Buscar

Bernardo de Claraval - Um Tratado sobre o Amor de Deus

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 49 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 49 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 49 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Um Tratado Sobre 
o Amor de Deus 
Bernardo de Claraval 
 
 
 
 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 2 
 
Sumário: 
 
Breve Apresentação............................................................................................................ 3 
Algumas citações deste Tratado.......................................................................................... 4 
 
Prefácio.............................................................................................................................. 13 
CAPÍTULO I – Porque e como amar a Deus? .................................................................. 14 
CAPÍTULO II – O quanto Deus merece o amor do homem por causa dos bens do corpo e 
da alma: como devemos reconhecê-los; não devemos usá-los contra Aquele que no-los 
deu..................................................................................................................................... 15 
CAPÍTULO III – Motivos que os Cristãos têm a mais que os infiéis para amar a Deus.... 17 
CAPÍTULO IV – Quais são os que acham consolo nas lembranças de Deus, e são mais 
puros em sentir o amor por Ele.......................................................................................... 20 
CAPÍTULO V – Obrigação de amar a Deus, particularmente para os cristãos................. 22 
CAPITULO VI – Recapitulação, sumário dos capítulos anteriores.................................... 24 
CAPÍTULO VII – Vantagens e recompensas do amor de Deus. As coisas da terra não 
podem satisfazer o coração do homem............................................................................. 25 
CAPÍTULO VIII – Nós começamos por nos amar para nós mesmos; é por nós o primeiro 
grau do amor...................................................................................................................... 29 
CAPÍTULO IX – Segundo e terceiro graus do amor.......................................................... 31 
CAPÍTULO X – O quarto grau do amor é de somente se amar para Deus....................... 32 
CAPÍTULO XI – O amor perfeito só será partilhado entre os santos após a ressurreição 
geral................................................................................................................................... 34 
CAPÍTULO XII – Fragmento de uma carta aos Chartreux (religiosos da ordem de São 
Bruno) sobre o amor.......................................................................................................... 36 
CAPÍTULO XIII – Da lei da vontade própria e da concupiscência, que é a dos escravos e 
dos mercenários................................................................................................................ 38 
CAPÍTULO XIV – Da lei do amor que é para os filhos...................................................... 39 
CAPÍTULO XV – Dos quatro graus do amor, e do estado bem-aventurado dos santos no 
céu..................................................................................................................................... 40 
 
Uma Biografia de Bernardo de Claraval............................................................................ 44 
 
 
 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 3 
 
Breve Apresentação 
 
 
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus que é 
Amor, o Todo-Amorável! (2 Coríntios 1:3; 1 João 4:8, 16). Mui gratos a Deus, apresentamos mais 
esta tradução que Ele mesmo em graça, misericórdia e amor nos tem concedido. Trata-se do 
Clássico Tratado Sobre o Amor de Deus, pelo piedoso Bernardo, Abade de Claraval, o ―doutor 
língua de mel‖. 
 
A obra em si constitui um dos maiores escritos cristãos sobre o tema, assim como a túnica de 
Jesus era tecida toda de alto a baixo e não tinha costura (João 19:23), assim podemos dizer que 
este tratado é todo tecido de alto a baixo por uma pena mui piedosa e sábia, e por um coração em 
ardente amor a Deus, sem costura ou remendo da tão abominável corrução moral e desejo de 
poder, avareza e hipocrisia, tão comum nos seus dias. 
 
Quanto ao autor, Bernardo viveu na Idade das Trevas, mas podemos definir sua vida com o nome 
do monastério por ele fundado: Clairvaux (Claraval), que significa ―Vale Límpido‖ ou ―Vale da Luz‖. 
 
Apesar de ser um Abade da Igreja do anticristo, o Papa, e de lhe serem atribuídas muitas histórias 
mirabolantes pela tradição papista, além de muita veneração e apreço, Bernardo é tido em alta 
estima e consideração pelos protestantes, sobre isto Steven Lawson escreve: 
 
―O ensino de Bernardo foi profundamente apreciado por Lutero e Calvino. Este último via Bernardo 
como o maior testemunho em prol da verdade entre o sexto e décimo sexto século. Já Lutero 
saudava Bernardo como um homem de admirável santidade e o considerava como um dos melhores 
santos medievais. Charles Spurgeon concordou com Lutero, dizendo: ―São Bernardo foi um homem 
que admiro em grau máximo, e o tenho com um dos escolhidos do Senhor‖. Ele continuou dizendo 
que Bernardo era ‗um dos homens mais santos e humildes‘, o qual, ‗parece cair em delírio de amor 
quando fala de seu divino Mestre‘.‖
1
 
 
O nosso maior desejo com esta publicação, para nós mesmos e para vocês que pousarem os 
olhos nestas linhas, é que esta obra contribua para que possamos conhecer e amar ao Deus que 
nos amou primeiro, pois sem dúvida o maior pecado é a quebra do maior mandamento e a causa 
do pouco amor é falta do vero conhecimento de Deus, pois aquele que mais conhece a Deus, 
mais ama (1 João 4:8). Oh! que possamos conhecer e amar ―Àquele que nos amou, e em seu 
sangue nos lavou dos nossos pecados‖ (Apocalipse 1:5). Faz assim Senhor, por Cristo. Amém! 
 
 
Editores EC, 
16 de junho de 2014 
 
______________ 
[1] LAWSON, Steven J. Reformador Monástico. Último Monástico: Bernardo de Clairvaux. Cap. 16. Pág. 399-423. In: LAWSON, 
Steven J. Pilares da graça. Longa linha de Vultos Piedosos. Vol. II. Tradução: Valter Graciano Martins. São José dos Campos, São 
Paulo: Editora Fiel, 2013. 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 4 
 
Algumas citações deste Tratado 
 
“Não tenho a intenção de satisfazer todas as vossas perguntas, eu responderei apenas, conforme 
a inspiração dada por Deus, àquela que vocês me fizeram sobre o amor de Deus; é a mais doce a 
ser estudada, a menos perigosa a ser tratada e a mais útil a ser ouvida”. 
 
“Vocês querem então saber de mim por qual motivo e em que medida nós devemos amar a Deus? 
Pois bem, eu vos direi que o motivo do nosso amor por Deus, é Ele mesmo, e que a medida deste 
amor é amar sem medida”. 
 
“[...] esta pergunta: Porque devemos amar a Deus, se apresenta sob dois aspectos: Ou nos 
perguntamos a que ponto Deus merece o nosso amor, ou então qual é a vantagem que vemos em 
amá-Lo; para esta questão dupla, há apenas uma resposta: O motivo pelo qual devemos amar a 
Deus é o próprio Deus. E, aliás, se nós colocamos um ponto de vista de mérito, não há maior do 
que Deus de ter Se entregado a nós, mesmo sendo indignos; de fato, o que poderia Ele, tão Deus 
quanto é nos dar algo que valesse mais do que Ele?” 
 
“[...] encontramos antes de qualquer coisa que Ele nos amou primeiro. Ele merece, portanto, que 
paguemos de volta, principalmente se considerarmos Quem é o que ama, quais são os que Ele 
ama e como Ele os ama”. 
 
“Deus nos amou com um amor sem interesses e Ele nos amou quando ainda éramos seus inimi-
gos. Mas com qual amor Ele nos amou? São João responde: „Deus amou o mundo de tal maneira 
que deu seu Filho Unigênito‟ (João 3:16). São Paulo continua: „Aquele que nem mesmo a seu 
próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós‟ (Romanos 8: 32); e este Filho diz Ele 
mesmo, falandoDele: „Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos 
seus amigos‟ (João 15:13). Eis os direitos do Santo Deus Soberano Grande e Poderoso que Se 
deu por amor aos homens pecadores, infinitamente pequenos e fracos”. 
 
“Não é Dele, de fato, que o homem tem recebido o pão que o alimenta, a luz que o ilumina: e o ar 
que ele respira? Mas seria loucura contar os bens que eu acabo de declarar inumeráveis e que 
me basta citar os mais importantes como o pão, o ar e a luz; se os coloco em primeiro lugar, não é 
porque os acho os mais excelentes, pois interessam somente ao corpo, mas são os mais 
necessários”. 
 
“[...] a virtude, em sua dupla tendência, nos faz por um lado buscar com fervor e de outro abraçar 
com força, uma vez encontrado, Aquele a quem queremos pertencer”. 
 
“[...] de nada vale a inteligência sem a excelência que pode até prejudicar sem a virtude”. 
 
“„E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o 
houveras recebido?‟ (1 Coríntios 4:7) Ele não diz simplesmente: „Por que te glorias?‟, mas ele 
http://www.bibliaonline.com.br/acf/1co/4/7
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 5 
 
acrescenta: „Como se não o houveras recebido‟ para mostrar que ele é repreensível, não por se 
gloriar do que tem, mas de se gloriar como se não o tivesse recebido. Assim com razão esta 
glorificação é considerada vaidade, já que não se apoia no fundamento sólido da verdade. O 
apóstolo a distingue da verdadeira glória, dizendo: „Aquele que se gloria glorie-se no Senhor‟ (1 
Coríntios 1:31), isso é, na verdade: porque Deus é a verdade”. 
 
“[...] há duas coisas que precisamos saber; primeiro o que nós somos, e depois que não o somos 
por nós mesmos; então nós não nos gloriamos de coisa nenhuma, ou a glória que estaremos nos 
atribuindo será vaidade; enfim, se nós mesmos não nos conhecemos, está escrito, nós seremos 
confundidos com o grupo de nossos semelhantes (Cânticos 1:6-7). É de fato o que acontece, 
porque quando um homem digno não conhece nem mesmo a sua posição, o comparamos com 
razão, por tal ignorância, aos animais que são como os companheiros de sua corrupção e de sua 
vida decadente neste mundo. Portanto, não se conhecendo a ela mesma, a criatura que a razão 
distingue dos bichos, começa a se confundir com elas, porque ela ignora sua própria glória que é 
totalmente interna, cede aos chamados de sua curiosidade e se preocupa somente com sua 
beleza exterior e sensível; ela se torna também igual às outras criaturas, porque não sente que 
recebeu algo a mais do que elas. Assim é necessário combater a ignorância que faz com que 
talvez nos subestimemos mais do que convém. Mas evitemos com mais cuidado ainda esta outra 
ignorância que leva a nos atribuir além do que nós temos, como acontece quando nos enganamos 
em nos imputar o bem, qualquer que seja ele, que vemos em nós mesmos. Mas o que precisamos 
odiar e fugir mais do que estes dois tipos de ignorância, é a presunção pela qual em conheci-
mento de causa e propósito deliberado nós nos gloriamos do bem que está em nós, como se 
viesse de nós, não temendo arrancar de outrem a glória que nós bem sabemos que não nos é 
devida pelas coisas que estão em nós, mas que não vêm de nós. No primeiro caso, nós não nos 
gloriamos de nada, no segundo nos gloriamos, mas não em Cristo, e no terceiro nós não pecamos 
mais por ignorância, mas nós usurpamos conscientemente, reivindicando para nós mesmos, o 
que pertence a Deus”. 
 
