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DEFINIÇÃO A luxação patelar medial é o deslocamento da patela do sulco troclear. CONSIDERAÇÕES GERAIS E FISIOPATOLOGIA CLINICAMENTE RELEVANTE A luxação patelar medial é uma causa comum de claudicação em cães de raças pequenas, mas também ocorre nas raças grandes. A maioria dos pacientes com luxação patelar apresenta anormalidades musculoesqueléticas associadas, como deslocamento medial do grupo muscular do quadríceps, torção lateral do fêmur distal, arqueamento lateral do terço distal do fêmur, displasia epifisária femoral, instabilidade rotacional da articulação do joelho ou deformidade da tíbia (Fig. 34-142). FIG. 34-142 As anormalidades dos tecidos moles e esqueléticos associadas à luxação patelar medial incluem o deslocamento medial do aparelho do quadríceps, o arqueamento lateral do terço distal do fêmur e a torção lateral do fêmur distal. O mau alinhamento medial dos músculos do quadríceps em cães com luxação patelar medial gera uma pressão na fise femoral distal suficiente para retardar o crescimento. Ao mesmo tempo, há menos pressão no aspecto lateral na fise femoral distal, o que estimula o crescimento. O menor comprimento do córtex medial em relação ao maior comprimento do córtex lateral resulta no arqueamento do fêmur distal. O crescimento anormal continuará enquanto o quadríceps for deslocado medialmente e as fises estiverem ativas. Portanto, o grau de arqueamento lateral depende da gravidade da luxação patelar e da idade do paciente no início da luxação. Nas luxações leves, o quadríceps raramente é deslocado para o lado medial e exerce um efeito anormal mínimo na fise femoral distal. Entretanto, nas luxações graves, o quadríceps está sempre deslocado medialmente, exercendo um efeito máximo na fise femoral distal, o que resulta em um arqueamento lateral grave do fêmur distal nos pacientes jovens (Fig. 34-143). As deformidades da tíbia observadas com a luxação patelar são resultantes da ação de forças anormais nas fises proximal e distal da tíbia. As deformidades tibiais descritas com a luxação patelar medial incluem o deslocamento medial da tuberosidade da tíbia, o arqueamento medial (deformidade vara) da tíbia proximal e a torção lateral da tíbia distal. FIG. 34-143 Aparência radiográfica das anormalidades esqueléticas graves associadas à luxação patelar medial em um cão. A cartilagem articular é a “fise” para a epífise e responde ao aumento ou à redução da pressão, de forma similar à fise metafisária: o aumento da pressão retarda o crescimento e a redução da pressão acelera o crescimento Os cães com luxação patelar medial apresentam um desenvolvimento anormal do sulco troclear. O grau de anormalidade varia de uma tróclea quase normal até a ausência de sulco troclear. A articulação da patela com o sulco troclear exerce uma pressão fisiológica na cartilagem articular, que retarda o crescimento cartilaginoso. A pressão contínua exercida pela patela é responsável pelo desenvolvimento da profundidade normal do sulco troclear. Se a pressão fisiológica exercida pela patela não estiver presente na cartilagem articular troclear, a tróclea não atingirá a profundidade adequada. Os pacientes imaturos com luxações leves apresentam uma perda mínima da profundidade do sulco troclear, pois a patela é posicionada normalmente durante o desenvolvimento. Entretanto, os pacientes imaturos com luxações graves não apresentam sulco troclear, pois a pressão normal responsável pelo desenvolvimento do sulco não está presente. O grau da condição esquelética patológica associada à luxação da patela varia consideravelmente entre as formas mais leves e as mais graves; portanto, foi desenvolvido um sistema para a classificação da luxação patelar canina (Quadro 34-20). QUADRO 34-20 G raus de L uxação P atelar Grau I A patela pode estar luxada, mas a luxação espontânea desta estrutura durante a movimentação normal da articulação raramente ocorre. A luxação patelar manual pode ser obtida durante a avaliação física, mas a patela reduz quando a pressão é liberada. A flexão e a extensão da articulação são normais. Grau II Deformidades angulares ou de torção do fêmur podem estar presentes em um grau leve. A patela pode ser deslocada manualmente com uma pressão