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Lara Torres Pinto Brito – 5º SEMESTRE {SESSÃO^TUTORAL} HIPERTENSÃO SECUNDÁRIA DEFINIÇÃO: hipertensão que cursa com causa identificável, passível ou não de correção. Dentre suas principais etiologias podemos encontrar: doença renal parenquimatosa, hipertensão renovascular, síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAHOS), hiperaldosteronismo primário, feocromocitomas, Cushing, coarctação de aorta, hipo/hipertireoidismo, hiperparatireoidismo, dentre outros. DOENÇA RENAL CRÔNICA Define-se DRC por TFG < 60 ml/min ou anormalidades na urinálise e/ou morfologia renal mantidas por 3 meses. A associação entre HAS e doença renal crônica (DRC) é bem conhecida, tendo em vista que a doença renal é a maior causa de HAS secundária, seja pela hipervolemia ou pela maior ativação do SRAA. A HA aumenta progressivamente com o avanço da DRC, atingindo 90% dos pacientes em estágio 5. QUANDO SUSPEITAR: edema, anorexia, fadiga, creatinina e ureia elevadas, alterações no sedimento urinário. Como investigar: Dosar creatinina sérica Calcular TFG Análise da urina para rastreamento de DRC USG renal (investigação adicional) Biópsia renal (declínio rápido da filtração glomerular ou proteinúria > 3,5) Todas as classes de anti-hipertensivos são eficazes na redução da PA nesses pacientes. O tratamento anti-hipertensivo em pacientes com DRC deve visar não apenas a redução da PA, mas também à redução da proteinúria. Preferência: IECA/BRA, diuréticos e betabloqueadores (Carvedilol se mostrou eficaz na redução da albuminúria). 💡 A meta pressórica a ser atingida com o tratamento da HAS nesses pacientes deve ser de 130x80mmHg. CASO 11: Paula, 35 anos, Administradora de empresas, desempregada há 01 ano, solteira, vem em consulta, junto com sua genitora, Creusa, com história ansiedade extrema há 09 meses. A mesma refere que após demissão de seu trabalho e sem conseguir outro, vem apresentando quadro de palpitação, irratibilidade, associado com quadro de cefaleia holocraniana, de forte intensidade, tipo pulsátil, que nunca teve. Durante as crises já houveram várias brigas entre ela e mãe. Também já procurou o pronto socorro várias vezes devido a Cefaleia e que algumas ocasiões apresentava Hipertensa, entre 160 - 180 mmHg de PAS. Já saiu com prescrição de Rivotril e encaminhamento para Psicologia e Psiquiatria. Hoje vem em consulta, sem queixas. IS: Refere perda de 10 quilos, sem mudanças no hábito de vida. AM: Nega comorbidades, uso de medicamentos contínuos, cirurgias ou alergia medicamentosa. AF: Pai falecido aos 56 anos por IAM. Mãe viva, 60 anos, com HAS e DM. Nega história de neoplasia na família. EP: Nega epidemiologia para Chagas e Esquistossomoses. HV: Sedentária. Nega etilismo. Refere tabagismo, iniciado ao 15 anos com 20 maços-ano. Refere uso de Canabis há 06 meses, como tentativa para diminuir a ansiedade. EXAME FÍSICO: BEG. Estado nutricional ruim. Ansiosa. PR: 100 bpm/ FR: 20 ipm/ PA em MSD: 180 x 90 mmHg e MSE: 190x 80 mmHg. Peso: 100 Kg, Altura: 160 cm, CA: 110 cm. Pele: seca, mucosas coradas, sem lesões. CP: Fâneros bem distribuídos. Mucosa nasal corada, sem hipertrofia de cornetos. LND: Não palpados. AR: Tórax simétrico, expansibilidade diminuída, MVBD, sem RA. ACV: Ictus não visível ou palpável, BRNF, 02 tempos sem sopro. ABD: Abdome globoso, as custas de PA, RHA+, flácido, indolor. EXT: Perfundidas, sem edema. P á g i n a | 2 Lara Torres Pinto Brito | 5º SEMESTRE HIPERTENSÃO RENOVASCULAR É definida como uma HAS em