“[...] se esta ignorância nos assemelha aos brutos, esta audácia nos associa aos demônios. Pois 
apenas o orgulho, o maior dos males, pode se servir dos bens que ele recebeu, como se ele não 
os tivesse recebido, e desviar em proveito próprio a glória que um benfeitor deve achar em seus 
benfeitos”. 
 
“[...] à excelência e à inteligência é preciso unir o fruto que é a virtude; é pela virtude que 
buscamos e possuímos o Autor liberal de todas as coisas, Aquele a quem devemos, em tudo, 
render a glória que Lhe pertence; de outra forma seriamos rudemente punidos por não ter feito o 
que sabíamos que deveríamos fazer. Por que isso? Porque aquele que age desta forma, não quis 
adquirir a inteligência para fazer o bem, mas ao contrário, meditou sobre a sua própria iniquidade 
(Salmos 36: 4-5), e ele tentou, como um servo infiel, desviar e até trazer a proveito próprio a glória 
que seu excelente Mestre deveria recolher em bens, sabendo ele mesmo perfeitamente, pela 
virtude da inteligência, que ele mesmo não era a fonte. É, portanto, bastante evidente que a 
excelência, sem a inteligência, é inútil, e que a inteligência, sem a virtude, nos leva a perdição. 
Mas para o homem que possui a virtude, não seria a inteligência maléfica e nem a excelência 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 6 
 
inútil, ele clama e louva a Deus ingenuamente nestes termos: „Não a nós, SENHOR, não a nós, 
mas ao teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua verdade‟ (Salmos 115:1). O que 
significa: Senhor, nós não Te atribuímos nem a inteligência nem a excelência, nós atribuímos tudo 
ao Teu nome, porque é Dele que nós recebemos tudo”. 
 
“[...] qual é o infiel que não sabe que recebeu somente Daquele que faz o Seu sol nascer sobre 
bons e também sobre os maus, e faz cair chuva sobre os santos e também sobre os ímpios, todos 
os bens necessários à sua vida, dos quais já falei, como o alimento, a luz e o ar? Qual o homem, 
tão ímpio quanto seja, que atribuirá a excelência particular à espécie humana, que ele vê brilhar 
em sua alma, a outro a não ser ao que disse em Gênesis: „Façamos o homem a nossa imagem e 
semelhança (Gênesis 1:26)?‟ Quem verá o autor da inteligência em outro que não Naquele que 
ensina tudo aos homens? E de que mão pensaria ele receber ou ter recebido o dom da virtude, se 
não do Deus das virtudes?” 
 
“[...] vê o Filho Unigênito do Pai carregando a sua cruz, o Deus de toda majestade atingido por 
golpes e cuspidas, o Autor da vida e da glória pregado, transpassado, cheio de opróbrios, dando 
por Seus amigos Sua alma abençoada. Vendo tudo isso, ela sente a espada de dois gumes do 
amor penetrar mais fundo em seu coração e ela clama: „Sustentai-me com passas, confortai-me 
com maçãs, porque desfaleço de amor.‟ As maças que a esposa introduzida no jardim de Seu 
amado tem prazer em colher da árvore da vida, têm gosto do maná do céu e a cor do sangue do 
Cristo. E então ela vê a morte golpeada até a morte e aquele que a fez, crescer o cortejo de seu 
Vencedor, ela ainda vê este subir triunfante, de debaixo da terra para sobre a terra e da terra para 
os céus, seguido de uma grande multidão de cativos, de modo que somente ao nome de Jesus, 
todo joelho se dobra nos céus, na terra e debaixo da terra (Filipenses 2:10). A terra, debaixo da 
antiga maldição, produzia somente espinheiros e abrolhos; rejuvenescida então por uma nova 
benção, é coberta de flores. Então a esposa lembra-se deste versículo: „O Senhor é a minha força 
e o meu escudo; nele confiou o meu coração, e fui socorrido; assim o meu coração salta de 
prazer, e com o meu canto o louvarei‟ (Salmos 28:7), recobra o ânimo com os frutos da paixão 
que ela colheu da árvore da cruz, e com as flores da ressurreição cujo perfume delicioso convida 
o amado a renovar as suas visitas”. 
 
“[...] é no esplendor de sua ressurreição que devemos ver as novas flores dos novos tempos que a 
graça faz reflorescer para um segundo verão; no final dos tempos, na ressurreição real, elas darão 
inumeráveis frutos: „Porque eis que passou o inverno; a chuva cessou, e se foi; aparecem as 
flores na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra‟ (Cânticos 
2:11,12). Ela quer dizer, falando assim, que o verão apareceu com Aquele que fez derreter o gelo 
da morte para renascer emtemperatura primaveril de uma nova vida, dizendo: „Eis que faço novas 
todas as coisas‟ (Apocalipse 21:5). Seu corpo, semeado na morte, refloresceu na ressurreição, e, 
ao perfume que Dele emana, vimos logo nos nossos vales e planícies, o que estava árido, morto 
ou congelado, cobrir-se de verde, renascer em vida e retomar o calor”. 
 
“O renovar destes frutos e a beleza deste campo, de onde exalam os mais doces perfumes 
encantam também o Pai cujo Filho fez novas todas as coisas, e lhe inspiram esta exclamação: 
http://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/115/1+#v1
http://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/28/7
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 7 
 
„Eis que o cheiro do meu Filho é como o cheiro do campo, que o Senhor abençoou‟ (Gênesis 
27:27). Sim, um campo cheio de flores, pois é de Sua plenitude que recebemos tudo o que temos. 
Mas a Esposa, ao se agradar Dele, vem colher em simplicidade flores e frutos para adornar a 
morada íntima de sua consciência, para que ao chegar o seu Amado, seu pequeno leito do 
coração exale os perfumes mais suaves. Portanto, se nós queremos que Cristo faça 
repetidamente em nós Sua morada, é preciso que nossos corações estejam cheios da fiel 
lembrança da misericórdia e do poder cujas provas recebemos em Sua morte e em Sua 
ressurreição”. 
 
“[...] eu vejo em Sua morte a prova da Sua misericórdia, na ressurreição a do Seu poder, e em 
todo o restante eu as encontro as duas reunidas”. 
 
“Se a Esposa pede que a suportemos com flores aromáticas e que a fortaleçamos com frutos 
cheirosos, eu acho que é porque ela sente que o amor pode perder calor e força; mas ela só terá 
estímulos até ser introduzida no quarto de Seu amado, sentindo-se coberta de beijos há muito 
desejados e possa exclamar: „A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua mão 
direita me abrace‟” 
 
“„A memória de meu nome passará de séculos em séculos‟ é para mostrar que os eleitos que 
ainda têm sede da presença do Esposo, têm ao menos a lembrança Dele para se consolarem, 
enquanto durar este século, durante o qual as gerações passam e se sucedem. Se está escrito: 
„Proferirão abundantemente a memória da tua grande bondade‟ (Salmos 145:7), certamente ouve-
se daqueles cujo o salmista disse anteriormente: „Uma geração louvará as tuas obras à outra 
geração‟ (Salmos 145:4). Portanto os que vivem na terra possuem para si somente a lembrança 
do Esposo, e os que nos céus reinam, se alegram de Sua presença; esta última é a glória dos 
eleitos que já chegaram à salvação, a outra é a consolação dos que ainda estão a caminho”. 
 
“Não podeis, ó malditos escravos do dinheiro, gloriar-vos na cruz do nosso Senhor Jesus Cristo e 
ao mesmo tempo colocar vossa esperança nos tesouros, suplicar por fortuna e experimentar o 
quanto o Senhor é doce; e então com certeza O temerão muito, quando O verdes, Aquele cuja 
lembrança não vos pareceu cheia de doçura”. 
 
“E para a alma fiel, ela suspira com todas as suas forças após ter conhecido a Deus, e descansa 
suavemente em Sua lembrança; ela se gloria das ignomínias da cruz, enquanto não pode ver o 
Senhor face a face. Eis certamente o repouso e o sono que a Esposa, a colomba de Cristo, 
experimenta, esperando em meio aos bens que lhes são dados em herança; ela tem, agora, pela 
lembrança de Sua inefável doçura, ó Senhor Jesus, as asas brancas e prateadas da pureza e da 
inocência, e mais ainda, ela espera estar embriagada de felicidade quando ela avistar o esplendor 
em Sua face do ouro [...] e Sua sabedoria inundar de luz na glória e na felicidade dos santos”. 
 
“„A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua mão direita me abrace‟ (Cânticos 
2:6). A mão esquerda do Esposo é a lembrança deste amor do qual ninguém mais pode igualar a 
grandeza e que O impulsionou a dar a vida por Seus amigos; Sua mão direita é a visão 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 8 
 
beatificada que Ele prometeu aos Seus e a alegria que os embriagará quando gozarem de Sua 
divina presença. Não é por acaso que esta visão divina e dêitica, esta inestimável felicidade da 
visão de Deus é representada pela mão direita, pois é desta mão que é mencionado de forma 
inefável: „tua mão direita há delícias perpetuamente‟ (Salmos 16:11)”. 
 
“É pelo bom aroma que exalam como tantos perfumes deliciosos que a Esposa se apressa 
alegremente e se sente consumida de amor; quando ela se vê tão amada, lhe parece que ama tão 
pouco, ainda que fosse ela mesma todo amor, e ela tem razão de assim crer; de fato, que retorno 
pode um grão de poeira pagar por um amor tão grande vindo de tão alto”. 
 
