Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Patologia Hanna Briza – DEGENERAÇÃO É a lesão reversível secundária a alterações bioquímicas que resultam em acúmulo de substâncias no interior de células. → Morfologicamente, uma degeneração aparece como deposição (ou acúmulo) de substâncias em células. → Quando a substância acumulada é um pigmento, a lesão é estudada à parte, entre as pigmentações. São alterações celulares, geralmente reversíveis quando o estímulo cessa, e que podem ou não evoluir para morte celular. → O citoplasma apresenta-se lesionado, com acúmulo de substâncias exógenas ou pré- existentes, o que reduz ou cessa a função celular. TIPOS DE DEGENERAÇÕES As degenerações agrupam-se de acordo com a natureza da substância acumulada na célula: 1. Acúmulo de água e eletrólitos: degeneração hidrópica. 2. Acúmulo de proteínas: degenerações hialina e mucoide. 3. Acúmulo de lipídios: esteatosee lipidoses. 4. Acúmulo de carboidratos: glicogenosese mucopolissacaridoses. DEGENERAÇÃO HIDRÓPICA → Lesão celular reversível em que ocorre acúmulo de água e eletrólitos no interior da célula (tumefação). → É a lesão não letal mais frequente nas células, independente da natureza do agente. → Causada por agentes físicos, químicos ou biológicos que alteram o equilíbrio hidroeletrolítico e levam a retenção de eletrólitos e água. → O transporte de Na+ para o meio extracelular é feito por bombas eletrolíticas que dependem de energia (ATP). Sinônimos: inchação turva, tumefação turva, degeneração vacuolar e edema celular. É o acúmulo de água nas células, devido a alterações na bomba de sódio e potássio, retendo sódio na célula, e consequentemente, retendo água. Principais causas: → Hipóxia → Hipertermia → Intoxicação → Infecção de caráter agudo → Toxinas → Hipopotassemia → Distúrbios circulatórios Provocada por transtornos de equilíbrio hidroeletrolítico, que levam à retenção dos produtos. → Diminuição da síntese de ATP. → Interferência na bomba de sódio – ↑ Na+. Agressão pode diminuir o funcionamento da bomba hidroeletrolítica quando: Citoplasma se torna volumoso e pálido com núcleo normalmente posicionado. Retenção de Na+ no citosol resulta em acúmulo de água nas células e é a principal causa dessa degeneração. Todas essas diferentes causas conduzem a um fenômeno comum: retenção de Na+, acúmulo de água no citoplasma e expansão da célula 2 Patologia Hanna Briza → Altera a produção ou consumo de ATP → Interfere com a integridade de membranas → Modifica as moléculas que formam a bomba No início o líquido se acumula no citoplasma, causando aumento de volume e aspecto de citoplasma diluído. Conforme o processo degenerativo progride: → Há formação de vacúolos com contornos imprecisos, deixando o citoplasma com aspecto rendilhado. É reversível desde que seja retirada sua causa: → Como se trata de lesão reversível, eliminada a causa as células voltam ao aspecto normal Geralmente a degeneração hidrópica sozinha não leva a consequências funcionais. Em hepatócitos, a degeneração baloniforme pode reduzir a função celular, mas insuficiência hepática é muito rara. Características macroscópicas: → O órgão se apresenta pálido e com aumento de peso e volume. → Aumento de volume e peso do órgão: tumefação, cápsula tensa, consistência pastosa. → Palidez: células aumentam de volume e comprimem os capilares; compressão vascular pelas células tumefeitas. → Podem apresentar coloração acinzentada clara. Ao microscópio de luz (ML): → Células tumefeitas → Citoplasma torna-se menos basófilo → Vacúolos de água no citoplasma (podem ser confundidos com esteatose microvesicular- pesquisa de lipídeos desfaz dúvida). Em hepatócitos, podem formar-se grandes vacúolos caracterizando a degeneração baloniforme. Características microscópicas: → Citoplasma opaco, granuloso, turvo, refringente, com transparência diminuída mascarando o núcleo/ tumefação turva. 