Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Brasília-DF. EnfErmagEm Em TErapia inTEnsiva pEdiáTrica Elaboração Tayse Tâmara da Paixão Duarte Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I TERAPIA INTENSIVA DE PEDIATRIA ............................................................................................................ 9 CAPÍTULO 1 ABORDAGEM DO PACIENTE CRÍTICO ....................................................................................... 9 UNIDADE II ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA .............................................................................. 21 CAPÍTULO 1 RESSUSCITAÇÃO PEDIÁTRICA .................................................................................................. 21 PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 84 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 85 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 6 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução O tema “atendimento ao paciente em UTIP” visa ajudar aos profissionais Enfermeiros no aprimoramento dos conhecimentos específicos e científicos na assistência de Enfermagem com pacientes críticos, atualizando-os de modo a atuarem em caso de urgência e emergência no cuidado e assistência ao paciente grave em pediatria. O Enfermeiro deve possuir habilidades e competências nos cuidados intensivos em crianças graves e cuidados prestados com esses pacientes durante todo o processo terapêutico. Objetivos » Agregar conhecimentos ao profissional para prestação de assistência adequada ao paciente que necessita de cuidados diários e intensivos. » Apresentar as principais situações de cuidados, assistência e habilidades do profissional enfermeiro dentro de uma UTIP. 9 UNIDADE ITERAPIA INTENSIVA DE PEDIATRIA CAPÍTULO 1 Abordagem do paciente crítico A Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) abrange a internação de pacientes críticos e com instabilidade hemodinâmica. A equipe esta inserida dentro de um grupo composta por multiprofissionais, em que o foco e as metas são compartilhados entre si, quais sejam, uma boa e possível recuperação da criança. A verbalização e a interação do enfermeiro/criança é um passo importante para uma excelente recuperação do paciente, tendo em vista que haverá facilidade da assistência na medida em que vínculos de confiança são formados. O enfermeiro precisa saber a forma e o tempo correto de interagir com a criança, sendo de forma verbal ou não verbal, despertando nela um elo de segurança. Goldoni e Midon explicam que o profissional que atende paciente crítico deve ter em mente a importância de estabelecer prioridades no atendimento. O conceito de prioridades envolve desde saber priorizar corretamente quem deve ser atendido primeiro, passando por quais dados de história e de exame físico devem ser procurados antes, até qual a conduta que deve ser feita inicialmente. Nessa abordagem inicial, identificar uma criança potencialmente grave, colher uma história direcionada e fazer um exame físico mínimo é decisivo para se obter um correto diagnóstico. De acordo com Silva (2006) alguns achados na história e no exame físico sugerem que uma criança apresenta uma potencial emergência e deve ter o seu atendimento priorizado, porém existem emergências que não apresentam necessariamente esses sinais, quais sejam: a. Alteração importante dos sinais vitais: › frequência respiratória (FR) > 30 FR/min.; 10 UNIDADE I │ TERAPIA INTENSIVA DE PEDIATRIA › saturação arterial de oxigênio (Sat O2) < 90%; › frequência cardíaca (FC) > 160 ou < 60 bpm; › pressão arterial sistólica (PAS) < 85 mmHg; › Glasgow < 8 ou queda>2. b. Pacientes com achados potencialmente emergenciais (GOLDONI; MIDON): › precordialgia ou dor torácica; › febre com suspeita de neutropenia; › suspeita de obstrução de vias aéreas; › alterações neurológicas agudas; › déficits motores, afasias, convulsões, delirium; › intoxicações exógenas agudas;› hematêmese, enterorragia ou hemoptise; › dor intensa. Exemplos referentes em escores tentam avaliar as condições de risco dos pacientes da seguinte forma (GOLDONI; MIDON): » classificar criança referente ao risco, diagnóstico e prognóstico; » conduzir evolução diante do tratamento instituído pela equipe; » verificar as reais chances da terapêutica, avaliando os benefícios de algumas intervenções para a criança em vários estágios da doença; prognosticar mortalidade. Com a tecnologia avançada e a melhora do tratamento a crianças que se encontram de forma grave na UTIP, tem tido melhores resultados frente à sobrevida dos pacientes instáveis. A fraqueza muscular adquirida nesses pacientes graves, não esta somente relacionada à perda de massa muscular devido o grande período de imobilidade no leito e ainda pela doença grave, e sim esta relacionada a crianças admitidas na UTIP consequente de trauma, politraumas, infecções graves e disfunções de múltiplos órgãos. 11 TERAPIA INTENSIVA DE PEDIATRIA │ UNIDADE I O aparecimento de doenças graves tem aumentado o uso de ventilação mecânica por maior tempo, aumentando assim, o período de reabilitação. O uso de ventilação mecânica controlada a crianças de forma prolongada pode levar a danos nas miofibrilas diafragmáticas ajudando com a diminuição da sua força. A abordagem inicial e os achados clínicos no ambiente hospitalar, uma vez identificada uma situação de potencial emergência, o primeiro passo é pedir ajuda, conforme preconizado pelo suporte avançado de vida (ACLS), que consiste em chamar pelo auxílio do enfermeiro e do desfibrilador. Nas enfermarias e nos andares, estes estão disponíveis nos carrinhos de parada. Na UTIP, o melhor a fazer é solicitar a equipe (médico, enfermeiro, técnicos em enfermagem e fisioterapeutas). (GOLDONI; MIDON). O aparecimento de qualquer enfermidade ou infecções em órgão ou sinais de nosso organismo podem provocar complicações graves, sendo assim essas afecções podem se tornar em urgências e emergências quando afetados uns dos três fatores vitais para a vida: sistema cardiovascular, sistema nervoso central e ainda o sistema respiratório. (GOLDONI; MIDON). Figura 1.UTI. Fonte: <http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/lenoticia2.php?id=236524>. Critérios de internação e alta Internação A internação em leitos de UTI destina-se ao atendimento de crianças graves ou de risco e potencialmente recuperáveis. Dispõe de assistência médica e de enfermagem ininterruptas, com tecnologias duras e recursos humanos especializados. (SES-BA). 12 UNIDADE I │ TERAPIA INTENSIVA DE PEDIATRIA Devido ao alto custo, insuficiência de oferta e a alta demanda, sua solicitação deverá ser criteriosa no momento da indicação. Estas unidades atendem a grupos etários específicos, a saber (SES-BA): » neonatal: pacientes de 0 a 28 dias; » pediátrico: pacientes de 29 dias a 12 anos; Fatores subjetivos para avaliação. (SES-BA): » diagnóstico;doença coexistente; » disponibilidade tratamento adequado; » desejo do paciente ou do responsável; » antecipada qualidade de vida; » reserva fisiológica; » resposta ao tratamento; » faixa etária; » parada cardio respiratória recente. Fatores avaliados para admissão em UTI no Pós Operatório. (SES-BA): » cirurgia de grande porte e extensa; » septicemia grave; » instabilidade hemodinâmica; » hemorragia maciça; » insuficiência respiratória. de acordo com a Secretaria de Saúde da Bahia, na UTI Pediátrica devem ser beneficiadas crianças até 12 anos cabendo ao médico assistente solicitar sua internação, por meio de relatório médico padronizado e atualizado diariamente ate que o recurso seja viabilizado. Os protocolos de indicação e Parâmetros Objetivos – Critérios de Internação são as seguintes (SES-BA): 13 TERAPIA INTENSIVA DE PEDIATRIA │ UNIDADE I Protocolo Indicação. (SES-BA): » choque; » coma; » desnutrição grave com descompensação metabólica; » diálise peritoneal; » insuficiência cardíaca; » insuficiência múltiplos órgãos; » insuficiência renal aguda; » intoxicação exógena; » necessidade nutrição parenteral; » ventilação mecânica; » patologias neurológicas que comprometem a respiração; » politraumatizado; » pós-operatório; » septicemia; » traumatismo craniano. Parâmetros Objetivos – Critérios de Internação » FC < 90 ou > 150 bpm. » PAS > 150 / PAM >110 mmHg. » FR > 70 ipm. » Na < 120 ou >160mEq/l. » K < 2,5 ou > 5,5 mEq/l. » PO2 < 65 torr ou SO2 < 90% 8. » PCO2 > 65 torr. 14 UNIDADE I │ TERAPIA INTENSIVA DE PEDIATRIA » pH < 7,2 ou > 7,5. » NaHCO3 < 15. » Glicemia > 300 mg%. » Ca > 8,3 mg%. » CT crâneo alterada com hemorragia, contusão, hidrocefalia com descompensação, outras patologias que levem a instabilidade do paciente; » Glasgow < 8 ou queda>2. » ECG - Arritmias com instabilidade. Alta Muitos fatores tornam complexa a decisão para dar alta ao paciente de UTI, em razão da grande variabilidade de condições clínicas observadas na clientela dessas unidades. Com frequência, é difícil identificar os indicadores do “lugar” do paciente de alto risco, após a alta. (FRANKLIN; JACKSON, 1983). A literatura científica dá pouca ênfase aos critérios de alta que, se bem definidos, podem resultar em diminuição do tempo de permanência nas unidades com recursos especiais para assistência, sem comprometer a qualidade do cuidado. (FRANKLIN; JACKSON, 1983). A caracterização de pacientes de UTIP pode auxiliar nas diretrizes das admissões e altas dessa unidade, pois o conhecimento do perfil dos