lateral ou pode luxar com a flexão da articulação do joelho. A patela permanece luxada até que seja reduzida pelo examinador ou seja espontaneamente reduzida quando o animal se estender e desfizer a rotação de sua tíbia. Grau III A patela permanece luxada medialmente a maior parte do tempo, mas pode ser reduzida manualmente com a extensão do joelho. Entretanto, após a redução manual, a flexão e a extensão do joelho resultam em uma nova luxação patelar. Há um deslocamento medial do grupo muscular do quadríceps. Podem estar presentes anormalidades dos tecidos moles de suporte da articulação do joelho e deformidades do fêmur e da tíbia. Grau IV Pode haver uma rotação medial de 80 a 90 graus do platô tibial proximal. A patela está luxada permanentemente, não podendo ser reposicionada manualmente. O sulco troclear do fêmur é raso ou ausente e há um deslocamento medial do grupo muscular do quadríceps. As anormalidades dos tecidos moles de suporte da articulação do joelho e as deformidades do fêmur e da tíbia são notáveis. A luxação patelar medial em cães de porte grande também foi associada a um tendão patelar longo (patela alta) e correção cirúrgica foi recomendada (Johnson et al., 2006; Mostafa et al., 2008). O encurtamento do membro devido à luxação do quadril ou à osteotomia da cabeça e do colo do fêmur causará a lassidão do mecanismo do quadríceps possibilitando, algumas vezes, a ocorrência de luxação da patela. Geralmente essa luxação é resolvida com o tratamento da luxação do quadril e com o tempo após a OCF. DIAGNÓSTICO Apresentação Clínica Predisposição. Cães de qualquer idade, raça ou sexo podem apresentar luxações patelares mediais, mas as raças pequenas e miniaturas são acometidas com maior frequência. As luxações patelares mediais são mais comuns que as luxações patelares laterais nos cães de raças grandes; entretanto, essas raças apresentam uma porcentagem maior de luxações laterais que os cães pequenos. Histórico. A maioria dos animais acometidos apresenta uma claudicação intermitente, com a sustentação do peso. Os donos podem relatar que o cão, ocasionalmente, mantém a perna em posição flexionada por um ou dois passos. Os cães com luxações patelares de grau IV apresentam claudicação grave e anormalidades na marcha. Exame Físico O diagnóstico da luxação patelar medial é baseado na observação ou ao provocar-se a luxação patelar medial durante a avaliação física. Os achados físicos variam, dependendo da gravidade da luxação. Os pacientes com luxação de grau I, geralmente, não apresentam claudicação e o diagnóstico é realizado como um achado incidental na avaliação física. Os pacientes com luxação de grau II, às vezes, “pisam em falso” durante a caminhada ou corrida. Esses pacientes, ocasionalmente, possuem as estruturas retinaculares laterais alongadas e desenvolvem uma claudicação sem a sustentação do peso. A claudicação nos pacientes com luxação de grau III varia de uma “pisada em falso” ocasional a uma claudicação sem a sustentação do peso. Os pacientes com luxação de grau IV andam com os membros posteriores encolhidos por serem incapazes de estender completamente as articulações dos joelhos. A patela encontra-se hipoplásica e pode ser encontrada deslocada medialmente, ao lado do côndilo femoral. Diagnóstico por Imagem Nas luxações de grau III e IV, as radiografias craniocaudais e mediolaterais- padrão demonstram um deslocamento medial da patela, enquanto nas luxações de grau I e II a patela pode se encontrar no sulco troclear ou deslocada medialmente (ser cuidadoso ao posicionar o membro adequadamente, para eliminar as luxações provocadas). As radiografias do membro todo podem revelar deformidades varas ou valgas e a torção da tíbia e do fêmur. O posicionamento radiográfico criterioso é essencial, pois o posicionamentoinadequado resulta em deformidades falso-positivas do membro nas radiografias. Para os casos mais graves, que exijam a osteotomia e a correção do osso longo, incidências especiais (coronal ou incidência axial a 30 graus do fêmur) ou uma TC auxiliam na determinação do tipo específico e do grau da deformidade. Alterações Laboratoriais Não são observadas anormalidades laboratoriais consistentes. A artrocentese demonstra alterações compatíveis com a osteoartrite. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Os diagnósticos diferenciais incluem a necrose avascular da cabeça do fêmur, a luxação coxofemoral e ruptura do ligamento cranial cruzado. A avaliação criteriosa da articulação do quadril é importante, pois alguns pacientes com luxação patelar também apresentam necrose avascular da cabeça do fêmur (p. 1321) ou displasia coxofemoral (p. 1305). O encurtamento do membro devido à luxação do quadril (p. 1316) ou à OCF (p. 1313) levará à lassidão do mecanismo do quadríceps, possibilitando a luxação da patela em alguns casos. Geralmente esta luxação é resolvida com o tratamento da luxação do quadril e com o tempo após a OCF. CONDUTA MÉDICA A luxação patelar medial pode ser tratada de forma conservadora ou cirurgicamente. A escolha do tratamento depende do histórico clínico, dos achados físicos, da frequência das luxações e da idade do paciente. A cirurgia raramente é justificada em pacientes idosos assintomáticos, enquanto animais jovens ou que apresentem claudicação, em geral, beneficiam-se da cirurgia. Os clientes devem ser aconselhados a observar o animal quanto ao desenvolvimento de sinais clínicos atribuíveis à luxação patelar medial. TRATAMENTO CIRÚRGICO A cirurgia é indicada para pacientes sintomáticos imaturos ou jovens adultos, pois a luxação patelar intermitente pode desgastar, prematuramente, a cartilagem articular da patela. Também é indicada para pacientes de qualquer idade que apresentam claudicação e é fortemente indicada naqueles com placas de crescimento ativas, pois as deformidades esqueléticas podem piorar rapidamente. As técnicas cirúrgicas utilizadas nos animais em crescimento ativo não devem afetar adversamente o crescimento esquelético. Os donos de cães com luxações patelares bilaterais de grau IV devem ser orientados quanto à provável necessidade de diversas cirurgias e da continuidade da claudicação, mesmo após uma cirurgia bem-sucedida, devido à gravidade das anormalidades subjacentes nos ossos longos. Inúmeras técnicas cirúrgicas são apontadas para a restauração da patela no sulco troclear. A transposição da tuberosidade da tíbia, a liberação das estruturas de contenção mediais, o reforço das estruturas de contenção laterais, o aprofundamento do sulco troclear, a osteotomia femoral, a osteotomia tibial, as suturas antirrotacionais e a transposição da origem do reto femoral têm sido defendidos para a correção da luxação patelar. Geralmente uma combinação de técnicas é necessária para se atingir a estabilidade intraoperatória da patela (Quadro 34-21). É importante entender que a anormalidade primária é biomecânica, pela qual a patela, no mecanismo reto do quadríceps, não se alinha com o sulco troclear. As cirurgias que envolvem somente o aprofundamento do sulco troclear, a liberação da cápsula e da fáscia e a imbricação são mais inclinadas ao insucesso, pois a patela e o sulco troclear não são realinhados permanentemente. QUADRO 34-21 T écnicas B ásicas de R eparo da L uxação P atelar M edial Liberação fascial medial Ressecção da margem troclear ou em bloco Transposição da crista da tíbia Imbricação lateral Na maioria dos animais, o sulco troclear deve ser aprofundado por uma ressecção da margem troclear ou em bloco. A liberação do retináculo medial pode ser necessária para permitir a estabilização da patela no sulco troclear aprofundado. A transposição da crista da tíbia deve ser realizada para realinhar as forças mecânicas do mecanismo extensor (p. 1359), a menos que correções importantes das deformidades femorais e tibiais tenham sido conduzidas. Finalmente, após a estabilização da patela, o retináculo lateral é reforçado por suturas, e a imbricação da cápsula articular fibrosa, pela inserção de enxerto de fáscia lata da fabela para a fibrocartilagem parapatelar, ou pela excisão do retináculo excedente. Nenhuma das técnicas de reforço isoladamente é adequada para prevenir, permanentemente, uma nova luxação. Se as forças mecânicas que arrastam a patela para fora do sulco troclear não tiverem sido neutralizadas, eventualmente, o retináculo reforçado se estenderá. A osteotomia do fêmur é utilizada apenas em pacientes com deformidades esqueléticas tão graves que impossibilitem a manutenção da redução patelar pelas