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1 Paula Leite – 5º MED Série Vermelha CASO CLÍNICO Interno de medicina, 24 anos, procurou preceptor com queixa de não conseguir estudar à noite por dificuldade de concentração e, às vezes, sonolência. Há cincos anos, alterou dieta por opção familiar, não fazendo ingestão de carne vermelha. Antecedentes: sem história prévia de sangramentos evidente, negou tabagismo, etilismo, uso de medicamentos e drogas ilícitas. O estudante não referia alterações do hábito intestinal e do apetite. Ao exame físico, apresentava apenas discreta palidez. • Questões para orientar a discussão 1. Quais as principais alterações encontradas no hemograma? 2. Com os dados clínicos acima e as alterações do hemograma, que hipóteses diagnósticas devem ser lembradas? 3. Paciente com LDH e contagem de reticulócitos normais. Diante disso, que exames devem ser solicitados para esclarecimento diagnóstico da anemia? 4. Qual abordagem terapêutica deve ser instituída? INVESTIGAÇÃO DAS ANEMIAS Anemia ferropriva é a mais comum, mas não existe só ela! • Causas: Aplasia de medula, Mielodisplasia, Anemia ferropriva, Anemia megaloblástica, G6PD, Anemia falciforme, Anemia de doença crônica, Insuficiência renal, Leucemias, Anemia hemolítica autoimune, Hiperesplenismo, Infiltração medular, Talassemias, Medicamentosa, Anemia sideroblástica, Anemia microangiopática, Infecção, Esferocitose GLÓBULOS VERMELHOS, HEMÁCIAS OU ERITRÓCITOS • Função: Transporte de oxigênio e dióxido de carbono. • Forma: Regular, discos bicôncavos, é maleável. • Tempo de duração: Cerca de 120 dias na corrente sanguínea. • Origem: Medula vermelha dos ossos. SÍNDROME ANÊMICA • Hipóxia tecidual; Dispneia aos esforços; Cansaço, palidez e indisposição; Tontura postural, cefaleia e alteração visão; Descompensação de doenças cerebrovasculares; ↑ Débito cardíaco; Palpitação e taquicardia; Descompensação de doenças cardiovasculares. ESTRUTURA DA HEMOGLOBINA • Estrutura quaternária ○ 4 cadeias de globina + Grupo Heme (Protoporfirina + 1 molécula de Ferro) • A hemoglobina compõe cerca de 98% das hemácias. É onde vai se ligar o oxigênio. TIPOS DE HEMOGLOBINA • Adulta (Hb A: α2β2 > 95%) • Adulta (Hb A2: α2δ2 <3%) • Fetal (Hb F: α2γ2, RN > 75%, Adulto <2,5%) • Embrionária (Gower1: ε4; Gower2: α2ε • Exame para saber os tipos de hemoglobina no sangue: Eletroforese de hemoglobina. • Desde a fase gestacional, ocorre uma produção constante de hemoglobina alfa e vai até a vida adulta. Durante a fase fetal até o nascimento, ocorre a predominância da hemoglobina delta. Após o nascimento, ocorre uma queda significativa da hemoglobina delta e passa a ter uma produção maior da cadeia beta. Ocorrendo uma inversão, principalmente após 6 meses do nascimento. Problema - Gera Problema - Gera Problema - Gera 2 Paula Leite – 5º MED • Na globina: Mais comum a beta talassemia → a eletroforese irá demonstrar um comprometimento na formação da cadeia Beta da globina, e essa cadeia é responsável pela formação da hemoglobina A (formada por α2β2). Na eletroforese: ↓ produção de Hb A e a produção de Hb A2 ↑ do esperado. O QUE É ANEMIA • Não é doença (é como se fosse uma febre. A febre é um sinal clínico...) • É um sinal de doença (faz parte de um sintoma) • É fundamental buscar a causa da anemia • O tratamento depende da causa • É um sinal muito frequente e importante na prática. O QUE CONSIDERAR ANEMIA? • Hb < 12g/dL no sexo feminino ou < 13,5 no sexo masculino • Quanto ao mecanismo: 