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Deficiencia_Intelectual_Unidades3e4

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Editora
1ª Edição | Dezembro | 2012
Impressão em São Paulo/SP
DEFICIÊNCIA
INTELECTUAL
Estratégias Educacionais 
para o Trabalho de Inclusão
Regina Bonat Pianovski
Unidade 
FATORES DE RISCO PRÉ-NATAIS, 
FATORES DE RISCO PERINATAIS E 
FATORES DE RISCO PÓS-NATAIS
3
67
Caro(a) aluno(a)
A seguir, destacaremos os fatores que corroboram para o 
aparecimento da Deficiência Intelectual e a relevância da Etiologia 
para o controle e tratamento das doenças. Citaremos as síndromes 
relacionadas a esta deficiência e suas principais características.
Objetivos da unidade
Ao concluir esta unidade, você deverá ser capaz de:
► Destacar a importância da Etiologia da Deficiência Intelectual.
► Reconhecer os fatores de risco para a Deficiência Intelectual.
► Identificar as síndromes relacionadas à Deficiência Intelectual.
 Conteúdos da unidade
► A Etiologia da Deficiência Intelectual.
► Fatores de risco pré-natais, perinatais e pós-natais.
► Síndromes relacionadas à Deficiência Intelectual.
69
3.1. A ETIOLOGIA DA DEFICIÊNCIA 
INTELECTUAL
 A Etiologia da Deficiência Intelectual é de grande impor-
tância, pois permite compreender os fatores causais responsáveis, 
proporcionando condições favoráveis para a prevenção e controle 
da Deficiência Intelectual. Muitos fatores podem estar envolvidos 
no processo, devendo-se identificar os primários e os secundários.
 Segundo a AAMR, a Etiologia consiste em:
 “Um construto multifatorial composto de quatro categorias 
de fatores de risco (biomédicos, sociais, comportamentais, e educacio-
nais) que interagem no tempo, inclusive durante a vida do indivíduo e 
entre gerações, passando de pai para filho. A intenção desta abordagem 
da Etiologia é descrever todos os fatores de risco que contribuem para o 
funcionamento atual do indivíduo. Isto, então, permite aos provedores 
identificar estratégias para apoiar o indivíduo e a família para que estes 
fatores de risco possam ser evitados ou melhorados por meio de estra-
tégias primárias, secundárias ou terciárias.” (AAMR, 2006, p. 121)
 Desta forma destacam-se alguns aspectos importantes da 
Etiologia (AAMR, 2006, p. 121):
► A Etiologia pode estar associada a problemas de saúde que po-
dem interferir no funcionamento físico e psicológico.
► A Etiologia pode ser tratável, sendo que uma intervenção ade-
quada pode prevenir ou minimizar o retardo mental.
► É necessária informação precisa para um planejamento e inter-
venção adequada.
► É importante a formação de grupos homogêneos com a mesma 
70
Etiologia ou com etiologias similares para fins de pesquisa.
► A Etiologia pode estar associada a um fenótipo comporta-
mental específico.
► A identificação da Etiologia facilita o aconselhamento genético 
promovendo escolhas familiares e tomadas de decisão.
► Encaminhar os indivíduos e as famílias a outras pessoas e famí-
lias com o mesmo diagnóstico.
► O conhecimento da Etiologia possibilita o autoconhecimento e 
o planejamento de vida.
► Entender a Etiologia da condição, ajuda na condução de crises 
enfrentadas pelos adultos.
► A prevenção da incapacidade depende do esclarecimento dos 
fatores de riscos sociais, comportamentais e educacionais.
3.1.1. Fatores de risco
 O manual da AAMR destaca quatro agrupamentos com 
relação aos fatores de risco da Deficiência Intelectual: biomédicos, 
sociais, comportamentais e educacionais.
1. Fatores pré-natais: fatores que acontecem antes da concepção:
► Biomédicos: distúrbios cromossômicos, distúrbios de gene úni-
co, síndromes, distúrbios metabólicos, disgênese cerebral, doenças 
maternas, idade dos pais.
► Sociais: pobreza, má-nutrição materna, violência doméstica, falta 
de acesso ao cuidado pré-natal.
► Comportamentais: uso de drogas, álcool e fumo pelos pais.
► Educacionais: deficiência cognitiva dos pais sem apoio, e falta de 
preparação para serem pais.
2. Fatores perinatais: envolvem a problemática decorrente ao atendi-
71
mento materno infantil e representa um dos fatores mais importantes da 
deficiência mental:
► Biomédicos: prematuridade, lesão no nascimento, distúrbios neonatais.
► Sociais: falta de acesso aos cuidados do nascimento.
► Comportamentais: rejeição dos pais ao cuidar da criança; abandono da 
criança pelos pais. 
► Educacionais: falta de encaminhamento médico para serviços de inter-
venção na alta hospitalar.
