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TRATAMENTO DAS INFECÇÕES HERPÉTICAS – FARMACOLOGIA – MEDICINA UFCSPA •Vírus: Antes de mais nada, precisamos revisar alguns conceitos básicos dos vírus. Eles são micro- organismos obrigatoriamente intracelulares, e dependem dos recursos da célula para sobreviver e reproduzir. Podemos classificar os patogênicos naqueles que carregam DNA e naqueles cujo material genético é o RNA. Apenas à guisa de citação, os primeiros incluem os Poxvírus (varíola e molusco contagioso), Herpes vírus (simples, zoster e citomegalovírus), Adenovírus (faringite e conjuntivites, papilomavírus (verrugas) e hepadnavírus (hepatite B); já os segundos, de RNA, incluem Rubella vírus (rubéola), Orthomixovírus (influenza), Paramixovírus (sarampo e caxumba), Rhabdovírus (raiva), Picornavírus (pólio, resfriados, meningite, hepatite A), Retrovírus (AIDS e leucemia de células T), Arenavírus (Meningite e febre de Lassa), Arbovírus (encefalite) e Flavivírus (febre amarela e hepatite C). Em relação aos coronavírus, que ficaram tão famosos com o advento da pandemia do COVID, a sua especificidade morfológica refere-se ao envelope lipídico que se projeta, dando o aspecto de coroa. Apenas a título de curiosidade, a figura abaixo simplifica as epidemias que ocorreram com esses vírus. Em relação ao mecanismo de ação dos fármacos envolvidos com o ataque a vírus, separamos a tabela abaixo como síntese da temática. •Família herpesviridae: a intenção desse resumo não é tratar das doenças em si, apenas citaremos que o Herpes Simples tipo 1 acomete boca, pele, esôfago e cérebro, enquanto que o Herpes Simples tipo 2 causa lesões em genitais, reto, pele e SNC. Já o Herpes zoster / varicela zoster vírus (VZV) é um pouco mais severo nas lesões, acometendo pele e mucosas. Por fim o citomegalovírus (CMV) causa diversos sintomas, especialmente se houver infecção congênita. Os fármacos utilizados no tratamento dessas infecções, portanto, são todos inibidores da DNA polimerase. Seriam eles: aciclovir / valaciclovir, fanciclovir / penciclovir, ganciclovir / valganciclovir, cidofovir, forcarnet e trifluridina / idoxuridina. •Aciclovir (AC)/ valaciclovir (VAN): o mecanismo de ação dessa droga consiste, basicamente, na inibição competitiva da DNA polimerase e incorporação do aciclovir trifosfato no DNA viral, bloqueando, assim, a síntese de DNA. Como pode ser elucidado na imagem abaixo. -Farmacocinética: a biodisponibilidade (BD) do aciclovir é baixa (10 a 30%), a despeito da BD do valaciclovir que é alta (55-70%). Este último é uma pró-droga, que rapidamente se transforma em aciclovir. A distribuição é ampla, com 20% de ligação às proteínas plasmáticas (pp). O tempo de meia vida é de 3 horas, podendo chegar a 20 horas no anúrico. A excreção, assim, se dá por filtração glomerular e secreção tubular (91% da droga não é metabolizada). -Reações adversas: no uso tópico, é contraindicado em mucosa genital por causa de ardência. Em relação ao uso IV, pode ter até 4% de risco de neurotoxicidade, principalmente se houver disfunção renal, sendo os principais sintoma letargia, confusão mental, tremores e convulsões. Há 5% de chance, ainda, de causar disfunção renal reversível (cristalúria em crianças). Os efeitos por VO não são comuns, entretanto pode causar diversas outras manifestações, como náusea, vômito, rash, neurotoxicidade e neutropenia. A droga é categoria B para gestantes. -Interações medicamentosas: resumidas na tabela abaixo. Zidovudina Causa sonolência e letargia Probenicida Baixa depuração renal e aumenta a concentração plasmática do aciclovir Ciclosporinas Aumenta o risco de neurotoxicidade Metotrexato Baixa a depuração renal do