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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Curso de Serviço Social
JOSIANE OLIVEIRA MIRANDA
BOLSA FAMÍLIA: a relevância dos programas de transferência de renda na redução da pobreza e da desigualdade social
Salvador
2015
JOSIANE OLIVEIRA MIRANDA
BOLSA FAMÍLIA: a relevância dos programas de transferência de renda na redução da pobreza e da desigualdade social
 Trabalho apresentado à Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.
Prof. Orientador: Juliana Desidério Lobo Prudêncio
 
Salvador
2015
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Curso de Serviço Social
JOSIANE OLIVEIRA MIRANDA
BOLSA FAMÍLIA: a relevância dos programas de transferência de renda na redução da pobreza e da desigualdade social
Trabalho apresentado à Universidade Estácio de Sá, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.
Aprovado em ____/____/____
Banca Examinadora:
_______________________________
Juliana Desiderio Lobo Prudencio
Professora Orientadora
_______________________________
Professor(a) 2º membro da banca
_______________________________
Professor(a) 3º membro da banca
Salvador
2015
Dedico este trabalho, especialmente, a todos que direta ou indiretamente colaboraram para que eu pudesse chegar até aqui.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por me conduzir pelo caminho correto e permitir a finalização deste trabalho, não me deixando nunca esmorecer.
Aos meus pais por todo amor e carinho e por me proporcionarem o ensino que me serviu como base para a realização e conclusão do curso.
Ao meu esposo e filho pelo incentivo, pela paciência e por acreditarem sempre em mim, permanecendo sempre ao meu lado.
A todas as pessoas que estiveram junto a mim nessa jornada. Às colegas de curso pelo companheirismo e boa vontade; às supervisoras de campo e professores pela atenção e ensinamento transmitidos.
E por fim, à minha orientadora professora Juliana Prudêncio, por toda a dedicação, me direcionando sempre na perspectiva da realização de um melhor trabalho.
Obrigada a todos vocês!
	
“Não é nossa culpa
Nascemos já com uma bênção
Mas isso não é desculpa
Pela má distribuição
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração
Até quando esperar
E cadê a esmola que nós damos
Sem perceber que aquele abençoado
Poderia ter sido você
[...]
Até quando esperar a plebe ajoelhar
Esperando a ajuda de Deus
Posso
Vigiar teu carro
Te pedir trocados
Engraxar seus sapatos
Até quando esperar a plebe ajoelhar
Esperando a ajuda de Deus
Até quando esperar a plebe ajoelhar
 Esperando a ajuda do divino Deus”
(Plebe Rude)
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo, esclarecer quanto à relevância dos Programas de Transferência de Renda na redução da pobreza e desigualdade social, tendo como destaque o Programa Bolsa Família, cuja metodologia empregada baseia-se fundamentalmente, na pesquisa bibliográfica acerca do tema. Percebemos que tais programas são relevantes na redução da pobreza e desigualdade, melhorando a vida de milhões de famílias, entretanto, mostram-se insuficientes na quebra do ciclo da situação de pobreza no país. O advento do capitalismo no Brasil traz consigo uma série de transformações político-sócio-econômicas agravando as expressões da questão social que alteram a vida da população, dentre as quais, a pobreza, a fome, o desemprego e a exclusão social, exigindo por parte do Estado ações que possam amenizar ou minimizar tais expressões. Nesse sentido, são debatidas a criação de Políticas Públicas Sociais para o enfretamento do problema, cujos programas de transferência de renda surgem como alternativa para a correção das distorções na distribuição de renda, impulsionada pela excessiva acumulação de capital e consequente formação de grupos fora do sistema econômico. 
Palavras-chave: Capitalismo, questão social, Pobreza, Desigualdade Social, Programas de Transferência de Renda, Bolsa Família. 
 
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 8
CAPÍTULO I - A QUESTÃO SOCIAL ........................................................................... 10
1.1 Debatendo a Questão Social no Brasil .......................................................................... 11
1.2 Questão Social na Contemporaneidade ......................................................................... 16
1.3 Conceituando Pobreza, Desigualdade, Exclusão Social, Vulnerabilidade e Risco ......... 26
CAPÍTULO II – POLÍTICA PÚBLICA SOCIAL: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NO BRASIL.................................................................. 35
2.1 Inserção dos Programas de Transferência de Renda no Contexto do Sistema Brasileiro de Proteção Social: Breve Histórico .......................................................................................... 35
2.2 Programas Nacionais de Transferência de Renda ............................................................ 42
2.2.1 Benefício de Prestação Continuada ...............................................................................46
2.2.2 O Programa Bolsa Família ........................................................................................... 47
CAPÍTULO III - O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E SUAS CONDICIONALIDADES ................................................................................................... 51
3.1 Mecanismos Condicionais de Programas de Transferência de Renda ............................ 51
3.1.1 Condicionalidades do Programa Bolsa Família ........................................................... 55
3.2 Análise dos Impactos do PBF ........................................................................................ 59
3.2.1 Impactos Sobre a Pobreza e Desigualdade ............................................................... 61
3.2.2 Impactos Sobre a Segurança Alimentar e Nutricional................................................. 64
3.2.3 Impactos Sobre a Saúde ................................................................................................ 66
3.2.4 Impactos Sobre a Educação ......................................................................................... 68
3.2.5 Impactos Sobre o Trabalho .......................................................................................... 70
Considerações Finais ............................................................................................................ 72
Referências ........................................................................................................................... 76
INTRODUÇÃO
O advento do capitalismo no Brasil traz como consequência uma série de transformações sócio-político-econômicas que refletem diretamente na vida da população. Sendo assim, as refrações da questão social são agravadas, notoriamente, através da pobreza, da miséria, da exclusão social, da fome, do desemprego, do acesso precário a bens e serviços como saúde, educação, moradia, trazendo a necessidade de medidas de enfrentamento a tais refrações, pelo Estado.
A substituição do discurso de cidadania pelo dever moral de assistência aos pobres e da filantropia feita pela atual lógica neoliberal, fortalece, grandemente, a ideia de ajuda, do favor, na efetivação do deveria ser um direito social no Brasil.
Nesse panorama de combate às expressões da questão social, são questionadas estruturas legislativas de políticas sociais como projetos, programas e serviços objetivando amenizar ou minimizar essas refrações. Nesse sentido, nos últimos anos o governo vem adotando as chamadas Políticas de Transferências de Renda. Mas, será quetais políticas são realmente relevantes? 
O presente trabalho tem por objetivo esclarecer quanto à relevância dos Programas de Transferência de Renda na redução da pobreza e desigualdade social, tendo como destaque, o Programa Bolsa Família.
O estudo é relevante por fazer uma abordagem acerca do processo histórico do Brasil e suas transformações sociais, políticas e econômicas e os fatores que levaram ao agravamento das expressões da questão social, bem como por debater a respeito das políticas sociais de enfrentamento, seu implemento e os impactos na vida das famílias brasileiras.
A pesquisa é fundamentalmente bibliográfica, em que foram consultados obras e documentos de diversos autores, estudiosos da temática que fornecem o embasamento necessário capazes de responder à questão objeto de estudo.
O trabalho está estruturado em três capítulos nos quais, primeiramente, será debatida a questão social no Brasil e na contemporaneidade, como também serão apresentados os conceitos de pobreza, desigualdade, exclusão social, vulnerabilidade e risco.
No segundo capítulo, falaremos sobre os Programas de Transferência de Renda no Brasil, fazendo um breve histórico acerca de sua inserção no contexto do Sistema Brasileiro de Proteção Social, onde serão abordados também o Benefício de Prestação continuada (BPC) e o Programa Bolsa Família. (PBF).
O terceiro e último capítulo versará a respeito das condicionalidades do Programa Bolsa Família, bem como fará uma análise acerca de seus impactos sobre a pobreza e a desigualdade, a segurança alimentar e nutricional, a saúde, a educação e o trabalho, abordando também os mecanismos condicionais dos Programas de Transferência de renda.
CAPÍTULO I - A QUESTÃO SOCIAL
A Questão social associa-se em sua essência aos processos de acumulação capitalista e as consequências deste processo sobre a classe trabalhadora, ou seja, a raiz da questão social encontra-se na contradição capital x trabalho. Neste sentido, de acordo com Carvalho e Iamamoto, (1983):
“A questão social não é senão, as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe, por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão”. (CARVALHO; IAMAMOTO, 1983, p. 77).
Corroborando com a concepção supracitada, Teles (1996), diz:
“... A Questão Social é a aporia das sociedades modernas que põe em foco a disjunção, sempre renovada entre a lógica do mercado e a dinâmica societária, entre a exigência ética dos direitos e os imperativos de eficiência da economia, entre a ordem legal que promete igualdade e a realidade das desigualdades e exclusões tramadas na dinâmica das relações de poder e dominação”. (TELES, 1996, p. 85).
Desse modo, a questão social tem como expressão fundamental, a contradição do modo capitalista de produção. Originado na produção e apropriação da riqueza socialmente gerada, onde, os trabalhadores produzem a riqueza, entretanto, não usufruem dela, ficando essa função a cargo dos capitalistas.
