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1 Beatriz Cavalcanti Regis MedCurso 2017 Micoses Pulmonares INTRODUÇÃO • Os fungos que parasitam o ser humano, tendo como principal órgão o pulmão, são: - Paracoccidioides braziliensis (paracoccidioidomicose); - Histoplasma capsulatum (histoplasmose); - Criptococcus neoformans (criptococcose); - Aspergillus sp. (aspergilose); - Pneumocystis carinii (pneumocistose). PARACOCCIDIOIDOMICOSE AGENTE ETIOLÓGICO • Também chamada de blastomicose sul-americana. • Fungo Paracoccidioides braziliensis (paracoco), presente no solo e restos de vegetais nas áreas rurais principalmente do Brasil (área endêmica) dos estados das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul. TRANSMISSÃO E EPIDEMIOLOGIA • O paciente se contamina pela inalação do fungo durante as atividades agrícolas. • Não é uma doença contagiosa! • A incidência anual dessa doença é de apenas 1-3 casos/100.000 habitantes. • Mais frequente entre os 40 e 60 anos, sendo muito mais comum (14:1) no sexo masculino. Entretanto, na forma aguda, a incidência é igual nos dois sexos. APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Os órgãos mais acometidos são os pulmões; linfonodos (periféricos e/ ou internos); mucosas labial, oral, faríngea, laríngea e traqueal; pele; fígado e baço. • Formas: 1. Forma aguda/subaguda (tipo juvenil) - Característica da criança e de adultos até trinta anos de idade. - Manifestações: adenomegalia generalizada, hepatoesplenomegalia (uma espécie de “síndrome de mononucleose”), febre, adinamia e perda de peso. Obs.: adenopatia pode acometer o hilo hepático e causar icterícia obstrutiva; envolvimento dos linfonodos mesentéricos pode dificultar a drenagem linfática dos intestinos e causar uma enteropatia perdedora de proteínas (hipoalbuminemia e anasarca) e ascite quilosa. - Envolvimento das adrenais: hiperpigmentação cutânea, anorexia, sintomas gastrointestinais, hipotensão, hipoglicemia e distúrbios eletrolíticos (insuficiência adrenal). 2. Forma crônica (tipo adulto) - Forma de maior interesse para a pneumologia. • - Corresponde a cerca de 90% dos casos. - Apresentação clínica típica: a história de meses de evolução com tosse, expectoração e dispneia aos esforços, com lenta progressão. - As lesões mucosas acometem lábios, mucosa oral (figura 1B), orofaríngea ou mesmo a laringe, traqueia ou esôfago, manifestando-se como rouquidão inexplicada, tosse seca e/ou odinofagia. - As lesões de pele são polimórficas, apresentando- se como pápulas, placas, ectimas, úlceras ou lesões vegetantes (figura 1C). - Há também linfadenopatia (embora mais comum na forma aguda). - SNC acometido em 6% dos casos: cefaleia progressiva, convulsões e déficit motor de instalação lentamente progressiva. - Pode evoluir com uma síndrome disseminada, apresentando características da forma aguda associada e frequente insuficiência adrenal → mais susceptíveis são os portadores do HIV com CD4+ abaixo de 250/mm³, transplantados e pacientes com neoplasias hematológicas. EXAMES COMPLEMENTARES E DIAGNÓSTICO • Forma crônica: radiografia de tórax. • Os principais padrões radiológicos são: ✓ Infiltrado micronodular: com nódulos de diferentes tamanhos; ✓ Alveolar, de distribuição simétrica peri-hilar (“asa de morcego”); ✓ Intersticial, reticular ou reticulonodular; ✓ Cavitário, com pequenas cavitações irregulares e confluentes; ✓ Fibrótico, com estrias grosseiras, do hilo para a periferia pulmonar, com ou sem áreas enfisematosas (sequela pulmonar da doença). Infiltrado misto bilateral simétrico peri-hilar (asa de morcego). 