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0 1 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil SUMÁRIO A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ............................................................................... 2 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 2 O PROCESSO DE FORMAÇÃO HUMANA E A EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA VISÃO SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA .................................................................................................... 5 A EDUCAÇÃO FÍSICA E O MOVIMENTAR-SE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM TEMPO/ESPAÇO DE EXPERIÊNCIAS ................................................................................................................................... 12 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ............................................. 24 EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL ........................................................................................................ 25 PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SÉRIES INICIAIS........................................ 27 CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA FASE ESCOLAR ........................................................ 29 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA .................................................................................................. 33 A EDUCAÇÃO INFANTIL E A LDB ...................................................................................................... 33 A CRIANÇA E SEU CRESCIMENTO ................................................................................................... 34 O MOVIMENTO E A EDUCAÇÃO INFANTIL....................................................................................... 38 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL .................................................................... 40 CONCLUSÃO....................................................................................................................................... 44 REFERÊNCIA ...................................................................................................................................... 46 2 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Introdução A legislação da educação brasileira estabelece que a Educação Básica compreende três níveis de ensino: a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. A Educação Infantil, nosso foco de estudo no presente artigo, refere- se às instituições de atendimento às crianças de 0 a 6 anos de idade, e são mais comumente conhecidas como creches e pré-escolas, como pode ser encontrado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB9394/96. 3 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil A escola infantil é, portanto, conforme nossa compreensão, um lugar de descobertas e de ampliação das experiências individuais, culturais, sociais e educativas, através da inserção da criança em ambientes distintos dos da família. Um espaço e um tempo em que sejam integrados o desenvolvimento da criança, seu mundo de vida, sua subjetividade, com os contextos sociais e culturais que a envolvem através das inúmeras experiências que ela deve ter a oportunidade e estimulo de vivenciar nesse espaço de sua formação. Compreendemos, então, que a Educação Física tem um papel fundamental na Educação Infantil, pela possibilidade de proporcionar às crianças uma diversidade de experiências através de situações nas quais elas possam criar, inventar, descobrir movimentos novos, reelaborar conceitos e idéias sobre o movimento e suas ações. Além disso, é um espaço para que, através de situações de experiências – com o corpo, com materiais e de interação social – as crianças descubram os próprios limites, enfrentem desafios, conheçam e valorizem o próprio corpo, relacionem-se com outras pessoas, percebam a origem do movimento, expressem sentimentos, utilizando a linguagem corporal, localizem-se no espaço, entre outras situações voltadas ao desenvolvimento de suas capacidades intelectuais e afetivas, numa atuação consciente e crítica. Dessa forma, essa área do conhecimento poderá contribuir para a efetivação de um programa de Educação Infantil, comprometido com os processos de desenvolvimento da criança e com a formação de sujeitos emancipados. 4 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil Para isso, entendemos que o ensino “não pode ser concebido como uma mera aplicação de normas, técnicas e receitas pré-estabelecidas, mas como um espaço de vivências compartilhadas, de busca de significados, de produção de conhecimento e de experimentação na ação. ” (Sacristán, Gómes, 2002. Necessitará para isso, estar pautado em um agir comunicativo, racional e crítico, que se oriente pelo desenvolvimento de uma capacidade questionadora e argumentativa consciente perante a realidade (Kunz, 1994). Partindo dessa perspectiva, objetivamos com o presente artigo, trazer algumas contribuições sobre a Educação Física na Educação Infantil, fundamentadas na importância do movimentar-se humano e nas contribuições que as experiências com a cultura do movimento podem trazer nesse período de vida da criança e em todo o seu processo de formação. Para isso, inicialmente vamos pontuar alguns aspectos que consideramos relevantes ao falarmos do processo de desenvolvimento humano e da educação infantil e, num segundo momento, falaremos especificamente sobre como a Educação Física através do movimentar-se humano pode contribuir para o desenvolvimento da criança na Educação Infantil, tendo como pano de fundo uma concepção crítica do ensino. 5 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil O processo de formação humana e a Educação Infantil: uma visão sobre o desenvolvimento da criança Os estudos sobre o desenvolvimento humano, e por conseqüência, dos processos de ensino e aprendizagem passaram por evoluções significativas ao longo dos anos, onde foram desenvolvidas teorias para tentar entender um pouco mais sobre como esse processo se consolida na vida dos sujeitos. Para isso, presenciamos estudos e teorias decorrentes destes que enfocaram o desenvolvimento humano a partir de diferentes aspectos, tais como: o afetivo, maturacional/motor, cognitivo e social. Essas noções de desenvolvimento atreladas a determinados aspectos trouxeram grandes contribuições para o que sabemos hoje em termos de desenvolvimento humano, como um processo que se realiza durante todo o ciclo vital dos sujeitos. Tratando-se desse aspecto, e considerando sua relevância para entendermos um pouco melhor as necessidades que as crianças têm nesse período de vida, abordamos o desenvolvimento partindo de alguns pressupostos da teoria vygotskiana. 