doentes críticos favorece o estabelecimento de critérios objetivos para essa finalidade. (SILVA; SOUSA, 2002). A aplicação de critérios objetivos para admissão e alta da UTIP podem promover o uso dos leitos de forma mais racional e evitar a exposição do cliente a riscos desnecessários, pela redução ou aumento de sua permanência nessa unidade. (SILVA; SOUSA, 2002). Dessa forma, conhecer os pacientes e esses critérios é, para o enfermeiro, informação essencial para planejar e organizar a assistência nas UTIPs e nas unidades hospitalares que recebem os pacientes na sequência do tratamento. (MIRANDA; DE RIJK; SCHAUFELI, 1996). Nas últimas décadas, os padrões de atendimento em UTIP evoluíram e a monitorização intensiva é muito mais complexa e diversificada graças à tecnologia avançada. Essas condições elevaram o número de indicações às UTIs, porém, a necessidade de contenção 15 TERAPIA INTENSIVA DE PEDIATRIA │ UNIDADE I de custos limitou a ampliação da estrutura que permitiria o atendimento de maior número de pacientes nessas unidades. (MIRANDA; DE RIJK; SCHAUFELI, 1996). Sendo assim, dado ao alto custo dos cuidados intensivos e o número crescente de pacientes necessitando de UTIP, torna-se primordial otimizar o uso dos leitos dessa unidade. Na tentativa de racionalizar a quantidade de leitos de UTIP e facilitar o trabalho da equipe multidisciplinar, atualmente, existe a tendência de se criar unidades de cuidados intermediários. Essas são áreas com estrutura para atender indivíduos que ainda apresentam alta demanda pela assistência de enfermagem e, assim, propiciam a utilização de espaço e serviços de forma mais econômica e eficiente. Além disso, à medida que os recursos mais avançados de cuidados intermediários e tecnologia de monitorização não invasiva estão prontamente disponíveis, uma minoria de pacientes necessita permanecer em UTI somente para monitorização. (CULLEN; NEMESKAL; ZASLAVSKY, 1994). As unidades de tratamento intermediário, também denominadas semi-intensivas, facilitam a gestão do serviço no sentido de racionalizar o uso dos leitos, particularmente das unidades críticas, otimizando custos e favorecendo o bem-estar do cliente, uma vez que, na maioria dos casos, permitem a permanência do acompanhante, ou as visitas são mais liberadas. (SILVA; SOUSA; PADILHA, 2010). Geralmente, as crianças que recebem alta daUTIP, mas ainda necessitam de observação e de cuidados mais detalhados, permanecem na unidade semi-intensiva. Isso porque, em caso de emergência, essa unidade possui equipamentos prontos e próprios para dar o primeiro suporte antes da criança ser encaminhada novamente a UTIP. Caso contrário, se a criança estiver apresentando melhoras, sem risco de piorar ou de morte, será encaminhada para a enfermaria, será internada no quarto e logo após sua recuperação completa, terá alta hospitalar. Assistência ao paciente portador de doença crônica Mendes, Mota, Rocha e Ramos mencionam que as doenças crônicas estão provocando mudanças no perfil de morbi-mortalidade e tendem a liderar as causas de incapacidade no mundo. São multifatoriais e se caracterizam por longo período de evolução. Quando acometido por uma doença de característica crônica, a criança enfrenta alterações no estilo de vida provocadas por restrições decorrentes da presença da patologia, das necessidades terapêuticas e do controle clínico, além da possibilidade de submeter-se a internações hospitalares recorrentes. 16 UNIDADE I │ TERAPIA INTENSIVA DE PEDIATRIA O desenvolvimento científico e tecnológico tem possibilitado o diagnóstico precoce das doenças, e a terapêutica adequada permite, muitas vezes, o controle de sua evolução e cura. Mesmo com esses avanços, algumas doenças, especialmente as crônicas, promovem alterações orgânicas, emocionais e sociais, que exigem constantes cuidados e adaptação, ressalva Vieira e Lima (2002). Identificamos, várias definições para doença crônica. Dentre essas, considera se doença crônica aquela que tem um curso longo, podendo ser incurável, deixando sequelas e impondo limitações às funções do indivíduo, requerendo adaptação. (WOODS; YATES; PRIMONO, 1989). A principal característica da doença crônica é a duração. (TETELBOM; FALCETO; GAZAL; SHANSIS. WOLF, 1993). Eles a definem como de longa duração, ou seja, uma condição que dura mais de três meses em um ano ou que necessite de um período de hospitalização por mais de um mês. (VIEIRA; LIMA, 2002). Quando nos referimos à criança, o esperado é que ela viva situações de saúde para crescer e desenvolver-se dentro dos limites da normalidade, porém quando, nos defrontamos com ela, na condição de doente, como todo ser humano, tem seu comportamento modificado. Sua reação diante dessa experiência desconhecida, que é a doença, pode lhe trazer sentimentos de culpa, medo, angústia, depressão e apatia, e ameaçar a rotina do seu dia a dia. (HUETA, 1990). Nos casos crônicos, especialmente, a criança e o adolescente têm seu cotidiano modificado, muitas vezes, com limitações, principalmente físicas, devido aos sinais e sintomas da doença e podem ser frequentemente submetidos a hospitalizações para exames e tratamento à medida que a doença progride. Assim, a hospitalização permeia seus processos de crescimento e desenvolvimento, modificando, em maior ou menor grau, o cotidiano, separando-os do convívio de seus familiares e ambiente. (VIEIRA; LIMA, 2002). A complexidade da doença, o seu tratamento, o uso e o acesso às tecnologias influenciam a trajetória da doença crônica. Contudo, algumas fases da doença podem ser previsíveis, e outras, incertas, porém todas causam impactos e danos à criança e família. (ROLLAND, 1995). Cada fase tem tarefas próprias, requerendo delas força mudanças de comportamento, de atitude e readaptações. Existem três fases na história da doença crônica. (VIEIRA; LIMA, 2002): 17 TERAPIA INTENSIVA DE PEDIATRIA │ UNIDADE I » a fase de crise, caracterizada pelo período sintomático até o início do tratamento, ocorrendo uma desestruturação na vida da criança/ adolescente e família; » a fase crônica, marcada pela constância, progressão e remissão do quadro de sinais e sintomas, quando a criança/adolescente e família procuram dar autonomia e reestruturação às suas vidas; » a fase terminal, abrangendo desde o momento em que a morte parece inevitável, até a morte propriamente dita. Há uma analogia entre as fases da doença e o desenvolvimento humano, de acordo com o autor, pois cada período do desenvolvimento, assim como as fases da doença têm certas tarefas básicas. A fase de crise é semelhante ao período da infância, caracterizado pela aprendizagem. Fazendo um paralelo, o período inicial da doença serve para as pessoas conhecerem e aprenderem a utilizar estratégias de como conviver com a doença crônica. Semelhante à transição da infância para a adolescência, que abrange períodos de crise e maior responsabilidade, a transição para a fase crônica da doença envolve “... autonomia e a criação de uma estrutura de vida viável, adaptada às realidades da doença”. (VIEIRA; LIMA. 2002). Assim, a doença crônica impõe modificações na vida da criança/adolescente e sua família, exigindo readaptações frente à nova situação e estratégias para o enfrentamento. Esse processo depende da complexidade e gravidade da doença, da fase em que eles se encontram e das estruturas disponíveis para satisfazer suas necessidades e readquirir o equilíbrio. (VIEIRA; LIMA, 2002). É sabido que crianças com doenças crônicas passam a ter novas rotinas. Dessa forma, modificam hábitos e estilo de vida, aprendem como fazer o regime de tratamento, conhecem a doença e aprendem a lidar com seus incômodos físicos e adaptam a maneira de viver conforme suas limitações. Além disso, precisam lidar, também, com as perdas nas relações sociais e financeiras e com a perda da capacidade física para as atividades, principalmente as de lazer, por se sentirem ameaçados tanto em sua aparência física como em sua vida. (VIEIRA; LIMA, 2002). Diante de tais fatos, o enfermeiro, juntamente com outros profissionais de saúde, pode planejar uma assistência que atenda às reais necessidades do paciente, promovendo, inclusive, a integração à família, amigos e à escola. Estando mais próximo do cotidiano 18 UNIDADE I │ TERAPIA INTENSIVA DE PEDIATRIA do paciente, o enfermeiro pode perceber aspectos que necessitem de intervenção, a fim de minimizar o impacto dos pequenos pacientes conviverem com a condição crônica. Figura 2. Adoção de crianças com deficiência. Fonte: <http://www.portoferreiraonline.com.br/noticia/sancionada-lei-que-da-prioridade-na-adocao-de-criancas-com- deficiencia>. Veja Mais: <http://www.aafesp.org.br/biblioteca/AtencaoSaude/Artigo_Criancas_e_ adolescentes_com_doenca_cronica.pdf>. Suporte aos familiares A essência da enfermagem é o cuidar. Considerando-o como o objeto de trabalho, é necessário que seja eficiente e prestado de forma humanizada. Ao se estabelecer o cuidado, este deve ser sistematizado e holístico, a fim de promover a qualidade da assistência e o cuidado emocional. (ORIÁ; MORAES; VICTOR, 2004). Sá apud Oriá et al (ORIÁ; MORAES; VICTOR, 2004), “[...] define o cuidado emocional como a habilidade de perceber o imperceptível [...]” (p. 293). Desta afirmação evidencia-se a necessidade de sensibilidade dos profissionais para executarem os cuidados, observando as manifestações verbais e não verbais do cliente, podendo indicar ao enfermeiro suas necessidades individuais. Tal cuidado, complexo, envolve as necessidades bio-psicossocial-espirituais e afetivas e está diretamente relacionado com o processo de comunicação entre o enfermeiro–cliente. Para haver o cuidado eficiente e eficaz, ambos os sujeitos precisam compreender os sinais presentes na relação interpessoal, seja pelos gestos, expressões ou palavras. (ORIÁ et al. 2004 e FIORANO 2002). 