necessidade de intervenção cirúrgica. CONSIDERAÇÕES FINAIS Faz-se necessário um adequado acompanha- mento em pacientes vítimas de traumatismos cranio- Figura 2: Imagem em TC sugestiva de solução de continuidade óssea em pilar zigomaticofrontal e zigo- maticomaxilar esquerdos, corpo de zigoma direito assim como hemossinus. Figura 3: Corte axial em TC com imagens hipodensas em região intracraniana. Figura 4: Corte sagital em TC com imagens hipodensas em região intracraniana. Figura 5: Corte axial em TC com ausência de sinais sugestivos de pneumoencéfalo. - Se o paciente tiver 2 ou mais episódios de vômito. - Se o paciente tiver > 65 anos. - Amnésia retrógrada > 30 minutos - Presença de mecanismo grave de trauma (atropelamento, queda de altura, lançamento para fora do veículo ou moto). Quando esses parâmetros são aplicados a pacientes com Glasgow de 13, cerca de 25% terá alguma lesão na TC indicativa de trauma e cerca de 1.3% necessitará tratamento neurocirúrgico. Em pacientes com Glasgow de 15, cerca de 10% terão alguma lesão na TC indicativa de trauma e 0.5% necessitarão de neurocirurgia. Descrever a classificação do TCE de acordo com a gravidade e a morfologia das lesões. A escala de coma de Glasgow é utilizada como uma medida objetiva da gravidade do trauma. Um escore de 8 ou menos tem sido utilizado como definição de estado de coma e de TCE grave. Um escore entre 9-12 é classificado como TCE moderado e um escore entre 13-15 é classificado como TCE leve. Sempre que houver assimetria entre os lados ou entre a metade superior e inferior do corpo, deve-se utilizar o melhor escore para fins de pontuação do Glasgow, embora a pontuação em ambos os lados deva ser registrada no prontuário. De acordo com a morfologia, o TCE pode ser dividido em fraturas de crânio, lesões intracranianas focais (hematoma epidural, hematoma subdural, contusões e hematomas intracerebrais) e lesões intracranianas difusas (concussão, lesão axonal difusa, contusões múltiplas, injúria hipóxico-isquêmica e hemorragias subaracnóides). As fraturas podem ocorrer na convexidade ou na base do crânio. Fraturas da convexidade são mais frequentes, e sua complicação mais comum é a lesão de uma artéria meníngea causando hematoma epidural. Fraturas da base do crânio podem causar lesão dos pares cranianos, principalmente o nervo olfatório na placa crivosa (13%) e o nervo facial no conduto auditivo interno(0.3-5%). Outra complicação frequente das fraturas de base do crânio são as fístulas liquóricas (5-10%). Independente do local da fratura pode haver pneumoencéfalo (entrada de ar para dentro do crânio), principalmente em fraturas do seio frontal. As fraturas podem ser lineares ou cominutivas, assim como podem ser abertas ou fechadas. As lesões abertas ou penetrantes geralmente ocorrem por arma de fogo, com mortalidade elevada (>95%). Embora possam ser vistas em radiografias simples de crânio, as fraturas de crânio são melhor vistas na TC com janela óssea, principalmente as localizadas na base do crânio. Sempre que houver uma fratura de crânio, a gravidade do trauma não pode ser subestimada, pois é necessária força considerável para que as fraturas ocorram. Uma fratura linear na convexidade do crânio aumenta o risco de hematomas intracranianos em 400 vezes. As lesões intracranianas se dividem em focais e difusas, embora ambas frequentemente ocorram juntas. Lesões difusas consistem em leves concussões, lesões axonais difusas, lesõeshipóxico-isquêmicas, hemorragia subaracnóide e múltiplas contusões hemorrágicas, como visto neste caso. Movimentos de aceleração e desaceleração da cabeça, especialmente com componente angular/rotatório) causam distensão e cisalhamento de axônios que se manifestam clinicamente por perda de consciência no momento do impacto. Quando a perda de consciência é < 6 horas (geralmente segundos a minutos) o termo utilizado é concussão. Amnésia retrógrada (para fatos ocorridos antes do trauma) e anterógrada (para fatos ocorridos após o trauma) geralmente ocorrem. O mecanismo para a perda de consciência na concussão é atribuído à interrupção funcional transitória do sistema reticular ativador ascendente, causado por forças rotacionais na porção superior do tronco encefálico. A TC e a RM de crânio geralmente são normais, embora 5% dos casos podem ter uma hemorragia intracraniana identificada na TC. O termo lesão axonal difusa define coma traumático com > 6 horas de duração, causado por múltiplas pequenas lesões nos tratos da substância branca. É chamado de leve quando dura de 6-24 h, moderado quando dura > 24 h (ausência de sinais de tronco cerebral) ou grave (presença de sinais de tronco cerebral). Quando há lesão hipotalâmica e de tronco pode haver disautonomia (bradicardia, taquicardia, hipertensão, hiperidrose, febre). O cisalhamento axonal tende a ser mais grave em regiões específicas do cérebro, particularmente em estruturas da linha média, como mesencéfalo, ponte, região posterior do corpo caloso, substância branca parassagital, regiões periventriculares e cápsula interna. Os pacientes podem permanecer inconscientes por dias, meses ou anos, podendo causar graves sequelas cognitivas e motoras, sendo a principal causa de incapacidade persistente após TCE. Tomograficamente, a lesão axonal difusa pode ser classificada segundo Marshall como visto abaixo: 182Revista Científica da Ordem dos Médicos www.actamedicaportuguesa.com Tabela 4 – Escala de Roterdão (Classificação baseada na TC inicial) Valor Preditivo Score Cisternas da base Normal 0 Comprimido 1 Ausente 2 Desvio da linha média ≤ 5mm 0 > 5mm 1 Lesão epidural Presente 0 Ausente 1 Hemorragia intraventricular ou Hemorragia subaracnoideia traumática Ausente 0 Presente 1 Oliveira E, et al. Traumatismo crânio-encefálico: abordagem integrada, Acta Med Port 2012 May-Jun;25(3):179-192 Tabela 3 – Escala de Marshall (Classificação é baseada na TC inicial) Categoria Definição Lesão difusa I Sem patologia intracraniana visível Lesão difusa II Cisternas permeáveis com desvio da linha média entre 0-5mm e/ou: Lesões densas presentes Ausência de lesão hiperdensa ou mista > 25ml Podem existir fragmentos ósseos ou corpos estranhos Lesão difusa III Cisternas comprimidas ou ausentes com desvio da linha média entre 0-5mm; Ausência de lesão hiperdensa