Buscar

São Luíz Gonzaga - Padre João B Du Dréneuf S J

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 130 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 130 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 130 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

S�O LUIZ GONZAGA 
PADROEIRO DA JUVENTUDE CATHOUCA 
•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 
ESBOÇO BIOGRAPHICO 
E 
DEVOCIONARIO 
CASA MAYENÇA 
SÃO PAULO 
1926 
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IMPRIMA-SE 
Por deleg. do Exmo. Revmo. Snr. Are. Met. 
S. Paulo, 3/ de Maio de 1926 
P. João B. Du Dréneuf S. J. 
�!flUIU 111111 I li 11111! 11111111111 I 11111111111111111111111 !li 1111111 11111111111 i 1111111111 I li 11 111111111111 1111111111�· 
-
-
-
-
-
-
-
"' 
� 
� 
� 
� 
� 
� 
� 
� 
� 
$. :1Lttí3
� -
;alll!lll I li! IIJ 111111111 11111! I I li li I I 1111111 I I llllllllllllll 111 I li H I til !J llllllllllltllll !Jillllll 111111 I li !li llllllfi. 
EPISTOLA APOSTOLICA 
DE SUA SANTIDADE 
PIO XI, PAPA 
PELA PROVIDENCIA DIVINA 
AO FILHO DILECTO - WLADIMIRO LEDOCHOW­
SKI- P. GERAL DA COMPANHIA DE JESUS -
NO SEGUNDO CENTENARIO - DO DECRETO 
DE CANONISAÇÃO - DE S. LUIZ GONZAGA. 
FILHO DILECTO - SAUDE E BENÇÃO APOSTOLICA 
Na vida do Divino Mestre resumbra como nota caracteristica es­
pecial predilecção pela jnventude. Assim Elle chama a si e attrahe a 
infancia innocente (Marc. 1 O, 13-16); com palavras terriveis reprehende 
. os seus corruptores e os ameaça de gravissimos castigos, emquanto ao 
jovem intemerato, como premio e convite, propõe o ideal justo e per­
feito da santidade. - Esse mesmo espirito a Igreja recebeu do seu 
fundador, como herdeira da missão divina e da sua obra, e porisso foi, 
desde o inicio do christianismo, continuando sempre a ser e a se mos­
trar tomada da mesma predilecção pela juve ntude. 
VII 
Dahi a protecção dispensada á infancia para a sua integridade 
physica e moral; dahi as escolas abertas para ella desde as elementa­
res ás academicas, para a conduzir dos primeiros estudos Jitterarios até 
as mais altas disciplinas; dahi as Ordens e as Congregações religiosas 
não s6mente approvadas, mas promovidas, com o intuito certo de pro­
vêr a devida formação da mocidade com a fundação de universidades, 
de collegios, de escolas publicas e de associações. E da educaçãq da 
juventude a Igreja reivindicou para si em todo tempo, como proprio e 
inviolavel, o direito, não podendo deixar de patentear, perante toda a 
sociedade humana que lhe fôra confiada, que Ella é a unica deposita­
ria da moral genuína, Ella a unica e infallivel mestra da arte difficilli­
ma de christanmente formar o verdadeiro caracter do homem. 
N6s, portanto, presentemente, muito Nos regosija.mos por ver 
em toda parte numerosos grupos de jovens, dos dois sexos e de toda 
condição social, com o mais intenso affecto, se acercarem de seus Sa­
cerdotes e de seus Pastores, desejosos ao summo gráu de se apertei-· 
çoarem nos pontos doutrinarias e praticos da vida christã e de coadju­
varem, com o p.roprio esforço, a Igreja, na obra que esta: cumpre do 
melhoramento e salvação das almas . 
. E rememorando as multidões juvenis que, no passado Anno San­
to, vieram até N6s de toda parte, renovam-se os suaves sentimentos 
de alegria que então experimentaramos, em pensar que de taes agru­
pamentos de moços organisados em todas as nações, poder-se-ia for­
mar em dada época poderoso exercito pacifico, de que se utilisára a 
Santa Sé, em a reforma do Mundo que precipita para a decadencia. 
Ademais, o amor que nutrimos para com a mocidade, ainda mais 
se avoluma em Nosso coração, ante o espectaculo das numerosas insi­
dias infernaes, tendidas á sua fé e á sua in nocencia: do que frequen­
temente, pela aspereza da luta espiritual, se verifica o enfraquecimen­
to e se apaga até o vigor da edade e da virtude em tantos moços que 
poderiam praticar o bem, para a Igreja e para a sociedade. 
Portanto, o 11. Centenario da Canonisaçil.o de S. Luiz Gonzaga, 
a •• completar no proximo 31 de Dezembro, traz comsigo tão grandes 
nnta1en11 de proveito espiritual para a mocidade, que, emquanto di-
VIII 
rigimos a ti, filho dilecto, a nossa palavra, sentimo-nos impellidos a 
volver nosso pensamento e D.osso discurso a todos os jovens nossos 
filhos, que, em toda parte do mundo, representam as esperanças do 
reino de Christo. Porque, se os jovens, nas provações e nos perigos 
da Vida, devem recorrer a esse prestimoso e potente Patrono celestial, 
seguil-o-ão assim mesmo, como modelo maravilhoso de toda virtude. 
·_ Porque se bem estudarem a vida, se lhes antojarão claramente quaes 
os caminhos -a percorrer para alcançar a perfeição- quaes os meios 
adequados para a conseguir - quaes os fructos preciosos da virtude 
colhidos se forem nas pégadas de Luiz. E se contemplarem Gonzaga: 
na sua luz verdadeira e qual é Elle por verdade - isto é, mui diverso 
da·falsa effigie em que o pintaram os inimigos da Igreja e tambem es­
criptores menos conscienciosos, - como não encontrar n'Elle singu­
lar modelo de virtudes juvenis, mesmo após os mais rece.ntes exem­
plos de santidade verificados na Igreja? Porisso, percorrendo a his­
toria ecclesiastica, é facil averiguar que os moços mais em evidencia 
pela pureza de sua vida, illuminados pelo Divino Espirito, desde a 
morte de S. Luiz, até nossos dias, em sua maior parte se modelaram 
pela sua escola. Entre os mais, para dar algum exemplo, Nos apraz re­
lembrar sómente João Berchmans, que, alumno do Collegio Romano, 
outra cousa não ambicionou, se não em si proprio encarnar Luiz; Nun­
cio Sulprizio, jovem operario, o qual desde menino imitou o •Anjo de 
Castiglione•, conservando-se firme até morrer; Contardo Ferrinio 
que, apellidado mui justamente de •novo S. Luiz, pelos contempora­
a,eos, teve por Elle grande devoção, tomando-o como modelo de candu­
ra; Bartolomea Capitanio, que em vida e depois de morta copiou Gon­
zaga, de qflem fôra singularmente .devota, e que de Gonzaga, neste 
seu centenario, dir-se-ia teve a paga, participando de sua gloria com 
a elevação ás honras dos Altares. 
· 
Nem de contrario affirmar-se-ia que o nosso Santo influísse por 
não pequena parte na mutação intima e santificação de Gabriel da 
Senhora das Dôres: o qual, apezar de desde sua adolescencia se mos­
trar algo leviano e perdulario, mesmo assim não interrompeu nunca sua 
devoção a Gonzaga, que havia apprendido a venerar como Patrono 
da mocidade. E, -citando um dentre os mais recentes educadores 
e .mestres da juventude- D. João Bosco, não sõmente foi assaz de­
voto de S. Luiz, mas essa devoção, que deixou como herança a seus 
IX 
filhos, costumava sinceramente aconselhar a todos os meninos que 
tomava sob o seu Magisterio educativo; e entre elles sobresaiu, co­
mo i.m.l.tador de S. Luiz, a alma candidissima de Domingos Savio, por 
mui breve tempo por Deus assignalado á admiração dos homens sobre 
a terra. 
Certo, pode parecer que por mysteriosa disposição da Providencia 
Divina, o nosso Luiz fosse arrebatado, por morte prematura, qusndo 
apenas se encontrava na flôr dos annos e seus reaes dotes de mente e 
de coração, firme e expansiva vontade, singular prudencia, quasi di­
vina, e junto a esse zelo da religião e das almas, promettiam e faziam 
esperar os fructos de fervoroso apostolado. Porque Deusquizqueos 
moços aprendessem deste santo jovem, cuja flôr commum da idade 
teria por certo tomado amavel e imitavel, aprendessem, dizíamos, 
qual fosse o particular e precípuo dever de sua adolescencia, isto é, 
de se preparar á pratica da vida, educando-se solidamente e aperfei­
çoando-se nas virtudes christãs. Aquelles, pois, que são privos destas 
virtudes intimas, de que S. Luiz foi exemplo frizante, não poderem()s 
considerar idoneos e escudados contra os perigos e as lutas da vida, 
e capazes de exercer o apostolado: mas sim semelhantes ao aes sonans 
e ao cymbalum tinniens (I- Cor., 13,1) ou não prestarão, ou talvez 
prejudicarão aquella mesma causa ainda que a propugnarem e defen­
derem, como acontecera, e está patente, não sómente uma vez, em 
tempos idos. Quem não vê, pois, opportuna aos nossos tempos a com­
memoração centenaria de Gonzaga, emquanto, com o exemplo da 
propria existencia, aos mancebos, propensospor índole, á exteriorida­
de e promptos a se jogarem no campo de acção, Elle faz comprehender 
que, antes de cuidar de extranhos e da influencia catholica, devem 
elles primeiro aperfeiçoar-se no estudo e na pratica da vida intima. 
E, antes de tudo, Gonzaga indica aos moços que a essencia da 
educação christã basea-se no espírito da fé ardente, pela qual a hu­
manidade, illuminada como de um clarão que explende em logar tene­
broso (II, Petr., 1,19), reconheçam plenamente a natureza e a impor­
tancia da vida mortal. Pelo que, S. Luiz, havendo-se prefixo de dispôr 
sua vida, pelas normas das razões •temporaes» mas •eternas» - das 
quaes se afastando, se não pode mais ser ou julgar homem espiritual 
- essas razões hauridas na revelação divina, considerou e meditou 
X 
longa e profundamente na solidão dos exercícios espirituaes, nos quaes 
apenas sabido da meninice e logo inscripto na Companhia de Jesus, 
se absorvia com sum.mo proveito e gozo de sua alma. Em verdade, 
pensamos ser desnecessario que nossa juventude, com o exemplo de 
Gonzaga, grave bem em seu animo esta asserção incontestavel, isto 
é, que a humana vida se não deve amesquinhar ao ponto de se restrin­
gir sómente 4 procura dos prazeres e bens passageiros, do que, não 
raro, a tendencia natural, os sentidos dos jovens, se deixam levar, 
mas que pelo contrario devemos julgar como conducta em que, servin­
do só a Deus tendemos á mansão eterna. 
E este justo conceito da vida formar-se-â facilmente pela com­
prehensão dos nossos jovens, se, como o celestial Patrono, de vez em 
vez, sahindo do borborinho das humanas paixões, se applicarem por al­
guns dias aos exercícios espitituaes que, pelos ensinamentos de nossa 
longa experiencia, nasceram simplesmente para grangear util e ra­
dicalmente os animos malleaveis e doceis da mocidade. 