19 TERAPIA INTENSIVA DE PEDIATRIA │ UNIDADE I O enfermeiro tem habilidade para discernir a comunicação entre família/profissional/ criança de modo geral, ajuda na assistência de forma humanizada, pois vale ressaltar que o diálogo é fundamental para um melhor resultado no prognóstico do paciente e uma assistência à família que passam por um processo difícil, estressante e sofrido de hospitalização de um membro da família. É importanteo enfermeiro sempre se colocar a disposição em caso de dúvidas, possibilitando que o familiar o procure, evitando assim ansiedade, medo e estresse. Com isso a família interage de forma a ajudar o paciente nos cuidados, pensando sempre na recuperação do paciente. É fato que a UTIP apresenta características totalmente diferentes de outras unidades. É um ambiente cuja dinâmica impõe ações complexas, nas quais a presença da finitude da vida é uma constante, gerando ansiedade, tanto do doente e familiar como dos profissionais que ali desempenham suas atividades. A internação na UTIP rompe bruscamente com o modo de viver do paciente e de seus familiares. A criança sente-se impedido de manter sua identidade, seus valores, sua autonomia, levando-o à incapacidade de se auto cuidar, dentre os limites de sua idade, deixando de ser singular e passando a ser tratado como objeto. (NASCIMENTO, 2004). A equipe pertencente à UTIP necessita estabelecer um elo de confiança com o familiar/ criança, para que seus cuidados possam ir além de cuidados físicos. Ouvir as queixas da criança com cuidado, e ter sempre em mente a relação de humanização da assistência, faz com que a criança tenha uma recuperação rápida e com qualidade, aumentando uma relação de confiança entre enfermeiro/paciente/familiar. Esse cuidado que vai além dos cuidados rotineiros, emprega-se também ao paciente em coma, pois muitas vezes a humanização, cuidado e respeito deixam de ser empregados a esses pacientes. É importante abordar aos familiares sempre com diálogos fáceis de serem entendidos, evitando termos técnicos, que os membros da família possam interagir, e se comunicarem passando alguma informação importante para a equipe. Existe a obrigação da identificação das causas de forma positiva ou negativa que possam prejudicar a assistência à criança em coma, por isso a importância de avaliar a necessidade do paciente por meio da família. A relação de empatia entre criança/familiar/profissional ajudam a ter um retorno mais abrangente em relação à melhora do paciente, contudo aplicando a humanização e o cuidado como um todo ao paciente crítico. 20 UNIDADE I │ TERAPIA INTENSIVA DE PEDIATRIA Portanto, a comunicação é um ponto positivo que permeia a interação enfermeiro–cliente e que pode se tornar terapêutico. Os cuidadores devem promover o bem-estar, tanto para doentes quanto para familiares. Devem perceber a importância do relacionamento, da presença, da comunicação, da disponibilidade, de forma efetiva e com qualidade. Quando os profissionais da enfermagem delegarem atividades administrativas, como normas e rotinas e se envolverem de forma comprometida com os cuidados humanos, aliados à habilidade técnico-científica, obterão resultados mais positivos frente ao processo de humanização da assistência. (PAULA; FUREGATO; SCATENA, 2000). Figura 3. Pediatria integral. Fonte: <http://meninasplugadas.com.br/prevencao-de-doencas-cronicas-pode-fazer-criancas-viverem-100-anos/>. 21 UNIDADE II ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA CAPÍTULO 1 Ressuscitação pediátrica A sobrevivência de crianças em parada cardiorrespiratória depende dos cuidados de emergências, oportunos e apropriados, tanto no ambiente extra-hospitalar como intra hospitalar. A realização de Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) rápida e eficaz, em ambiente extra-hospitalar, pode estar associada ao Retorno da Circulação Espontânea (RCE) e sobrevivência sem sequelas neurológicas em crianças. (TOBIS; ARONOW, 1980; FOLLMER; LUM, 1982). Estudos demonstram que o atendimento à parada respiratória extra-hospitalar, por socorristas leigos, pode ter o maior impacto na sobrevivência sem sequelas neurológicas, alcançando taxas de 70%. (KYRIACOU et al, 1994; HICKEY, 1995). Sabe-se também que a taxa de sobrevivência de crianças com PCR súbita e testemunhada em ambiente extra-hospitalar, por fibrilação ventricular, é de 20% a 30%. (KITAMURA et al, 2010). Estes dados enfatizam a importância do ensino das manobras de RCP para o público leigo, bem como a criação de programas de treinamento em atendimento em emergência nas escolas e creches. Assim, para melhorar a sobrevivência e a qualidade de vida pós-ressuscitação, esforços devem ser feitos como parte de um conjunto de ações que incluem (GONZALES et al, 2013): » Prevenção da Parada Cardiopulmonar (PCR), voltada para medidas simples, como o uso de cadeirinhas adequadas e o posicionamento das mesmas nos carros, uma vez que os eventos traumáticos são a principal causa de morte e sequela na pediatria a partir de um ano de idade. » Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) precoce e de alta qualidade realizada por uma pessoa presente no local. 22 UNIDADE II │ ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA » Acionamento rápido do Sistema Médico de Emergência (SME), como o 192 (SAMU), em casos de emergências clínicas, ou 193 (Bombeiros), em emergências associadas ao trauma. » Suporte avançado de vida eficaz, inclusive com a rápida estabilização e transporte para o cuidado definitivo, por meio do acesso à via aérea definitiva e uso de drogas. » Cuidados pós-PCR integrados: devem incluir todas as opções terapêuticas que permitam a recuperação neurológica. Definição das faixas etárias para o atendimento nas emergências pediátricas Ressalta-se que o público pediátrico possui suas particularidades dependentes da faixa etária. Assim, seguiremos as seguintes definições para o atendimento pediátrico, por profissionais de saúde, Gonzales et al (2013): » Bebê (lactente): indivíduo que teve alta da maternidade até 1 ano de idade. » Criança: de 1 ano de idade à puberdade; são sinais de puberdade, nos meninos, a presença de pelos no tórax ou axilas e, nas meninas, o início do desenvolvimento de seios. O que equivale a cerca de 10 anos de idade em média. Para socorristas leigos, define-se bebê (lactente), vítimas com idade até 1 ano e criança com idade entre 1 a 8 anos. Figura 4. Ressuscitação pediátrica. Fonte: <http://www.revdesportiva.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=270&Itemid=63>. 23 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA │ UNIDADE II Sequência de suporte básico de vida em crianças para profissionais de saúde com “um” socorrista Em uma situação de PCR, um mnemônico pode ser utilizado para descrever os passos simplificados do atendimento em SBV: o “CABD primário”. (TRAVERS et al, 2010; NOLAN et al, 2009). As letras correspondem a: » checar responsividade e respiração da vítima; » chamar por ajuda; » checar o pulso da vítima; » compressões (30 compressões); » abertura das vias aéreas; » boa ventilação (2 ventilações); » desfibrilação. Esta sequência, também, adotada para o Suporte Básico de Vida em Pediatria, reside nas evidências de que, embora a maioria das PCRs pediátricas seja causada por problemas respiratórios, os dados clínicos respaldam a necessidade de ventilações e compressões para a RCP pediátrica. (FRIESEN, 1982; MOGAYZEL, 1995). No entanto as PCRs pediátricas são muito menos comuns do que PCRs súbitas em adultos e muitos socorristas nada fazem quando ficam inseguros ou confusos. A maioria das vítimas de PCR pediátrica não recebe nenhuma manobra de RCP das pessoas que a testemunham. (FOLLMER; LUM, 1982). A abordagem C-A-B para vítimas de todas as idades foi adotada com o intuito de aumentar a chance e rapidez de uma pessoa executar a RCP. (GONZALES et al, 2013). Figura 5. Urgência - suporte básico de vida em crianças. Fonte: <http://www.revdesportiva.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=270&Itemid=63>. 