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BIOLOGIA DOS MOVIMENTOS DENTÁRIOS INTRODUÇÃO De acordo com Patrícia Pereira, a ortodontia tem como objetivo diagnosticar, prevenir e corrigir as irregularidades dento faciais do paciente. Para entendermos a fundo essa área da odontologia é necessário compreender que ela abrange todo o campo de estruturas envolvidas, tais quais: a gengiva, o complexo dentina-polpa e a mais enfatizada neste estudo que é o osso alveolar e o ligamento periodontal. A movimentação dentária é induzido por diversos estímulos mecânicos. Esse processo só é possível através de mecanismos que atuam exercendo força e pressão no periodonto, tanto de proteção quanto sustentação, levando assim a remodelação dos tecidos( Araceli Collazo, 2018). Tal movimentação tem objetivo numa boa conduta ortodôntica. O objetivo deste trabalho é abordar aspectos do funcionamento e mecanismos da biologia da movimentação dentária, evidenciando assim, cada características e alterações na estrutura do periodonto focando sempre na histologia dessas estruturas. II REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1. BIOLOGIA DO MOVIMENTO DENTÁRIO O movimento dentário ortodôntico tem como princípio a quebra do equilíbrio tecidual e celular, transformando um estímulo mecânico em um fenômeno biológico, por meio da mecânica ortodôntica aplicada, promovendo a remodelação óssea e modificando a posição dentária de forma estável e duradoura, evitando efeitos indesejáveis. (Milton, 2009) Esse movimento ocorre através de um processo inflamatório que advém de vários mediadores celulares ou citocinas, assim como mudanças na inervação e vascularização do complexo dento-alveolar. (Gameiro et al, 2007). 1.1 FUNDAMENTOS DA MOVIMENTAÇÃO DENTÁRIA O movimento dentário clínico requer um ligamento periodontal. As forças aplicadas aos dentes são mediadas pelo ligamento periodontal e resultam em remodelação dos tecidos periodontais. Quando um aparelho é preso a um dente o dente é movimentado, toda sua superfície do alvéolo é afetada. O lado pressionado da raiz dentária comprime o ligamento periodontal e o osso alveolar, o que resulta na reabsorção óssea. Na superfície oposta da raíz, a movimentação alonga as fibras do ligamento, que causa tensão. (James K. Avery, 2005) Figura 1: Periodonto normal Figura 2: Movimentação dentária para a esquerda (seta) Figura 3: https://ortodontiamazzieiro.com.br/blog/tag/bi ologia-do-movimento-dentario/ 1.2 SÍTIOS DE REMODELAÇÃO No lado de ligamento sob compressão, os feixes de fibras colágenas estão inicialmente desorganizadas e compactados. O fluxo vascular diminuir. Pode ocorrer morte celular, e podem aparecer osteoclastos ao longo da frente óssea. No lado do ligamento sob tensão, as fibras colágenas estão estiradas. Os fibroblastos tornam-se mais fusiformes e aparecem orientados com seu longo eixo na direção dos feixes de fibras. Um dente unirradicular, é como mostrado na figura, possui duas ou mais zonas de compressão. A zona de bifurcação tem uma região de tensão em direção à raiz esquerda e uma região de compreensão para raíz direita. As áreas apicais demonstram transição de tensão para compressão, e são locais vulneráveis durante o movimento dentária. Pressão demais pode causar morte do tecido pulpar por interferência no suprimento vascular dentário. Figura 2: Zona de tensão (inicial) A resposta inicial à força física é o deslocamento do dente. Seguem-se alterações estruturais permanentes. Os aspectos histológicos que acompanham as alterações incluem uma mudança no tempo e no número de células, alterações vasculares e alterações na matriz extracelular. 1.3 TRANSDUÇÃO O mecanismo de transdução, é a conversão de força física em resposta biológica. Alguns sinais dos mecanismos químicos e físicos propostos para desencadear de alterações metabólicas são: https://ortodontiamazzieiro.com.br/blog/tag/biologia-do-movimento-dentario/ https://ortodontiamazzieiro.com.br/blog/tag/biologia-do-movimento-dentario/ https://ortodontiamazzieiro.com.br/blog/tag/biologia-do-movimento-dentario/ fluxo vascular e linfático alterado; alterações de pressão e volume no espaço periodontal; distorções na moléculas matriciais, membranas celulares e citoesqueleto celular; efeito bioelétrico, gerados a partir da inclinação dentária; influências hormonais e fenômenos inflamatórios e outros eventos celulares nervosos imunes. 