ou mista > 25ml Lesão difusa IV Desvio da linha média > 5mm; ausência de lesão hiperdensa ou mista > 25ml Lesão ocupando espaço evacuada Qualquer lesão evacuada cirurgicamente Lesão ocupando espaço não evacuada Lesão hiperdensa ou mista > 25ml, não evacuada cirurgicamente dias).43 Os hematomas subdurais agudos correspondem a 50-60%,45 tendo raramente uma etiologia não traumática, como sucede em doentes anticoagulados.44,45 A lesão ce- rebral isquémica do córtex adjacente decorre do efeito de massa que compromete o retorno venoso e eleva a pres- são intracraniana diminuindo a pressão de perfusão cere- bral.21,46 O prognóstico depende naturalmente do tempo até à evacuação cirúrgica47 (quando indicada), embora, em situ- ações em que a apresentação inicial corresponde a uma le- são muito extensa com envolvimento de todo o hemisfério ou edema cerebral difuso, a cirurgia não afecta a evolução, frequentemente fatal.48 Hematoma intraparenquimatoso – corresponde a 20% dos hematomas intracranianos pós-traumáticos,49 sendo em 20% múltiplos50 e associados a contusões.51,52 Diferem destas por serem constituídos por >2/3 de san- gue53 e possuírem margens bem delimitadas, podendo mesmo resultar da coalescência de pequenas contusões.21 Sucedem após a rotura de pequenos vasos parenquimato- sos, localizando-se sobretudo a nível temporal e na região órbito-frontal.49,51 Lesões Difusas: Lesão Axonal Difusa – É a lesão mais comum asso- ciada ao TCE.54 Ocorre por tensão e estiramento axonal por forças de aceleração angular e rotacional podendo re- sultar num défice neurológico major, apesar da inexistência de volumosas lesões hemorrágicas.21 Imagiologicamente, são visíveis hemorragias punctiformes resultantes da rup- tura de pequenos vasos, em regiões que sofrem forças de aceleração máximas como são o corpo caloso, núcleos da base ou tronco cerebral.55 Para identificar estas lesões, a Ressonância Magnética com estudo de difusão é o exame de imagem com maior sensibilidade prognóstica.56,57 Hemorragia subaracnoideia (HSA) – Resulta da ro- tura de vasos para as cisternas do espaço subaracnoideu, ocorrendo em 33% dos casos de TCE grave e correlaciona- A R TIG O D E R EVISà O As lesões hipóxico-isquêmicas geralmente são secundárias à hipotensão e hipóxia. Nesses casos, a TC de crânio pode parecer inicialmente normal, ou o cérebro pode parecer difusamente edemaciado (apagamento dos sulcos e ventrículos e ausência da diferenciação normal entre as substâncias branca e cinzenta). As hemorragias subaracnóides traumáticas ocorrem por lesões de vasos que atravessam o espaço subaracnóide, sendo mais comum no espaço subaracnóide das convexidades, em contraste com a hemorragia subaracnóide aneurismática, que ocupa predominantemente as cisternas da base. Quando volumosas indicam prognóstico ruim, embora raramente compliquem com hidrocefalia e vasoespasmo, como nos sangramentos aneurismáticos. Hemorragia subaracnóide traumática afetando predominantemente os sulcos corticais. Lesões focais incluem os hematomas epidurais ou extradurais, os hematomas subdurais, as contusões e os hematomas intracerebrais. Os hematomas epidurais ou extradurais ocorrem em apenas 0.5% dos TCEs em geral e em 9% dos pacientes comatosos. Eles apresentam o formato característico em lente biconvexa, se localizam principalmente nos lobos parietais e temporoparietais, geralmente são resultantes de ruptura da artéria meníngea média por fraturas da convexidade craniana e geralmente são ipsilaterais ao impacto. Menos frequentemente eles são secundários à ruptura de um grande seio venoso da dura-máter. Sua apresentação clássica é a presença de intervalo lúcido entre o momento do trauma e o início da piora neurológica. Hemiparesia contralateral associada à dilatação pupilar ipsilateral por herniação uncal pode ocorrer se não houver drenagem rápida. Mais raramente podem ocorrer na fossa anterior (ruptura da artéria meníngea anterior) ou na fossa posterior. Como a dura máter está firmemente aderida às suturas cranianas, o 19/05/20 16:12The Treatment of Intracranial Hypertension. Algorithm of Treatment and First Level Therapeutic Measures | Neupsy Key Página 2 de 20https://neupsykey.com/the-treatment-of-intracranial-hypertension-algorithm-of-treatment-and-first-level-therapeutic-measures/ GO = Good Outcome; BO = Bad Outcome. Any associated systemic injuries (pulmonary, genitourinary, abdominal, etc.) should be evaluated and treated in order of priority. At the same time, external craniofacial injuries are evaluated (otorrhagia, head contusions, etc.) and the possible existence of cervical injuries are determined before transferring the patient to the neuroradiology unit for tomography scanning. It is important that the transfer to the CT area is under optimal conditions, which includes ensuring flow of the airway, adequate ventilation and proper functioning ofthe fluid delivery pathways. Too often, these patients suffer significant deterioration in their neurological status during the periods spent in the hospital corridors waiting for various complementary examinations. Tomography scans should be performed in a quick and technically correct manner because this first exploration allows existing brain injury to be assessed and classify the patient according to the different groups of pathologies described by Marshall et al. [5]. Based on the volume of the lesions, the status of cistern compression and the degree of deviation from the midline, this classification consists of 4 types of diffuse lesions and the presence of intra- or extra-axial focal lesions requiring surgical evacuation. The Marshall classification also provides initial prognostic information because each of the injury categories is associated with an increased risk of ICH and a poor outcome (Figure 27.1) [6]. Figure 27.1. Traumatic brain injury according to the classification system of the American Traumatic Coma Data Bank. (I) Diffuse type I injury (comatose patient with normal CT). (II) Diffuse type II injury (permeable cisterns, midline centered with small lesions). (III) Diffuse type III injury (bilateral brain swelling). (IV) Diffuse type IV injury (midline shift >5 mm with no focal lesions to account for this distortion in the brain). Non-evacuated mass is any