24 UNIDADE II │ ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA Segurança do local Primeiramente, avalie a segurança do local. (Gonzales et al, 2013) Certifique-se de que o local é seguro para você e para a vítima, para não se tornar uma próxima vítima. Caso o local não seja seguro (por exemplo, um prédio com risco de desmoronamento, uma via de trânsito), torne o local seguro(por exemplo, parando ou desviando o trânsito) ou remova a vítima para um local seguro. Caso o local esteja seguro, prossiga o atendimento. (GONZALES et al, 2013) Avalie a responsividade e respiração da vítima Avalie a responsividade da criança chamando-a e tocando-a pelos ombros. Se a criança responder, apresente-se e converse com ela perguntando se precisa de ajuda. Se a criança não responder, não falar, nem reagir de alguma forma, considere que ela está irresponsiva. Assim, avalie a respiração observando se há elevação do tórax em menos de 10 segundos ou a presença de respiração agônica (irregular ou anormal). Caso a criança tenha respiração, fique ao seu lado e aguarde para ver sua evolução e, se necessário, chame ajuda, explica Gonzales et al, 2013). Chame ajuda De acordo com Gonzales et al (2013) o tempo necessário entre a avaliação da responsividade, respiração e o acionamento do serviço de emergência deve ser de 10 segundos. Se houver 2 socorristas, um deve iniciar a RCP imediatamente; e o outro deve ativar o SME e obter um Desfibrilador Externo Automático (DEA), se estiver disponível. Lembre-se que a pessoa que ligar para o SME deve estar preparada para responder às perguntas, como a localização do incidente, as condições da vítima, o tipo de primeiros socorros que está sendo realizado, etc. (GONZALES et al, 2013). A maioria das causas de PCR em lactentes e crianças é por hipoxemia ao invés PCR por Fibrilação Ventricular (FOLLMER, LUM 1982; BERG et al, 1999; BERG et al, 2000, portanto, se o socorrista estiver sozinho, ele deve gritar por socorro e realizar 2 minutos de RCP, antes de deixar a criança e ir chamar ajuda (acionar o SME), ressalva Gonzales et al 2013. 25 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA │ UNIDADE II Apenas no caso do colapso, síncope presenciada, que indica uma causa cardíaca, deve-se deixar a criança e acionar o SME, solicitando ajuda e um DEA. Gonzales et al (2013). Cheque o pulso Gonzales et al (2013) explica que é necessário verificar o pulso carotídeo ou femural em menos de 10 segundos. Caso a vítima apresente pulso, aplique uma ventilação a cada 3 a 5 segundos, mantendo 12 a 20 ventilações por minuto. Neste caso, cheque o pulso a cada 2 minutos. Se não detectar pulso na vítima ou estiver com dificuldade de sentir o pulso, inicie os ciclos de compressões e ventilações. Estudos mostram que tanto profissionais da saúde quanto socorristas leigos têm dificuldade de detectar o pulso e que os primeiros também podem levar muito tempo para realizá-lo, por isso não é enfatizada a checagem de pulso. (TIBALLS; RUSSELL, 2009). Inicie ciclos de 30 compressões e 2 ventilações As compressões devem ser realizadas em uma superfície rígida, na metade inferior do esterno, sempre evitando o apêndice xifoide, com 1 ou 2 mãos, o que determina se será necessária a utilização de 1 ou 2 mãos é o diâmetro anteroposterior (AP) da vítima, sendo que as compressões devem ter profundidade de no mínimo 1/3 do diâmetro torácico, cerca de 5cm, sempre permitindo o retorno total do tórax à sua posição inicial, após cada compressão. (IGLESIAS et al, 2010). Não existem dados para determinar se o método de uma ou duas mãos promove melhores compressões (Classe IIb, Nível de Evidência C). Em um estudo realizado utilizando as duas mãos para a técnica de compressão torácica, em um manequim criança, foram obtidas pressões mais elevadas de compressão torácica aliadas à redução de cansaço do socorrista (IGLESIAS et al, 2010). A frequência de compressões torácicas deve ser, no mínimo, de 100/min e no máximo de 120/min, se for realizar apenas compressões (NOLAN et al, 2010). A relação de compressões/ventilações deve ser de 30 compressões em, no máximo, 18 segundos, para 2 ventilações. A cada 30 compressões e 2 ventilações é denominado 1 ciclo. Deve-se minimizar as interrupções nas compressões, não demorar mais de 10 segundos entre a última compressão de um ciclo e a primeira compressão do ciclo seguinte. (BERG et al., 2008; KELLUM et al, 2008. 26 UNIDADE II │ ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA A RCP tanto para crianças quanto lactentes deve incluir compressões e ventilações, porém as compressões sempre são prioridade no atendimento e devem ser realizadas mesmo na impossibilidade de ventilação. (GONZALES et al, 2013). Figura 6. Compressões torácicas. Fonte: <http://www.revdesportiva.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=270&Itemid=63>. Tabela de nível de recomendação do atendimento de PCR em crianças (Classe IIb, Nível de Evidência C) Classe de recomendação Indicação Nível de evidência Classe I Avaliação da responsividade e respiração da vítima. C Classe I Acionamento de ajuda. C Classe IIa Realização de RCP antes de acionar ajuda se o socorrista estiver sozinho. C Classe IIa Checagem de pulso e início da RCP se pulso ausente ou se estiver em dúvida. C Classe IIa Realização de 30 compressões e 2 ventilações em crianças com suspeita de PCR. C Fonte: (Gonzales, et al. (2013) Figura 7. Compressões torácicas. Fonte: <http://slideplayer.com.br/slide/1717734/>. 27 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA │ UNIDADE II Ventilação Após 30 compressões, deve-se abrir as vias aéreas e realizar 2 ventilações. A técnica indicada para abertura da via aérea é inclinação da cabeça e elevação do queixo. Deve-se apoiar uma mão sobre a região frontal, inclinar a cabeça para trás e pôr 2 dedos da outra mão na parte óssea mandíbula para abrir as vias aéreas. (YOUNG; SEIDEL, 1999; KELLUM, 2008). Sabe-se que em crianças ou lactentes não responsivos, a língua pode obstruir a via área e interferir nas ventilações (ELAM et al, 1960; SIRBAUGH et al, 1999; STEVENSON et al, 2005). Embora evidências de contaminação com a realização de ventilação boca a boca sejam mínimas, é indicado que o socorrista utilize mecanismos de barreira para aplicar as ventilações, como o lenço facial com válvula antirrefluxo, máscara de bolso (“pocket-mask”) ou bolsa-válvula-máscara. (GONZALES et al, (2013). Independentemente da técnica utilizada para aplicar ventilações, será necessária a abertura de via aérea, que poderá ser realizada com a manobra da inclinação da cabeça e elevação do queixo e, se houver suspeita de trauma, a manobra de elevação do ângulo da mandíbula. Se for realizada uma respiração boca a boca, deve-se pinçar as narinas e a boca sobre a boca da criança e realizar 1 ventilação, que produza uma discreta elevação do tórax, de 1 segundo de duração, assim que o tórax retorna à posição original, realizar outra ventilação de 1 segundo de duração. (GONZALES et al, 2013). Se a ventilação não produzir uma elevação do tórax da criança, é necessário abrir novamente as vias aéreas, inclinando a cabeça e elevando o queixo e realizar outra ventilação que provoque uma expansão torácica (YOUNG, 1999). Mas não deve-se interromper as compressões por mais de 10 segundos; se o tórax não se elevar em 10 segundos, comece a comprimi-lo com força e rapidez novamente. (GONZALES et al, 2013). Abertura das vias aéreas Figura 8. Abertura das vias aéreas. Fonte: <http://socorrismo12d.blogspot.com.br/2009/05/abertura-das-vias-aereas.html>. 28 UNIDADE II │ ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA Perfusão inadequada De acordo com (ZIDMAN, 2005), a sequência para verificar perfusão inadequada é da seguinte forma: » Se houver pulso palpável, mas com frequência cardíaca menor que 60 batimentos por minuto, em crianças e lactentes, é necessário iniciar a RCP. » Se houver pulso palpável, com frequência cardíaca maior que 60bpm, é necessário reavaliar a respiração, se for detectado apneia ou gasping, manter ventilações de 12 a 20 ventilações/minuto, 1 ventilação a cada 3 a 5 segundos. » Se houver pulso palpável, com frequência cardíaca maior que 60bpm e a respiração for regular, deve-se colocar a criança em posição de recuperação lateral. Sequência de suporte básico de vida em crianças com dois socorristasPara Profissionais de Saúde com dois Socorristas Para o atendimento à RCP com 2 socorristas, por profissionais de saúde, um profissional deve realizar compressões torácicas, enquanto o outro mantém a via aérea aberta e executa ventilações a uma razão de 15 compressões e 2 ventilações, com interrupções mínimas nas compressões torácicas (Classe IIa, Nível de Evidência C). (GONZALES et al, 2013). Ressalta-se que a sequência do atendimento inicial (CABD Primário) é mantida, sendo que um dos socorristas aciona o SME, enquanto o outro socorrista irá checar o pulso e iniciar as compressões torácicas em uma relação de 30 compressões e 2 ventilações até que o primeiro socorrista retorne ao local e assuma as compressões torácicas, mantendo, agora, uma relação de 15 compressões/2 ventilações, mantendo as características das compressões eficazes. (GONZALES, et al. 2013). A cada 2 minutos, ou seja, 10 ciclos de 15 compressões e 2 ventilações, deverá haver o rodízio dos socorristas, pois sabe-se que, após 2 minutos, as compressões torácicas talvez não sejam realizadas conforme as recomendações devido à fadiga do compressor. Quando a RCP é realizada por dois profissionais de saúde, a execução de ventilações pode ser feita com a utilização da bolsa-valva-máscara (BVM) O socorrista deve escolher um equipamento adequado. (GONZALES et al, 2013). 29 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA │ UNIDADE II Assim, para criança, deve-se utilizar uma bolsa com capacidade de 1000 ml, ou chamado “ambu de adulto”1240. O equipamento pediátrico (450-500ml de capacidade da bolsa) deve ser reservado para os lactentes ou crianças com menos de 2 anos. Se houver oxigênio disponível e reservatório, deve-se abrir 15 litros no fluxômetro de oxigênio para encher o reservatório para bolsas de 1000ml. (GONZALES et al, 2013). A técnica para garantir o melhor posicionamento da máscara no rosto da criança e evitar o escape de ar é o E-C1241. Colocar o 3o, 4o e 5o dedos de uma mão na mandíbula, formando a letra E. O polegar e o indicador devem segurar a máscara no rosto da criança, formando a letra C, o que facilita a inclinação da cabeça para abrir as vias aéreas (DONOGHUE et al, 2009). Aberta a via aérea, deve-se pressionar a bolsa com o volume corrente o suficiente para provocar uma expansão torácica de duração de 1 segundo. A recomendação é evitar a ventilação excessiva, e, no caso de um 3o socorrista disponível, ele pode auxiliar no posicionamento da máscara, evitando o extravasamento do ar. (GONZALES et al, 2013). Figura 8. Manobras de reanimação cardio-respiratória. Fonte: <http://www.revdesportiva.