3. Pós-natal: após o parto.
► Biomédicos: lesão cerebral traumática, má-nutrição, meningoencefali-
te, distúrbios convulsivos, distúrbios degenerativos.
► Sociais: cuidador da criança incapacitado, falta de estimulação adequa-
da, pobreza familiar, doença crônica na família, institucionalização.
► Comportamentais: abuso e negligência da criança, violência domésti-
ca, medidas de segurança inadequadas, privação social, comportamentos 
difíceis da criança.
► Educacionais: incapacidade dos pais, diagnóstico atrasado, serviços de 
intervenção precoce inadequados, serviços educacionais especiais inade-
quados, apoio familiar inadequado.
 Os autores Assumpção Jr. e Sprovieri (2000, p. 44) apresentam a 
seguinte organização com relação às Etiologias da Deficiência Intelectual:
1. De Etiologia definitivamente ambiental:
► Causas pré-natais: agentes físicos, agentes químicos, doenças maternas.
► Causas perinatais-prematuridade: parto distócico, incompatibilidade 
materno fetal, hiperbilirrubinemias.
► Causas: pós-natais – trauma com lesão de SNC: infecções - ação de 
72
tóxicos, perturbações vasculares cerebrais, má-nutrição.
2. De Etiologia genética:
► Causas gênicas e cromossômicas.
3. Com participação desconhecida dos fatores ambientais 
e genéticos.
 Como destaca a AAMR (2006) usar um rótulo etiológi-
co pode ter efeitos positivos como também efeitos indesejáveis, 
pois o conhecimento do fenótipo comportamental não é o mes-
mo que um diagnóstico. O fenótipo possibilita uma expectativa 
acerca do desenvolvimento, e também a escolha dos apoios ne-
cessários, porém é baseado em outros indivíduos. Desta forma, 
deve-se considerar cada caso de forma individual, não limitando 
seu desenvolvimento em função de um diagnóstico. Há que se 
considerar as suas potencialidades. (2006, p. 134)
3.2. SÍNDROMES RELACIONADAS À
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
3.2.1. Síndrome de Rett
 Segundo informações do Laboratório Rett (2011), o qual 
realiza o exame para o diagnóstico desta síndrome, a mesma repre-
senta a segunda causa mais comum de deficiência mental genética 
em crianças do sexo feminino. Em homens é quase sempre letal o 
que, desta forma, a torna uma doença quase exclusivamente femi-
nina. Comumente ocorre isoladamente na família e caracteriza-se 
73
pelo caráter progressivo. “A maioria das pacientes típicas é normal 
ao nascimento e evolui bem até os 6-18 meses de vida, quando 
ocorre um período de estagnação do desenvolvimento, seguido de 
rápida regressão da linguagem e do controle motor.” (RETT, 2011)
 Ainda, de acordo com informações do Laboratório Rett, 
os sintomas referem-se: a perda de controle de movimentos cons-
cientes das mãos e a sua substituição por movimentos automáticos, 
repetitivos e estereotipados; episódios de gritos e choro com fre-
quência no final do segundo ano de vida; em alguns casos com-
portamento autístico, ataques de pânico, bruxismo, problemas de 
respiratórios, instabilidade ao caminhar, tremores, convulsões e mi-
crocefalia adquirida. Também, existem pacientes atípicas que apre-
sentam autismo ou deficiência mental inespecífica, com um quadro 
parecido com a Síndrome de Angelman.
3.2.2. Síndrome de Down
 Segundo Moraes e Wederson (2011), a Síndrome de Down 
refere-se a uma combinação específica de características fenotípi-
cas, com retardo mental e uma face típica, causada pela existência 
de três cromossomos 21 (um a mais, do que o normal, trissonomia 
do cromossomo 21), uma das anormalidades cromossômicas mais 
comuns em nascidos vivos. 
 Características mais comuns (MORAES e WEDERSON, 
2011): tamanho menor, desenvolvimento físico e mental mais len-
to, retardo mental de levea moderado; algumas não apresentam 
retardo, mas se situam entre as faixas limítrofes e médias baixas. 
Estes autores afirmam que existe uma grande variação na capaci-
dade mental e no progresso do desenvolvimento dessas crianças. 
74
Aprendem a andar entre 15 e 36 meses e apresentam um atraso na 
aquisição da linguagem.
 Algumas das características físicas das crianças com sín-
drome de Down são: achatamento da parte de trás da cabeça; pe-
quenas dobras de pele no canto interno dos olhos; língua proemi-
nente; ponto nasal achatada; orelhas, ligeiramente, menores; boca 
pequena; tônus muscular diminuído; ligamentos soltos; mãos e pés 
pequenos; pele na nuca em excesso. Em média, cinquenta por cento 
(50%) destas crianças têm uma linha que cruza a palma das mãos 
(linha simiesca), com um espaço aumentado entre o primeiro e se-
gundo dedos do pé. Podem apresentar malformações congênitas 
maiores. (MORAES e WEDERSON, 2011) 
(imagem: http://cienciasavidaprecisadelas.blogspot.com/2010/09/cariotipo.html)
75
 A AAMR (2006, p. 134) destaca alguns comportamentos 
da Síndrome de Down: 
► Melhor desempenho nas tarefas visuoespaciais.