Por não haver uma uniformidade de opiniões no que se refere ao princípio básico que constitui a questão social, esta vem representar uma perspectiva de análise da sociedade. Isto, porque, nem todos percebem a existência de uma contradição entre capital e trabalho, pelo simples fato de que a análise da questão social na sociedade é realizada com base na situação em que se encontra a maioria da população, ou seja, aquela que sobrevive por meio da renda gerada por sua força de trabalho. Desse modo, ressaltam-se as diferenças entre capitalistas e trabalhadores no que tange ao acesso às condições de vida e direitos. Sendo assim, serão analisadas as desigualdades e formas de superação, entendendo suas causas e os que estas produzem, na subjetividade dos homens e na sociedade.
A presente sessão está divida em três momentos, onde, no primeiro momento, será debatida a questão social no Brasil, posteriormente será abordada a questão social na contemporaneidade e por fim serão apresentados os conceitos de pobreza, desigualdade, exclusão social, vulnerabilidade e risco. 
1.1 - DEBATENDO A QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL
O processo de desenvolvimento do Brasil é marcado por peculiaridades históricas em que convivem conjuntamente componentes antigos e modernos. Essa fase é marcada pela divergência entre o desenvolvimento social e o econômico que caracterizam as desigualdades. Isto é, “a modernidade das forças produtivas do trabalho social convive com padrões retrógrados nas relações de trabalho, radicalizando a questão social” (IAMAMOTO, 2011, p. 129).
Na vigência da fase escravocrata era através da desapropriação do escravo, do fruto do seu trabalho e até de sua própria pessoa que a questão social era evidenciada, pelo fato de ser propriedade de seu senhor, o qual até sua liberdade o pertencia. Após a abolição, a luta por melhores condições de trabalho faz parte da nova configuração da questão social que se apresenta com emergência do trabalho livre. Inicia-se a partir deste período um processo de grande valorização do trabalho, sendo o mesmo considerado “necessário e produtivo, no sentido de produzir a mercadoria e lucro, de ser indispensável à vida do indivíduo e da sociedade” (Ianni, 1991, p. 8 apud Abreu, 2011, p. 22).
Com a finalidade de substituir o trabalho escravo, em razão de na sociedade da época ainda existir valores, padrões, formas de viver e de trabalho típicos da economia de subsistência e da sociedade escravocrata, é que após a abolição, como também durante todo o período republicano tramou-se um culto ao trabalho, bem como uma valorização da colonização e imigração. Desta forma, para Ianni apud Abreu “está em curso um processo de beatificação do trabalho, para que o trabalho ganhe dignidade, a sociedade progrida e o capital de multiplique.” (Ianni, 1991, p. 8 apud Abreu, 2011, p. 23).
De acordo com Iamamoto (2011),
No país essa transição não foi presidida por uma burguesia com forte orientação democrática e nacionalista voltada à construção de um desenvolvimento capitalista interno autônomo. Ao contrário, ela foi e é marcada por uma forma de dominação burguesa que Fernandes qualifica de “democracia restrita” – restrita aos membros das classes dominantes que universalizam seus interesses de classe a toda nação, pela mediação do Estado e de seus organismos privados de hegemonia. O país transitou da “democracia dos oligarcas” à “democracia do grande capital”, com clara dissociação entre desenvolvimento capitalista e regime político democrático. (IAMAMOTO, 2011, p. 131).
Desse modo, o Brasil entrou em um processo de industrialização, depois de séculos utilizando a economia agroexportadora, juntando recursos estrangeiros e nacionais, públicos e privados, industrializando campo e cidade. A mudança do capitalismo competitivo ao monopolista no Brasil aconteceu igualmente a da periferia dos centros mundiais, entretanto, com algumas particularidades com relação ao “modelo universal da democracia burguesa”.
Assim, foi de suma importância o papel do Estado no caminho percorrido por essa burguesia na conquista do poder, pois, as chamadas classes dominantes, ao ocorrer a modernização “pelo alto”, possuíam autorização desse Estado para que pudessem se antecipar aos movimentos e pressões populares e assim realizarem as modificações necessárias para a garantia da ordem. Por outro lado, no intuito de garantir a permanência dos antigos componentes das relações sociais, como também a dependência do capital estrangeiro, elas se afastam de qualquer quebra com o passado. Esta maneira de modernização “pelo alto” propiciou a essa burguesia um grande uso de aparelhos repressores com a finalidade de deter “a participação política e o exercício da cidadania para os setores majoritários da população, derivando em uma rede de relações autoritáriasque atravessa a própria sociedade civil” (IAMAMOTO, 2011, p. 134).
Marcada pelo populismo, coronelismo, uso de interesses particularistas na esfera pública e na classe dominante, a cidadania construída no Brasil fez prevalecer as relações de favor e dependência no exercício da cidadania da classe majoritária. (Iamamoto, 2011). Pontua-se, que nesse processo próprio de “modernização conservadora”, a união estabelecida entre o Estado Nacional e o capital financeiro, nacional e estrangeiro que unidos aos interesses patrimoniais e oligárquicos da burguesia brasileira, inspiraram enormemente o desenvolvimento de diretrizes e políticas governamentais, diminuindo o ritmo com relação ao processo de modernização do país.
Em consonância,
As desigualdades agravam-se e diversificam-se, expressas nas lutas operárias, nas reivindicações do movimento negro, nas lutas pela terra, pela liberdade sindical e pelo direito de greve, nas reivindicações em torno do direito à saúde, à habitação, à educação, entre outros, assim como contra a degradação ambiental. Moderniza-se a economia e o aparelho de Estado, mas as conquistas sociais e políticas – ainda que registradas no último texto constitucional – permanecem defasadas, expressando o desencontro entre economia e sociedade, que se encontra na raiz da “prosperidade dos negócios”. (IAMAMOTO, 2011, p. 140).
Como consequência destas distorções encontram-se, a violência, o analfabetismo, a fome, o desemprego, o subemprego, a falta de moradia digna e de um ser cidadão. Estas são as expressões da questão social que não apenas representam as desigualdades, como também, o processo de resistência e luta dos trabalhadores por seus direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. No período pós-64, a prioridade era o rompimento com a dominação política, atualmente, é a luta pela consolidação da democracia e pelos direitos do cidadão.
Conforme Netto (2004) pontua, a expressão “questão social” foi estabelecida por volta do início do século XIX, para dar conta do fenômeno do pauperismo, por este passar a apresentar dimensões sócio-políticas, uma vez que os pauperizados não se conformaram com sua condição de pobreza e miséria, e sim passaram a protestar contra a situação de forma mais organizada. Sendo assim, a expressão “questão social” se apresenta de forma a legitimar os desdobramentos sócio-políticos que o pauperismo passa a ter nesse período de capitalismo concorrencial. (NETTO, 2004). Como é sabido, este período foi caracterizado por extrema pobreza, onde a miséria crescia na mesma proporção em que se desenvolvia a capacidade de produção das riquezas. Todos percebiam que a forma como a pobreza instalava-se naquele momento era historicamente inédita, uma vez que nas sociedades anteriores à sociedade burguesa, a pobreza tinha sempre uma relação com uma situação de escassez, originada pelo nível de desenvolvimento das forças produtivas, sociais e materiais, contudo, “pela primeira vez na história registrada, a pobreza crescia na razão direta em que aumentava a capacidade social de produzir riquezas” (NETTO, p. 42, 2004). Assim sendo, na mesma medida em que eram produzidos mais bens e serviços, o número de sujeitos sem condições materiais de vida, como também de acesso às mesmas, aumentava.
Na direção contrária aos interesses burgueses, houve a rebelião dos pauperizados contra a situação de pobreza e miséria na primeira metade do século XIX, com as chamadas manifestações luddistas, caracterizadas pelas quebras das máquinas, como forma de reivindicação de melhores condições de trabalho, estabelecendo assim, as trade unions que eram associações formadas pelos trabalhadores das fábricas e que por volta da segunda metade do século XIX, seriam organizadas como sindicatos.
Foi a partir da segunda metade do século XIX também, que a expressão “questão social” passou a ser mais utilizada não apenas por críticos sociais, como também foi incluída no vocabulário conservador, tanto confessional quanto laico. Na visão do primeiro, as expressões da questão social como a grande desigualdade, a miséria, as doenças, o desemprego, dentre outros estariam relacionadas a vontade divina merecendo intervenções sócio-políticas que pudessem amenizá-las, muito embora, o desígnio divino somente sofreria contrariedade, pelo agravamento das mesmas. Já na perspectiva laica, tais expressões eram “vistas como o desdobramento, na sociedade moderna (leia-se: burguesa), de características inelimináveis de toda e qualquer ordem social, que podem, no máximo, ser objeto de intervenção política limitada”. (NETTO, p. 44, 2004).
Entre essas duas posições, há um entendimento comum de que as reformas político-sociais direcionadas para a questão social têm em sua essência uma base ideal de reforma moral dos sujeitos, defendendo que todas as mazelas sociais, são determinadas pelos próprios indivíduos. Desse modo, não é proposto um enfrentamento que contrarie a propriedade privada dos meios de produção e nem problematize a ordem econômico-social estabelecida (NETTO, 2004). 
