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Responsabilidade Civil por Fato Próprio e de Outrem

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25/09 – Aula 8: Responsabilidade Civil por Fato Próprio e por Fato de Outrem. Responsabilidade Civil pelo Fato da Coisa.
	Quadro:
Responsabilidade Civil por Fato Próprio e por Fato de Outrem
1 Responsabilidade civil por fato próprio
2 Responsabilidade civil por fato de outrem
2.1 Introdução: um tema teoricamente rico e difícil
2.2 Responsabilidade dos pais pelos atos dos filhos menores
2.2.1 Em que situações os pais respondem pelos atos dos filhos menores?
2.2.2 Solidariedade ou subsidiariedade: a responsabilidade dos pais pelos filhos menores
2.2.3 Os pais respondem civilmente pelo dano praticado por menor emancipado?
2.3 Danos causados por filhos maiores
2.4 Direito de regresso
2.5 A responsabilidade civil dos incapazes
3 Responsabilidade dos tutores e curadores
4 Responsabilidade dos empregadores pelos atos dos empregados
4.1 O dano foi causado em razão da função desempenhada?
4.2 Outras questões relevantes
4.3 A terceirização rompe o nexo causal em relação ao empregador?
5 Responsabilidade civil dos estabelecimentos educacionais
5.1 Os estabelecimentos educacionais privados como prestadores de serviço
5.2 Responsabilidade civil pelo bullying
5.3 A polêmica questão do direito de regresso
6 Responsabilidade civil dos hoteleiros e estabelecimentos análogos
6.1 Contextualização normativa e situações possíveis
6.1.1 Danos causados a hóspedes
6.1.2 Danos causados a empregados do hotel
6.1.3 Danos causados a terceiros
7 Responsabilidade civil decorrente dos produtos do crime
Responsabilidade Civil pelo Fato da Coisa
1 Construindo nexos de imputação entre pessoas e coisas
2 Danos decorrentes de animais (Código Civil, art. 936)
2.1 Danos causados por animais nas rodovias
3 Danos decorrentes de edifício ou construção (Código Civil, art. 937)
4 Danos decorrentes de coisas lançadas ou caídas de prédios (Código Civil, art. 938)
4.1 A queda anônima
4.2 Outras hipóteses possíveis de incidência do art. 938
5 Responsabilidade civil decorrente da guarda de veículos
5.1 A teoria da guarda da coisa e o empréstimo de veículos (danos causados pelo comodatário)
5.2 Solução jurisprudencial brasileira: o critério da presunção de culpa
5.3 Outras situações possíveis
5.3.1 Carros cedidos onerosamente no exercício de atividade empresarial
5.3.2 Danos provocados no uso de veículo roubado ou furtado
5.3.3 O carro como instrumento do dano (teoria do corpo neutro)
	PARTE II – RESPONSABILIDADE CIVIL EM ESPÉCIE
CAPÍTULO I
RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO PRÓPRIO E POR FATO DE OUTREM
1. RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO PRÓPRIO
Responsável civilmente pelo dano é aquele que o pratica. Ao dizermos isso, estamos nos referindo àquele que, por ação ou omissão, esteja vinculado, em nexo causal, ao fato danoso. Em linha de princípio, a responsabilidade civil é individual. Respondemos por nossos próprios atos ou omissões. Não respondemos por ações ou omissões alheias. A responsabilidade por ato de outrem ou pelo fato da coisa – que adiante estudaremos – poderá se impor em certas situações, mas como exceção, não como regra. A responsabilidade civil está fundada no princípio do neminem laedere, ou seja, a fórmula, de elaboração romana, que nos recomenda agir de forma a não lesar os direitos de outrem. Quando o dano ocorre – seja moral, material ou estético – busca- -se compensar, ainda que parcialmente, o equilíbrio perdido. A responsabilidade civil centra-se na obrigação de indenizar um dano injustamente causado. Aguiar Dias, a propósito, anota que “o mecanismo da responsabilidade civil visa, essencialmente, à recomposição do equilíbrio econômico desfeito ou alterado pelo dano”. Hoje sabemos que nem sempre o equilíbrio desfeito ou alterado pelo dano é econômico. Os mais graves, aliás, não são.
2. RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO DE OUTREM
2.1. INTRODUÇÃO: UM TEMA TEORICAMENTE RICO E DIFÍCIL
De toda sorte, é certo que respondemos civilmente, em princípio, por nossos atos ou omissões. Não respondemos por atos e omissões de outrem. Quem causa danos culposamente (Código Civil, art. 186), ou quem mesmo sem culpa se excede no exercício do direito (art. 187), ou quem desempenha atividade danosa de risco (art. 927, parágrafo único), é civilmente responsável pelas consequências dos seus atos. Ao contrário, porém, do que ocorre no direito penal, no direito civil – particularmente no que se refere à responsabilidade civil –, é possível que tenhamos o dever de indenizar danos causados por outrem. É o que se denomina responsabilidade civil por fato ou ato de outrem, ou ainda responsabilidade civil por fato de terceiro. O fundamento dessa imposição se liga à constatação de que a responsabilidade civil seria de limitada efetividade, se em certos casos a legislação não impusesse o dever de indenizar à pessoa distinta daquela que causou o dano. Trata-se de técnica antiga. Quando alguém tem de reparar um ato causado por outrem (ou o dano causado por seu animal ou por sua coisa, como adiante veremos), bem se mostra que causalidade e responsabilidade são fatos distintos. Nessas hipóteses, respondem pelo dano não apenas quem a ele
deu causa, mas também outras pessoas, relacionadas, de algum modo, com o ofensor
2.2. RESPONSABILIDADE DOS PAIS PELOS ATOS DOS FILHOS MENORES
Os pais, à luz do direito civil, respondem pelos atos danosos dos filhos menores. Os filhos são talvez a maior fonte de alegria e sentido para a vida de muitos de nós. Há, porém, responsabilidades e preocupações, e também restrições e ônus. Um deles é o dever de indenizar os danos por eles causados. Entram, aí, danos de gravidade variada, desde o garoto que chuta a bola e atinge um carro estacionado na garagem do edifício, até danos irreversíveis e dramáticos, como quem, achando a arma do pai, atira, sem querer, em colega e o mata. Sem falar nos terríveis e praticamente diários danos causados por menores no trânsito, muitos deles com vítimas.
2.2.1. EM QUE SITUAÇÕES OS PAIS RESPONDEM PELOS ATOS DOS FILHOS MENORES?
A guarda, sem dúvida, é o primeiro fator de aferição – não, porém, o único. O pai ou a mãe que detém a guarda do filho menor é civilmente responsável pelos danos causados. Há julgados mais antigos que perfilham esse entendimento, entendendo que sem guarda não há responsabilidade civil. Essa, contudo, não parece ser a tendência contemporânea. Atualmente, mesmo o pai ou a mãe que não detém a guarda pode eventualmente responder civilmente. Sabemos que a autoridade parental não se esgota na guarda. O poder familiar compreende uma multiplicidade de deveres na relação com os filhos, como o dever de proteção, cuidado, educação e, sobretudo, de afeto
2.2.2. SOLIDARIEDADE OU SUBSIDIARIEDADE: A RESPONSABILIDADE DOS PAIS PELOS FILHOS MENORES
O Código Civil, art. 933, prescreve que as pessoas indicadas no art. 932 (pais, em relação aos filhos menores; tutores e curadores, em relação aos tutelados e curatelados; empregadores, em relação aos empregados; donos de hotéis e escolas, em relação aos hóspedes e alunos) respondem, ainda que não haja culpa de sua parte, pelos atos praticados pelos terceiros lá referidos. O art. 942, parágrafo único, por sua vez estabelece: “São solidariamente responsáveis com os autores e os coautores e as pessoas designadas no art. 932.”
2.2.3. OS PAIS RESPONDEM CIVILMENTE PELO DANO PRATICADO POR MENOR EMANCIPADO?
A tradição, no Brasil, era no sentido da impossibilidade do incapaz responder civilmente, ele próprio, pelos danos causados. O seu patrimônio ficava livre da responsabilidade pelos danos que provocasse. Se os bens dos responsáveis não fossem suficientes para a reparação dos danos, o dano ficaria sem reparação. O Código Civil, como sabemos, previu, no art. 928, solução diversa: “O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.”