“Porque „Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho Unigênito‟ (João 3:16). Ora 
obviamente é de Deus Pai que falamos aqui, e, quando foi dito: „porquanto derramou a sua alma 
na morte‟ (Isaias 53:12), trata-se aqui do Filho; quanto ao Espírito Santo lemos: „Mas aquele 
Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as 
coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito‟ (João 14:26). Portanto Deus nos ama e 
nos ama com todo o Seu ser; pois a Trindade toda nos ama, se é permitido expressar assim, 
falando do Ser infinito e incompreensível no qual não há partes”. 
 
“Trata-se do infiel? Como ele não conhece o Deus Filho, ele está na mesma ignorância em 
relação ao Pai e ao Espírito Santo; e da mesma forma que ele não glorifica ao Filho, ele não 
saberia glorificar o Pai que O enviou e nem tampouco o Espírito Santo que é um dom do Filho; ele 
conhece Deus menos do que nós, portanto não é estranho que O ame menos; todavia, ele não 
ignora o fato de que se deve inteiramente Àquele que ele sabe que recebeu a vida. Mas e quanto 
a mim? Porque não posso ignorá-lO, não somente Deus me fez um ser sem que eu o merecesse; 
não somente Deus supre abundantemente as minhas necessidades, me consola com bondade e 
me governa com solicitude, mas mais ainda é o Autor da minha redenção e da minha salvação 
eterna; Ele é para mim um tesouro e fonte de glória. De fato está escrito; „Espere Israel no 
Senhor, porque no Senhor há misericórdia, e nele há abundante redenção‟ (Salmos 130:7)”. 
 
“A razão e a justiça obrigam-me apressadamente a me doar inteiramente Àquele de quem recebi 
tudo o que sou, e de consagrar todo o meu ser em amá-Lo. A fé me diz também a ter por Ele um 
amor tal que eu entendo melhor o quanto devo estimá-Lo mais do que a mim mesmo, pois se 
herdei de Sua magnificência tudo o que sou, eu Lhe devo também o Seu próprio dom”. 
 
“De fato, por que a obra não amaria aquele que a fez, já que recebeu o poder de amar, e, por que 
não O amaria com todas as suas forças se é somente Dele que ela as recebeu? Adicione a isso 
tudo que ele foi tirado do nada sem nenhum mérito anterior, para em seguida ser exaltado; a 
obrigação de amar a Deus vos parecerá de tanto mais evidente e seus direitos ao nosso amor 
tanto mais fundamentados. Aliás, não foi Ele ao cúmulo em Suas bênçãos e Suas misericórdias, 
quando nos salvou, quando estávamos semelhantes aos animais que perecem (Salmos 49:20)? 
De fato, pelo pecado fomos destituídos do nível de honra que era nosso, para nos tornarmos 
semelhantes ao boi que ara no campo, e a animais desprovidos de razão. Portanto, se devo me 
doar completamente ao meu Criador, o que mais não lhe deveria ao meu Restaurador, a tamanho 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 9 
 
Restaurador? Foi-Lhe muito menos fácil me restaurar do que me criar; pois, para dar vida não 
somente a mim, mas a toda a criação, dizem as Escrituras „pois mandou, e logo foram criados‟ 
(Salmos 148:5). Mas para restaurar o ser que, com uma única palavra, feito tão completo, quantas 
palavras não foram pronunciadas, quantas maravilhas Ele deve ter operado,quantos tratamentos 
cruéis, ou devo ir mais fundo ainda, quantos tratamentos indignos Lhe foram necessário sofrer!” 
“„Que darei eu então ao Senhor, em reconhecimento por tudo que fez comigo (Salmos 116:12)?‟ 
Quando Ele me criou, me deu minha vida: mas a devolveu a mim mesmo quando se deu por mim; 
a concedeu-me uma vez, em seguida a devolveu, portanto, por mim, devo duas vezes. Mas o que 
darei eu a Deus por Ele? Pois, mesmo que eu pudesse me dar a mim mesmo mil vezes, que seria 
isto comparado a Deus?” 
 
“Ele nos amou primeiro, Ele tão grande e nós tão pequenos; Ele nos amou com excesso, tal como 
somos, e sem qualquer mérito nosso; por isso eu disse no começo que a medida do nosso amor 
por Deus deve ser sem medida ou exceder qualquer medida; aliás, já que este amor é imenso, 
infinito (pois assim é Deus) eu pergunto, quais seriam o termo e a medida de nosso amor por 
Ele?” 
 
“Eu Te amarei, portanto, Senhor, Tu que és a minha força e meu apoio, meu refúgio e minha 
salvação, Tu que és para mim tudo o que pode existir de mais desejável e mais amável. Meu 
Deus e meu sustento, eu Te amarei com todas as minhas forças, não tanto quanto mereces, mas 
certamente tanto quanto eu puder, se eu não puder o quanto deveria, pois é impossível para mim 
amá-lO mais do que todas as minhas forças. Poderei amá-lO mais somente quando receber o 
poder da Sua Graça, e ainda assim não será o quanto mereces. Teus olhos veem toda a minha 
insuficiência, mas eu sei que Tu escreves no Livro da Vida, todos aqueles que fazem o quanto 
podem, mesmo que não façam tudo o que devem. Eu já disse o suficiente, se não me engano, 
para mostrar como Deus deve ser amado, e por quais boas obras Ele mereceu o nosso amor. Eu 
digo, por quais boas obras, pois por excelência, quem a poderia entender, quem a poderia 
expressar, quem a poderia sentir?” 
 
“[...] se nós devemos amar a Deus, sem nos preocupar com a recompensa, ainda assim somos 
recompensados por tê-lO amado”. 
 
“[...] o amor é um movimento da alma e não um contrato; não se o pode adquirir em virtude de 
uma convenção, e também nada adquire por este meio; é totalmente espontâneo em seus 
movimentos e nos faz semelhantes a ele: enfim o verdadeiro amor encontra em si mesmo a sua 
satisfação. Sua recompensa é no sujeito amado; pois qualquer que seja o sujeito que dizemos 
amar, se o amamos em vista de outro, então é este que verdadeiramente amamos e não aquele 
cujo coração usa para atingi-lo. Por isso que Paulo não prega o Evangelho para ter o que comer, 
mas ele come para poder pregar o Evangelho; pois, o que ele ama, não é a comida que ele pega, 
mas o Evangelho que ele anuncia (1 Coríntios 9:18)”. 
 
“[...] aquele que ama a Deus, não teria ele necessidade de se sentir atraído por uma recompensa 
que não seja o próprio Deus; de outra forma não seria a Deus que ele amaria e sim a recompensa”. 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 10 
 
“Está na natureza do homem o desejar, cada um conforme a sua tendência e sua percepção”. 
 
“Se olhássemos para um homem, desesperado de fome, respirar fundo aspirando profundamente 
para matar a fome, o chamaríamos de tolo; assim são aqueles que pensam matar a fome da alma, 
quando a preenchem com coisas corporais que lhe dão de fato, mas o que importa isso para o 
espírito?” 
 
“O motivo do amor de Deus é o próprio Deus, e estou certo em dizer isto, pois Ele é de fato a 
causa ao mesmo tempo eficiente e final do nosso amor. Pois é Ele quem faz nascer a ocasião 
para o amor, Ele é que o incendeia e ainda Ele o enche de desejos. Ele faz com que O amemos, 
ou melhor, Ele é tal que não que não tem como não ser alvo do nosso amor; Ele o é também de 
nossa esperança: se não esperássemos ter a alegria de amá-lO um dia, O amaríamos agora em 
vão. Seu amor prepara e abençoa o nosso. Em sua bondade excessiva Ele começa por prover em 
nós, e então nos cobra merecidamente de volta, e, futuramente, Ele nos reserva as mais doces 
esperanças. Ele é rico para todos os que O invocam; porém, em toda a sua riqueza, nada é mais 
valioso do que Ele. Ele é [...] nossa recompensa, é alimento das almas santificadas e o regaste 
das que estão cativas”. 
 
“O primeiro e maior mandamento é este: „Amarás o Senhor teu Deus‟ (Mateus 22:37). Mas a 
natureza é mole demais e muito fraca para tal preceito, por isso começa por amar-se a si mesma; 
é este amor que chamamos de carnal”. 
 
“Seu amor ficará guardado nos limites da justiça e da moderação, do momento em que ele 
consagrar às necessidades de seus irmãos tudo aquilo que recusa às suas próprias paixões. É 
assim que o amor pessoal torna-se um amor fraternal, saindo de dentro pra fora”. 
 
“[...] para que nosso amor ao próximo seja impecável, é preciso que Deus esteja envolvido; é de 
fato possível amar o próximo verdadeiramente, se não for em Deus? Ora, qualquer que não tenha 
sido educado em amor, não saberia amar em Deus; é preciso, portanto começar por amar a Deus, 
se queremos amar o próximo nEle, de modo que Deus que é o autor de todos as outras bênçãos, 
o é também de nosso amor por Ele, eis como não somente Ele criou a natureza, mas ainda como 
Ele a sustenta, pois é tal que, após receber a existência, ainda precisa dAquele que lhe a conce-
deu e que lhe conserva; se ela pode somente existir nEle, ela não pode subsistir sem Ele”. 
 
“A frequência das tribulações nos obriga a recorrer frequentemente a Deus, ora é impossível voltar 
a Ele frequentemente e não experimentar dEle, e é impossível experimentar dEle sem perceber o 
quanto Ele é doce. Assim acontece que logo somos levados a amá-lO verdadeiramente, muito 
mais por causa da doçura que encontramos nele do que por causa do nosso próprio interesse, de 
modo que, a exemplo dos Samaritanos dizendo à mulher quem lhes havia anunciado a vinda do 
Messias entre eles, „E diziam à mulher: Já não é pelo teu dito que nós cremos; porque nós 
mesmos o temos ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo‟ 
(João 4:42). Nós também dizemos à nossa carne agora não é mais por tua causa que amamos o 
Senhor, mas porque nós mesmos experimentamos e havemos reconhecido o quanto Ele é doce”. 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 11 
 
 
“„Louvai ao Senhor, porque Ele é bom (Salmos 118:1). Aquele que louva ao Senhor, não somente 
porque o Senhor é bom pra ele, mas simplesmente porque o Senhor é bom, ama verdadeiramente 
Deus pelo o que Ele é e não por si mesmo”. 
 