2 Beatriz Cavalcanti Regis MedCurso 2017 • Exame de sangue inespecífico, compatível com “doença crônica” (anemia e aumento de VHS); eosinofilia (formas agudas) e monocitose (formas crônicas); hipoglicemia, hiponatremia, hipercalemia e eosinofilia em caso de insuficiência adrenal. DIAGNÓSTICO • Pesquisa direta do fungo (material clareado por hidróxido de potássio ou tinta Parker) ou cultura (rendimento baixo) do material colhido do escarro, aspirado linfonodal ou raspado das lesões cutâneas. • Se os resultados forem negativos, o diagnóstico pode ser buscado pelo exame histológico (biópsia pulmonar, linfonodal, cutânea), que mostrará o fungo corado pelo método da prata- -metenamina (Gomori). • Um outro método diagnóstico é a sorologia: imunodifusão, ELISA e a CIE (contra imunoeletroforese). ✓ A sorologia também é utilizada para controle de cura. • O teste intradérmico com a paracoccidioidina é utilizado apenas em inquéritos epidemiológicos, não servindo para diagnóstico da doença. TRATAMENTO • Duas fases distintas: ataque e manutenção. • Esquemas com duração de 6 a 12 meses (a tendência atual é cada vez mais basear a duração da terapia na melhora clínica e sorológica do doente, e não em períodos previamente fixados). • Droga de escolha (embora custo mais alto: itraconazol 100-200 mg/dia, VO, 1x/dia. • Alternativa: cetoconazol 200-400 mg/dia (mais barata, menos potente e associada a efeitos adversos graves – hepatotoxicidade, bloqueio da síntese de testosterona); sulfametoxazol-trimetoprim (Bactrim) 800/160 mg 2 a 3x/dia. • Casos graves e disseminados: anfotericina B venosa (fase inicial) e sulfametoxazol-trimetoprim (manutenção). • Os pacientes que voltaram a positivar a sorologia e/ou voltaram a apresentar sinais e sintomas clínicos característicos devem receber o retratamento com a mesma droga ou com droga diferente. HISTOPLASMOSE AGENTE ETIOLÓGICO • Fungo Histoplasma capsulatum, encontrado no solo, principalmente em áreas com umidade elevada e temperatura entre 25-30ºC, como cavernas (ou edifícios abandonados) habitadas por morcegos ou locais habitados com aves (galinheiros, viveiros de pombos). TRANSMISSÃO E QUADRO CLÍNICO • Transmitido quase sempre pela inalação do fungo proveniente do ambiente. • Não é uma doença contagiosa! HISTOPLASMOSE PULMONAR AGUDA • Após período de incubação (2 a 3 semanas ou poucos dias – indivíduos previamente infectados, logo, sensibilizados) → quadro gripal (febre, cefaleia, calarios, mialgia e mal-estar) + tosse seca, dor torácica e dispneia + adenomegalia periférica, hepatoesplenomegalia, eritema nodoso, eritema multiforme, artralgia e exantemas (menos comuns). • Pericardite aguda em 6% dos casos. • Normalmente, regride espontaneamente em 10 dias a algumas semanas e surge o complexo de Ghon (granulomas cicatriciais vistor no pulmão, fígado e baço). Obs.: esse nódulo formado após a infecção primária pode aumentar de tamanho (devido ao estímulo antigênico à resposta imune), com inflamação intensa destruição tecidual na periferia (pode haver calcificação) + fibrose central → histoplasmomas (podem ser confundidos com CA de pulmão). HISTOPLASMOSE PULMONAR CRÔNICA • Mais comum em pacientes com pneumopatia prévia (DPOC, bronquiectasias). • Quadro é semelhante ao da tuberculose pulmonar, com início insidioso de sintomas respiratórios, febre, adinamia e perda ponderal. • Casos mais avançados: hemoptise e graus variáveis de fibrose pulmonar. HISTOPLASMOSE DISSEMINADA • Hoje em dia, é considerada doença definidora de AIDS. • Outras formas de imunossupressão, como os pacientes transplantados. • Existem 3 formas: 1. Aguda: evolui ao longo de dias, com febre/calafrios, tosse, hepatoesplenomegalia, adenomegalias diversas (a mais comum, cervical) e, frequentemente, diarreia; lesões cutâneas (especialmente papulocrostosas) estão presentes em 2/3 dos pacientes com HIV associado; presença de citopenias (isolada ou pancitopenia); encefalite em 1/5 dos casos; letalidade de 100% se não tratada e de 20% quando tratada; maior risco de óbito são os que evoluem com choque séptico e disfunção de múltiplos órgãos e sistemas. 2. Subaguda: mesmos sintomas básicos da forma aguda, mas tem uma evolução poucomais arrastada; citopenias menos comuns e mais leves; lesões sólidas destrutivas (pulmão, intestinos, 3 Beatriz Cavalcanti Regis MedCurso 2017 vasos sanguíneos e adrenais) que podem provocar ulceração e até perfuração intestinal. 