2.3. DANOS CAUSADOS POR FILHOS MAIORES
Ospais assumem os riscos pelos danos que os filhos eventualmente causem. Se os filhos maiores não puderem responder (vale lembrar que os incapazes podem responder civilmente, em certas situações, pelos danos que causarem, à luz do art. 928 do Código Civil), os pais deverão fazê-lo. Em se tratando de filhos menores, a solução não apresenta controvérsia (Código Civil, art. 932, I; art. 933). Em se tratando de filhos maiores, a imputação da responsabilidade civil solidária aos pais pode ser a solução adequada, razoável e harmônica. Digamos o óbvio: em se tratando de responsabilidade civil, as soluções deverão sempre observar as especificidades do dano, do ofensor e da vítima. Todo o contexto fático deve ser ponderado. Enfim, diga-se, em autêntico truísmo, que cada caso é um caso.
2.4. DIREITO DE REGRESSO
Havendo responsabilidade por ato de outrem, há, em regra, em favor de quem pagou pelo dano, previsão legal de ação de regresso. Lembremos que só respondemos, em princípio, por atos próprios. A responsabilidade civil por conduta alheia é exceção e deve estar prevista ou lei ou defluir dos princípios normativos. Quando a lei, fundada em critérios de razoabilidade, impõe o dever de responder civilmente por ato de outrem, busca fundamentalmente proteger a vítima. Para evitar que a vítima se veja na situação de desamparo (sem que o dano seja ressarcido ou compensado), imputa-se, em certos casos, a responsabilidade a quem, embora não seja o autor do dano, tem, com ele, relações que pareceram ao legislador bastantes para criar o liame de responsabilidade.
2.5. A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS INCAPAZES
Essa, de fato, era a solução no direito clássico. O Código Civil de 2002, porém, modificou substancialmente a sistemática da responsabilidade civil dos incapazes. O art. 928 dispõe: “O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.” Temos, portanto, a partir do Código Civil vigente, dispositivo legal que autoriza responsabilizar pessoalmente o incapaz por um dano que cause. Duas conclusões, desde logo, extraem-se do texto legal: (a) a responsabilidade civil do incapaz, à luz do art. 928, é subsidiária; (b) a indenização, na espécie, deverá ser equitativa, e só terá lugar se não privar o incapaz do mínimo existencial.
3. RESPONSABILIDADE DOS TUTORES E CURADORES
Em princípio, aplica-se aos tutores e curadores o que dissemos a respeito da responsabilidade civil dos pais. A única linha distintiva relevante diz respeito ao direito de regresso (possível para os tutores e curadores, e vedada para os pais: Código Civil, art. 934).
4. RESPONSABILIDADE DOS EMPREGADORES PELOS ATOS DOS EMPREGADOS
Os empregadores respondem civilmente pelos atos dos seus empregados. Os danos que os empregados causem “no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele”, empenham a responsabilidade do empregador (Código Civil, art. 932, III). A expressão empregados deve ser entendida em sentido amplo, não sendo necessário que haja vínculo formal de trabalho. O Código Civil, aliás, fala em “empregados, serviçais ou prepostos”. Os empregadores, no século XXI, são fundamentalmente pessoas jurídicas, tendo-se invertido a relação que havia no passado, quando os empregadores eram, em regra, pessoas naturais. Seja como for, em qualquer dos casos, a norma incide igualmente. Conforme adiante veremos, a Igreja Católica, por exemplo, responde solidária e objetivamente pelos atos praticados pelos seus padres, agindo enquanto tal. Responde, portanto, civilmente, pelos danos causados por padre pedófilo. Os empregadores – empregada a expressão de modo amplo, repita-se –, desse modo, como que garantem o ressarcimento dos danos resultantes das ações dos empregados, desde que praticadas nessa condição.
4.1. O DANO FOI CAUSADO EM RAZÃO DA FUNÇÃO DESEMPENHADA?
É fundamental, para imputar o dever de indenizar ao empregador, que haja nexo causal entre o dano – causado pelo empregado – e o trabalho desempenhado. Apenas assim se pode, razoavelmente, exigir que o empregador indenize os prejuízos daí resultantes.