3 Patologia Hanna Briza DEGENERAÇÃO HIALINA Consiste no acúmulo de material proteico e acidófilo nas células, resultante da condensação de filamentos intermediários ou do acúmulo de material viral. → O material hialino depositado também pode ser constituído por proteínas endocitadas. → Hepatites Virais: ✓ Corpúsculo Hialino de Councilman- Rocha Lima (corpos apoptóticos). → Proteinúria: endocitose → Em células musculares esqueléticas: endotoxinas. → Presença de material vítreo, amorfo, hialino (róseo), brilhante e róseo. FORMA MAIS GRAVE. → Acúmulo de material proteico (alteração na síntese proteica). → Lesões celulares com acúmulo de proteína → Sinônimo: hialinose (hyálinos= vidro) 4 Patologia Hanna Briza É o acúmulo de proteínas na célula, que lhe confere um aspecto translúcido, homogêneo e eosinofílico. Infecções virais: → Apresentam corpúsculos de inclusão, que são patognomônicos para certas doenças como a raiva. Hepatócitos de alcoólatras crônicos: → Corpúsculo Hialino de Malloryou Mallory- Denk → Álcool ingerido em altas doses: ✓ Leva à precipitação de proteínas do citoesqueleto (não visíveis ao MO). → Estas formam os corpúsculos hialinos de Mallory: ✓ Manifestação morfológica altamente característica, mas não patognomônica, da ação tóxica do etanol sobre o fígado. O corpúsculo hialino de Mallory-Denk encontrado tipicamente em hepatócitos de alcoólatras crônicos, é formado por aglomerados de proteínas do citoesqueleto que sofreram agressão por radicais livres. Os corpúsculos de Councilman-Rocha Lima (hepatócitos em apoptose) são vistos em hepatócitos em hepatites virais, especialmente na febre amarela. → Se a agressão é intensa, a célula morre (necrose hialina). 5 Patologia Hanna Briza Degeneração hialina de células musculares esqueléticas e cardíacas resulta de endotoxinas bacterianas e agressão por linfócitos T e macrófagos. → Aspecto homogêneo e hialino (acidófilo): devido à desintegração de microfilamentos. Corpúsculos de Russell: → Formados pelo acúmulo de imunoglobulinas em plasmócitos → Frequentes em inflamações agudas (salmoneloses) ou crônicas (leishmaniose tegumentar e osteomielites). DEGENRAÇÃO GORDUROSA – ESTEATOSE, LIPIDOSE É o acúmulo de gorduras neutras no citoplasma de células que não as armazenam. → O fígado, órgão diretamente relacionado com o metabolismo de lipídios é o mais afetado. Deposição de gorduras neutras (mono, di ou triglicerídeos) no citoplasma de células que normalmente não as armazenam. → A lesão é mais comum no fígado, mas pode ocorrer em outros locais como miocárdio, túbulos renais, músculos esqueléticos e pâncreas. A esteatose pode ser causada por várias agressões: → Agentes tóxicos → Hipóxia → Alterações na dieta → Distúrbios metabólicos. A lesão aparece quando o agente interfere no metabolismo de ácidos graxos: 1. Aumentando a captação ou a síntese de ácidos graxos 2. Dificultando sua utilização, transporte ou excreção. 