1.4 VARIÁVEIS DE FORÇA O tempo serve como uma variável que vai fazer com que haja a resposta do osso alveolar na movimentação do dente. O deslocamento do dente exerce uma força nas zonas de tensão e compressão do osso alveolar fazendo com que sua resposta de reabsorção mova o dente para o seu espaço. A reabsorção do osso alveolar permite o movimento gradual do dente para o espaço oferecido e começa na frente da compressão. Na zona de tensão, esse movimento é compensado com a deposição óssea pelos osteoblastos e com o avanço do dente ocorre a degeneração óssea na zona de compressão. Figura 4: Movimento de inclinação comparado ao movimento de corpo. Fonte: James K. Avery (2005). Na figura 4 acima mostra um dente inclinado para a esquerda (a esquerda é vista uma zona de compressão, enquanto para direita é vista uma zona de tensão. Na imagem 4B a zona de reabsorção osteoclástica direta é vista para a esquerda com deposição óssea ocorrendo na zona de tensão para a direita. A reabsorção direta ou frontal é uma meta clínica desejável, pois não é um processo destrutivo. Osteoclastos aparecem poucas horas depois que a movimentação dentária começa, pois são recrutados dos monócitos emergentes dos vasos sanguíneos. 2. ALTERAÇÕES HISTOLÓGICAS A resposta tecidual pode ocorrer de acordo com as forças mecânicas implicadas na movimentação dentária, podendo ocorrer pela magnitude da força e a sua duração, tendo a direção e o ponto de aplicação. Dependendo da magnitude ou a duração da força, pode ocorrer a hialinização do ligamento periodontal. A hialinização causa perda da atividade celular e vascularização do tecido. As perdas de células fazem com que a reabsorção óssea e a movimentação dentária pare temporariamente. A hialinização também causa uma associação com a reabsorção destrutiva. Como a reabsorção não pode ocorrer na área de tensão, os osteoclastos são ativados nos espaços medulares opostos à superfície de osso alveolar tensionada. Quando os ossos intermediários são removidos e a medida que é aliviada a compressão, novas células do tecido adjacentes são: A resposta tecidual às forças mecânicas na movimentação dentária variará com a magnitude da força, a duração, a direção e o ponto de aplicação. Se a força for muito rápida, pode ocorrer hialinização do ligamento periodontal. A hialinização resulta em perda de atividade celular e vascularidade na zona do ligamento sob pressão. Essa zona do ligamento hialinizado é mostrado, onde o dente está em íntima oposição com o osso. Viste em maior aumento pode ser observado uma perda da natureza fibrilar das fibras colágenas. A perda de células interrompe a reabsorção óssea e a movimentação dentária para temporariamente. Um outro aspecto da realização é sua associação com a reabsorção destrutiva. Com a reabsorção não pode ocorrer na superfície comprimida de osso alveolar, osteoclastos são ativados nos espaços medulares opostos à superfície comprimida do osso alveolar tensionada. Quando os osteoclastos terminam de remover o osso intermediário, o dente se movimenta novamente. Algumas das células na zona e compressão, não se recuperam. A medida de que são destruídas e a reabsorção alivia a compressão, novas células de tecido adjacentes reconstroem a zona destruída. Além disso, mudanças no potencial bioelétrico podem sinalizar o estabelecimento de reabsorção destrutiva, mas falta de suprimento sanguíneo e a morte celularna zona hialinizada podem contribuir. O que protege a superfície radicular do dano durante a movimentação dentária de rotina não é conhecido. A reabsorção destrutiva não é facilmente controlada e a extensão do dano. Figura 3: A Compressão e hialinização do ligamento periodontal causadas por movimentação dentária excessiva. B Maior ampliação de (A) mostra a reabsorção destrutiva adjacente à zona hialinizada. Fonte: James K. Avery (2005). 2.1 MOVIMENTO EXTRUSIVO E INTRUSIVO O movimento de extrusão causa tensão em toda as fibras ao longo do ligamento e com deposição resultante em toda a lâmina dura, assim como nas cristas alveolares e regiões do fundo. Essas forças leves são eficiente para a produção do osso compensatório, enquanto que na força intrusiva ela faz com que as fibras gengivais relaxem, assim como na crista alveolar e em todo o alvéolo. Figura 4: Movimento extrusivo e intrusivo. Esse tipo de movimento causa tensão em todas as fibras do ligamento com deposição resultante ao longo da lâmina dura, especialmente na crista alveolar e nas regiões fúndicas. Forças extrusivas leves são mais efetivas na produção de crescimento ósseo compensatório. Forças intrusivas causam relaxamento das fibras gengivais livres e inseridas e também perda óssea na crista alveolar e sobre todo o alvéolo. Bons resultados são menos facilmente obtidos com movimento intrusivos do que com inclinação. Esse tipo de movimento exige uma força leve e persistente, ela progride lentamente. 