técnicas descritas anteriormente. As deformidades observadas com maior frequência são o arqueamento varo do fêmur distal e a torção medial da tíbia proximal. O objetivo do cirurgião é realinhar a articulação do joelho no plano frontal, onde o eixo transversal dos côndilos femorais é perpendicular ao eixo longitudinal da diáfise femoral. Este resultado exige um manejo pré-operatório adequado e a osteotomia da borda do fêmur. O aprofundamento do sulco troclear, a liberação das estruturas de contenção mediais, a transposição da crista da tíbia e o reforço das estruturas de contenção laterais também são necessários para a obtenção do sucesso. Estas técnicas exigem equipamentos especiais e treinamento, por isso devem ser realizadas por um especialista treinado. O mecanismo do quadríceps é um estabilizador secundário da articulação do joelho para a translação cranial (movimento de gaveta cranial). Subsequentemente, a luxação crônica da patela pode levar ao aumento da tensão sobre o LCC e a uma eventual ruptura. A combinação da ruptura do LCC com a luxação patelar é um achado relativamente comum, particularmente em cães de raças pequenas. Em um estudo recente de cães de raças pequenas com luxação patelar medial (LPM), 41% também possuíam ruptura do ligamento cranial cruzado (Campbell et al., 2010). Ruptura do cruzado também foi associada a um maior grau de LPM. Conduta Pré-operatória Antibióticos perioperatórios (Cap. 4) e um tratamento preventivo da dor com AINEs, opioides ou analgesia epidural (p. 1221) são indicados para os animais submetidos a técnicas de reconstrução do joelho. Anestesia Para o tratamento anestésico de animais com doenças ortopédicas, consultar a Tabela 32-5, página 1045. A administração epidural de opioides reduz o desconforto pós-operatório (p. 1049). Anatomia Cirúrgica O mecanismo extensor da articulação do joelho é composto pelos grupos musculares do quadríceps, a patela, o sulco troclear, o ligamento patelar reto e a tuberosidade da tíbia (Fig. 34-144). O grupo muscular do quadríceps é formado pelos músculos reto femoral, vasto lateral, vasto intermédio e vasto medial. Os músculos vasto medial e vasto lateral são fixados à patela pela fibrocartilagem parapatelar medial e lateral. A fibrocartilagem percorre as bordas da tróclea femoral e, junto aos retináculos medial e lateral, suplementa a estabilidade patelar. Os retináculos medial e lateral são grupos de fibras de colágeno, que partem da fabela e se misturam às fibrocartilagens parapatelares medial e lateral, respectivamente. O grupo muscular do quadríceps estende a articulação do joelho e, em conjunto com todo o mecanismo extensor, auxilia na estabilização da articulação do joelho. O grupo muscular do quadríceps converge na patela, como o tendão patelar, e então continua distalmente, como o ligamento patelar reto. FIG. 34-144 Diagrama anatômico das estruturas de tecido mole e esqueléticas normais associadas ao mecanismo extensor do quadríceps. A patela é um osso sesamoide envolto pelo tendão do músculo quadríceps. A superfície articular interna é lisa e curvada, para se articular completamente com a tróclea. A articulação deslizante normal entre a patela e a tróclea é necessária para a manutenção das exigências nutricionais das superfícies articulares destas duas estruturas. A patelatambém é um componente essencial do mecanismo funcional do aparelho extensor. A patela mantém uma tensão uniforme durante a extensão do joelho e também age como um sustentáculo em um braço de alavanca, aumentando o benefício mecânico do grupo muscular do quadríceps. A tuberosidade da tíbia está localizada cranial e distal aos côndilos tibiais. Sua localização e proeminência são importantes para o benefício mecânico do mecanismo extensor. O alinhamento entre o quadríceps, a patela, a tróclea, o ligamento patelar e a tuberosidade da tíbia deve estar normal para a função adequada. O mau alinhamento de uma ou mais dessas estruturas pode levar à luxação da patela. Considerações anatômicas específicas devem ser observadas para pacientes com luxação patelar medial. Quando a patela estiver posicionada medialmente, o ligamento patelar deverá ser identificado antes da realização de uma incisão parapatelar para penetrar na articulação. A cápsula