“„Tua justiça é como as grandes montanhas‟ (Salmos 36:6); é a mesma coisa para este quarto 
amor, é um monte muito elevado, uma montanha abundante em pasto e fértil, „Quem subirá ao 
monte do Senhor‟ (Salmos 24:3)? Quem me dará asas como as da colomba, para que eu possa 
voar até o topo e ali repousar? Um lugar tranquilo, a morada de Sião. Ah! Quão longo é meu 
exílio! Quando então se elevará até lá a carne e o sangue, o barro e o pó de que fui feito? Quando 
então, embriagado pelo amor de Deus, minha alma se anulando e não se estimando mais do que 
um vaso trincado, lançar-se-á em direção a Deus, se perderá nEle e, sendo um só e mesmo 
espírito com Ele (2 Coríntios 6:17), quando poderá clamar: „A minha carne e o meu coração 
desfalecem; mas Deus é a fortaleza do meu coração, e a minha porção para sempre‟ (Salmos 
73:26)?” 
 
“Encontraremos a nossa felicidade bem menos no nosso sustento de cada dia e nas bênçãos que 
temos como herança, do que no cumprimento de Sua Vontade em nós; aliás, é justamente o que 
pedimos todos os dias orando: „seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu (Mateus, VI, 
10)‟. Ó puro e santo amor! Ó doce e santa afeição! Ó submissão da alma inteira e desinteressada! 
Tanto mais inteira e desinteressada que é exemplo de todo retorno a si mesma, tanto mais tenra e 
doce que tudo o que a alma sente nessa ocasiãoé divino. Chegar neste ponto é ser exaltado. Da 
mesma forma que uma gotinha de água junto a uma grande quantidade de vinho parece 
desaparecer tomando o gosto e a cor deste líquido; da mesma forma ainda que, na fornalha onde 
é mergulhado, o ferro parece perder a sua natureza e mudar-se em fogo; ou ainda como o ar 
penetrado pelos raios de sol torna-se em luz e parecer mais alumiar do que ser ele próprio 
alumiado: assim acontece para os santos em todos os seus sentimentos humanos; parece que se 
fundem e fluem na vontade de Deus”. 
 
“A nossa alma chegará facilmente a este grau supremo do amor, quando as preocupações ou 
caprichos da carne não farão mais obstáculo à sua caminhada rápida e apressada em direção à 
felicidade que ela deve encontrar no Senhor. É preciso crer, no entanto, que os santos mártires, 
antes mesmo que a alma deles deixasse seus corpos vitoriosos, experimentaram ao menos em 
parte esta felicidade? Em todo caso é certo que um imenso amor fluía em suas almas, para dar-
lhes forças para exporem suas vidas e desprezar as tormentas. Como eles o faziam. Não 
obstante, não podemos duvidar que os terríveis suplícios que sofreram não tenham alterado, ou 
até destruído, a alegria de suas almas”. 
 
“O que para nós está prescrito para esta vida não é, portanto a perfeição absoluta do amor, mas o 
desejo desta perfeição. De maneira que, tanto quanto a fraqueza humana o permitir, estejamos 
constantemente ocupados somente com o pensamento, o amor, a união e a vontade de Deus”. 
 
“[...] durante os vivos e castos abraços do Esposo e da Esposa, há um rio cujas correntes alegram 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 12 
 
a cidade de Deus (Salmos 46:4), o que para mim nada mais é do que o Filho mesmo de Deus, 
que passa como que servindo seus convidados (Lucas 12:37) como prometeu, a fim de que 
alegrem-se os justos, e se regozijem na presença de Deus, e folguem de alegria (Salmos 68:3). 
Eis de onde vem esta satisfação, que não é seguida de desgosto; este ardor insaciável, portanto, 
calmo e tranquilo de ver; este eterno e incomparável desejo de ter, que não tem sua fonte na 
privação, enfim esta embriaguez sem excesso, que mergulha e se afoga, não no vinho, mas em 
Deus e na Verdade. A alma chegou, portanto, para sempre ao quarto grau do amor, quando ama 
somente a Deus e O ama unicamente; pois, neste caso, não nos amamos mais para nós, mas 
para Ele, de modo que Ele é a recompensa, a recompensa eterna daqueles que O amam e O 
amam para sempre”. 
 
“[...] o amor verdadeiro e sincero, que vem realmente de um coração puro, de uma boa consciên-
cia e de uma fé sincera, é aquele que nos faz amar o bem alheio como o nosso. Porque aquele 
que ama apenas o que lhe diz respeito, ou ao menos que ama mais aquilo que lhe diz respeito do 
que aquilo que diz respeito aos outros, mostra bem que não tem um amor puro e que não ama o 
bem para o bem e sim como que para ele: portanto, ele não pode obedecer ao profeta que lhe diz: 
„Louvai ao Senhor, porque Ele é bom‟ (Salmos 118:1). Talvez ele O louve porque Ele é bom para 
ele, mas não Lhe dá a devida glória por Ele ser bom em Si”. 
 
“Todo homem que recusa submeter-se ao seu doce império torna-se seu próprio tirano, e que 
todos os que rejeitam o jugo suave e o fardo leve do amor são forçados a gemer sob o peso 
esmagador de sua própria vontade”. 
 
“Senhor meu Deus, porque não apagas o meu pecado e porque não fazes desaparecer a minha 
iniquidade, afim de que, lançando o peso esmagador de minha vontade própria eu respire sob o 
fardo leve do amor, e que, não mais estando sujeito às entranhas do medo servil e nem às 
expectativas da ganância mercenária, eu seja levado apenas pelo Teu sopro do Espírito, Porque 
todos os que são guiados pelo Espírito de Deus esses são filhos de Deus (Romanos 8:14)?” 
 
“Os filhos não estão sem lei, a menos que pensemos ao contrário, porque está escrito: „a lei não é 
feita para o justo‟ (1 Timóteo 1:9.) Mas precisamos saber que existe uma lei promulgada no 
espírito de servidão, e esta imprime apenas medo; e que há outra ditada pelo espírito de 
liberdade, esta inspirando apenas a doçura. Os filhos não são constrangidos a se submeter à 
primeira, mas estão sempre sob o império da segunda”. 
 
“Eis porque o Senhor diz tão bem: „Tomai sobre vós o meu jugo‟ (Mateus 11:29), como se Ele 
dissesse: Eu não vos forço a tomá-lo; tome-o se o quiserem; mas, se não o tomarem, eu vos digo 
que ao invés do repouso que Eu vos prometo, achareis apenas sofrimento e fatiga para a vossa 
alma”. 
 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 13 
 
Um Tratado Sobre o Amor de Deus 
Bernardo de Claraval 
 
 
 
 
Prefácio 
 
Ao mui ilustre senhor, Haimeric, cardeal-diácono e chanceler da Igreja Romana, Bernar-
do, abade de Claraval; vivo para o Senhor e morto em Cristo. 
 
Até agora vocês estavam acostumados a me pedir orações, e não me propunham as-
suntos a tratar. Não que eu me sinta mais habilidoso para um do que para o outro; mas ao 
menos as orações convêm melhor a minha profissão, senão da forma como cumpro os 
deveres; mas quanto às questões a serem resolvidas, me parece que, para tratá-las, são 
necessárias duas coisas que, na verdade, me fogem completamente, isto é, quero falar 
em espírito e precisão. No entanto eu percebo com prazer, eu confesso, que vocês 
deixaram de lado as coisas da carne pelas do espírito, mas vocês deveriam ter se dirigido 
a alguém que oferecesse mais recursos do que eu. Esta desculpa, é verdade, é comum 
às pessoas capazes e igualmente às que não o são, e não é nada fácil saber se provém 
da modéstia ou da incapacidade, enquanto não tenha sido tentado em esforços no 
sentido solicitado. Portanto, vos peço receber o que me permite a minha mediocridade, 
pois não quero, permanecendo em silêncio, me fazer passar por um sábio. Todavia não 
tenho a intenção de satisfazer todas as vossas perguntas, eu responderei apenas, 
conforme a inspiração dada por Deus, àquela que vocês me fizeram sobre o amor de 
Deus; é a mais doce a ser estudada, a menos perigosa a ser tratada e a mais útil a ser 
ouvida; guardem as outras para os mais habilidosos que eu. 
 
 
 
 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 14 
 
CAPÍTULO I 
 
Porque e como amar a Deus? 
 
1. Vocês querem então saber de mim por qual motivo e em que medida nós devemos 
amar a Deus? Pois bem, eu vos direi que o motivo do nosso amor por Deus, é Ele 
mesmo, e que a medida deste amor é amar sem medida¹. É explícito o bastante? Sim, 
talvez, para um homem inteligente; mas eu tenho que falar aos sábios e aos ignorantes, e 
se eu falei o suficiente para os primeiros, preciso levar em conta os segundos; é, portanto, 
para estes que desenvolvo meu pensamento, mergulhando mais fundo. Ora eu digo que 
temos dois motivos de amar a Deus pelo que Ele é; não há nada mais justo, nada mais 
vantajoso. De fato, esta pergunta: Porque devemos amar a Deus, se apresenta sob dois 
aspectos: Ou nos perguntamos a que ponto Deus merece o nosso amor, ou então qual é 
a vantagem que vemos em amá-Lo; para esta questão dupla, há apenas uma resposta: O 
motivo pelo qual devemos amar a Deus é o próprio Deus. E, aliás, se nós colocamos um 
ponto de vista de mérito, não há maior do que Deus de ter Se entregado a nós, mesmo 
sendo indignos; de fato, o que poderia Ele, tão Deus quanto é nos dar algo que valesse 
mais do que Ele? Se, portanto nos perguntamos qual o motivo que temos de amar a 
Deus, nós buscamos qual o direito que Ele se deu ao nosso amor, encontramos antes de 
qualquer coisa que Ele nos amou primeiro. Ele merece, portanto, que paguemos de volta, 
principalmente se considerarmos Quem é o que ama, quais são os que Ele ama e como 
Ele os ama. Qual é de fato aqueleque nos ama? Não seria aquele a quem todo espírito 
dá este testemunho: ―Tu és o meu Senhor, a minha bondade não chega à tua presença‖ 
[Salmos 16:2]? E este amor em Deus não seria a verdadeira caridade que não busca 
seus próprios interesses? Mas a quem se refere este amor gratuito²? O Apóstolo 
responde: ―Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus‖ (Romanos 
5:10). Deus nos amou com um amor sem interesses e Ele nos amou quando ainda 
éramos seus inimigos. Mas com qual amor Ele nos amou? São João responde: ―Deus 
amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho Unigênito‖ (João 3:16). São Paulo 
continua: ―Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por 
todos nós‖ (Romanos 8: 32); e este Filho diz Ele mesmo, falando Dele: ―Ninguém tem 
maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos‖ (João 15:13). 
 