Se o empregado, durante o final de semana, com carro particular, envolve-se em acidente, não há sentido em responsabilizar o empregador. O dano, obviamente, não guarda relação com sua função como empregado. A questão, no entanto, torna-se mais complexa se o carro usado, mesmo durante os finais de semana (ou fora dos horários de trabalho), era da empresa. Responde o empregador nesses casos? A resposta deve ser afirmativa, sendo certo que se o veículo da empresa está com o empregado, ainda que ele não esteja no exercício do trabalho, o dano se estabelece em razão dele. Da mesma forma se o policial, fora do horário de serviço, porém com arma da corporação, agride alguém. O Estado responderá pelo dano
4.2. OUTRAS QUESTÕES RELEVANTES
Convém, antes de abordar outros pontos, resumir brevemente o que dissemos: os empregadores respondem civilmente pelos atos dos seus empregados. A lei exige que o dano ocorra “no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele” (Código Civil, art. 932, III). Assim, o mecânico que depois do horário de serviço subtrai o veículo sob a guarda da oficina e causa danos atrai a responsabilidade solidária de seu empregador. Se há, portanto, de algum modo, vinculação do ato do empregado com a atividade empresarial, a responsabilidade do empregador se impõe. Os empregadores respondem, sem culpa, pelas ações danosas praticadas, com culpa, pelos seus empregados. É o que o resulta do Código Civil, arts. 932, III, e art. 933. Haverá, naturalmente, nesses casos, a possibilidade do regresso contra o empregado. O direito de regresso deverá ser postulado pelo empregador pela via judicial, e não através de desconto de salário.
4.3. A TERCEIRIZAÇÃO ROMPE O NEXO CAUSAL EM RELAÇÃO AO EMPREGADOR?
Duas situações distintas podem ocorrer: (a) o empregador terceiriza determinada atividade e o empregado terceirizado causa dano a terceiro; (b) o empregado terceirizado causa dano a empregado da empresa. Em ambas as situações, sob a lente da responsabilidade civil, o empregador responderá. O que realmente importa é que a atividade esteja sendo desenvolvida no interesse do empregador, sob sua direção e vigilância. A jurisprudência é firme em responsabilizar civilmente o empregador nessas hipóteses.47 Assim, “o fato do suposto causador do ilícito ser funcionário terceirizado não exime a tomadora do serviço de sua eventual responsabilidade”
5. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ESTABELECIMENTOS EDUCACIONAIS
5.1. OS ESTABELECIMENTOS EDUCACIONAIS PRIVADOS COMO PRESTADORES DE SERVIÇO
As escolas e faculdades, como prestadoras de serviço, estão sujeitas ao Código de Defesa do Consumidor. Responderão, portanto, independentemente de culpa, pelos danos causados aos consumidores (CDC, art. 14).48 Desse modo, os estabelecimentos de ensino têm dever de segurança em relação aos alunos, no período em que estiverem sob a vigilância e autoridade da instituição (STJ, REsp 762.075, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4ª T., DJ 29.6.2009).
O Código Civil estabeleceu que são também responsáveis pela reparação civil “os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos” (Código Civil, art. 932, IV). A norma é complementada pelo art. 933, que define, de modo claro, a responsabilidade objetiva dessas pessoas mencionadas.
5.2. RESPONSABILIDADE CIVIL PELO BULLYING
As escolas são responsáveis por coibir essas práticas, podendo ser responsabilizadas pela omissão. Naturalmente que o dever de observação e zelo não se limita à sala de aula, sendo essencial, nesses casos, o cuidado com os intervalos, quando as agressões e humilhações ocorrem com maior frequência e intensidade. É um caso típico de aplicaçãoda tutela preventiva, ou inibitória (Código de Processo Civil, art. 461 § 4º; Código de Defesa do Consumidor, art. 84; Código Civil, arts. 12 e 21). Havendo indícios de tal prática, deve-se tentar, judicialmente se necessário, impedir o dano, ou quando menos sua continuação. A responsabilidade civil, por dano moral, se impõe, se não evitada a lesão ou se só interrompida quando já sofridos certos danos. Respondem, nesse caso, o estabelecimento educacional e, subsidiariamente, os pais dos menores agressores.