6 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil A teoria vygotskiana trata dos processos de desenvolvimento psíquicos e fisiológicos de forma integrada, o que permite pensar o desenvolvimento como processos naturais entrelaçados com os culturais, e que, portanto, não encontra suas bases somente no indivíduo, mas, fundamentalmente nas relações sociais que estabelece dentro de uma cultura na sociedade historicamente situada e dos inúmeros espaços e instituições criadas nessa mesma sociedade. Na medida em que acontecem as interações, o sujeito vai se transformando e transformandotambém a sociedade à sua volta de forma intencional, tornando-se construído e construtor de uma cultura, onde as contradições entre sujeito e objeto, sujeito e sociedade não podem ser analisadas separadamente, pois são interdependentes. A escola enquanto uma instituição social inserida num contexto histórico- cultural que influencia e é influenciada por esse contexto em relações de interação, é um lugar onde acontece uma intervenção pedagógica intencional que desencadeia processos de ensino e de aprendizagem entre os sujeitos que se encontram em interação. Assim, a função pedagógica tem por finalidade proporcionar estímulos auxiliares e ajudas externas às crianças durante a educação infantil, corroborando uma aquisição que não se dá naturalmente. Embora acreditemos na necessidade de proporcionar esses estímulos auxiliares ao desenvolvimento, bem como medir e intervir nesse processo, quando falamos na educação infantil esse aspecto merece ser ressaltado, uma vez que 7 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil partimos da compreensão de que esse nível de ensino deve ser um espaço socioeducativo onde é fundamental permitir que a criança tenha acesso a elementos da cultura universal e da natureza, a trocas de experiências com outras crianças e à mediação do professor, para que dessa maneira possa construir e elaborar hipóteses para a compreensão e intervenção no mundo, desfrutando, assim, de um processo de desenvolvimento e aprendizagem mais rico e significativo. No entanto, esse processo de mediação e de intervenção não é nada simples, especialmente se nos referirmos à educação infantil, pois temos que identificar as construções simbólicas que as crianças têm nesse momento e que irão dar suporte para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Esse processo de desenvolvimento das funções psicológicas superiores acontece, conforme Vygotsky, passando por dois níveis: primeiramente no nível interpessoal, ou seja, parte das relações interativas entre o sujeito e o meio/outros sujeitos, para o nível intrapessoal, isto é, partindo das interações o sujeito constrói ou (re)significa suas concepções prévias tornando-as parte do seu mundo, dando nesse nível um caráter subjetivo. A passagem de nível acontece através de um processo de internalização, uma vez que o sujeito internaliza novas compreensões. Para que a internalização ocorra, é fundamental, segundo a teoria vygotskiana, um processo de mediação, partindo da idéia de que o sujeito não tem acesso direto ao conhecimento, senão mediado por outros sujeitos, e pela utilização de ferramentas – instrumentos materiais – e de símbolos, de signos 8 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil – instrumentos psicológicos, produzidos culturalmente ao longo da história do sujeito, que produzem uma reestruturação das funções naturais. Nesse sentido, a internalização das formas culturais de conduta implica a reconstrução da atividade psicológica sobre a base das operações com signos, não como recepção na consciência de conteúdos externos, mas como criadora de consciência. E, sendo a criança um ser humano em processo de desenvolvimento, ela tem a necessidade sim, de um adulto para mediar suas necessidades de cuidado e educação. Nesse contexto, o professor é o sujeito responsável por interferir no processo de aprendizagem do aluno, como um mediador entre o aluno o os objetos/mundo, estimulando e adiantando avanços no desenvolvimento da criança a partir de uma interferência na zona de desenvolvimento proximal, ou seja, a partir do conhecimento que o aluno tem e das ferramentas de que dispõe para a realização da atividade, o professor poderá ajudá-lo a alcançar a zona de desenvolvimento potencial, tornando-a real, dando seqüência ao aspecto espiralado do processo. A criança, nesse processo, passa a ser não somente o sujeito que aprende, mas aquele que aprende, junto ao outro, o que seu grupo social produz, isto é, valores, linguagem, símbolos, signos, sinais e o próprio conhecimento. Os processos pedagógicos passam a ser essenciais na construção dos conceitos, uma vez que a formação dos conceitos espontâneos que a criança realiza na interação com uma determinada cultura, não se dá do mesmo modo como a formação dos conceitos científicos, que para serem adquiridos precisam de um contexto organizado e sistematizado de ensino, e da interação com outros contextos, para que a criança 9 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil possa conhecer os significados e criar sentidos para os conceitos a partir de suas vivências. Para que a intervenção pedagógica contribua para esse desenvolvimento, ela deverá propiciar à criança a aquisição de uma linguagem, enquanto forma de comunicação entre os sujeitos e o elemento básico no processo de produção do conhecimento. A linguagem, como elemento fundamental, é um sistema simbólico que nos fornece os conceitos e as formas de organização do real, possibilitando a comunicação e a expressão, a formação das funções psicológicas superiores e a categorização do mundo, através da geração de conhecimentos. Para Vygotsky, a aquisição da linguagem passa pela linguagem egocêntrica, tratando-se de uma linguagem para si mesmo e de caráter comunicativo para os outros, que permite aos sujeitos organizarem melhor as idéias e planejar as ações e a linguagem interior, intimamente ligada ao pensamento. Quando as palavras passam a ser pensadas, mas não necessariamente faladas, essa fase de discurso interior é produto de uma transformação em pensamento verbal individualizado da fala que até então servia os objetos da comunicação. Assim, a linguagem cumpre funções diferenciadas, passando de uma função comunicativa até a regulação do comportamento e a produção de efeitos sobre o meio social. A linguagem interior, nos estudos de Vygotsky, nos traz a necessidade de pensar numa representação importante do sentido sobre o significado, tornando a linguagem uma interface com sistemas simbólicos culturalmente fixados, isso porque o sentido é suscitado em nossa consciência pela representação da 10 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil palavra/objeto/ação e o significado reflete um conceito generalizado, isto é, as representações culturalmente aceitas da palavra/objeto/ação. Os processos de internalização que se estabelecem através da linguagem, remetem-nos a pensar no conceito de atividade proposto por Vygotsky, o qual, conforme comentamos anteriormente, requer ferramentas psicológicas e meios de comunicação interpessoal. Assim, a atividade humana, está sempre dirigida a uma finalidade, tem uma intenção, geralmente ligada a uma necessidade individual, que pode tornar-se coletiva ao estabelecer a interação com outros sujeitos que possuem as mesmas necessidades, uma vez que possuem uma representação sobre determinado objeto, mas esta, não mais satisfaz suas necessidades, desafiando-os a produzir algo novo. A produção do novo, vai se dar através das ações que serão realizadas pelos sujeitos com esse fim, isto é, partindo de sua necessidade os sujeitos vão coordenar e organizar seu pensamento de modo que possam realizar operações conforme as situações concretas, adaptando as ferramentas das quais dispõe a sua intencionalidade na atividade. Para Vygotsky a atividade é percebida como uma atualização da cultura no comportamento individual fundamentada na função simbólica do gesto, das ações e das interações. É através de sua concretização que podem ser construídos novos símbolose significados, que podem ou não serem incorporados pela cultura. 