__________ 
[1] Vemos a mesma coisa em uma carta de Sévère, Bispo de Milève, a santo Agostinho, das quais deste último 
podemos ler: ―Não há medida intimada ao nosso amor por Deus, visto que a medida com a qual devemos amá-Lo é a 
de amá-Lo sem medida‖. Jean de Salisbury imita este trecho escrito por são Bernardo, em seu livro ―Polycratique‖, liv. 
VII; capítulo XI. (Polycrate foi um tirano de Samos de 533 ou 532 a 522 a.C) Anátema, portanto, a Bérenger, o 
impudente apologista de Abélard [Abelardo], que ousa permitir-se censurar esta bela expressão do nosso santo Doutor. 
[2] Amor gratuito, isto é que não busca seus próprios interesses como citado acima: Algumas edições diferem um pouco 
nesta parte em certos manuscritos. 
http://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/16/2
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 15 
 
Eis os direitos do Santo Deus Soberano Grande e Poderoso que Se deu por amor aos 
homens pecadores, infinitamente pequenos e fracos. Mas, diremos, se 
 
- É assim para o homem, não é a mesma coisa para os anjos: eu concordo; mas é porque 
isto não foi necessário: aliás, aquele que socorreu os homens na miséria, protegeu os 
anjos de uma miséria parecida e se o Seu amor pelos homens lhes permitiu que não 
permanecessem como estavam, Ele, por este mesmo amor impediu os anjos de se 
tornarem tal qual nós fomos. 
 
 
 
CAPÍTULO II 
 
O quanto Deus merece o amor do homem por causa dos bens do corpo e da alma: 
como devemos reconhecê-los; não devemos usá-los contra Aquele que no-los deu. 
 
2. Qualquer um que entendeu o que está escrito acima também vê, eu acho, porque isto 
é, por qual motivo devemos amar a Deus. Se isto não é visto pelos infiéis, Deus tem como 
confundir a ingratidão deles nos bens, sem contar o quanto preenche o corpo e a alma. 
Não é Dele, de fato, que o homem tem recebido o pão que o alimenta, a luz que o ilumina: 
e o ar que ele respira? Mas seria loucura contar os bens que eu acabo de declarar 
inumeráveis e que me basta citar os mais importantes como o pão, o ar e a luz; se os 
coloco em primeiro lugar, não é porque os acho os mais excelentes, pois interessam 
somente ao corpo, mas são os mais necessários. Sobre os bens de primeira ordem, é na 
alma, nesta parte do nosso ser que vence sobre a outra, que nós devemos procurá-los; 
são a excelência, a inteligência e a virtude [...]. 
 
3. Estes três bens aparecem cada um sob dois aspectos ao mesmo tempo: a excelência 
aparece na prerrogativa própria à natureza humana e no temor que o homem inspirou 
sem cessar a todos os seres que vivem na terra; a inteligência, não só percebe a 
dignidade do homem, mas entende também que para estar em nós, todavia ela não vem 
de nós; enfim a virtude, em sua dupla tendência, nos faz por um lado buscar com fervor e 
de outro abraçar com força, uma vez encontrado, Aquele a quem queremos pertencer. 
Também de nada vale a inteligência sem a excelência que pode até prejudicar sem a 
virtude, como podemos provar com o seguinte raciocínio: Ninguém pode se gloriar do que 
tem, se ele não sabe que o tem; mas se, sabendo, ele ignora que o que ele tem não vem 
dele, ele se gloria, mas não o faz em Cristo, e é a ele que o apóstolo diz: ―E que tens tu 
que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras 
recebido?‖ (1 Coríntios 4:7) Ele não diz simplesmente: ―Por que te glorias?‖, mas ele 
acrescenta: ―Como se não o houveras recebido‖ para mostrar que ele é repreensível, não 
http://www.bibliaonline.com.br/acf/1co/4/7
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 16 
 
por se gloriar do que tem, mas de se gloriar como se não o tivesse recebido. Assim com 
razão esta glorificação é considerada vaidade, já que não se apoia no fundamento sólido 
da verdade. O apóstolo a distingue da verdadeira glória, dizendo: ―Aquele que se gloria 
glorie-se no Senhor‖ (1 Coríntios 1:31), isso é, na verdade: porque Deus é a verdade. 
 
4. Portanto há duas coisas que precisamos saber; primeiro o que nós somos, e depois 
que não o somos por nós mesmos; então nós não nos gloriamos de coisa nenhuma, ou a 
glória que estaremos nos atribuindo será vaidade; enfim, se nós mesmos não nos 
conhecemos, está escrito, nós seremos confundidos com o grupo de nossos semelhantes 
(Cânticos 1:6-7). É de fato o que acontece, porque quando um homem digno não conhece 
nem mesmo a sua posição, o comparamos com razão, por tal ignorância, aos animais que 
são como os companheiros de sua corrupção e de sua vida decadente neste mundo. 
Portanto, não se conhecendo a ela mesma, a criatura que a razão distingue dos bichos, 
começa a se confundir com elas, porque ela ignora sua própria glória que é totalmente 
interna, cede aos chamados de sua curiosidade e se preocupa somente com sua beleza 
exterior e sensível; ela se torna também igual às outras criaturas, porque não sente que 
recebeu algo a mais do que elas. Assim é necessário combater a ignorância que faz com 
que talvez nos subestimemos mais do que convém. Mas evitemos com mais cuidado 
ainda esta outra ignorância que leva a nos atribuir além do que nós temos, como 
acontece quando nos enganamos em nos imputar o bem, qualquer que seja ele, que 
vemos em nós mesmos. Mas o que precisamos odiar e fugir mais do que estes dois tipos 
de ignorância, é a presunção pela qual em conhecimento de causa e propósito deliberado 
nós nos gloriamos do bem que está em nós, como se viesse de nós, não temendo 
arrancar de outrem a glória que nós bem sabemos que não nos é devida pelas coisas que 
estão em nós, mas que não vêm de nós. No primeiro caso, nós não nos gloriamos de 
nada, no segundo nos gloriamos, mas não em Cristo, e no terceiro nós não pecamos mais 
por ignorância, mas nós usurpamos conscientemente, reivindicando para nós mesmos, o 
que pertence a Deus. Ora, esta audácia comparada à segunda ignorância parece tanto 
mais grave e mais perigosa; se uma desconhece a Deus, a outra o menospreza; mas 
comparada à primeira, parece ainda pior e mais detestável, se esta ignorância nos 
assemelha aos brutos, esta audácia nos associa aos demônios. Pois apenas o orgulho, o 
maior dos males, pode se servir dos bens que ele recebeu, como se ele não os tivesse 
recebido, e desviar em proveito próprio a glória que um benfeitor deve achar em seus 
benfeitos. 
 
5. Também à excelência e à inteligência é preciso unir o fruto que é a virtude; é pela 
virtude que buscamos e possuímos o Autor liberal de todas as coisas, Aquele a quem 
devemos, em tudo, render a glória que Lhe pertence; de outra forma seriamos rudemente 
punidos por não ter feito o que sabíamos que deveríamos fazer. Por que isso? Porque 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 17 
 
aquele que age desta forma, não quis adquirir a inteligência para fazer o bem, mas ao 
contrário, meditou sobre a sua própria iniquidade (Salmos 36: 4-5), e ele tentou, como um 
servo infiel,desviar e até trazer a proveito próprio a glória que seu excelente Mestre 
deveria recolher em bens, sabendo ele mesmo perfeitamente, pela virtude da inteligência, 
que ele mesmo não era a fonte. É, portanto, bastante evidente que a excelência, sem a 
inteligência, é inútil, e que a inteligência, sem a virtude, nos leva a perdição. Mas para o 
homem que possui a virtude, não seria a inteligência maléfica e nem a excelência inútil, 
ele clama e louva a Deus ingenuamente nestes termos: ―Não a nós, SENHOR, não a nós, 
mas ao teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua verdade‖ (Salmos 
115:1). O que significa: Senhor, nós não Te atribuímos nem a inteligência nem a excelên-
cia, nós atribuímos tudo ao Teu nome, porque é Dele que nós recebemos tudo. 
 
6. Mas nós nos afastamos demais do nosso desígnio, querendo provar que mesmo os 
que não conhecem a Cristo, sabem bem pela lei natural, pelos bens do corpo e da alma, 
que devem amar, também eles, a Deus, por causa do próprio Deus. De fato, para resumir 
em algumas palavras o que dissemos acima, qual é o infiel que não sabe que recebeu 
somente Daquele que faz o Seu sol nascer sobre bons e também sobre os maus, e faz 
cair chuva sobre os santos e também sobre os ímpios, todos os bens necessários à sua 
vida, dos quais já falei, como o alimento, a luz e o ar? Qual o homem, tão ímpio quanto 
seja, que atribuirá a excelência particular à espécie humana, que ele vê brilhar em sua 
alma, a outro a não ser ao que disse em Gênesis: ―Façamos o homem a nossa imagem e 
semelhança (Gênesis 1:26)?‖ Quem verá o autor da inteligência em outro que não 
Naquele que ensina tudo aos homens? E de que mão pensaria ele receber ou ter 
recebido o dom da virtude, se não do Deus das virtudes? O Senhor merece, portanto, ser 
amado, pelo o que Ele é, pelo infiel, ainda que pouco O conheça, assim mesmo que não 
conheça a Cristo; também aquele que não ama a Deus de todo o seu coração, de toda a 
sua alma e de todas as suas forças, não tem desculpas [...] 
 