intra- or extracerebral lesions with a volume >25 ml that were not evacuated. Evacuated mass is any evacuated focal lesion. The image shows the different percentages of intracranial hypertension incidence and associated poor outcome in the 96 patients included in the study [6]. Early surgical treatment of space-occupying lesions is essential for the correct treatment of patients with severe TBI. At our center, all space-occupying accesible lesions with a volume exceeding 25 ml are evacuated surgically. In our opinion, the use of the initial levels of intracranial pressure (ICP) in making surgical decisions, while controversial, is helpful in doubtful cases. In general, we can say that regardless of their level of consciousness, patients with focal lesions whose ICP levels are moderately elevated will present late neurologic deterioration, the result of uncontrolled ICP elevations in a large percentage of cases [7,8]. We feel this point justifies an aggressive therapeutic approach aimed at preventing these situations. The wait-and-see approach in these types of patients, especially those presenting concussions, often has catastrophic results. Although the predominant type of lesion may vary depending on the damaging mechanism, it is generally estimated that 25-45% of patients with severe TBI, 3-12% of those with moderate TBI, and 1 in 500 mild TBI patients present a focal lesion requiring intervention. 27.3 Multimodal Monitoring in Patients With Severe Traumatic Brain Injury Once the CT scan is performed and any space-occupying lesions are evacuated, patients are transferred to the ICU, where the therapeutic approach should be aimed at creating a means favorable to the recovery from primary lesions and the early treatment and prevention of secondary injuries. The difficulty in carrying out appropriate clinical monitoring in these patients requires the use of a multimodal monitoring protocol that includes neurological and systemic parameters. It is well established that a score less than or equal to 8 on the GCS reflects a risk of ICH. In studies performed by the Traumatic Coma Data Bank during the 1990s, it was shown that between 50-75% of these patients had ICH at some point during the evolution of the injury [9]. At present, we know that this incidence can be adjusted according to the type of brain injury[6] and that it decreases dramatically with an aggressive surgical approach to focal lesions. The high risk of ICH in severe TBI explains why continuous monitoring of ICP has been implemented almost routinely in the management of these patients, especially since the 1995 publication of the CPG for TBI management developed by the BTF. These guidelines have been updated and endorsed by most international scientific societies. The latest version, published in 2007, reaffirmed with level II evidence that ICP monitoring should be applied in all severe TBI patients with an abnormal CT scan upon admission [10]. The implementation of an ICP sensor is also indicated in TBI patients with an initial CT scan that is normal if a GCS score of less than 8 can be confirmed. This is based on the fact that 1 of every 3 of these patients show new brain lesions in the subsequent CT scan [11]. In recent years, however, we have found that the value of ICP as a parameter alone is insufficient for decision making in complex cases. In addition to the ICP sensor in the latest edition of the BTF guidelines, it is also recommended that additional monitoring systems be included to provide overall or specific information regarding cerebral oxygen availability, such as oxygen saturation in the jugular bulb (SjO2) or catheters for direct measurement of oxygen pressure at the tissue level (PtiO2) [12]. In our center, all patients with TBI who present a diffuse lesion, or those in whom a focal lesion was evacuated, undergo implantation of an intracranial pressure (ICP), intraventricular, or intraparenchymal sensor. When using an intraparenchymal sensor, the more damaged brain hemisphere is selected [13]. In addition to the ICP sensor, TBI patients are implanted with a retrograde catheter in the predominant jugular vein and/or a catheter for tissue oximetry in the less injured hematoma epidural respeita as suturas, não ultrapassando seus limites. Por serem arteriais, esses hematomas progridem rapidamente e devem ser operados de emergência para não haver herniação uncal e morte. Hematoma epidural ou extradural associado a fratura de crânio com ruptura da artéria meníngea média. Os hematomas subdurais são mais frequentes que os epidurais, ocorrendo em aproximadamente 30% dos pacientes com TCE grave. Idosos e etilistas crônicos são mais afetados, mesmo em traumas leves. Eles ocorrem pela ruptura de pequenas veias- ponte que ligam os seios venosos da dura-máter com as veias da superfície cortical. Ao contrário dos hematomas epidurais, os hematomas subdurais adquirem uma forma côncavo-convexa, tomando os contornos da superfície cerebral. A localização mais comum é na convexidade cerebral, mas também podem ocorrer entre a tenda do cerebelo e o lobo occipital e entre o lobo temporal e a base do crânio. O hematoma subdural pode ser classificado como agudo (quando os sintomas ocorrem dentro de 72 horas do trauma), subagudo (entre 72 h e 21 dias) ou crônico (quando se tornam sintomáticos após 21 dias do trauma). Lesões de longa data não detectadas podem se liquefazer e formar higromas subdurais e eventualmente podem se calcificar. Os agudos geralmente se apresentam com hemiparesia contralateral e anormalidades pupilares ipsilaterais, enquanto os crônicos se manifestam com confusão mental e demência, podendo ou não ocorrer hemiparesia contralateral. Em traumas graves geralmente estão associados com lesões parenquimatosas subjacentes (principalmente lesão axonal difusa), tornando seu prognóstico após drenagem cirúrgica, mais reservado do que o dos hematomas epidurais. Hematoma subdural agudo Hematoma subdural crônico As contusões cerebrais são as lesões traumáticas mais comuns, particularmente em idosos, ocorrendo em aproximadamente 20-30% dos pacientes com TCE grave, em sua maioria nos lobos frontal e temporal, embora possam ocorrer em qualquer local do encéfalo. Em muitos pacientes, elas são pequenas