11 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil Relacionando o conceito de atividade no ambiente escolar, a teoria vygotskiana nos mostra que existem dois tipos de atividade: a atividade educacional altamente organizada, que permite à criança a aquisição/construção dos conceitos científicos e a atividade espontânea, originada a partir da reflexão da criança sobre suas experiências diárias. O entendimento do processo de aprendizagem, segundo Vygotsky pode se dar através da noção de Zonas de Desenvolvimento, elaboradas como uma metáfora para ajudar a explicar como ocorre a aprendizagem social e participativa. As zonas de desenvolvimento compreendem: a zona real, a proximal e a potencial. A zona de desenvolvimento real seria o nível atual, isto é, os conhecimentos que o sujeito já possui incorporados, formados, permitindo-o agir por si próprio; a zona de desenvolvimento proximal compreende a integração da dimensão atual e potencial do desenvolvimento humano, uma vez que trata das possibilidades já conquistadas e das que vão se concretizar, necessitando da intervenção de outro sujeito; e a zona de desenvolvimento potencial trata dos conhecimentos que o sujeito possa vir a construir, da potencialidade para aprender. Este processo de apropriação vai do social ao individual, devendo ser entendido sempre de maneira prospectiva. As zonas de desenvolvimento estão atreladas à construção de conceitos através do processo de aprendizagem. De acordo com as zonas de desenvolvimento, essa associação se dá, primeiramente, através da percepção da palavra como signo individual, depois torna-se um nome familiar, dando especificidade aos objetos, e por fim constroem-se os conceitos abstratos. 12 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil É nessa perspectiva que Vygotsky fala que a aprendizagem deve ser olhada sob uma ótica prospectiva, isto é, não deve se basear no que a criança aprendeu, mas como ela está aprendendo e o que poderá aprender. É isso que garante, de fato, a intervenção do professor na evolução constante da trajetória dos educandos. A Educação Física e o movimentar-se na educação infantil: um tempo/espaço de experiências Cada criança possui inúmeras maneiras de pensar, de jogar, de brincar, de falar, de escutar e de se movimentar. Por meio destas diferentes linguagens é que se expressam no seu cotidiano, no seu convívio familiar e social, construindo sua cultura e identidade infantil. A criança se expressa com seu corpo, através do movimento. O corpo possibilita à criança apreender e explorar o mundo, estabelecendo relações com os outros e com o meio. A criança utiliza seu corpo e o movimento como forma para interagir com outras crianças e com o meio, produzindo culturas. Essas culturas estão embasadas em valores como a ludicidade, a criatividade nas suas experiências de movimento (Sayão, 2002). O que significa que as práticas escolares devem respeitar, compreender e acolher o universo cultural infantil, dando acesso a outras formas de produzir conhecimento que são fundamentais para o desenvolvimento da criança. 13 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil É importante ressaltarmos, então, que o corpo fala, cria e aprende com o movimento. Expressando-se através de gestos, que são ricos de sentidos e de intencionalidades. Entretanto, pela vivência de uma história de repressão, os sujeitos deixaram de perceber seu próprio corpo, seus desejos e suas vontades expressos no movimentar-se humano. As manifestações corporais nas práticas pedagógicas da Educação Física foram influenciadas pela visão dualista e racional, que se sustentaram na concepção positivista, e acabaram fundamentando todo o pensamento moderno, principalmente, a instituição escolar. Este pensamento, que na modernidade assumiu a forma do dualismo cartesiano, separou o sujeito do seu corpo, privilegiando as experiências cognitivas e desconsiderou o corpo como elemento fundamental do processo de produção de conhecimento. Assim, todas as manifestações ligadas ao corpo e sua expressão por meio do movimento tornaram-se inconvenientes, passando a serem reprimidas, pois “todo movimento é considerado como distração e desvio das funções da mente” (Santin, 2001, p. 18). Ou então, na melhor das hipóteses, tem sido orientada em uma razão instrumental, que tenta tornar o movimento humano mais econômico e eficiente para atingir determinados objetivos, atrelando-se somente a resultados técnicos. Essa forma de trabalhar com o movimento humano pressupõe um movimento ‘correto’ que serve de parâmetro, sendo a otimização o seu principal interesse. Contrariamente e essa visão, acreditamos que o corpo adquire um papel fundamental na infância, pois este é um modo de expressão e de vinculação da criança com o mundo. Portanto, o corpo não pode ser pensado como experiência desvinculada da inteligência ou ser considerado apenas como uma forma mecânica 14 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil de movimento, incapaz de produzir novos saberes. Como nos afirma Santin (1987, p. 34), “o movimento humano pode ser compreendido como uma linguagem, ou seja, como capacidade expressiva”, o que vai muito além desta concepção mecanicista do movimento. Dessa forma, enfatizamos a necessidade de as práticas pedagógicas na educação infantil proporcionarem às crianças esse espaço de criação, de expressão e de construção do conhecimento através das suas experiências e vivências de movimento. As condições para isso, acreditamos, estão embasadas em uma concepção dialógica de movimento de Gordjin e Tamboer (1979). O ponto de orientação dessa concepção de movimento “é a criança (o ser humano) que se move, que se encontra em um diálogo pessoal e situacional com o mundo”. No movimentar-se dessa forma, a criança deve ser compreendida como um sujeito livre e autônomo, como uma totalidade, ou seja, como um sujeito com experiências determinadas de forma específica e biográfica, que está sempre ligada a um contexto sociocultural existente (Baecker, 2001). É nessa relação que Gordijn (In: Hildebrandt-Stramann, 2001, p. 103, Trebels 1992) escreve: “O movimento humano é um diálogo entre homem e mundo”. Nessa condição, o movimento humano é visto de forma relacional, constituindo- se nas relações entre o sujeito e o mundo, onde fatores internos – concepções prévias da criança – e externas – características do meio com o qual se relaciona – interagem, determinando as possibilidades e os limites da ação de movimento, constituindo uma totalidade que só pode resultar deste processo dialógico estabelecido. 15 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil Segundo a teoria de Gordjin (apud Baecker, 2001), o movimento humano deve observar os seguintes pontos de referência: é uma ação de um sujeito (ator) que se movimenta; é uma ação vinculada a uma determinada situação concreta; e é uma ação relacionada a uma intencionalidade de movimento à qual este movimento se relaciona. Este autor afirma também que o “movimentar-se adquire uma forma de compreensão do mundo pela ação”. É dentro dessa perspectiva que enfatizamos a necessidade de proporcionar às crianças, na educação infantil, o maior número de experiências de movimento possível, onde elas possam adquirir formas de movimentar-se livremente, desenvolvendo sua própria relação com a cultura do movimento, experimentando osdiferentes sentidos e significados do movimento, para, a partir de suas vivências, incorporá-las a seu mundo de vida. De acordo com Scheler (1975 apud Baecker, 2001), os significados do movimento que mencionamos acima a serem explorados no universo da educação infantil são: 1. Explorar (significado exploratório); 2. Configurar (significado produtivo); 3. Entender-se (significado comunicativo); 