De acordo com Carvalho e Iamamoto (2005), O processo de produção capitalista remete em sua essência, a relações sociais entre sujeitos e entre classes sociais e não a produção de bens materiais, muito embora, essas relações normalmente surjam sempre ligadas a outros campos da vida coletiva e social. Na sociedade burguesa capitalista, o que está diretamente ligado aos interesses do capital e é um dos principais elementos desta relação, é o trabalho assalariado, sendo esta uma relação de produção social expressa em forma de dinheiro e mercadorias, e que embora aparente ser uma relação entre coisas, na realidade encobre a sua essência mostrada nas relações entre classes sociais contrárias. (CARVALHO; IAMAMOTO, 2005). Neste sentido,
 O processo capitalista de produção expressa, portanto, uma maneira historicamente determinada de os homens produzirem e reproduzirem as condições materiais da existência humana e as relações sociais através das quais levam a efeito a produção. Neste processo se reproduzem, concomitantemente, as ideias e representações que expressam estas relações e as condições materiais em que se produzem, encobrindo o antagonismo que as permeia. (CARVALHO; IAMAMOTO, p. 30, 2005).
Um duplo movimento entre trabalhadores assalariados e capitalistas é realizado neste processo de acumulação, onde, o emprego e a força viva de trabalho são diminuídos e os meios de produção são mais desenvolvidos, fazendo com que os trabalhadores possam produzir mais em menos tempo. Logo, reduzindo-se o tempo de trabalho socialmente necessário para que as mercadorias sejam produzidas, de seu valor, aumenta-se assim, o tempo de trabalho excedente ou mais - valia.
Dessa forma, com relação à composição de valor o capital variável aquele empregado na força de trabalho, é reduzido, ao passo que o capital constante, utilizado nos meios materiais de produção, é aumentado, fazendo uma movimentação que amplia a escala de produção e que gera maiores lucros pela introdução dos avanços científicos neste processo de produção, e, por outro lado,
O decréscimo relativo de capital variável aparece inversamente como crescimento absoluto da população trabalhadora, mais rápidos que os meios de sua ocupação. Assim, o processo de acumulação produz uma população relativamente supérflua e subsidiária ás necessidades médias de seu aproveitamento pelo capital. (IAMAMOTO, p. 14, 2004).
Segundo Behring e Santos (2009) apud Abreu (2011), neste aspecto a “questão social” seria na verdade expressão das contradições intrínsecas do capitalismo, com o predomínio do trabalho morto que é o capital constante, sobre o trabalho vivo, capital variável, gerando o crescimento da superpopulação relativa em larga escala. Assim, é formado um grande exército industrial de reserva revelado como expressão das tendências que constituem o modo de produção capitalista, comprovados através da precarização e flexibilização das relações de trabalho, como também do desempregoestrutural. Em suma, essencialmente este processo em que o trabalho tem a responsabilidade de transferir e criar valor relaciona-se “à produção e reprodução de indivíduos, classes sociais e relações sociais: a política, a luta de classes são elementos internos à lei do valor e à compreensão da questão social e de suas expressões” (BEHING; SANTOS, p. 272, 2009 apud ABREU, 2011 p. 15).
Desse modo, ressalta-se que não há dissociação entre a questão social e a sociabilidade capitalista com as transformações no Estado e no mundo do trabalho no contexto de expansão monopolista do capital. Então,
A gênese da questão social na sociedade burguesa deriva do caráter coletivo da produção contraposto à apropriação privada da própria atividade humana – o trabalho – das condições necessárias à sua realização, assim como de seus frutos. É inseparável da emergência do “trabalhador livre”, que depende da venda de sua força de trabalho como meio de satisfação de suas necessidades vitais. (...) Ela expressa, portanto, uma arena de lutas políticas e culturais na disputa entre projetos societários, informados por distintos interesses de classe na condução das políticas econômicas e sociais, que trazem o selo das particularidades históricas nacionais. (IAMAMOTO, p. 156, 2011).
Portanto, a questão social de uma forma geral, tem como significado o conjunto de problemas sociais, políticos e econômicos, agravados pelo surgimento da classe operária, causado na formação da sociedade capitalista, e é basicamente associada ao conflito entre trabalho e capital. Concebe-se então que “a Questão Social, enquanto reflexão do aprofundamento das desigualdades sociais, acumuladas e manifestadas nas mais variadas formas de pobreza, miséria, desemprego e exclusão social, não é fenômeno novo no Brasil” (ARCOVERDE, 2008, p. 109).
1.2 - QUESTÃO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE
Na atualidade a questão social evidencia-se em meio a um contexto de mundialização do capital, e da internacionalização direcionada pela financeirização econômica em uma nova etapa da acumulação capitalista.
Conforme Iamamoto (2011), a mundialização econômica está “ancorada nos grupos industriais transnacionais, resultantes de processos de fusões e aquisições de empresas em um contexto de desregulamentação e liberação da economia” (IAMAMOTO, p. 108, 2011). Assim, a associação entre instituições financeiras como, companhias de seguros, fundos de pensão, bancos, etc., com empresas industriais, comandam o processo de acumulação e lideram uma espécie de dominação política e social do capitalismo, com o apoio dos Estados Nacionais.
Vale ressaltar, que o mecanismo de financeirização do capital não é apenas uma preferência do capital às aplicações financeiras incertas em detrimento das aplicações lucrativas, e sim, demonstra um modo de estruturação da economia mundial (Iamamoto, 2011). Marcados pelo fetichismo, os mercados financeiros apresentam os gastos como autônomos para as sociedades nacionais, escondendo o verdadeiro processo de funcionamento destas por investidores financeiros e pelo capital transnacional, que “atum mediante o efetivo respaldo dos Estados Nacionais sob a orientação dos organismos internacionais, porta-vozes do grande capital financeiro e das grandes potências nacionais” (IAMAMOTO, p. 109, 2011).
Desse modo, não se concebe, neste contexto, vencerem os mercados sem a interferência dos Estados nacionais, destacando-se como exemplo, o Consenso de Washington, o Acordo do Livre Comércio Americano (ALCA) e o Tratado de Marrakech, que cria a Organização Mundial do Comércio (OMC).
Contribui para a lógica financeira deste regime de acumulação, a provocação de crises que acorrem pelo mundo gerando recessão, promovendo aumento da pobreza e maior concentração de renda, que neste caso amplia ainda mais as desigualdades sociais. Isto fica grandemente evidenciado nos países periféricos que tem suas empresas nacionais fechadas, principalmente pela abertura repentina de sua economia ao processo de mundialização, além de ter sua introdução no capital especulativo, o déficit da balança comercial ampliado e suas taxas de juros elevadas. Neste processo em que estão envoltos com a reestruturação de sua indústria e a perda de considerável parte do seu arranjo industrial frente à expansão das exportações e importações e da hostil competitividade dos grandes oligopólios, os países periféricos se veem em grandes dificuldades para se manterem nesta dinâmica de mundialização e financeirização do capital. (IAMAMOTO, 2004).
Desse modo,
cresce a necessidade de financiamento externo e, com ele, a dívida interna e externa, os serviços da dívida – os pagamentos de juros -, ampliando ao déficit comercial. As exigências dos pagamentos do serviço da dívida, aliada às elevadas taxas de juros, geram escassez de recursos para investimento e custeio. Favorece os investimentos especulativos em detrimento da produção dos níveis de emprego, do agravamento da questão social e da redução das políticas sociais públicas. (IAMAMOTO, p. 19, 2004).
A esfera da produção nessa lógica do capital, expressa mudanças neste período de financeirização e mundialização, passando do padrão fordista-taylorista para a acumulação flexível. Tal mudança ocorre durante as décadas de 1970 e 1980 e que de acordo com Harvey (1993) apud Abreu (2011), tratou-se de um período agitado de reajustamento político e social e de reestruturação econômica, causado pela grande recessão de 1973, pela onda inflacionária que afundaria a expansão do pós-guerra e pelo aumento do petróleo. Neste sentido, as contradições intrínsecas ao capitalismo não poderiam ser contidas pela inflexibilidade própria do fordismo.
Na concepção de Harvey, a acumulação flexível,
é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se, pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego no chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas. (HARVEY, p. 140, 1993 apud ABREU, p. 18, 2011).
Ainda sobre o período de transição do fordismo-taylorismo para acumulação flexível, Antunes (2000) analisa também que este foi um período de grande salto tecnológico, evidenciado pelo desenvolvimento da microeletrônica, da robótica e da automação que tomaram conta da indústria fabril. Neste sentido, houve uma diminuição da classe operária industrial tradicional. Por outro lado,
Efetivou-se uma expressiva expansão de trabalho assalariado, a partir da enorme ampliação do assalariamento do setor de serviços; verificou-se uma significativa heterogeinização do trabalho, expressa também através da crescente incorporação do contingente feminino no mundo operário; vivencia-se também uma subproletarização intensificada, presente na expansão do trabalho parcial, temporário, precário, subcontratado, “terceirizado”, que marca a sociedade dual no capitalismo avançado (ANTUNES, 2000, p. 49).
Dessa forma, é essencial para a lógica da acumulação flexível que visa a redução dos custos e a ampliação das taxas de lucratividade, essa flexibilidade na área de produção. Assim, a partir da introdução deste componente nas relações de produção, são geradas diversas transformações no mundo do trabalho.
Como afirma Antunes (2000), a expansão global do desemprego estrutural é o resultado mais brutal de tais transformações, bem como que existe uma processualidade contraditória que ao passo em que reduz o operariado fabril, aumenta o trabalho precário, o assalariamento no setor de serviços e o subproletariado. Ademais, ocorre a incorporaçãodo trabalho feminino e a exclusão dos mais velhos e mais jovens do mercado de trabalho, desenvolvendo então a heterogeneização, fragmentação e complexificação da classe trabalhadora. (ANTUNES, 2000).
