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DEFINIÇÕES A osteocondrose é um distúrbio na ossificação endocondral, que leva à retenção da cartilagem; ocorre comumente no ombro, cotovelo, joelho e jarrete de cães jovens de grande porte. A OCD ocorre quando a formação de fissuras na cartilagem anormal leva ao desenvolvimento de um retalho de cartilagem. CONSIDERAÇÕES GERAIS E FISIOPATOLOGIA CLINICAMENTE RELEVANTE A osteocondrose começa com uma falha na ossificação endocondral na fise ou no complexo articular epifisário, que é responsável pela formação do osso metafisário. A osteocondrose está envolvida na fisiopatologia da OCD, FPC e MPA do cotovelo. A origem é desconhecida, mas fatores genéticos, crescimento rápido, nutrição excessiva, trauma, isquemia e fatores hormonais são causas possíveis. A falha na ossificação subcondral leva ao espessamento da cartilagem. A cartilagem em desenvolvimento é nutrida, inicialmente, pelo líquido sinovial e, posteriormente, pela vascularização através do osso subcondral; portanto, o aumento da espessura da cartilagem pode resultar em condrócitos desnutridos e necróticos. A perda de condrócitos nas camadas profundas da cartilagem leva à formação de uma fissura na junção do tecido calcificado com o não calcificado. Um trauma subsequente causado pela atividade normal pode levar ao desenvolvimento de fissuras verticais na cartilagem; eventualmente, as fissuras comunicam-se com a articulação e um retalho de cartilagem é formado. Esta comunicação permite que os produtos de degradação da cartilagem atinjam o líquido sinovial, onde podem causar a inflamação da articulação. A OCD não causa sinais clínicos aparentes até o desenvolvimento de um retalho solto e cartilagem. Este fragmento solto de cartilagem não se ossifica. A DAD (osteoartrite) do cotovelo é o resultado final. Com OCD do úmero distal, um retalho de cartilagem cobrindo um defeito na superfície da borda troclear do côndilo umeral medial é geralmente visto. A cartilagem da articulação oposta do processo coronoide pode estar erodida. O exame histológico da lesão confirma que o retalho consiste em cartilagem, e as trabéculas de osso subcondral no defeito estão espessas e uma fibrose da medula óssea está presente. DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO Apresentação Clínica Predisposição. Em geral, os cães afetados são grandes (Labradores, Golden Retrievers). A idade usual de início da claudicação é de cinco a sete meses. Histórico. A claudicação do membro dianteiro, que piora após o exercício, pode ser aguda ou crônica. Frequentemente, os donos se queixam de que o animal apresenta rigidez matinal e após períodos de descanso. Pode haver um histórico coincidente de trauma. Exame Físico Em geral, é evidenciada a claudicação de um membro dianteiro. A marcha pode parecer rígida ou forçada se os passos dos membros dianteiros estiverem encurtados devido à claudicação bilateral. A dor pode ser desencadeada pela extensão do cotovelo e na rotação lateral do antebraço. A palpação do cotovelo deve incluir uma avaliação da amplitude de movimento. Uma redução na capacidade do animal em flexionar o cotovelo é indicativa de osteoartrite secundária. A crepitação durante a flexão e a extensão, a efusão articular e um edema periarticular podem ser observados na presença da osteoartrite. É importante que o ombro não seja flexionado e estendido inadvertidamente durante a manipulação do cotovelo, para evitar a confusão da dor do ombro com a dor do cotovelo. Diagnóstico por Imagem As incidências radiográficas devem incluir a lateral-padrão do cotovelo, lateral flexionada com exposição do processo anconeal e uma incidência craniocaudal (Fig. 34-48). Devem ser obtidas as radiografias de ambos os cotovelos, pois o acometimento bilateral é comum. O diagnóstico radiográfico definitivo da OCD é realizado quando uma