4. Comparar-se (significado comparativo, experienciar-se a si mesmo); 5. Expressarse (significado expressivo) e; 6. Esforçar-se (significado adaptativo). Nesse contexto, temos a compreensão de movimento que considera o processo como elemento fundamental, onde o movimento humano é considerado na prática educativa da Educação Física escolar na Educação Infantil, não como uma estrutura técnica e objetiva, senão uma estrutura que, a nosso ver, pode ser considerada emancipatória se ampliarmos essa compreensão: passando a entendê- 16 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil la como uma relação intersubjetiva entre o sujeito e os outros sujeitos que “movimentam-se” e o seu contexto histórico-social, o qual na forma tradicional (técnica) de tratar o movimento humano não é considerado. Então, mesmo a criança experienciando movimentos que já conhece como algo que contém um significado pré-determinado socialmente, repleta de significados, partindo das premissas acima no espaço da aula de Educação Física, podemos nos reportar a uma contextualização do consenso cultural que lhe deu origem. Para tanto, buscamos na concepção do “movimentar-se”, trazida por Hildebrandt-Stramann (2001), Trebels (1992), Kunz (1991), a base teórica para uma proposição destinada à ação em práticas educativas da Educação Física escolar, pretendendo ressignificar, a partir dessa forma de tratar o movimento humano, o ensinar e o aprender em Educação Física. Assim, um trabalho direcionado à elaboração teórico-prática de uma ação didático-metodológica visando à emancipação humana, não deixa de ter seu rigor metodológico, mas parte do princípio de que a curiosidade deve ser crítica, tornando-se uma curiosidade epistemológica. É necessário privilegiar a experimentação, a experiência e a relação entre objeto a ser conhecido e o sujeito cognoscente. Isso deve ocorrer no campo do movimentar-se humano, e, mais especificamente, nas práticas educativas da Educação Física escolar que busquem contribuir para a formação de um sujeito emancipado. É nesse contexto que acreditamos que as aulas de Educação Física na Educação Infantil devem ser direcionadas, partindo das experiências de movimento em três âmbitos: a experiência corporal – onde através do expressar-se e do esforçar- se existe um confronto direto com o próprio corpo em movimento–, a experiência material – onde através do explorar e configurar por meio do movimento torna-se 17 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil possível a experimentação do meio/objetos –, e a experiência de interação social – onde se busca o entender-se e comparar-se no sentido de saber relacionar-se com os outros em situações de movimento (Baecker, 2001). A seguir, falaremos mais especificamente sobre cada uma dessas experiências. Contudo, consideramos relevante mencionar, também, o que se entende por experiência nessa concepção. Segundo Funke (1983 apud Baecker, 2001), experiência significa: [...] uma vivência intensiva, capaz de ser sempre lembrada novamente, em uma vivência, que contém um conhecimento assegurado sobre algo já vivido. Não é um sonho ou uma mera idéia, não é uma fantasia, mas sim, um encontro e avaliação de sentidos que fornecem conhecimentos e posturas/visões/perspectivas. Primeiramente, descrevemos a experiência corporal porque corpo e movimento são especificidades do nosso campo de atuação profissional, a Educação Física. Partindo-se do pressuposto da teoria do movimentar-se que afirma que o “movimento é um diálogo entre o homem e o mundo”, entendemos que esta comunicação se dá através do corpo, compreendido aqui como uma totalidade localizada social, histórica e culturalmente. 18 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil Desde o nascimento o ser humano entra em contato com o mundo através do movimento de seu corpo e, portanto, na sua origem este movimento expressa necessidades fisiológicas: o instinto de sobrevivência (respiração, fluxo sangüíneo, batimentos cardíacos, sucção na amamentação), contrariedades e desconforto (choro), alegria (risos), entre tantas outras manifestações que ocorrem através de movimentos. Estas são ações muito ligadas somente a questões sensoriais motoras. O que desenvolvemos na concepção da experiência corporal é a relação do movimento com o mundo, tornando-o um movimento consciente e localizado socioculturalmente. Assim, o diálogo corporal direto, livra-se da limitação de uma interpretação sensorial motora, avançando para a conscientização através da experimentação, tornando-se uma ação de movimento que envolve sensações, sentimentos, pensamentos e reflexões, motivos para a promoção da emancipação dos sujeitos envolvidos. Pedagogicamente, estruturamos a experiência corporal em aulas de Educação Física, buscando em Funke-Wieneke (1983, apud Trebels, 1998), que estrutura o trabalho da seguinte forma: 1) Experiência do Corpo: voltada para o interior do indivíduo, que, através do movimento, conhece, sente, relaciona as suas condições, que antes eram naturais (respirar, contrair, relaxar, andar, saltar, etc.), tornando-as conscientes. 19 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil 2) Experiência com o Corpo: aqui o indivíduo passa a se relacionar com o mundo através de seu corpo, reelaborando conceitos que este formulará a partir de sua experiência individual e particular. 3) Experiência do Corpo no espelho do outro: ocorre quando se entra em diálogo com o outro, também corpo, nas interações sociais, momento em que são provocadas as comparações, as avaliações, as interpretações e as reflexões sobre o seu próprio corpo e o corpo dos outros. 4) Apresentação do corpo e a Interpretação da linguagem corporal do outro: significa a comunicação entre os corpos que se relacionam e o mundo. Este momento propicia o diálogo em que interpretações e respostas são expressas através do movimento destes corpos, constituindo novos significados, mantendo-se vivas e dinâmicas as relações entre os sujeitos e o mundo. A experiência corporal, de acordo com Baecker (2001) abre caminho para que a criança possa aprender conceitos e ações; desenvolver sua independência, consciência própria e individualidade para o amadurecimento cognitivo, para a percepção e configuração artística do meio ambiente, e para a política. A partir destas experiências (corpo), abre-se a possibilidade, também, para fomentar a curiosidade, a busca do novo (novos conceitos), buscar sentir o movimento para modificá-lo e dar- lhe um novo significado, dentro de sua condição, tanto de movimentar-se, quanto, social e culturalmente, de expressar-se, dialogando com o mundo. A experiência material, como escreve Scheler (1975, apud Baecker 2001), ”está dirigida ao conhecer o meio ambiente material”. Isto significa, neste estudo, uma 20 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil relação entre o sujeito que semovimenta e os objetos físicos e naturais. Nesta relação o sujeito da ação promove individualmente um diálogo com este objeto e, com isto, a sua autonomiae independência. Para a experiência material contribuir para a formação, sob a perspectiva da emancipação dos sujeitos, a organização didática da aula de Educação Física, tem de observar algumas particularidades essenciais: a abertura para que os alunos, sujeitos deste movimentar-se, possam descobrir, de modo independente, as formas de se relacionar com os materiais, experimentando a novidade (material), as facilidades e as dificuldades deste diálogo, a liberdade para o aluno modificar, transformar e ressignificar as suas ações a partir do seu diálogo com o material com que está interagindo. Para isso, os materiais têm que ser transformáveis, permitindo numerosas ações de descoberta, de exploração e de utilização sem exigir o mínimo de instrução para a sua utilização. Esta liberdade deve dar condições ao aluno de construir seus próprios conceitos (ex. quicar a bola com uma mão, mas se for necessário, quicar utilizando as duas mãos). E, para que isso se concretize, as tarefas devem ser organizadas de forma que desafie o aluno a interagir com os materiais disponíveis e assim manter efetivamente o diálogo com os mesmos, permitindo várias descobertas a partir se sua própria experimentação. O papel do professor aparece como um orientador, como um mediador, em que suas tarefas se concentram mais na escolha dos materiais, do local, dos aparelhos e de ajudar as crianças em suas construções. 