► Ponto forte do comportamento adaptativo relativo à inteligência.
► Personalidade agradável e sociável.
► Depressão comum no adulto.
3.2.3. Síndrome de Williams
 É considerada uma síndrome mais rara que a síndrome de 
Down. É a síndrome do X Frágil. Na maioria dos casos, são muito so-
ciáveis, com boa percepção musical, ótimos contadores de histórias, 
com dificuldades relativas ao raciocínio espacial, à solução de proble-
mas e à coordenação motora fina, como também dificuldade para 
aprender a ler e escrever. (HONORA e FRIZANCO, 2008, p. 115). 
 Comportamentos destacados pela AAMR (2006, p. 134):
► Pontos fortes na linguagem, memória auditiva e no reconheci-
mento facial.
► Limitações: funcionamento visuoespacial, planejamento percep-
tual-motor e habilidades motoras finas.
► Pontos fortes: inteligência interpessoal.
► Prejuízo na cordialidade e inteligência social.
► Transtornos de ansiedade comum em todas as idades.
76
3.2.4. Síndrome de Angelman
 A Síndrome de Angelman não é reconhecida logo no nasci-
mento, pois os problemas de desenvolvimento são inespecíficos duran-
te este tempo. A idade mais comum de diagnóstico está entre três e sete 
anos, frente a condutas e traços mais evidentes. Para que o diagnóstico 
possa ser realizado, não há necessidade que todos os traços estejam 
presentes, principalmente quando no sexo masculino. (ASA, 2011)
 Características: crises convulsivas, dificuldade no andar, hi-
peratividade, riso e felicidade, problemas na fala e na linguagem, re-
tardo mental, hipopigmentação, estrabismo, albinismo ocular, pro-
blemas na estrutura do cérebro, transtornos do sono, problemas de 
alimentação, comportamento bucal e problemas no crescimento. 
 Comportamentos destacados pela AAMR (2006, p. 134):
► Surtos de riso inadequado, comum nos mais jovens.
► Disposição feliz em todas as idades.
► Hiperatividade e transtornos do sono, nos mais jovens.
Henri Angelman 
(imagem: http://www.frankvanhof.nl)
77
3.2.5. Síndrome do X Frágil
 Esta síndrome refere-se a uma alteração no cromossoma 
X, o qual causa deficiência intelectual e alterações no comporta-
mento, tais como: hiperatividade e dificuldade de atenção. Ocorre 
com mais frequência em homens com uma correspondência de um 
para 600 nascimentos. Entre as características principais destacam-
-se: dificuldade na aquisição da linguagem, dificuldades de aprendi-
zagem, formato do rosto alongado com leve projeção da mandíbula 
para frente, orelhas proeminentes e maiores que o normal e macro-
orquidismo. (HONORA e FRIZANCO, 2008, p. 115)
 Comportamentos segundo a AAMR (2006, p. 134):
► Melhores habilidades verbais que visuoespaciais.
► Pontos fortes: habilidades na vida diária e autocuidado.
► Desatenção, hiperatividade, comportamento do tipo autista.
► Transtornos de ansiedade comuns a todas as idades.
(imagem: http://www.brasilescola.com/biologia/sindrome-x-fragil.htm)
78
3.2.6. Síndrome Alcoólica Fetal
 Atualmente, reconhecida como a maior causa de retardo 
intelectual no ocidente. “A expressão Síndrome Alcoólica Fetal 
(SAF) foi criada em 1973 para descrever um padrão de malforma-
ção física e Deficiência Intelectual observado em filhos de mães 
alcoólatras.” (HONORA e FRIZANCO, 2008, p. 117).
 É caracterizada por: déficit de crescimento, dismorfismo 
facial, como espaço exagerado entre os olhos, também apresentam 
evidência de anormalidades do sistema nervoso central, como cé-
rebros pequenos com giros anormais. Somam-se a estas anoma-
lias alguns sintomas, tais como: vários graus de incapacidade para 
aprender, hiperatividade e outros problemas sociais.
 Honora e Franco destacam que:
 “A Síndrome Alcoólica Fetal não é uma síndrome radical. As 
anomalias induzidas pelo álcool podem variar desde efeitos físicos e 
psicológicos pouco notáveis para a Síndrome Alcoólica Fetal completa. 