5.3. A POLÊMICA QUESTÃO DO DIREITO DE REGRESSO
Os estabelecimentos de ensino respondem sem culpa pelos danos que causem a terceiros, se o dano tiver sido praticado por empregado agindo em razão do trabalho. Respondem, também, pelos danos causados por alunos? Em linha de princípio, as escolas respondem pelos danos que seus alunos, nessa qualidade, causem a terceiros ou mesmo a outros alunos. Digamos que um grupo de alunos se reúne para, no intervalo das aulas, atirar pedras, de dentro da escola, nos carros que passam na rua. A escola, nessa hipótese, responde objetivamente pelos danos porventura causados. Questão delicada – que exige grandes doses de razoabilidade – diz respeito ao direito de regresso. A obrigação da escola de responder pelo dano é induvidosa. Porém, uma vez ressarcido, contra quem o estabelecimento de ensino poderia, em regresso, voltar-se? Se, por um lado, tais empresas assumem o risco da atividade, por outro lado essa responsabilização pode se mostrar excessiva, pois os professores não podem suprir posturas agressivas e hostis, resultantes de uma educação (na verdade, a falta dela) conduzida com pouco zelo pelos pais.
6. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS HOTELEIROS E ESTABELECIMENTOS ANÁLOGOS
6.1. CONTEXTUALIZAÇÃO NORMATIVA E SITUAÇÕES POSSÍVEIS
As empresas que exploram o turismo, como os hotéis e pousadas, são prestadoras de serviços, e os danos que eventualmente causem estão sujeitos à disciplina do Código de Defesa do Consumidor (CDC, art. 14). O Código Civil, no entanto, em relação aos donos de hotéis, criou no art. 932 – tal como fazia o Código revogado – uma modalidade de responsabilidade por ato de outrem. Nessa hipótese, quem causa dano não é o hotel, por um serviço defeituoso (chuveiro que queima hóspede), ou um empregado seu (mensageiro que furta bagagem de hóspede).56 Nesses casos, meramente exemplificativos, a responsabilidade, induvidosamente, rege-se pelo Código de Defesa do Consumidor.
Diferente, contudo, a hipótese do Código Civil. Nessa o dano é causado pelo hóspede! É por esse dano que o Código Civil responsabiliza os donos de hotéis (tal expressão, um tanto subjetiva, não fica bem no Código Civil, tradutor de um tempo em que a atividade hoteleira é fundamentalmente empresarial, não raro exercida por sociedades anônimas). Quem serão as vítimas desses danos? Divisamos três possíveis lesados: (a) outros hóspedes; (b) funcionários do hotel; (c) terceiros.
6.1.1. DANOS CAUSADOS A HÓSPEDES
É preciso cuidado, porém, para identificar – como a jurisprudência, eventualmente, faz – situações em que o hotel tenha sido apenas o cenário, por assim dizer, do dano, sem relação causal com a atividade hoteleira (poderíamos falar em ocasião do dano, não a sua causa). Digamos que um ex-marido, inconformado com a separação, se hospeda no mesmo hotel da antiga esposa, e dispara um tiro contra ela num dos corredores. Seria de se indagar se caberia responsabilizar o estabelecimento pelos danos resultantes do homicídio passional (a mesma indagação se colocaria se o casal discute dentro de um avião ou ônibus e ele a agride). Em hipóteses semelhantes, o hotel seria mera ocasião para que ocorresse o dano, não a sua causa, já que o fato poderia ocorrer em qualquer lugar. É preciso fundamentalmente verificar, de modo contextualizado, se o dano guarda relação com a atividade exercida, inclusive com as legítimas expectativas construídas – de segurança, de cortesia, de conforto, de tranquilidade, entre outras.
6.1.2. DANOS CAUSADOS A EMPREGADOS DO HOTEL
A solução que propomos para harmonizar o sistema é a seguinte: sempre que houver nexo causal entre o dano sofrido pelo funcionário – qualquer que seja o ramo em que trabalhe – e a atividade exercida, haverá responsabilidade objetiva do empregador, à luz da teoria do risco (Código Civil, art. 927, parágrafo único). Sem falar que são sempre bem-vindas técnicas e categorias hermenêuticas que otimizem a reparação, protegendo a vítima. Isso, naturalmente, sob o ângulo civil. As normas trabalhistas são particularmente protetivas, enxergando a vulnerabilidade de um dos polos da relação.