Nesta perspectiva, o desenvolvimento de um trabalho precário, temporário, parcial, “terceirizado” relacionado à economia formal é a tendência da acumulação flexível, caracterizada pelo emprego e remuneração precários e pela “desregulamentação das condições de trabalho em relação às normas legais vigentes ou acordadas e a consequente regressão dos direitos sociais” (ANTUNES, 2000, p. 52). 
Sobre este aspecto Iamamoto pontua,
que esse processo provoca a polarização da classe trabalhadora. Por um lado, um grupo central, proporcionalmente restrito, de trabalhadores regulares, com coberturas de seguros e direitos de pensão, dotados de uma força de trabalho de maior especialização e salários relativamente mais elevados. Por outro lado, um amplo grupo periférico, formado de um contingente de trabalhadores temporários e/ou de tempo parcial, dotados de habilidades facilmente encontráveis no mercado, sujeitos aos ciclos instáveis da produção e dos mercados. (IAMAMOTO, 2011, p. 119).
Atualmente, há uma grande tendência dos mercados de trabalho em reduzir a quantidade de trabalhadores efetivos e aumentar mão de obra barata, facilmente contratada e demitida. De acordo com Antunes (2000), “... a classe que vive do trabalho é tanto masculina quanto feminina. É, portanto, também por isso, mais diversa, heterogênea e complexificada.” (ANTUNES, 2000, p. 54).
O Toyotismo traz consigo a exigência de trabalhadores que tenham a capacidade de exercer diversas funções (polivalentes), com o intento de aumentar a intensidade de trabalho e diminuir o poder dos trabalhadores mais qualificados sobre a produção, tendo por consequência a chamada desespecialização do trabalho qualificado.
As relações entre sociedade civil e Estado, orientadas pelo ideário neoliberal, propõe a redução de gastos e despesas sociais, atendimentos, meios materiais, financeiros e humanos. Segundo Iamamoto (2004),
É um amplo processo de privatização da coisa pública: Um Estado cada vez mais submetido aos interesses econômicos e políticos dominantes no cenário internacional e nacional, renunciando a dimensões importantes da soberania da nação, em nome dos interesses do grande capital financeiro e de honrar os compromissos morais com as dívidas interna e externa. (IAMAMOTO, 2004, p. 20)
 O aumento dos espaços privados e a diminuição dos espaços públicos e a apropriação do poder público por ações e interesses privados, são resultados dessa formação política, unida aos interesses do grande capital, com o intuito de dar continuidade ao crescimento deste e encobrir a luta por direitos.
Exemplo do que o ideário neoliberalista pode causar a uma nação que sofre sua influência, é a década de 1990 no Brasil, evidenciada por um aumento considerável da desigualdade social no país, sobretudo no que tange ao mundo do trabalho.
Primeira fase, sinalizada por uma enorme recessão ocasionada pelo Plano Collor I e II entre os anos de 1990 e 1992 apresentando queda do PIB de 10% no período, pela implantação do Plano Real por Itamar Franco que fez reduzir de forma drástica a inflação do Brasil e pela reforma do Estado por meio de um programa de privatizações.
Segunda fase, marcada pela eleição de Fenando Henrique Cardoso à presidência, e a adesão do país a uma política liberal-conservadora que visava a reforma do Estado capitalista no país, bem como sua estabilização monetária. De acordo com Giovanni Alves (2003) apud Abreu (2011), “um dos traços característicos da conjuntura da economia brasileira sob o governo Cardoso foi a sua instabilidade estrutural, decorrente da política econômica do “stop and go”, determinada pelas flutuações sistêmicas da economia mundial”. (ALVES, 2003, p. 10 apud ABREU, 2011, p. 25). Diante disso, quando uma crise era estabelecida em outros países, consequentemente, causava uma inflexão no Brasil, como também uma desaceleração econômica, sendo exemplo, as crises da Rússia e dos países asiáticos (1997) e do México (1995). A exemplo, dos países capitalistas mais desenvolvidos como, União Europeia, EUA e Japão, o Brasil, aumentou as aquisições e as fusões na área de serviços e indústria. Gerado desde o governo Collor, o Programa Nacional de Desestatização, destacou-se também no governo de Fernando Henrique Cardoso, especialmente, no que diz respeito às privatizações das empresas de energia elétrica, telecomunicações e siderúrgicas. Neste contexto, o mundo do trabalho sofreu algumas consequências. Segundo Alves (2003) apud Abreu (2011), 
após 1994, o mercado de trabalho no Brasil tendeu a aprofundar seu ajuste estrutural, crescendo, a partir daí, o índice de desemprego aberto, em virtude não apenas das políticas neoliberais, que propiciaram o desmonte de cadeias produtivas da indústria nacional num cenário de crescimento medíocre da economia brasileira, mas do novo complexo de reestruturação produtiva, impulsionado pelo “choque de competitividade” (Alves, 2003, p. 13 apud Abreu, 2011, p. 26).
Na terceira fase, entre os anos de 1997 e 2000, o Brasil sofreu uma mudança qualitativa em sua economia, em razão da “nova crise da globalização”, a qual atingiu também outros países, a exemplo da Coreia do sul, Argentina, Rússia e Sudeste Asiático. Apesar da crise, foi observado um pequeno crescimento econômico no Brasil, como também uma relativa melhoria do emprego nas regiões industrializadas. (Alves, 2003, apud Abreu, 2011).
O Estado teve um papel de suma importância no processo de globalização durante a década neoliberal. Sobre a análise de Iamamoto, temos,
 Por meio de vigorosa intervenção estatal a serviço dos interesses privados articulados no bloco do poder, sob inspiração liberal, conclama-se a necessidade de reduzir a ação do Estado para o atendimento das necessidades das grandes maiorias mediante a restrição de gastos sociais, em nome da chamada crise fiscal do Estado. A resultante é um amplo processo de privatização da coisa pública: Um Estado cada vez mais submetido aos interesses econômicos e políticos dominantes no cenário internacional e nacional, renunciando a dimensões importantes da soberania da nação, a favor do grande capital financeiro em nome de honrar os compromissos morais do Estado com as dívidas interna e externa. (IAMAMOTO, 2011, p. 144)
No que se refere ao enfrentamento da questão social no contexto neoliberal, ocorre uma significativa mudança na condução das políticas sociais, de modo, que as mesmas são retiradas da esfera do Estado, por meio de privatizações e delegadas ao mercado e à sociedade civil. Algumas ainda continuam sob sua execução, contudo, fazem parte de um conjunto de políticas sociais estatais realizadas de forma focalizada, necessariamente, dirigidas com exclusividade, aos setores portadores de carências pontuais, com necessidades básicas insatisfeitas. (Montãno, s.d. apud Ramos, 2010, p. 5).
Destaca-se, portanto, que a questão social no Brasil é reconfigurada por novos componentes históricos da atualidade, em sua inclusão no contexto de mundialização do capital. Todo esse processo atinge tanto a economia quanto as formas de subjetividade e sociabilidade dos sujeitos, acarretando na banalização da vida humana através do fetiche do capital, e no abalo das lutas coletivas. De acordo com Yasbek (2004), a atual conjuntura da questão social no Brasil reconfigurou-se destacando as transformações no mundo do trabalho e a perda de proteção social dos trabalhadores e dos setores mais vulnerabilizados da sociedade. (YASBEK, 2004, p. 33).
Assim sendo, a questão social contemporânea é configurada pelas políticas governamentais que apoiam e sustentam a flexibilização e financeirização do capital, pois, existindo uma codependência entre os Estados Nacionais e, a esfera financeira, é permitido ao capital concentrado o poder de atuar no país sem que haja regulamentação e controles,tirando da classe trabalhadora o direito a posse de lucros e salários provenientes da produção para serem valorizados na esfera especulativa e financeira. (Iamamoto, 2011). 
Sobre esse aspecto, Iamamoto (2011) analisa,
O predomínio do capital fetiche conduz à banalização do humano, à descartabilidade e indiferença perante o outro, o que se encontra na raiz das novas configurações da “questão social” é mais do que expressões da pobreza, miséria e “exclusão”. Condensa a banalização do humano, que atesta a radicalidade de alienação e a invisibilidade do trabalho social – e dos sujeitos que o realizam - na era do capital fetiche. A subordinação da sociabilidade humana à coisas – ao capital-dinheiro e ao capital mercadoria - retrata, na contemporaneidade, um desenvolvimento econômico que traduz como barbárie social. (IAMAMOTO, 2011, p. 125).
Nesse sentido, a pobreza é na atualidade, uma das expressões mais perceptíveis da questão social no Brasil, pois, muito embora, seja um dos países que mais concentre riqueza e renda, seu salário mínimo encontra-se entre os mais baixos do mundo. Conforme dados do IPEA, um indivíduo que se encontra entre os 10% mais ricos no Brasil, possui em média uma renda 30 vezes maior que a de um indivíduo que se encontra entre os 40% mais pobres, o que demonstra um elevado grau de desigualdade no país. Ademais, o descarte de mão de obra barata é outra realidade da pobreza, ocasionada pelo crescimento capitalista, por criar uma população sobrante, que não encontra nem reconhecimento nem lugar na sociedade e que não é empregável, pois, encontra-se à margem do trabalho. (YASBEK, 2004).