Acredita-se que a gravidade dos efeitos esteja relacionada a: quando, 
quanto, e com que frequência o álcool é consumido.” (2008, p. 118)
 Segundo Ribeiro e Gonzalez (2011, p.46) o diagnóstico da 
SAF é mais fácil de ser realizado após o período neonatal, no entan-
to, os recém-nascidos de mães alcoólatras devem ser examinados 
cuidadosamente à procura dos sinais da SAF. 
79
Cérebro normal Síndrome alcoólica fetal
(Fonte/Imagem: http://www.faslink.org/fasmain.htm)
81
Síntese da Unidade
 A etiologia da Deficiência Intelectual é de grande impor-
tância, pois permite compreender os fatores causais responsáveis, 
proporcionando condições favoráveis para a prevenção e controle 
da deficiência. Neste capítulo foram abordados os fatores de risco 
que podem estar envolvidos neste processo. Tratam-se de fatores 
pré-natais, peri natais e pós-natais, e também algumas síndromes 
que tem como característica a deficiência intelectual.
Exercícios Propostos
► Busque maiores informações sobre as síndromes citadas no capítulo.
► Pesquise outras síndromes associadas à deficiência intelectual.
82
SAÚDE MENTAL E
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
Unidade 4
85
Caro(a) aluno(a)
Neste capítulo, procuraremos estabelecer a diferença entre 
Deficiência Intelectual e Doença Mental. Ao esclarecermos as ca-
racterísticas da Doença Mental, buscamos contribuir para o enten-
dimento e aceitação da pessoa que apresenta esta patologia.
Objetivos da unidade
Ao finalizar esta unidade, você deverá ser capaz de:
► Definir Doença Mental.
► Diferenciar Deficiência Intelectual de Doença Mental.
► Destacar as formas de tratamento das pessoas que apresentam 
Doença Mental.
 Conteúdos da unidade
► Deficiência Intelectual e Doença Mental. 
► Características e classificação de Doença Mental.
► Etiologia e tratamento da Doença Mental.
87
4.1. DEFICIÊNCIA INTELECTUAL:
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
 Durante muito tempo, Deficiência Intelectual e Saúde 
Mental foram termos análogos, constantemente associados pelas 
semelhanças que podem apresentar. Essa confusão deu-se pelo fato 
de não apenas os nomes serem parecidos, mas também porque, 
para muitos, as situações envolvidas são similares.
 Pode-se dizer que a ideia geral para grande parte das pesso-
as é a associação entre Deficiência Intelectual e Saúde Mental, visto 
que o doente mental costuma ser encarado como um indivíduo que 
não é capaz de pensar, ao mesmo tempo em que detém o estigma 
de sujeito perigoso.
 A mente não é um órgão separado de nós, por isso quando 
estamos desestruturados, nossa saúde física também é afetada de 
alguma maneira. (ACCIOLLY, s/data)
 Em alguns casos, além da Deficiência Intelectual, o indivíduo 
poderá apresentar doença ou transtorno que lhe afeta a mente, para o 
que se faz necessário definir e diferenciar as principais características 
existentes entre esses dois diagnósticos clínicos. (SANTANA, 2009)
 Segundo a Associação Americana de Deficiência e o Ma-
nual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais,entende-se 
por Deficiência Intelectual, o estado de redução notável do funcio-
namento intelectual, significativamente inferior à média, associado a 
limitações, pelo menos em dois aspectos do funcionamento adap-
tativo: comunicação e cuidados pessoais, competências domésticas, 
88
habilidades sociais, utilização dos recursos comunitários, autonomia, 
saúde e segurança, aptidões escolares, lazer e trabalho. Todos esses 
aspectos devem ocorrer durante o desenvolvimento infantil, ou seja, 
antes dos 18 anos, para que um indivíduo seja diagnosticado como 
deficiente intelectual. (SANTANA, 2009)
 Deve-se ressaltar, ainda, que a Deficiência Intelectual não 
é uma doença transmitida através do contato com outras pessoas, 
nem o convívio com o Deficiente Intelectual pode provocar qual-
quer dano em pessoas que não o sejam. Assim, não faz sentido 
esperar ou procurar a cura para a deficiência, mas faz-se necessário, 
mais tempo, auxílio de professores e profissionais, especializados, 
regras e apoio à família, pois a maioria das crianças com esta defici-
ência consegue aprender a fazer muitas coisas úteis e de bem-estar 
para a comunidade onde vivem.
 Quanto aos fatores causadores da Deficiência Intelectual, 
Kaplan (1997) salienta as condições genéticas, isto é, herdadas e 
cromossômicas, exposição pré-natal a infecções e toxinas, trauma 
perinatal como prematuridade, condições adquiridas e fatores so-
cioculturais. A gravidade da Deficiência Intelectual pode estar re-
lacionada ao momento de ocorrência e a duração da exposição do 
sistema nervoso central.