1. Déficit de produção – Hipoproliferativa ou Distúrbio de maturação 2. Perda sanguínea 3. Destruição – Hereditária; Adquirida; Intracorpuscular; Extracorpuscular. • ABORDAGEM PRÁTICA - Anamnese ○ Tempo de instalação: Agudo: pode ser causa hemorrágica, Hemolítica autoimune Insidioso: pode ser ferropriva, Megaloblástica, Aplásica, Mielodisplasia, Doença crônica, Mieloma – Muda a sintomatologia, pois aquelas anemias que são arrastadas, dá tempo do organismo se adaptar, o paciente tende a ser oligosintomático. ○ História ocupacional (solventes, inseticidas): pode favorecer a ser uma anemia hemolítica, Aplásica ○ Histórico transfusional: Necessitou receber sangue? - Hemolítica/Anemia de doença crônica (HIV) ○ Raça e história familiar: Falciforme, Def. G6PD, Talassemias • AVALIAÇÃO INICIAL ○ Há/houve perda de sangue? – Se tem sintomas compensatórios como taquicardia e hipotensão postural – História menstrual, perda de peso, alternância de hábitos intestinais ○ Há evidência de hemólise? – Icterícia, esplenomegalia ○ Há supressão medular? – Hepatoesplenomegalia, infecções, reticulocitopenia ○ Há carência de ferro? – Coiloníquica, disfagia, PICA ○ Há deficiência de ácido fólico ou vitamina B12? – Parestesias, alterações de cordão posterior – sensibilidade profunda, ataxia • EXAME FÍSICO ○ Comorbidades: Hepatopatia crônica, Alcoolismo, Hipotireoidismo – Anemia macrocítica ○ Deformidade e dor óssea – Anemia falciforme, Talassemia, Mieloma múltiplo, Leucemia, Metástases ○ Icterícia – Hemolítica, Megaloblástica ○ Língua lisa e atrófica – Carência de vit. B12/folato ○ Glossite e queilite angular – Ferropriva ○ Petéquias – Hiperesplenismo, Aplásica, Leucemia aguda ○ Esplenomegalia – Hemolítica, Hiperesplenismo, Neoplasia hematológica, Metaplasia mieloide ○ Alterações neurológicas – Megaloblástica – Carência de vit. B12 INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL • 1º PASSO: Investigação de anemia ○ Fazer a solicitações da contagem de reticulócitos (Não vem no hemograma, tem que pedir separado) Normal: 0,5-2% Se > 2%: Anemia hiperproliferativa – O organismo está tentando compensar a ↓ nº de hemácias, jogando na circulação células mais jovens. (Em um quadro de anemia, e a contagem de reticulócitos não aumenta, está dentro do normal: Anemia Hipoproliferativa – Capacidade de resposta da medula não está boa, não está jogando células jovens na circulação. Não tem a capacidade de compensar com células mais jovens. • CÁLCULO: Índice de reticulócito corrigida (IRC) – Grau de anemia que o paciente apresenta IRC: Reticulócitos (%) x (Hematócrito/45) IRC: Reticulócitos (%) x (Hemoglobina/15) Ex: Hb: 6g/dL Ht: 18% Ret: 4,5% IRC: 4,5 x (18/45) = 1,8% → Resposta inadequada da MO ANEMIA HIPERPROLIFERATIVA Anemia com reticulocitose, ou seja, níveis de reticulócitos > 2% após a correção → Pode ser por sangramento agudo ou estado de hemólise. Como diferencias os dois? O sangramento agudo geralmente o paciente vai contar na anamnese. Já a hemólise pode dar sinais indiretos como ↑DHL ↑Bilirrubinas indireta ↓Haptoglobina ANEMIA HIPOPROLIFERATIVA Níveis de reticulócitos < 2% após a correção. Dado importante para ser olhado no hemograma: VCM. O Ht é 3x o valor da Hb 3 Paula Leite – 5º MED Quando o paciente apresenta ↓VCM – Estou diante de uma anemia microcítica. Dentre as hipóteses: Anemia ferropriva, anemia sideroblástica, talassemias. Nesse momento o RDW irá ajudar. Quando o paciente apresenta ↑ VCM – Estou diante de uma anemia macrocítica. Dentre as