e múltiplas. São conhecidas como contusões por golpe quando ocorrem no lado do cérebro em que houve o impacto, ou por contra-golpe quando ocorre no lado oposto ao impacto. Em um período de horas a dias,elas podem evoluir para formar hematomas intracerebrais com massa suficiente para necessitar evacuação cirúrgica. Por esse motivo, esses pacientes necessitam TC de crânio de controle dentro de 24 horas, para avaliar a possibilidade dessa evolução. As contusões pequenas geralmente são tratadas clinicamente e, quando não há lesão axonal difusa associada, o prognóstico de recuperação geralmente é bom. Tanto lesões focais como difusas podem estar associadas a edema cerebral, que pode resultar de diferentes mecanismos. O edema pode ser citotóxico (edema intracelular), vasogênico (extravasamento dos vasos sanguíneos) e intersticial (extravasamento dos ventrículos devido à hidrocefalia). O edema cerebral pode ocorrer em qualquer tipo de lesão cerebral traumática, com sua magnitude nem sempre se correlacionando com a gravidade do trauma. Isso é particularmente comum em adultos jovens, onde edema difuso grave e fatal pode ocorrer após traumas leves, principalmente em pacientes que já sofreram concussão prévia e ainda não tiveram melhora completa dos sintomas antes do segundo trauma (síndrome do segundo impacto). Edema cerebral difuso pós traumático e hematomas subgaleais Aproximadamente 40% dos pacientes com TCE, mesmo leve, queixam-se de cefaleia, tontura, fadiga, distúrbios do sono, zumbido, irritabilidade e falta de concentração. Esses sintomas, em conjunto, caracterizam a síndrome pós-concussão e podem persistir por semanas até anos após o trauma. O termo pós-concussão é questionado, pois a síndrome pode ocorrer mesmo em pacientes que não perderam a consciência. O exame neurológico e a neuroimagem geralmente são normais. Embora a fisiopatologia ainda seja pouco entendida, sintomas psiquiátricos prévios ao TCE e fatores socioeconômicos são fatores de risco. A duração dos sintomas não se correlaciona com a gravidade do trauma. Quais são as principais modalidades de neuromonitorização do paciente com TCE? A principal modalidade de monitorização neurológica em pacientes com TCE grave é da pressão intracraniana (PIC). Hipertensão intracraniana ocorre em mais da metade dos pacientes comatosos com lesões em massa na TC, e em até 15% dos pacientes com TC normal. Os monitores de PIC devem ser instalados pelo neurocirurgião em todos os pacientes com Glasgow de 8 ou menos e com TC anormal (presença de hematomas, contusões, edema cerebral, herniações). A monitorização da PIC também está indicada em pacientes com Glasgow de 8 ou menos e TC normal nas seguintes condições: (a) idade > 40 anos; (b) postura em decorticação ou descerebração uni ou bilateral ou; (3) se a PA sistólica < 90 mmHg. O cateter pode ser introduzido dentro do ventrículo lateral (quando também permite retirada de líquor para tratar picos de hipertensão intracraniana, porém com maior risco de infecção), dentro do parênquima cerebral ou nos espaços sub e epidural (menos confiável). A pressão intracraniana normal é < 15 mmHg ou 20 cmH2O e o objetivo do tratamento é manter a PIC < 22 mmHg. A obtenção da PIC também permite a determinação da pressão de perfusão cerebral (PPC = PAM – PIC), que deve ser mantida entre 60 e 70 mmHg. Locais de instalação do cateter de Monitor de PIC Curva de PIC normal (acima) e elevada (embaixo) Técnicas de neuromonitorização mais avançadas estão disponíveis em centros de referência, sobretudo em países desenvolvidos. A medida da pressão de oxigênio no tecido cerebral (PbrO2) é obtida pela instalação de um cateter no parênquima a ser estudado (eletrodo de Clark), medindo a diferença entre a entrega e o consumo de oxigênio naquela região particular do cérebro. Essa técnica pode ser usada para titular a pressão de perfusão cerebral, demonstrando um limiar crítico, abaixo do qual a saturação da PbrO2 cai. Valores normais são entre 15-20 mmHg. A inclusão dessa monitorização têm sido mostrada por estudos que melhora o prognóstico de longo prazo em pacientes com TCE grave. Outras técnicas de monitorização incluem oximetria venosa jugular (extração cerebral de oxigênio < 55 mmHg indica extração aumentada ou diminuição do suprimento de O2) e técnicas de microdiálise (fornecem medidas horárias de glicose, lactato, piruvato, glutamato, glicerol e concentração de fármacos no tecido cerebral). Assim, informações importantes como hipoglicemia e isquemia cerebrais (alta relação lactato/piruvato) podem ser detectadas e corrigidas prontamente. Monitorização eletroencefalográfica contínua na UTI identifica crises epilépticas não convulsivas e ajuda na monitorização de lesões focais e do uso de medicamentos, principalmente os barbitúricos. Crise eletrográfica em paciente em coma pós-TCE. Descrever o tratamento clínico do TCE leve, moderado e grave. Uma forma de estratificar o risco de pacientes com TCE em baixo, moderado e alto é mostrada abaixo: - Baixo Risco: exame neurológico normal; ausência de concussão; ausência de intoxicação por álcool ou drogas e ausência de critérios moderados ou graves. Pode haver queixa de cefaleia ou tontura e pode haver lesões ou lacerações do couro cabeludo. Esses pacientes podem receber alta desde que possam ser observados em casa por um acompanhante confiável. - Moderado Risco: Glasgow abaixo de 15 após 2 horas de trauma; presença de concussão; coagulopatia ou uso de anticoagulantes; amnésia anterógrada > 30 minutos; vômitos; convulsões; sinais de fratura de base de crânio ou fratura aberta; mecanismo grave de trauma, intoxicação por álcool ou drogas; ausência de história confiável e extremos de idade (< 2 anos ou > 65 anos). Esses pacientes devem ser admitidos na UTI ou unidade semi-intensiva e examinados periodicamente por 24 a 48 horas. - Alto Risco: Glasgow entre 3 e 8; rebaixamento progressivo do nível de consciência; presença de sinais neurológicos focais e lesões penetrantes do crânio ou presença C B D Figure 1. Generalized nonconvulsive status epilepticus in a 54-year-old woman with multi-organ failure. The patient died without recovering consciousness. Between seizures low-medium voltage posterior rhythms of medium voltage at 5-6 Hz predominated, but