Luiz, como dizíamos, esclarecido pela luz das verdades eternas, 
propondo-se a nada esquecer afim de conservar Vida innocentissima, 
foi tão persistente em seu proposito que se conservou immune de to-
· da mancha de peccado, desde sua primeira comprehensão ao derra­
deiro alento: e particularmente guardou cioso a flôr de sua pureza, 
merecendo dos companheiros o nome de anjo - aquelle mesmo no­
me com que, desde essa hora, o povo christão o tem appellidado - e 
o Beato Roberto Bellarmino, atilado preceptor do santo moço, consi­
derando-o confirmado na graça divina. Nem se diga que S. Luiz attin­
gisse essa perfeição e summa de virtudes, porque, por um favor ex­
traordinario de Deus, ficou isento das lutas intimas e exteriores que 
infelizmente devemos nós combater contra a nossa natureza decahida 
da primordial justiça. De facto, embora, por privilegio muito proprio, 
nunca se visse perturbado por excitação sensual, mesmo assim, de a­
nimo superior que era, se não viu livre dos momentos de ira e dos pru­
ridos da vaidade: cuja propensão natural não sõmente refreiou por 
ferrea vontade, mas submetteu em tudo e por tudo ao imperio da ra­
zão. E como não ignorasse a fraqueza innata das humanas prerogati­
vas e de si mesmo desconfiasse, procurou obter o auxilio da graça divi­
na, orando dia e noite e por muitas horas consecutivas, e se re-
XI 
commendando l divina clemencia, sob o patrocínio da Virgem Mie de 
Deus, de cuja devoção era entre todos o primeiro. E, especialmente, 
conhecendo que o manancial sustentaculo de toda a vida espiritual se 
encontra na SS. Eucharistia - costumava approximar-se l Sagrada 
Mesa, toda vez que então se lhe permittia, afim de auferir forças sempre 
novas. 
E como da graça divina se não deve nunca destacar a humana co­
operação, nosso Santo, para manter illibada a innocencia da vida e a 
candura dos costumes, reuniu o abandono absoluto das mundanas 
paixões e o tolhimento dos sentidos ao culto fervoroso do SS. Sacra­
mento e da Mãe do Senhor- cousa que os demais poderão admirar, 
mas nunca igualar. E' quasi, de facto, incrível que em meio a tanta 
· corrupção de costumes, Gonzaga, pela candura de sua alma, se equi­
parasse aos espíritos celestes; entre tanta ansia de prazeres, o moço 
santo se distinguisse por admiravel abstinencia e por austeridade e 
aspereza do seu viver; entre tantos desejos de honrarias, estas Luiz 
desprezasse até a abdicação espontanea do principado, que lhe era 
reservado por hereditariedade, e pedisse sua entrada naquella fa­
milia religiosa, em que, por especial promessa, é vedado o accesso até 
ls dignidades sacerdotaes. 
Finalmente, entre tão desmesurado culto das antigas civilisa­
ções grega e romana, Luiz foi tão assíduo no estudo e na pratica das 
normas celestes, que por particular concessão de Deus e por singular 
propriedade, vivia todo entregue ao Senhor, sem que, em sua contem­
plação, soffresse o menor distrahimento. 
São estas, em verdade, culminancias extraordinarias de santi­
dade e, diriamos, inaccessiveis até aos homens de grandes virtudes; 
porém isso servirá de ensinamento aos nossos jovens, para lhes mos­
trar quaes procedimentos convenham afim de conservar incolume 
aquillo que é decoro e ornamento mais bello da mocidade: a innocen­
cia e a honradez dos costumes. E, a proposito, não ignoramos que mui­
tos educadores - impressionados pela depravação actual dos costu­
mes, â qual se deve a extrema ruína em que tantos jovens precipitam, 
com incrível detrimento do espirito- para que se afaste do seio social 
esse mal ingente de extermínio - cogitam todos de novos systemas 
educativos. 
XII 
N6s, porém, desejaremos que estes bem c:ompreheodessem que 
nenhuma utilidade trarão A coisa publica, se negligenciarem methodos 
e disciplinas, que, emanados da fonte da sapiencia christã e experi­
mentados pelo uso de tantos seculos, Luiz averiguou em si proprio ef­
ficazes ao summo grAu; a fé ardente, dizemos, o afastamento das se­
ducções; a norma, a abstenção da alma; uma devoção fervorosa para 
com Deus e a Beatissima Virgem; a vida emfi.m, quanto mais frequen­
temente confortada e revigorada pelo banquete sagrado. 
Porque, se os moços observarem Gonzaga com attenção, como 
perfeito modelo de castidade e santidade, nilo s6mente aprenderão a 
refrear a sensualidade, mas ainda evitarão o estorvo em que trope­
çam, se- embevecidos pelos dictames de certa sciencia que de Chris­
to e da Igreja despreza a doutrina - se deixarem transviar por des­
commedido desejo de liberdade, por orgulho intellectual e por inde­
pendencia de vontade. Luiz, ao contrario, embora conhecendo-se o 
herdeiro do principado avoengo, deixara-se guiar docilmente por aquel­
les que foram seus mestres nos estudos e na piedade, e mais tarde, 
professado religioso na Companhia de Jesus, submettera-se perfei­
tamente ás ordens e aos conselhos dos superiores, de modo a se não 
afastar um instante siquer, mesmo nas pequeninas cousas, das pres­
cripções do Instituto. A ninguem escapará quanto essa attitude expli­
que advertencia severa para os jovens, que illudidos por falsos ouro­
peis e de insoffrido recato avassallados, desprezam irreflectidamente 
os conselhos da velhice. 
Portanto, quem quer pugnar sob as insígnias de Christo, deve 
crêr firmemente que, desejando sacudir de seus hombros o jugo dis­
ciplinar, em vez de colher triumphos, só acarretará com ignobeis der­
rotas, visto como a propria natureza requer, por divina vontade, que 
os moços nenhum verdadeiro proveito alcançarão , quer na vida in­
tellectual e moral, quer no preparo da prop ria conducta ao espírito 
christilo- se não debaixo da alheia d isciplina. 
E se em tudo mais - e mais ainda no que conceme o campo de 
acçilo do apostolado- se requer grande docilidade; essas prerogati­
vas,por certo, que incumbem a um dos predestinados por Jesus Chris­
to A santa Igreja, nunca poderão ser exercidas com resultado, se não 
XIII 
quando se expletem com amorosa dependencia, respeito aos que o 
Espirüo Santo prepoz á regencia da Igre}a de Deus. 
Como já no paraiso terrestre, Satan, deixando entrever grandes 
e phantasiicas promessas, como premio da desobediencia, aos nossosprimeiros paes, os induziu a se revoltarem contra Deus - assim, em 
os tempos actuaes, pretextando liberdades, elle seduz e deixa arrui­
nados centenares de moços envaidecidos por ephemera soberba, em­
quanto sua dignidade repousa no respeito devido ás legitimas autori­
dades. Pelo contrario, Luiz, que, com a sua grande prudencia, era 
cercado de tamanha admiração entre os seus que repunham no futuro 
principado as esperanças mais fagueiras e pelos adeptos jâ indicado 
como futuro Geral da Ordem- elle tão s6mente se amesquinhava e 
obedecia a todos que se lhe propunham, em Jogar do seu etemo Senhor 
e Rei, com humillima e contemporaneamente digna submissao. 
Dessa norma de viver, tão santa e aclarada pela luz e pelos dicta­
mes da fé, Luiz colheu os mais suaves e preciosos fructos: n'Elle os 
dons da natureza e da graça se completavam em perfeita harmonia, 
representando assim modelo exemplar da mocidade. 
Não é, pois, verdade, que Elle, seja por excellencia de talento, seja 
por maturidade de sensatez, seja por nobreza e força de sentimentos, 
ou por doçura e suavidade de maneiras, se nos apresenta como mode­
lo ideal ? 
Assim, pela elevação e perspicacia de sua intelligencia, livre das 
nuvens que surgem de paixões enfermas, com assiduidade dedicado 
á contemplação da verdade e da justiça - são testemunho o curso de 
estudos por Elle brilhantemente concluido, as publicas contendas phi­
losophicas, apoiadas universalmente e com applauso sustentadas, e por 
fim os escriptos deixados, especialmente as cartas, que, embora em 
reduzido numero, devido á sua idade juvenil, se admiram por sabio 
conhecimento e ponderação. das cousas. 
Do seu recto juizo e finura de observação deu provas luminosas, 
em difficillimos negocios que lhe confiAra o. proprio progenitor e por 
elle tratados com prudencia e terminados felizmente: entre outros, em 
XIV 
aquelle, bastante arduo, pelo qual, depois de ter morrido o pae, conse­
guira reconciliar o proprio irmão com o Duque de Mantua, fazendo des­
apparecer aleivosias e rancôres. De seu nobre coração e da amabiü­
dade do seu trato teciam unanimes e amplos louvores, todos que tive­
ram com elle relações, quer na vida commum, quer nos esplendores da 
côrte, concidadãos e domesticos, príncipes e palacianos e, sobremodo, 
superiores e irmãos da Companhia, onde despertou, entre todos, geral 
amiração. Sabemos por fim como resplandecia n'elle, em modo parti­
cular, a firmeza de caracter em seus propositos. 
Desde a idade mais tenra, o pequeno herdeiro do marquez de 
Castiglione, tendo firmado o projecto de sua santificação, nesse em­
penho, concebido inabalavelmente, permaneceu fiel até sua morte. 
De maneira que a asc:ensão espiritual, nelle começada com o uso da 
razão, não conheceu, depois, nem estacionamento, nem regresso. Pode 
haver, pois, modelo mais exacto, e mais opportuno para se propOr co­
mo exemplo de imitação, em especial modo á juventude estudiosa? 
E sta, por verdade, não sómente deve enriquecer de sadia e solida 
cultura a mente e o coração, mas deve ainda possuir criterio vigoroso, 
equilibrado, sereno, afim de poder juigar e sentir, com rectidão, dos 
homens e dos acontecimentos, sem que se deixe transviar por illusões 
enganadoras, por enervantes e violentas paixões, ou pela publica opi­
nião; deve assignalar-se por animo suave, afim de promover e manter 
espírito de concordia no seio da família e da sociedade civil; por fir­
meza e constancia de vontade, afim de poder dirigir a si mesma e aos 
outros na pratica do bem. 
E nada falta a Luiz, nem siquer essa admiravel concepção para 
vantagem do proximo - apostolado que mais frequentemente seduz 
a idade e a alma juvenis. 
Embora a contemplação das cousas celestiaes e a intima conver­
sação com Deus era occupação principal e assídua de Gonzaga, tanto 
que sua vida bem podia se dizer •occulta com Christo em Deus•- as­
llim mesmo de seu coração emanavam, desde então, faiscas de ardôr 
apostolico, que de algum modo preannunciavam as chammas do incen­
dio que dellas seguira. Assim, logo sabido de sua meninice, vêmol-o 
XV 
enthusiasmar, com o exemplo e com a palavra, todos os que a elle se 
dirigem, incitando-os opportwiamente 4 pratica da virtude; e após, 
com o andar dos annos, eil-o, attrahido por mais singelo ideal, aspirar 
lis mais elevadas e arduas emprezas para a saude das almas, e acari­
ciar a idea de dedicar-se ás missões apostolicas entre os hereges e 
pagãos .. 
- Roma admirou Luiz, alumno do Collegio Romano, percorrendo 
praças, ruas, reductos da cidade, ensinando os elementos da doutriqa 
christã lis crianças e aos pobres: foi ella testemunha da caridade heroi­
ca a que elle, em meio ao recrudescer da peste horrível, se dediclira, 
na assistencia aos inficionados, contrahindo o inicio daquelle morbo, 
que, depois de poucos mezes, mancebo de apenas 24 annos, o conduzi­
ra ao sepulcro. 