lateral encontra-se estendida e fina, enquanto a cápsula medial está contraída e espessada. O espessamento e a contração da cápsula medial serão aparentes se uma liberação medial for realizada. As inserções da cabeça caudal do músculo sartório e o músculo medial vasto devem ser identificadas. A borda medial do sulco troclear e a superfície ventral da patela podem estar desgastados. Posicionamento O animal é posicionado em decúbito dorsal ou lateral e o membro é preparado da linha dorsal medial até a articulação do tarso. O decúbito dorsal permite a visualização do desvio do mecanismo extensor não contido e uma máxima manipulação do membro para se avaliar a estabilidade patelar. TÉCNICA CIRÚRGICA Artrotomia Faça uma incisão cutânea craniolateral, 4 cm proximal à patela, estendendo- a 2 cm abaixo da tuberosidade da tíbia. Incise o tecido subcutâneo ao longo da mesma linha. Incise o retináculo lateral e a cápsula articular para expor a articulação. Aprofundamento do Sulco Troclear Ressecção da margem troclear. A ressecção da margem troclear aumenta a profundidade do sulco troclear, contendo a patela e mantendo a integridade da articulação patelofemoral. Nos pacientes de grande porte, utiliza-se, frequentemente, uma serra de oscilação, mas nas raças pequenas ou miniaturas, uma serra com dentes finos, manual, ou a borda cortante de uma lâmina de bisturi no 20 e martelo podem ser utilizados para proferir cortes na tróclea. Cave a cartilagem articular da tróclea, desenhando um contorno em forma de diamante. Certifique-se de que a largura do corte seja suficiente em seu ponto médio para acomodar a largura da patela, preservando as cristas trocleares. Utilizando uma lâmina cirúrgica nos pacientes muito jovens e pequenos, uma serra manual nos pacientes pequenos e médios, ou uma serra elétrica nos pacientes de grande porte, remova a borda osteocondral do osso e da cartilagem, seguindo o contorno realizado anteriormente (Fig. 34-145, A). Realize a osteotomia, de forma que os dois planos oblíquos que formam a borda livre se cruzem distalmente, na incisura intercondilar, e proximalmente, na borda dorsal da cartilagem articular troclear. Remova a margem osteocondral e aumente a profundidade da ressecção da tróclea, removendo uma quantidade maior de osso de um ou ambos os lados do sulco femoral neoformado (Fig. 34- 145, B). FIG. 34-145 Ressecção da margem troclear. A, Ressecar uma borda osteocondral do sulco patelar. B, Remover o osso das laterais do sulco incisado para aprofundá-lo. C, Reposicionar a borda osteocondral. Se houver necessidade, remodele a margem osteocondral livre com pinças saca-bocado, permitindo o assentamento profundo da margem no sulco femoral neoformado. A margem também pode ser rotacionada a 180 graus quando retornada para o sulco troclear, se isso auxiliar no aumento da crista medial. Reposicione a margem osteocondral livre quando a profundidade for suficiente para abrigar 50% da altura da patela (Fig. 34-145, C). A margem osteocondral permanece no lugar devido à força compressiva líquida da patela e à fricção entre as superfícies porosas das duas bordas do corte. Ressecção troclear em bloco. A ressecção troclear em bloco aumenta a profundidade do sulco troclear, contendo a patela e mantendo a integridade da articulação patelofemoral. Nos pacientes de grande porte, utiliza-se, frequentemente, uma serra de oscilação, mas nas raças pequenas ou miniaturas, uma serra com dentes finos, manual, ou a borda cortante de uma lâmina de bisturi no 20 e martelo podem ser utilizados para proferir cortes na tróclea. Perfure a cartilagem articular da tróclea, desenhando um contorno em forma de diamante. Certifique-se de que a largura do corte seja suficiente em seu ponto médio para acomodar a largura da patela, preservando as cristas trocleares. Utilizando uma lâmina cirúrgica nos pacientes muito jovens e pequenos, uma serra manual nos pacientes pequenos e médios, ou uma serra elétrica nos pacientes de grande porte, aprofunde os cortes proximais distais de 2 a 6 mm para dentro do osso (Fig. 34-146, A). Utilizando um osteótomo da mesma largura da osteotomia, eleve o segmento osteocondral (Fig. 34-146, B). Insira o osteótomo nas extremidades proximal e distal da osteotomia, encontrando no ponto