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6 - Solidificação de metais: nucleação e crescimento. A solidificação é um dos mais importantes processos de fabricação de materiais metálicos, como aços e ligas metálicas. No contexto da solidificação, a nucleação se refere a formação dos primeiros cristais, de dimensões nanométricas, a partir do material fundido. Espera-se que um material solidifique-se quando o líquido esfriar para uma temperatura imediatamente menor do que a temperatura de solidificação (ou fusão), pois nesse caso a energia associada com a estrutura cristalina do sólido é menor do que a energia do líquido. Essa diferença na energia do sólido e do líquido é a variação de energia livre por unidade de volume, ΔGV, e constitui a força motriz da solidificação. Com a formação de um núcleo sólido, é criada uma interface sólido líquido, conforme a Figura 1. Figura 1 – Surgimento de uma interface quando um sólido se forma a partir de um líquido. Uma energia superficial, σSL, esta associada a essa interface sólido-líquido. Quanto maior for a superfície do núcleo sólido, maior será o valor da energia superficial. A variação da energia livre total, ΔG, é dada por: ΔG= 4 3 π r3ΔGV+4 π r 2σ SL onde 4/3πr3 é o volume de um núcleo esférico de raio, r, e 4πr2 é a superfície do núcleo. A variação de energia livre total ΔG possui um valor negativo quando a transformação de fase é termodinamicamente possível. Anterior ao núcleo sólido, um embrião, que é uma parte minúscula de sólido, é formado pelo agrupamento dos átomos vindos do líquido. Ele é instável e poderá crescer, originando um núcleo sólido estável ou então se redissolverá no líquido, em função da variação da energia livre total do sistema sólido-líquido. A variação da energia livre total do sistema sólido-líquido em função do raio do núcleo sólido é apresentado na figura 2. Figura 2 – Variação da energia livre total do sistema sólido – líquido com o raio do sólido. O sólido é denominado embrião, caso seu raio seja menor do que o raio crítico (r*), e núcleo, caso seu raio ultrapasse este tamanho. A curva, na parte inferior do gráfico apresentado na Figura 2 representa a variação da energia livre volumétrica (ΔGV = 4/3πr3ΔG) e a curva na parte superior do gráfico mostra a variação parabólica da energia superficial total (ΔGS = 4πr2σSL). A curva entre elas corresponde à soma das energias volumétrica e superficial. Representa a variação total de energia livre, ΔG, com o raio do embrião. Na temperatura de solidificação, quando as fases sólido e líquido estão em equilibrio termodinâmico, a energia livre da fase sólida e a da fase líquida são iguais (ΔGV = 0). Assim, a variação total da energia livre (ΔG) será positiva. Quando uma partícula sólida é muito pequena, com raio menor do que o raio crítico para a nucleação (r*), um crescimento adicional resulta no aumento da energia livre total. Dessa forma, o raio crítico, r*, corresponde ao tamanho mínimo de um cristal que prescisa ser formado pelo agrupamento de átomos vindos do líquido, de modo a gerar uma partícula ainda estável, e pronta para crescer. Mas se ao invés de crescer, estas partículas tendem a refundir, favorecidas pela energia livre, a maior parte do material permanece líquido, deixando apenas um pequeno cristal sólido. De modo geral, a formação de embriões é um processo estatístico. NUCLEAÇÃO HOMOGÊNEA Com o líquido se resfriando até uma temperatura abaixo da temperatura de solidificação, dois fatores se combinam para favorecer a nucleação: 1. Já que os átomos estão perdendo energia térmica, a probabilidade de formação de embriões aumenta gradualmente,; 2. A maior diferença entre as energias livres de volume para o líquido e o sólido permite uma redução do tamanho crítico (r*) do núcleo, facilitando a solidificação. A nucleação homogênea ocorre quando o super-resfriamento, ou seja, a subtração da temperatura de solidificação de equilíbrio pela temperatura real do líquido, se torna grande o suficiente para permitir a formação de núcleos estáveis no meio da fase líquida, devido a uma força motriz termodinâmica para a formação da fase sólida também aumentando, e superando a resistência para a criação de uma fase sólida-líquida. O tamanho do raio crítico, r*, é dado por: r∗= 2σ SLT F ΔHF ΔT onde ΔHF é o calor latente da fusão, TF é a temperatura de solidificação em equilibrio (em Kelvins) e ΔT (= TF – T) é o super-resfriamento quando a temperatura do líquido é T. O calor latente da fusão representa o calor gerado durante a transformação líquido – sólido. A medida em que o super-resfriamento aumenta, o raio crítico diminui. EXEMPLO: CALCULE O TAMANHO DO RAIO CRÍTICO E A QUANTIDADE DE ÁTOMOS NO NÚCLEO CRÍTICO DO COBRE, SE A SOLIDIFICAÇÃO OCORRE POR NUCLEAÇÃO HOMOGÊNEA. Dados (para o Cu - CFC): a0 = 0,3615 nm ; TF = 1085oC, ΔHF = 1628 J/cm3, σSL = 177x10-7 J/cm2 e ΔT = 236 oC. NUCLEAÇÃO HETEROGÊNEA Na prática não ocorre a nucleação homogênea, pois impurezas em suspensão no líquido, as paredes do recipiente que contém o líquido e outras interfaces constituirão a interface sobre a qual o sólido se formará, conforme ilustra a Figura 3. Figura 3 – Sólido que se nucleia sobre uma impureza atinge o raio crítico e produz pequeno aumento da energia de superfície. A nucleação heterogênea ocorre com pequeno