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=270&Itemid=63>. 30 UNIDADE II │ ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA Tabela de orientação para a realização de ventilações (Classe IIa, Nível de Evidência C) Classe de recomendação Indicação Nível de evidência Classe IIa tórax Aplicação de ventilações com fornecimento da quantidade de ar suficiente para promover a elevação do tórax. C Classe III Evitar hiperventilação, pois aumenta o risco de insuflação gástrica, podendo causar regurgitação e aspiração. B Classe IIb Abertura da via aérea com a inclinação da cabeça, elevação do queixo ou elevação do ângulo da mandíbula. C Classe IIa Inclinação da cabeça quando o socorrista não conseguir realizar a manobra de elevação do ângulo da mandíbula, e o mesmo apenas suspeita de trauma cervical, sem evidência de lesão na cabeça. B Classe IIa Ventilações com interrupções mínimas na compressões torácicas. C Fonte: (GONZALES, et al. 2013) Utilização do Desfibrilador Externo Automático (DEA) A utilização do DEA na PCR súbita com Fibrilação Ventricular (FV) ou Taquicardia Ventricular (TV) sem pulso é um dos determinantes mais importantes da sobrevivência à PCR. DEAs são equipamentos computadorizados de operação simples e capazes de identificar FV ou TV sem pulso, que são os ritmos chocáveis, e administrar choques. (GONZALES et al, 2013). Assim que o DEA estiver disponível, o socorrista deve posicioná-lo próximo do socorrista que irá operá-lo, ou em cima da cabeça da criança, para que os dois socorristas possam operar o equipamento. (GONZALES et al, 2013). Um socorrista deve manter a compressão torácica até que o DEA indique que deve ser interrompida a compressão para análise do ritmo. Existem pás de adulto e pediátrica, que reduzem a carga para 50 a 70 Joules e que devem ser utilizadas em crianças menores de 8 anos – 25kg. (TERNDRUP, 1989). Mas existem equipamentos que possuem uma chave que reduz a carga. Alguns equipamentos reduzem a carga, utilizando pás/eletrodos pediátricos que devem ser adquiridas separadamente. Se não houver pá pediátrica disponível, deve-se utilizar uma pá de adulto. (BAR-COHEN et al, 2005). Aplicar as pás adesivas ao tórax desnudo da criança. Uma pá no tórax superior direito, abaixo da clavícula, e a outra pá ao lado ou abaixo do mamilo esquerdo. Se o tórax da criança for muito pequeno e se não for possível manter uma distância de 3cm de uma pá da outra, deve-se colocar uma pá na frente do tórax e outra na região posterior. (GONZALES et al, 2013). 31 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA │ UNIDADE II DEA irá analisar o ritmo novamente e informar se o choque está indicado ou não. Sempre lembrar que uma vez coladas às pás do DEA, estas permanecem e o DEA não será desligado até a chegada do SME, mesmo se o choque não for indicado e a criança evoluir com retorno da circulação espontânea. (GONZALES et al, 2013). Incidência de PCR em criança A parada cardíaca súbita em crianças é pouco comum. O que ocorre nas crianças, geralmente, é a parada cardíaca decorrente da progressão da insuficiência respiratória e/ou do choque, associada à hipoxemia e acidose, sendo bem menor a incidência de parada cardíaca por arritmias cardíacas na faixa etária pediátrica do que no adulto. (ALKINS, 2009). O colapso súbito devido à fibrilação ventricular (FV) ou taquicardia ventricular (TV) sem pulso ocorre como manifestação clínica inicial em aproximadamente 5-15% de todas as paradas cardíacas pediátricas pré-hospitalares; esta incidência deve ser um pouco mais alta em pacientes acima de 12 anos. Nos pacientes internados que sofreram parada cardíaca, haverá um ritmo chocável (TV/ FV) em algum momento durante a tentativa de ressuscitação em aproximadamente 27% das crianças, sendo que 10% apresentarão estes ritmos como manifestação inicial. (DE MOS et al, 2006). Apresentação da parada cardíaca de acordo com a etiologia, em crianças pode ser de dois tipos (MATSUNO, 2012): » parada cardíaca hipóxica; » afixia e parada cardíaca súbita. Matsuno (2012) afirma que, a parada hipóxica é o mecanismo fisiopatológico mais comum de parada cardíaca na criança e ocorre como evento terminal de hipóxia tecidual progressiva e acidose, secundárias à insuficiência respiratória, choque ou insuficiência cardiopulmonar. A parada cardíaca súbita em crianças é geralmente associada a arritmias cardíacas, especificamente a FV e a TV sem pulso. (MATSUNO, 2012). As causas de parada cardíaca estão relacionadas: Insuficiência Respiratória → Insuficiencia Cardiopulmonar → Parada Hipóxica Choque Hipovolêmico Miocardiopatia Hipertrófica Artéria coronária anômala Síndrome do QT longo → PARADA CARDÍACA SÚBITA Miocardite Intoxicação Contusões Cardíacas 32 UNIDADE II │ ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA Qualquer que seja o evento inicial ou o processo patológico envolvido no tipo de parada, os pacientes desenvolvem falência cardiopulmonar imediatamente antes da parada cardíaca. A falência cardiopulmonar se caracteriza por oxigenação, ventilação e perfusão tecidual inadequadas, e clinicamente o paciente se apresenta cianótico, com respiração agônica ou irregular e bradicardia. (MATSUNO, 2012). O modelo de avaliação pediátrica permite que se reconheça e trate a falência cardiopulmonar imediatamente. A parada cardíaca é reconhecida porausência de sinais da função cardiorrespiratória (sem movimentação, sem ventilação e sem pulso). Clinicamente, o paciente em parada cardíaca se apresenta com apneia ou respiração agônica, sem pulsos detectáveis e não responsivo (inconsciente). A monitorização do ritmo cardíaco não é mandatória para o reconhecimento clínico da parada cardíaca, mas serve para direcionar a terapêutica. (GEREIN et al, 2006). Os ritmos de colapso ou de parada cardíaca são (GEREIN et al, 2006): » assistolia; » atividade elétrica sem pulso (AESP); » fibrilação ventricular (FV); » taquicardia ventricular (TV) sem pulso. Enquanto que a assistolia e a AESP são os ritmos iniciais mais comumente observados na parada cardíaca em crianças abaixo de 12 anos, a FV e a TV são os ritmos iniciais observados em crianças que apresentam colapso súbito. (KLEINMAN et al, 2010). Assistolia Ritmo de parada cardíaca associado à ausência de atividade elétrica detectável pelo ECG e representado por uma linha reta. Deve-se confirmar clinicamente este diagnóstico para descartar artefato ou derivações mal fixadas do ECG. (AMERICAN HEART ASSOCIATION, PALS, 2006). Figura 9. Assistolia. Fonte: <http://iphone.gwhizmobile.com/CatalogDetailgFlashPro.php?tag=flash&key=0AvPD9nu_8qxWdEVCWERqSjE3d0Flc1lmc ndPa2VjMEE&action=view&title=Electronic%20Flashcard%20set%201.0&rating=0>. 33 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA │ UNIDADE II Atividade Elétrica sem Pulso (AESP) Qualquer atividade organizada observada no monitor cardíaco ou no ECG em paciente sem pulso central palpável; esta definição exclui FV, TV e assistolia. O ECG pode mostrar a presença de complexo QRS normal ou alargado, ou outras anormalidades como onda T com baixa ou alta amplitude, intervalo PR e QT prolongados e dissociação atrioventricular ou bloqueio cardíaco total. (AMERICAN HEART ASSOCIATION, PALS, 2006). O ECG pode fornecer dados importantes para determinar a etiologia da parada cardíaca. Geralmente, quando o QRS é inicialmente normal, a AESP pode ter sido causada por problemas de curta duração, como hipovolemia ou hemorragia, embolia pulmonar maciça, pneumotórax hipertensivo ou tamponamento cardíaco. (AMERICAN HEART ASSOCIATION; PALS, 2006). Por outro lado, a AESP com ritmo lento e com complexos QRS largos é observada em processos de maior duração, como hipóxia tecidual e acidose. A AESP pode ser causada por condições reversíveis e, portanto, durante a reanimação cardíaca deve-se sempre procurar e tratar suas causas. (AMERICAN HEART ASSOCIATION; PALS, 2006). Figura 10. Atividade Elétrica sem Pulso (AESP). Fonte: <http://hypescience.com/os-filmes-enganam-a-desfibrilacao-nao-salva-todos-os-pacientes/>. Fibrilação ventricular O coração não apresenta ritmo organizado, não tem contrações coordenadas e a atividade elétrica é caótica; portanto, o coração tremula e não bombeia sangue. A FV pode ser causada por doenças cardíacas, intoxicações, choques elétricos, acidentes por submersão e traumas, e geralmente se associa com colapso súbito. Os pacientes que apresentam FV ou TV sem pulso como ritmo de colapso inicial têm taxa de sobrevivência maior do que aqueles com assistolia e AESP, principalmente se o diagnóstico for precoce e o tratamento iniciado o mais rápido possível. Se houver demora no reconhecimento da FV ela pode evoluir para fibrilação de baixa voltagem, que apresenta um pior prognóstico com menor resposta ao tratamento. (AMERICAN HEART ASSOCIATION, PALS, 2006). 