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Lara Torres Pinto Brito – SESSÃO TUTORAL OBJETIVOS DO CASO Bases anatômicas: articulações, ossos e adjacências Bases fisiológicas: articulações, biomecânica, resposta inflamatória Bioquímica: metabolismo do líquido sinovial (proteoglicanos e colágeno) Farmacologia: AINES, corticóides, imunossupressores Neurociências: acometimento nervoso por compressão nas patologias articulares, uso da eletroneuromiografia BMC: condrócitos, remodelação óssea, líquido sinovial Humanismo: dores crônicas/articulares como limitação na vida do paciente Exames complementares: provas de atividade inflamatória, triagem para doenças reumáticas, estudo radiológico, tomografia e ressonância na avaliação das articulações ANATOMIA O sistema musculoesquelético inclui os ossos, as articulações e os músculos do corpo, juntamente com as estruturas associadas, como ligamentos e tendões. Um bebê humano nasce com mais de 300 ossos. Conforme o ser humano envelhece, alguns ossos se fundem, de modo que um adulto tem cerca de 206 ossos. OSSOS O sistema esquelético pode ser dividido em duas partes funcionais: 1.Esqueleto axial - formado pelos ossos da cabeça (crânio), pescoço (hioide e vértebras cervicais) e tronco (costelas, esterno, vértebras e sacro) 2.Esqueleto apendicular - formado pelos ossos dos membros, inclusive aqueles que formam os cíngulos dos membros superiores e dos membros inferiores. É um tecido conjuntivo mineralizado altamente vascular: a grande maioria das suas células está inclusa em uma matriz extracelular composta de materiais orgânicos e sais inorgânicos ricos em cálcio e fosfato. Possui como principais funções: Sustentação para o corpo e suas cavidades vitais; Proteção para estruturas vitais (p. ex., o coração); Base mecânica do movimento (alavanca); Dor Articular Nicolas Machado tem 48 anos e chega ao ambulatório com queixa de dor articular em membro inferior há 30 dias. Refere que no início sentia apenas um incômodo no tornozelo direito, mas evoluiu com vermelhidão e inchaço há 2 dias. O paciente joga futebol no fim de semana e tomou um corte superficial com birro de chuteira há 6 semanas. Refere ser pré diabético, mas nunca usou medicação. Ao exame, paciente em bom estado geral e nutricional, afebril, com dificuldade de deambular devido à dor no tornozelo. TA 130 x 85 mmHg. PR 85 bpm. AR e ACV: sem alterações. Abdômen: globoso às custas de panículo adiposo, sem visceromegalias. Extremidades: edema de tornozelo direito, com hiperemia e aumento de temperatura no local, com dor intensa à palpação e limitação de movimento. Paciente refere que fez uso de chá de aroeira e colocou banha de porco no local, mas que não obteve melhora. SESSÃO TUTORAL 2 | SESSÃO TUTORAL Armazenamento de sais (p. ex., cálcio); Suprimento contínuo de novas células sanguíneas (produzidas pela medula óssea presente na cavidade medular de muitos ossos). Quanto à sua composição, são divididos em compactos externamente e esponjosos internamente, no meio do qual se encontra a medula óssea amarela (gordurosa) e a medula vermelha, que produz as células sanguíneas. Quanto à sua divisão anatômica, estas são: Epífise: compõe as regiões distal e proximal do osso (extremidades) Metáfise: região compreendida entre a epífise e a diáfise Diáfise: parte central do osso A arquitetura e proporção de osso esponjoso e compacto depende da função do osso, assim, nos ossos longos, que são locais de fixação de músculos e ligamentos, a quantidade de osso compacto (responsável pela resistência para sustento do peso) é maior na parte média da diáfise, onde os ossos tendem a se curvar. A diáfise constitui o corpo de um osso ossificado a partir do centro de ossificação primário, sendo a parte que cresce enquanto o osso se desenvolve. O centro de ossificação primário é assim chamado pois o tecido ósseo formado substitui a maior parte da cartilagem que compõe o modelo ósseo durante o desenvolvimento da criança, que no início da vida possui a maioria dos ossos formados de cartilagem. As epífises são as partes dos ossos ossificadas a partir de centros de ossificação secundários, quando os condrócitos (células do tecido cartilaginoso) situados no meio da epífise ficam hipertrofiados e a matriz óssea entre eles se calcifica. As artérias epifisiais crescem para o interior das cavidades em desenvolvimento. A metáfise, por sua vez, é a parte alargada da diáfise mais próxima à epífise, região mais vascularizada do osso. Periósteo e Endósteo O periósteo cobre os ossos, exceto em suas extremidades articulares. Possui uma camada fibrosa externa e uma camada interna que contém as células osteoprecursoras necessárias ao crescimento e ao desenvolvimento dos ossos. O periósteo contém vasos sanguíneos e atua como ponto de ancoragem para os vasos sanguíneos à medida que entram e saem do osso. O endósteo é a membrana que reveste os espaços de osso esponjoso, as cavidades medulares e os canais haversianos de osso compacto. Essa membrana é composta principalmente de células osteoprecursoras, que contribuem para o crescimento e a remodelação do osso e são necessárias à reparação