decorrência de uma isquemia renal, geralmente por estenose parcial ou completa das artérias renais, tendo como causa principal a aterosclerose (90%). QUANDO SUSPEITAR: sopro abdominal, edema agudo de pulmão (EAP) súbito, alteração da função renal por medicamentos que bloqueiam o SRAA. Como investigar: US com Doppler renal e/ou renograma Angiografia por RNM ou TC Arteriografia renal A escolha terapêutica depende da etiologia. Para as causas aterosclerótica, o tratamento clínico é a escolha, optando por IECA + diurético; enquanto que na fibrodisplasia a escolha é a angioplastia percutânea sem implante do stent. SAHOS A SAHOS é definida por obstruções recorrentes de vias aéreas superiores durante o sono, promovendo reduções na pressão intratorácica, hipóxia intermitente e fragmentação do sono. Evidências sugerem que pode contribuir para o surgimento de lesões de órgãos-alvo e de aceleração do processo de aterosclerose nos pacientes hipertensos. QUANDO SUSPEITAR: roncos, sonolência diurna e síndrome metabólica. Como investigar: Questionário de Berlim Polissonografia; ou Poligrafia residencial com 5 ou + episódios de apneia e/ou hipopneia por hora de sono O tratamento de escolha é o uso de pressão positiva contínua (CPAP) em vias aéreas superiores durante o sono, combinada com a redução de peso; ainda não há um anti- hipertensivo de escolha para os casos de SAHOS. HIPERALDOSTERONISMO PRIMÁRIO O hiperaldosteronismo primário (HAP) é uma condição clínica em que há produção de aldosterona aumentada de uma forma relativamente autônoma em relação ao sistema renina-angiotensina aldosterona (SRAA), não sendo supressível por sobrecarga salina ou bloqueio do SRAA. É representada, principalmente, pela hiperplasia bilateral das adrenais (HBA) e pelo adenoma unilateral produtor de aldosteronoma (APA), podendo ter outras causas. QUANDO SUSPEITAR: hipocalemia espontânea ou induzida por diuréticos, incidentaloma de adrenal, hipertensão resistente, história familiar de hipertensão ou de DCV antes dos 10 anos e síndrome metabólica. Como investigar: Tratamento de escolha com a espironolactona ou cirurgia laparoscópica, de acordo com a necessidade de cada caso. FEOCROMOCITOMAS Feocromocitomas (FEO) são tumores de células cromafins do eixo simpático- adreno-medular produtores de catecolaminas. Podem etar presentes na medula adrenal (mais comumente) ou de forma extra-adrenais, como nos ganglios parassimpáticos – paragangliomas. Tendem a seguir a “regra dos 10”: 10% bilaterais 10% extra-adrenais P á g i n a | 3 Lara Torres Pinto Brito | 5º SEMESTRE 10% torácicos 10% malignos 10% familiares 10% pediátricos 10% não elevam a PA É importante saber que a glândula adrenal é dividida em medula e córtex; este, por sua vez, apresenta 3 zonas distintas: Zona glomerulosa – secreta aldosterona Zona fasciculada – secreta glicocorticoides (cortisol e corticoesterona) Zona reticular – secreta androgênios (DHEA e androstenediona) Já a medula adrenal produz catecolaminas a partir da atividade das células cromafínicas. EPIDEMIOLOGIA Pico entre a 4ª/5ª décadas de vida (mas pode ocorrer em qualquer idade, sendo raro depois dos 60 anos), acometendo igualmente ambos os sexos e tendem a seguir a “regra dos 10”: 10% bilaterais ou multiplos 10% extra-adrenal 10% em crianças 10% recorrência após cirurgia 10% malignos 10% familiares 10% incidentalomas 10% extra-abdominais 10% não elevam PA FISIOPATOLOGIA Os feocromocitomas podem produzir ambas as catecolaminas (epinefrina e norepinefrina), porém produzem mais