2.2 ROTAÇÃO E MOVIMENTO DO CORPO A medida que a raiz e rotada, ocorre deposição em todo o caminho do movimento de tensão. O movimento de rotação faz com que ocorra a perda óssea e ao longo do tempo ocorra a deposição de osso novo, porém nem todos o osso fazem o mesmo movimento de rotação, enquanto alguns rotam no lugar outros rotam no eixo. 2.3 ESTABILIDADE E RECIDIVA Os dentes permanentes permanecem em total equilíbrio e em posição mesmo com todos os tipos de forças que atuam sobre eles. Os dois maiores desafios que os clínicos enfrentam são o de movimentar o dente e o encontrar a posição de equilíbrio para que os movimentos dentários seja estável. 3. HISTOLOGIA E SUAS MODIFICAÇÕES NO MOVIMENTO DENTÁRIO Segundo Consolaro (2005) para entender a movimentação dentária temos que compreender o que é resistência celular, estímulo, adaptação e agressão tecidual. Quando algum agente físico, químico ou biológico atua sobre as células, elas resistem devido a sua estrutura e pela produção de substâncias que inibem ou anulam tal ação. Essa reação frente a um agente agressor leva a uma quebra da hemostasia e aumento da função celular, caracterizando estresse celular. As causas mais comuns que estressam as células são: a redução do seu oxigênio (hipóxia), a superestimulação funcional e a deformação de sua estrutura. As respostas teciduais que se originaram a partir da força mecânica na movimentação dentária, para James K. Avery (2005), apresentaram alterações de acordo com a magnitude da força - leve ou pesada -, duração contínua ou intermitente, a direção e o ponto de aplicação. Caso haja uma força de magnitude muito grande com uma movimentação rápida, pode ocorrer hialinização do ligamento periodontal, que ocasionará em uma perda de atividade celular e vascularização na zona do ligamento submetido à uma pressão. 3.1 LIGAMENTO PERIODONTAL Estas células respondem diferente às deformações de tração e compressão, em termos de síntese e degradação dos componentes da MEC (Krishnan e Davidovitch, 2009). A pressão hidráulica dos líquidos do espaço periodontal atua como o primeiro amortecedor da força externa (Ramos, 2013). Quando é aplicada uma força, tem início o mecanismo de biologia do movimento dentário em Ortodontia transdução que conduz à síntese e libertação de sinalizadores moleculares. Estas células ativam os responsáveis pela remodelação dos tecidos periodontais(Nayak et al.,2013). No lado de pressão, o ligamento periodontal exibe uma compressão e desorganização das fibras colágenas e diminuição da replicação celular. Os precursores dos osteoclastos diferenciam-se em osteoclastos à superfície óssea ligando-se ao osso através de proteínas específicas. Após a aplicação de uma força ortodôntica, inicia-se uma resposta inflamatória local com vasodilatação periodontal e extravasamento de leucócitos para fora dos capilares. Também ocorre degeneração das fibras do LP. Durante o movimento dentário ortodôntico, o volume dos vasos sanguíneos aumenta e, em longos períodos de aplicação de forças ortodônticas verifica-se uma diminuição das fibras mielinizadas (Pereira, 2009). Ainda sobre o posto de vista de James K. Avery (2005), os aspectos da hialinização mostram um ligamento hialinizado onde o dente está em íntima relação com o osso alveolar, o qual, se for aumentado, podemos observar uma perda das fibras colágenas e perda celular que resulta no cessamento da reabsorção óssea fazendo com que a movimentação dentária pare. Além disso, há uma associação com a reabsorção destrutiva, onde os osteoclastos destroem a zona hialinizada devido à falta de suprimento sanguíneo e morte celular nessa zona. Mas à medida que são destruídas e a reabsorção alivia a compressão, novas células reconstroem a zona destruída. 