Pois bem; são taes, justamente, os campos de acção que, im­
mensos., se abrem aos nossos jovens que queiram, de facto, seguir a 
norma de Luiz, isto é: imitai-o e seguir os seus exemplos edifican­
tes; a efficacia dos bons discursos, o amor e o desejo das sagradas 
Missões, o ensino da doutrina christã e finalmente as obras de carida­
de nas suas formas varias. Bastlira que a isso se dedicassem as grandes 
phalanges da mocidade catholica, para que reflorescesse a essencia do 
Apostolado Aloisiano, adaptando-se-o opportunamente ás necessidades 
hodiernas; aquelle Apostolado Aloisiano, dizemos, que, longe de 
se haver extinguido, com a morte de Luiz, continúa ainda e efficaz­
mente do Céo. 
Em verdade, da séde bemdita dos Eleitos, onde foi contemplado, 
em visão de extase, pela virgem carmelita Magdalena de'Pazzi, rei­
nar em gloria, onde, ha dous seculos, Benedicto Xlll, Nosso Prede­
cessor de saudosa memoria, declarou-o enthronizado entre os com­
prehensores, inscrevendo-o, com solemne Decreto, entre os Santos, 
Luiz nunca cesslira de baixar copiosas bençams sobre seus fieis de to­
da casta, porém, em particularidade sobre a juventude. Porisso é que 
muitas são as sociedades que se in titulam a seu nome e se honram do 
seu patrocínio: quasi innumeraveis os adolescentes de ambos os se­
xos que, seguindo o seu exemplo, entrelaçam os espinhos das mortifi­
cações aos lyrios da candura; e assim, entre Gonzaga e a mocidade 
XVI 
christã, parece estabelecida innocente mas benefica porfia: Elle a pro­
digalizar dons celestiaes, esta a in vocal-O como celestial patrono. 
- Que admiração, pois, se os Romanos Pontífices escolheram 
Luiz por modelo e protector dos moços ? 
N6s, portanto, animados pelo vivo desejo, que mais de qualquer 
sentimos, da perfeita educação e da salvação da juventude, em espe­
cial nos tempos actuaes, em que ella se encontra exposta aos maiores 
perigos, seja pelos beneficios ji conseguidos, seja para conseguir ainda 
de Luiz beneficios mais copiosos, insistindo na trilha dos Nossos Pre­
decessores, particularmente de Benedicto XIll e de Leão XIII, confir­
mamos solemnemente e, sendo preciso, com a Nossa Autoridade A­
postolic:a, declaramos S. Luiz Gonzaga celestial patrono de toda a mo­
cidade christã. E, emquanto confiamos esta eleita descendencia da 
família catholica i tutela de Luiz, para que prospére e se tome sem­
pre mais florescente e exemplar na luminosa e singela profissão da fé 
e na pureza dos costumes - exhortamol-a ardentemente e com affec­
to paternal esconjuram.ol-a para tomar sempre Luiz como exemplo e 
não cessar nunca de O venerar e invocar, ainda com os exercícios de 
devoção, como a piedosa pratica dos 6 Domingos, que uma longa ex­
periencia demonstrou fecundos de muitos e não pequenos beneficios. 
Entretanto, conforta-nos saber que a Commissão preposta aos 
solemnes festejos centenarios, sob a vigilante direcção do nosso Car­
deal Vigario - tenha indicado aos jovens que, após algum tempo de 
retiro espiritual, renovem a promessa de uma vida christãmente in­
tegra e pura, e a registrem, subscrevendo-a de proprio punho, confir­mando-a quasi como juramento, em listas proprias que, reunidas e 
encadernadas em volume, serão aqui trazidas pelos delegados da mo­
cidade de todo o mundo catholico, e depois de ratificadas pelo Sum­
mo Pontífice, como penhor de piedade e recordação, serão depostas 
no templo Ludovisiano, onde repousam os ossos venerandos de Luiz. 
:t'f em podéra se imaginar cousa mais adequada para despertar gene­
roso fervor no animo dos jovens; pelo que, a celebração desta festa 
bicentenaria, que tem em mira a renovação do espírito religioso da 
juventude de todo o mundo, não seri certamente falha de salutares 
effeitos. 
XVII 
Todos aquelles que são parte da immensa família da juventude 
catholica, que intervierem nesta Alma Cidade, na occasião fixada,' pe­
los progammas dos fllstejos, serão por Nós recebidos e por Nós en­
tretidos com paternal affecto, quaes encarregados de missões verda­
deiramente nobres e profícuas e os acompanharemos com o pensa­
mento e com o coração ao tumulo de Luiz, fazendo votos para que to­
dos nossos filhos experimentem sempre mais efficaz a tutela desse 
celestial patrono. 
E como, nesse mesmo dia, junto a Luiz, fosse inscripto no numero 
dos Santos tambem Estanislau Kostka, que viveu e voôu aos Céos 
poucos annos antes, na Companhia de Jesus, assim convem que os 
nossos moços, nesta faustosa data, volvam ainda sua attenção ao se­
raphico jovem polaco, a quem Nosso Senhor •com um dos prodígios 
de sua sapiencia, concedeu «a graça de alcançar, no verdor dos annos, 
amadurecida santidade». Elle tambem descendente de nobre família, 
tambem elle de animo forte e generoso, fôra angelica flôr de pureza, 
aspirante aos mais sublimes ideaes; lutou largamente com um irmão 
seu dado á vida mundana e aos prazeres desenfreados; superou as in­
sidias de uma familia de hereges e de companheiros dissolutos; e 
confortado após pelo Pão Eucharistico, ministrado, não só uma vez, 
pela mão dos anjos, iniciou a pé grandes viagens, p ara seguir a vóz de 
Deus que o chamava a empresas mais nobres, e da Beata Virgem que 
o incitava para entrar na Companhia de Jesus; veiu a Roma, mas qua­
si sómente para daqui, logo após, subir á eterna Jerusalem, o mais 
moço dos Santos Confessores, consumido na idade de sómente 18 an­
nos, e noviço ainda, pelo fogo ardente da caridade. E parece que Deus 
quiz premiar em especial modo a força moral e a constancia de Esta­
nislau, tributando ao innocentissimo mocinho tanto esplendor de glo­
ria, afim de offerecer, mediante o seu patrocínio, invencível defesa 
á sua nação, ou melhor, á christandade inteira, contra o maior perigo 
daquella época: as incursões dos turcos. 
A sua intervenção prodigiosa nos críticos momentos da patria era 
tão evidente para todos, que o grande Cezar christão, João Sobieski, 
o libertador do terrível assedio de Vienna, não tinha duvidas em 
affirmar que as suas victorias se deveram, não tanto 4s suas armas, 
quanto á protecção de Estanislau. 
XVIII 
Queira Deus que, pelas supplicas juntas dos dous Santos, seja 
aos nossos moços concedida a graça de os emularem, desejando com 
melhor enthusiasmo, e alcançando mais rapidamente a conquista da­
quella unica grandeza christã, que é o belli!rsimo ornamento da pureza 
e da santidade. 
Auspice entretanto dos dons celestiaes, e penhor da Nossa pater­
nal affeição, a ti, filho dilecto, a todos os religiosos da Companhia de 
Jesus, e a seus alumnos, concedemos de todo coração a Benção 
Apostolica. 
DADO EM ROMA, JUNTO DE S. PEDRO, AOS 13 DE JUNHO 
DE 1926, ANNO QUINTO DO NOSSO PONTIFICADO. 
PIO XI PAPA 
�ida dt $. ( ttil fonzaDa 
ti' 
Duas palavras de apresentação 
31 de dezembro de 1926, haverá dois 
seculos que São Luiz Gonzaga rece­
•a='---·iTl beu da Santa Sé a suprema glorificação 
dos altares. 
Seculos de indizivel gloria no céu. 
s�culos de beneficios espalhados a flux 
pela terra. 
Seculos do mais fecundo apostolado pos­
thumo. 
. Ao côro que, por toda parte, se alevanta 
para enaltecer os meritos dêste anjo em carne 
humana, quiz eu tambem juntar a voz - voz 
fraca, insignificantes encómios ; ainda assim, 
voz animada do desejo mais intenso de ser util 
á no�a juventude sitiada ·de implacaveis inimi­
gos, que empenham todos os esforços em cor-
2 S. LUIZ GOXZ.\G.\ 
romper-lhe a innocencia, que _recorrem a to�os 
os ardis para: seduzi-la e apagar em 8eús arden· 
tes corações os mais sublimes, os unicos Impe­
recedouros ideaes. 
Pelo mundo alastra-se uma onda de impu­
reza e de descrença. Na guerra irreconcilia't-el 
entre o espírito e a carne, a carne - que fenece 
e morre Como- ílôr do campo - ameaça cada 
vez mais afogar as nobres aspirações do espí­
rito immortal. 
Para nossa juventude, que vive nessa atmos­
phera vicíada, é São · Luiz Gonzaga uma .vi_são 
do céu, a apontar, num horizonte que não -�ó
-
me, 
eternos destinos que não f enécem. A esses jo­
vens, mergulhados na materia, repete Luiz, com 
a irresistivel força do exemplo : 
O tempo é breve e passageiro, a eternidade, 
sem fim. 
E' uma bandeira, que chama em volta de 
suas dobras invencíveis, as almas que têm brios 
e estão f a mintas de pureza e de luz; 
as que ouviram ecoar, no _solemne silencio 
da prece, a meiga voz que os convidava a seguir 
as pisadas de Luiz nas regiões serenas e imper­
turbaveis do idealismo christão ; 
as que ardem no fogo abrasador do a pos­
to lado e querem, como Luiz, pelejar os heroi-
DUAS PM.AVRAS DE APRESF.NTAÇAO 3 
cos combates de Christo nas gloriosas phalan­
ges de Santo Ignacio, em alguma família reli­
giosa ou nas fileiras do clero secular ; 
as que vivem na terra para merecer o céu ; 
as que esquecem o transitorio para pensar 
no eterno. 
A estes, a todos nossos jovens vão estas pa­
ginas singelas proporcionar um instante de re­
colhimento intenso e de fervorosa prece, fóra do 
ruido que atordôa, fóra das perturbações que 
desasocegam, fóni. do mundo que seduz. 
Julho de 1926. 
Aug. Magne, S.]. 
PREFACIO 
L1 S vidas dos Santos são nórmas de bem vi­
p ver, e mostram o caminho direito do Pa­
raiso, com muito mais efficácia do que os livros 
escriptos e as palavras. As vidas dos Santos an­
tigos, como de pessôas muito afastadas de nossa 
época, comquanto perfeitíssimas, não teem para 
todo8 aquella força de mover que deveriam têr. 
Por isso, com particular Providência, Deus fáz 
que no jardim de sua Igreja brotem novas plan­
tas, floresçam novos Santos, que, pelo recto ca­
minho, chegam ao céu e nos mostram que não 
está encolhida a mão do Senhor e que, agora 
como sempre, se póde servir a Deus com santi­
dade e perfeição. 
, 
Estas palavras, com que o P. Cepári pre­
facia sua V ida de São Luiz, ouso eu, com teme­
ridade talvez, applicá-las ao presente escôrço 
biographico do amavel Santo. 
6 S. LUIZ Gú�Z.\G.\ 
Não duvido que desta leitura alguns jo­
vens côlham imp.ressõe� duradoiras, fortes reso­
luções. 
No emtanto, apenas sobre um ponto quizé­
ra, desde já, chamar a attenção dos que por Yen­
tura me lêrem. 
Póde-se �izer que o episódio mais saliente 
da vida externa de São Luiz foi a escolha do es­
tado. 