21 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil Estas experiências estão obviamente localizadas em um contexto social onde ocorrem as interações entre os sujeitos e o mundo. A concepção de experiência em interação social, que utilizamos como referência, trata de organizar as ações educativas no sentido de possibilitar uma interação onde os sujeitos possam agir no mundo e com o mundo de forma emancipada. Para tanto, este sujeito deve participar da construção de seu mundo, e para isso é fundamental adquirir competências sociais1, que são fundamentais para a sua emancipação. As competências que utilizaremos neste trabalho estão fundamentadas nos estudos de Baecker (1996) e se referem às especificidades que podemos trabalhar em aulas de Educação Física. Baecker (1996) sistematiza da seguinte forma estas competências sociais: a competência do agir autônomo, a competência do agir comunicativo e a competência do agir cooperativo. Por competência do agir autônomo a autora propõe que: Agir autônomo significa, colocar por si mesmo as intenções, planejar e fazer com que estas se realizem, poder refletir sobre o que foi feito, decidir e conduzir as modificações que se fizerem necessárias no decorrer da ação. Agir autônomo significa também, trabalhar coletivamente de forma competente e poder, neste processo, expressar/externar suas próprias idéias e interesses. (ibid). A competência do agir comunicativo que Baecker (1996) escreve como sendo: “[...] uma condição para a interação social, porque através dela é possível ocorrer um 22 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil entendimento entre os participantes da interação para a conjugação/coordenação/sincronização de suas ações”. Para que o sujeito possa se comunicar de forma competente, deverá ter a capacidade, segundo Baecker (1996), de se comunicar consigo mesmo e com os outros. Neste momento a criança se comunica consigo, num processo intrapessoal, mesmo através de seus gestos (compreendendo-se), expressando-se a partir de uma reação (interpretação) a algo que foi solicitado no processo de comunicação, proporcionando com isto uma reação dos outros participantes do diálogo, estabelecendo-se a interação, modificando-se e desenrolando-se, baseada na troca realizada entre as partes envolvidas no diálogo. E, na competência do agir cooperativo, dentro da experiência social, a partir do que nos escreve Baecker (1996), existem possibilidades de experienciar ainda, formas de ação coletivas na sua relação com os outros, onde a cooperação é fundamental, pois dela depende o êxito da ação do movimento e da intenção do grupo num processo interpessoal. Dessa forma, os sujeitos são estimulados a partir de atividades de movimento, de discussões críticas, e de atribuição de novos sentidos/significados para as ações e assim para a estruturação de uma nova proposta de ação. Estes princípios de organização deverão ser estimulados, para que os alunos tenham condição de elaborar, através de atividades de movimento e de discussões, estruturas para o debate, para a crítica, para a atribuição de novos significados e de sentidos ante uma determinada situação, para a identificação e diferenciação de papéis que fazem parte de nosso contexto social, para a elaboração de normas, regras 23 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil e de contestação destas, para o questionamento das desigualdades produzidas e assim por diante. Perante forma de condução e de organização da prática educativa o professor torna o processo de formação uma reciprocidade, onde os participantes terão a condição e a garantia de se formarem, enquanto sujeitos emancipados, pois poderão constituir-se de forma autônoma e independente, colocando-se no lugar do outro, nas diferentes situações proporcionadas pela brincadeira ou pelo jogo, terão também possibilidades de experienciar formas de ação coletivas na sua relação com os outros, em que a cooperação é fundamental, pois dela depende o êxito da ação de movimento e da intenção do grupo. Sendo assim, os processos de aprendizagem em práticas educativas da Educação Física devem considerar esses princípios expostos acima por estarem abertos à subjetividade, a experiências de vida individuais, pois, “sempre vemos homens movimentando-se, nunca formas de movimento.” (Hildebrandt-Stramann, 2001, p. 110, grifo nosso). 24 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Na perspectiva da aprendizagem a Educação Física tem o propósito de investigar o desenvolvimento integral do aluno, a socialização, a vida saudável, relaxamento e pratica de esportes e favorecer um melhor desempenho na vida escolar. O professor deve proporcionar às crianças atividades relacionadas com o seu estágio de aprendizagem, com os objetivos bem definidos para favorecer a expressão de suas necessidades como ser humano. 25 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil Nesse sentido suponha-se que os professores trazem atividades praticas criativa e que chama a atenção dos alunos, na aula de Educação Física e isso propicie a quebra de barreiras às outras áreas de conhecimento. EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL Para, Castellani Filho (1988, p 39) apud gallardo e oliveira (1998), no Brasil, a Educação Física escolar sistematizada teve início no final do século XIX. Nessa época, o país iniciava sua transição de sociedade escravista para uma formação social capitalista. Acompanhando as tendências que predominavam na Europa em diferentes campos do saber, existia a preocupação de construir um homem novo, que pudesse dar suporte à nova ordem política, econômica e social emergente. O objetivo era formar “um individuo forte, saudável, indispensável à implementação do processo de desenvolvimento do país”. Depois de enfrentadas muitas barreiras, a Educação Física, atualmente possui próprios PCN’s, Parâmetros Curriculares Nacionais, para cada fase do ensino 26www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil escolar. Os PCN’s da Educação Física, em sua segunda edição lançada no ano 2000 pelo Ministério da Educação, vem nos apresentar quatro tendências pedagógicas da Educação Física: a Psicomotora, que deixa de lado as questões esportivas, ginástica e dança que são consideradas Inapropriadas para crianças em fase escolar. A Construtivista onde o aprendizado se dá a partir de interações com o mundo, essa proposta considera a bagagem cultural e experiências motoras já vividas pela criança e a individualidade de cada uma. A terceira, Crítica, quer aulas de Educação Física onde as crianças não permaneçam alienadas, propõe atividades onde as crianças desenvolvam o espírito critico, inserindo-se na realidade, e propondo mudanças. Por fim a Desenvolvimentista que tem como objetivo principal nas aulas buscar os fundamentos das habilidades motoras, criando condições para o desenvolvimento motor. (BRASIL, 2000) Falando em Educação Física Infantil devemos esquecer a relação com o ensino do esporte, pois a criança não possui necessidade, nem base psicomotora suficiente para aprender os esportes, considerando a fase da pré-escola às series iniciais do ensino fundamental. Deve com ela serem trabalhados fatores que, cumulativamente, a levem a ter uma base ampla de aptidões, que permitam a criança futuramente praticarem os variados esportes, sendo que a criança sem ter noções de espaço, percepção, lateralidade e sociabilidade, como ela normalmente se encontra, ao chegar na pré escola, não tem um desenvolvimento suficientemente necessário para a prática esportiva(TISI, 2004). 