slower frequencies were seen in the anterior head, including intermittent delta (A). In the seizures (B through D) an incrementing pattern of irregular generalized spike-and-wave and sharp-and-slow-wave complexes oc- curred with poor stereotypy. These could be blocked by diazepam injection. The thick vertical calibration bar is 50 p v and the time interval between the long, thin vertical lines is 1 second. Twelve (25%) admissions involved de novo NCSs. Six of 12 (50%) had NCSE, and 6 (50%) had brief nonconvulsive, electrographic seizures only. All but one were focally origi- nating. Three (25%) remained focal, while the others had various degrees of spread to other electrode sites. Thirty-three instances of NCSs involved marked dimi- nution in alertness, either unresponsiveness or only brief arousability with moving or moaning. Of these, four had spontaneous “epileptic nystagmus,” and three had facial twitching with or without limb myoclonus. Other patients had lesser degrees of obtundation or altered behavior. Eleven instances were associated with acute confusion and one with an unsteady gait; one had hallucinations, and one hummed while being unresponsive to verbal commands. One patient displayed three instances of puerile behavior. Two had ictal aphasia. EEG patterns of NCSs and NCSE were as follows: re- petitive focal spikes or sharp waves showing variable spread: 28 patients; generalized polyspikes or polyspike and wave with focal onset or accentuation: 8 patients; gen- eralized sharp waves or generalized sharp- and slow-wave complexes <3 Hz: 5 patients; focal rhythmic waves with intermittent spikes: 4 patients; lateralized spike and wave: 2 patients; rhythmic waves of varying amplitude and fre- quency:1 patient; generalized polyspike and wave: 1 pa- tient (figures l and 2). For those patients who continued to have seizures, management involved the sequential use of intravenously administered lorazepam or diazepam, followed by pheny- toin. Refractory cases then were given intravenous pheno- barbital or midazolam followed by pentobarbital, if neces- sary. For remote symptomatic patients, maintenance anti- epileptic drugs were given after lorazepam or diazepam. Variables and associated outcome. (1) Age and sex. The mean age of those who survived was 59 years (standard deviation 17) and for those who died was 64 years (standard deviation 14) (p = 0.08). Twelve women and 4 men died 0, = 0.55). (2) Etiology. Etiologies are listed in table 2. There was no overlap between remote and acute symptomatic groups. In the remote symptomatic group, theophylline toxicity contributed in four patients. In six patients, maintenance phenytoin dosage was reduced within 1 month of status epilepticus, either with medical advice or poor compliance. One patient was on amitriptyline, which may have lowered the seizure threshold. The difference in death rates between remote (4 of 25 or 16%) and acute symptomatic (11 of 24 or 46%) groups was significant (p = 0.0089). The OR was 6.0 for acute over remote symptomatic groups. Patients with acute symptomatic seizures overall suf- fered significantly longer seizures (range 0.5 to 192 hours, mean 33.9, SD = 47.6) than did those in the remote symp- tomatic group (range 0.5 to 50 hours, mean 6.1, SD = 14.2) ( p = 0.012). (3) Effect of seizure duration on outcome (figure 3). Of the 30 patients whose seizures lasted less than 10 hours, 18 went home, 9 were disabled, and 3 (10%) died. For those 6 patients with seizures lasting 210 to 20 hours, 1 went home, 3 were disabled, and 2 (33%) died. For the 13 with July1996 NEUROLOGY47 85 fraturas com afundamento do crânio. Esses pacientes devem ser admitidos em UTI de centros com experiência no atendimento de trauma e suporte neurocirúrgico. O TCE leve (Glasgow entre 13-15) pode ou não estar associado com concussão cerebral e a maioria dos pacientes apresenta boa recuperação. Entretanto, cerca de 3% dos casos deteriora inesperadamente, resultando em potencial piora neurológica com morte ou sequelas, a menos que o declínio seja detectado precocemente. É importante pesquisar o mecanismo do trauma, o tempo de evolução, a presença ou não de perda transitória de consciência imediatamente após o trauma, a presença de amnésia anterógrada ( eventos a partir do momento do trauma) ou amnésia retrógrada (eventos ocorridos antes do trauma), presença de cefaleia e vômitos. Antes de tirar o colar cervical, os pacientes também devem receber um Rx da coluna cervical, ou preferencialmente, TC de coluna cervical, para afastar lesão da coluna cervical. Uma dica prática é a presença de dor à palpação da coluna cervical. Se dor estiver ausente, o colar cervical pode ser retirado sem a realização do exame de imagem cervical. Caso contrário a TC deve ser obtida antes da retirada do colar. Exames toxicológicos de sangue e urina devem ser realizados sempre que houver suspeita de intoxicação. Esses pacientes com Glasgow 13-15 devem ser admitidos para observação se: (1) a TC de crânio for anormal; (2) houver injúrias penetrantes do crânio; (3) história de perda prolongada de consciência; (4) rebaixamento do nível de consciência; (5) presença de cefaleia moderada a grave; (6) presença de intoxicação por álcool ou drogas; (7) presença de fraturas de crânio; (8) presença de sinais de fratura de base de crânio; (9) ausência de cuidadores confiáveis em casa; (10) presença de déficit neurológico focal. Caso o paciente não preencha nenhum desses critérios para admissão, ele pode receber alta, com orientação de retornar em caso de sinais de alerta de piora clínica (cefaleia, rebaixamento da consciência, confusão mental, déficit neurológico focal) nas primeiras 24 horas. As orientações idealmente devem ser dadas por escrito e anotadas no prontuário médico. Sempre agendar uma avaliação de retorno para reavaliação. Pessoas com concussão devem ser orientadas a não retornar a atividades de impacto até que todos os sintomas relacionados com o trauma melhorem, pois um novo trauma pode desencadear a síndrome do segundo impacto, condição que pode se associar a edema cerebral difuso e pode ter graves consequências, inclusive a morte. O TCE moderado (Glasgow entre 9-12) geralmente permite aos pacientes seguir comandos simples, porém geralmente