óssea. Medula óssea A medula óssea ocupa as cavidades medulares dos ossos longos de todo o esqueleto e as cavidades dos ossos esponjosos das vértebras, costelas, esterno e ossos chatos da pelve. A composição celular da medula óssea varia com a idade e a parte do esqueleto. A medula óssea vermelha contém eritrócitos em desenvolvimento e é onde ocorre a formação das células sanguíneas. A medula amarela é composta principalmente de adipócitos. Ao nascer, quase toda a medula LONGOS •Úmero •Fêmur •Tíbia CURTOS •Carpo •Tarso PLANOS •Escápula •Ilíaco IRREGULAR •Hioide •Sacro PNEUMÁT. •Esfenoide •Etmoide SESAMÓIDE •Patela •Fabela 3 | SESSÃO TUTORAL é vermelha e hematopoieticamente ativa. À medida que a necessidade de produzir hemácias diminui ao longo da vida pós-natal, a medula vermelha é progressivamente substituída por medula óssea amarela na maioria dos ossos. Nos adultos, a medula vermelha persiste nas vértebras, nas costelas, no esterno e nos ílios. VASCULARIZAÇÃO ARTERIAL Os ossos têm um suprimento abundante de vasos sanguíneos. As mais visíveis são as artérias nutrícias que surgem como ramos independentes de artérias adjacentes fora do periósteo e seguem obliquamente através do osso compacto da diáfise de um osso longo através dos forames nutrícios. A artéria nutrícia divide-se na cavidade medular em ramos longitudinais que prosseguem em direção às extremidades, irrigando a medula óssea, o osso esponjoso e as partes mais profundas do osso compacto. No entanto, muitos pequenos ramos das artérias periosteais são responsáveis pela nutrição da maior parte do osso compacto. Consequentemente, um osso cujo periósteo é removido morre. O sangue chega aos osteócitos (células ósseas) no osso compacto por meio de sistemas haversianos / ósteons que abrigam pequenos vasos sanguíneos. As extremidades dos ossos são irrigadas por artérias metafisiais e epifisiais que se originam principalmente das artérias que suprem as articulações. VEIAS As veias acompanham as artérias através dos forames nutrícios. Muitas grandes veias também saem através de forames situados próximo das extremidades articulares dos ossos. Os ossos que contêm medula óssea vermelha têm muitas veias calibrosas. Os vasos linfáticos também são abundantes no periósteo. INERVAÇÃO Os nervos acompanham os vasos sanguíneos que irrigam os ossos. O periósteo tem rica inervação sensitiva — nervos periosteais — que conduz fibras de dor. O periósteo é muito sensível a ruptura ou tensão, o que explica a dor aguda nas fraturas ósseas. O osso propriamente dito tem relativamentepoucas terminações sensitivas. Dentro dos ossos, os nervos vasomotores causam constrição ou dilatação dos vasos sanguíneos, controlando o fluxo sanguíneo através da medula óssea. ARTICULAÇÕES As articulações constituem as uniões e/ou junções entre dois ou mais ossos. Muitas articulações permitem movimento, como a articulação do joelho, porém outras não, como ocorre com as lâminas epifisiais entre a epífise e a diáfise de um osso longo em crescimento. Essas estruturas podem ser classificadas de acordo com a forma ou o tipo de material que une os ossos, existindo assim articulações sinoviais, fibrosas e cartilagíneas. Articulações Sinoviais: As articulações sinoviais são o tipo mais comum, as quais permitem o movimento livre dos ossos envolvidos. Nessas articulações, os 4 | SESSÃO TUTORAL ossos são unidos por uma cápsula articular, formada por uma camada fibrosa revestida por uma membrana sinovial, que produz o líquido sinovial na cavidade articular -responsável por lubrificar as superfícies articulares, facilitando o movimento dos ossos. As articulações sinoviais geralmente são reforçadas por ligamentos extrínsecos ou pelo espessamento de uma parte da cápsula articular (ligamentos intrínsecos). O periósteo que reveste os ossos na parte externa à articulação funde-se com a camada fibrosa da cápsula articular Articulações Fibrosas: são aquelas nas quais os ossos são unidos por tecido fibroso, e na maioria delas o movimento é limitado, a depender do tamanho das fibras que unem os ossos. Um exemplo desse tipo de articulação são as suturas do crânio. Articulações Cartilagíneas: os ossos são unidos por cartilagem hialina ou fibrocartilagem. As articulações de cartilagem hialina são chamadas de articulações cartilagíneas primárias (sincondroses), que permite leve curvatura e normalmente são uniões temporárias, como as presentes nos ossos em crescimento. As articulações unidas por fibrocartilagem são chamadas cartilagíneas secundárias (sínfises) que são fortes, pouco móveis, sendo o principal exemplo os discos intervertebrais. VASCULARIZAÇÃO As articulações recebem sangue das artérias articulares que se originam de vasos ao redor da articulação, principalmente na membrana sinovial. Com frequência, há anastomose (comunicação) das artérias para formar redes (anastomoses arteriais periarticulares) e assegurar a irrigação sanguínea da articulação e através dela nas várias posições assumidas. As veias articulares são veias comunicantes que acompanham as artérias e, como as artérias, estão localizadas na cápsula articular, principalmente na membrana