3. Crônica: forma menos relacionada ao HIV, sendo normal seu encontro em adultos imunocompetentes; sintomas mais brandos e arrastados; febre ausente ou intermitente; mais localizada e menos sistêmica; lesões cutaneomucosas (cavidade oral ou outros pontos do tubo digestivo, vias aéreas superiores, glande e grandes lábios). RADIOLOGIA, LABORATÓRIO E DIAGNÓSTICO • Os padrões radiológicos simulam os padrões da tuberculose. • Forma aguda e disseminada: adenopatia hilar e mediastinal. • Forma crônica: semelhante no que ocorre na TB pós- primária, com cavitação pulmonar e não se visualiza adenomegalia mediastinal. Fig. 2: adenopatia hilar bilateral com tênue infiltrado e múltiplos micronódulos. Fig. 3: padrão semelhante à TB pulmonar pós- primária do adulto. • Laboratório: presença de várias citopenias; aumento da enzima conversora de angiotensina e da fosfatase alcalina; hiperbilirrubinemia (formas aguda e subaguda em até 20% dos casos). • Diagnóstico: exame direto ou cultura de sangue, escarro ou lavado broncoalveolar. ✓ Pacientes mais instáveis: biópsia pulmonar ou de outro sítio acometido (linfonodo, pele, medula óssea), em caso de doença disseminada. ✓ A sorologia pela imunodifusão dupla em gel (mais específica) ou pela fixação do complemento (mais sensível), pode ser falso-positiva na tuberculose, linfoma, sarcoidose ou outras micoses (todas com clínica parecida). ✓ A pesquisa do antígeno polissacarídico no sangue ou na urina tem uma acurácia em torno de 90% (melhor na urina) para o diagnóstico da histoplasmose disseminada. TRATAMENTO • Histoplasmose pulmonar aguda leve: não requer tratamento, a menos que os sintomas perdurem por mais de 3 a 4 semanas. ✓ Se perdurar por mais de 3 a 4 semanas: itraconazol por 6 semanas. • Histoplasmose pulmonar aguda grave (hipoxemia ou grandes infiltrados pulmonares): anfotericina B (início), seguida ou não de uma manutenção de itraconazol por algumas semanas. • Formas pulmonares crônicas: itraconazol ou anfotericina B. • Histoplasmose disseminada: anfotericina B (início), e completado com itraconazol, devendo ser mantido por período indeterminado (profilaxia secundária) nos HIV positivos. ASPERGILOSE AGENTE ETIOLÓGICO • Aspergillus sp., encontrado no solo, água e ar. • Pode colonizar as vias aéreas proximais de indivíduos normais, sob a forma de hifas e micélio. FORMAS CLÍNICAS ASPERGILOSE BRONCOPULMONAR ALÉRGICA • Causada pela hipersensibilidade crônica do tipo alérgica (tipo I) ao Aspergillus fumigatus. • Asma brônquica persistente moderada ou grave, com febre esporádica, tosse com expectoração de tampões mucosos de hifas ou micelas, infiltrados pulmonares migratórios, atelectasias segmentares ou subsegmentares, evoluindo para a formação de bronquiectasias proximais predominando nos lobos superiores (fase mais avançada, com fibrose pulmonar associada). • Laboratório: eosinofilia e aumento de IgE sérica. Critérios diagnósticos 4 Beatriz Cavalcanti Regis MedCurso 2017 • A doença evolui nos seguintes estágios: agudo, exacerbação, remissão, dependência aos corticoides, fibrose. • Tratamento do estágio agudo e exacerbação: prednisona 0,5 mg/kg/dia por 2 semanas, passando-se para dias alternados durante pelo menos três meses; nos casos mais graves (dependência a corticoide) a dose de prednisona deve ser aumentada para 30 mg/dia. PNEUMONITE POR HIPERSENSIBILIDADE • Quadro clinicorradiológico idêntico às outras formas de pneumonite por hipersensibilidade nas pneumopatias intersticiais difusas. • Forma aguda (pneumonite aguda febril) e crônica (granulomatosa). BOLA FÚNGICA (FUNGUS BALL) • Frequentes em pacientes com lesões cavitárias fibróticas (especialmente aquelas com sequela de tuberculose ou bronquiectasias). • O Aspergillus sp. é o gênero mais envolvido → aspergiloma → presença de hifas mortas ou viáveis do fungo, muco, células mortas, leucócitos e hemácias, formando uma massa sólida no interior da cavidade, em comunicação com a árvore brônquica; localizada e não há sintomas sistêmicos. • O paciente pode ser assintomático, com a bola fúngica descoberta ao acaso no exame radiológico ou então apresentar sintomas de tosse crônica, com ou sem hemoptise; febre baixa e emagrecimento. • Tratamento: casos sintomáticos (especialmente se hemoptise), através de cirurgia, com ressecção da bola fúngica; cavernostomia em casos selecionados; itraconazol 400 mg/dia por vários meses (alternativa: voriconazol ou anfotericina B) nos pacientes