6 Patologia Hanna Briza Captação e destino de ácidos graxos em hepatócitos. → Os ácidos graxos circulantes penetram nos hepatócitos e são utilizados para a produção de energia (b-oxidação) nas mitocôndrias e para a síntese de colesterol, triglicerídeos e fosfolipídeosno retículo endoplasmático liso. → No complexo de Golgi, estes lipídios complexos associam-se a proteínas e formam lipoproteínas. → Contidas em vesículas, as lipoproteínas são transportadas no citoplasma por microtúbulos (MT) e microfilamentos (MF) e excretadas nos sinusoides. Patogênese e etiologia: 1. Entrada excessiva de ácidos graxos livres: ✓ Fome, jejum ✓ Aumento da ingestão de alimentos ✓ Aumentoda secreção de hormônios 2. Decréscimo da síntese proteica ou da ligação dos lipídios às proteínas (drogas, agentes químicos e toxinas) 3. Diminuição na oxidação de ácidos graxos (anemia, insuficiência cardíaca) 4. Aumento da esterificação de ácidos graxos para triglicérides (álcool) 5. Aumento de triglicérides plasmático (Diabetes) Mecanismos patogenéticos da esteatose hepática no alcoolismo Apesar de reversível, a esteatosepode evoluir para morte celular. → Hepatócitos repletos de gordura podem se romper e formar lagos de gordura (cistos gordurosos). → Pode ocorrer embolia gordurosa: ✓ Ruptura de cistos gordurosos na circulação, facilitada por traumatismos. Os órgãos apresentam aspectos variados. → Fígado: aumenta de volume e peso e apresenta coloração amarelada. → Coração: esteatose pode ser difusa ou em faixas amareladas (coração tigroide). → Rins: há aumento de volume e peso, e o órgão fica amarelado. Macroscopicamente, o órgão se apresenta amarelado e gorduroso. Ingestão abusiva de etanol e síndrome metabólica são as causas mais comuns de esteatose hepática. No etilismo, há aumento de radicais livres, acetaldeído e acetil-CoA e redução de NAD. Radicais livres causam lesão mitocondrial, reduzindo a β-oxidação de gorduras. Radicais livres e acetaldeído interferem no transporte de lipoproteínas no citosol, por afetarem microtúbulos e microfilamentos. O excesso de acetil-CoA induz a síntese de ácidos graxos, que se acumulam na célula. NAD é necessário para a oxidação de lipídios; na sua carência, ocorre acúmulo de lipídios. Se há desnutrição concomitante ao alcoolismo, a menor disponibilidade de proteínas diminui a formação de lipoproteínas, prejudicando a eliminação de gorduras dos hepatócitos. 7 Patologia Hanna Briza → Deve ser diferenciado de degeneração hidrópica, por métodos histoquímicos (colorações Azul do Nilo e SudanIV) que não degradam a gordura das células. É o acúmulo excessivo de triglicerídeos no citoplasma de células parenquimatosas, formando vacúolos: → Que podem ser pequenos e múltiplos ou coalescentes e volumosos: ✓ Deslocam o núcleo para a periferia ✓ De limites nítidos ✓ Dando à célula um aspecto pálido e esponjoso, dependendo do órgão em que está localizada Hepatócitos mostram vacúolos claros de tamanhos variados no citoplasma. FORMA MACROVACUOLAR: → Hepatócitos apresentam um grande vacúolo de gordura no citoplasma que desloca o núcleo para a periferia. FORMA MICROVACUOLAR: → Gordura acumula-se em pequenas gotículas geralmente na periferia da célula, permanecendo o núcleo em posição central. 8 Patologia Hanna Briza A esteatose pode evoluir para a esteato-hepatite, que, além do acúmulo de gorduras nos hepatócitos, apresenta corpúsculos de Mallory-Denk, degeneração hidrópica, inflamação e fibrose, podendo evoluir para cirrose hepática. No etilismo crônico: → Esteatose hepática é acompanhada de fibrose pericelular, especialmente centrolobular, que pode evoluir para cirrose. → Fibrose e cirrose hepáticas também ocorrem na evolução de esteato-hepatite não alcoólica → Em etilistas crônicos ela se reduz ou desaparece em pouco tempo após abstinência. LIPIDOSES Acúmulos intracelulares de outros lipídeos que não os triglicerídeos. → Em geral são depósitos de colesterol ou ésteres, sendo