Altamente compenetrado do fim ultimo ao 
qual tudo na vida humana deve ser subordinado, 
com que esmero se não deu a encarar este pro­
blema capital! Que de preces não fez, que de 
lagrimas não derramou, que de asperrimas pe­
nitencias e sangrentas macerações se não impôz, 
para alcançar do Espírito Santo os raios illumi­
nadores de sua graça! E depois de sériamente 
tomada, aos pés do Crucifixo, nos degráus do 
Tabernaculo, a resolução definitiva, com que 
valor heroico soube vencer os mil obstaculos 
q�e se lhe oppunham, até vêr plenamente reali­
zado seu sublime ideal! E como ao pé delle 
desapparecem tantos jovens, em quem um leve 
sorriso de escárneo ou um simples mover de 
ombros, dissipa as primeiras velleidades de uma 
vida mais concorde com os princípios da fé. de 
que se proclamam inabalaveis observadores! 
PREFACIO 7 
Nem me digam: " São Luiz Gonzaga ha­
via nascido para Santo; não é, pois de extra­
nhar -que se deixasseatrair por um mystico 
ideal. . . Nós, porém, estamos contentes, com 
nos podermos salvar . . . " 
Por ventura, nascem alguns para santos, 
outros para medicos ou engenheiros? A verdade 
é que só os santos sabem em tudo harmonizar 
sua vida com os princípios da fé que professam, 
ao passo que nós, as mais das vezes, admittimos 
as verdades sohrenaturaes sem lhes tirarmos as 
consequencias praticas. Todos nascemos para o 
céo, e ao céo é que, na ordem da Providencia, 
deve levar toda a carreira conscienciosamente es­
colhida. Umas, porém, descrevem largos rodeios 
e estão cercadas de profundos ahysmos ou emba­
raçadas de mil impecilhos, que as tomam, mui­
tas vezes, impraticaveis. Mas ha, para cada um 
de nós, um caminho mais recto, mais livre, mais 
desimpedido. E este é o que devemos· escolher. 
Infelizmente, porém, hem poucos jovens en­
tendem a gravidade da escolha, e quasi todos 
costumam inverter os termos do problema, abra­
çando, sem mais, uma carreira qualquer, por 
motivos quasi sempre futilissimos, e ponderan­
do, depois, para socegar todo escrupulo da con­
sciencia, como n' aquelle estado poderão conse­
guir o· ultimo fim, salvar sua alma. A desfazer 
8 S. LUIZ GONZAGA 
este engano deveria bastar o simples bom senso, 
que nos induz a escolher não o estado em que 
rigorosamente nos possamos salvar, senão aquel­
le em que, dadas nossas condições particulares, 
nos poderemos salvar mais segura, facil e per­
feitamente. 
E para acertar num passo de tanta monta, 
o que antes de tudo cumpre fazer, é recorrer· 
com tempo a Deus, sem hesitações. " Atiremo­
nos com confiança ao seio de Deus, diz S. Agos­
tinho : Deus não se desviará para nos deixar 
cair, mas antes nos receberá em seus braços e 
socegará as perplexidades de nosso coração." 
Queira nosso angelico São Luiz inculcar a 
muitos jovens a importancia da verdade que aqui 
deixo levemente esboçada ! 
S. LUIZ GüNZAG.A 
I. NASCIMENTO E PRIMEIROS ANNOS 
DE SÃo Lmz 
�'� REZE annos após a morte de São Luiz 
.,. � '"i\\�'-''T" Gonzaga, sua imagem, cercada de 
��� luzes, era exposta á veneração dos fieis 
'�(� em Castiglione, cidade natal deste anjo, 
\ ·' como o chama a Santa Igreja. Dona 
Martha Tana, com o coração a transbordar de 
suavissima alegria, ajoelhara-se para orar ante 
a imagem do seu heroico filho: "O' mãe ventu­
rosa, exclamou então· o orador da festa, o P. 
Ugolitti, dominicano, lá no céo immortaes lau­
reis cingem agora a fronte de Luiz. Que filLo 
mais glorioso poderia desejar uma rainha ou 
uma imperatriz? Desappareçam pois deante de 
vós as mães dos conquistadores mais i Ilustres." 
lO S. LUIZ GONZAGA 
Nasceu Luiz Gonzaga aos 9 de março de 
1568, no castello de Castiglione, situado a pou­
cas leguas das cidades de Solferino e Villa Fran­
ca. Era o primogenito dos oito filhos do mar­
quez Fernando Gonzaga e de sua piedosa espo­
sa Martha Tana Santena. 
Os pacs <.lt• S. Luil 
D. Fernando Gonzaga, príncipe do Imperio 
e marquez de Castiglione delle Stiviere na Lom­
bardia,' era primo em terceiro grau do duque de 
Mantua D. Guilherme. 
Dona Martha descendia tambem das prin­
cipaes famílias do Piemonte e era prima-irmã 
do Cardeal J eronymo della Rõvere, arcebispo de 
Turim. 
O Marquez, que tinha abraçado com ardor 
a carreira das armas, tencionava fazer de Luiz 
PHDIEIROS ANXOS li 
um valente soldado e illustre cavalheiro. Muito 
din"'rsos, porém, eram os desígnios de D. Martha: 
fizera voto de ir em romaria a Loreto com seu 
filho, e desde o instante em que elle nascera o 
tinha consagrado a Deus e á Virgem Maria. Sen­
tia particular desejo de têr algum filho religioso, 
e firme nesta santa tenção, muitas vezes o pedia 
a Deus em suas orações. Os acontecimentos de­
monstráram que Deus a ouviu, porque este seu 
primogenito, como ao deante veremos, entrou 
mais tarde na Companhia de Jesus, onde viveu c 
morreu santamente. 
Muitas testemunhas depuzeram sob jura­
mento, no processo de beatificação e canoniza­
ção do nosso santo que, sendo elle ainda muito 
criança, se sentiam dominadas por um senti­
mento de grande respeito e veneração, quando o 
tinham nos braços : "Parecia-nos trazer não uma 
criança da terra, mas um anjo do céo!" Com 
effeito, Luiz conservou com tanto esméro a gra­
ça do baptismo, que este sentimento de venera­
ção e respeito se apoderava de todos aquelles 
com quem tratava, como havemos de ver no de­
curso de sua vida. 
12 
11. 
S. LUIZ GO::\Z.\GA 
PRIMEIRA EDUCAÇÃO DE S. LUIZ. V AE 
A CASAL m MoNFERRATo. SuA 
" CONVERSÃO". 
Desejava a marqueza, como pia senhora, 
que o filho se acostumasse desde pequeno ás 
praticas de piedade. Ella mesma lhe ensinou lo­
go o signal da Cruz, os nomes de Jesus e de .!\Ia­
ria, o Pater, Ave e outras orações : o mesmo que­
ria que fizessem as pessôas que o serviam e 
acompanhavam. O menino tornava-se tão devoto, 
que pela claridade daquella aurora, bem se po­
dia inferir quão grande havia de ser o esplen­
dor do seu meio dia. A mãe sentia nisto parti­
cular gosto, mas o marquez, que se prezava de 
seguir o caminho das armas, desejava que Luiz 
lhe seguisse o exemplo. 
Mal entrára Luiz nos quatro annos, quando 
o pae entendeu dever tira-lo da vida socegada 
da familia e inicia-lo na carreira militar. Rece­
bera D. Fernando ordem de Philippe 11 para 
reforçar com tres mil homens a expedição con· 
tra os Turcos de Tunis. Nesta occasião, mandou 
fazer para Luiz couraça, capacete e outras ar­
mas apropriadas ao seu tamanho, e o levou a 
Casal di Monferrato, onde devia assisrir ás ma­
nobras do exercito. Dur11nte a revista da� tropas, 
punha-o á frente das fileiras, revestido de uma 
SUA "CO:.;VERSAO" 13 
leve armadura e go!'tava de vêr o prazer com que 
o menino acompanhava os exercícios militares. 
Mas !IPmclhante vida não era isenta de pe­
rigos para a edade de Luiz. Pouco a pouco, o 
espiritó militar assenhoreou-se delle. Um dia, 
quiz tentar uma façanha. Na hora em que os 
soldados dormiam á sesta, corre ao acampamen­
to, passa de mansinho por meio delles, carrega 
uma peçasinha de artilharia · e deita-lhe fogo. 
Carrl')lH uma peçnslnhn ue al'tilharia ,. delta-llw fogo 
Poueo faltou para que a carreta, recuando com 
a descarga, o não esmagasse debaixo das rodas. 
O marquez, acordando com o estampido e sa­
bendo o que succedera, quiz castigar a criança .. 
mas os soldados, que gostavam de vêr tanto ar-
14 S. LUZ o_W)OZ,\(ii\ 
dor no joven principe, obtivéram-lhe o perdão. 
Mais tarde Luiz contava este facto como pro\'a 
da divina bondade, que o ]ivrára da morte, c 
a'ccrescentava ingenuamente : "Durante muito 
tempo affligiu-me o pensamento de ter tirado 
aquella polvora aos soldados, mas emfim con­
solei-me pensando que, se a houvesse pedido, 
elles de bôa vontade m'a teriam dado." 
A esta culpasinha, que o servo de Deus 
amargamente chorou, devemos accrescentar ou· 
tra, que, como elle mesmo disse, foi o maior pec­
cado de sua vida. Vivendo entre soldados, ouvi­
ra-os a miudo usar de palavras livres, como é 
costume de tal gente. Começou a repeti-las, sem 
saber o que significavam, mas, reprehendido um 
dia pelo aio, nunca mais as pronunciou, senão 
que as chorou toda a vida como um gravissimo 
peccado. 
Partindo o marquez para 'funis mandou le­
var Luiz a Castiglione, onde o menino seguiu o 
modo de viver apprendido em Casal. 
"Attingindo porém a edade de sete annos, 
conta o Cardial Bellarmino, seu confessor, Luiz 
consagrou-se a Deus com tanto fervor e genero­
sidade que, desde aquelle momento, não viveu 
s�náo para as consas divinas, (lesprezando e cal­
cando aos pés tudo o que o mundo ama e estima. 
15 
Disse-me el le proprio, muitas vezes, que o seti­
mo anno de sua edade fôra o de sua conversão. 
E desde aquelle momento abraçou a vida chri!';­
lan em toda a sua perfeição.'' 
Marcava desde então horas certas para a 
oração, e cada dia rezava, de joelhos e sem se 
encostar, o officio de Nossa Senhora e os sete 
Psalmos Penitenciaes. 
Depois da jornada de Tunis, o manJnez de­
morou-se cêrca de dois annos na côrtede Espa­
nha. Tornando ao seu domínio, não achou mais 
Luiz inclinado ás armas, como o deixára, mas 
lodo recolhido e devoto; pelo que tanto se admi­
rava 1le vêr nelle grande siso e circumspccção, 
eomo s� alegrava imaginando quanto seria apto 
para governar o seu marquezado. Mas o menino, 
eontando apenas oito armos, já tinha desígnios 
muito mais altos e de muito maior perfeição. 
Um dia resolveu abrir-se com sua mãe, á 
qual muitas vezes ouvira que, tendo-lhe Deus 
<lado outros filhos, se alegraria de vêr a algum 
d'elles religioso. "Senhora e mãe, disse-lhe es­
tando a sós com ella, costumaes dizer que g�sta�, 
rieis de têr um filho religioso. Creio que o Se· 
nhor vos f ará esta mercê." Tomando outro dia, 
a repetir-lhe no quarto as m�smas palavras, ac­
crescentou: " E creio que serei eu." A marque-
16 S. LUIZ GONZM<A 
za fingiu não lhe querer dar ouvidos, por ser 
elle o primogenito, ma8 começou a persuadir-se 
que assim seria, por vê-lo tão dado á devoção . . 