6.1.3. DANOS CAUSADOS A TERCEIROS
Conforme já sinalizamos anteriormente, os hóspedes podem, também, causar danos a terceiros. Se um hóspede – cantor de famosa banda de rock – atira, como aconteceu há algum tempo, uma cadeira pela janela do hotel, causando danos a alguém que passa na rua, o hotel responde, ainda que possa – repita-se com o perdão da obviedade – cobrar depois do inconsequente roqueiro. Cabe ressaltar, contudo, que deve haver uma relação direta entre a condição de hóspede e o dano (como exemplificado no caso anterior). Sem isso o hotel não responderá. Se três estrangeiros se hospedam em hotel no Rio de Janeiro e à noite, em casa noturna, embriagados, envolvem-se em confusão e causam danos, o hotel, certamente, não pode ser chamado a responder, pois o dano não resultou da condição de hóspedes.
7. RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DOS PRODUTOS DO CRIME
O Código Civil (art. 932, V) prevê que também são responsáveis pela reparação civil “os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia”. Trata-se, a rigor, de disposição desnecessária, embora o legislador tenha entendido adequado repetir tal regra, que já constava no Código de 1916 (actio in rem verso).
	CAPÍTULO II
 RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO DA COISA
1. CONSTRUINDO NEXOS DE IMPUTAÇÃO ENTRE PESSOAS E COISAS
A responsabilidade civil opera, em boa medida, ligando ações humanas a certas consequências. A empresa que poluiu o rio deverá indenizar os danos, o motorista que dirigiu de modo imprudente (e causou danos) deverá indenizar a vítima, o fornecedor cujos serviços lesionam consumidor, contrariando expectativa de segurança, responderá pelas lesões. Mas não são só ações humanas que ensejam responsabilidade civil. Também, em certos casos, uma coisa poderá desencadear o mecanismo indenizatório
2. DANOS DECORRENTES DE ANIMAIS (CÓDIGO CIVIL, ART. 936)
Os animais foram objeto de preocupação do Código Civil, mas apenas no que poderiam causar danos a outrem. Estabeleceu-se que “o dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior” (Código Civil, art. 936). Nessa hipótese, haverá responsabilidade, sem que a vítima precise provar a culpa do dono do animal (responsabilidade objetiva, portanto). O dono do animal, porém, poderá se livrar da indenização caso consiga assentar uma das duas excludentes: (a) caso fortuito ou força maior; (b) culpa exclusiva da vítima.
2.1. DANOS CAUSADOS POR ANIMAIS NAS RODOVIAS
Os donos de animais devem diligenciar para impedir que tais animais, escapando do cercado, atinjam as rodovias, causando danos. Se o dano porventura se instala, os lesados devem provar – o que nem sempre é fácil – o nexo causal, isto é, que o animal pertence a determinada pessoa. Essa responsabilidade não exclui a do poder público, a quem incumbe – seja por meio de autarquias, seja por meio de concessionárias ou permissionárias – zelar por um trânsito seguro. São comuns, na jurisprudência, os julgados que responsabilizam o Estado em situações semelhantes. Entende-se que
houve omissão no dever de fiscalizar. Nesse sentido, a morte de menor em acidente automobilístico, em virtude de animal na pista, obriga o Estado indenizar os danos morais sofridos (STJ, AgRg no REsp 1.247.453, Rel. Min. Arnaldo Esteves, 1ª T., DJ 22.5.2012). Se a rodovia foi privatizada, responde a concessionária.Cabe a elas zelar pela segurança das rodovias, respondendo civilmente por acidentes causados aos usuários em razão da presença de animais (STJ, REsp 573.260, Rel. Min. Aldir Passarinho, 4ª T., DJ 27.10.2009).
