Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Tratamento para ansiedade Normalmente o tratamento para ansiedade é feito associando o uso de fármacos à psicoterapia, com psicólogos e/ou psiquiatras. Os fármacos mais utilizados incluem os ansiolíticos, antidepressivos e antipsicóticos. É interessante pontuar que alguns ansiolíticos são utilizados também no tratamento da insônia, visto que alguns desses medicamentos têm efeito sedativo/hipnótico. A interferência farmacológica no funcionamento natural do sistema nervoso, potencializando a liberação ou ação de determinados neurotransmissores, normalmente gera respostas adaptativas secundárias. Isso ocorre, por exemplo, quando o aumento da liberação de certo neurotransmissor é contrabalanceado pela inibição da síntese deste neurotransmissor. Essas respostas demandam certo tempo para se apresentarem, pois dependem de alterações nos genes, e isso explica o fato de que os efeitos terapêuticos de algumas classes de psicofármacos geralmente aparecem após algumas semanas de tratamento. Esses efeitos secundários devem ser levados em consideração na escolha da terapêutica, bem como todas as particularidades do paciente. A ansiedade gera uma supressão comportamental em resposta aos eventos que são novos, não-recompensadores (quando a recompensa é esperada) ou relacionados à punição. Os ansiolíticos, então, buscam diminuir esse efeito supressor, evitando alguns efeitos comportamentais gerados pela ansiedade. Além disso, quando um estímulo é repetido em intervalos, a grandeza da resposta diminui (hábito), o que normalmente não ocorre em pacientes ansiosos. Assim, os ansiolíticos também tentam aumentar a taxa de hábito, ou seja, diminuir a resposta gerada pelo estímulo. Os principais grupos de fármacos ansiolíticos são os benzodiazepínicos, buspirona e barbituratos. Benzodiazepínicos: Essa é a classe de fármacos mais usada para tratar ansiedade e insônia. Atualmente existem cerca de 20 benzodiazepínicos disponíveis para o uso clínico, os quais são bem parecidos em seus efeitos, apresentando por vezes alguma seletividade, por exemplo, o clonazepam apresenta efeito anticonvulsivo com sedação menos efetiva, porém pouco eficaz para insônia. Os benzodiazepínicos atuam sobre os receptores A do GABA (GABAA), que mediam a transmissão inibitória rápida no SNC. Esses fármacos potencializam a resposta ao GABA facilitando a abertura dos canais de cloreto ativados por esse neurotransmissor. O receptor GABAA tem muitas combinações diferentes nas distintas partes do cérebro, o que lhe confere diversas funcionalidades. Essas diferentes combinações dos receptores GABAA podem ser alvo de fármacos com maiores especificidades, permitindo que alguns benzodiazepínicos, por exemplo, causem mais ou menos efeito sedativo. Os principais efeitos dos benzodiazepínicos são a redução da ansiedade e da agressão, sedação e indução do sono (efeito hipnótico), redução do tônus muscular e da coordenação e efeito anticonvulsivante. Em relação aos seus efeitos hipnóticos, os benzodiazepínicos diminuem o tempo para começar a dormir e aumentam a duração do sono, no entanto, diferente das outras classes de hipnóticos, esses fármacos afetam menos o sono REM, o que é uma vantagem, pois a interrupção do sono REM costuma causar irritabilidade e ansiedade. Apesar disso, o uso crônico de benzodiazepínicos para tratar insônia não é indicado, devido à tolerância, dependência e efeitos de ressaca. Entre os efeitos colaterais dessas medicações, pode-se destacar a amnésia retrógrada, demência, sedação intensa, confusão mental e depressão respiratória. Buspirona: A buspirona é um agonista parcial dos receptores de serotonina (5- HTIA), reduzindo assim a liberação desse neurotransmissor. Além disso, esse fármaco inibe a atividade de neurônios noradrenérgicos do locus coereleus, e assim age nas reações de despertar. A buspirona não é eficaz no controle dos ataques de pânico, e demora dias ou semanas para mostrar efeitos nos indivíduos. Além disso, não causam sedação nem perda da coordenação motora. Seus efeitos colaterais incluem náuseas, cefaleia e tontura mais branda que os benzodiazepínicos. Locus coereleus é uma estrutura formada por um grupo de neurônios adrenérgicos mais proeminente, localizado na ponte e relacionado com o controle descendente das vias de dor, ou seja, das vias que saem dos núcleos cerebrais para a periferia. Barbitúricos: Os barbitúricos possuem ação depressora sobre o SNC, causando efeitos similares aos anestésicos inalatórios utilizados em procedimentos cirúrgicos. Entre seus efeitos indesejáveis está morte por depressão respiratória e cardiovascular quando utilizados em altas doses, e por isso atualmente são menos utilizados no tratamento da ansiedade e insônia. Os barbitúricos que permanecem em uso possuem ação específica, como o fenobarbital, utilizado como anticonvulsivo, e o tiopental, utilizado como anestésico intravenoso. Assim como os benzodiazepínicos, essa classe de fármacos aumenta a ação do GABA, porém se ligam a um sítio diferente no receptor GABAA/canal de cloreto, e desempenha ação mais especializada. Uma grande desvantagem dos barbitúricos é que geram um alto grau de tolerância e dependência e influenciam na síntese do citocromo P-450 hepático, aumentando a velocidade de degradação de vários fármacos e apresentando alta interação medicamentosa. Outros: Os antidepressivos utilizados no tratamento dos transtornos de ansiedade incluem as classes de inibidores da captação de monoaminas, inibidores da MAO e antidepressivos variados (bupropriona). Os inibidores da captação de monoaminas podem ser antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos da captação de serotonina ou inibidores de noraepinefrina e serotonina. Os antidepressivos tricíclicos foram inicialmente desenvolvidos como antipsicóticos, e atuam no controle autônomo, retendo as aminas por mais tempo na fenda sináptica. O tricíclico mais utilizado no tratamento da ansiedade é a fluoxetina, cujo efeito está relacionado com a potencialização da transmissão mediada pela serotonina. É sabido que os ansiolíticos normalmente aliviam os sintomas agudos de ansiedade, porém a sua eficácia a longo prazo e efeitos colaterais ainda não são bem esclarecidos, e por isso os medicamentos antidepressivos são muito utilizados no tratamento da ansiedade. Tratamento não-farmacológico: Associado ao tratamento farmacológico, são indicadas as psicoterapias cognitivo comportamentais, que se baseiam nos princípios da teoria da aprendizagem, extinguem o comportamento inútil e reforçam o comportamento mais funcional, ajudando o paciente a aprender a identificar e corrigir os padrões disfuncionais de pensamento, os quais desencadeiam as respostas da ansiedade patológica. Essas terapias podem inclusive ser a única terapêutica em alguns casos de transtorno ansioso, principalmente para fobias específicas, e podem ser parte da terapia em família ou em grupo, a terapia em família buscar ajudar as pessoas que convivem com o paciente a evitarem comportamentos que desencadeiam os sintomas do paciente. A maioria dos pacientes que sofrem com transtornos de ansiedade apresentam um curso clínico de aumento e diminuição dos sintomas. Com isso, é importante a terapia de manutenção em pacientes com distúrbios mais crônicos. Eduarda Faganello
Compartilhar