hipóteses: Deficiência de B12, deficiência de folato, hepatopatia, alcoolismo Quando o paciente apresenta um VCM normal – Estou diante de uma anemia normocítica. Dentre as hipóteses: Insuficiência renal, Anemia por doenças crônicas, Anemia ferropriva em uma fase inicial VOLUME CORPUSCULAR MÉDIO (VCM) • Classifica anemia quanto ao volume da célula: Microcítica, normocítica ou macrocítica • Influenciado pelo número de reticulócitos circulantes. • Valores: Microcítico: < 80 fL ou < 6,5um Normocítico: 80 – 100 fL ou 6,5- 9 um Macrocítico: > 100 fL ou > 9 um HEMOGLOBINA CORPUSCULAR MÉDIA (HCM) E CONCENTRAÇÃO DE HEMOGLOBINA CORPUSCULAR MÉDIA (CHCM) • Refletem a mesma coisa • Cor das hemácias: Hipercrômica, normocrômica ou hipocrômica ÍNDICE DE ANISOCITOSE – RDW • Valor: 11,5 – 145% • Variabilidade do tamanhocelular DIANTE UMA ANEMIA MICROCÍTICA • Solicitar: Ferro sérico, Saturação da Transferrina e Ferritina • Se estiverem dentro do normal: Posso descartar que essa anemia é ferropriva, começo a pensar no diagnóstico de talassemia e nesse momento solicito uma eletroforese de hemoglobina. • Se a ferropenia é confirmada → Anemia ferropriva e devo investigar a causa. Será que o paciente não come alimentos que contém ferro? Ou ele come e não consegue absorver? Ou ele come, absorve, mas está perdendo ferro por sangramento? O nível de ferritina varia de 20 a 200. • Em uma anemia ferropriva: ↓Ferro sérico, ↓Ferritina, ↑Transferrina, ↓ Saturação de Transferrina, ↑ Dosagem de Transferrina, ↑TIBIC • Manifestações clínicas: Queilite angular, coiloníquia, PICA, • Reposição de Ferro: Via preferencial é a Oral DIANTE UMA ANEMIA MACROCÍTICA • Alterações na síntese de ácidos nucleicos • ↓Nº mitoses ANEMIA MEGALOBLÁSTICA • Anemia perniciosa: Deficiência de vitamina B12 • Anemia por deficiência de ácido fólico. 4 Paula Leite – 5º MED A vitamina B12 – origem animal → O fator intrínseco é fundamental para a absorção Ac. Fólico – origem vegetal • Consequências da deficiência da Vit. B12 ○ Prejuízo na síntese de DNA→ Anemia megaloblástica ○ Síntese inadequada da mielina → Danos neurológicos ○ Hiperhomocisteinemia → Doenças cardiovasculares • Investigação laboratorial ○ Dosagem de Vit. B12 e Ácido Fólico Vit. B12: VR 160-925 ng/L Folato sérico: VR 3-15 ug/L ○ Pesquisa de Metabólitos Ácido metilmalônico – Def. Vit. B12 Homocisteína – Def. Vit. B12 e Ác. Fólico ○ Identificação da causa ○ Diagnóstico diferencial • Tratamento DIANTE VCM NORMAL • Corrigir a causa base • Fisiopatologia • Diagnóstico laboratorial diferencial entre anemia de doença crônica e anemia ferropriva • Tratamento ○ Tratamento da doença de base ○ Administração de EPO e Ferro ○ Transfusão de concentrado de hemácias 5 Paula Leite – 5º MED 2. Com os dados clínicos acima e as alterações do hemograma, que hipóteses diagnósticas devem ser lembradas? - Anemia Ferropriva - Talassemia - Anemia Sideroblástica - ADC persistente 3. Paciente com LDH e contagem de reticulócitos normais. Diante disso, que exames devem ser solicitados para esclarecimento diagnóstico da anemia? - Perfil de Ferro (Ferro sérico, Ferritina, Índice/Saturação de Transferrina) ↓ Ferro Sérico ↓ Ferritina ↓ Saturação de transferrina Perfil de Ferro normal Eletroforese de hemoglobina 4. Qual abordagem terapêutica deve ser instituída? - Reposição de ferro oral por no mínimo 6 meses - Orientar ir ao nutricionista - Orientação de ingesta de carne vermelha ANEMIA FERROPRIVA TALASSEMIA
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