III. VAE A FLORENÇA. FAz voTo DE cASTIDADE 
DA SANTA VlDA QUE ALLI LEVOl' 
Tinha Luiz nove annos, quando o marquez 
D. Fernando o levou para Florença com Rodol­
pho, seu irmão menor, afim de que alli estudas­
sem latim e italiano, aos cuidados de Pedro 
Francisco dei Turco, homem de reconhecida fi­
delidade e prudencia. O santo menino ahi 
.
pas­
sou dois annos, durante os quaes fez grandes 
progressos nos estudos e tanto se adiantou na 
sciencia dos santos, que mais tarde costumava 
chamar Florença "mãe de sua devoção". Alli 
mesmo, em Florença, aos pés de uma imagem 
milagrosa, que representa a Annunciação de 
Maria, Luiz apprendeu a amar a Virgem-Mãe 
com um affecto verdadeiramente filiaL Diante 
daquella sagrada imagem, o coração puro de 
Luiz achava as suas delicias, porque hauria the­
souros de ternura e de amor para com sua Mãe 
do céo. 
Um dia, junto áquelle altar de Nossa Se­
nhora, entretinha-se na leitura dum opusculo 
sobre os mysterios do Rosario, escripto pelo P. 
·..;. LUIZ F.!\1 1-"I.ORENÇA 1 7 
Loarte, da Companhia de . Jesus, quando, dei­
xando subitamente de lêr,' levanta os olhos para 
a imagem e pensa um instante no que poderia fa­
zer para agradar á Virgem lmmaculada. Após 
um momento de reflexão, ajoelha-se e, sob o 
olhar de Maria, faz a Deus voto de perpetua vir­
gindade. Tinha então dez annos. 
;\jOf'lhu-sr e, sob o olhar de Mario, faz a Deus voto de 
prrpetun virgindude. 
A divina Mãe acceitou o voto do seu queri­
do filho e mostrou-lhe o contentamento que nis­
to tivéra, preservando-o de qualquer tentação 
eontra aquella virtude. 
Entretanto, posto que Luiz tivesse recebido 
de Nossa Senhora mercê tão assignalada, não dei­
xava de castigar sevéramente o corpo com jejum 
18 S . Lt;I7. GONZ.\(j!�; 
f" penitencias, para preservar de qualquer peri-' 
go a sua· pureza. Não· entraremos a pormenori· 
sar os rigores com que o santo crucificou seu 
eorpo innocente: hasta dizer que sua vida foi um 
perpetuo jejum e martyrio voluntario. 
Deste modo, ajudado da divina graça, Luiz 
Gonzaga alcançou aquelle profundo recolhi� 
mento na oração, que a todos causava espanto. 
"Tendo eu um dia perguntado, refere tl 
Cardial Bellarmino, como podia permanecer 
horas inteiras rezando sem se distrahir, respolt­
deu-me que não entendia -como se podiam têr 
distracções na presença de Deus. 
Com effeito, assim como na oração seu cor­
po permanecia immovel, assim o espírito se lhe 
fixava em Deus e não percebia nada do que se 
fizesse ao redor d'elle." 
Nestas communicações com Deus, recebia 
tantas graças, que as lagrimas lhe corriam de 
continuo pelas faces, e molhavam até o logar 
onde estava ajoelhado. 
Nem se julgue que a santidade lhe estor­
vasse os estudos, porquanto, desejoso de agradat· 
a Deus em todas as cousas, a elles se applicava 
com ardor, e não se avantajou menos na scien­
cia que no exercício das virtudes. 
Quando queria descançar o espírito, lia vi­
das de santos, escriptas por Súrio, ou os Evau-
S. l.t:ll'. DI F l.OHE� \.:.\ 19 
gelhos, ou rezava o Officio. Entretanto tambem 
se exercitava no apostolado : aos domingos e dias 
santos, reunia em tôrno de si alguns meninos, e 
explicava-lhes com uncção maravilhosa a dou­
trina christan, não esquecendo nunca alguns bons 
conselhos e palavras de animação. 
ll•·unla 111eninos e C'XJ)liCaY.;l-lhr.s n doul1·in<t christan 
Aos superiores era tão obediente que, co­
mo affírma seu aio, nem em cousas mínimas se 
apartava de suas ordens. Se via Rodolpho resen· 
tir-se com as reprehensões deste ou do mestre, 
logo com muito amor o exhortava á obediencia. 
Em Florença costumava confessar-se a miu­
do. Quando o fez pela primeira vez, sentiu tão 
sincera e profunda dôr, que caiu sem sentidos 
aos pés do sacerdote. O aio, tomando-o nos hra-
20 S. LUIZ GONZ.\GA 
ços, levou-o para casa e, recobrados que teve os 
sentidos, exprobrou-lhe tanta sensibilidade : 
"Agora, disse, · todos hão de crer que sua Alteza 
não tem coragem !" - "Ah, retorquiu o angeli­
co joven, Deu·s é tão bom e eu o offendi tantas 
vezes ! " Renovou depois a confissão, accrescen­
tanto mav; tarde que della tirára grande 
c�hiu s_.n1 �wntidos aos ))(··s 
do sacerdote. 
proveito. Abor­
recendo c a d a 
vez mais toda a 
sorte de conver­
sação e entre­
gando-se todo a 
Deus, determi­
nou afinal ce­
der o marque­
zado a Rodol­
pho e fazer-se re­
]igioso, não pa­
ra alcançai di­
gnidades, q u e 
sempre recusou, 
mas para poder com mais l iberdade occupar-se 
no divino serviço. Por isto pediu ao pae que o 
dispensasse das visitas á côrte, para poder appli­
car-se mais ao estudo, mas não lhe manifestou o 
proposito que formára de abraçar um esta�o de 
vida mais perfeita. 
J•HIMEIRA COMML'�IUO 2 1 
IV. PRIMEIRA COMMUNHÃO. TORNA A CASAL, 
CORRENDO NO CAMINHO GRANDE PERIGO. 
SuA vocAçÃo. 
Em Novembro de 1579, partiu Luiz para 
Mantua com seu pae nomeado governador de 
Monferrato ; mas, findo o inverno, tomou a Cas­
tiglione. 
Ahi estava sempre retirado, fugindo de con­
versações, par3: se poder dar todo á piedade. 
Achando-o Deus bem disposto, começou então a 
sêr-lhe mestre e director na pratica da contem­
plação e oração mental. As pessoas de casa viam 
o santo menino estar ás vezes horas inteiras aos 
pés de um Crucifixo, com os braços já abertos 
_já cruzados no peito, e outras vezes ficar immo­
vel, como que arrebatado em extase. 
Iniciado assim na pratica da meditação, 
mas não sabendo que ordem devia nella seguir, 
.�ncontrou um livrinho do Beato Padre Pedro 
Canisio, da Companhia de Jesus, no qual vinham 
flispostos alguns pontos de meditação. Este livro 
t' as Cartas da lndia muito o affeiçoaram á Com­
panhia : o livro, porque lhe agradava o metho­
(Jo e ainda mais o espírito com que estava escri­
pto ; as Cartas, porque por ellas sabia o que fa­
zia Deus por meio dos Padres da Companhia, 
naquellas regiões, para a conversão dos infieis. 
22 S. LUZ GONZAG .\ 
Entretanto o arcebispo de Milão, S. Carlc;.,; 
Borromeu, durante a visita pastoral passou por 
Castiglione e ahi teve noticias de S. Luiz. Dese· 
jou vivamente conhecê-lo e teve com elle uma 
longa conversa, que encheu de consolação a al­
ma do santo prelado, pois nunca vira tanta peJ.;• 
feição em edade tão tenra. Sabendo que aind•t. 
não fizera a primeira communhão, quiz propor­
cionar-lhe esta ventura, e foi das mãos do san· 
to cardeal que Luiz, após fervorosa preparação, 
recebeu, no seu casto peito, aquell� Deus que 
tanto amava. Este facto deu-se pelo meado dt� 
1580. 
Pelo fim do mesmo anno, D. Martha, Luit: 
e R.odolpho puzeram-se a caminho de Monfer­
rato, onde se achava então D. Fernando. Neste� 
viagem São Luiz correu grande perigo de vida . 
Ao passar a váo o rio Ticino, naquelles dias mui­
to augmentado pelas chuvas, o carro em que ian1 
Luiz, Rodolpho e o aio, no meio da correnk 
quebrou-se em duas partes : a da frente, em que 
estava Rodolpho, tendo ficado presa aos cavai. 
lo�;, poude attingir a margem opposta não sem 
trabalho e perigo. Quanto á outra, em qllf� ia 
Lui:r. com oaio, foi arrebatada pelo ímpeto dn_:-; 
aguas e levada pela correnteza, com manif estü 
perigo de ambos. Mas a Divina Providencia ve: 
Java sobre nosso santinho com particular sol í · 
PRil\IJo:IRA CO�L\fCSHXO 23 
Pri n1eira Connnunhõ.o de S. I .. u iz 
24 S. J.UIZ GONZAGA 
citude. De repente, um grosso tronco de arvore, 
levado até alli pelas aguas, fez parar o carro 
no meio do rio. Dalli tirados por um homem pra· 
tico do logar, foram todos juntos a uma igreja 
vizinha, afim de agradecer a Deus c á Virgem 
o têrem-n'os ]ivrado de tão grande risco. 
Esteve São Luiz em Casal mais de meio ao­
no. Continuou os estudos de latim e aproveitou 
ainda mais no espírito, com a companhia dos 
Padres, vulgarmente chamados Bamabitas. Con­
versando com elles a miudo e f requentando os 
Santos Sacramentos na sua igreja, adquiriu em 
pouco tempo luz muito maior para adiantar-se 
nos caminhos de Deus, e desapegar-se cada vez 
ma is de todas as cousas da terra. 
O marquez quiz distrai-lo com passatem· 
pos, mas ella não se deixou afastar dos costuma­
dos exercícios espirituaes. Seus divertimento:. 
"lram ir á igreja ou aos conventos dos religioso8 
e discorrer com elles das cousas de Deus. Admi­
rava aquella expressão de alegria que geralmen· 
1e via em todos, aquelle menosprezo das cousas 
temporaes, aquella observancia de tempos de­
t.�rminados para orar e psalmodiar, aqueHa 
tranquil1idade de suas casas, aquella indiffe­
rença completa ácerca da vida' e da mort�. Tudo 
lhP inspirava o desejo de escolher para si esta­
do semelhante. Um dia, entra em casa dos Bar-
A VOCA('.AO 25 
nabitas e, considerando que os religiosos, com 
renunciar a tudo por amor de Deus, obrigavam 
o mesmo Senhor a velar por elles, começa a re­
flectir, conforme ao que depois contou : "Vê, 
Luiz, que grande bem é a vida religiosa. Es­
tes padres estão livres de todas as ciladas do 
mundo e afastados de toda a occasião de pec­
car. O tempo que os mundanos perdem atraz de 
bens vãos e passageiros, atraz dos prazeres vis 
e enganosos, estes o empregam todo em conquis­
tar o Céo. Na verdade, são os religiosos que vi­
vem segundo a razão e se não deixam tyranni­
�r dos sentidos. Não desejam honras nem bens, 
nem invejam os que os teem, contentam-c;;e com 
�rvir a Deus, a quem servir é reinar. 
Que admiração pois, que estejam sempre 
alegres, sem temor da morte, nem do juizo, nem 
do inferno? E tu que fazes? Porque não poderás 
tamLem tu escolher este estado? Se te fazes re­
ligioso, córtas por todos os impecilhos, cerraR 
a po11a a todos os perigos, livras-te de torlo o res­
peito humano, e estarás em condição de gozar 
de inteiro repouso e servir a Deus com toda n 
perfeição." 