estão confusos ou sonolentos e podem ou não ter déficit neurológico focal. Cerca de 10-20% deterioram para estado de coma e monitorização neurológica frequente é fundamental, preferencialmente em UTI ou na unidade semi-intensiva. TC de crânio de controle deve ser realizada se piora clínica ou antes da alta hospitalar. Caso haja piora clínica com evolução para coma, os pacientes devem ser tratados de acordo com o protocolo de tratamento descrito a seguir para o TCE grave. O TCE grave (Glasgow entre 3-8) representa cerca de 10% dos casos e os pacientes são incapazes de seguir comandos simples após a estabilização cardiopulmonar. A morbimortalidade desse grupo é muito maior. O rápido diagnóstico e o tratamento eficaz são extremamente importantes. Todos os pacientes com TCE grave devem ser admitidos na UTI de centros especializados em trauma. O principal objetivo do tratamento do TCE grave é a prevenção de lesões secundárias. Após o ABCDE, avaliação primária e procedimentos de ressuscitação volêmica e respiratória, avaliação neurológica (Glasgow, reação pupilar à luz e procura por déficit motor focal) e TC de crânio e da coluna cervical, os pacientes deverão ter monitorização de PIC (manter < 22 mmHg), pressão de perfusão cerebral (entre 60 e 70 mmHg) e oximetria de pulso (> 98%). A PAS deve ser mantida > 100 a 110 mmHg dependendo da faixa etária. Normotermia deve ser o alvo, pois hipertermia piora o prognóstico neurológico. A glicose sérica deve ser mantida entre 80-180 mg/dl, a hemoglobina > 7 g/dl, o INR < 1.4, o sódio sérico entre 135-145 mEq/l, as plaquetas > 75.000/mm3, a pO2 > 100 mmHg e a pCO2 perto do limite inferior do normal (35 mEq/l). Correção de hipovolemia (que é deletéria aos pacientes) deve ser feita com fluidos endovenosos, cuidando para não causar sobrecarga de volume e não utilizar fluidos hipotônicos (soro glicosado), pois eles podem piorar o edema cerebral (extravasam do vaso para o interstício) e causar hiperglicemia (piora o prognóstico neurológico). Os fluidos de escolha para ressuscitação volêmica são o soro fisiológico (mais usado) e o ringer lactato. Hiponatremia deve ser monitorada e evitada, pois está associada com piora do edema cerebral. Se o paciente tiver sangramento intracraniano e estiver em uso de anticoagulantes ou antiagregantes plaquetarios, eles devem sofrer reversão do efeito desses medicamentos. Pacientes usando anti-plaquetários devem receber concentrado de plaquetas e desmopressina (0.4 ug/kg), se necessário. Pacientes usando varfarina devem receber vitamina K 10 mg EV associada com 10-15 ml/kg de plasma fresco congelado ou complexo protrombínico, sendo o complexo protrombínico o mais eficiente. O objetivo é baixar o INR < 1.4. Se o paciente estiver em uso de heparina não- fracionada, deve receber protamina 1 mg para cada 100 UI de heparina, até a normalização do TTPA. Pacientes usando dabigatrana devem receber 50 g de carvão ativado se a ingesta foi nas últimas 2 horas e 5 g de idarucizumabe EV e pacientes usando os inibidores do fator X (rivaroxabana, apixabana e edoxabana) ainda não possuem antídoto disponível no Brasil (adexanet-alfa). Esses pacientes podem se beneficiar de complexo protrombínico. A hipertensão intracraniana deve ser clinicamente tratada com terapias osmóticas (manitol ou salina hipertônica) e, em casos de descompensação ou herniaçãoiminente, com hiperventilação por breves períodos mantendo a pCO2 entre 30-35 mmHg. A hiperventilação causa vasoconstrição reflexa com redução do fluxo sanguíneo cerebral e deve durar apenas o período de tempo suficiente para que uma cirurgia evacuadora ou descompressiva possa ser realizada. Não deve ser realizada nas primeiras 24 horas após o trauma, pois o fluxo sanguíneo cerebral está criticamente reduzido nesse período. Para cada 1 mmHg de queda da pCO2 há redução de 3% do fluxo sanguíneo cerebral. Reduções muito grandes da pCO2 (< 30 mmHg) podem exacerbar isquemia cerebral e devem ser evitadas, a menos que métodos de monitorização da oxigenação do parênquima cerebral (PbrO2) e da oxigenação venosa jugular estejam disponíveis. Mesmo nessas situações, valores de pCo2 < 25 mmHg nunca devem ser obtidos. Drogas vasoativas devem ser utilizadas quando a PPC cair < 60 mmHg e anti-hipertensivas quando a PPC for > 110 mmHg. Todos os pacientes com hipertensão intracraniana devem ter a cabeceira da cama elevada em 30% e cabeça em posição neutra para facilitar o retorno venoso e reduzir a PIC. Sedação endovenosa com benzodiazepínicos de curta ação (midazolam) ou outras drogas (propofol, dexmedetomidina) para manter o paciente imóvel e tranquilo. A dexmedetomidina é um alfa-agonista central que vem sendo cada vez mais utilizada para esse fim, já que tem meia-vida curta e as avaliações neurológicas podem ser realizadas poucos minutos após sua suspensão, sem prejuízo do nível de consciência. Entretanto, seu custo é elevado e não está amplamente disponível em nosso meio. Pacientes não intubados que apresentam agitação ou delirium podem receber haloperidol 2-10 mg IM. Como TCE grave é um estado hipercatabólico, há aumento da necessidade de aporte calórico, geralmente entre 50-100% dos valores diários normais. Dieta enteral deve ser iniciada no máximo até o quinto dia do trauma, com aproximadamente 30 kcal/kg/dia. O uso de agentes pró-cinéticos ajudam a tolerabilidade da dieta enteral. A temperatura deve ser mantida normal, pois febre piora o prognóstico neurológico. Entretanto, manter a temperatura normal em pacientes com TCE é um desafio. Hipotermia leve (temperatura entre 33-35 C) pode reduzir a PIC em pacientes refratários, porém não está associada a melhor prognóstico ou diminuição de mortalidade. Além disso, sua aplicação prática é complexa e poucos centros no Brasil estão preparados para sua utilização. Sempre requer protocolos de controle dos calafrios com sedativos e agentes bloqueadores neuromusculares, pois os calafrios induzidos pela hipotermia aumentam a demanda metabólica cerebral e a PIC. As principais complicações incluem pneumonia, sepse e coagulopatias. Desta forma, essa medida raramente é utilizada em nosso meio. A resposta inflamatória sistêmica induzida pelo trauma, com frequência causa hiperglicemia, e infusão contínua de insulina para manter a glicemia entre 