sinovial. INERVAÇÃO Possui rica inervação propiciada por nervos articulares com terminações nervosas sensitivas na cápsula articular. Os nervos articulares possuem ramos dos nervos cutâneos sobrejacentes, mas a maioria deriva de nervos que suprem os músculos que movem a articulação. A lei de Hilton afirma que os nervos que suprem uma articulação também suprem os músculos que movem a articulação e a pele que cobre suas inserções distais. Os nervos articulares transmitem impulsos sensitivos que contribuem para a propriocepção, responsável pela percepção do movimento e da posição das partes do corpo. A membrana sinovial é relativamente insensível. Há muitas fibras de dor na camada fibrosa da cápsula articular e nos ligamentos acessórios, o que causa dor intensa em caso de lesão articular. 5 | SESSÃO TUTORAL ABORDAGEM AOS DISTÚRBIOS ARTICULARES E MUSCULOESQUELÉTICOS Apesar de relações bem conhecidas entre determinados distúrbios e exames laboratoriais, os indivíduos com queixas musculoesqueléticas podem ser diagnosticados, em sua maioria, por meio de uma anamnese completa e exame físico e musculoesquelético abrangente. Inicialmente é preciso determinar se a queixa musculoesquelética sinaliza ou não uma condição de perigo caracterizada pelo início agudo e dor monoarticular/focal: Artrite séptica; ou Artrite aguda induzida por cristais (gota); ou Fratura. Afastada a possibilidade de uma condição de perigo, a avaliação deve prosseguir investigando algumas coisas: 1. Localizar anatomicamente a queixa – de origem articular ou não articular 2. Determinar a natureza do processo patológico – inflamatório ou não inflamatório 3. Determinar a cronologia – aguda ou crônica em sua duração 4. Determinar a extensão do comprometimento – monoarticular / focal (localizada) ou poliarticular (generalizada) em sua distribuição 5. Considerar inicialmente os distúrbios mais comuns 6. Formular um diagnóstico diferencial. Seguindo esses passos é possível estabelecer um diagnóstico na grande maioria das vezes. No entanto, alguns pacientes não se enquadram imediatamente em uma categoria diagnóstica. Além disso, muitos distúrbios musculoesqueléticos são semelhantes no início, e alguns podem levar semanas ou meses (mas não anos) para evoluir até uma entidade diagnóstica reconhecível. ARTICULAR X NÃO ARTICULAR A avaliação musculoesquelética deve discriminar a(s) origem(ns) anatômica(s) das queixas do paciente. Exemplo: a dor no tornozelo pode resultar de ampla variedade de condições patológicas que envolvem estruturas anatômicas discrepantes, como artrite gonocócica, fratura do calcâneo, tendinite do Aquileu, fascite plantar, celulite e neuropatia periférica ou por encarceramento. Apesar de as queixas musculoesqueléticas serem atribuídas com frequência às articulações, são os distúrbios não articulares os responsáveis mais frequentemente por essas queixas. Articulares - sinóvia, líquido sinovial, cartilagem articular, ligamentos intra- articulares, cápsula articular e osso justarticular. Seus distúrbios podem ser caracterizados por: Dor profunda ou difusa Amplitude de movimento limitada durante a movimentação ativa e passiva Tumefação (causada por proliferação sinovial, derrame ou hipertrofia óssea) Crepitação Instabilidade Deformidade. Não Articulares (periarticulares) - ligamentos extra-articulares de apoio, os tendões, as bolsas, os músculos, a fáscia, o osso, o nervo e a pele supradjacentes. Os distúrbios não articulares tendem a ser: Dor com a mobilização ativa, porém não com a movimentação passiva (ou assistida) Dolorimento pontual ou focal nas regiões adjacentes às estruturas articulares Desencadeadas por movimento ou posição específicos Apresentam achados físicos distantes da cápsula articular Raramente demonstram tumefação, crepitação, instabilidade ou deformidade da própria articulação. DISTÚRBIOS INFLAMATÓRIOS X NÃO INFLAMATÓRIOS Durante a avaliação é preciso identificar a natureza do processo patológico subjacente e se existem achados inflamatórios ou não inflamatórios. Distúrbios Inflamatórios: - Infecciosos (Neisseria gonorrhoeae ou Mycobacterium tuberculosis) - Induzidos por cristais (gota, pseudogota) - Imune (artrite reumatoide [AR], lúpus eritematoso sistêmico [LES]) - Reativos (febre reumática, artrite reativa) 6 | SESSÃO TUTORAL - Idiopáticos. Os distúrbios crônicos são comumente acompanhados de rigidez articular. A duração da rigidez pode ser prolongada (horas) nos distúrbios inflamatórios e podem melhorar com a atividade. Em contrapartida, a rigidez intermitente (também conhecida como fenômeno gel) é típica das condições não inflamatórias (como osteoartrite [OA]), é de duração mais curta (< 60 minutos) e é exacerbada pela atividade. A fadiga pode acompanhar a inflamação, mas também pode constituir uma consequência da fibromialgia (um distúrbio não inflamatório), dor crônica, sono precário, depressão, anemia, insuficiência cardíaca, endocrinopatia ou desnutrição. Os distúrbios não inflamatórios podem estar relacionados com traumatismo, uso repetitivo (bursite, tendinite), degeneração ou reparo ineficaz (OA), neoplasia (sinovite vilonodular pigmentada) ou