27 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SÉRIES INICIAIS Mesmo que todas as atividades lúdicas e brincadeiras já movimentem o corpo, o profissional de Educação Física que trabalha com as crianças em idade pré- escolar e inicial do ensino fundamental, tem obrigação de preocupar-se com o planejamento das atividades, que devem, direta ou indiretamente, levar ao desenvolvimento e à integração das habilidades motoras fundamentais, sendo que a escola é o local privilegiado para a promoção do conhecimento, deve ser explorado o máximo de variações possíveis durante esse período. Durante a realização das mesmas deve observar e avaliar se seus objetivos vêm sendo alcançados, e se há crescimento das capacidades de criação durante a resolução dos problemas apresentados, e de independência e autonomia motoras. Se isso não ocorrer, devem ser alteradas e adequadas ao nível de desenvolvimento das crianças, sempre com intuito de desafiá-las a novas construções de conhecimentos. (GALLARDO, OLIVEIRA e ARAVENA). 28 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil Os professores têm função de observar as crianças individualmente, buscando conhecer suas habilidades e do grupo em que está inserida. Com objetivo de propor atividades adequadas as suas necessidades, e que sejam desafiadoras, estimulando o aprendizado, e a independência de seus alunos, pois o desenvolvimento dos campos cognitivo, afetivo, social e motor não ocorrem apenas através da intervenção de algum facilitador que conduz o processo de aprendizagem, mas ocorre simultaneamente dentro e fora da escola. Portanto, se a individualidade dos alunos for observada e estimulada sua independência, maior será o desenvolvimento, fora dos muros escolares (SOLLER, 2005). A criança das séries iniciais vive fundamentalmente nos fatos e, se sua experiência motora for rica e seu desenvolvimento cognitivo apropriado, ela vai construindo conhecimentos e aplicando-se às diferentes situações e experiências de sua vida. A Educação Física escolar tem as mesmas metas que qualquer outra disciplina do currículo, ou seja, possibilitar o desenvolvimento do potencial humano. Sua especificidade é a busca das possibilidades lúdicas, expressivas e comunicativas da cultura corporal, trazendo como conseqüência o reconhecimento e a aceitação de si mesmo e do próprio corpo e melhor relação com os demais (GALLARDO, OLIVEIRA e ARAVENA, 1998). Para Mattos e Neira (2006), ao apontar a importância da equilibração e da interação com o meio na sua relação com o fazer pedagógico, podemos concluir que é a reflexão do professor na ação (elaborando as atividades, proporcionando novas e 29 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil diferentes interações durante as atividades, reorganizando grupos, lançando questionamentos) que proporcionará a estruturação de novos conhecimentos, isto é, a ascensão a níveis mais elevados dos saberes empregados para solução dos problemas apresentados. Neste sentido, diferentemente do que se pregava até então, o centro de interesse é a interação professor/aluno/conhecimento, e não apenas o aluno. O educador precisa manter-se atento à qualidade das interações com os objetos de conhecimento proporcionados pelas atividades, constituindo-se em um orientador, guia, facilitador da aprendizagem. A Educação Física na Pré-escola está se tornando cada vez mais significativa, na medida em que, além de trabalhar aspectos como esquema corporal, equilíbrio, coordenação motora, organização espaço temporal, itens básicos no futuro processo de alfabetização, traz autoconfiança do ponto de vista físico, melhorando as reações da criança às frustrações frente às atividades físicas e tem um papel importante no processo global de ensino (REVISTA DO PROFESSOR, 1990). CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA FASE ESCOLAR 30 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil A educação está interessada em um indivíduo capaz de atuar e realiza-se como uma ação comunicativa. Com isso entende-se uma ação que não tem por objetivo transmitir significado, mas que visa à compreensão das diretrizes e objetivos da ação. Através da atuação na pratica e da reflexão, deve ser possibilitado ao educando uma compreensão do seu mundo e da realidade social, uma conscientização das condições, possibilidades e conseqüências de seu agir, isto é, explicação e reflexão próprias, em vez da manipulação. Para isso, é necessário encarar as crianças com seriedade e os jovens como sujeitos que são capazes de atuar no seu mundo (MATTOS e NEIRA, 2002). No dizer de Neira: A educação deve proporcionar ao educando, de acordo com o seu estágio de conhecimento, os meios necessários para entender o mundo em que vive e o momento histórico em que esta situado, fornecendo-lhe armas para poder defender- se de influencias nocivas para a sua própria vida e da comunidade a que pertence, isso especialmente em uma época em que os meios de comunicação, em particular a maioria maciça dos televisivos, tendem a tratá-lo como um ser passivo e manipulável (2003, p. 35). 31 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil Segundo Mattos e Neira (2006), é o intercambio com os alunos e a possibilidade de interferir na relação entre eles e os conteúdos de aprendizagem, uma das principais responsabilidades do educador. Portanto, identificar a interação que favoreça ao máximo o processo de construção adquire para aquele que atua sobre este processo importância fundamental. A nossa preocupação primeira é experimentar e destacar a interação mais eficiente, a ação, a palavra, a colocação perante o grupo, a atividade, o jogo que realmente atue de maneira eficaz sobre a construção de conhecimentos. Assim, o professor, identificando aquilo que“dá certo”, nada mais tem a fazer do que sobre ele, investigar, investindo neste modo de atuar, proporcionando sempre um crescimento da reflexão sobre a ação pedagógica. Para Castellani Filho et.all (2009) o ensino da Educação Física tem também um sentido lúdico que busca instigar a criatividade humana à adoção de uma postura produtiva e criadora de cultura, tanto no mundo do trabalho como no do lazer. A expectativa da Educação Física escolar, que tem como objetivo a reflexão sobre a cultura corporal, contribui para a afirmação dos interesses de classe das camadas populares, na medida em que desenvolve uma reflexão pedagógica sobre valores como solidariedade substituindo individualismo, cooperação confrontando a disputa, distribuição em confronto com apropriação, sobretudo enfatizando a liberdade de expressão dos movimentos a emancipação, negando a dominação e submissão do homem pelo homem. Segundo a revista PÁTIO: 32 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil A educação física é