De acordo com dados mais recentes apresentados pelo IPEA (2014), após 10 anos de queda da miséria, no ano de 2013 o número de brasileiros em situação de extrema pobreza voltou a crescer. Ao passo que em 2012 o Brasil tinha 10,08 de miseráveis, um ano depois, esse número cresceu para 10,45 milhões, ou seja, um acréscimo de 3,7%.
O cálculo avalia o número de indivíduos pobres, baseado nas necessidades calóricas – aqueles que não possuem renda suficiente para consumo de uma cesta alimentar que possua calorias suficientes para suprir adequadamente o indivíduo, com base na recomendação da Organização Mundial de saúde - OMS e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Cultura - FAO. São estimados valores diferenciados para 24 regiões do país.
A substituição do discurso dos direitos e da cidadania pelo dever moral de assistência aos pobres e da filantropia feita pela atual lógica neoliberal, fortalece grandemente a ideia da ajuda, do favor, na efetivação do que deveria ser direito social no Brasil. Ações filantrópicas e solidárias são utilizadas como forma de diminuição das expressões da “questão social” brasileira e, desse modo, acaba por promover um processo de despolitização com relação ao enfoque dessa questão “fora do mundo público e dos fóruns democráticos de representação e negociação dos efetivos e diferentes interesses em jogo” (YASBEK, 2004, p. 36).
Segundo Ianni (1991) apud Abreu (2011), 
A história do desenvolvimento do país revela a escassa “modernização” alcançada em determinadas esferas da sociedade, enquanto nas principais esferas da economia tudo parece muito próspero, diversificado e moderno. A mesma fábrica do progresso fabrica a questão social. (...) Em outros termos, a mesma sociedade que fabrica a prosperidade econômica, fabrica as desigualdades que constituem a questão social. (IANNI, 199, p. 10 apud ABREU, 2011, p. 28).
Em suma, perante a atual conjuntura de sucateamento do espaço público, de enfraquecimento de lutas, de refilantropização da questão social, da banalização do humano diante do capital fetiche, e da precarização das relações trabalhistas, destaca-se que ocorreu um retrocesso com relação à cidadania e direitos mesmo com toda a modernização presente na sociedade brasileira. 
É importante esclarecer que mesmo que a lei geral da acumulação capitalista atue sem que haja dependência das fronteiras nacionais, na análise da questão social de determinado país, faz-se necessário considerar suas peculiaridades histórico-culturais.
Determinar a questão social em suas expressões na contemporaneidade implica na apresentação de alguns elementos que possam esclarecer aos que se propõem ao seu enfrentamento. Interessa assegurar mesmo no dia-a-dia, que muitas vezes, esta se apresenta de diversas formas, quer como ausência de investimentos, como carência de algo, quer como privação de atendimento por falta de quem o faça.
De acordo com Arcoverde (2008),
As expressões da questão social, em cada espaço e momento histórico, assumem determinados contornos, mas se renovam, se ampliam e se tornam mais complexas, com novas contradições que remete em última instância, a problemáticas particulares e desafiantes para o seu enfrentamento pela via exclusiva do acesso a benefícios vinculados à inserção produtiva no mercado de trabalho. (ARCOVERDE, 2008, p.102).
Diante disso, para o enfrentamento da problemática que ora se apresenta, faz-se necessário, um olhar mais atento às suas manifestações. Conforme Netto (2001) destaca,
Inexiste qualquer “nova questão social”. O que devemos investigar é, para além da permanência de manifestações tradicionais da questão social, a emergência de novas expressões “questão social” que é insuprimível sem a supressão da ordem do capital. A dinâmica societária específica dessa ordem não só põe e repõe os corolários da exploração que a constitui medularmente: a cada novo estágio de seu desenvolvimento, ela instaura expressões sócio-humanas diferenciadas e mais complexas, correspondentes à intensificação da exploração que é sua razão de ser. (NETTO, 2001, p. 48).
É assinalado por Pereira (2001) que não há uma nova questão social, porque a questão social foi projetada, tem raiz com o surgimento do capitalismo, e, portanto, permanece a mesma até a contemporaneidade, o que temos então na atualidade, são novas expressões.
Nesse sentido, Montãno apud Ramos (2010), afirma:
[...] a recorrente afirmação de que existiria hoje uma “nova questão social” tem, implicitamente, o claro objetivo de justificar um novo trato à “questão social”, assim, se há uma nova “questão social” seria justo pensar na necessidade de uma forma de intervir nela, supostamente mais adequada às questões atuais. Na verdade, a “questão social” - que expressa a contradição capital-trabalho, as lutas de classe, a desigual participação na distribuição de riqueza social – continua inalterada; o que se verifica é o surgimento e alteração, na contemporaneidade, de suas refrações e expressões. O que há são velhas manifestações da “questão social”. (MONTÃNO, s.d., p. 2 apud Ramos, 2010, p. 5).
Logo, no que tange ao enfrentamento da questão social no contexto neoliberal, ocorre uma significativa mudança no direcionamento das políticas sociais. Estas são retiradas da esfera Estatal através de privatizações e transferidas para o mercado e para a sociedade civil. Algumas ainda continuam sob sua execução, entretanto, fazem parte de um conjunto de políticas sociais estatais realizadas de formas focalizadas, necessariamente dirigidas exclusivamente, aos setores portadores de carências pontuais, com necessidades básicas insatisfeitas. (Montãno, s.d. apud Ramos, 2010, p. 5).
No que se refere aos programas de transferência de renda, isso não é diferente, pois, “os programas se destinam a públicos distintos e cada um deles possui mecanismos administrativos próprios de identificação e seleção de beneficiários”. (MEDEIROS et al., 2007, p. 10 apud RAMOS, 2010, p.5).
O avanço da produção capitalista amplia as refrações da questão social, exigindo respostas às condições de vida das famílias, e, é sob esse panorama de combate às expressões da questão social, que são questionadas estruturas legislativas de políticas sociais como projetos, programas e serviços, objetivando amenizar ou minimizar tais refrações. “O conhecimento dessas múltiplas dimensões desafia a intervenção como resposta social, mediada via instituiçõesque formulam e executam políticas públicas”. (ARCOVERDE, 2008, p. 102). 
1.3 CONCEITUANDO POBREZA, DESIGUALDADE, EXCLUSÃO SOCIAL, VULNERABILIDADE E RISCO.
 
Os conceitos e termos como Pobreza, desigualdade, exclusão social, vulnerabilidade e risco como categorias de estudo, estão unidos à história política e material de uma população específica, desse modo, ao fazer a análise de dada realidade social, tais termos, têm relação direta com tempo e espaço, concebendo que, uma realidade ao ser interpretada, passa pelos exames da ética, da cultura, e dos valores pessoais de quem pesquisa.
Acontece que tais termos, não representam categorias ou conceitos dessa realidade e sim, explicam aproximações ou noções com a realidade social.
Existe uma ampla literatura a respeito desses termos, que não apresentam apenas um significado. E vão adquirindo novos conceitos com o passar do tempo, sofrendo influência de diversos fatores conjunturais, tais como os aspectos políticos, históricos, econômicos e culturais.
A respeito dos termos apontados, a pobreza é o mais antigo, pois remota à fase bíblica do Cristianismo, onde, já se observava o seu emprego não somente para demonstrar carência ou falta, facilmente notado na seguinte passagem: “Bem aventurado os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Bíblia Sagrada – Mateus 5:3 apud Luz, 2009, p. 47).
Na Idade Média, a Igreja Católica cuidava dos pobres, nos hospitais, asilos, orfanatos, leprosários, sendo que o Estado, eventualmente, prestava ajuda pecuniária. (OLIVEIRA, 1996 apud FREITAS, 2004, p. 12 apud LUZ, 2009, p. 47).
A pobreza nas ordens menores religiosas era caracterizada não pela fome ou miséria, mas por viver um estilo de vida modesta, com objetivos de vida regidos por valores não econômicos. (FREITAS, 2004, p. 17 apud LUZ 2009, p. 48).
A pobreza tornou-se um problema de ordem pública, principalmente, no começo do século XX, em razão das migrações e pela chegada do capitalismo industrial, iniciado tardiamente no Brasil. Sobre esse aspecto tem-se que,
Eles enfrentavam não apenas moradias superlotadas e insalubres, mas também insegurança no trabalho, pagamento e condições de trabalho miseráveis, doenças e alimentação deficiente em nutrição – problemas ignorados pelos governos brasileiros com objetivos exportadores. (HAHNER, 1993, p. 199).
Essa foi a época em que, a pobreza no Brasil ganhou novos contornos, a questão social era tida como “caso de polícia” e as pessoas que viviam em situação de pobreza, habitando cortiços amontoados, eram vistas como marginais.
Dessa forma, as pessoas em situação de pobreza adquiriram um novo perfil social – foram rotuladas como marginalizadas, por viverem à margem da sociedade, fora da suposta rota que deveria ser “seguida” por todos. Nesse sentido,
A teoria da marginalidade pode ser criticada não apenas por construir uma afirmação falsa sobre a natureza de um grupo social, mas também por construir um mito, no pleno sentido da palavra – uma maneira de contar a história da humanidade segundo os interesses de uma classe em particular. E ainda esclarece que o paradigma da marginalidade, baseia-se num modelo equilibrado ou integrado da sociedade. Dessa forma, os mitos são falsos e o modelo também não é válido. (PERLMANN, 1977 apud FREITAS, 2004, p. 23 apud LUZ, 2009, p.48).