amplificaçãoda dor (fibromialgia). Os distúrbios não inflamatórios costumam ser caracterizados por dor sem tumefação sinovial ou calor, ausência de características inflamatórias ou sistêmicas, fenômenos géis diurnos em vez de rigidez matinal, e pesquisas laboratoriais normais (para a idade) ou negativas. A identificação da natureza do processo subjacente e o local da queixa irão permitir ao médico caracterizar a apresentação musculoesquelética (p. ex., monoartrite inflamatória aguda, dor disseminada não articular não inflamatória crônica), estreitar as considerações diagnósticas e determinar a necessidade de realizar uma intervenção diagnóstica ou terapêutica imediata, ou adotar uma observação contínua. Sinais de Inflamação Eritema Calor Dor Edema Perda da Função Sintomas Sistêmicos Fadiga Febre Erupção Cutânea Redução Ponderal Evidência Laboratorial ↑VHS ↑PCR Trombocitose Anemia de Doença Crônica Hipoalbuminemia 7 | SESSÃO TUTORAL De modo geral, causas como traumatismo, fraturas, síndromes de uso excessivo e a fibromialgia estão entre as mais comuns de dor articular, devendo ser consideradas na consulta inicial. Se essas possibilidades forem excluídas, é importante considerar os distúrbios mais comumente observados com base na sua frequência por idade: jovens versus idosos. < 60 anos: distúrbios de uso repetitivo/sobrecarga, gota (apenas os homens), AR, espondiloartrite e artrite infecciosa > 60 anos: osteoartrite, artrite induzida por cristais (gota e pseudogota), polimialgia reumática, fratura osteoporótica e, raramente, artrite séptica. ANAMNESE Os aspectos relacionados com o perfil do paciente, a cronologia da queixa, a extensão do acometimento articular e os fatores desencadeantes podem proporcionar importantes informações. PERFIL Os aglomerados diagnósticos também podem levar em conta sexo e raça: Homens: gota, a espondiloartrite e a espondilite anquilosante Mulheres: AR, a fibromialgia e o lúpus Brancos: polimialgia reumática, a arterite de células gigantes e a granulomatose com poliangeíte (GPA) Negros: sarcoidose e o LES A agregação familiar é mais comum na espondilite anquilosante, na gota e nos nódulos de Heberden da OA. CRONOLOGIA A cronologia da queixa é um aspecto diagnóstico importante, podendo ser dividida em início, evolução e duração. INÍCIO: O início de distúrbios como artrite séptica ou gota costuma ser brusco, enquanto a OA, a AR e a fibromialgia podem ter apresentações mais indolentes. EVOLUÇÃO: As queixas dos pacientes podem evoluir de maneira diferente e serem classificadas como crônicas (OA), intermitentes (artrite induzida por cristais ou de Lyme), migratórias (febre reumática, artrite gonocócica ou viral) ou aditivas (AR, artrite psoriásica). DURAÇÃO: São classificados como agudos (< 6 semanas) ou crônicos (> 6 semanas). As artropatias agudas costumam ser infecciosas, induzidas por cristais ou reativas. As condições crônicas consistem nas artrites não inflamatórias ou imunológicas (p. ex., OA, AR) e nos distúrbios não articulares (p. ex. fibromialgia). EXTENSÃO A extensão ou a distribuição do acometimento articular frequentemente fornecem informações. Os distúrbios articulares são classificados com base no número de articulações acometidas, podendo ser: 1. Monoarticulares (uma única articulação); 2. Oligoarticulares ou pauciarticulares (duas ou três articulações); 3. Poliarticulares (quatro ou mais articulações). Embora as artrites induzidas por cristais e infecciosas sejam frequentemente monoarticulares ou oligoarticulares, a OA e a AR são distúrbios poliarticulares. Os distúrbios não articulares podem ser classificados como focais (tendinite ou à síndrome do túnel do carpo) ou generalizados (polimiosite ou fibromialgia). O comprometimento articular na AR tende a ser simétrico e poliarticular. Por outro lado, a espondiloartrite, a artrite reativa, a gota e o sarcoide são frequentemente assimétricos e oligoarticulares. A OA e a artrite psoriásica podem ser simétricas ou assimétricas e oligo ou poliarticulares. Os membros superiores são acometidos frequentemente na AR e na OA, enquanto o acometimento dos membros inferiores é característico da artrite reativa e da gota no início de sua manifestação. O acometimento do esqueleto axial é comum na OA e na espondilite anquilosante, mas raro na AR, com a notável exceção da coluna cervical. FATORES DESENCADEANTES É preciso identificar os eventos desencadeantes, como traumatismo (osteonecrose, laceração do menisco), administração de fármacos, infecção antecedente ou intercorrente (febre reumática, artrite reativa, hepatite) ou doenças que podem ser atribuídas às queixas do paciente. Algumas comorbidades podem ter consequências musculoesqueléticas, sendo particularmente observado no DM (síndrome do túnel do carpo), na 8 | SESSÃO TUTORAL insuficiência renal (gota), na depressão ou insônia (fibromialgia), no mieloma (dor lombar), no câncer (miosite) e na osteoporose (fratura), ou quando são utilizados determinados fármacos, como glicocorticoides (osteonecrose, artrite séptica) e diuréticos ou quimioterapia (gota). EXAME FÍSICO Objetivo: averiguar as estruturas envolvidas, a