sem condições clínicas para tolerar a cirurgia ou com múltiplas cavitações. ASPERGILOSE PULMONAR INVASIVA • Infecção pulmonar grave pelo Aspergillus sp. • Ocorre quase que exclusivamente em paciente neutropênicos ou em uso de altas doses de corticosteroides. • Quadro clínico: paciente neutropênico há mais de 10 dias, mantendo febre prolongada, apesar da antibioticoterapia apropriada; pode haver tosse e dispneia progressiva. • Sem tratamento → deterioração do quadro clínico, com insuficiência respiratória e instabilidade hemodinâmica, com alta letalidade. • Radiografia de tórax e a TC de tórax: infiltrados pulmonares com a presença de múltiplos nódulos pulmonares (com halo em sua periferia – sugerindo sangramento perilesional). • Tanto o achado do fungo no escarro ou no lavado broncoalveolar da broncoscopia em indivíduos neutropênicos, quanto um exame histopatológico (biópsia pulmonar), mostrando o Aspergillus na intimidade do tecido pulmonar, autorizam o início do tratamento. • Tratamento: voriconazol (alternativas: itraconazol ou anfotericina B). CRIPTOCOCOSE AGENTE ETIOLÓGICO • Fungo Criptococcus neoformans, agente da meningite criptocócica e da criptococcose pulmonar ou disseminada, especialmente em pacientes imunodeprimidos, como aqueles com AIDS; variedade gatti causando infecção em imunocompetentes. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO • Forma aguda (síndrome gripal e dispneia) e crônica (quadro insidioso respiratório). • Padrão radiológico: infiltrado pulmonar intersticial, alveolar unilateral ou bilateral, imagens nodulares, com adenopatia hilar e mediastinal satélite e/ou derrame pleural. • Diagnóstico: exame direto (tinta Nanquim ou tinta da China), pela cultura ou pela sorologia (látex para criptococo). • Tratamento: apesar de se resolver espontaneamente, atualmente se recomenda o tratamento com fluconazol (200-400 mg/dia, por 3 a 6 meses), mesmo nas formas oligossintomáticas e em pacientes imunocompetentes; mesmo tratamento nas formas extrapulmonares não meníngeas. ✓ Casos graves ou meníngeos: anfotericina B venosa. 5 Beatriz Cavalcanti Regis MedCurso 2017 CANDIDÍASE ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO • Principais espécies: C. albicans, C. krusei, C. glabrata e C. tropicalis. APRESENTAÇÕES CLÍNICAS • Candidíase mucocutânea: ✓ Candidíase oral: presença de finas placas brancas, indolores, que são facilmente removíveis; muito relacionada ao uso de corticoides inalatórios para a asma, ou pode ser sinal de doença grave e debilitante; seu achado em jovens aparentemente hígidos deve suscitar a pesquisa de infecção pelo HIV (pode se estender até esôfago, causando odinofagia ou até pirose – candidíase esofagiana). ✓ Vulvovaginite por Candida: prurido vulvar, leucorreia (que pode ou não conter pequenas placas “soltas”, similares as da candidíase oral) e desconforto local (mulheres em idade reprodutiva, especialmente as usuárias de anticoncepcionais orais); balanite (lesões eritematosas, que podemapresentar descamações ou erosões, às vezes recobertas por placas brancacentas, como as da candidíase oral). ✓ Candidíase cutânea: áreas de dobras (submamária, interglútea...), na forma de lesões eritematosas e pruriginosas, frequentemente com pus. • Candidíase sistêmica: ✓ Candidíase invasiva focal: decorre da invasão de algum tecido isolado a partir de um foco específico, causando sintomas/sinais de infecção exatamente iguais aos de uma infecção bacteriana (ex.: peritonite a partir da manipulação do tubo digestivo e a infecção do trato urinário a partir do uso de cateteres vesicais). ✓ Candidíase invasiva disseminada: decorre da presença da Candida na corrente sanguínea e consequente disseminação para diversos órgãos; SIRS presente em grande parte dos casos (mortalidade alta); lesões cutâneas e/ou oculares (exsudatos algodonosos na retina) é fortemente preditiva de acometimento de órgãos internos (cérebro, meninges, glândulas endócrinas, rins, articulações, ossos e até coração – endocardite. ✓ Candidíase disseminada crônica (forma hepatoesplênica): é uma doença de pacientes leucêmicos que acabaram de se recuperar de uma neutropenia; febre