90-180 mg/dl deve ser implementada, cuidando, entretanto, para não causar hipoglicemia. O uso de corticosteroides endovenosos (dexametasona, metilprednisolona, hidrocortisona) foi utilizado por muitos anos no tratamento do edema cerebral do TCE, entretanto, seu uso foi abandonado por falta de evidência científica de benefício. Além disso, eles aumentam o risco de infecção, pioram a hiperglicemia, agravam a miopatia da doença crítica e podem causar psicose, com agitação e piora da hipertensão intracraniana. O manitol 20% (20 gramas de manitol/100 ml de solução) deve ser usado na dose de 0.25 a 1 g/kg EV em bolus de 5 minutos, quando a pressão intracraniana estiver muito elevada ou se há risco de herniação. Ele diminui a PIC pela redução do conteúdo de água cerebral, através de gradiente osmótico entre o compartimento intersticial e o intravascular. Além disso, ele reduz a viscosidade sanguínea, melhora o fluxo sanguíneo microvascular, além de eliminar radicais livres. O início da ação ocorre em 10-20 minutos e pode durar por 2 a 6 horas. Sempre deve ser usado em pacientes com monitor de PIC, a menos que o paciente esteja em herniação iminente. Não deve ser usado de horário devido ao risco de hipertensão intracraniana de rebote. Quando usado por períodos longos, a osmolalidade sérica deve ser monitorada (porém indisponível na maioria dos centros em nosso meio) e mantida entre 300 e 320 mOsm/L e o gap osmolar (osmolaridade medida – osmolaridade calculada) deve ser mantido entre 10-20 mmols. Como é um diurético, as perdas urinárias devem ser repostas com soro fisiológico para evitar hipovolemia e insuficiência renal aguda pré- renal. Deve ser evitado em pacientes hipotensos (PAS < 90 mmHg) e pode ser a melhor opção em pacientes com sobrecarga de volume. Sua principal vantagem é poder ser aplicado em veia periférica. A solução salina hipertônica (NaCl entre 3% a 23.4%) é o agente de escolha em pacientes hipotensos, pois não atua como diurético e tem propriedade expansora de volume. Estudos mostram que a salina hipertônica têm efeito superior ao manitol no tratamento da hipertensão intracraniana. Ela melhora a perfusão microvascular e a PPC devido à rápida expansão de volume, aumentando o débito cardíaco e a pressão arterial. O método preferido de administração é através da infusão de bolus intermitentes de 30 a 60 ml de NaCl 20% (0.5-2 ml/kg), sempre que necessário e em acesso central, ao longo de 20 minutos. O sódio sérico deve ser mantido entre 150-155 mEq/l. Cuidar com aumentos bruscos do sódio sérico pelo risco de desmielinização osmótica. Coma induzido por barbitúricos (tiopental na dose de ataque de 10-20 mg/kg e dose de manutenção de 1-4 mg/kg/h) é efetivo em reduzir a PIC refratária às medidas anteriores, porém não deve ser utilizado em pacientes hipotensos ou hipovolêmicos, pois os barbitúricos têm efeito hipotensor. O uso de drogas vasoativas frequentemente é necessário para manter estabilidade hemodinâmica. Outras complicações de seu uso são pneumonia, sepse e disfunção hepática. Além disso, devido à sua longa meia-vida, há prejuízo para as avaliações neurológicas seriadas e para a determinação diagnóstica de morte encefálica, quando for o caso. Portanto, eles devem ser usados apenas em pacientes com hipertensão intracraniana refratária que não responderam aos tratamentos clínicos e cirúrgicos instituídos. Os barbitúricos reduzem a PIC por diminuir o metabolismo cerebral e o fluxo sanguíneo cerebral. Se a TC de crânio mostrar hemorragia subaracnóide, o uso de nimodipina na dose de 60 mg via sonda nasoenteral a cada 6 horas melhora o prognóstico, melhorando a tolerância isquêmica neuronal e o fluxo sanguíneo colateral. Entretanto, seu uso de rotina ainda é matéria de controvérsia na literatura. Cuidar com hipotensão como principal efeito adverso. Crises convulsivas pós-traumáticas ocorrem em 2-40% dos pacientes. Podem ser imediatas (se ocorrem dentro de 24 h do trauma), precoces (dentro da primeira semana) ou tardias (após 7 dias). Quanto mais grave o trauma, maior a chance da ocorrência de convulsões. As crises imediatas são infrequentes, mas aumentam o risco de crises precoces, porém não de epilepsia pós-traumática. Os principais fatores de risco para crises precoces incluem fratura de crânio com afundamento, trauma penetrante, hemorragia intracraniana, coma prolongado (> 24 h) e crises imediatas. O principal fator de risco para crises tardias é a ocorrência de crises precoces, mas também são fatores de risco a presença de amnésia pós-traumática superior a 24 horas, idade > 65 anos e história de depressão prévia ao trauma. A maioria das crises tardias ocorre no primeiro ano após o trauma (60%), mas crises podem ocorrer até 15 anos após o trauma. Qualquer crise epiléptica deve ser imediatamente tratada com diazepam 10 mg EV associado a anticonvulsivantes apropriados. É fundamental controlar as crises o mais rápido possível, pois crises prolongadas (> 30-60 minutos) podem levar a lesões cerebrais secundárias. A drogaanticonvulsivante consagrada em nosso meio é a fenitoína, na dose de ataque de 15 a 20 mg/kg (com infusão máxima de 50 mg/min) e com dose de manutenção de 100 mg 8/8 h. Todos os pacientes com crises convulsivas precoces têm risco aumentado de crises tardias e devem receber alta com anticonvulsivantes e serem acompanhados por um neurologista. Como a fenitoína é uma droga que pode inibir a recuperação neurológica no TCE, ela deve ser usada apenas quando extremamente necessário. Uma opção ainda pouco disponível em nosso meio para o tratamento das crises convulsivas no hospital é o levetiracetam, droga associada a melhor prognóstico neurológico. Crises epilépticas não-convulsivas são detectadas pela monitorização eletroencefalográfica contínua em 15% dos pacientes com TCE grave. Geralmente estão associadas com pior prognóstico e necessitam tratamento agressivo com infusão contínua de midazolam, propofol ou tiopental. Devido aos riscos, o uso profilático de anticonvulsivantes no TCE é controverso e não recomendado, e quando utilizado nos pacientes de alto risco, deve ser por apenas 7 dias. Os pacientes incapazes de se locomover devido ao trauma devem receber profilaxia de trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar. Dispositivos