natureza da patologia subjacente, as consequências funcionais do processo e a presença de manifestações sistêmicas ou extra-articulares. O exame musculoesquelético depende, em grande parte, de inspeção cuidadosa, palpação e uma variedade de manobras físicas específicas para induzir sinais diagnósticos. Avaliar presença de sinais flogísticos (dor, calor, rubor e edema) Contar o número de articulações dolorosas durante a palpação (interfalângicas proximais, metacarpofalângicas, dos punhos, cotovelos, ombros e joelhos) Contar o número de articulações tumefeitas (0 a 28) Distinguir a tumefação articular verdadeira (causada por hipertrofia óssea, derrame ou proliferação sinovial) do acometimento não articular (ou periarticular), que se estende habitualmente além das margens articulares normais. O derrame sinovial pode ser diferenciado da Avaliar a estabilidade articular pela estabilização da articulação proximal, por palpação ou pela aplicação de estresse manual à parte distal. A distensão da cápsula articular provoca habitualmente dor e aumento ou flutuação evidentes. O paciente tenta minimizar a dor mantendo a articulação na posição com menor pressão intra-articular e maior volume, habitualmente uma flexão parcial. A amplitude de movimento ativa e passiva deve ser determinada em todos os planos, com comparações contralaterais. Extrema amplitude: síndrome de hipermobilidade, dor articular e frouxidão do tecido conectivo Limitação do movimento: inflamação, derrame, dor, deformidade, contratura ou restrição devido a causas neuromiopáticas. Se o movimento passivo ultrapassa a movimentação ativa, deve ser aventado um processo periarticular (p. ex., tendinite, ruptura de tendão ou miopatia). A deformidade articular indica habitualmente um processo patológico de longa duração ou agressivo. A força muscular deve ser avaliada pela observação do desempenho do paciente (p. ex., caminhando, levantando de uma cadeira, segurando algum objeto, escrevendo). Também pode ser classificada de acordo com uma escala de 5 pontos: 0 para nenhum movimento; 1 para traços de movimento ou contração espasmódica momentânea; 2 para o movimento com a gravidade eliminada; 3 para o movimento apenas contra a gravidade; 4 para o movimento contra gravidade e resistência; 5 para a força normal. A identificação da dor nos tecidos moles/não articular evita a realização de avaliações adicionais injustificadas e com frequência dispendiosas. As manobras específicas podem revelar anormalidades não articulares comuns, como a Síndrome do Túnel do Carpo, identificada pelo sinal de Tinel ou de Phalen. PROVASLABORATORIAIS Uma avaliação adicional está indicada para: (1) condições monoarticulares; (2) condições traumáticas ou inflamatórias; (3) presença de achados neurológicos; (4) manifestações sistêmicas; (5) sintomas crônicos (> 6 semanas) e ausência de resposta às medidas sintomáticas. Os exames que podem auxiliar o diagnóstico são: Hemograma completo Prova de determinação de um reagente de fase aguda: VHS ou PCR- ajuda a discriminar distúrbios inflamatórios dos não inflamatórios. podem ser obtidos facilmente e podem estar elevados em casos de infecção, inflamação, distúrbios autoimunes, neoplasia, gestação, insuficiência renal, idade avançada e hiperlipidemia Determinação do nível sérico de ácido úrico – útil no diagnóstico de gota. Apesar de a hiperuricemia estar associada a uma maior incidência de 9 | SESSÃO TUTORAL gota e nefrolitíase, os níveis podem não se correlacionar com a gravidade da doença articular Testes sorológicos: para fator reumatóide (FR), anticorpos contra o peptídeo citrulinado cíclico (CCP ou ACPA), FAN, níveis de complemento, sorologia para Lyme e anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA) ou título de antiestreptolisina O (ASLO) só devem ser solicitados quando houver evidencias clinicas sugerindo especificamente o diagnóstico associado. O FR IgM é encontrado em 80% dos pacientes com AR, podendo ser observado também em baixos títulos nos pacientes com infecções crônicas (tuberculose, hanseníase, hepatite); outras doenças autoimunes (LES, síndrome de Sjögren); e doenças pulmonares, hepáticas ou renais crônicas. Quando a artrite reumatoide (AR) está sendo aventada, tanto o FR quanto os anticorpos anti-CCP séricos devem ser pesquisados, visto que são complementares. Ambos são comparavelmente sensíveis, porém os anticorpos anti-CCP são mais específicos que o FR. Os FANs são encontrados em quase todos os pacientes com LES e também podem ser observados em pacientes com outras doenças autoimunes, lúpus induzido por fármacos, distúrbios hepáticos ou renais crônicos e idade avançada. O teste para FAN é muito sensível, porém pouco específico para o lúpus, pois apenas 1-2% de todos os resultados positivos são causados apenas pelo lúpus. A interpretação de um teste FAN positivo pode depender da magnitude do título e do padrão observado na microscopia de imunofluorescência ANÁLISE DO LÍQUIDO SINOVIAL SEMPRE INDICADA: suspeita de monoartrite aguda, artropatia infecciosa ou induzida por cristais. O líquido sinovial pode estabelecer a diferença entre os processos