Conceituar pobreza envolve de maneira direta, as formas de seu enfrentamento, seja, por meio de combate, minimização ou erradicação da mesma, como também, na forma de definição de linha de pobreza.
De acordo com Gordon apud Freitas 2004, a preocupação presente nas duas principais vertentes relacionadas ao estudo da pobreza está em: 1) Fazer uma análise da pobreza, através da tendência do funcionamento econômico, da distribuição do emprego e do mercado de trabalho; 2) Descobrir medidas de identificação da população pobre e de suas carências.
É interessante salientar, que embora haja uma ampla gama de produções relacionadas ao tema pobreza, observa-se que este,
parece peculiar, porque as pessoas atuam como se fizessem parte de um vocabulário compartilhado quando, na verdade, não o são. Acredita-se que isso seja uma herança cultural e um empecilho para o pensamento analítico. Portanto, é importante desenvolver um vocabulário mais específico que permita uma melhor compreensão sobre o tema. (OYEN, 1992 apud FREITAS, 2004, p. 3).
Uma das dificuldades encontradas na conceituação de pobreza está no estabelecimento de critérios que a definam. Assim, adotar um critério absoluto de pobreza implica, 
a formulação de juízos de valor acerca de quais são os níveis mínimos indispensáveis para que as pessoas tenham direito de levar uma vida em consonância com a dignidade humana. Esses juízos de valor estão umbilicalmente ligados à natureza da sociedade, às concepções sociais prevalecentes. Daí porque esse núcleo de destituição absoluta, do qual resultam as mais diversas formas de privação, difere de país para país, tornando difíceis certas formas de comparação para que envolvam estabelecimento de padrões mínimos de necessidade. (ROMÃO, 1993 apud FREITAS, 2004).
Diversos indicadores econômicos têm sua definição de pobreza, como por exemplo, Banco Mundial, que atribui a pobreza à pessoas que possuam renda de até 2,5 dólares por dia. Em seu último relatório ressaltou que o número de brasileiros vivendo com menos de 2,5 dólares por dia (cerca de 7,5 reais) caiu de 10% para 4% entre os anos de 2001 e 2013. Ao todo, 25 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema e pobreza moderada. Uma maior redução da pobreza no território brasileiro foi observada pela instituição no ano de 2012, ou seja, 9,6% ante 12% do restante do continente. (Fonte: Banco Mundial).
Outros aspectos também devem ser levados em consideração além da renda: a qualidade de vida, a desestruturação familiar, a proteção social, a exploração capitalista, a participação popular. 
A falta de clareza teórica no conceito de pobreza conserva uma conexão com a de efetividade de políticas públicas. Faz-se necessário que haja uma definição mais precisa de seu conceito para que o combate seja direcionado da maneira correta. O debate acerca da temática pobreza leva a observação das discrepâncias existentes entre ricos e pobres, o que remete à desigualdade social.
A desigualdade trata-se de um aspecto de extrema contradição na realidade social, uma vez que mesmo vivendo um progresso científico e tecnológico no século XXI, através da cura de doenças, do maior acesso à informação, ainda existem milhares de pessoas vivendo sem o mínimo de condições dignas, ou seja, com acesso precário ou sem nenhum acesso à moradia, educação, saúde, alimentação e lazer.
No Brasil, embora tenha eliminado quase totalmente a pobreza extrema, 18 milhões de brasileiros ainda vivem na pobreza, onde, o 0,1% mais rico da população brasileira fica com 13% da renda, mais do que os 11% que chegam aos 40% mais pobres, ou seja, o Brasil está entre os países mais desiguais do mundo. As causas que levam o Brasil a manter uma grande desigualdade social, encontram-se na má qualidade dos serviços públicos, denominada pelos autores do relatório de “estagnação da produtividade”. Tal conceito é explicado pelo “baixo nível de investimento, infraestrutura precária, pouca especialização dos trabalhadores e um ambiente de negócios que não favorece o setor privado e concorrência” (Fonte: Banco Mundial). 
É no final do século XX e início do século XXI que a exploração do trabalho, através do desemprego estrutural, ganha novo conceito, os excluídos, isto é, uma grande massa de trabalhadores que não é explorada, pois, nem ao menos possui emprego.
De acordo com Zione (2006),
Os trabalhos dos sociólogos contemporâneos encontram grandes dificuldades para definir exclusão, dificuldade essa ligada ao enfraquecimento de análises globais sobre a coesão social. A ausência dessa definição conceitual implica no desconhecimento de paradigmas filosóficos e políticos imersos em diferentes concepções (republicano, social-democrata e liberal) assim como de diferentessignificados que podem ser atribuídos à exclusão social. (...) Na produção brasileira também são registradas controvérsias em relação ao tema da exclusão social que, na maioria das vezes é remetido a uma base estrutural de desigualdade. Sobre o status científico do termo entende-se que pode ser classificada como uma noção de caráter metodológico, visto que agrega elementos de um processo de conhecimento usados como imagens para a explicação do real e que muito contribuiu para a tematização da pobreza em espaços públicos que não os acadêmicos e de elaboração e implementação de políticas públicas. (ZIONE, 2006 apud LUZ, 2009, p. 52).
É concluído em seu artigo, pela mesma autora, que o termo exclusão é melhor empregado como uma noção que como uma categoria ou conceito, pois, o conceito é baseado em conhecimentos específicos, ao passo que categoria procede de uma imaginação coletiva na qual a sociedade pode ser representada (ZIONE, 2006).
O termo exclusão é originário da França, numa situação de pós-Segunda Guerra Mundial, em torno da década de 1960. Acredita-se que o termo tenha sido utilizado, oficialmente, pela primeira vez na obra de René Lenoir, com o título “Le exclus, um français sur dix”, em 1974. (ZIONE, 2006). Em fins de 1992 e início de 1993, o termo invadiu os discursos políticos, na França, e a exclusão ternou-se questão social por excelência. (CASTEL et. al., 2000 ).
Castel et al. (2000) ainda aponta que deveria haver um controle com relação ao uso do termo, e, expõe alguns fatores para essa argumentação, entre eles, encontra-se a “heterogeneidade de seus usos”, afirmando que teoricamente o seu uso é impreciso, designando diversas situações, uma vez que “falar em termos de exclusão é rotular com uma qualificação puramente negativa que designa a falta, sem dizer no que ela consiste nem de onde provém”. (CASTEL et al., 2000, p. 21).
 Existe, outra razão pontuada pelo autor, “para se desconfiar desta noção”, que encontra-se, na impossibilidade de um estabelecimento de limite entre o que é ou não exclusão. Os excluídos são exemplificados pelo autor através do atendimento a uma população realizada por uma Associação denominada de ATD-Quart Monde, onde foram definidas como excluídas, pessoas que:
Sempre estiveram à margem da sociedade, nunca entraram nos circuitos habituais do trabalho e da sociabilidade ordinária, vivem entre si e se reproduzem de geração em geração, etc. Ainda que este quadro substancialista do ‘povo dos pobres’ seja exagerado, não abarca características mais específicas da ‘exclusão’ contemporânea, que remete ao que se passou a chamar, a partir de 1984, de “nova pobreza”. (CASTEL et al. 2000, p. 22 ).
No ano de 1955, foi confirmada uma considerável redução do déficit habitacional na França. No entanto, ainda havia uma população “sobrante” ou aqueles denominados “inadaptados”, considerados, um povo “marginal”, ou seja, que está à margem da sociedade – em suma, os excluídos. (ZIONE, 2006 apud LUZ, 2009, p. 53).
Assim sendo, aqueles que possuem condições de acesso aos bens de consumo proporcionados pela sociedade capitalista, são considerados os “incluídos”.
Ao refletir pouco mais a respeito do tema, pode concluir-se, que todos em dado momento, estarão excluídos ou incluídos de alguma situação.
A noção de exclusão concebida pela Política Nacional de Assistência Social (PNAS) sugere que esta, confunde-se,
comumente, com a desigualdade, miséria, indigência, pobreza (relativa ou absoluta), apartação social, dentre outras. Naturalmente existem diferenças e semelhanças entre alguns desses conceitos, embora não exista consenso entre os mais diversos autores que se dedicam ao tema. Entretanto, diferentemente de pobreza, miséria, desigualdade e indigência, que são situações, a exclusão social é um processo que pode levar ao acirramento da desigualdade e da pobreza e, enquanto tal apresenta-se, heterogênea no tempo e no espaço. (BRASIL, 2004, p. 36).
Dessa forma, a noção de exclusão serve para determinar um novo “momento”, expresso através das contradições da sociedade capitalista, como a violência urbana, o trabalho informal, o desemprego, entre outros.
Contudo, existe separação entre exclusão social e vulnerabilidade? Sobre esse aspecto, tem-se que,
Hoje é impossível traçar fronteiras nítidas entre essas zonas. Sujeitos integrados tornam-se vulneráveis, particularmente em razão da precarização das relações de trabalho, e as vulnerabilidades oscilam cotidianamente para aquilo que chamamos exclusão. (CASTEL et al., 2000, p. 23).