concavidade radiolucente é observada no aspecto distal do côndilo umeral medial (Fig. 34- 48). Esta lesão é identificada com maior frequência na incidência craniocaudal. Os sinais radiográficos da osteoartrite secundária são similares àqueles observados na FPC (p. 1268). FIG. 34-48 Radiografia de um cotovelo com OCD da porção medial do côndilo umeral. Há um defeito radiotransparente no côndilo umeral (seta). Artroscopia. A artroscopia permite a confirmação do diagnóstico da OCD (Fig. 34-49). Ao contrário das demais modalidades, a artroscopia possibilita a visualização e a avaliação direta da superfície da cartilagem, a mensuração do tamanho da OCD, a avaliação da cartilagem oposta e a formulação de um prognóstico mais preciso. FIG. 34-49 Vista artroscópica da OCD do cotovelo. Alterações laboratoriais. Os resultados das análises hematológicas e bioquímicas séricas são normais na maioria dos animais afetados. Os resultados da artrocentese podem incluir uma redução na viscosidade do líquido sinovial, um aumento do volume de líquido e números elevados de células fagocíticas mononucleares (até 6.000 a 9.000 leucócitos/µL). DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL A OCD deve ser diferenciada da FPC, MPA, MPA combinada à FPC e outras doenças que afetem o membro dianteiro de cães jovens em crescimento (p. ex., OCD do ombro, panosteíte) e possam produzir sinais clínicos similares. Geralmente, essas condições podem ser diferenciadas radiograficamente. Raramente a OCD e a FPC são identificadas no mesmo cotovelo. CONDUTA MÉDICA Os cães que apresentam anormalidades radiográficas, mas não apresentam sintomas não exigem tratamento. Isso é observado mais comumente nos casos de osteocondrose que não progrediram para a OCD. Os cães com OCD verdadeira podem ser tratados de forma conservadora; entretanto, os donos devem ser informados de que o adiamento da remoção cirúrgica do retalho solto de cartilagem pode estimular lesões adicionais na cartilagem antagônica. Os pacientes que mais se beneficiam do tratamento cirúrgico são aqueles que apresentam apenas OCD, sem lesões cartilaginosas significativas nas superfícies antagônicas (lesões de contato). Se houver necessidade de cirurgia, esta deve ser realizada o quanto antes no decorrer da doença, minimizando assim a progressão da osteoartrite. Quando o tratamento conservador for escolhido, deverão ser observados os cinco princípios do tratamento clínico da osteoartrite, particularmente o controle de peso, uma suplementação nutricional, exercícios moderados e medicamentos anti-inflamatórios. Após o desaparecimento ou a resolução da claudicação, os exercícios deverão ser aumentados gradualmente, para fortalecer a musculatura circundante. TRATAMENTO CIRÚRGICO A remoção cirúrgica do retalho de cartilagem é recomendada em animais jovens, quando a doença for diagnosticada antes do início da osteoartrite, podendo ser útil também no tratamento de animais com claudicação crônica moderada a grave. O tratamento artroscópico da OCD possui diversas vantagens em relação à cirurgia aberta. A artroscopia propicia uma melhor visualização e ampliação da articulação, é menos invasiva e fornece uma melhor oportunidade para o tratamento tópico das lesões da osteoartrite. Os tratamentos avançados da OCD incluem osteotomia umeral deslizante e transferência autógena osteocondral. A osteotomia umeral deslizante (OUD) diminui as cargas no compartimento medial da articulação do cotovelo e subsequentemente o osso subcondral no local da OCD. OUD pode diminuir a dor e auxiliar no tratamento fibrocartilaginoso da lesão após a remoção do retalho. A transferência autógena osteocondral é usada para substituir a cartilagem hialina que é perdida na OCD e fornece uma superfície de suporte de alta qualidade para eliminar a dor e diminuir a progressão da osteoartrite (Fitzpatrick et al., 2009). A