 Assim, vale ressaltar que muitas vezes (em 42% dos casos), 
mesmo com a utilização de sofisticados recursos diagnósticos, não 
é possível definir com clareza a Etiologia da Deficiência Intelectual, 
se ela, invariavelmente decorre de complexas e inúmeras causas, 
salientando-se os fatores genéticos (29%), hereditários (19%) e am-
bientais (10%).
89
 Dados levantados no ano de 2000, através do Censo De-
mográfico do IBGE, citado por Accioly (s/data), indicam que 8.3% 
dos tipos de deficiência são de natureza intelectual, o que equivale a 
2.844.936 pessoas, sendo 1.545.462 homens e 1.299.474 mulheres.
 Para Kaplan (1997), o retardo mental leve é significativa-
mente mais prevalente entre as pessoas de classe socioeconômica 
mais baixa, com privação cultural. Diz o autor que muitos dos mem-
bros da família ou parentes são afetados com graus semelhantes de 
Deficiência Intelectual e nenhuma causa biológica foi identificada 
nesses casos.
 As crianças de famílias pobres, de nível socioeconômico 
baixo, estão sujeitas a condições potencialmente patogênicas e ad-
versas ao desenvolvimento. O ambiente pré-natal é comprometido 
pela deficiência de cuidados médicos e nutrição materna. A gravi-
dez de adolescentes é frequente e está associada a complicações 
obstétricas, prematuridade e baixo peso ao nascer. 
4.2. A COMPREENSÃO E TRATAMENTO 
DA DOENÇA MENTAL: SUPERANDO 
MITOS E PRECONCEITOS
 Já, a Doença Mental consiste em distúrbio grave que causa 
alterações biológicas no cérebro e debilidades em diferentes graus. 
A Psiquiatria clássica considera os sintomas como sinal de um dis-
túrbio orgânico, ou seja, equipara a Doença Mental à doença ce-
rebral, argumentando que sua origem é endógena, aparece dentro 
do organismo, e refere-se a alguma lesão de natureza anatômica ou 
distúrbio fisiológico cerebral. Hoje, fala-se na química da loucura, 
sendo que inúmeras pesquisas nesse sentido estão em andamen-
90
to. Nessa abordagem, algum distúrbio ou anomalia da estrutura ou 
funcionamento cerebral leva a distúrbios do comportamento, da 
afetividade, do pensamento.
 Desde há muito tempo, a Doença Mental vem sendo 
acompanhada de medo e mistério. Em uma breve retrospectiva his-
tórica é possível observar a associação frequente entre Deficiência 
Intelectual e Doença Mental e as raras internações em hospitais. No 
Renascimento, as internações ocorriam de forma semelhante quan-
to ao atendimento prestado, ou seja, os pacientes acometidos de 
uma Doença Mental recebiam o mesmo tratamento que os demais 
doentes como sangrias, purgações, ventosas. Nos séculos XVII e 
XVIII, não havia diagnósticos médicos para esses quadros, porém 
a rotulação de loucura era dada por instituições como a Igreja, a 
Justiça e a Família, baseada em transgressões da lei e da moralidade. 
Embora, já houvesse hospitais no século XVII para os excluídos 
da sociedade (doentes mentais, inválidos, mendigos, criminosos, 
portadores de doenças venéreas e libertinos), a medicina ainda não 
estava desenvolvida a ponto de diagnosticá-la. Apenas, no século 
XVIII, é que Phillipe Pinel, considerado o pai da Psiquiatria, liber-
tou os doentes mentais dos grilhões que os prendiam. Com isso, 
apareceram os manicômios, dirigidos apenas aos doentes mentais, 
em substituição aos asilos e desenvolveram-se muitas experiências 
e formas de tratamento nos hospitais La Bicêtre e Salpêtrière, da 
França para toda a Europa. 
 O início da Modernidade trouxe reflexões médicas e filo-
sóficas que situaram a loucura como algo que ocorria no interior 
do próprio homem. Assim, o médico ganhou a autoridade máxima 
para resolver os assuntos ligados a esse mal, sendo uma de suas atri-
buições a recuperação do louco, a partir da medicação. Posterior-
mente, aparece a Psiquiatria como especialidade médica destinada a 
esses tratamentos. 
91
 Freud trouxe importantíssimas contribuições ao tema com 
o desenvolvimento da Psicanálise, que afirma existirem as mesmas 
estruturas de personalidade e de conteúdos nos indivíduos “nor-
mais” e nos “anormais”. O que se diferencia são as “ativações”, 
maiores ou menores, que podem ocorrer no indivíduo, capazes de 
produzir os distúrbios.