Percebe-se que há uma sutil diferença entre a definição exclusão, vulnerabilidade e risco. A exclusão retrata uma situação que já existe e, portanto, necessita de uma intervenção, que objetive a integração ou coesão social, enquanto que vulnerabilidade e risco possuem significações semelhantes, remetendo à prevenção, isto é, algo que está prestes a acontecer. Em outras palavras, vulnerabilidade:
articula-se com a ideia de risco, sendo que na literatura esses termos frequentemente são abordados de forma conjunta. No campo da proteção social, o foco orientado pela abordagem da vulnerabilidade e riscos está nas estratégias utilizadas pelas famílias que permitem escapar da pobreza e outras que a fazem perpetuar, o que remete à contribuição possível e necessária das políticas públicas no fortalecimento das capacidades de indivíduos, famílias e regiões para o enfrentamento e a superação da condição de vulnerabilidade. (BRONZO, 2007, p.1-2 apud LUZ, 2009, p. 55).
As perspectivas econômicas e sociais do indivíduo, família, nação ou grupo, geralmente, referem-se à desigualdade, pobreza, e exclusão, ao passo que a situação de pobreza, fome, miséria e indigência não está diretamente relacionada, à noção de vulnerabilidade e risco. Embora, seja utilizado pela mídia, por meio de jornais, e revistas de ampla circulação, fazendo alusão à moradores de favela, desnutrição, crianças pobres, abandono, entre outras circunstâncias.
Frequentemente, a noção de vulnerabilidade é associada à pobreza e o pobre é novamente, culpabilizado e estigmatizado.
De acordo com trecho de texto da Cepal (2002),
Grupos específicos da população que tem uma longa história de análise e políticas sociais. É usada, em primeiro lugar, para identificar grupos que estão em uma situação de risco social, por exemplo, grupos formados por indivíduos que, devido a fatores de seu ambiente doméstico ou comunitário, apresentam maior probabilidade de mostrar formas anômicas de conduta (agressividade, delinquência, dependência química), ou de sofrer formas diferentes de males pela ação ou omissão de outros (violência dentro da família, ataques na rua, desnutrição), ou de manifestar níveis inadequados de conduta em áreas chave para inclusão social (tais como educação, relacionamentos no trabalho, ou interpessoais). (CEPAL, 2002 apud ARREGUI; WANDERLEY, 2009, p.8).
Carla Bronzo (2007) apud Luz 2009 tem como base de estudos, a organização realizada pelo Banco Mundial, que descreve riscos como situações variadas que envolvem: Riscos naturais (enchentes, terremotos); riscos ligados ao ciclo da vida (maternidade, velhice, morte); riscos de saúde (endemias e epidemias); riscos sociais (violência); riscos ambientais (erosão do solo); econômicos (crises); riscos políticos (golpes de Estado).
Para a elaboração das políticas sociais, tal sistematização é oportuna, como forma de um combate mais efetivo. Como apontado pela PNAS, através de uma aproximação maior com o dia-a-dia das pessoas é que devem ser confirmadas situações de vulnerabilidade e riscos sociais, “pois, é nele que riscos e vulnerabilidades se constituem”. (BRASIL, 2004, p. 15).
A vulnerabilidade, o risco, a desigualdade, a exclusão e a pobreza são caracterizadas nas famílias por situações bem mais abrangentes que moradia precária, privações, alimentação pobre em nutrientes, entre outras situações. Nesse sentido, Bronzo, (2007) apud Luz (2009), afirma que
Frequentemente as famílias nessas condições de intensa e extensa vulnerabilidade e pobreza desenvolvematitudes e comportamentos de apatia, resignação, baixa autoestima, baixo protagonismo, autonomia, desesperança, subordinação e dependência, que acabam por “aprisionar” as famílias e indivíduos nas armadilhas da pobreza. Essas dimensões relacionais, consideradas como aspectos menos tangíveis da pobreza, remetem a questões de natureza psicossocial, envolve o tema das relações sociais e do empoderamento. (BRONZO, 2007, p. 3 apud LUZ (2009), p. 57).
A noção de empoderamento definida por Bronzo (2007) é considerada interessante, pois, é enfatizado o aspecto relacional do mesmo, proveniente de um conjunto de aspectos e não como algo interno da pessoa, “é algo que se processa no meio da relação entre usuários e agentes públicos, como produto emergente das relações que se estabelecem entre as famílias, os agentes, as redes de políticas e redes sociais” (BRONZO, 2007, p. 4 apud LUZ (2009), p. 57).
Já para Armatya Sen, o principal aspecto da pobreza, é a privação da liberdade, em posição contrária à noção grandemente veiculada, que se restringe às privações econômicas. Logo, para Sen (1998) “o desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agente” (SEN, 1998 apud BRONZO, 2007 apud LUZ, 2009).
Dessa forma, faz-se necessário, novos contornos institucionais e políticos que aprecie, principalmente, a autonomia, a participação, a liberdade, o empoderamento, em oposição ao clientelismo, ao paternalismo, da prudência, das práticas tuteladoras e repressivas.
CAPÍTULO II - POLÍTICA PÚBLICA SOCIAL: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NO BRASIL
Nos últimos anos, com o objetivo de reduzir a pobreza e as desigualdades existentes no país, o governo vem adotando as chamadas Políticas de Transferência de Renda. Mas, será que essas políticas são realmente relevantes? Para começar a estabelecer parâmetros que respondam a esta questão, na sequência, será realizado um regaste do desenvolvimento histórico desses programas e sua inserção no sistema brasileiro de proteção social. 
2.1- Inserção dos Programas de Transferência de renda no contexto do Sistema Brasileiro de proteção social
Entre os anos de 1930 e 1943 é dado início à constituição de um sistema de proteção social no Brasil. Segundo Silva, Yasbek e Giovanni (2012) este período foi caracterizado pela transição do modelo de desenvolvimento agroexportador para o modelo urbano-industrial. As funções do Estado são profundamente reordenadas quando este assume de maneira mais ostensiva “a regulação ou provisão direta no campo da educação, saúde, previdência, programas de alimentação e nutrição, habitação popular, saneamento, transporte coletivo” (NEPP, 1994 apud SILVA, YASBEK, GIOVANNI, 2012, p. 25).
Desse modo, é válido ressaltar que o principal responsável pela produção do desenvolvimento econômico no Brasil sempre foi o Estado. Muito embora o mercado seja sua prioridade, é também o responsável pela promoção do bem estar social, da comunidade de interesses por constituir-se em um canal de solidariedade social. Nesse contexto,
O padrão de cidadania desenvolvido tinha por base o mercado de trabalho, rigidamente controlado pelo Estado. Ser cidadão significava ter carteira assinada e pertencer a um sindicato, ou seja, forjou-se uma Cidadania Regulada (Santos, 1987), restrita ao meio urbano, numa sociedade marcada pela fragilidade de disputa entre interesses competitivos. (SILVA, YASBEK E GIOVANNI, 2012, p.26).
Assim, como nem todo cidadão possuía carteira assinada, como também aqueles que a possuíam não se beneficiavam desta, uma vez que visando obter uma quantidade maior de lucros da industrialização, a classe dominante do período lesava as leis trabalhistas, esta Cidadania Regulada mais excluía que incluía. A respeito desta questão, Behring e Boschetti (2007) destacam,
Em 1930, foi criado o Ministério do Trabalho, e em 1932, a Carteira de Trabalho, a qual passa a ser documento de cidadania no Brasil: eram portadores de alguns direitos, aqueles que dispunham de emprego registrado em carteira. Essa é uma das características do desenvolvimento do Estado Social Brasileiro: seu caráter corporativo e fragmentado. (BEHRING E BOSCHETTI, 2007, p. 106).
Os mínimos sociais na esfera do Estado Brasileiro teve início a partir da criação do salário mínimo em 1934, e implantado em 1940. Se por um lado a instituição de um salário mínimo representou uma renda básica que tivesse capacidade de proporcionar mesmo que minimamente condições de habitação, vestuário, alimentação, dentre outros, tanto para o trabalhador quanto para a sua família. Por outro lado, baseada em níveis biológicos, a fixação do salário mínimo no ano de 1940, permitiu aos empresários a redução máxima de seus gastos referentes à folha de pagamento de seus empregados. É importante ressaltar que nesses cálculos aprovados na legislação trabalhista da época, não estavam incluídos, por exemplo, gastos com educação, ou saúde. (MENDONÇA, 1986 apud ABREU, 2011, p. 32)
Essa renda mínima, só é proporcionada aos trabalhadores formais, não cabendo ao trabalhador informal ou precarizado seus benefícios, principalmente, no pós-neoliberalismo. 
Foi durante as décadas de 1970 e 1980, que ocorreu um aumento dos serviços e programas sociais como forma de compensação direcionada ao movimento sindical e aos demais movimentos sociais por toda a repressão vivida no período anterior. Contudo, isto não representou obstáculo para que a sociedade civil se rearticulasse fazendo vir à tona os chamados “novos movimentos sociais” e a estruturação do “Sindicalismo Autêntico”, “além, do reordenamento dos partidos políticos com a estruturação de novos partidos, entre estes, o Partido dos Trabalhadores, o movimento autêntico do PMDB, dos partidos, então, clandestinos da esquerda, além da intensa atuação da Igreja”. (SILVA, YASBEK, GIOVANNI, 2012, p. 26). A luta pela necessidade de ampliar e universalizar os direitos sociais, propagada por esses movimentos resultaram no movimento pró-constituinte e na elaboração da Constituição Federal de 1988. Com o estabelecimento do conceito de Seguridade social a Assistência Social, juntamente, com a saúde e a Previdência foram apreendidas como políticas pertencentes à Seguridade Social Brasileira e as ideias desse movimento foram absorvidas pela referida Constituição, mais conhecida como Constituição Cidadã.