osteotomia umeral deslizante e a transferência autógena osteocondral são procedimentos bastante avançados e devem ser realizados somente por cirurgiões experientes, treinados para estas técnicas. Conduta Pré-operatória A maioria dos animais afetados é jovem e exige uma preparação pré- operatória mínima (Cap. 4). Anestesia Geralmente os cães são jovens e hígidos; portanto, uma variedade de regimesanestésicos pode ser utilizada (Tabela 32-5, p. 1045). Anatomia Cirúrgica Para a anatomia relativa à articulação do cotovelo, reportar-se à página 1274. Posicionamento O membro é preparado do ombro até o cotovelo. O cão é posicionado em decúbito dorsal, com o membro afetado suspenso para o preparo. O membro é, então, liberado, permitindo o acesso à superfície medial do cotovelo. TÉCNICA CIRÚRGICA Artroscopia A artroscopia da articulação do cotovelo é discutida na página 1271. A movimentação sutil do portal do artroscópio caudal e proximal ao posicionamento-padrão permite uma melhor visualização da lesão de OCD. Remova os fragmentos de cartilagem soltos ou in situ(Fig. 34-50). Utilizando uma cureta, posicione as bordas da lesão em ângulo reto com a superfície articular. Realize a artroplastia da superfície através do portal aberto ou canulado, utilizando um trépano manual. FIG. 34-50 Remoção artroscópica da OCD do cotovelo. Cirurgia Aberta A exposição da porção medial do cotovelo pode ser obtida por uma de várias técnicas. A tenotomia do músculo pronador redondo e a incisão do ligamento colateral medial oferecem uma boa exposição, mas à custa das estruturas de suporte (p. 1273). A técnica de separação dos músculos preserva os tendões e ligamentos sustentadores da articulação, mas limita a exposição (pp. 1273-1274). Independentemente da técnica utilizada para a exposição, examine o côndilo medial do úmero e remova o retalho de cartilagem. Curete somente para remover os fragmentos de cartilagem das margens da lesão. Lave a articulação repetidamente e remova todos os pequenos fragmentos. Inspecione o processo coronoide e remova-o, se estiver fragmentado (p. 1271). MATERIAIS DE SUTURA E INSTRUMENTOS ESPECIAIS Uma pinça Oschner auxilia na apreensão do fragmento e uma cureta óssea é necessária para a curetagem do defeito. AVALIAÇÃO E CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS O membro pode ser imobilizado por bandagem por até uma semana após a cirurgia, para o suporte dos tecidos moles, e o animal deve ser confinado por quatro semanas. Recomenda-se o retorno gradual à atividade normal. A bandagem não é indicada após a artroscopia do cotovelo. Recomenda-se repouso e uma sustentação mínima de peso por até oito semanas, a fim de permitir uma cicatrização ideal da cartilagem. A reabilitação física pode melhorar significativamente o pós-operatório. O foco primário é reter a amplitude de movimento e a musculatura imediatamente após a intervenção cirúrgica (Tabela 34-9, p. 1262; Cap. 11). Os métodos primários de reabilitação física após a cirurgia são a crioterapia, a amplitude de movimentação passiva e caminhadas controladas por coleira. PROGNÓSTICO Os cães tratados de forma conservadora para a OCD do úmero distal geralmente apresentam claudicação intermitente regular e osteoartrite progressiva. Os cães tratados cirurgicamente para a OCD do úmero distal geralmente apresentam melhora da função do membro; entretanto, a claudicação pode ser evidenciada após os exercícios. Em geral, há presença de osteoartrite, que exige tratamento clínico (ver a discussão anterior), mas a maior parte dos cães serve como animais de estimação, apresentando apenas uma claudicação intermitente. A infecção iatrogênica é uma possível complicação cirúrgica. NOTA • Certificar-se de informar os donos de que muitos cães acometidos apresentarão osteoartrite progressiva, apesar da cirurgia.
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