metotrexato -Uso clínico: possuem maior atividade contra HSV1; são menos eficazes em HSV2 e pouco eficazes em VZV, EBV e CMV. É a primeira escolha para HSV e VZV. Valaciclovir: 500 mg/cp → a caixa com 10 cp custa em média 140 reais. Aciclovir: 400mg/cp → caixa com 30 custa em média 100 reais. -Herpes genital: o tratamento no primeiro episódio é mais eficaz do que nos próximos. A primeira escolha é aciclovir 200mg 5x ao dia durante 10 dias ou VAL 1g 2x ao dia durante 10 dias. Se for Herpes genital recorrente, usar metade da dose e dos dias. Para profilaxia, usa-se AC 400mg 2x/dia ou 200mg 3x/dia. -Herpes labial: trata-se a crise e também como terapia supressiva crônica. Utiliza-se VAL 2g 2x/dia (um dia de tratamento). Pode ser feita uma profilaxia antes da exposição ao sol, que consiste em AC 400 mg 2x/dia, durante 7 dias (diminui 73% das recorrências). -Ceratoconjuntivite herpética: aciclovir (tratamento tópico é melhor que sistêmico). -Infecções mucocutâneas HSV em imunossuprimidos: há 3 opções de tratamento: 1) AC IV 250 mg/mm² 3x/dia durante 7 dias; 2) AC oral 800 mg 5x/dia; e 3) VAL 1g 2x/dia, durante 5-10 dias. -Uso profilático em imunossuprimidos: em transplantados de medula óssea, usa-se AC IV antes e após por várias semanas. Em caso de HIV positivo, VAL 500 mg 2x/dia para profilaxia do herpes genital. -Encefalite por HSV: AC 10 mg/Kg 3x/dia durante 10 dias (reduz mortalidade em 50%). -Infecções por VZV: nesses pacientes há a necessidade de doses mais altas. Em caso de varicela no adolescente ou adulto, o AC é eficaz se usado em até 24 horas após o aparecimento do rash, reduzindo a febre e o tempo das lesões. AC 800 mg 5x/dia, durante 7 dias. No herpes zoster, o ideal é iniciar em até 72 horas do rash (acelera resolução e reduz a dor). Deve ser administrado, então, AC 800 mg 5x/dia durante 7 dias. -Infecções por CMV: são ineficazes para tratamento, sendo usados apenas na profilaxia para transplantados. -Resistência ao aciclovir: ocorre por dois mecanismos: o principal é ausência de atividade da timedina cinase e o outro seria a mutação da DNA polimerase (raro). Vai acontecer, assim, em torno de 0,1-0,7% em pacientes imunocompetentes e na taxa de 4-14% em imunocomprometidos. Na presença da resistência, então, deve ser usado foscarnet ou cidofovir. •Penciclovir (PEN) e Famciclovir (FC): o PEN é análogo da guanina, por isso seu espectro de ação sobre o HSV é semelhante ao AC. É menos potente, no entanto, que o AC, em inibir a DNA polimerase, mas atinge maiores níveis intracelulares e permanece por mais tempo nas células infectadas. O FC é a pró-droga que, após fosforilada e ativada, se torna a penciclovir. -Farmacocinética: uso tópico ou IV apenas para o PEN. Já o FC consegue, a partir da metabolização do fígado, ser viável em via oral, já que sua biodisponibilidade chega a 77%. O tempo de meia-vida é de 7-20 horas e a ligação às proteínas plasmáticas (pp) é de 20%. É importante destacar que 70% da droga não metabolizada é excretada no rim (passível de excreção por hemodiálise). Não há interações medicamentosas de relevância. -Uso clínico: usado em tratamento por infecções de HSV e VZV. Para tratamento de herpes orolabial, usar PEN tópico a cada 2 horas por 4 dias (reduz sintomas e acelera cicatrização). Em caso de estomatite herpética, usar FC VO em dose única de 1500 mg (reduz o tempo do surto). No herpes genital, FC VO 250 mg 3x/dia durante 5-10 dias – diminuir dose pela metade se for recorrente. Em infecções mucocutâneas pelo HSV, em pacientes HIV positivos: 500 mg 2x/dia – 7 dias (eficácia similar ao AC). Ao que se refere a pacientes com Zoster e imunodeprimidos, usar FC 500 mg 3x/dia – 7-10 dias (eficácia similar ao