 Sabe-se que as repercussões psicossociais que podem advir 
de um diagnóstico de comprometimento mental são estigmatizantes 
e excludentes, o que pode acarretar maiores danos ao estado men-
tal dos sujeitos. Daí, a importância de um diagnóstico profissional 
que se preocupe em não patologizar aspectos do comportamento, 
mas em demonstrar a relatividade do conceito de normalidade e, a 
necessidade de relativizar as diferenças históricas e socioculturais 
ao se determinar a conduta de uma pessoa. Por conseguinte, é fun-
damental considerar os aspectos biopsicossociais uma vez que o ser 
humano deve ser visto em sua totalidade, o que significa que diante 
da saúde mental, é indispensável pensar na cura, através de um em-
basamento teórico consistente e do uso de medicação adequada, e 
na prevenção, que implica na implementação de ações pertinentes, 
no contexto social. (BOCK, 1991; SANTOS, 2011).
 No emergir deste modelo holístico – biopsicossocial – a 
concepção tradicional que vê a doença, o órgão e desvaloriza as rami-
ficações pessoais, familiares, sociais e culturais, deu lugar a uma com-
preensão sistêmica que vê a doença como pertencente a uma pessoa 
que é parte integrante de um sistema de unidades hierarquicamente 
organizadas, unidas por um sistema de regulação. Assim, saúde e do-
ença são processos dinâmicos, em constante evolução, multicausais 
influenciados por variáveis biológicas e socioculturais, o que determi-
na o caráter de construção social da doença. (SANTOS, 2011)
92
 Santos (2011) cita Ingleby (1982), que afirma que a expres-
são “construção social das doenças” visa descrever uma interação 
particular entre fatores sociais, culturais – atitudes, crenças, relações 
sociais, ideias e as descobertas científicas que permitem a definição 
e/ou transformação dos significados atribuídos às doenças. Assim, 
Santos (2011) diz que para o autor dizer que a doença mental é social-
mente construída não quer dizer que não existe, não significa negar a 
realidade dos sintomas ou do sofrimento das pessoas. Mas, significa 
dizer que, ao explicar o sofrimento, ao colocar a doença no plano dis-
cursivo, o profissional de saúde, médico ou outros técnicos de saúde, 
podem influenciar a evolução dos sintomas. (SANTOS, 2011)Nos dias de hoje, enormes progressos no entendimento e 
compreensão, da Doença Mental têm sido feitos, principalmente 
pela disponibilidade e capacidade de oferta de tratamentos eficazes. 
Mas, ainda assim, pairam dúvidas que se não esclarecidas acabam 
por impedir que as pessoas procurem ajuda adequada.
 A Reforma Psiquiátrica tenta desconstruir os mitos e es-
tigmas que se desenvolveram a partir das concepções de saúde e 
Doença Mental, buscando um novo estatuto social que garanta ci-
dadania, respeito aos direitos e a individualidade do doente men-
tal. Neste modelo, intenta substituir a internação, tida como for-
ma de exclusão, por uma rede de serviços de atenção psicossocial, 
composta por centros de atenção psicossocial (CAPS), centros de 
convivência e cultura assistidos, cooperativas de trabalho protegi-
do (economia solidária), oficinas de geração de renda e residências 
terapêuticas, de modo a mudar o sistema de tratamento clínico da 
doença, promovendo a integração do doente mental à comunidade. 
Ao descentralizar e territorializar o atendimento em saúde, confor-
me previsto pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, busca 
93
desativar os manicômios, transformando o modelo arcaico de aten-
dimento aos transtornos mentais.
 A Doença Mental engloba uma série de condições que afe-
tam o desempenho da pessoa na sociedade, como por exemplo, 
alterações no humor, concentração e bom senso, que trazem como 
consequência alteração na percepção da realidade.
 Bock (1991) refere os sintomas e, portanto, a Doença 
Mental como uma desorganização da personalidade que se instala 
na personalidade do indivíduo levando a uma alteração de sua es-
trutura ou a um desvio progressivo em seu desenvolvimento. Dessa 
forma, as doenças mentais são definidas a partir do grau de pertur-
bação da personalidade, ou seja, do grau de desvio, do que é consi-
derado como personalidade normal ou comportamento padrão.
 As doenças mentais dividem-se em dois grandes grupos: as 
neuroses e as psicoses. As neuroses são características encontradas 
em qualquer pessoa, como medo e ansiedade, porém, nos quadros 
patológicos encontram-se de modo exacerbado. Já as psicoses são 
fenômenos psíquicos anormais, como os delírios, perseguição e 
confusão mental. Pode-se citar como exemplos: a depressão, TOC 
(Transtorno Obsessivo Compulsivo), transtorno bipolar, esquizo-
frenia, dentre outros.
 De acordo com a NAMI (Aliança Nacional de Doenças 
Mentais Americana) as doenças mentais são (ACCIOLY, s/data):
► Distúrbios graves que causam alterações biológicas no cérebro e 
são debilitantes em diferentes graus.
► Os sintomas de doenças mentais tipicamente começam a aparecer na 
adolescência ou idade adulta jovem. Doença mental atinge cerca de 5% 
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dos adultos e 9% das crianças e dos adolescentes dos Estados Unidos.