e hepatoesplenomegalia; fosfatase alcalina elevada; solicitar USG ou TC de abdome (lesão focal hepática); biópsia desta lesão mostra microabscessos sugestivos de Candida. DIAGNÓSTICO • Candidíase mucocutânea: clínico. • Candidíase invasiva: hemoculturas ou biópsias. Obs.: Na presença da forma disseminada de candidíase, uma fundoscopia deverá obrigatoriamente ser realizada, com o objetivo de definir a presença ou não de acometimento ocular, que tem tratamento específico. TRATAMENTO Obs.: *Obviamente, o tratamento da candidíase invasiva deverá ser ajustado conforme os resultados das culturas, de acordo com o perfil de sensibilidade do fungo. O objetivo é deixar o paciente com o antifúngico de menor espectro possível, desde que cubra o fungo em questão e penetre adequadamente nos tecidos acometidos. Essa medida, a exemplo do que ocorre com os antibióticos, permite poupar nossos “grandes trunfos”, diminuindo a indução de resistência. PNEUMOCISTOSE PULMONAR (PCP) AGENTE ETIOLÓGICO • Fungo Pneumocystis jiroveci, que vive como saprófita nas vias aéreas e é transmitido de pessoa a pessoa. • Nos EUA, é o principal agente etiológico de pneumonia no paciente HIV+ (cerca de 25% dos casos). QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO • O quadro clínico tem curso arrastado, com semanas de queixas inespecíficas do tipo febre, fadiga, tosse seca 6 Beatriz Cavalcanti Regis MedCurso 2017 (ou com pouco escarro claro), dispneia aos esforços, dor torácica retroesternal e perda ponderal. • Ausculta respiratória: alterada em 1/3 dos casos (roncos e estertores). • RX de tórax pode ser normal (20% nas fases precoces), ou então, apresentar infiltrado intersticial bilateral e difuso (a TC de alta resolução é o método mais sensível, revelando a presença de áreas de “vidro fosco” ou “pneumonite”). • Pode haver cistos pulmonares que se rompem, gerando pneumotórax espontâneo. Obs.: Não se espera derrame pleural significativo nem adenomegalia intratorácica! (A) RX de tórax demonstrando infiltrado intersticial bilateral e difuso. A seta indica uma lesão cística no lobo superior esquerdo. (B) Pneumotórax espontâneo bilateral numa fase mais tardia da doença. • Laboratório: (1) discreta leucocitose ou leucograma normal; (2) LDH muito aumentada (> 500); (3) hipoxemia (pO2 < 70 mmHg), com gradiente alvéolo- arterial de O2 elevado (> 35 mmHg). • O diagnóstico definitivo requer a demonstração do fungo em material obtido da via aérea (pesquisa de escarro ou lavado broncoalveolar com biópsia transbrônquica). Obs.: Indivíduos que utilizam pentamidina inalatória como profilaxia da PCP estão sob risco de desenvolver pneumocistose em outros sítios (ex.: otite, coriorretinite, vasculite necrosante, aplasia de medula e obstrução intestinal). Infecções extrapulmonares pelo P. jiroveci devem sempre ser suspeitadas em pacientes com CD4 < 200 que não utilizam quimioprofilaxia, principalmente se forem observadas lesões císticas calcificadas em exames de imagem como USG ou TC. TRATAMENTO • Droga de 1ª escolha: Sulfametoxazol-Trimetoprim (SMX-TMP) em altas doses (15-20 mg/kg/dia de TMP, dividido em 4 tomadas diárias por 21 dias). ✓ A incidência de efeitos colaterais do SMX-TMP em pacientes HIV+ é extremamente elevada (20-85%): rash cutâneo leve (tolerável), mas, às vezes, hipoplasia de medula óssea (pancitopenia) ou síndrome de Stevens-Johnson. ✓ Alternativas nas infecções leves-moderadas: dapsona com trimetoprim, clindamicina com primaquina ou atovaquona em monoterapia. ✓ Alternativa nos casos graves: pentamidina IV. Obs: Todas essas drogas por 21 dias. • Portadores de PCP que desenvolvem hipoxemia, além de antimicrobianos, devem receber glicocorticoide com o intuito de “desinflamar” a parede alveolar e melhorar a troca gasosa: prednisona 40 mg 2x/dia por 5 dias, reduzindo a dose pela metade a cada 5 dias, até completar 21 dias de tratamento. • História prévia de PCP é fator de risco para um novo episódio (60% em um ano), logo, uma vez completado o tratamento, é preciso manter o paciente com doses profiláticas de SMX-TMP (800/160 mg/dia ou 3x semana).
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