raros os acúmulos de lipídeos complexos. → As lipidoses são localizadas ou sistêmicas. Depósitos de colesterol: → Depósitos de colesterol e seus ésteres podem ser formados em artérias (aterosclerose), na pele (xantomas) e em locais com inflamações crônicas. ATEROSCLEROSE: → Doença caracterizada por depósitos sobretudo de colesterol e ésteres de colesterol na íntima de artérias de médio e grande calibres. → Doença multifatorial: fatores genéticos e ambientais. → Dislipidemia, com aumento de triglicerídeos e colesterol no plasma, é o principal fator de risco; → Hipertensão arterial, tabagismo, diabetes melito, estresse e sedentarismo. 9 Patologia Hanna Briza XANTOMAS: → São lesões na pele sob a forma de nódulos ou placas que, quando superficiais, têm coloração amarelada → Surgem geralmente em pessoas com aumento do colesterol sérico → Microscopicamente: formados por aglomerados de macrófagos espumosos, carregados de colesterol. ESFINGOLIPIDOSES: → São doenças de armazenamento de esfingolipídeose seus produtos, por falta ou deficiência de enzimas lisossômicas. → São doenças genéticas → Algumas mais frequentes em certos grupos raciais (judeus); outras, sem preferência por grupo étnico. → Doença de Fabry, doença de Niemann-Pick, doença de Tay-Sachs, doença de Gaucher. DEGENERAÇÃO GLICOGÊNICA Glicogenoses → São doenças genéticas caracterizadas pelo acúmulo de glicogênio em células do fígado, rins, músculos esqueléticos e coração → Causa: deficiência de enzimas envolvidas na sua degradação. → Acúmulo de glicogênio pode ocorrer também por alterações no seu metabolismo. Nos hepatócitos ocorre por: → Hiperglicemia → Doença metabólica induzida por fármacos (corticoides) → Deficiência enzimática relacionada a doenças de armazenamento de glicogênio → Tumores hepatocelulares. Ao microscópio: → Vacúolos claros mal delimitados de diferentes tamanhos, levando ao aumento de volume celular e a um aspecto fosco, podendo estar dentro do núcleo; → Exemplo clássico: diabetes mellitus. → Utiliza-se o método do ácido periódico de Schiff(PAS) de coloração para diferenciar glicogênio de água. 10 Patologia Hanna Briza MUCOPOLISSACARIDOSES: → Doenças metabólicas por depósitos anormais de poliglicanose/ou proteoglicanos → Resultam de deficiências enzimáticas → Caracterizadas por acúmulo intra lisossômico dessas moléculas e/ou seus catabólitos. → Embora tenham aspectos em comum, as mucopolissacaridoses apresentam manifestações diferentes, de acordo com a enzima lisossômica deficiente → Anormalidades no esqueleto, artérias, valvas cardíacas, retardo mental e opacificação da córnea existem em todas elas. DEGENERAÇÃO MUCOIDE → Hiperprodução de muco pelas células mucíparas dos tratos digestivo e respiratório, ocasionando acúmulo de mucina, podendo levar à morte celular. → Síntese exagerada de mucinas em adenomas e adenocarcinomas, que às vezes extravasam para o interstício. → Ocorre: estômago, intestino grosso, vesícula biliar, próstata e pâncreas. Doença de McArdle: •Acúmulo de glicogênio em fibras musculares esqueléticas na doença de McArdle (glicogenosetipo V). •Doença autossômica recessiva •Acarreta a falta da enzima fosforilase muscular, que é a primeira enzima da cadeia de quebra do glicogênio (glicogenólise). •A falta da enzima leva ao acúmulo de glicogênio na forma de vacúolos subsarcolemais (abaixo da membrana externa da fibra). •Á esquerda, tricrômicode Gomori, o glicogênio aparece como um vacúolo descorado; à direita, o corte foi corado com PAS (ácido periódico + reativo de Schiff) que cora o glicogênio em vermelho magenta.
Compartilhar