34 UNIDADE II │ ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA Figura 11. Fibrilação ventricular. Fonte: <http://pt.dreamstime.com/fotografia-de-stock-royalty-free-fibrila%C3%A7%C3%A3o-ventricular-arritmia-mortal-do- cora%C3%A7%C3%A3o-image31209907>. Figura 12. Fibrilação ventricular de alta voltagem. Fonte: <http://revista.fmrp.usp.br/2012/vol45n2/Simp7_Parada%20card%EDaca%20em%20crian%E7as.pdf>. Figura 13. Fibrilação ventricular com atividade elétrica reduzida ou de baixa voltagem. Fonte: <http://revista.fmrp.usp.br/2012/vol45n2/Simp7_Parada%20card%EDaca%20em%20crian%E7as.pdf>. Taquicardia ventricular (TV) sem pulso Caracteriza-se por complexos QRS organizados e largos. Ao ECG, apresenta-se com frequência ventricular de pelo menos 120/min, QRS > 0,08 segundos de duração, ondas P geralmente não identificadas, ou quando presentes, podem não estar correlacionadas ao QRS, e ondas T geralmente de polaridade oposta ao QRS. (KLEINMAN et al, 2010). As causas podem estar associadas à doença cardíaca de base (ou pós-operatório de cardiopatia), síndrome do QT longo, miocardite, miocardiopatias, distúrbios hidroeletrolíticos (hiperpotassemia, hipocalcemia, hipomagnesemia) e intoxicações (antidepressivos tricíclicos e cocaína). (KLEINMAN et al, 2010). 35 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA │ UNIDADE II Em todos os ritmos de colapso é necessário, além do tratamento do ritmo, procurar as causas prováveis e tratá-las. Há um método mnemônico que ajuda a lembrar das causas mais comuns dos ritmos cardíacos de colapso. São os 6 Hs e os 5 Ts (KLEINMAN et al, 2010): » hipovolemia; » hipóxia; » hidrogênio (distúrbios do H+ – o mais comum é a acidose); » hipo/hiperpotassemia; » hipoglicemia; » hipotermia; » tóxicos (intoxicações em geral); » tamponamento cardíaco; » tensão no tórax (Pneumotórax); » trombose coronariana; » trombose pulmonar. Figura 14. Taquicardia ventricular sem pulso. Fonte: <http://slideplayer.com.br/slide/386238/>. Figura 15. Taquicardia ventricular monomórfica. Fonte: <http://slideplayer.com.br/slide/386238/>. 36 UNIDADE II │ ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA Figura 16. Taquicardia ventricular polimórfica. Fonte: <http://slideplayer.com.br/slide/386238/>. Tratamento dos ritmos de colapso A alta qualidade da ressuscitação cardiopulmonar (RCP) e a sistematização do atendimento são bases fundamentais para o sucesso do tratamento da parada cardíaca, tanto no suporte básico como no suporte avançado de vida. (KLEINMAN et al, 2010). Suporte avançado de vida Intra Hospitalar No cenário intra-hospitalar, provavelmente o atendimento não será feito por um único profissional. Portanto, assim que se detectar que o paciente apresenta parada cardíaca, deve-se pedir para que se traga o carrinho de emergência com o desfibrilador e a monitorização e, enquanto isso, inicia-se a RCP. (KLEINMAN et al, 2010). A meta das intervenções terapêuticas é o retorno da circulação espontânea, definido como a restauração de ritmo cardíaco espontâneo (ao monitor é o aparecimento de atividade elétrica organizada) com perfusão (pulsos centrais palpáveis e pressão arterial mensurável). O tratamento dos ritmos de colapso inicia-se sempre com o “CAB” (KLEINMAN et al, 2010): C - Se houver ausência de pulso central, inicia-se a massagem cardíaca de alta qualidade seguindo as mesmas recomendações anteriormente expostas e depois, faz-se o A e o B. A - Abertura de vias aéreas pelo posicionamento correto da cabeça e aspiração. B - Oferta de oxigênio, que neste caso será através da bolsa-valva e máscara, pois o paciente em parada cardíaca não apresenta respiração espontânea ou quando apresenta, ela é totalmente ineficaz (respiração agônica). A intubação orotraqueal deverá ser feita assim que possível, quando diminuir a efetividade da ventilação com bolsa-valva e máscara. O momento adequado para a intubação dependerá da experiência do socorrista, pois ela deve ser feita 37 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA │ UNIDADE II rapidamente e durante a sua realização, é necessário parar as manobras de RCP. (KLEINMAN et al, 2010). Se dois socorristas estiverem atendendo crianças até a adolescência, a relação compressão: » ventilação deve ser 15:2 ; » adolescentes e adultos, 30:2. Após a intubação, a maneira como se ventila e massageia muda, deixando de ser sincronizada e passa a ser 8-10 ventilações por minuto (6 segundos entre uma ventilação e outra) e a massagem se tornacontínua sem interrupções. Esta mudança se deve a estudos que mostram que durante a parada cardíaca, o fluxo sanguíneo para os pulmões é de somente 25% a 33% do normal; isso significa que durante a ressuscitação é necessário menos ventilação para satisfazer a perfusão. (KLEINMAN et al, 2010). As manobras de abertura de vias aéreas e ventilação, principalmente na parada cardíaca em crianças, cuja principal causa é a hipóxia, são extremamente importantes e não podem ser retardadas, pois um estudo recente com pacientes pediátricos mostrou que há melhor desfecho, nestes casos, quando se combina a massagem cardíaca com a ventilação do que apenas com a massagem cardíaca. Teoricamente, o início da ventilação não poderá demorar mais que 18 segundos após o início da massagem com um socorrista e se forem dois socorristas, este tempo deverá ser ainda menor (18 segundos é o tempo que o socorrista leva para aplicar 30 compressões, a 100/min). (MATSUNO, 2012). O acesso venoso deve ser estabelecido assim que se detectar uma situação de emergência. A prioridade para o estabelecimento do acesso vascular deve ser na seguinte sequência: intravenoso, intraósseo e endotraqueal. (AMERICAN HEART ASSOCIATION; PALS, 2006): » Veia periférica: este acesso é preferível como primeira tentativa, pois além de ser mais fácil de ser obtido que o acesso central (que precisa de habilidades específicas), durante a sua aquisição não é necessário interromper as manobras de RCP. Caso o paciente já esteja com um acesso central antes do início das manobras de RCP, esta via deve ser utilizada para medicações, porque possibilita início de ação mais rápido e concentrações mais elevadas do que a veia periférica. » Via intraóssea: caso não se consiga o acesso periférico, deve-se dar preferência à via intraóssea (IO), que pode ser estabelecida em qualquer 38 UNIDADE II │ ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA faixa etária, inclusive nos pacientes adultos. Constitui acesso fácil, frequentemente obtido em 30 a 90 segundos, onde podem ser feitos quaisquer tipos de medicação ou de fluido administrados normalmente por via endovenosa, pois a canulação IO fornece um acesso não colapsável para o plexo venoso da medula óssea. » Via endotraqueal: deve ser utilizada apenas na impossibilidade de obtenção da via intravenosa ou intraóssea, pois ela possui algumas restrições: 1. só podem ser administradas medicações lipossolúveis como atropina, naloxona, epinefrina e lidocaína (“ANEL”); 2. a dose ideal da maioria das medicações é desconhecida; 3. a absorção das medicações pela árvore traqueobrônquica é imprevisível e, portanto, seus níveis e efeitos também serão imprevisíveis; 4. a administração endotraqueal das medicações resulta em níveis sanguíneos inferiores quando se compara com as mesmas doses administradas por via intravenosa ou intraóssea; 5. a dose recomendada de epinefrina por via endotraqueal é dez vezes maior que aquela administrada por via intravenosa e para as outras medicações, é duas a três vezes maior. A técnica de administração consiste em instilar as drogas no tubo traqueal diluídas em 5 ml de solução fisiológica, aplicando-se 5 ventilações com pressão positiva após a instilação. Após a identificação do ritmo pelo ECG, deve se iniciar o tratamento apropriado de acordo com o tipo de ritmo (chocável ou não chocável). (AMERICAN HEART ASSOCIATION; PALS, 2006). Tratamento dos ritmos não chocáveis Constituem ritmos não chocáveis a assistolia e a AESP. Assim que, se detectar a ausência de pulso central, deve-se iniciar a massagem cardíaca de alta qualidade e administrar epinefrina durante as manobras de RCP, ou seja, enquanto se faz a massagem cardíaca. A cada 5 ciclos ou 2 minutos de RCP, verifica-se o ritmo. (BERG, 2010). A dose de epinefrina por via intravenosa ou intraóssea é de 0,01 mg/kg ou 0,1 mL/kg da solução 1:10.000 (1 ampola diluída para 10 mL), podendo ser repetida em intervalos de 3 a 5 minutos. A dose pela via endotraqueal deve ser 10 vezes maior, ou seja, 0,1 39 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA │ UNIDADE II mg/kg (0,1mL/kg da solução 1:1.000). Não existem benefícios quanto à sobrevivência que justifiquem o uso de altas doses de epinefrina (0,1 a 0,2 mg/kg); isto pode ser até mesmo prejudicial, principalmente em casos de parada hipóxica.10 No entanto, o uso de altas doses pode ser considerado em algumas situações especiais, como na intoxicação por β-bloqueadores. Ressalta-se que a epinefrina é a única droga indicada na RCP dos ritmos não chocáveis em crianças. Após iniciar a massagem cardíaca, devem-se assegurar as vias aéreas e fornecer oxigenação rapidamente. É necessário também tratar as condições reversíveis associadas a estes ritmos (pensar nos 6Hs e 5Ts). Os ritmos assistolia e AESP nunca devem ser tratados com choque elétrico. (BERG, 2010). Constituem ritmos chocáveis A FV e a TV sem pulso. Inicialmente, faz-se a sequência de massagem cardíaca, abertura das vias aéreas e oxigenação apropriada. (KLEINMAN et al, 2010). Após 5 ciclos ou 2 minutos de RCP, verifica-se o ritmo. Ao chegar o desfibrilador, que