super-resfriamento. Nessas condições, surge um raio de curvatura maior do que o raio crítico, e a superfície total entre o sólido e o líquido será muito pequena. Poucos átomos agrupados serão necessários para produzir uma partícula sólida que tenha o raio de curvatura necessário. Um super-resfriamento muito menor será suficiente para se obter o tamanho crítico, facilitando a nucleação. A nucleação sobre superfícies preexistentes é a chamada Nucleação Heterogênea. É um processo que depende do ângulo de contato (Θ) entre o sólido a ser nucleado e a superfície sobre a qual ocorre a nucleação. MECANISMOS DE CRESCIMENTO Estando os núcleos sólidos estabilizados, o crescimento dos mesmos é iniciado a medida que mais átomos se agregam ao sólido. O modo com o qual os núcleos sólidos irá crescer, depende da forma com a qual o calor será removido do material que está se solidificando. Considerando um metal puro, fundido e solidificando-se após ter sido vazado em um molde. Na solidificação, dois tipos de calor devem ser removidos: o calor específico do líquido e o calor latente da fusão. O calor específico do líquido é o calor necessário para alterar em um grau, a temperatura de uma unidade de massa do material. Durante o resfriamento, o calor pode ser transferido por radiação para a atmosfera vizinha, ou por condução, para o material do molde, até que o líquido atinja sua temperatura de solidificação. Com isso, teremos o resfriamento do líquido superaquecido até a temperatura na qual terá início a nucleação. Se para fundir um sólido é necessário fornecer calor, a formação de cristais sólidos a partir de um líquido libera calor. Esse tipo de calor é chamado calor latente da fusão (ΔH F), que deve ser removido da interface sólido líquido antes que a solidificação esteja concluída. CRESCIMENTO PLANAR Partículas nucleadoras são intencionalmente introduzidas no líquido com o objetivo de aumentar o número de núcleos a serem formados, em um processo chamado inoculação. Em um líquido que foi adequadamente inoculado é resfriado sob condições de equilíbrio, não há necessidade de super-resfriamento, uma vez que já existem condições para que ocorra a nucleação heterogênea. Neste caso, a temperatura do líquido, junto à frente de solidificação (a interface sólido – líquido) é maior do que a temperatura de solidificação. Durante a solidificação, ocorre a transferência de calor latente da fusão por condução térmica a partir da inteface sólido – líquido. Qualquer pequena protuberância que surja na interface estará cercada por líquido, a uma temperatura maior do que a desolidificação, conforme Figura 4. Figura 4 – Quando o líquido está numa temperatura maior que a de solidificação, não haverá crescimento de protuberâncias na interface sólido – líquido. Assim a interface sólido – líquido mantém-se plana. O calor latente é transferido por condução térmica da interface para o sólido. O crescimento da protuberância irá então parar, até que o restante da interface avance. Esse mecanismo de crescimento é chamado Crescimento Planar, ocorrendo por movimentação de toda a frente de solidificação em direção ao líquido. CRESCIMENTO DENDRÍTICO Quando o líquido não foi inoculado e a taxa de nucleação é baixa, ele precisa ser super- resfriado antes da formação do sólido. Nestas condições, uma pequena protuberância sólida, chamada dendrita (Figura 5) se formará na interface incentivada a crescer, uma vez que o líquido a frente está super-resfriado. A medida em que a dendrita sólida cresce, o calor latente da fusão é transferido para o líquido super-resfriado, aumentando sua temperatura. Podem ser formados também braços dendríticos secundários e terciários nas hastes primárias, acelerando a transferência de calor latente. O crescimento dendrítico continua até que o líquido super-resfriado atinja a temperatura de solidificação. A partir daí, todo o líquido remanescente se solidifica por crescimento planar. A diferença entre crescimento planar e dendrítico ocorre em função das diferenças de transferência de calor latente durante a solidificação. O molde deve absorver o calor no crescimento planar, porém o líquido super-resfriado absorve o calor no crescimento dendrítico. Em metais puros, o crescimento dendrítico normalmente representa uma pequena fração do crescimento total. O tamanho das dendritas é caracterizado pelo espaçamento entre os braços dendríticos secundários, que diminui quando o fundido solidifica mais rapidamente. Figura 5 – (a) Uma protuberância na interface sólido – líquido cresce rapidamente como uma dendrita, pois o líquido está super-resfriado. Nesse crescimento dendrítico, o calor latente de fusão eleva a temperatura do líquido. (b) Micrografia eletrônica de varredura de dentritas em aço (aumento de 15x). Um processo de solidificação rápida, chamado Atomização, é utilizado para produzir espaçamentos de braços dendríticos secundários excepcionalmente finos. A estrutura dendritica mais fina e mais extensa conduz mais eficientemente o calor latente para o líquido super-resfriado. A atomização produz gotículas líquidas muito pequenas, que se solidificam em partículas sólidas. As gotículas resfriam rapidamente, originando pós muito finos (cerca de 5 a 100 μm). Consolidando-se esse pó por meio de metalurgia do pó é possível alcançar melhores propriedades mecânicas.