Depois de muitas preces e comm1mhões 
feitas para pedir ao Céu luz a este respeito, as­
sentou comsigo deixar inteiramente o mundo � 
entrar numa ordem religiosa. Como porém ape-
26 S. Lt.;IZ GO�ZAGA 
11as eontasse treze annos, acautelou-se sábiamen· 
le . de revelar o seu segredo a quem qu�r que 
fôsse. Começou a apertar mais o modo de viver 
e a seguir no século e na côrte vida de religioso. 
Muito mais do que antes, conservava-se retirado 
no aposento, fugindo tambem de ir aonde hou· 
vf'sse concurso de gente, e ainda mais s� esqui · 
vava de comedias, banquetes e festins, aos quae!' 
nunca foi, apesar do enfado que nisto sentia seu 
pae . 
Em summa, póde-se dizer que passou a me­
uinicc� sem sêr menino, pois nunca se notou nelle 
a menor leviandade. Discorria tão judiciosamen­
te �obre as virtudes e assumptos espiritw.lf"í', qu� 
Lodos se espantavam de sua muita eloquencia e 
fervor, dizendo que tal sciencia parecia infusa, 
por exceder a capacidade de creança. Dahi vi­
nha lambem que os de casa, embora reparassem 
eomo procedia, e não gostassem de vêr tanta 
reclusão e austeridade de vida, comtudo, admt· 
rando-1he a singular prudencia e virtude, não 
ousavam perguntar-lhe porque fazia isto ou 
aquillo, mas o deixavam livre em suas devoções. 
"' · IXIZ EM CAS"I'l"GI.I0:\1-: 
Y. VoLTA A CASTICLIONE. CoM:o Freou LIVRE 
DE UM INCENDIO. 
Terminando o marquez D. Fernando o prazo 
tio seu governo em Monferrato, voltou com a fa­
rniJia a Castiglione. Ahi a Divina Providencia 
ia tirar Luiz de não menor perigo que o passado 
ao atravessar o Ticino. Costumava elle levantar­
se todas as noites para meditar e orar, sempre de 
joelhos ; muitas vezes, extenuado pelo jejum e 
penitencias, caia por terra, continwfndo deste 
lll<'Ôo a oração que não queria interromper. 
Uma noite, sentindo-se extremamente can­
sado, deitára-se bastante cêdo, e, lembrando-se 
IJUC naquelle dia não tinha rezado os sete Psal­
mos Penitenciaes, quiz antes cumprir com esta 
devoção. Mal findára, quando, vencido pelo 
!'-omno e pela dôr de cabeça, adormeceu, esque­
cendo-se de apagar a vela,. que de todo se con­
sumiu e acabou por pegar fogo á cama. O in­
cendio, lavrando pouco a pouco, foi queimando 
o · cortinado, o enxergão e tres colchões. Desper­
tou Luiz e sentindo-se todo abrasado, julgou que 
tinha febre, mas percebendo logo o que se pas­
sava, pulou da cama e abriu a porta do quarto, 
para chamar os creados. Apenas esteve no limiar 
da porta, levantou-se uma grande labareda que 
queimou o restante do leito. Acudiram logo os 
28 S. LUI� GONZ.\G,\. 
soldados e atiráram a cama pela janella, afim 
de não pegar fogo á casa. Sem a menor duvida . 
se Luiz se houvesse demorado mais um instante 
a sair da cama, seria reduzido a cinzas pelo 
fogo ou suffocado pelo fumo. A noticia deste 
acontecimento espalhou-se logo, e conhecida na 
côrte de Mantua, a duqueza Leonor de Austria 
quiz ouvir do proprio Luiz os pormenores d(> 
facto. Elle não hesitou em reconhecer a prote­
cção milagrosa da Divina Providencia, e accres­
centou sirrgelamente: "Nunca recommendei a 
Deus cousa alguma, quér grande, quér pequena, 
sem alcançar o fim que desejava, ainda que não 
poucas vezes se tratasse de negocios embaraça­
dos com muita difficuldade e, no parecer do,., 
homens, quasi inteiramente perdidos." 
VL S. LUIZ NA CÔRTE DE ESPANHA. SEl�S 
ESTUDOS E MODO DE VIVER EM MADRID. · 
Em 1581, encontramos São Luiz na côrte 
de Felippe 11 de Espanha. A imperatriz Dona 
Maria de Austria, viuva do imperador Maximi­
liano 11, passando pela Italia em demand<l da 
Espanha, manifestára o desejo de levar com­
sigo Dona Martha, o marquez D. Fernando e 
seus tres filhos. Este foi o motivo que naquelle 
S. u;Iz EM ESPANHA 29 
anno conduziu a família Gonzaga para a Espa­
nha . 
Chegados á côrte, o marquez proseguiu no 
seu antigo officio de camareiro, e foram Luiz e 
Rodolpho nomeados meninos, isto é, pagens de 
honor do príncipe D. Diogo, filho de Felippe IL 
Nos dois annos que alli esteve Luiz applicou-se 
lambem aos estudos, com grande diligencia. Re­
cebeu lições de Lógica e Mathematicas, e todos 
os dias ia a uma aula de Philosophia e Theolo­
gia natural de Raymundo Lullo. 
Aproveitou tanto que, passando por Alcalá 
e sendo convidado para argumentar naquella 
idade tão juvenil, na presença do P. Gabriel Vas­
quez S. 1 ., a todos deixou maravilhados. 
Entre as occupações da côrte e dos estudos, 
advertiu a principio o nosso santo joven, que 
não tinha a commodidade que desejára, para en­
tregar-se á vida espiritual como dantes. Algumas 
vezes não lhe sobrava tempo para as orações 
costumadas e f requencia dos Santos Sacramen­
tos, de modo que . parecia ir esfriando no primi­
tivo fervor e desejo de deixar o mundo, e já não 
sentia aquelles vivos e abrasados affectos que 
antes experimentava. Todavia, ajudado da gra­
ça divina, resolveu romper com todo o respeito 
humano e mesmo na côrte levar vida santa e re­
ligiosa. 
3o S: "LI:IZ GONZAGA 
Com este intento foi têr com seu confe&<>or, 
o P. Francisco Paterno, S. J., e, seguindo seus 
conselhos, continuou a cmnmungar com fr·equen­
cia e a consagrar largas horas á oração, afas­
tando-se o mais possível das festas da côrte. 
De resto, tão admiravel foi sempre sua mo­
.destia, que durante a viagem da ltalia para a 
Espanhà, e no tempo quealli esteve, confessou 
que nunca lt:vantára os olhos para a imperatriz, 
sendo que cada dia tinha occasião de a vêr : não 
poderia, portanto, reconhecê-la entre as outras 
senhoras da côrte. 
Acostumára-se desde pequeno a guardar 
com extraordinaria diligencia seus sentidos, es­
pecidmente os olhos, que conservava sempre 
mortificados, para não acontecer que fixassem 
algum objecto de qualquer modo offensivo da 
�anta virtude da pureza. Por esta razão, andava 
�empre de olhos baixos pelas ruas. Se ainda por 
brinquedo lhe diziam cousas que cheirassem a 
pouca modestia, logo corava e mostrava no sem­
blante intimo sentimento. Quando lhe falavam 
de cousas espirituaes e contavam que alguem en­
trára numa ordem religiosa, mostrava grande 
jubilo e dizia suspirando: " Oh! como devem ser 
grandes as alegrias do céo, se só a falar dellas 
na terra se experimenta tanta consolação ! " 
A COMPANHIA DE ,JESUS 3 1 
Quando vivia em Florença, numa côrte 
mergulhada nas delicias e opulencias, o angelica 
Luiz se consagrára a Deus com o voto de casti­
dade. Agora, cercado das magnificencias reaes 
de Madrid, vae dar mais um passo, remmcian­
do a todas as grandezas terrestres, para perten­
: ·er só a Jesus na Companhia de seu nome. 
VII. RAzÕES QUE O MOVERAM A ENTRAR NA 
CoMPANHIA DE JEsus. MANIFESTA A 
VOCAÇÃO AOS PAES. 
Estava já São Luiz, havia anno e mew, na 
Espanha, quando, animado cada vez mais do 
Espírito Santo, julgou chegado o tempo de en­
trar em religião. 
Querendo escolher a Ordem que lhe con­
vinha, deu-se mais que nunca á oração, pedindo 
luzes a Deus. Como era muito austéro e dado �s 
penitencias, sentiu-se, a principio, inclinado 
para os Franciscan"as Descalços ; mas deixou 
este plano, temendo, por sua fraca compleição, 
não poder resistir ás regras e têr que sair do 
convento. Deixando lambem de parte muitas 
ordens que não pareceram conformes á sua in­
clinação, por se darem puramente á vida activa 
e ao exercicio das obras de misericordia corpo-
32 S. I.l.:Iz GO�ZAGA 
ral, viu outras religiões que na solidão gozam 
de um santo socêgo, occupando-se só da perfei­
ção da propria alma, entregando-se todas ao 
canto dos Psalmos, á leitura espiritual e contem­
plação das cousas de Deus e do céo. Para estas 
sentia grande attractivo, porém, tendo em vista 
não só o proprio descanso e a gloria de Deus, 
mas a nwior gloria de Deus, viu que na solidão 
occultaria talentos recebidos para p�der apro­
veitar ás almas. 
Dizem tambem que lêra em São Thomaz 
que teem a palma das religiões aquellas que, a 
exemplo de Jesus Christo, alliam a vida contem­
plativa á activa, attendendo não só á propria 
salvação e perfeição, mas tamhem á salvação e 
pé-feição do proximo. 
Muitas são, na Igreja, estas religiões de 
vida mixta santamente observantes, cada uma 
segundo o seu instituto. Luiz, depois de compa­
rá-las, julgou bem escolher a Companhia de 
Jesus, então á mais recente, tendo-a como muito 
adequada ao seu proposito. Entre outras razões 
que o moveram a esta preferencia, quatro havia 
que, como elle mesmo dizia, lhe deram grande 
consolação. A primeira, que nella a observancia 
estava em seu primitivo vigor; a segunda, por­
que na Companhia se faz particular voto de 
nunca procurar dignidades e de não as acceitar 
A COMPANHIA DE JESUS 33 
l{Uando offerecidas, senão por ordem do Santo 
Padre. Temia que, entrando nalguma outra or­
dem, fosse um dia tirado della, a pedido da fa­
mília, e promovido a alguma prelazia, o que 
viria mais difficilmente a dar-se, se entrasse na 
Companhia. Outro motivo era vêr na Compa­
nhia tantas escolas e congregações para ajudar 
a mocidade a criar-se santamente no temor de 
Deus : e achava que se presta grande serviço á 
Igreja e a Deus cultivando-a, defendendo-a com 
os anteparos dos bons conselhos e dos Santos 
Sacramentos. A quarta razão era porque os Pa­
dres da Companhia se dedicam particularmente 
a trazer ao gremio da Igreja Catholica os herejes 
e a trabalhar pela conversão dos gentios do Ja­
pão, das Indias e do Novo Mundo ; e assim tinha 
esperança de sêr algum dia mandado áquellas 
partes, para converter almas á nossa santa fé. 
Revolvendo na sua mente taes idéas e de­
terminado a deixar o mundo para melhor ser· 
vir a seu Senhor, quiz certificar-se ainda mais da 
dh·ina vontade em relação a si. 
Era o dia da Assumpção de Nossa Senho­
ra, 15 de agosto. Luiz, preparado com fervoro­
�as preces e com angelica devoção, approximou· 
se da Sagrada Mesa Eucharistica. Emquanto, 
por intercessão da Virgem, pedia instantemente 
a Deus a luz de que precisava, sentiu-se movido, 
34 S. LUIZ GONZAGA 
no intimo da alma, a entrar na Companhia de 
Jesus. 