3. DANOS DECORRENTES DE EDIFÍCIO OU CONSTRUÇÃO (CÓDIGO CIVIL, ART. 937)
O proprietário do edifício responde pelos danos que resultarem de sua ruína. Por edifício, aí, devemos entender não só as partes fixas do prédio, mas também as móveis, como os elevadores. A responsabilidade, nessa hipótese, será do dono do imóvel, não lhe aproveitando a alegação de culpa do construtor. É certo que o dono do imóvel – tendo indenizado a vítima – poderá voltar-se, em regresso, contra o construtor, se o dano guardar nexo causal com sua atividade.11 O Código Civil, a respeito, enuncia: “O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta” (Código Civil, art. 937).
4. DANOS DECORRENTES DE COISAS LANÇADAS OU CAÍDAS DE PRÉDIOS (CÓDIGO CIVIL, ART. 938)
O Código Civil estatui: “Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.” Temos, nesse artigo, hipótese de responsabilidade objetiva14 que abrange o locatário, o usufrutuário, ou quem, a qualquer título, mesmo gratuito, resida no imóvel. Trata-se da clássica actio de effusis et dejectis. O Código Civil reproduziu, na matéria, dispositivo do Código Civil de 1916 – substituindo, porém, a palavra casa por prédio, que melhor atende às exigências contemporâneas.
4.1. A QUEDA ANÔNIMA
Nem sempre a vítima poderá identificar a origem do objeto que a atingiu. É possível – diríamos: até comum, em casos assim – que não se saiba de onde partiu a coisa causadora do dano. Responsabiliza-se, nesse caso, o condomínio, sem prejuízo da ação de regresso contra o causador do dano15 (se posteriormente identificado). A jurisprudência brasileira, tradicionalmente, coloca-se nesse sentido.16 Havendo, portanto, anonimato do causador do dano, responsabiliza-se – na hipótese do Código Civil, art. 938 – o condomínio. É a solução harmônica com a teoria do risco (Código Civil, art. 927, parágrafo único), aliada à tendência, constitucionalmente conforme, de não deixar a vítima desamparada.
4.2. OUTRAS HIPÓTESES POSSÍVEIS DE INCIDÊNCIA DO ART. 938
Fundamental – em qualquer caso de responsabilidade civil – são as circunstâncias em que se deram os fatos. Digamos que alguém se suicida com arma de outrem. Não seria razoável imputar, automaticamente, as consequências civis do dano terrível ao dono da arma. É necessária toda uma análise de pormenores (como se dava a guarda da arma; se havia acesso facilitado a crianças; se era regular). As circunstâncias podem fazer mais ou menos clara a responsabilidade (imaginemos que o dono da arma tinha um histórico de brincadeiras imprudentes com o revólver, inclusive na frente daquele que veio a se suicidar. Se isso não basta, por si só, para responsabilizá-lo pelo dano, é certo que houve alguma imprudência na conduta). Seja como for, a teoria da guarda da coisa supõe, como pano de fundo, que a pessoa apontada como guardião da coisa tenha, pelo menos, algum comando ou governabilidade sobre ela.
5. RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DA GUARDA DE VEÍCULOS
5.1. A TEORIA DA GUARDA DA COISA E O EMPRÉSTIMO DE VEÍCULOS (DANOS CAUSADOS PELO COMODATÁRIO)
O STJ tem sólida jurisprudência que entende ser civilmente responsável o proprietário do veículo pelos danos causados por terceiro, de modo culposo, no uso no carro. Naturalmente, o uso precisará ter sido consentido.22 Conforme veremos adiante, o dono do carro não responde pelos danos causados se o carro foi roubado ou furtado. É relevante verificar quem detinha a condição de guardião da coisa, o que não se verifica apenas a partir do comando físico (motorista empregado da família), mas, em muitos casos, a partir do comando intelectual, do poder de direção (o motorista empregado emprestou o veículo a um menor, mas cumprindo ordem do patrão). Importante sempre lembrar que – tal como ocorre com o empregador em relação ao empregado, Código Civil, art. 932, III – o dono do veículo só responde pelo dano se houver culpa de quem estiver dirigindo o seu veículo. É preciso, no caso concreto, a prova da culpa do condutor (negligência, imperícia ou imprudência).