3.2 OSSO ALVEOLAR As alterações ósseas ocorrem nas superfícies vascularizadas do periósteo com processos de reabsorção e de aposição de osso (Pereira, 2009).Neste processo,o aparecimento de osteoclastos é considerado o primeiro passo necessário. Quando a força ortodôntica é aplicada, os osteoclastos aparecem em poucos días. A cascata de reabsorção óssea envolve uma série de etapas direcionadas para remover tanto o mineral quanto os constituintes orgânicos da matriz biologia Do movimento dentário ortodontia pelos osteoclastos. Após a diferenciação dos osteoclastos, a camada osteóide não mineralizada na superfície óssea é removida pelos osteoblastos de revestimento. Essas células produzem várias enzimas, como as metaloproteinases da matriz extracelular, colagenases e gelatinases, que ajudam ao osso no acesso ao osso mineralizado subjacente. O próximo passo é a polarização dos osteoclastos, ligando-se a proteínas específicas da matriz óssea extracelular, como a osteopontina. O passo seguinte é a ativação dos osteoclastos, por fatores locais e sistémicos, e a produção de íons de hidrogênio (que dissolvem o mineral) e enzimas proteolíticas (que degradam a matriz orgânica). Os osteoclastos no fim sofrem apoptose. A progressão da remodelação óssea requer a adição contínua de osteoclastos, porque eles têm um tempo de vida limitado, menos de 12,5 días. Uma vez que os osteoclastos terminam a sua fase de reabsorção óssea, há uma fase de reversão, com células mononucleadas na superfície óssea, da linhagem dos macrófagos (Krishnane Davidovitch, 2006). 3.3 GENGIVA Nos tecidos gengivais têm lugar dois processos depois da aplicação da força ortodôntica. Primeiro, acontece uma lesão no tecido conjuntivo gengival, manifestada pela ruptura das fibras de colagénio (Krishnan Davidovitch, 2006). No início do movimento dentário ortodôntico existe sempre uma resposta inflamatória gengival. Este processo é principalmente exsudativo e vai diminuindo com o tempo, convertendo-se depois em um processo crônico proliferativo que envolve: fibroblastos, osteoblastos, células endoteliais e células da medula do osso alveolar (Giannopoulou et al., 2008).Em segundo lugar, os genes do colágeno e da elastina são ativados, enquanto que os das colagenases são inibidos (Krishnan e Davidovitch, 2006). CONCLUSÃO Possuem diferentes tipos de movimentos dentários, dentre os quais incluem, o movimento dentário espontâneo que ocorre devido à necessidade da troca da arcada dentária decíduapara a permanente. Ou a movimentação que exige o estímulo de força mecânica sustentada durante o tratamento ortodôntico. Ambos os tipos de movimentação, têm uma única finalidade, manter ou dar a funcionalidade aos dentes. Diversos mecanismos, sejam eles físicos ou biológicos, existem para fazer com que todo esse processo funcione. Os elementos do periodonto, são de suma importância para que tudo ocorra, mas o osso alveolar e o ligamento periodontal, são imprescindíveis, assim como as zonas de compressão e tensão do dente. Há uma sequência de eventos que ocorrem em resposta à movimentação do elemento dental. O mesmo inicia-se com o deslocamento do dente, e em função disso ocorrem alterações permanentes e modificações histológicas. A força exercida no elemento dentário é vital para a adaptação do osso alveolar a movimentação dentária, principalmente ortodôntica, onde é necessário um tempo para a remodelação do mesmo. A resposta biológica ao estímulo físico é descrito por um mecanismo importantíssimo que pouco se sabe, mas que há diversas hipóteses acerca do mesmo, denominado transdução. Conclui-se, então, que o cirurgião dentista responsável por acompanhar toda a movimentação dentária deve estar ciente e entender as forças necessárias para deixar os dentes em uma posição estável, entendendo que haverá perdas, resistências e reações sejam elas físicas, químicas ou biológicas e, sobretudo, uma nova alteração histológica que irá ajudar na nova estrutura dentária remodelada. REFERÊNCIAS AVERY, James K. Desenvolvimento e Histologia Bucal. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: Artmed, 2005. CONSOLARO, A. A tomografia computadorizada substitui as radiografias periapicais no diagnóstico de reabsorções dentárias? Revista Clínica de Ortodontia Dental Press, v. 6, n. 5, 2007. PEREIRA, Elisa P. Alterações biológicas no Ligamenti Periodontal durante o movimento Ortodôntico. Universidade Fernando Pessoa. Porto, 2009 COLLAZO, González A. Biologia do movimento dentário na Ortodôntia. Universidade Fernando Pessoa. Porto, 2018.
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