Levantou-se . e correu, muito alegre, a re­
ferir ao confessor o que se passára. O Padre re­
conheceu que a vocação era divina, mas accres­
centou que elle deveria alcançar licença do mar­
quez, seu pae, para poder entrar na Companhia . 
Naquelle mesmo dia, Luiz se abriu com a mãe. 
O tuarquez expulsou-o com pnlavras duras c aspe1·as 
Esta experimentou grande alegria ao saber da 
resolução do filho, dando graças a Deus, , e co­
mo Anna, mãe de Samuel, de bôa vontade o o f­
fereceu e consagrou todo á Divina Majestade. 
l . liTANnO J'EL!\ VOC/Ir.ÇÃO 3S 
Pouco tempo depois Luiz, com o maior res­
peito e humildade, expoz ao pae o seu intento. 
O marquez, fóra de si, expulsou·o com palavras 
duras e asperas, ameaçando mandá-lo açoitar. 
"Prouvéra a Deus, respondeu mansamente o 
Santo, padecer eu tal coisa por seu amor! " 
Fernando Gonzaga reconhecera em seu pri­
mogenito grandes dotes de espírito e de cora­
ção, e destinava-o a sustentar o brilho do seu no­
me e a continuar gloriosamente as tradições da 
familia. Por isso, ao saber da resolução do filho, 
ficou inconsolavel e lançou mão de todos os 
meios para fazer com que elle desistisse de tal 
determinação, empregando ora ternas supplicas, 
ora desusado rigor. 
VJII . LuTANDo PE LA vocAçÃo. 
Em 1584, voltou a família Gonzaga para a 
ltalia : lá devia São Luiz sustentar os mais terrí­
veis combates. Apenas de volta a Castiglione, 
D. Fernando determinou que fosse com Rodol­
pho, cumprimentar, em seu nome, todos os Prin· 
cipes e Senhores de Italia. Esperava deste modo 
tirar-lhe a idéa de entrar em religião. Obedeceu 
o nosso santo e supportou com coragem mais es­
ta prova. A sua viagem foi uma continua oração 
36 S. LUIZ GONZAGA 
e nunca deixou os costumados jejuns e peniten­
cias. De volta a Castiglione, o marquez o achou 
mais firme do que nunca em seus designios. Foi 
então que o pobre Luiz soffreu varios assaltos 
de grandes personagens, quér parentes quér ami­
gos. Entre estes, o duque de Mantua mandou a 
Castiglione um bispo, para dizer-lhe que ao me­
nos escolhesse sêr ecclesiastico no mundo ; pois 
não faltavam exemplos de santos, tanto antigos 
como modernos (qual o Eminentíssimo Cardial 
Carlos Borro meu) que investidos de dignidades 
ecclesiasticas, tinham sido mais uteis á Igreja 
que muitos religiosos. O duque promettia, de 
sua parte, empregar toda a diligencia para que 
Luiz fosse promovido aos cargos mais honrosos. 
A resposta do santo f oi que, tendo renun­
ciado ás regalias de sua casa, renunciava lam­
bem ás mercês de sua Alteza, e dizia que a ra­
zão particular de têr escolhido a Companhia, 
fôra por não acceitar dignidade alguma, deter­
minado como estava a não querer senão Deus 
nesta vida . 
Semelhante resposta deu a outros, alguns 
dos quaes, ao vêr que uma vocação tão firme 
não podia deixar de ser verdadeira, acabaram 
trocando a embaixada e indo falar a D. Fernan­
do em favor do filho. Nem por isso perdeu o 
marquez a esperança de dissuadi-lo. 
LUTANDO PELA VOCAÇÃO 37 
Estando um dia de cama com gôta, per­
guntou a Luiz que determinação havia tomado. 
Respondeu elle, respeitosa mas claramente, que 
sua intenção era e fôra sempre servir a Deus na 
religião. 
lrou-se muito o pae e mandou que saísse 
de sua presença e não tornasse a apparecer-lhe 
deante dos olhos. O joven, tomando estas pala­
vras comoordem, retirou-se a um convento, a 
uma milha de Castiglione. 
Passados porém alguns dias, o marquez o 
mandou chamar e o reprehendeu do atrevimento 
de sair de casa sem sua l icença. Luiz respondeu 
que assim fizéra por cumprir seu mandado. D . 
Fernando ordenou então que se retirasse, c o 
santo baixando a cabeça, disse : "Por ohedien· 
. " cta vou. 
Chegando ao quarto pôz-se a orar e a pedir 
a Deus constancia no meio de tantos trabalhos. 
O marquez, receiando têr maguado o filho, man­
dára entretanto que o aio fosse ver o que Luiz 
fazia ; o aio, olhando pelas gretas da porta, viu-o 
a açoitar-se rijamente as costas ao pé de um 
Crucifixo. Tornando com as lagrimas nos olhos 
para D. Fernando, contou-lhe o que · se passava. 
O pae mal o creu, mas avisado no dia seguinte 
que a scena se repetia, fez-se. levar em uma ca­
deira á porta do quarto de Luiz e espreitando 
38 S. LUJZ GONZA.GA 
pela fenda, eonveneeu-se de que lhe haviam dito 
a verdade. 
Em consequencia de espectaculo tão com­
movente e das instancias do filho, resolveu por 
fim dar o desejado consentimento. Escreveu lo­
go Luiz ao Padre Geral da Companhia, para 
pedir a admissão, recebendo pouco depois res­
posta affirmativa. Cheio de jubilo apressou-se 
a agradecer : '' Faltam-me palavras com que dat 
a Va. Rcia. as graças por tão grande favor. Se 
não sigo logo para Roma, é porque meu pae 
exige uma renuncia em forma de todos os meU!o 
direitos em favor de Rodolpho. Para isso é ne­
cessario o consentimento imperial , mas espero 
concluir tudo quanto antes . . . 
IX. E' MANDADO A MILÃO. 
Emquanto se tratava da renuncia, foi São 
Luiz mandado a Milão, afim de, em nome do 
pae, tratar de certos negocios summamente im­
portantes. 
Demorou-se nove meses naquella cidade, 
não deixando passar occasião alguma de calcar 
aos pés as pompas mundanas. Um dia de Car­
naval, fazendo-se em Milão um grande torneio, 
em que concorriam os jovens fidalgos montadof' 
F.S'IUOOS K'>l :MILÃO 39 
6m cavallos ricamente ajaezados, elle, para 
morrer mais ao mundo, resolveu ir tamhem. 
Compareceu, para humilhar-se, cavalgando um 
jumento oniinario, acompanhado apenas por 
dois criados, e assim atravessou as ruas cheias 
de todos aquelles cavalheiros. 
Hesu] VI"U il· C'�n·algandQ ll lll junw11h1 urdiuar·i«; 
Nem foi perdido o tempo all i passado. por­
que, tendo cursado toda a Logica na Espanha, 
como dissemos, estudou Physica em :Milão, no 
Collegio Brera dos Padres da Companhia ; e co­
mo tinha bella intell igencia e era diligentü:si­
mo, muito aproveitou. 
Assistia todos os dias de �anhã e de tarde 
ás aulas, e quando pelos negocios era obrigado 
a faltar, mandava que lhe escrevessem a lição, 
40 S. LUIZ GONZAGA 
para poder estuda-la em casa. A's disputas não 
só queria estar presente, mas argumentava e de­
fendia theses como os outros estudantes, não 
querendo isenção alguma em seu favor. 
Na argumentação mostrava a agudeza de 
seu engenho, porém com tanta modestia o f azia 
que, como testifica o proprio mestre, nunca dei­
xou escapar palavra inconsiderada, nem alguma 
leviandade de rapaz, quér nos gestos, quér no 
f alar. Esta singular modestia, que brilhava em 
todas as suas acções, o tornára mui querido de 
lodos. 
Ouvia, além disto, u� curso de Mathema­
tica no mesmo collegio, e como o lente a não di­
tava, elle para se não esquecer, logo em tomando 
á casa, a ditava a um camareiro, com tanta fa­
cilidade, clareza e felicidade, que quando estes 
apontamentos foram mostrados em ·Castiglione 
ao P. Virgílio Cepári, o padre ficou admirado, 
vendo que Luiz nunca se esquecera da demons­
Lração nem trocára � numeros, as medidas, as 
contas, os pontos, as ' linhas e os termos proprios 
d'aquella sciencia . ' 
A CAMINHO DE ROMA 
X. NovA OPPOSIÇÃo DO PAE. VIcTORIA 
FINAL DE LUIZ 
4 1 
Era j á chegada a licença do imperador para 
a renuncia ; e, tendo Luiz dezesete annos com­
pletos, esperava a cada momento ser chamado 
pelo pae a Castiglione e poder finalmente voar á 
Companhia de Jesus. 
Senão que, de improviso, chega a Milão o 
marquez D. Fernando e lhe pergunta o que de­
terminava fazer. Porém, achando-o inaLalavel, 
concebe grandíssima afflicção. Mostra-lhe pri ­
meiro indignação e resentiÍnento ; depois, come­
ça a falar-lhe amorosamente, dizendo que "não 
era cl1e tão mau christão que quizesse offender 
a Deus nem ir de encontro á divina vontade. 
Comtudo, accrescentou, a razão me dita ser 
aquelle desígnio mais um capricho que chama­
mento divinõ, porquanto a piedade filial e o 
proprio serviço de Deus exigem justamente o 
contrario." Mostrou-lhe a bôa natureza que ha­
via recebido de Deus, quasi inteiramente isenta 
do perigo de ser desviada do bem, de modo que 
não devia ter medo de ficar no mundo, onde po­
deria viver como um religioso. 
Recordou-lhe mais a reverencia e affecto 
que lhe consagravan� seus vassalos e como descr­
javam ser governados por elle, ao passo que Ro-
42 S. LUIZ GONZAG,\ 
rlolpho, a quem queria passar o estado, por ser 
de natureza muito ardente e ter pouca idade, 
não revelava tanta aptidão para o governo. Fi­
nalmente : " Vê, disse, como estou doente. Se en­
tras rw Companhia, sobrevirão negocias a que 
wo poderei attender, e succumbirei a tantos 
:nales e desgostos, de modo que serás causa de 
1ninha morte." Dizendo isto prorompeu num 
grande pranto, accrescentando outras palavras 
eheias de dôr e de affecto. 
Respondeu o santo que conhecia seus deve­
res, e que se não fosse chama-lo Deus a outro 
estado, faria mal em não obedecer aos conse­
lhos de seu pae, mas que querendo seguir o im­
lmlso do Espírito Santo, Nosso Senhor, que tudo 
vê e sabe, haveria de dispor as cousas do melhor 
moc.lo, em relação ú casa e estado de sua família. 
Vendo o marquez ao filho convencido de 
que Deus o chamava, achou ser neCPSSario tira­
lo desta crença e o mandou examinar na sua pre- . 
sença durante uma hora, pelo P. Achilles Ga­
gliardi, S. J. Findo o exame, o marquez, persua­
dido de que a vocação era verdadeira, disse a 
Luiz que, terminados os negocias, partisse para 
Castiglione, afim de dar cumprimento á renun­
Cia . 
Quando veiu () tempo de sair de ·Milão, 
Luiz, presagiando alguma nova borrasca, resol-
.\ CAMINHO DE I\OMA 43 
veu fazer primeiro os Exercícios esp1ntuaes de 
S. lgnacio no collegio da Companhia de Mantua, 
parte por consolar-se, parte para confirmar-se 
na vocação. 