 
 
CAPÍTULO III 
 
Motivos que os Cristãos têm a mais que os infiéis para amar a Deus. 
 
7. Os fiéis, ao contrário, sabem o quanto precisam de Jesus crucificado, mas mesmo 
admirando e recebendo o amor que Ele tem por nós, que está acima de todo conhecimen-
to, não demonstram nenhuma confusão em dar nada além do que eles mesmos, por me-
nor que sejam, em retorno a uma caridade e a uma condescendência tão grandes; mas é 
tão fácil para eles amar mais do que se sentirem eles mesmos mais amados; porque 
àquele a quem se dá menos amor, esse o sentirá também bem menos. Os Judeus não 
http://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/115/1+#v1
http://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/115/1+#v1
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 18 
 
mais que os pagãos, não sentem a excitação pelos mesmos aguilhões do amor que 
oprime a Igreja e fazem com que ela diga: ―Eu fui ferido por amor‖; ou ainda: ―Sustentai-
me com passas, confortai-me com maçãs, porque desfaleço de amor‖ (Cânticos 2: 5) [...] 
ela vê o Filho Unigênito do Pai carregando a sua cruz, o Deus de toda majestade atingido 
por golpes e cuspidas, o Autor da vida e da glória pregado, transpassado, cheio de 
opróbrios, dando por Seus amigos Sua alma abençoada. Vendo tudo isso, ela sente a 
espada de dois gumes do amor penetrar mais fundo em seu coração e ela clama: ―Suste-
ntai-me com passas, confortai-me com maçãs, porque desfaleço de amor‖. As maças que 
a esposa introduzida no jardim de Seu amado tem prazer em colher da árvore da vida, 
têm gosto do maná do céu e a cor do sangue do Cristo. E então ela vê a morte golpeada 
até a morte e aquele que a fez, crescer o cortejo de seu Vencedor, ela ainda vê este subir 
triunfante, de debaixo da terra para sobre a terra e da terra para os céus, seguido de uma 
grande multidão de cativos, de modo que somente ao nome de Jesus, todo joelho se 
dobra nos céus, na terra e debaixo da terra (Filipenses 2:10). A terra, debaixo da antiga 
maldição, produzia somente espinheiros e abrolhos; rejuvenescida então por uma nova 
benção, é coberta de flores. Então a esposa lembra-se deste versículo: ―O Senhor é a 
minha força e o meu escudo; nele confiou o meu coração, e fui socorrido; assim o meu 
coração salta de prazer, e com o meu canto o louvarei‖ (Salmos 28:7), recobra o ânimo 
com os frutos da paixão que ela colheu da árvore da cruz, e com as flores da ressurreição 
cujo perfume delicioso convida o amado a renovar as suas visitas. 
 
8. Enfim ela exclama. ―Eis que és formoso, ó amado meu, e também amável; o nosso leito 
é verde‖ (coberto de flores) (Cânticos 1:16). Falando deste leito, ela deixa claro o que 
deseja, e, acrescentando que ele está coberto de flores, ela mostra em que estão 
baseadas as suas esperanças; não é sobre as vantagens de sua pessoa, mas sobre a a-
tração que as flores, colhidas em um campo abençoado por Deus, têm para o seu amado, 
porque é o que sentem por Cristo que quis ser concebido e alimentado em Nazaré. Este 
esposo celeste, atraído pelo perfume que emana delas, tem prazer em entrar no quarto 
do coração, quando o encontra cheio de frutas e perfumado pelo aroma das flores. E Ele 
vem apressadamente e tem prazer em morar na sua alma que Ele contempla em medita-
ção, cuidadosamente dedicada e colhe os frutos de Sua paixão e cultiva as flores de Sua 
ressurreição. 
 
Ora estes frutos da última colheita, isto é de todos os séculos que se foram sob o império 
da morte e do pecado, que amadureceram na plenitude dos tempos, são as lembranças 
de sua paixão. Mas é no esplendor de sua ressurreição que devemos ver as novas flores 
dos novos tempos que a graça faz reflorescer para um segundo verão; no final dos 
tempos, na ressurreição real, elas darão inumeráveis frutos: ―Porque eis que passou o 
inverno; a chuva cessou, e se foi; aparecem as flores na terra, o tempo de cantar chega, e 
http://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/28/7
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 19 
 
a voz da rola ouve-se em nossa terra‖ (Cânticos 2:11,12). Ela quer dizer, falando assim, 
que o verão apareceu com Aquele que fez derreter o gelo da morte para renascer em 
temperatura primaveril de uma nova vida, dizendo: ―Eis que faço novas todas as coisas‖ 
(Apocalipse 21:5). Seu corpo, semeado na morte, refloresceu na ressurreição, e, ao 
perfume que Dele emana, vimos logo nos nossos vales e planícies, o que estava árido, 
morto ou congelado, cobrir-se de verde, renascer em vida e retomar o calor. 
 
9. O frescor destas flores. O renovar destes frutos e a beleza deste campo, de onde 
exalam os mais doces perfumes encantam também o Pai cujo Filho fez novas todas as 
coisas, e lhe inspiram esta exclamação: ―Eis que o cheiro do meu Filho é como o cheiro 
do campo, que o Senhor abençoou‖ (Gênesis 27:27). Sim, um campo cheio de flores, pois 
é de Sua plenitude que recebemos tudo o que temos. Mas a Esposa, ao se agradar Dele, 
vem colher em simplicidade flores e frutos para adornar a morada íntima de sua 
consciência, para que ao chegar o seu Amado, seu pequeno leito do coração exale os 
perfumes mais suaves. Portanto, se nós queremos que Cristo faça repetidamente em nós 
Sua morada, é preciso que nossos corações estejam cheios da fiel lembrança da 
misericórdia e do poder cujas provas recebemos em Sua morte e em Sua ressurreição. É 
o pensamento de Davi, quando disse: ―Deus falou uma vez; duas vezes ouvi isto: que o 
poder pertence a Deus. A ti também, Senhor, pertence a misericórdia‖ (Salmos 62: 11-12) 
Jesus Cristo provou superabundantemente, pois após morrer por nós por nossos 
pecados, Ele ressuscitou para nos justificar, subiu aos céus para nos proteger, e nos 
envia o Espírito Santo para nos consolar; e, mais tarde Ele voltará para a consumação da 
salvação. Ora eu vejo em Sua morte a prova da Sua misericórdia, naressurreição a do 
Seu poder, e em todo o restante eu as encontro as duas reunidas. 
 
10. Se a Esposa pede que a suportemos com flores aromáticas e que a fortaleçamos com 
frutos cheirosos, eu acho que é porque ela sente que o amor pode perder calor e força; 
mas ela só terá estímulos até ser introduzida no quarto de Seu amado, sentindo-se 
coberta de beijos há muito desejados e possa exclamar: ―A sua mão esquerda esteja 
debaixo da minha cabeça, e a sua mão direita me abrace‖ (Cânticos 2: 6). Mas então ela 
sentirá e verá por si mesma o quanto estas provas de amor que Seu Amado lhe dava da 
mão esquerda, para assim dizer, pois Ele as dava sem contar nos dias em que estava 
entre nós, cedem em doçura aos abraços da sua mão direita e os são inferiores, e ela 
entenderá suas palavras. ―O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita‖ (João 
6: 63), e ela penetrará no sentido destas palavras: ―Meu espírito é mais doce que o mel e 
minha herança mais agradável que o mel nas prateleiras‖. Se em seguida dissermos: ―A 
memória de meu nome passará de séculos em séculos‖ é para mostrar que os eleitos que 
ainda têm sede da presença do Esposo, têm ao menos a lembrança Dele para se conso-
larem, enquanto durar este século, durante o qual as gerações passam e se sucedem. Se 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 20 
 
está escrito: ―Proferirão abundantemente a memória da tua grande bondade‖ (Salmos 
145:7), certamente ouve-se daqueles cujo o salmista disse anteriormente: ―Uma geração 
louvará as tuas obras à outra geração‖ (Salmos 145:4). Portanto os que vivem na terra 
possuem para si somente a lembrança do Esposo, e os que nos céus reinam, se alegram 
de Sua presença; esta última é a glória dos eleitos que já chegaram à salvação, a outra é 
a consolação dos que ainda estão a caminho. 
 
 
 
CAPÍTULO IV 
 
Quais são os que acham consolo nas lembranças de Deus, 
e são mais puros em sentir o amor por Ele. 
 
11. Mas é interessante ver quais são os que encontram consolo na lembrança de Deus. 
Não são os homens corruptos que irritam Deus sem cessar e a quem Ele diz: ―Mas ai de 
vós, ricos! porque já tendes a vossa consolação‖ (Lucas 6: 24), mas os que podem gritar 
com verdade: ―a minha alma recusava ser consolada‖ (Salmos 72:2); acreditaremos neles 
voluntariamente, se eles acrescentarem com o Salmista: ―Mas eu me lembrei de Deus‖ e 
encontrei gozo nesta lembrança (Salmos 72:3). E de fato, é verdade que aqueles que 
ainda não gozam da presença do Amado, olham para o futuro, e que aqueles que despre-
zam cavar algumas consolações na torrente das coisas que passam, experimentam 
coisas abundantes na lembrança das que duram eternamente. Assim são aqueles que 
buscam o Senhor e a face do Deus de Jacó, ao invés de buscar seus próprios interesses. 
Para aqueles que suplicam a Deus e buscam a Sua presença com todo desejo, a lem-
brança é doce; mas bem longe de saciar a sua fome, ela a faz crescer para o alimento 
que deve saciá-los. É o que antecipa este alimento que diz, falando dele: ―Os que comem 
ainda terão fome‖. É também isto o que diz aquele que disto se alimenta: ―eu me satisfarei 
da tua semelhança quando acordar [me terás mostrado a tua glória]‖ (Salmos 17:15). 
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos (Mateus 
5:6). E maldita serás, raça malvada e perversa, maldito és, povo tolo e insensato, que não 
amas a sua lembrança e teme a sua presença! Tens razão em temer, pois agora não 
queres escapar dos caçadores, pois ―Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e 
em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na 
perdição e ruína‖ (1 Timóteo 6:9); não poderás jamais fugir a esta palavra dura, sim, muito 
dura e cruel: ―Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno‖ (Mateus 25:41). Quão 
mais suave e mais doce é aquela que ouvimos repetir na Igreja, lembrando a paixão: 
―Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna‖ (João 6:54)! O que 
nos faz dizer: Aquele que honra a minha morte, e, seguindo meu exemplo mortifica a sua 
carne sobre a terra, terá a vida eterna; ou então, se comigo sofres, também comigo 
http://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/5/6
http://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/5/6
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 21 
 