Em 1986, houve a criação do Seguro Desemprego, o qual faz parte do Sistema Brasileiro de Proteção Social afirmando outros mínimos sociais. Garantido pelo art. 7º dos Direitos Sociais da Constituição Federal, o seu valor é variado, podendo ser paga de 3 a 5 parcelas por tratar-se de um benefício temporário. 
Alguns benefícios instituídos com a Constituição Federal de 1988 são considerados importantes avanços no que diz respeito aos mínimos sociais, entre estes, encontram-se, a equiparação ao salário mínimo dos auxílios da Previdência Social, a criação da Renda Mensal Vitalícia ligada a Previdência Social, direcionada aos brasileiros de mais de 70 anos sem condições de subsistência e a bolsa de estudos concedida pelo Estado a filhos de trabalhadores ou crianças de famílias pobres. Com relação ao Benefício de Renda Mensal Vitalícia, Silva, Yasbek e Giovanni (2012), destacam:
Esse direito foi reafirmado pela Constituição Brasileira de 1988, no âmbito da assistência social, passando a se constituir num direito do cidadão e num dever do Estado (arts. 203 e 204), na categoria de auxílio aos idosos, definido na referida Constituição, sendo estendido aos portadores de deficiência que não possam trabalhar e não disponha de renda per captasuperior a um quarto do salário mínimo. Ambos, auxílio a idosos e a deficientes, fixados no valor de um salário mínimo, só foram regulamentados pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993), ficando então instituído o Benefício de Prestação Continuada, tendo o mesmo entrado em vigor só a partir de janeiro de1996. (SILVA, YASBEK e GIOVANNI, 2012, p. 36-37)
Desse modo, destaca-se a importância da LOAS no debate a respeito do conceito de mínimos sociais, e sobre a proteção social por constar em seu art. 1º a definição de assistência social como Política de Seguridade Social não contributiva, estabelecendo como parâmetro para essa política os mínimos sociais para que estes possam direcionar as propostas e o debate dos programas de renda mínima no Brasil.
Durante toda a década de 1990 sob a influência da ideologia neoliberal cujo processo de desenvolvimento do país era orientado, ocorreu um combate aos avanços referentes à universalização e democratização dos direitos sociais, diferentemente do período anterior. Assim sendo, a inserção do Brasil na competitividade da economia global teve por consequências a precarização do trabalho, o arrocho salarial, o desemprego, aumento da pobreza e estagnação do crescimento econômico que afetou, inclusive, setores médios da sociedade. (Silva, Yasbek e Giovanni, 2012).
De acordo com alguns estudos realizados por Silva (2008),
O Sistema de Proteção social se encontrava na década de 1990, marcado por superposições de objetos, competências, clientelas-alvo, agências e mecanismos operadores; instabilidade e descontinuidade dos programas sociais; insuficiência e ineficiência, com desperdício de recursos; distanciamento entre formuladores de políticas e beneficiários; ausência de mecanismos de controle e acompanhamento de programas (Draibeet al., 1995), dando espaço para o setor privado lucrativo e para a emergência do denominado Terceiro Setor, com a ampliação do voluntariado e da filantropia empresarial. (Silva, 2008, p. 28).
Logo, com base em parâmetros ideológicos neoliberais, o Estado Brasileiro passa a ter como foco principal a sua inserção na competitividade da economia globalizada, dessa forma, subordinando-se à lógica do capital que acaba por dificultar o processo de luta por conquistas sociais, como também a não priorizar a elevação do padrão de vida da população brasileira. Sendo assim, o Estado isenta-se de sua responsabilidade social, transferindo-a para a sociedade civil, tornando-a responsável por atender as dificuldades sociais das classes subalternas através da filantropia e solidariedade. (SILVA, YASBEK e GIOVANNI, 2012, p. 28).
Desse modo, se por um lado a década de 1980 tinha como aspecto principal, o direcionamento para a universalização dos direitos sociais básicos, por outro lado, a década de 1990 caminhou em sentido contrário, diminuindo gastos sociais e retrocedendo com relação à oferta de serviços sociais básicos, caracterizando assim, um desmonte do Sistema Brasileiro de Proteção Social.
No que tange ao bem estar social, a década de 1990 foi um período contraditório, pois, tanto avançou no campo político-institucional, estabelecendo o conceito da Seguridade Social, dos princípios da participação da sociedade civil e de descentralização, exaltados pela Constituição de 1988, quanto a intervenção pelo Estado tornou-se restrita no campo social, aderindo a parâmetros cada vez mais baixos com relação aos cortes de rendimentos para determinação da linha de pobreza, com a finalidade de introduzir nos Programas de Transferência de Renda em ascensão no Brasil a partir de 2001, os segmentos mais pobres da população.
Nesse sentido, a história do Sistema Brasileiro de Proteção Social é marcada basicamente pela meritocracia, pelo corporativismo e pelo clientelismo. Ao analisar o a função do Estado no processo gerenciamento e construção desse Sistema de Proteção Social, Silva, Yasbek e Giovanni pontuam:
Esse Estado, além de privilegiar o trabalhador do setor formal da economia, vem cristalizando uma estrutura de benefícios que só tem contribuído para a manutenção da profunda desigualdade social que tem marcado e sociedade brasileira, impedindo a expansão horizontal das conquistas sociais. Tem-se desenvolvido um conjunto amplo, embora, disperso, desfocalizado, descontínuo e insuficiente de programas sociais, com marcas prevalentes de traços meramente compensatórios, desvinculando-se as políticas sociais da necessária articulação com as políticas de desenvolvimento econômico. Assim, esse perfil das políticas sociais brasileiras é aprofundado pela política neoliberal dos anos 1990, ampliando as marcas de uma proteção social meramente compensatória e residual, orientada pela agenda de reforma dos programas sociais na América Latina, sob a orientação dos organismos internacionais nos anos 1980. (SILVA, YASBEK e GIOVANNI, 2012, p. 30-31).
Sendo assim, a intervenção do Estado passa a ser restrita no seguimento social, priorizando a extrema pobreza, utilizando a sociedade e a filantropia privada como complemento.
O Sistema Brasileiro de Proteção social é marcado no século XXI pela falta de capacidade de enfrentamento da pobreza e desproteção social à extensa lista de trabalhadores excluídos do mercado de trabalho ou introduzidos precariamente em postos de trabalho temporários, informais, subcontratados e com baixa remuneração. Esse tipo de política compensatória, residual e desvinculada da política de desenvolvimento da economia que é característica desse Sistema de Proteção Social, permite que a maioria dos trabalhadores seja excluída dos serviços sociais, pois, viabiliza a continuidade da concentração de renda, bem como mantem uma economia centrada no mercado informal.
A partir de 1991, os Programas de Transferência de Renda como Política Pública, foram implementados através do Projeto de Lei n. 80/1991, que tinha como proposta a instituição do Programa de Garantia de renda Mínima – PGRM e que foi apresentado ao Senado Federal pelo então Senador, Eduardo Suplicy, pertencente ao Partido dos Trabalhadores (PT), e que foi sem dúvida um dos maiores defensores de tais programas, apontando-os como a possibilidade simples, objetiva e concreta, para a garantia ao direito mais elementar do ser humano, através da participação na riqueza socialmente produzida, que é o direito à vida.
Internacionalmente, nota-se que o recorte tradicional do WelfareState – que, constitui-se em um seguro social gerado através da contribuição dos trabalhadores inseridos no mercado formal, e pela assistência social, composta por auxílios e serviços sociais voltados à parcela da sociedade em dificuldades –não mais conseguem conter as expressões da “questão social”. A necessidade de renovação dos Programas Sociais é expressa dando destaque aos Programas de Transferência de Renda como instrumento de enfrentamento à pobreza e ao desemprego, que na atual conjuntura apresentam-se ampliados em sua face estrutural (Silva, Yasbek e Giovanni, 2012).
O debate desenvolvido no Brasil apresenta na atualidade justificativa e inclinações político-ideológicas distintas quanto à ótica nacional sobre os Programas de Transferência de Renda. Nesse sentido, o debate das experiências brasileiras no campo dos Programas de Transferência de Renda é inspirado por dois tipos de orientações. 
A primeira concepção orienta que os Programas de Transferência de Renda são residuais e compensatórios, fundamentados por estimativas liberais e neoliberais que levam à exclusão social e ao desemprego, bem como objetivam a manutenção dos interesses do mercado. Logo, segundo esta concepção, tais programas objetivam,
garantir a autonomia do indivíduo como consumidor, atenuar os efeitos mais perversos da pobreza e da desigualdade social, sem considerar o crescimento do desemprego e a distribuição de renda, tendo como orientação e focalização na extrema pobreza, para que não ocorra desestímulo ao trabalho. O impacto é, necessariamente, a reprodução de uma classe de pobres, com garantia de sobrevivência no limiar de uma determinada linha de pobreza. (SILVA, YASBEK e GIOVANNI, 2012, p. 42-43).
Já com relação à segunda concepção, indica que tais programas, têm por base pressupostos redistributivos orientados pelos critérios de Cidadania Universal. Desse modo, visam à autonomia do indivíduo, focalizando positivamente no sentido de incluir

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