Chegando a Castiglione, o pae, constrangi­
do a dar o sim ou o não, respondeu que nada 
sabia de ter concedido alguma licença, nem a 
daria, emquanto a vocação não amadurecesse 
mais e elle tivesse forças para segui-la : devia, 
pois, esperar até os vinte e cinco annos pelo me­
nos. Luiz ficou corno semimorto ao ouvir tal res· 
posta, e retirou-se ao quarto para chorar e re· 
commendar-se a Deus. 
E assim, constrangido pelo pae a respon­
der logo, disse que embora nada o maguasse 
tanto, comtudo, por amor ao pae, a quem de­
via obedecer, e por seguir o conselho do P. Ge­
ral, de buscar por todos os meios o consentimen-
1 to paterno, condescenderia com duas condições : 
primeira, que o tempo da espera iria passa-lo 
em Roma, para melhor conservar a vocação ; se­
gunda, que o ;rnarquez daria desde já uma licen­
ça escripta ao P. Geral para o tempo que tinha 
determinado. Cedeu por fim D. Fernando, não 
sem muito relutar. 
Todavia, como surgissem algumas diffieul­
dades ácêrca da estada em Roma, Luiz, cohran-
44 S. LUIZ: GONZAGA 
do novo fervor, augmenta penitencias e orações, 
e prepara-se para um lance decisivo. 
Um dia, permanecendo sempre D. Fernan­
do de cama por causa da gôta, entra-lhe o joven 
no quarto, e, com grande energia e seriedade, 
diz: "Senhor pae, entrego-me inteiramente nas 
vossas mãos, mas protesto-vos que fui chamado 
Vnc, nl!eu f lho, paro onde o Senhor te chaDlU 
por Deus á Co111panhia de Jesus, e que fazendo 
opposição a este desígnio, resistis á vontade de 
Deus. " 
ADRUS AO MUNDO 45 
Dito isto, saiu do quarto sem esperar a res­
posta . O marquez ficou tão impressionadoque 
não soube articular palavra. Começou então a 
ter escrupulo da resistencia que fizera, e depois 
de chorar largo tempo, pela dôr que sentia em · 
perder tal filho, mandou que o chamassem: "Fi­
lho, disse, meu coração sangra de dôr pela tua 
resolução. Amo-te, e este amor tu o mereces; em 
ti puzera todas as esperanças da fa-milia; mas 
visto que outra é a vontade de Deus, vae, men 
filho, para onde o Senhor te chama, e eu te dou 
a minha benção." 
Agradeceu o santo em poucas palavras, e 
indo para seu quarto, pôz-se a dar muitas gra­
��as a Deus, pelo feliz exito de suas supplicas e 
a off erecer-se-lhe todo em holocausto. 
XI. RENUNCIA AO MARQUEZADO E PARTE 
PARA RoMA. 
Pouco depois, partiu finalmente Luiz com 
D. Fernando para Mantua, onde, no dia 2 de no­
vembro de 1585, em presença dos parentes mais 
proximos da f amilia Gonzaga, que deveriam 
succcder á descendencia do marquez, se esta se 
estinguisse, foi firmado solemnemente o acto da 
renuncia. 
46 S. LVIZ GONZAG.\ 
Feito isto, retirou-se Luiz por alguns ins­
tantes, e de repente appareceu vestido com a 
roupeta de Jesuíta, na sala de jantar, onde os fi­
d'l]gos estavam reunidos. 
A tal vista, jorram lagrimas dos olhos de 
todos e o marquez D. Fernando prorompe em 
novas exclamações e gritos de dôr. Luiz appro­
xima-se, beija-lhe a mão, consola-o e depois fala 
com tanto acerto e autoridade dos perigos do 
mundo e difficuldades que teem os príncipes c 
senhores para se salvarem, que todos os que o 
ouviam ficaram admirados. 
Ao dia seguinte, Luiz, ajoelhado deante de 
seu extremoso pae e da piedosa mãe, pedia-lhes 
humildemente a benção antes de partir. D. Fer­
nando e Dona Martha, com o rosto banhado em 
amargo pranto, abençoaram e apertaram ao co· 
ração aquelle filho, que os ia deixar. Feita!ÕI as 
despedidas, o santo mancebo, com o coração 
cheio da mais celestial alegria, pôz-se a caminho 
para a Cidade Eterna. 
Chegado a Roma, hospedou-se em casa do 
Patriarca Scipião Gonzaga, seu tio. No dia 19 
de novembro, foi admittido á presença do Papa 
Sixto V. O Santo Padre fez-lhe varias pergun­
tas ácêrca da vocação, ás quaes elle respondeu 
tão acertadamente, que fez em todos os prest"n• 
tes optima impressão. De resto, os Cardeaes a 
.\ D E u S AO MUNDO 47 
quem, naquelles dias, visitára e que tiveram en­
sejo de conversar com elle, apregoavam :1 l ta ­
men�e as suas virtudes, que transpareciam nas 
maneiras modestas, nobres e delicadas, no juizo 
recto e na sabedoria de suas palavras. 
S. Luiz recebido na Companhia de Jesus 
"Causa pasmo, referia mais tarde o Car­
deal Scipião Gonzaga, vêr como elle, tão moço 
ainda, sabe pesar e calcular tudo o que diz, a 
ponto de nunca proferir palavra que se não dis­
tinga pela sua precisão e conveniencia!" 
'46 S. LUIZ GONZAGA 
XII. ENTRA NA CoMPANHIA DE JEsus. 
SUAS VIRTUDES. 
No dia 27 de novembro, inundado de gozo, 
aportava finalmente ao termo de seus votos o 
nosso santo joven, a quem aquelle passo pare­
cia a entrada para o paraiso. Do seu coração 
transbordou então este versículo das Escriptu­
ras, que por certo bem traduzia os seus sentimen­
tos em tal circumstancia. "Aqui será o meu des­
canso para sempre; aqui habitarei, pois escolhi 
este logar para morada." 
Despediu-se então dos ecclesiasticos e fi­
dalgos que o acompanhavam. "Ide, disse-lhes, e 
levae a meu pae, como ultima lembraru;a, esta 
sentença dos Livros Santos : Esquece teu povo e 
a casa de teu pae. E a Rodolpho est'outra: Quem 
teme a Deus, pratica a virtude." 
O patriarca Gonzaga, que conhecia Luiz 
desde sua meninice, não podia conter as lagri­
mas : "Meu filho, disse-lhe commovido, esco­
lheste a melhor parte, reza por mim!" e depois, 
dirigindo-se aos padres presentes, accrescentou : 
"Posso assegurar-vos que hoje recebestes um 
anjo do Céu." 
Luiz, ficando só , ajoelhou-se e , cheio de 
consolação, agradeceu a Deus, com lagrimas de 
amor, havê-lo tirado do Egypto e trazido á terra 
S. LUIZ RELIGIOSO 49 
da Promissão, que mana o leite e o mel das do­
çuras celestiaes. Offereceu-se e consagrou-se to­
do á Divina Majestade, pedindo graça para ha­
bitar dignamente na casa do Senhor, perseverar 
e morrer no seu santo serviço. 
Contava dezesete annos, oito mezes e deze­
seis dias de idade. O povo christão celebrava 
nesse dia a festa de S.Catharina, Virgem e Mar­
tyr. 
D'alli em diante, Luiz Gonzaga não pas­
sa de um humilde noviço da Companhia de 
Jesus, desejando ser tido pelo ultimo da casa, 
julgando os outros superiores a si e nutrindo 
uma santa inveja para com aquelles aos quaes 
tem na conta de mais virtuosos e amigos de 
Deus. Desde os primeiros dias, resolveu confor· 
mar-se em tudo com a vida commum. Em vão 
os Superiores, receiando que uma tão repentina 
mudança de regimen causasse algum mal á sau· 
de, lhe propuzeram que abraçasse pouco a pou­
co e brandamente as obrigações da regra, pois 
tinha a constituição debilitada pelos rigores da 
penitencia e pelas lutas terríveis empenhadas 
para salvaguardar a sua vocação. 
Nosso santo esteve tão longe de acceitar es­
ses favores, que supplicou aos Superiores não 
usassem para com elle de nenhuma considera· 
ção, antes em tudo o humilhassem, porque assim 
50 S. LUIZ GONZAGA 
gozaria da felicidade de ser verdadeiro noviço 
da Companhia. "Póde haver para mim, dizia el­
le, maior consolação do que ser o ultimo nesta 
casa abençoada, para onde Deus me conduziu ao 
sair do Egypto? " 
Julgava obrigação não só expiar, como se 
fôra peccado, o seu titulo de príncipe, mas ain­
da procurar que seus irmãos lhe perdoassem 
esse cnme. 
"Só póde haver verdadeira grandeza, dizia, 
na continzia immolação que o religioso faz da 
vida, pela gloria de Deus e em vista da eterni­
dade." 
Guiado por estes princípios, mortificava 
continuamente o amor proprio e a vaidade, per­
suadido de que estas victorias são mais uteis e 
mais importantes que as austeridades corporaes. 
Por esta razão pedia a miu�o ao Superior licen­
ça para sair pelas ruas de Roma, com vestidos 
pobres e remendados e de alforge ás costas, e 
assim pedir humildemente esmola pelas portas. 
Perguntaram-lhe uma vez se sentia repugnancia 
naquillo. Respondeu elle que não, porque tra­
zia sempre o exemplo de Jesus Cliristo deante 
dos olhos : De resto, accrescentou, não é porven­
tura glorioso abraçar a pobreza de Nosso Se­
nhor?" 
S. LUIZ RELIGIOSO 5 1 
Na obediencia não era menos perfeito. "Du­
rante todo o tempo que vivi com elle, conta o 
Bemaventurado Cardeal Bellarmino, nunca lhe 
ouvi uma palavra de queixa ou uma observação 
contra as ordens dos Superiores." Sentia parti· 
cular contentamento nos officios humildes. 
Pediu. huin i l tl('lllPJlte, esnwln pelas portns. 
De resto, tudo sujeitava á obediencia. Um 
dia estava occupado em dobrar uns pannos em 
companhia de outros noviços, quando se lembrou \ 
de que naquelle dia não havia lido, como costu -
52 S. LUIZ GONZAGA 
mava, algumas paginas de S. Bernardo. Quiz 
sair para cumprir com esta devoção, porém 
disse logo comsigo mesmo. " Poderia deixar este 
trabalho, pois não me f oi determinado o tempo 
que nelle devo empregar, mas se o deixasse para 
lêr S. Bernardo, que cousa me ensinaria este 
santo, senão que devo obedecer? Continuarei 
pois esta acção por espirito de obediencia." 
Certa manhã, entrou na sacristia para f alar 
com elle o Cardeal della Rôvere, seu parente: 
"Queira desculpar, Eminencia, disse-lhe Luiz, 
mas não tenho licença." "Longe de mim, meu 
caro Luiz, obrigar-vos a faltar á regra, retorquiu 
o Cardeal, porém como o negocio que aqui me 
trouxe é · muito importante, irei pedir eu mesmo 
a licença ao P. Geral. " - E assim o fez. 
XIII. VAE PARA NAPOLES. DE VOLTA A 
RoMA, FAZ OS VOTOS E PROSEGUE · 
SEUS ESTUDOS. 
Estava para findar o mes de outubro de 
1586, quando Luiz recebeu ordem de acompa­
nhar a Napoles o P. Pescatore, mestre de novi­
ços, que uma doença de peito obrigava a mudar 
de clima. Os Superiores, aproveitando a occa­
sião, determinaram mandar tambem para alli 
S. LUIZ

Outros materiais