no cenário intra-hospitalar provavelmente será um desfibrilador manual, faz-se a preparação e a aplicação do choque. (KLEINMAN et al, 2010). Administração de medicamentos Assim que se detecta que o ritmo chocável não reverteu após o primeiro choque e dois minutos de RCP, deve-se administrar epinefrina. Embora não tenha sido determinado um momento exato para a administração de epinefrina, recomenda-se que ela deva ser feita durante as compressões torácicas ou imediatamente antes do início das compressões, pois a droga deve “circular” para agir. (KLEINMAN et al, 2010). As doses da epinefrina são as mesmas utilizadas no tratamento dos ritmos não chocáveis. (KLEINMAN et al, 2010). Outras medicações: logo após o segundo choque, inicia-se a massagem cardíaca e faz-se a RCP por dois minutos, verificando-se novamente o pulso e o ritmo. Se a TV sem pulso ou a FV ainda persistirem, prepara-se um novo choque 1mg com 4 J/kg, podendo-se usar novamente a epinefrina ou algum antiarrítmico como amiodarona, lidocaína ou sulfato de magnésio (para torsades de pointes), cujas doses recomendadas são (KLEINMAN et al, 2010): 40 UNIDADE II │ ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA » amiodarona 5 mg/kg IV ou IO (dose máxima única 300 mg); » lidocaína / kg IV ou IO, sendo que por via endotraqueal deve ser feita 2-3 vezes esta dose; - sulfato de magnésio 25 a 50 mg/kg IV ou IO, dose única máxima de 2 g. Figura 17. Algoritmo de Parada sem Pulso do PALS. Fonte: <http://revista.fmrp.usp.br/2012/vol45n2/Simp7_Parada%20card%EDaca%20em%20crian%E7as.pdf>. 41 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA │ UNIDADE II Quando parar a RCP Ainda não há consenso sobre o momento em que se devem interromper os esforços de ressuscitação, tanto nos ritmos chocáveis como nos não chocáveis. A decisão de parar a RCP é influenciada pela causa provável da parada, pelos recursos disponíveis e pela probabilidade da presença de quaisquer condições reversíveis. (KLEINMAN et al, 2010). Normalmente, o tempo de RCP varia de 20 a 30 minutos. Esforços prolongados devem ser feitos em lactentes e em crianças com FV ou TV recorrente ou refratária, toxicidade por drogas (até que se possa fazer o tratamento toxicológico adequado) e hipotermia (até que as medidas de reaquecimento adequado tenham sido realizadas). (KLEINMAN et al, 2010). A evolução da parada cardíaca em pacientes pediátricos é geralmente ruim. Assim, o pronto reconhecimento dos ritmos de colapso e a RCP imediata e de alta qualidade, além da rápida correção dos fatores contribuintes oferecem melhores chances de sobrevivências para estes pacientes. (KLEINMAN et al, 2010). Veja mais: <http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2013/Diretriz_Emergencia.pdf>. Monitoramento Duarte et al (2008) explica que princípio básico do monitoramento é a vigilância, que consistena observação e na mensuração de parâmetros e funções no intuito de avaliar a homeostase e detectar mudanças ou tendências, assim como a resposta às medidas terapêuticas. O monitoramento tem por objetivo diminuir o erro humano, já que os pacientes internados em UTIP estão sujeitos a apresentar acidentes passíveis de prevenção e de consequências devastadoras, como desconexão do circuito do respirador, extubação acidental, mau funcionamento do respirador, desconexão da via venosa com hemorragia, pneumotórax pós-intracath, hipotensão pós-tionembutal, taquiarritmia após droga vasoativa etc. (DUARTE et al, 2008). O monitoramento pode ser realizado clinicamente e com auxílio de equipamentos simples ou complexos, utilizando técnicas invasivas e não invasivas. (DUARTE et al, 2008). 42 UNIDADE II │ ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA Figura 18.Monitoramento. Fonte: <http://www.mrtecnico.com.br/eletronica/ventilador-pulmonar-mecanico-%E2%80%93-a-historia-desde-o-inicio>. Ventilação mecânica invasiva Desde que a ventilação mecânica invasiva foi instituída como terapêutica da insuficiência respiratória, são conhecidas complicações associadas à intubação orotraqueal: ulceração ou edema da mucosa, hemorragia, estenose, pneumonia ou sinusite associadas à ventilação invasiva. (ZIMMERMAN et al, 1994). A ventilação não invasiva (VNI) surge como alternativa terapêutica neste contexto. Trata-se da liberação da ventilação pulmonar mecânica sem a utilização de uma via aérea artificial, como o tubo endotraqueal ou a cânula de traqueostomia. As vantagens teóricas de aumentar a ventilação alveolar sem uma via aérea artificial incluem: evitar as complicações associadas com o tubo endotraqueal, melhorar o conforto do paciente, preservar os mecanismos de defesa das vias aéreas e preservar a linguagem e a deglutição. Além disso, a VNI oferece grande flexibilidade em instituir-se e remover a ventilação mecânica. (ZIMMERMAN et al, 1994). Conforme Silva, Foronda e Troster (2003) os métodos de se oferecer ventilação mecânica não invasiva incluem: pressão negativa externa, oscilação da parede torácica, e ventilação mecânica por pressão positiva por meio de máscara. Nas décadas de 1970 e 1980, dois métodos de ventilação não invasiva com pressão positiva, utilizando uma máscara facial ou nasal, foram introduzidos na prática clínica (SILVA; FORONDA; TROSTER, 2003): » pressão positiva contínua na via aérea (CPAP), para melhorar a oxigenação em pacientes com insuficiência respiratória aguda com hipoxemia; 43 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA │ UNIDADE II » ventilação com pressão positiva intermitente (IPPV), para aumentar a ventilação e descansar a musculatura respiratória de pacientes com insuficiência respiratória crônica decorrentes de doenças neuromusculares e/ou de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Objetivos da VNI A ventilação adequada depende do equilíbrio entre a capacidade de contração da musculatura respiratória e a demanda do indivíduo, além de um comando respiratório central (drive) eficaz. Qualquer patologia que comprometa esse balanço pode levar à falência ventilatória e a prejuízo nas trocas gasosas. (SILVA; FORONDA; TROSTER, 2003) Anormalidades na contração podem surgir por fraqueza intrínseca da musculatura, como acontece nos pacientes com doença neuromuscular, ou quando os músculos são forçados a trabalhar em desvantagem mecânica, como acontece nos pacientes com deformidade de caixa torácica. Aumento da demanda pode ocorrer por obstrução da via aérea, tanto superior como inferior, e por alterações de complacência pulmonar. (SILVA; FORONDA; TROSTER, 2003). Alterações do drive respiratório podem ocorrer por efeito de drogas sedativas ou anomalias congênitas. (TURKINGTON, P.M.; ELLIOT, M.W., 2000). Nesse contexto, a ventilação mecânica não invasiva tem como objetivos melhorar a fadiga muscular, melhorar a capacidade residual funcional, através da diminuição de áreas de atelectasias, e melhorar a troca gasosa. (TURKINGTON, P.M.; ELLIOT, M.W., 2000). Figura 19. Objetivos da VNI. Fonte: Silva, D.C.B.; Foronda, F.A.; Troster, E.J. Ventilação não ivasiva em pediatria. J. Pediatr. (Rio J.) vol.79 suppl.2 Porto Alegre Nov. 2003. 44 UNIDADE II │ ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA Figura 20. Objetivos da VNI. Fonte: Silva DCB, Foronda FA, Troster EJ. Ventilação não ivasiva em pediatria. J. Pediatr. (Rio J.) vol.79 suppl.2 Porto Alegre Nov. 2003. Figura 21. Objetivos da VNI. Fonte: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572003000800005>. Indicações e contraindicações da VNI Indicações As principais indicações da ventilação não invasiva são: as insuficiências respiratórias primariamente hipercápnicas, embora também possa ser utilizada em algumas patologias hipoxêmicas e em outras situações como, por exemplo, no desmame. (SILVA; FORONDA; TROSTER, 2003). Doença pulmonar crônica da infância Não existem trabalhos na faixa etária pediátrica. Em adultos portadores de DPOC agudizada, o uso da ventilação não invasiva reduz a necessidade de intubação e a 45 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA │ UNIDADE II mortalidade. Além disso, melhora rapidamente a acidose e diminui a frequência respiratória. As complicações e o tempo de hospitalização são menores nos pacientes submetidos à ventilação não invasiva (LIGTHOWLER, J.V.; WEDZICHA, J.A.; ELLIOTT, M.W.; RAM, 2003). Alterações da caixa torácica (anatômicas e funcionais) A cifoscoliose pode distorcer todo o gradeado costal e atrapalhar a inspiração, impedindo a respiração profunda e a tosse. Pela dificuldade de clarear secreções e ventilar adequadamente, esses pacientes podem evoluir com infecção e com alteração da troca gasosa. (SILVA; FORONDA; TROSTER, 2003). Pacientes obesos e ascíticos, quando em posição supina, têm o diafragma rebaixado pelas vísceras abdominais, reduzindo a capacidade residual funcional e prejudicando a contração diafragmática na inspiração. (SILVA; FORONDA; TROSTER, 2003). Hipoventilação central A síndrome de hipoventilação central é definida como a ausência do controle automático da respiração (drive). A maior parte das crianças é mais gravemente afetada durante o sono. O tratamento é oferecer suporte ventilatório durante o sono, para sobrepor a ausência de drive central. (SILVA; FORONDA; TROSTER, 2003). Tradicionalmente, isso era realizado através de uma traqueostomia e ventilação com pressão positiva, porém podemos ventilar com pressão positiva através de máscara, evitando submeter a criança à traqueostomia, já que durante o dia sua respiração é voluntária, e, por isso, sem dificuldade. Apneia obstrutiva do sono Durante os estágios de sono ativo (REM), existe uma perda do tônus da musculatura faríngea. Em crianças com predisposição para estreitamento dessa região por alterações anatômicas (Pierre-Robin, acondroplasia, anormalidades craniofaciais ou obesidade), essa perda do tônus pode ocasionar uma obstrução significativa, com prejuízo das trocas gasosas. (SILVA; FORONDA; TROSTER, 2003). Nessas situações, o uso de CPAP por máscara pode ser a solução até que se possa planejar uma cirurgia em tempo mais apropriado, permitindo que a criança tenha tempo de crescer antes de ser submetida a um estresse cirúrgico3,4. (WALLIS, 2000; GUILLEMINAULT et al, 1995). 