estarás no Reino. E, portanto ainda hoje, muitos, face a estas palavras, se retiram e se 
afastam dizendo, se não em palavras, mas pelo comportamento: ―Duro é este discurso; 
quem o pode ouvir? (João, 6:60-61). Desta forma os homens que, ao invés de conserva-
rem seu coração reto e puro e permanecerem fiéis a Deus, preferiram colocar suas espe-
ranças nas riquezas incertas, não podem agora ouvir falar da cruz; a simples lembrança 
da paixão lhes parece de peso esmagador; quanto mais serão esmagadoras para estes 
as palavras do juiz: ―Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o 
diabo e seus anjos‖ (Mateus 25:41)? Elas esmagarão, como uma rocha aquele sobre o 
qual cairão. Mas os santos serão benditos; com o Apóstolo, eles não têm outra ambição 
senão ―muito desejamos também ser-lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes‖ (2 
Coríntios 5:9). E também ouvirão estas palavras: ―Vindes benditos do meu Pai, etc‖. Será 
então que aqueles que não guardaram seu coração reto, sentirão, porém tarde demais, o 
quanto doce e leve é o jugo e o fardo de Cristo, aos quais orgulhosamente retiraram seu 
coração endurecido, como se se tratasse de um jugo esmagador e um fardo pesado. Não 
podeis, ó malditos escravos do dinheiro, gloriar-vos na cruz do nosso Senhor Jesus Cristo 
e ao mesmo tempo colocar vossa esperança nos tesouros, suplicar por fortuna e 
experimentar o quanto o Senhor é doce; e então com certeza O temerão muito, quando O 
verdes, Aquele cuja lembrança não vos pareceu cheia de doçura. 
 
12. E para a alma fiel, ela suspira com todas as suas forças após ter conhecido a Deus, e 
descansa suavemente em Sua lembrança; ela se gloria das ignomínias da cruz, enquanto 
não pode ver o Senhor face a face. Eis certamente o repouso e o sono que a Esposa, a 
colomba de Cristo, experimenta, esperando em meio aos bens que lhes são dados em 
herança; ela tem, agora, pela lembrança de Sua inefável doçura, ó Senhor Jesus, as asas 
brancas e prateadas da pureza e da inocência, e mais ainda, ela espera estar embriagada 
de felicidade quando ela avistar o esplendor em Sua face do ouro [...] e Sua sabedoria 
inundar de luz na glória e na felicidade dos santos. Portanto bem certa está de gloriar-se 
desde agora e de dizer: ―A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua 
mão direita me abrace‖ (Cânticos 2:6). A mão esquerda do Esposo é a lembrança deste 
amor do qual ninguém mais pode igualar a grandeza e que O impulsionou a dar a vida por 
Seus amigos; Sua mão direita é a visão beatificada que Ele prometeu aos Seus e a 
alegria que os embriagará quando gozarem de Sua divina presença. Não é por acaso que 
esta visão divina e dêitica, esta inestimável felicidade da visão de Deus é representada 
pela mão direita, pois é desta mão que é mencionado de forma inefável: ―tua mão direita 
há delícias perpetuamente‖ (Salmos 16:11). É por um motivo semelhante que a mão 
esquerda é como a sede desta admirável caridade da qual falamos mais acima e da qual 
não sabemos realmente nos lembrar; pois é nesta mão que a Esposa recosta a sua 
cabeça esperando que a iniquidade passe. 
 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 22 
 
13. Não, não é por acaso que o Esposo coloca sua mão esquerda sob a cabeça da 
Esposa, para que ela possa se soltar e repousar o que podemos chamar de cabeça, isto é 
a profundidade de sua alma, para que ela não se enfraqueça e não se desvie para os 
desejos carnaisdeste tempo; pois a embalagem terrestre e corruptível do corpo é um 
fardo pesado para a alma e a faz entrar em depressão, da qual ela precisa sair, levando 
em consideração uma misericórdia da qual tínhamos tão pouco direito, um amor tão 
gratuito e tão bem provado, uma honra tão inesperada, uma bondade indulgente e uma 
doçura tão perseverantes e tão admiráveis. Como pela meditação cuidadosa de todas 
estas coisas, não se elevaria a elas o espírito que delas se alimenta, e não se desligaria 
de todo sentimento ruim? Que profunda impressão terá sobre ele, e como poderia não lhe 
inspirar desprezo por aquilo que podemos gozar somente se renunciarmos a todas estas 
grandes coisas? É pelo bom aroma que exalam como tantos perfumes deliciosos que a 
Esposa se apressa alegremente e se sente consumida de amor; quando ela se vê tão 
amada, lhe parece que ama tão pouco, ainda que fosse ela mesma todo amor, e ela tem 
razão de assim crer; de fato, que retorno pode um grão de poeira pagar por um amor tão 
grande vindo de tão alto, quando mesmo se consumiria ele inteiramente de amor e de 
reconhecimento? Não foi ela avisada pela Divina Majestade, não mostrou-se inteiramente 
ocupada em salvá-la? Porque ―Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho 
Unigênito‖ (João 3:16). Ora obviamente é de Deus Pai que falamos aqui, e, quando foi 
dito: ―porquanto derramou a sua alma na morte‖ (Isaias 53:12), trata-se aqui do Filho; 
quanto ao Espírito Santo lemos: ―Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai 
enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo 
quanto vos tenho dito‖ (João 14:26). Portanto Deus nos ama e nos ama com todo o Seu 
ser; pois a Trindade toda nos ama, se é permitido expressar assim, falando do Ser infinito 
e incompreensível no qual não há partes. 
 
 
 
CAPÍTULO V 
 
Obrigação de amar a Deus, particularmente para os cristãos. 
 
14. Quando pensamos em tudo isto, podemos facilmente compreender porque devemos 
amar a Deus e quais os direitos que Ele tem ao nosso amor. Trata-se do infiel? Como ele 
não conhece o Deus Filho, ele está na mesma ignorância em relação ao Pai e ao Espírito 
Santo; e da mesma forma que ele não glorifica ao Filho, ele não saberia glorificar o Pai 
que O enviou e nem tampouco o Espírito Santo que é um dom do Filho; ele conhece Deus 
menos do que nós, portanto não é estranho que O ame menos; todavia, ele não ignora o 
fato de que se deve inteiramente Àquele que ele sabe que recebeu a vida. Mas e quanto 
a mim? Porque não posso ignorá-lO, não somente Deus me fez um ser sem que eu o 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 23 
 
merecesse; não somente Deus supre abundantemente as minhas necessidades, me 
consola com bondade e me governa com solicitude, mas mais ainda é o Autor da minha 
redenção e da minha salvação eterna; Ele é para mim um tesouro e fonte de glória. De 
fato está escrito; ―Espere Israel no Senhor, porque no Senhor há misericórdia, e nele há 
abundante redenção‖ (Salmos 130:7), e ―Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por 
seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna 
redenção‖ (Hebreus 9:12), — ―Porque o Senhor ama o juízo e não desampara os seus 
santos‖ (Salmos 37: 28). Ele nos enriquece; de fato, está escrito: ―boa medida, recalcada, 
sacudida e transbordando‖ (Lucas 6:38). E ainda em outro escrito: ―As coisas que o olho 
não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus 
preparou para os que o amam (1 Coríntios 2:9)‖. Ele nos enche de glória, pois, segundo o 
Apóstolo: ―de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que 
transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso‖ (Filipenses 
3:20-21)‖, e mais: ―Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente 
não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada‖ (Romanos 8:18). 
―Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o 
interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação 
produz para nós um peso eterno de glória mui excelente‖ (2 Coríntios 4:16-17). 
 
15. Que daria eu, portanto, ao Senhor por tudo isto? A razão e a justiça obrigam-me 
apressadamente a me doar inteiramente Àquele de quem recebi tudo o que sou, e de 
consagrar todo o meu ser em amá-Lo. A fé me diz também a ter por Ele um amor tal que 
eu entendo melhor o quanto devo estimá-Lo mais do que a mim mesmo, pois se herdei de 
Sua magnificência tudo o que sou, eu Lhe devo também o Seu próprio dom. Enfim o dia 
da fé cristã não tinha ainda um Deus que se havia incorporado, não havia ainda morrido 
na cruz e nem descido ao sepulcro, nem subido aos céus ao lado de Seu Pai; digo, Ele 
não havia ainda rompido toda a extensão do Seu amor por nós, deste amor do qual tive a 
amabilidade de partilhar mais alto com vocês, o homem já havia recebido a ordem de 
amar O Senhor seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas 
forças, isto é, de todo o seu ser, de todo amor que for capaz, como criatura dotada de 
força e inteligência. E não seria de forma alguma uma injustiça da parte de Deus de 
reivindicar Sua obra e Seus dons. 
 
De fato, por que a obra não amaria aquele que a fez, já que recebeu o poder de amar, e, 
por que não O amaria com todas as suas forças se é somente Dele que ela as recebeu? 
Adicione a isso tudo que ele foi tirado do nada sem nenhum mérito anterior, para em 
seguida ser exaltado; a obrigação de amar a Deus vos parecerá de tanto mais evidente e 
seus direitos ao nosso amor tanto mais fundamentados. Aliás, não foi Ele ao cúmulo em 
Suas bênçãos e Suas misericórdias, quando nos salvou, quando estávamos semelhantes 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 24 
 
aos animais que perecem (Salmos 49:20)? De fato, pelo pecado fomos destituídos do 
nível de honra que era nosso, para nos tornarmos semelhantes ao boi que ara no campo, 
e a animais desprovidos de razão. Portanto, se devo me doar completamente ao meu 
Criador, o que mais não lhe deveria ao meu Restaurador, a tamanho Restaurador? Foi-
Lhe muito menos fácil me restaurar do que me criar; pois, para dar vida não somente a 
mim, mas a toda a criação, dizem as Escrituras ―pois mandou, e logo foram criados‖ 
(Salmos 148:5). Mas para restaurar o ser que, com uma única palavra, feito tão completo, 
quantas palavras não foram pronunciadas, quantas maravilhas Ele deve ter operado, 
quantos tratamentos cruéis, ou devo ir mais fundo ainda, quantos tratamentos indignos 
Lhe foram necessários sofrer! 
 