► Não tratada, a Doença Mental pode resultar em desemprego, 
abuso de substâncias psicoativas, deterioramento das relações inter-
pessoais, e nos casos mais graves encarceramento e suicídio.
► Doenças Mentais são doenças como quaisquer outras, e com 
intervenções modernas, são altamente tratáveis.
 Doenças Mentais são comuns, assim como suas condições 
mais leves. Levantamentos epidemiológicos demonstram que cerca de 
30% a 50% da população brasileira apresenta pelo menos um episódio 
de algum transtorno mental durante a vida. Por conta desses trans-
tornos, aproximadamente 20% a 40% desta população necessita de 
algum tipo de atendimento e ajuda profissional. (ACCIOLY, s/data)
 Já, as Doenças Mentais mais graves e persistentes apresen-
tam-se de forma menos comum, atingindo cerca de 3% da popula-
ção. A grande maioria dos indivíduos continua a funcionar na sua 
vida, embora apresentando diferentes dificuldades.
 As causas exatas da Doença Mental são desconhecidas, 
mas muitas pesquisas vêm aproximando-se de muitas respostas. 
Pode-se dizer que o fator hereditariedade interage com fatores am-
bientais desencadeantes. Seja qual for a causa, o indivíduo que de-
senvolve a doença ou o transtorno mental, muitas vezes se sente em 
sofrimento, desesperançado e incapaz de levar sua vida de forma 
plena. Portanto, caracteriza-se como uma variação mórbida do nor-
mal, sendo capaz de produzir prejuízos no desempenho global das 
pessoas nos âmbitos social, familiar, pessoal e ocupacional.
 A Doença Mental deve ser compreendida com a mesma 
naturalidade com que se encara outra doença, sem conotações e 
estigmas. Todas as pessoas estão sujeitas a problemas no âmbito 
psicológico, mais ou menos graves.
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4.3. RELAÇÃO ENTRE DEFICIÊNCIA
INTELECTUAL E DOENÇA MENTAL
 Falar em Doença Mental implica pensar em cura e preven-
ção. Prevenção em Doença Mental significa criar formas e estraté-
gias para evitar o seu aparecimento.
 Portanto, pensando em Saúde Mental e Deficiência Inte-
lectual, pode-se salientar como a principal diferença a limitação no 
desenvolvimento das funções necessárias para compreender e inte-
ragir com o mundo que o cerca, no que diz respeito à Deficiência 
Intelectual, enquanto que na Doença Mental, essas funções existem, 
mas ficam comprometidas pelos fenômenos psíquicos aumentados 
ou anormais. É necessário ressaltar que as duas podem apresentar-
-se juntas em um paciente. Pessoas com Deficiência Intelectual po-
dem ter associada à Doença Mental, de modo que, o tratamento 
deve levar em conta as duas situações. (PINHEIRO, 2009)
 Quando se fala em saúde, tanto do deficiente intelectual, 
como do indivíduo doente mental, significa pensar em saúde men-
tal como um todo, no homem como um ser biológico, psicológico e 
sociológico, e ao mesmo tempo, em todas as condições de vida que 
lhe possam propiciar bem-estar físico, mental e social.
 Entender Saúde Mental e Deficiência Intelectual é o ponto 
de partida para, que se possa intervir, apoiar, identificar e promover 
os cuidados e atendimento a direitos. Esses procedimentos influen-
ciam pessoalmente um grande grupo de pessoas, bem como também 
a qualidade de vida de seus familiares e de todos os que o cercam.
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Texto Complementar
 O Nariz
 Era um dentista, respeitadíssimo. Com seus quarenta e 
poucos anos, uma filha quase na faculdade. Um homem sério, só-
brio sem opiniões surpreendentes, mas uma sólida reputação como 
profissional e cidadão. Um dia, apareceu em casa com um nariz 
postiço. Passado o susto, a mulher e a filha sorriram com fingida 
tolerância. Era um daqueles narizes de borracha com óculos de aros 
pretos, sobrancelhas e bigodes que fazem a pessoa ficar parecida 
com o Groucho Marx. Mas, o nosso dentista não estava imitando 
o Groucho Marx. Sentou-se à mesa do almoço – sempre almoçava 
em casa com retidão costumeira, quieto e algo distraído. E com o 
nariz postiço.
― O que é isso? – perguntou a mulher depois da salada, sorrindo 
menos.
― Isto o quê?
― Esse nariz?
― Ah! Vi numa vitrina, entrei e comprei.
― Logo você, papai...
 Depois do almoço, ele foi recostar-se no sofá da sala, como 
fazia todos os dias. A mulher impacientou-se:
― Tire esse negócio.
― Por quê?
― Brincadeira tem hora.
― Mas, isto não é brincadeira.