46 UNIDADE II │ ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA Contraindicações à VNI Silva, Foronda e Troster (2003) apontam as contraindicações da VNI: » cirurgia, trauma ou deformidade facial (impeditivos do uso da máscara); » obstrução total de vias aéreas superiores; » ausência de reflexo de proteção de via aérea; » hipersecreção respiratória; » alto risco de broncoaspiração (vômitos ou hemorragia digestiva alta); » pneumotórax não drenado; » falência orgânica não respiratória: encefalopatia severa (Glasgow < 10), hemorragia digestiva, arritmia cardíaca e instabilidade hemodinâmica (incluindo choque).Lembrar que essas contraindicações podem ser relativas, em especial na ausência de pessoal treinado em intubação e naqueles pacientes não candidatos a mesma esclarecem Silva, Foronda e Troster (2003). Figura 22. Tipos de máscaras. Fonte: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572003000800005>. Veja mais: < h t t p : / / w w w . s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ? s c r i p t = s c i _ a r t t e x t & p i d =S0021-75572003000800005>. 47 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA │ UNIDADE II Fluidos e eletrólitos A hiponatremia é definida como a concentração do sódio sérico inferior a 136 mmol/L. Quando sintomático, esse distúrbio pode manifestar-se por disfunção do sistema nervoso central (SNC), caracterizado por (GROSS et al, 1987): » cefaleia; » náuseas; » vômitos; » letargia; » desorientação; » depressão de reflexos tendinosos; » convulsões; » disfunção neurológica permanente; » morte por edema cerebral; » herniação de tronco cerebra. Dano cerebral e morte têm sido descritos como associados à hiponatremia adquirida em hospital, tanto em crianças como em adultos (MORITZ, AYUS (2007) e ARIEFF, AYUS, FRASER (1992)). O principal fator que contribui para o desenvolvimento desse distúrbio em pacientes hospitalizados parece ser o uso rotineiro de fluidos hipotônicos nos que apresentam a excreção de água livre prejudicada, como aqueles com excesso de arginina vasopressina (AVP). (MORITZ; AYUS, 2004; MORITZ; AYUS, 2005). Praticamente todos os pacientes hospitalizados apresentam risco para o desenvolvimento de hiponatremia como resultado de múltiplos estímulos potenciais para produção de AVP. Esses estímulos podem ser hemodinâmicos, como nos casos de hipovolemia causada por (MORITZ; AYUS, 2007): » vômitos; » diarreia; » uso de diuréticos; » perda renal de sal; » hipoaldosteronismo. 48 UNIDADE II │ ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA Nos casos de hipervolemia causada por: » nefrose; » cirrose; » falência cardíaca congestiva; » hipoalbuminemia. Os estímulos de origem não hemodinâmica incluem (ADROGUÉ; MADIAS; 2000; MORITZ; AYUS, 2007): » síndrome da liberação inapropriada do hormônio antidiurético; » condição presente em distúrbios do SNC em pacientes com meningite; » encefalite; » lesão hipóxica; » abscesso cerebral; » doenças pulmonares como asma e pneumonia; » tumores de vários sítios (pulmonar, cerebral, genito-urinário); » leucemias e linfomas); » uso de medicações (carbamazepina, ciclofosfamida, vincristina e morfina); » ocorrências de pós-operatórios (estresse, dor, deficiência de cortisol). Praticamente todos os pacientes necessitando de fluidos de manutenção têm estímulo potencial para o excesso de AVP e devem ser considerados de risco para hiponatremia. Estudos em adultos e em crianças hospitalizadas com hiponatremia têm detectado secreção não osmótica de AVP na maioria dos pacientes (GERIGK et al, 1993; GROSS et al, 1987). Além disso, crianças são um grupo de risco para o desenvolvimento de encefalopatia hiponatrêmica no pós-operatório. Nesses casos, o ponto de corte das concentrações de sódio séricas associadas às convulsões é mais alto que o observado em adultos, provavelmente pelo maior volume cerebral das crianças (MORITZ, 2005). 49 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA │ UNIDADE II A administração de fluidos hipotônicos a pacientes com excesso de AVP torna previsível o desenvolvimento de hiponatremia, condição presente em até 30% dos pacientes hospitalizados (ALVES; TROSTER;OLIVEIRA, 2011). A determinação para uso de fluidos hipotônicos em crianças foi proposta em 1957 por Holliday e Segar, que justificaram essa opção pelo consumo de energia em crianças saudáveis e pela composição dos leites materno e de vaca (HOLLIDAY ; SEGAR, 1957). Acesso venoso, intraósseo e arterial Acesso venoso A capacitação técnica para a obtenção de um acesso vascular é fundamental a todos os médicos e enfermeiros na unidade de terapia intensiva pediátrica (UTIP). O acesso vascular é essencial à administração de fluidos e drogas durante o suporte avançado de vida, mas sua obtenção pode ser difícil no paciente gravemente doente, principalmente em criança. (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2002). Durante a ressuscitação cardiopulmonar (RCP) e o tratamento do choque, o acesso de escolha é a veia periférica ─ de preferência, duas veias de grosso calibre, utilizando cateteres curtos e grossos (tipo cateter sobre agulha). Caso não se consiga obter o acesso venoso periférico prontamente em poucos minutos, a via intraóssea deve ser estabelecida, lembrando que ela pode ser obtida rapidamente em pacientes de todas as idades (inclusive em adultos e crianças). (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2002). Logo após o início da ressuscitação, deve-se obter um acesso venoso central, que proporciona via segura para a administração de fluidos e drogas e possibilita a monitorização da pressão venosa central. Se as tentativas de obtenção de acesso venoso periférico, intraósseo e central não forem bem sucedidas, deve-se proceder à dissecção venosa. Durante a realização de qualquer procedimento invasivo, as precauções universais devem ser sempre seguidas. (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2002). As principais indicações incluem (OKUTUBO, 1997): 1. monitorização hemodinâmica invasiva (pressão venosa central, pressão de artéria pulmonar, débito cardíaco por termodiluição); 2. acesso vascular para a infusão de soluções cáusticas, irritantes ou hiperosmóticas; 3. terapêutica substitutiva renal de urgência (hemofiltração, hemodiálise); 50 UNIDADE II │ ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UTI PEDIÁTRICA 4. acesso vascular de longo prazo para nutrição parenteral prolongada ou quimioterapia; 5. reposição rápida de fluidos ou sangue no trauma ou cirurgia; 6. estimulação cardíaca artificial temporária; 7. acesso venoso em pacientes com veias periféricas ruins Acesso venoso periférico As indicações de obtenção de acesso venoso periférico incluem a administração intravenosa de drogas e fluidos, a transfusão de hemoderivados e todas as outras situações em que o acesso direto à corrente sanguínea é necessário, como durante a realização de cirurgias e os cuidados de emergência. (ORTEGA et al, 2008). O acesso venoso periférico proporciona uma via satisfatória para a administração de fluidos e drogas durante a RCP e o tratamento do choque, desde que seja estabelecido rapidamente em veia de grosso calibre. (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2002). Carloti (2012) afirma que, as contraindicações relativas da inserção de um cateter em veia periférica em um determinado local são infecção, flebite, esclerose de veias, infiltração intravenosa prévia, queimaduras ou lesões traumáticas proximais ao local de inserção, fístula arteriovenosa no membro e procedimento cirúrgico afetando o membro. Em situações em que ocorre vasoconstrição intensa, como desidratação grave, choque e parada cardiorrespiratória, pode ser difícil obter um acesso venoso periférico. Assim, havendo impossibilidade de estabelecer um acesso venoso periférico ou em situações de emergência, em que a obtenção do acesso venoso periférico pode demorar muito, deve se proceder à cateterização intraóssea ou central, ou à dissecção venosa. (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2002; ORTEGA et al, 2008). A escolha do local de cateterização venosa periférica deve levar em conta a idade, o conforto do paciente, a acessibilidade da veia em relação à posição da criança e a urgência da situação. Em geral, dá-se preferência às veias dos membros superiores, pois elas são mais duráveis e se associam a menos complicações do que as veias dos membros inferiores. (CARLOTI, 2012). Locais de inserção A escolha da técnica a ser utilizada e a do vaso a ser puncionado e canulado devem-se basear na condição clínica do paciente, experiência do executor e indicação para 51 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM
Compartilhar