5.2. SOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL BRASILEIRA: O CRITÉRIO DA PRESUNÇÃO DE CULPA
A teoria da guarda da coisa inanimada foi fruto do engenho teórico dos franceses para responsabilizar os patrões pelos acidentes de trabalho causados por suas máquinas. Essa foi sua origem, aplicada, posteriormente, de modo crescente, a outras situações. Seu fundamento, porém, foi oportuno e razoável: não deixar sem reparação as vítimas de acidentes de trabalho, as quais, por outro modo, ficariam sem ressarcimento, pois não conseguiriam provar a culpa do empregador. Não há razão para que nos acorrentemos, de modo insensato, a ficções forjadas em outros contextos sociais. A aplicação desmedida da teoria da guarda da coisa, sem critérios, conduz a injustiças desconformes com nossa ordem constitucional. Deve arcar com os riscos quem usufrui das vantagens da atividade. Alvino Lima, a respeito, argumenta: “A teoria do risco não se justifica desde que não haja proveito para o agente causador do dano, porquanto, se o proveito é a razão de ser justificadora de arcar o agente com os riscos, na sua ausência deixa de ter fundamento a teoria.”
5.3. OUTRAS SITUAÇÕES POSSÍVEIS
5.3.1. CARROS CEDIDOS ONEROSAMENTE NO EXERCÍCIO DE ATIVIDADE EMPRESARIAL
As locadoras de veículo são fornecedoras de serviço, à luz do CDC (art. 14). Respondem, pois, objetivamente, perante os consumidores, pelos danos vinculados à sua atividade. Criação jurisprudencial que consagrou – antes do Código Civil vigente e à revelia de texto expresso – a teoria do risco (em relação ao fato da coisa) foi relativa à responsabilidade civil das empresas locadoras de veículo. O STF, através da Súmula 492, estabeleceu: “A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o locatário, pelos danos por este causados a terceiro, no uso do carro locado.”
Não resulta de texto expresso. Foi construção jurisprudencial, excessivamente gravosa, segundo alguns, porque destoaria dos paradigmas da responsabilidade civil presentes na ordem jurídica brasileira. Todavia, é imperioso notar que se antes inexistia base normativa para essa atribuição, agora, por intermédio do art. 927, parágrafo único, do Código Civil, podemos conectá-la com a teoria do risco (que foi o eixo argumentativo dos acórdãos que lastrearam a edição da súmula).
A teoria do risco (Código Civil, art. 927, parágrafo único) perfaz uma cláusula geral cujo conteúdo só a jurisprudência, com o correr dos danos, enriquecida pelos casos concretos, definirá. Definir o que seja atividade de risco não é fácil. Tudo, em certa medida, no século XXI, envolve algum grau de risco. Para alguns autores a atividade de locar veículos é “inquestionavelmente” uma atividade de risco.
5.3.2. DANOS PROVOCADOS NO USO DE VEÍCULO ROUBADO OU FURTADO
Poucas coisas são tão comuns, nas grandes cidades, do que o roubo ou furto de veículos. Possivelmente a grande maioria de nós já teve familiares ou conhecidos que sofreram esse dano – quando não passaram pessoalmente por isso. A questão, neste livro, não nos interessa sob o ângulo criminal, mas apenas as consequências civis do roubo ou furto. Particularmente no que se refere a eventuais danos praticados, pelo criminoso, posteriormente ao crime, dirigindo o veículo.
5.3.3. O CARRO COMO INSTRUMENTO DO DANO (TEORIA DO CORPO NEUTRO)
O STJ já se manifestou no sentido que defendemos. Se não há ação ou omissão ligada ao resultado danoso, não há responsabilidade civil. Se o carro foi mero agente físico dos prejuízos, seu condutor não poderá, sem absurdo lógico, ser responsabilizado. Essa será a solução adequada sempre que inexista ação ou omissão que ligue, em nexo causal,alguém aos resultados danosos. Se, em sofisticada recepção, alguém bêbado empurra agressivamente o garçom, que cai sobre valiosíssimo vaso de cristal, o autor do dano, por óbvio, foi o bêbado, não o garçom. Nem sempre o “causador direto” do dano será o responsável civil. É, às vezes, apenas objeto da ação de terceiro, este o verdadeiro causador e por isso civilmente responsável.
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