importante e trabalha vários pontos da personalidade. Por esse motivo, as aulas devem ser prazerosas, e não precisamos ter a vitoria e a derrota como cerne das atividades. Os nossos objetivos podem ser amplos e voltados ao grande grupo, buscando uma inter-relação sadia. É importante relatar que são vários os profissionais que avaliam através do rendimento, porem não o fazem continuadamente, ou seja, ignoram todo o processo de crescimento do aluno durante as aulas, as dificuldades superadas e seus relacionamentos com os colegas e professores. Portanto, fica claro que, em nossas aulas, devemos ter os objetivos bem definidos e saber trabalhar o rendimento, isto é, a vitória e a derrota, já que as crianças trazem para a escola um modelo competitivo muito forte, e, se queremos mudar isso, devemos ser criativos e elaborar situações nas aulas para que tal mudança aconteça (2006, p.56). O corpo é um campo de expressão e o movimento um meio da expressão se realizar; e é através da Educação Física que a criança descobre suas possibilidades cinéticas. Se expressa com seu corpo, com o movimento igual ao que faz com a palavra, a escrita ou o desenho. Mas não experimenta somente o seu movimento, observa os demais e reconhece o seu valor expressivo em relação com os outros, em relação com o grupo. Para Mattos e Neira(2004): 33 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil As aulas de Educação Física não podem contemplar somente o desempenho motor. O conteúdo para desencadear a construção de conhecimentos tem que ser: global (abrange diversos componentes da formação do indivíduo) criativo (sai do lugar comum, avança pelo mundo da imaginação, excelentes momentos para aprendizagem surgem exatamente de aulas onde recursos como música, histórias, danças, jogos são utilizados) sem estereótipos (temos que por um termo à questão de atingir o movimento tido como ideal cada corpo é um corpo diferente, a anatomia nos diz que as ligações e inserções de músculos, tendões e ligamentos têm um caráter absolutamente individual. Somando-se a isso ainda tem-se níveis de maturação e experiências absolutamente diversos, dessa forma não podemos adotar como ideal uma forma única de lançamento de uma bola, chute ao gol, salto de uma barreira ou o salto sobre o colega em posição de sela). Assim a aula de Educação Física prioriza o movimento possível. Em termos sociais a conteúdo deve não só proporcionar como incentivar a participação de todos. DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA A Educação Infantil e a LDB A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a 9394/96, explicita no art.29, Seção II o seguinte: “A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, tem como finalidade o desenvolvimento físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.” (LDB, 1988) 34 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil As diretrizes do MEC para a Educação Infantil estão centradas em eixos. E o eixo que está ligado a parte das Atividades Físicas diz que é oferecido para a Educação Infantil um trabalho paralelo com a ação da família; o que isso tem uma grande importância para o desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social, para que haja a estimulação pelo processo de transformação. Ainda não existe uma Lei que obrigue as escolas a incluírem em seus currículos, a Educação Física para a Educação Infantil. A criança e seu crescimento Ao se falar em freqüentar a escola desde os primeiros anos de vida, faz-se necessário um estudo mais profundo das atividades físicas mais importantes para as crianças de 3 a 4 anos. “ A Educação Infantil, visa à criação de condições para satisfazer as necessidades básicas da criança, oferecendo-lhe um clima de bem estar físico, afetivo e intelectual, mediante a proposição da atividades lúdicas, que promovam a 35 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil curiosidade e a espontaneidade, estimulando novas descobertas e o estabelecimento de novas relações”. (Borges, 1987) A concepção de criança é uma noção historicamente construída e consequentemente vem mudando ao longo dos anos, não se apresentando de forma homogênea nem mesmo no interior de uma mesma sociedade e época. Assim, é possível que numa mesma cidade existam diferentes maneiras de se considerar as crianças pequenas, dependendo da classe social a qual pertençam. Uma grande parte das crianças pequenas brasileiras enfrentam um cotidiano bastante adverso que as conduz desde muito cedo à precárias condições de vida e ao trabalho infantil, ao abuso e exploração por parte dos adultos. Outras crianças são protegidas de todas as maneiras, recebendo de suas famílias e da sociedade em geral, todos os cuidados necessários ao seu desenvolvimento. Com isso, percebendo a contradição e conflito de uma sociedade que não resolveu ainda as grandes desigualdades sociais presentes no cotidiano. A criança, como todo o ser humano, é um sujeito social e histórico, fazendo parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. A criança tem na família, biológica ou não, um ponto de referência fundamental, apesar da multiplicidade de interações sociais que estabelecem com outras instituições sociais. 36 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil As crianças possuem uma natureza singular que as caracterizam como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nos relacionamentos que estabelecem com as pessoas mais próximas, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que presenciam, e por meio das brincadeiras explicitam as condições de vida a que estão submetidas, seus anseios e desejos. Na escola, a criança terá maior possibilidade em desenvolver suas potencialidades, já que existe uma preocupação em atender as necessidades básicas da sua faixa etária que é manter atividades dentro de seu nível de maturação proporcionando experiências de manejo de objetos, combinações de movimentos e desafios. “Com 3 anos, a criança já possui potenciais recebidos do meio familiar, cuja consolidação depende em parte da estimulação e receptividade do meio que as expressam.” (Borges, 1987) Ao iniciar as atividades físicas na Educação Infantil, a criança estará sendo estimulada para o conhecimento integral do seu próprio corpo. 37www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil “Ao longo da atividade lúdica, a criança vive uma motricidade total, ao por em jogo todos os seus componentes: motores, afetivos e cognitivos. Estas informações provém de uma infinidade de estímulos como: o seu próprio corpo, o meio ambiente e os objetos utilizados”. (Silva, 1987) Será através das atividades lúdicas que a criança irá começar a entrar em contato com outras crianças da mesma faixa etária e desenvolver o espírito esportivo. “Brincadeira – a criança desenvolve para seu prazer e sua recreação essa atividade que permite a ela entrar em contato com os outros: os adultos, os pais e os camaradas de sua idade, e também com o meio ambiente e com a cultura no qual vive”. (Brougere, 1998) 38 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil O movimento e a Educação Infantil O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. As crianças se movimentam desde que nascem adquirindo cada vez mais controle sobre seu próprio corpo e se apropriando das possibilidades de interação com o mundo. Engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm, saltam, brincam sozinhas ou em grupo, com objetos ou brinquedos, experimentando sempre novas maneiras de utilizar seu corpo e seu movimento. 