não inflamatórios e os inflamatórios pela análise do aspecto, da viscosidade e da contagem celular. LÍQUIDO SINOVIAL NORMAL: claro ou com coloração palha pálida, sendo viscoso principalmente por causa dos altos níveis de hialuronato. Não Inflamatório: claro, viscoso e de coloração âmbar, com contagem de leucócitos < 2.000/µL e predomínio de células mononucleares. Inflamatório: turvo e amarelado, com contagem elevada de leucócitos (2.000-50.000/µL) e predomínio de leucócitos polimorfonucleares. O líquido inflamatório possui viscosidade reduzida, menor quantidade de hialuronato e pouca ou nenhuma cauda após cada gota de líquido sinovial. Séptico: opaco e purulento, com contagem de leucócitos em geral de > 50.000/µL, predominância de leucócitos polimorfonucleares (> 75%) e baixa viscosidade. Hemorrágico: pode ser observado em caso de traumatismo, hemartrose ou artrite neuropática. O líquido sinovial deve ser analisado imediatamente para determinar seu aspecto, sua viscosidade e realizar a contagem celular. EXAMES DE IMAGEM RAIO-X: As radiografias simples são mais adequadas e custo-efetivas se houver história de traumatismo, suspeita de infecção crônica, incapacidade progressiva ou comprometimento monoarticular; quando se considera a necessidade de alterações terapêuticas; ou quando se deseja obter uma avaliação basal para a suspeita de um processo crônico. USG: identificação de anormalidades dos tecidos moles, como tendinite, tenossinovite, entesite, bursite e neuropatias por encarceramento. O uso do Doppler possibilita a detecção precoce de sinovite e erosões ósseas. CINTILOGRAFIA COM RADIONUCLÍDEOS: meio muito sensível, porém pouco específico para identificar as alterações inflamatórias ou metabólicas no osso ou nas estruturas periarticulares dos tecidos moles. A cintilografia é mais bem apropriada para avaliação corporal total de comprometimento ósseo (neoplasia, doença de Paget) e para avaliação de pacientes com poliartralgias não diagnosticadas, à procura de artrite oculta. TC: visualização detalhada do esqueleto axial. As articulações consideradas difíceis de serem visualizadas pelo raio-x (articulações dos processos articulares, sacroilíaca, estenoclavicular, quadril) podem ser avaliadas com a TC. RNM: vantagem de proporcionar imagens multiplanares com detalhes anatômicos finos e resolução contrastada, que possibilita a capacidade superior de visualizar a medula óssea e as estruturas periarticulares de tecidos moles. É a técnica preferida quando se avaliam distúrbios musculoesqueléticos complexos 10 | SESSÃO TUTORAL INTRODUÇÃO DEFINIÇÃO: a osteoartrite (OA) é um distúrbio musculoesquelético e das articulações sinoviais do nosso corpo, sendo caracterizada, clinicamente por dor e limitações funcionais, histologicamente por alterações da cartilagem e do osso subcondral e, radiologicamente pela presença de osteófitos e estreitamento dos espaços articulares. Pode também ser chamada de osteoartrose ou artrose. EPIDEMIOLOGIA Presente em 10% dos indivíduos acima dos 60 anos É a doença reumatológica mais comum 3ª nas causas de incapacidade laboral No Brasil, acomete cerca de 16% da população. Regiões mais afetadas: quadril, joelhos, mãos e pés. FATORES DE RISCO É possível dividir os fatores de risco em intrínsecos do paciente e extrínsecos a ele. a) Intrínsecos: próprios do paciente, sendo adquiridos ou não. Idade: fator de risco mais importante. Aumenta sua prevalência em progressão geométrica a partir dos 45 anos. O mecanismo por trás desse aumento não é bem conhecido, mas o mais aceito é a diminuição da atividade metabólica da cartilagem articular com o passar dos anos; Gênero: sexo feminino, por conta, possivelmente, das alterações da secreção de hormônios sexuais (estrógeno e progesterona) após a menopausa; Genética: fator de risco relativamente predominante, mesmo não sendo uma doença genética (não existe um gene responsável pelo OA). Além disso, a predisposição de seu aparecimento possivelmente depende de qual articulação é acometida. Por exemplo: cerca de 30% dos casos de OA em joelhos são familiares, diferente da OA em quadril e coluna, que apresentam, respectivamente, 50 e 70% dos casos; Anatômicos: a deformação e o desalinhamento anatômico da articulação (exemplo: rotura de menisco, ligamento, cápsula, fratura óssea que acometa a superfície articular) são fatores que interferem na disposição vetorial das forças intra-articulares. Algumas patologias ortopédicas predispõem a formação de alterações nas articulações sinoviais (doença de Legg-Perth, displasia acetabular, geno valgo congênito, obesidade e doenças metabólicas sistêmicas). b) Extrínsecos: fatores externos ao organismo que o acompanham ao longo de sua rotina. Esportes e/ou trabalhos extenuantes: Atividades físicas exaustivas (ciclismo, velocistas, futebol, ginástica) e empregos “braçais” (mineiros, perfuradores, lavradores) que demandem muito da proteção mecânica exercida pelas articulações, principalmente nos joelhos, por conta de movimentos repetitivos e excessivos de flexão. Por conta disso, em pacientes com menos de 45 anos, a OA é mais prevalente em homens que