Sesteou com o nariz de borracha para o alto. Depois de meia hora, 
levantou-se e dirigiu-se para a porta. A mulher o interpelou.
― Aonde é que você vai?
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― Como, aonde é que eu vou? Vou voltar para o consultório.
― Mas, com esse nariz?
― Eu não compreendo você – disse ele, olhando-a com censura 
através dos aros sem lentes. Se fosse uma gravata nova você não 
diria nada. Só porque é um nariz...
― Pense nos vizinhos. Pense nos clientes.
 Os clientes, realmente, não compreenderam o nariz de 
borracha. Deram risadas (“Logo o senhor, doutor”), fizeram per-
guntas, mas terminaram a consulta intrigados e saíram do consul-
tório com dúvidas.
― Ele enlouqueceu?
― Não sei – respondia a recepcionista, que trabalhava com ele há 15 
anos. Nunca o vi assim.
 Naquela noite, tomou seu chuveiro, como fazia sempre an-
tes de dormir. Depois, vestiu o pijama e o nariz postiço e foi deitar-se.
― Você vai usar esse narizna cama? – perguntou a mulher.
― Vou. Aliás, não vou mais tirar esse nariz.
― Mas, por quê?
― Por que, não?
 Dormiu logo. A mulher passou a metade da noite olhando 
para o nariz de borracha. De madrugada começou a chorar baixi-
nho. Ele enlouquecera. Era isto. Tudo estava acabado. Uma carreira 
brilhante, uma reputação, um nome, uma família perfeita, tudo tro-
cado por um nariz postiço.
― Papai...
― Sim, minha filha.
― Podemos conversar?
― Claro que podemos.
― É sobre esse seu nariz...
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― O meu nariz, outra vez? Mas, vocês só pensam nisso?
― Papai, como é que nós não vamos pensar? De uma hora para 
outra um homem como você resolve andar de nariz pórtico e não 
quer que ninguém note?
― O nariz é meu e vou continuar a usar.
― Mas, por que papai? Você não se dá conta de que se transformou 
no palhaço do prédio? Eu não posso mais encarar os vizinhos, de 
vergonha. A mamãe não tem mais vida social.
― Não tem porque não quer...
― Como é que ela vai sair na rua com um homem de nariz postiço?
― Mas, não sou “um homem”. Sou eu. O marido dela. O seu pai. 
Continuo o mesmo homem. Um nariz de borracha não faz nenhu-
ma diferença.
― Se não faz nenhuma diferença, então por que usar?
― Se não faz diferença, por que não usar?
― Mas, mas...
― Minha filha...
― Chega! Não quero mais conversar. Você não é mais meu pai!
 A mulher e a filha saíram de casa. Ele perdeu todos os 
clientes. A recepcionista, que trabalhava com ele, há 15 anos, pediu 
demissão. Não sabia o que esperar de um homem que usava nariz 
postiço. Evitava aproximar-se dele. Mandou o pedido de demissão 
pelo correio. Os amigos mais chegados, numa última tentativa de 
salvar sua reputação, o convenceram a consultar um psiquiatra.
― Você vai concordar – disse o psiquiatra, depois de concluir que 
não havia nada de errado com ele – que seu comportamento é um 
pouco estranho...
― Estranho é o comportamento dos outros! – disse ele. Eu conti-
nuo o mesmo. Noventa e dois por cento do meu corpo continua o 
que era antes. Não mudei a maneira de vestir, nem de pensar, nem 
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de me comportar. Continuo sendo um ótimo dentista, um bom ma-
rido, bom pai, contribuinte, sócio do Fluminense, tudo como antes. 
Mas, as pessoas repudiam todo o resto por causa deste nariz. Um 
simples nariz de borracha. Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o 
meu nariz?
― É... – disse o psiquiatra. – Talvez você tenha razão...
 O que você acha, leitor? Ele tem razão? Seja como for, não 
se entregou. Continua a usar nariz postiço. Por que, agora, não é 
mais uma questão de nariz. Agora, é uma questão de princípios.
Luis Fernando Veríssimo. O analista de Bagé. 28ª ed.
Porto Alegre, L&PM, 1981. p 39-42.
(Retirado do livro de Ana M. Bahia Bock, Psicologias, 4.ªed. São 
Paulo. Saraiva, 1991)
 
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Síntese da Unidade
 Nesta unidade foram apresentadas as definições de defi-
ciência intelectual como contraponto a definição de saúde mental, 
no intuito de estabelecer uma diferenciação entre estes termos. São 
apresentadas características das doenças mentais, classificação, for-
mas de tratamento, bem como orientações para que as pessoas que 
possuem esta patologia possam ser inseridas na sociedade.
Exercícios Propostos
► Quais os critérios que usamos para rotular alguém como normal 
ou como louco?
► Que tipo de coisas, devemos mudar na sociedade no sentido de 
promover a saúde mental?

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