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Chaim Perelman

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O Direito como discurso retórico: estudo sobre a teoria de Chaïm Perelman
Introdução
A partir da metade do século XX, ficou perceptível uma modificação de paradigma no campo de ação da dogmática jurídica. Pelo modelo percussor de organização, o Direito visava perscrutar a justiça levando em consideração apenas seu viés formal. A visualização da lei de maneira mais subjetiva ou abstrata estava num campo muito distante e de certa forma até utópico, ficando em um local de mais virtualidade em relação aos problemas concretos para a qual teria de oferecer satisfação (FERREIRA, 2019).
Em contraposição as ideias mais aceitas e dominantes expressas no mundo do direito, o professor de lógica da Universidade Livre de Bruxelas, Chaïm Perelman, investigou uma outra racionalidade que fosse de alguma forma mais próxima da vida prática. E a partir dessa busca ele pretendia comprovar a existência da possibilidade de utilizar-se da razão para manejar com valores (FERREIRA, 2019). 
O estudo da argumentação de Chaim Perelman, chamado originalmente de Traité de l'argumentation, foi organizado em três grandes partes: os pressupostos, os pontos de partida da argumentação e as técnicas argumentativas. A sua ideia de redefinir o conceito de retórica, proposto inicialmente por Aristóteles, encontra-se centrado em um conceito denominado auditório, ou seja, a quem o discurso é destinado (VAZ; TOLEDO, 2010).
Perelman defende a argumentação como meio de promover uma adesão de espíritos por intermédio da não-coação. Pensamento de grande valia, uma vez que se alcança a adesão do destinatário, mediante suas próprias convicções. Desse modo, destaca o discurso como um importante elemento da argumentação, sendo o fator que efetuaria a interação entre orador e auditório, entre emissor e destinatário (VAZ; TOLEDO, 2010).
Tendo em vista que a teoria de Chaim Perelman veio romper com o antigo jeito de fazer o direito, trazendo novas aspirações e significados de maneira tão clara e consistente, nota-se a importância de sua teorização ao pensarmos no quanto é facilmente aplicada a pratica e necessária para que a lei seja utilizada e aplicadas de uma maneira mais justa, equitativas e individualizada, não sendo tratada como regras fixas. 
Breve histórico
Chaïm Perelman (1912-1984), foi um filósofo polonês, porém viveu grande parte da vida na Bélgica, tornou-se reconhecido em decorrência do seu destaque intelectual dedicado à emancipação do raciocínio jurídico e da lógica do pensamento jurídico das redes e tramas reducionistas e positivistas. A obra de Chaïm é extensa e recobre títulos como: Retórica e filosofia (1952), Tratado da argumentação (1958), Justiça e razão (1970, 2. ed.), Filosofia moral (1967 e 1976, 5. ed.), Lógica e moral (1969), O campo da argumentação (1970), Lógica e argumentação (1971), Lógica jurídica (1980), O império retórico: retórica e argumentação (1977), A nova retórica e humanidades (1979), Justiça, lei e argumento (1980) (BITTAR; ALMEIDA, 2015). 
A teoria da argumentação foi concebida para ser um elo de ligação entre a lógica e as ciências humanas, o que consegue proporcionar ao campo da filosofia prática um método para o tratamento do real, do mundo dos valores. Na Grécia antiga Sócrates juntamente com os sofistas realizaram uma análise da retórica e esta consistia em no relato de comportamentos apontados como positivos e negativos com vistas a formação de uma argumentação convincente (PESSANHA, 2014). 
Da mesma forma que Sócrates com a perspectiva da retórica estabeleceu uma reviravolta no humanismo, não se pode ancorar em certezas subjetivas, dado que é por meio da linguagem, uma vez que o homem é um ser social, que acarreta a pluralidade e alusão da comunicação e das concepções de verdade. A busca por técnicas argumentativas trouxe consigo a criação e o desenvolvimento de estruturas para os argumentos que se denomina dialética, e é por meio desta que a retórica produz um grau de semelhança aos argumentos sofísticos (PESSANHA, 2014). 
A teoria da argumentação de Chaim acarreta um traço marcante da retórica aristotélica, tendo em vista que, mediante a análise de Aristóteles o argumento está firmemente ligado com os lugares que constitui o objeto de investigação, que o mesmo denomina de tópicos (PESSANHA, 2014). 
A retórica aristotélica sistematiza uma diferenciação entre os meios de persuasão, haja visto que a retórica não pode ser utilizada somente em discursos nos tribunais, mas deve preservar seu caráter político e os meios propriamente retóricos. Outra definição de suma importância para Aristóteles era a discriminação entre a definição dos meios retóricos, devendo fundamentar-se na oratória, ou seja, procurar modos de impelir através da opinião favorável que o destinatário tem sobre aquele determinado tópico (PESSANHA, 2014).