39 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil Ao movimentar-se, a criança expressa sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. O movimento humano, portanto, é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio do seu teor expressivo. As maneiras de andar, correr, arremessar, saltar, resultam das interações sociais e da relação dos homens com o meio; são movimentos cujos significados têm sido construídos em função das diferentes culturas em diversas épocas da história. Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório de inúmeras práticas expressivas e comunicativas produzidas através do movimento na qual estão inseridas. O trabalho com o movimento contempla a multiplicidade de funções e manifestações do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento de aspectos específicos da motricidade da criança, abrangendo uma reflexão acerca das posturas corporais implicadas nas atividades cotidianas, bem como atividades voltadas para a ampliação da cultura corporal de cada criança. A estrutura espacial se dá quando se percebe as posições, direções, distâncias, tamanho, o movimento e a forma. Para a criança, a noção de orientar-se no espaço se dá quando ela escolhe o material e 40 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil dispõe esse material, segundo as regras estabelecidas. O jogo possibilita desenvolver esta etapa. “O que caracteriza o jogo é a iniciativa da criança, portanto um espaço de jogo é um espaço onde a criança pode desenvolver sua iniciação, inclusive organizando, escolhendo sua brincadeira e tendo acesso ao material de jogo”. (Brougere, 1998) Práticas pedagógicas na Educação Infantil 41 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil As diferentes práticas pedagógicas que caracterizam o universo da Educação Infantil, refletem diferentes concepções quanto ao sentido e funções atribuídas ao movimento no cotidiano das creches e da Educação Infantil. É muito comum que, visando garantir uma atmosfera de ordem e de harmonia, algumas práticas educativas procurem suprimir o movimento, impondo às crianças rígidas restrições posturais. Isso se traduz, por exemplo, na imposição de longos momentos de espera (em fila ou sentada) em que a criança deve ficar quieta, sem se mover; ou na realização de atividades mais sistematizadas, como de desenho, escrita ou leitura, em que qualquer deslocamento, gesto ou mudança de posição pode ser visto como desordem ou indisciplina. Além do objetivo disciplinar, a exigência de contenção motora pode estar baseada na idéia de que o movimento impede a concentração e a atenção da criança, ou seja, que as manifestações motoras atrapalham a aprendizagem. Todavia, a julgar pelo papel que os gestos e as posturas desempenham junto à percepção e à representação pode-se concluir que, ao contrário, é a impossibilidade de mover-se ou de gesticular que pode dificultar o pensamento e a manutenção da atenção. 42 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil As conseqüências dessa rigidez podem contribuir tanto para o desenvolvimento de uma atitude de passividade nas crianças como para instalação de um clima de hostilidade, perdendo-se o controle das manifestações motoras infantis. No caso em que as crianças, apesar das restrições, mantêm o vigor de sua gestualidade, podem ser freqüentes as situações em que elas percam completamente o controle sobre o corpo, devido ao cansaço provocado pelo esforço de contenção que lhes é exigido. Outras práticas, apesar de também visarem o silêncio e a contenção de que dependeriam a ordem e a disciplina, lançam mão de recursos didáticos, propondo, por exemplo, seqüências de exercícios ou de deslocamentos em que a criança deve mexer seu corpo, mas desde que em estrita conformidade a determinadas orientações. Ou ainda reservando curtos intervalos em que a criança é solicitada a se mexer para distender sua energia física. Essas práticas, mesmo permitindo certa mobilidade às crianças, podem até ser eficazes do ponto de vista da manutenção da ordem, mas limitam as possibilidades de expressão da criança em tomar suas próprias iniciativas. As manifestações motoras organizadas dentro do espaço passam a ser expressivas deixando de serem vistas quase sempre como sinônimos de turbulência, e por isso mesmo indesejáveis dentro do âmbito escolar. 43 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil “Para organizar o ambiente (espaço e materiais) e o tempo na instituição de educação infantil, de modo a auxiliar que as manifestações motoras das crianças se dêem em harmonia com diversas atividades da rotina, desde as de cuidado com a saúde até os projetos de trabalho em áreas específicas do conhecimento, o professor no conjunto dessas atividades deve refletir sobre os espaços, os objetos materiais e o tempo de contenção motora ou manutenção de uma mesma postura”. (Zurawski, 1998) 44 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil CONCLUSÃO Para finalizar, percebemos que, ao falarmos da Educação Física na Educação Infantil, estamos num campo de discussões, de debates e reflexões, que ainda é marcado pela escasses de produções teóricas, de pesquisas e de estudos que contribuam para a legitimação da aula e do professor de Educação Física neste nível da educação básica, através de propostas de ensino consistentes, pautadas por uma perspectiva crítica de ensino. Exemplo disso é o fato de observarmos, e não raras vezes, a falta de professores de Educação Física para trabalhar na Educação Infantil em muitas de nossas escolas, destituindo todo o potencial de aprendizagem que pode ser desenvolvido na criança através da compreensão de sua cultura de movimento e reduzindo as açõesde movimento a um simples fazer, destituído de sentidos, significados e intencionalidades. Assim, entendendo que a criança tem como característica principal a intensidade de movimentos, compreendemos como de fundamental importância tratar das especificidades do campo do conhecimento da Educação Física desde a primeira infância. Para isso, as reflexões suscitadas até aqui se encaminham no sentido de se elaborar um concepção didático-metodológica para ser desenvolvida na Educação Infantil que respeite a criança em seu desenvolvimento, trabalhando os aspectos cognitivos, sociais, afetivos e motores de forma integrada na busca de desenvolver o olhar crítico da criança para as relações sociais da sociedade em que está inserida, partindo da compreensão do seu mundo vivido. Portanto, acreditamos que os princípios de organização apresentados mereceriam uma discussão maior do que o espaço que um artigo proporciona, no 45 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil entanto, nos pautamos em discuti-los brevemente, expondo nossas idéias em relação a Educação Física na Educação Infantil e uma possível proposta didático-metológica que apresenta seus princípios de organização através das experiências – corporal, material e de interação social –, que deverão ser estimuladas, para que os alunos tenham condição de elaborar, através de atividades de movimento e de discussões, estruturas para o debate, para a crítica, para a atribuição de novos significados e de sentidos a uma determinada situação, para a identificação e diferenciação de papéis que fazem parte de nosso contexto social, para a elaboração de normas, regras e a contestação destas, para o questionamento das desigualdades produzidas e, acima de tudo, para que a educação contribua com o desenvolvimento de uma identidade emancipada. 46 www.soeducador.com.br Educação física na educação infantil REFERÊNCIA BAQUERO, R. 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