―Que darei eu então ao Senhor, em reconhecimento por tudo que fez comigo (Salmos 
116:12)?‖ Quando Ele me criou, me deu minha vida: mas a devolveu a mim mesmo 
quando se deu por mim; a concedeu-me uma vez, em seguida a devolveu, portanto, por 
mim, devo duas vezes. Mas o que darei eu a Deus por Ele? Pois, mesmo que eu pudesse 
me dar a mim mesmo mil vezes, que seria isto comparado a Deus? 
 
 
 
CAPITULO VI 
 
Recapitulação, sumário dos capítulos anteriores. 
 
16. Reconheçamos então primeiramente em que medida merece Deus ser amado, ou 
melhor, vamos entender que deve ser sem medida. De fato, para resumir em poucas 
palavras, Ele nos amou primeiro, Ele tão grande e nós tão pequenos; Ele nos amou com 
excesso, tal como somos, e sem qualquer mérito nosso; por isso eu disse no começo que 
a medida do nosso amor por Deus deve ser sem medida ou exceder qualquer medida; 
aliás, já que este amor é imenso, infinito (pois assim é Deus) eu pergunto, quais seriam o 
termo e a medida de nosso amor por Ele? Além do mais, o nosso amor não é gratuito; é o 
pagamento de nossa dívida. Enfim, quando é o Ser imenso e eterno, o próprio amor por 
excelência, quando se trata de um Deus cuja grandeza é semlimites, a sabedoria 
incomensurável, a paz excedendo a todo sentimento e todo pensamento; quando, digo, é 
um Deus tal que nos ama, guardaremos em relação a Ele alguma medida em nosso 
amor? Eu Te amarei, portanto, Senhor, Tu que és a minha força e meu apoio, meu refúgio 
e minha salvação, Tu que és para mim tudo o que pode existir de mais desejável e mais 
amável. Meu Deus e meu sustento, eu Te amarei com todas as minhas forças, não tanto 
quanto mereces, mas certamente tanto quanto eu puder, se eu não puder o quanto 
deveria, pois é impossível para mim amá-lO mais do que todas as minhas forças. Poderei 
amá-lO mais somente quando receber o poder da Sua Graça, e ainda assim não será o 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 25 
 
quanto mereces. Teus olhos veem toda a minha insuficiência, mas eu sei que Tu escre-
ves no Livro da Vida, todos aqueles que fazem o quanto podem, mesmo que não façam 
tudo o que devem. Eu já disse o suficiente, se não me engano, para mostrar como Deus 
deve ser amado, e por quais boas obras Ele mereceu o nosso amor. Eu digo, por quais 
boas obras, pois por excelência, quem a poderia entender, quem a poderia expressar, 
quem a poderia sentir? 
 
 
 
CAPÍTULO VII 
 
Vantagens e recompensas do amor de Deus. 
As coisas da terra não podem satisfazer o coração do homem. 
 
17. Vejamos agora quais vantagens existem para nós no amor de Deus. Sim vejamos, 
mas que relação entre o que veremos e o que é? No entanto, não podemos nos omitir, se 
bem que a nossa visão não pode englobar toda a verdade. Nós nos perguntamos acima 
por qual motivo e em qual medida deve-se amar a Deus, e dissemos que esta questão: 
―por quais motivos devemos amá-lO‖ apresenta-se sob dois pontos de vista, pois 
podemos entender desta forma, que direitos tem Deus sobre o nosso amor; ou então, que 
vantagem nós encontramos em amá-lO? Nós falamos da melhor forma que podíamos, 
senão de um modo digno de Deus, dos direitos que Ele possui sobre o nosso amor: 
faremos o mesmo em relação às vantagens que encontramos neste amor; pois, se nós 
devemos amar a Deus, sem nos preocupar com a recompensa, ainda assim somos 
recompensados por tê-lO amado. A verdadeira caridade não pode permanecer sem paga, 
e, no entanto não é nem um pouco mercenária, pois não busca seus próprios interesses 
(1 Coríntios 8:5); o amor é um movimento da alma e não um contrato; não se o pode 
adquirir em virtude de uma convenção, e também nada adquire por este meio; é total-
mente espontâneo em seus movimentos e nos faz semelhantes a ele: enfim o verdadeiro 
amor encontra em si mesmo a sua satisfação. Sua recompensa é no sujeito amado; pois 
qualquer que seja o sujeito que dizemos amar, se o amamos em vista de outro, então é 
este que verdadeiramente amamos e não aquele cujo coração usa para atingi-lo. Por isso 
que Paulo não prega o Evangelho para ter o que comer, mas ele come para poder pregar 
o Evangelho; pois, o que ele ama, não é a comida que ele pega, mas o Evangelho que ele 
anuncia (1 Coríntios 9:18). O verdadeiro amor não busca recompensa, mas ele merece 
uma; é certo que não propomos àquele que ama uma recompensa por seu amor, mas ele 
merece ser recompensado e o será se continuar a amar. Enfim, em uma ordem de coisas 
menos elevadas, excitamos a fazê-las, com promessas de recompensas, não aos que 
acham que são algo, mas os que se doam com pesar. Quem jamais teve a vontade de 
oferecer a alguém uma recompensa para lhe fazer algo que realmente ansiava fazer? 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 26 
 
Certamente não damos dinheiro a um homem morrendo de fome e de sede, para incitá-lo 
a comer ou beber, e nem a uma verdadeira mãe, para que amamente o fruto do seu 
ventre, e não usamos de orações e promessas para incentivar alguém a cercar a sua 
plantação, a remoer a terra em volta das árvores ou elevar o muro de sua casa. Por uma 
razão mais forte ainda, aquele que ama a Deus, não teria ele necessidade de se sentir 
atraído por uma recompensa que não seja o próprio Deus; de outra forma não seria a 
Deus que ele amaria e sim a recompensa. 
 
18. Está na natureza do homem o desejar, cada um conforme a sua tendência e sua 
percepção, o que lhe parece melhor do que aquilo que ele já possui, e de nunca estar 
satisfeito com algo que definitivamente não está de acordo com aquilo que ele queria. 
Citemos alguns exemplos: Se um homem que tem uma linda mulher, vê uma mais linda, 
seu coração a deseja, seu olhar arde em desejo; se ele tem uma vestimenta preciosa, ele 
deseja uma mais sumptuosa ainda; e com as riquezas que ele em, ele inveja os que têm 
mais do que ele. Não é comum vermos homens ricos em terras e em propriedades 
comprar novos campos, e, nos seus desejos sem fim, recuar constantemente os limites 
de seus domínios? Aqueles que moram na realeza, em vastos palácios, não cessam de 
acrescentar a cada dia novos edifícios aos antigos; tomados por uma inquieta curiosida-
de, não param de construir e destruir, mudando o que está redondo para fazer quadrado. 
Se falarmos então de homens cheios de homenagens, não aspiram eles constantemente 
com todas as suas forças com uma ambição cada vez mais difícil de agradar por uma 
posição ainda mais elevada? Isto não tem fim, porque em todas estas coisas não 
conseguimos achar um ponto que seria propriamente dito o mais elevado e o melhor. Mas 
deveríamos estranhar que aqueles que não podem parar enquanto não possuírem o que 
tiver de maior e mais perfeito, não estejam nunca satisfeitos com o que for pior ou 
inferior? Mas o que eu acho insensato acima de qualquer expressão, é que desejamos 
sempre aquilo que não poderia jamais, não digo satisfazer, mas simplesmente adormecer 
os desejos ardentes. O que quer que seja que nós possuímos, nós não desejamos menos 
aquilo que ainda não temos e é sempre em relação ao que não temos que suspiramos 
mais e mais. E então o que acontece? O nosso coração, cedendo aos caprichos variados 
e enganosos do século, cansa-se inutilmente em sua corrida e não consegue se saciar; 
está sempre faminto e de nada vale o que já tem com aquilo que ainda lhe resta a ter; 
está bem mais atormentado pelo desejo do que lhe falta do que pela satisfação do que já 
tem. Não podemos ter tudo e aquilo que temos o adquirimos somente com esforço, o 
aproveitamos com temor e tendo a dolorosa certeza de perdê-lo um dia, mesmo não 
sabendo qual será este dia. Este é, portanto o caminho de uma vontade pervertida que 
pende ao bem soberano; é seguindo esta direção que ela se apressa em atingir o que a 
deve satisfazer; ou, melhor dizendo, é nestes desvios que a vaidade não se deixa vencer 
e a iniquidade se engana. Se queremos atingir um objetivo que nos propomos e enfim 
 
Facebook.com/oEstandarteDeCristo 
 
 
OEstandarteDeCristo.com 
Issuu.com/oEstandarteDeCristo 
 
 27 
 
adquirir aquilo cuja possessão excede a todos os desejos, porque procurar de tantos 
outros lugares? Isto é se afastar do reto caminho, e a morte chegará bem antes de 
atingirmos o alvo desejado. 
 
19. Em todos estes desvios se perdem os ímpios que procuram, por um movimento 
natural, a satisfazer seu apetite e negligenciam, como insensatos, os meios para conse-
guir o que querem; quero dizer, a serem consumados e não consumidos. Ora, eles se 
consumem em vãos esforços e não conseguem chegar a uma felicidade consumida; pois, 
estão mais afeiçoados às criaturas do que ao Criador, e se voltam a todas elas e as 
experimentam umas após as outras, antes de pensar em tentar se dirigir ao Senhor que 
as criou. É aonde chegariam certamente, se pudessem um dia cumprir todos os seus de-
sejos, ou seja, de possuir todo o universo, menos o seu Autor, e isto se faria em virtude 
mesmo da lei de suas concupiscências, que os faz esquecerem o que são, para almejar 
aquilo que

Continue navegando