de compressão pneumática intermitente devem ser utilizados desde o primeiro dia do trauma (infelizmente pouco disponíveis em nosso meio) e heparina não-fracionada 5000 UI SC 8/8 h ou enoxaparina 40 mg SC ao dia devem ser iniciados no terceiro dia de internamento, mesmo nos pacientes com hemorragias intracranianas. Prevenção de úlceras gástricas de estresse é realizada com inibidores da bomba de prótons, principalmente pantoprazol 40 mg EV ao dia, ranitidina 50 mg EV 12/12 h ou sucralfato 1 g VO 6/6 h. Descrever as indicações cirúrgicas em pacientes com TCE. A primeira intervenção cirúrgica geralmente necessária é no couro cabeludo, ricamente vascularizado e, frequentemente sangrando copiosamente. Deve haver limpeza vigorosa e debridamento de tecidos mortos. Crianças e idosos são os principais grupos de risco para choque hemorrágico por lesões do couro cabeludo. Aplicação de compressas, uso do cautério e ligadura de grandes vasos rompidos deve ser realizada. Inspeção local na busca de fraturas de crânio e corpos estranhos também deve ser realizada. O neurocirurgião sempre deve ser consultado em casos de fraturas abertas ou com afundamento. A presença de hematomas subgaleais pode ser assemelhar à uma fratura durante a palpação, quando um Rx ou TC vão confirmar ou descartar essa ocorrência. Fraturas de crânio com afundamento superior à espessura do crânio geralmente necessitam de cirurgia, assim como as fraturas abertas contaminadas. As demais fraturas de crânio são tratadas clinicamente. Todas as lesões em massa intracranianas (hematomas epidurais, subdurais ou intraparenquimatosos) e pacientes com hidrocefalia devem ser vistas por um neurocirurgião e esses pacientes devem ser prontamente transferidos após estabilização, em caso de indisponibilidade de neurocirurgia. Caso um neurocirurgião não esteja disponível para um pacientes deteriorando rapidamente e com um hematoma intracraniano, uma craniotomia de emergência realizada por um cirurgião geral treinado pode ser realizada sob supervisão a distância do neurocirurgião como tentativa de salvar a vida do paciente. Lesões penetrantes do crânio requerem TC de crânio e angiografia para descartar lesões de grandes vasos cerebrais. Antibióticos profiláticos (cefalosporinas) por duas semanas e profilaxia anti-tetânica são necessários para lesões penetrantes, assim como em fraturas abertas e em pacientes com fístulas liquóricas. Ferimentos abertos pequenos por armas de fogo podem ser tratados com curativo local na porta de entrada até a avaliação neurocirúrgica. Objetos que penetram o compartimento intracraniano ou a fossa infra-temporal e permanecem parcialmente exteriorizados (flechas, facas, machados, etc) devem ser mantidos no local até que o tratamento definitivo pelo neurocirurgião seja possível. A retirada desses objetos pode levar à lesão vascular fatal ou hemorragia intracraniana. Craniectomias descompressivas melhoram a pressão intracraniana elevada, o fluxo sanguíneo cerebral e a oxigenação e podem ser realizadas em pacientes com edema cerebral maligno e hipertensão intracraniana. Os resultados dos estudos envolvendo esses procedimentos (RESCUEicp e DECRA) são conflitantes. Embora sejam eficientes para reduzir a pressão intracraniana e diminuir risco de morte, eles não foram capazes de reduzir as sequelas neurológicas de longo prazo. Faça a correlação clínica do caso apresentado com os pontos estudados nos itens anteriores. Paciente com TCE em estado grave com Glasgow 5 e hemodinamicamente instável por sangramento intra-abdominal por ruptura traumática de baço. Está intoxicado por álcool e isso não deve diminuir a gravidade da situação. Preenche critérios para intubação orotraqueal imediata para proteção de via aérea, apesar da saturação de oxigênio normal. Como está instável hemodinamicamente recebeu fluidos endovenosos e foi investigado para fontes extracranianas de sangramento, tendo sido encontrada hemorragia intra-abdminal e realizada laparotomia exploradora e esplenectomia por ruptura de baço. Como a PA se estabilizou ele conseguiu realizar TC de crânio antes de ir para o centro cirúrgico realizar a laparotomia. Como estava em coma e com TC de crânio mostrando múltiplas contusões cerebrais, tem indicação de monitorização de PIC, tendo sido instalado um monitor de PIC intraventricular. Foi então transferido para a UTI para monitorização e tratamento. A cabeceira deve ser mantida em 30 graus com a cabeça em posição neutra. Dieta enteral deve ser iniciada até o quinto dia de internamento (30 kcal/dia), a PIC deve ser mantida < 22 mmHg, a PPC deve ser mantida entre 60 e 70 mmHg, a PAS > 110 mmHg na faixa etária do paciente, a temperatura deve ficar normal, a glicose deve ficar entre 80-180 mg/dl, a hemoglobina > 7 g/dl, o sódio entre 135 e 145 mEq/l, o INR < 1.4 e as plaquetas > 75.000/mm3. A saturação de O2 deve ser > 95%, a pO2 > 100 mmHg e a pCO2 próxima de 35 mmHg. Em casos de picos de hipertensão intracraniana pode ser retirado líquor via cateter de monitorização da PA e, caso necessário pode receber agentes osmóticos com preferencia pela salina hipertônica na dose de 30 a 60 ml em bolus durante 5 minutos via acesso central. Se a hipertensão intracraniana persistir refratária ao tratamento pode-se indicar coma barbitúrico com tiopental sódico, devendo-se cuidar para não haver hipotensão. Hiperventilação somente deve ser utilizada por curtos períodos em pacientes que não respondem a nenhuma outra forma de tratamento. As lesões cerebrais não são cirúrgicas e o papel da cranictomia descompressiva para alívio da hipertensão intracraniana ainda é controverso, diminuindo a mortalidade, porém sem melhorar o estado funcional. O uso de corticosteroide não está indicado, assim como também não está indicado uso de anticonvulsivantes profiláticos. Se disponível, recomenda-se monitorização eletroencefalográfica contínua e tratamento com midazolam, propofol ou tiopental em caso de crises eletrográficas. Devido à imobilidade ele deve ter profilaxia de eventos tromboembólicos com compressão pneumática intermitente e receber heparina profilática a partir do terceiro dia, mesmo tendo sangue na TC de crânio. Prevenção de úlcera de estresse também está indicada.
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