AC). O uso IV com a PEN é reservada a infecções pelo HSV nos imunocomprometidos. -Efeitos adversos: no geral são bem tolerados. Por via oral, a droga pode causar cefaleia, fadiga e diarreia. Neutropenia e aumento de transaminases, no entanto, são identificados em 5% dos pacientes. -Resistência: similar aos mecanismos e às taxas do aciclovir, descrito acima. •Ganciclovir (GAN) e Valganciclovir (VG): o GAN difere do AC apenas por uma cadeia lateral e o VG é um éster que se torna GAN depoisde administrado oralmente (pró-droga). -Farmacocinética: VG é o único viável via oral. O tempo de meia-vida é de 16 a 24 horas. 90% da droga sofre filtração glomerular e secreção tubular. -Usos clínicos: boa atividade contra herpes vírus e muito bom para CMV (prevenção e tratamento de retinite). Se usa GAN IV inicialmente 2,5 mg/Kg e depois se mantém VG 9mgmm² via oral por 10-21 dias. Enquanto profilaxia, é de uso obrigatório em paciente soropositivo para CMV e recipiente/portador de transplante de medula óssea, rim, fígado e pulmão. -Efeitos adversos: mielosupressão é o efeito mais temido. Em 24 a 40% dos casos ocorre neutropenia reversível; 5 a 20% trombocitopenia (pacientes com HIV); 5 a 15% haverá cefaleia, quadros psicóticos e estados confusionais, convulsões e coma. Outros sintomas comuns são diarréia e nefrotoxicidade, anemia, rash, febre, vômito e alteração de transaminases. -Interações medicamentosas: •Cidofovir: inibe competitivamente a DNA polimerase viral e a síntese de DNA do CMV e HSV. Além disso, inibe algumas cepas de HSV e VZV resistentes a AC, além de CMV resistente a GAN e, ainda, algumas cepas de CMV resistentes a Foscarnet. Possui efeito sinérgico com GAN ou Foscarnet sobre o CMV. Altas concentrações intracelulares prevêm maior tempo de meia-vida. -Farmacocinética: o melhor uso é IV, com 7% de ligação às pp. 90% da droga é eliminada pelos rins sem ser metabolizada. O tempo de meia-vida é de 2,6 horas, mas depende da concentração intracelular. -Uso clínico: utiliza-se na retinite por CMV resistente a GAN ou resistentes a FC em pacientes com SIDA. Também é usado em caso de papilomavírus em pacientes com SIDA. -Efeitos adversos: nefrotoxicidade pode ocorrer em uso continuo. Quadros de neutropenia ocorrem em até 15-20% dos casos. Outros efeitos comuns são diarreia, astenia, náusea, vômito, febre e rash. -Interações medicamentosas: contraindicado em uso concomitante com drogas nefrotóxicas. O uso com probecinida modifica a excreção renal e outros fármacos precisam ter suas doses ajustadas por conta disso. •Foscarnet: inibe a DNA polimerases do HSV e a transcriptase reversa do HIV. -Farmacocinética: é de uso IV com 15% de ligação às pp. É excretado sem metabolização (80%) pelos rins. O tempo de vida é de 2-3 horas e pode haver deposição óssea. Didanosina e zidovudina. Aumenta concentração dessas drogas Zidovudina e outras drogas mielotóxicas Aumenta o risco para mielotoxicidade Drogas nefrotóxicas Aumenta o risco para toxicidade renal -Uso clínico: tratamento da retinite por CMV, incluindo infecções resistentes ao GAN e infecções por HSV e VZV resistentes ao AC. -Reações adversas: Nefrotoxicidade e hipocalcemia sintomática são os principais efeitos adversos (dependem da dose). Outros sintomas frequentes (50%) são: diarreia, rash, cefaleia, náusea ou vômito, fadiga, ulcerações genitais dolorosas e anemia (SIDA). -Interações: não administrar junto a agentes nefrotóxicos. A pentamidina, ademais, aumenta o risco de hipocalcemia. A densidade de todas essas informações certamente ofusca a clareza. Assim, separamos uma tabela que sintetiza, em fins práticos, os conceitos tratados:
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