mulheres. FISIOPATOLOGIA Embora o termo osteoartrite implique uma doença inflamatória,a osteoartrite é principalmente uma doença degenerativa da cartilagem articular, na qual os condrócitos respondem a estresses biomecânicos e biológicos de uma maneira que resulta na fragmentação da matriz. A fisiopatologia da AO pode ser dividida quanto aos três principais tecidos atingidos: ósseo, cartilaginoso e sinovial ALTERAÇÕES ÓSSEAS Ocorre principalmente no osso subcondral, podendo formar: esclerose óssea, ou seja, aumento da densidade da matriz óssea por conta da ação de osteoblastos resultante da micro lesão óssea; cistos subcondrais por conta da necrose formada quando os ossos absorvem a sobrecarga mecânica da pressão dentro do espaço articular; osteófitos formados pelo processo excessivo de regeneração nas áreas de maior pressão no espaço articular, ou seja, nas extremidades, formando essas projeções ósseas em formato de “bico de papagaio”. 11 | SESSÃO TUTORAL Alterações cartilaginosas Por conta da ação degenerativa, encontra-se uma irregularidade da superfície cartilaginosa por conta da redução de sua espessura, chamada de fibrilações, que podem evoluir para fendas e erosões. A cartilagem articular normal realiza duas funções: (1) juntamente com o líquido sinovial, ela proporciona um movimento virtualmente livre de fricção no interior da articulação; e (2) em articulações que suportam peso, ela distribui a carga através da superfície articular de maneira que permita que os ossos subjacentes absorvam o choque e o peso. Essas funções requerem que a cartilagem tenha propriedades elásticas (recupere a arquitetura normal após compressão) e tenha alta força tênsil. Esses atributos são fornecidos pelos proteoglicanos e pelo colágeno do tipo II, respectivamente, ambos produzidos pelos condrócitos. Como com o tecido ósseo adulto, a cartilagem articular sofre constantemente degradação e substituição de sua matriz. Embora a osteoartrite não seja exclusivamente um fenômeno de desgaste, os estresses mecânicos e o envelhecimento atuam não obstante de forma proeminente. Fatores genéticos, incluindo polimorfismos e mutações em genes que codificam componentes da matriz e moléculas de sinalização, contribuem para a suscetibilidade à osteoartrite. O risco de osteoartrite também é aumentado com a crescente densidade óssea, além de níveis de estrógenos mantidos altos. Independentemente do estímulo incitante, há um desequilíbrio na expressão, atividade e sinalização de citocinas e fatores de crescimento, o qual resulta em degradação e perda de matriz. A osteoartrite inicial é marcada pela cartilagem em degeneração contendo mais água e menos proteoglicanos (os proteoglicanos proporcionam turgidez e elasticidade). De modo geral, a força tênsil e a resiliência da cartilagem estão comprometidas. Em resposta a essas alterações degenerativas, os condrócitos proliferam e tentam “reparar” a lesão através da síntese de novo colágeno e novos proteoglicanos. Embora essas alterações reparativas inicialmente sejam capazes de acompanhar o ritmo, as alterações na matriz e a perda de condrócitos finalmente predominam. Alterações sinoviais Ocorre um processo inflamatório crônico no tecido sinovial (sinovite) desencadeado pelos fragmentos de cartilagem e osso degradados no líquido sinovial, podendo, a longo prazo, formar cristais de fosfato e pirofosfato de cálcio. Dessa forma, há formação de enzimas e citocinas que iniciam essa inflamação, além de espessamento da cápsula. ETIOLOGIA Possui etiologia multifatorial, podendo ser classificada em primária ou secundária: 1. Primária: sua causa é desconhecida (idiopática) ou o indivíduo manifesta essa patologia por conta de uma alteração genética que justifica o quadro. 2. Secundária: envolve grupos de etiologias mecânicas e inflamatórias reunidas nas seguintes divisões: 2.1 OA secundária a desorganização da estrutura cartilaginosa: Pode envolver alterações estruturais do colágeno (condrodisplasia); acúmulo de produtos bioquímicos ou sanguíneos (hemocromatose, doença de Wilson); distúrbios endócrinos (diabetes e acromegalia); ação enzimática pela presença de cristais (gota); invasão por sinovite hiperplásica (artrite reumatoide); ação mecânica aguda ou crônica (trauma agudo com ou sem fratura, trauma postural); 2.2 OA secundária a desorganização da estrutura óssea ou desalinhamento articular: Como remodelagem acelerada ou aumento da densidade óssea subcondral (doença de Paget, osteoporose) e necrose óssea. QUADRO CLÍNICO As manifestações clínicas da OA são predominantemente locais, envolvendo mais a articulação lesada do que ocasionando uma reação sistêmica no corpo. Dessa forma, os sintomas e sinais da OA são de caráter articular, acometendo tipicamente as “juntas” periféricas do esqueleto como dedo, joelho ou quadril. Os locais mais incidentes são as articulações do hálux (primeiro metatarsofalangeana), interapofisárias (na coluna vertebral), interfalangianas distais e proximais, carpometacarpianas do primeiro quirodáctilo (polegar), os joelhos e quadril. SINTOMAS Como principais sintomas da osteoartrite, temos: 12 | SESSÃO TUTORAL DOR ARTICULAR: É o sintoma responsável por levar o paciente a procurar ajuda médica. Ela costuma se originar de forma espontânea e gradual no local acometido (pode ser mono ou poliarticular). Ela é do tipo “aperto” referida como “profunda”, tendo pequena e média intensidade. Piora com o início do movimento e melhora com o repouso. Eventualmente é desencadeada pela própria sobrecarga do corpo, podendo repercutir, ao longo do tempo, com dor em repouso e/ou dor noturna, interferindo no sono. POR QUE DÓI? Sabendo que a cartilagem é aneural, sua perda em uma articulação não é acompanhada de dor. Assim, a dor na OA tem origem provavelmente em estruturas fora da cartilagem. As estruturas inervadas na articulação são a sinóvia, os ligamentos, a cápsula articular, os músculos e o osso subcondral. A maioria dessas estruturas não é visualizada pelas radiografias, e o grau de alterações radiográficas na OA não é compatível com a intensidade da dor. Prováveis mecanismos da dor: Estiramento dos ligamentos e da cápsula articular devido ao líquido na articulação que estimula as fibras nociceptivas; Aumento da pressão intraóssea nos ossos subcondrais (inflamação e aumento da densidade óssea); Sinovite – liberando mediadores inflamatório que simulam as dores nas terminações nervosas OU a própria compressão destas pelo edema Outros sítios inflamatórios, como na bursite e tenossinovite; Dor muscular. Os indivíduos com dor crônica resultante da OA podem desenvolver alterações do sistema nervoso em consequência da doença, mudanças que diminuem o controle inibitório sobre a nocicepção e sua distribuição. Isso pode provocar alodinia e hiperalgesia em alguns pacientes com OA. RIGIDEZ ARTICULAR: Ocorre quando o paciente se encontra em repouso, principalmente durante a manhã, após longos períodos de imobilidade. Ela difere da rigidez das demais inflamações articulares por persistir até 30 minutos. INSTABILIDADE ARTICULAR: Marcada principalmente por uma sensação de apreensão e falta de confiança/segurança em suportar o peso sustentado pela articulação. No entanto, ocasionalmente essa instabilidade pode levar a quedas. LIMITAÇÃO DO MOVIMENTO: Redução da amplitude dos movimentos, passivos (pode existir dor ao movimento passivo da articulação) e ativos. Ocorre, principalmente, por conta da presença de osteófitos e do espessamento da cápsula articular, embora a sinovite também contribua por conta da hiperplasia sinovial. SINAIS Aumento das Articulações: áreas onde há inchaço ósseo e/ou cartilaginoso. A consistência desse aumento volumétrico é firme, com pontos dolorosos; Crepitações Audíveis ou Palpáveis: produzidas pelo movimento de estruturas articulares danificadas; Deformidade Articular: sinalde lesão articular crônica e avançada; Sinais de Sinovite: consiste em edema, aumento da temperatura e discreto derrame articular na região afetada; Nódulos de Heberden e de Bouchard: expansões firmes de tecido ósseo e cartilaginoso nas proeminências articulares interfalangeanas distais e proximais. Essas expansões consistem nos osteófitos palpáveis nos pacientes, sendo um sinal patognomônico da OA. Aumento das Articulações Crepitações Audíveis ou Palpáveis Deformação Articular Sinais de Sinovite Nódulos de Heberden ou de Bouchard 13 | SESSÃO TUTORAL DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito através da história clínica do paciente, colhida durante a anamnese junto do exame físico osteoarticular, que já vimos anteriormente, e de exames complementares (de imagem e laboratoriais). EXAMES DE IMAGEM Os exames de imagem têm uma importância essencial para o diagnóstico precoce de OA, por avaliarem se há ou não alguma deformidade na cartilagem. RADIOGRAFIA É considerada como padrão-ouro, onde encontraremos os achados relacionados as alterações ósseas da patologia da OA: Osteófitos: Protuberância óssea radiopaca na borda da articulação; Redução do espaço articular: menor área radiotransparente no espaço articular; Esclerose óssea: Aumento radiopaco na região acometida; Cistos subcondrais: Formações arredondadas radiotransparentes na região subcondral afetada. TC E RNM Outros exames, como TC e RM podem colaborar para a avaliação da osteoartrite, ajudando a identificar possíveis etiologias que colaborem para sua manifestação, como, por exemplo, rotura de ligamento cruzado, menisco, osteonecrose, etc., ou eliminando outros possíveis diagnósticos diferenciais, No entanto, em relação a RM, esse exame tem fraco poder discriminativo para seu diagnóstico em si. EXAMES LABORATORIAIS Não existe um exame específico para OA. Na prática clínica, solicitamos: Hemograma; Testes imunológicos (ex.: exame FAN, fator reumatoide) para eliminar diagnósticos de outras causas de dor articular reumatológica; Pesquisa de marcadores inflamatório (VHS e PCR); etc. Além disso, podemos pesquisar, através de uma artrocentese, se há ou não presença de leucocitose no líquido sinovial. O derrame articular na OA é de caráter não inflamatório, com menos de 2.000 leucócitos por mm³. Presença desses elementos pode indicar artrite reumatoide. Já de cristais, sugerem gota.
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