norepinefrina que tem seu sítio de ação nos receptores alfa-1-adrenérgicos com maior afinidade. Na maioria das vezes, as catecolaminas já são metabolizadas no interior do tumor, o que justifica a fomração de seus metabólitos. As catecolaminas produzidas por esses tumores agem como agonistas nos receptores adrenérgicos alfa-1, beta-1 e beta-2 distribuídos pelo corpo. • Receptores alfa-1: musculatura lisa dos vasos sanguíneos, promovem a vasoconstrição (aumento da resistência periférica – RP) e o aumento da pressão arterial diastólica (PD). • Receptores beta-1:coração, promovem o aumento da frequência cardíaca e maior contratilidade miocárdica, além de liberação de renina. • Receptores beta-2: musculatura esquelética, promovem vasodilatação, que reflete menor pressão arterial diastólica. 💡 Tumores produtores de epinefrina, devido ao fato de agir sobre os receptores beta-2, podem cursar com hipotensão. 💡 Tumores produtores de norepinefrina cursam com hipertensão, pois agem sobre os receptores alfa-1 mais predominantemente. QUADRO CLÍNICO Pode possuir quando variável, sendo a hipertensão a manifestação clínica mais frequente (90%) e os paroxismos (crises) o achado mais típico. Isso ocorre graças a liberação das catecolaminas produzidas pelo tumor que vão estimular os receptores adrenérgicos. 🚨 QUANDO SUSPEITAR: hipertensão paroxística, cefaleia, sudorese e palpitações. Essas crises podem ser desencadeadas de forma espontânea ou por algumas condições como exercícios, micção, defecação, fármacos (agentes anestésicos, glicocorticoides, histamina, etc) e o ato de fumar (prática adotada pela paciente do caso). O quadro clínico também pode variar de acordo com as doenças associadas ao feocromocitoma, tendo como principais: neoplasia endócrina múltipla tipo (NEM), doença de von Hippel-Lindau, neurofibromatose tipo 1 ou doença de von Recklinghause. Tríade Clássica Palpitações Cefaleia Paroxística Sudorese Profusa P á g i n a | 4 Lara Torres Pinto Brito | 5º SEMESTRE DIAGNÓSTICO Deve-se ligar o alerta para aqueles pacientes que, alem das manifestações clinicas clássicas, apresentam histórico familiar, HAS de difícil controle ou desencadeada por trabalho de parto ou anestesias. O diagnóstico consite em detectar certas quantidade de catecolaminas, ou dos seus metabólicos, no plasma ou na urina. ☞ Metanefrinas Urinárias Nesse teste são dosadas as metanefrinas totais, incluindo a metanefrina e a normetanefrina. Valores de metanefrinas totais > 1.300 µg/24 h são /indicativos de feocromocitoma e níveis > 1800 µg/24 são altamente sugestivos. (Valores de Referência: 90 a 690 em homens e 95 a 475 em mulheres). ☞ Metanefrinas Plasmáticas Livres Tem sido considerado a escolha para o diagnóstico de feocromocitoma, uma de suas vantagens consiste no fato de produzir níveis elevados de metanefrina livre independentemente da liberação de catecolaminas pelos tumores, visto que alguns feocromocitomas não secretam catecolaminas mas as metabolizam em metanefrinas livres. ☞ Catecolaminas Séricas Valores normais de catecolaminas plasmáticas, em geral, descartam o diagnóstico de feocromocitoma em pacientes hipertensos, ou quando o sangue é coletado durante o paroxismo. Importante atentar para a possibilidade resultados falso-positivos que podem ocorrer na presença de várias condições e substâncias que estimulam a elevação das catecolaminas plasmáticas (IC, obesidade, uso de anfetamina, hidralazina, diuréticos e propranolol). 