médio. Tenha cuidado para remover uma espessura adequada do osso e para evitar que o segmento osteocondral se rache ou separe. Aumente a profundidade da ressecção, removendo uma quantidade maior de osso da base do sulco (Fig. 34-146, C). Reposicione o segmento osteocondral livre quando a profundidade for suficiente para abrigar 50% da altura da patela (Fig. 34-146, D). A margem osteocondral permanece no lugar devido à força compressiva líquida da patela e à fricção entre as superfícies porosas das duas bordas do corte. FIG. 34-146 Ressecção troclear em bloco. A, Utilizar uma lâmina de serra fina para fazer dois cortes paralelos, imediatamente axiais às cristas trocleares. B, Utilizar um osteótomo na direção proximal distal para elevar um bloco osteocondral do sulco patelar. C, Remover o osso da base do bloco incisado para aumentar a profundidade do sulco. D, Reposicionar o bloco osteocondral. NOTA • Na luxação medial, geralmente é melhor retirar uma quantidade maior de osso da porção lateral do sulco, preservando a crista medial da melhor forma possível. Liberação da cápsula articular medial. A cápsula articular medial encontra-se mais espessa do que o normal e contraída nos pacientes com luxação patelar medial de graus III e IV. Nesses pacientes, a cápsula articular medial e o retináculo devem ser liberados, permitindo o posicionamento lateral da patela. Utilizando um bisturi, faça uma incisão parapatelar medial através da fáscia medial e da cápsula articular. Inicie a incisão no nível do polo proximal da patela e estenda-a distalmente à crista da tíbia. Nos casos mais graves, a incisão de liberação deve ser estendida proximalmente, na porção medial da coxa. Se a contração dinâmica do músculo sartório cranial e do músculo vasto medial direcionar a patela medialmente, libere as inserções desses músculos na patela proximal. Redirecione as inserções e suture-as ao músculo vasto intermédio. Insira uma sutura interrompida cruzada ou simples, que não feche o espaço tecidual quando a patela estiver na posição adequada. A inserção de uma sutura lassa evitará a luxação lateral iatrogênica. Transposição da tuberosidade da tíbia. Faça uma incisão parapatelar lateral através da fáscia lata, estendendo-a distalmente sobre a tuberosidade da tíbia, abaixo da linha articular. Rebata o músculo tibial cranial da direção oposta à tuberosidade lateral da tíbia e ao platô tibial, no nível do tendão extensor digital longo (Fig. 34-147, A). Utilize uma dissecação puntiforme para acessar a superfície profunda do tendão patelar para a inserção de um osteótomo, fresa óssea de Listen ou serra sagital. Começando no nível da patela, faça uma incisão parapatelar medial na fáscia e, distalmente, no periósteo da tuberosidade da tíbia. Posicione um osteótomo, fresa óssea de Listen ouserra sagital embaixo do tendão patelar, 3 a 5 cm caudalmente ao ponto cranial da tuberosidade da tíbia (Fig. 34-147, B). Conclua a osteotomia na direção proximal distal. Não incise o anexo periosteal distal. O grau de movimentação lateral da tuberosidade da tíbia é subjetivo, mas se baseia no realinhamento longitudinal da tuberosidade em relação ao sulco troclear. Assim que o local do reposicionamento for escolhido, remova uma fina camada de osso cortical com uma fresa ou um osteótomo. Eleve a tuberosidade da tíbia para a posição adequada e estabilize-a com um ou dois fios de Kirschner pequenos na direção caudal e levemente proximal (Fig. 34-147, C). Una o córtex caudal, mas não permita que o pino saia da tíbia caudalmente; se o pino for projetado para fora do córtex caudal da tíbia, causará uma claudicação persistente. Verifique a estabilidade da patela, conforme foi descrito anteriormente, e desloque a tuberosidade, se for necessário. A segurança da transposição da tíbia é aumentada pelo uso de um arame em forma de “oito”. A inclusão de um arame em forma de “oito” é fortemente recomendada na realização da transposição da crista da tíbia nos cães de raças grandes, devendo ser considerada em todos os pacientes, exceto nos menores. Em cães de raças grandes, um parafuso compressivo pode ser usado no lugar dos fios Kirschner. FIG. 34-147 Luxações patelares mediais. A, Transpor a crista da tíbia lateralmente. Fazer uma incisão parapatelar