💡 Costuma-se reservar a dosagem das catecolaminas plasmáticas para pacientes com forte suspeita clínica e exames urinários normais ou pouco alterados. ☞ TC e RNM Os exames de imagem como a TC e RNM entram com o papel de fazer o diagnóstico tipográfico, uma vez confirmado laboratorialmente o feocromocitoma. TRATAMENTO O tratamento consiste na remoção cirúrgica do tumor. Deve-se optar, preferencialmente por via videolaproscopica em detrimento da cirurgia aberta, devido ao fato de diminuir os custos, a dor, morbidade e complicações. Em geral, a hipertensão é curada após a remoção do tumor; apesar de uma porcentagem ainda poder resistir com niveis elevados de PA (devendo alertar para doença residual, metastases ou HAS essencial). 💣 Hipoglicemia Hiperinsulinêmica: é um intercorrencia importante que costuma acontecer no pós-operatório devido ao efeito da hiperinsulinemia rebote. Isso ocorre porque, na presença do tumor secretor de catecolaminas, estas inibiam a secreção pancreática da insulina. Sem o tumor e, consequentemente, essa inibição, aumenta a sensibilidade à insulina, bem como sua maior secreção. MANEJO CIRÚRGICO O fato de agir nos receptores alfa-1 e beta-1 justifica a necessidade de um manejo cuidadoso durante a manipulação cirúrgica de um feocromocitoma. Visto que, quando há a liberação de grânulos de catecolaminas, estes podem agir cursando com vasoconstricção e aumento da pressão arterial, além do aumento da contratilidade cardíaca. Isso justifica uma preparação pós-operatória com a administração de alfabloqueador, bloqueadores dos canais de cálcio e betabloqueador. 📌 SOBRE O CASO: Diante do exposto e retomando o caso clínico em questão, é possível levantar a hipótese de que Paula possua uma Síndrome Adrenérgica. É notório que a paciente apresenta um quadro emocional importante (ansiedade há 9 meses, demissão do trabalho, brigas com a genitora) que pode estar sendo precipitado por uma descarga excessiva de catecolaminas, bem como seu oposto é verdadeiro: o estresse emocional precipitando essa descarga. A secreção excessiva de catecolaminas, em decorrencia da presença de um feocromocitoma, pode ser precipitada também pelo tabagismo, hábito adotado pela paciente em quetão por 20 anos. Além disso, o quadro clínico de Paula (palpitações, irritabilidade, cefaleia e hipertensão) acontece em paroxismos (crises) que podem indicar participação importante do sistema nervoso simpático, visto que as catecolaminas podem ser estocadas nos neurônio pós-ganglionares simpáticos. Ou seja, qualquer fator que ative o sistema simpático poderá provocar crises hipertensivas importantes sem aumentar proporcionalmente o nível de catecolaminas circulantes. É preciso, entretanto, estar atento à diagnósticos endócrinos/metabólicos que possam estar contribuindo para o caso em P á g i n a | 5 Lara Torres Pinto Brito | 5º SEMESTRE questão, fazendo o diagnóstico diferencial com patologias importantes como uma tireotoxicose, obesidade, hipoglicemia, além de outras causas importantes como a síndrome do pânico. Referências: KASPER, Dennis L. et al. Medicina interna de Harrison. 19. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017. Malachias MVB, Souza WKSB, Plavnik FL, Rodrigues CIS, Brandão AA, Neves MFT, et al. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol 2016; 107(3Supl.3):1-83. PEREIRA, Maria Adelaide A. et al. Feocromocitoma. Arq Bras Endocrinol Metab, [s. l.], 2004. VILLAR, Lucio. Endocrinologia clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Medsi: Guanabara Koogan, 2016.
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