lateral através da fáscia lata, estendendo-a distalmente sobre a tuberosidade da tíbia, abaixo da linha articular. Rebater o músculo tibial cranial da direção oposta à tuberosidade lateral da tíbia e ao platô tibial, na região do tendão extensor digital longo. B, Posicionar um osteótomo sob o ligamento patelar e realizar uma osteotomia parcial da tíbia da crista. Não incisar o anexo periosteal distal. C, Estabilizar a tuberosidade da tíbia em sua nova posição com um ou dois fios de Kirschner pequenos. O insucesso da transposição da crista da tíbia resulta no deslocamento proximal desta estrutura e da patela. A restauração da anatomia normal após esta complicação é difícil e, a despeito do tratamento, resulta, frequentemente, em incapacitação permanente. Faça um pequeno orifício no córtex cranial da tíbia, vários milímetros distante do aspecto distal da osteotomia. Passe um fio ortopédico ou uma sutura não absorvível através do orifício ou sobre as pontas dos pinos, formando um “oito”, nos pacientes muito pequenos. Tensione os fios. Imbricação lateral. Para a imbricação por sutura, insira uma sutura de poliéster através do ligamento femorofabelar e da fibrocartilagem parapatelar lateral (Fig. 34-148). Posteriormente, insira uma série de suturas de imbricação através da cápsula articular fibrosa e da borda lateral do tendão patelar. Com a perna levemente flexionada, ate a sutura femorofabelar e as suturas de imbricação. Se a patela estiver fora de posição a maior parte do tempo, o retináculo oposto ao lado da luxação estará distendido; nas luxações mediais há um retináculo lateral excedente. Assim que a patela tiver sido reduzida, excise o excesso de retináculo e da cápsula articular, permitindo o fechamento justo da artrotomia. FIG. 34-148 O reforço lateral do retináculo pode ser realizado pela inserção de uma sutura de poliéster no ligamento femorofabelar e na fibrocartilagem parapatelar lateral. MATERIAIS DE SUTURA E INSTRUMENTOS ESPECIAIS Uma serra de dentes finos (serra X-acto no 12, disponível na maioria das lojas de lazer) ou serra sagital são utilizadas para a ressecção da margem troclear ou do bloco. Necessita-se de um osteótomo para realizar a ressecção em bloco. Um osteótomo e martelo, fios de Kirschner ou parafuso compressivo, fio ortopédico e um mandril manual ou broca são necessários para fixar a crista da tíbia na transposição da tuberosidade tibial. AVALIAÇÃO E CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS Atividades devem ser restritas aos exercícios de reabilitação específicos e a caminhadas na coleira por seis a oito semanas; então, o animal deve retornar gradualmente à atividade normal, durante um período de seis semanas. Uma amostra do protocolo de exercícios de reabilitação física pode ser encontrada na Tabela 34-18, página 1343. As radiografias devem ser obtidas de seis a oito semanas para avaliar a cicatrização da transposição da crista tibial. PROGNÓSTICO A recidiva da luxação posteriormente à cirurgia foi relatada em até 50% das articulações avaliadas. Entretanto, a maior parte é de luxações de grau I, que não afetam a função clínica. A maioria das articulações do joelho atua tão bem que não se pode perceber a claudicação durante a avaliação física e a disfunção clínica não é relatada pelos clientes. A maioria dos pacientes com luxação recidivante apresenta uma nova luxação apenas nas avaliações físicas, quando se utiliza força manual para deslocar a patela. A correlação da nova luxação com o método ou os métodos de correção cirúrgica não foi relatada. Em geral, o prognóstico para pacientes submetidos à correção cirúrgica de uma luxação patelar de grau I a III é excelente quanto ao retorno à função normal do membro. A DAD progride mesmo com o tratamento, mas não é tão grave como aquela associada à ruptura crônica do LCC. O prognóstico para os pacientes com luxação patelar de grau IV é reservado. Muitas articulações requerem mais de uma cirurgia e algumas patelas não podem ser reduzidas sem a realização de osteotomias corretivas anteriores. A correção cirúrgica de luxações patelares grau IV não é necessariamente indicada, pois a função após a cirurgia pode não ser melhor do que a função anterior a ela.
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