Ademais, deve basear em assuntos que sejam de alguma forma do interesse dos ouvintes paixões dos ouvintes que operam a oratória para que sirva de persuasão, sendo também corroborado pelo argumento empregado, pois através dessas estratégias busca-se elaborar premissas e conclusões que serão usadas a fim de que haja uma confirmação do pensamento do orador (PESSANHA, 2014).
Portanto, pode se afirmar que o filosofo belga desenvolveu sua teoria se respaldou nos textos de Aristóteles, que se utiliza da retórica e dos tópicos, haja visto que a retórica tem como função convencer o ouvinte através do discurso, persuadindo o destinatário sobre o assunto exposto, por esse fato que a teoria da argumentação se mostra tão essencial para a articulação de um discurso correto (PESSANHA, 2014).
Teoria da argumentação 
A Retórica tem sido definida como a arte do bem falar, do discurso. Contudo, além disso, é também uma teoria acerca dos recursos verbais que poderão ser usados a fim de se tornar objeto capaz de ser argumento persuasivo (BARRETO, et.al., NAVARRO, 2013). 
Estudos recentes apontam que a retórica nasceu Grécia, por volta de 465 a.C. com os sofistas, Córax e Tísis teriam publicado uma compilação de seus preceitos básicos, cujo nome foi Arte Retórica (Tekhné Rhetoriké). Essa obra tinha como público alvo pessoas envolvidas em conflitos judiciários, oferecendo-lhes princípios práticos (NAVARRO, 2013). 
Para os sofistas, a retórica visa uma argumentação composta de uma diversidade de opiniões e argumentos, sendo assim a habilidade retórica consiste justamente em ser capaz de refutar os mais diversos argumentos contrários a fim de vencer um debate ou competição não importando a veracidade dos seus argumentos, tendo em vista a não existência de uma verdade absoluta e que essa provinha de cada indivíduo (NAVARRO 2013). 
Todavia Platão, nega a cientificidade da retórica sofista, colocando como uma mera prática empírica que busca o convencimento alheio. Para ele, a finalidade real da retórica não é o bem, mas o prazer, como se a vitória no debate fosse um mero pretexto para amaciar o ego do ganhador. Em Fedro, entretanto, há uma diferente referência de retórica, considerado por ele uma verdadeira arte. Cujo objetivo também se funda na persuasão, mas “se funda em um conhecimento científico da alma, e mesmo quando é empregada para persuadir sobre o falso pressupõe o conhecimento do verdadeiro” (BERTI, et.al. NAVARRO,2013). Enquanto para Aristóteles, a retórica era a escolha dos meios adequados para persuadir. 
Tendo em vista essa perspectiva, podemos afirmar que Aristóteles é o fundador de uma teoria da argumentação jurídica nos moldes das teorias contemporâneas. Afinal, os raciocínios jurídicos são raciocínios dialéticos. A lógica presente no meio jurídico não é uma lógica de demonstração formal, mas uma lógica de viés argumentativo, que não faz uso de provas analíticas, mas dialéticas, que tem como objetivo final construir um convencimento do juiz no caso concreto (PERELMAN, et.al. SILVA, 2005).
O Direito não advém, necessariamente, de axiomas considerados verdadeiras, pois, deste modo, só existiria a possibilidade de se chegar a uma decisão obrigatória. Quando esses princípios são fragilizados, pormeio da dialética, não há uma decisão imposta como obrigatória, e sim como aquela mais adequada, razoável, evidente, provável ou sendo apontada como a melhor possível naquele caso em questão (SILVA, 2005). 
Aproximadamente trezentos anos após Aristóteles ter escrito o livro dos Tópicos, um autor chamado Cícero escreveu a obra Tópica que fora destinada a um jurista, tendo sido inspirada na preocupação apontada em Tópicos, no qual havia necessidade de encontrar um método que dispusesse de elementos de prova que fossem aplicáveis a qualquer tipo de discussão pensável (BITTAR; ALMEIDA, 2015).
Contudo, de maneira distinta a Aristóteles, Cícero não propõe uma diferenciação das formas argumentativas entre científicas e dialéticas, mas propõe que essa apresente uma divisão em duas partes: uma parte chamada de a arte do descobrimento, ou tópica; e a segunda apontada como arte do juízo sobre a prova ou dialética. Sendo assim apontado como um modelo prático sobre como argumentar (BITTAR; ALMEIDA, 2015). 
No período da Idade Média, a retórica era parte do currículo das Universidades, juntamente com a lógica e a gramática. Permanecendo assim até o século XIX, quando em decorrência do surgimento de novas correntes de pensamento, isso passa a ser repensado (NAVARRO, 2013). 
Tomas de Aquino foi responsável por trazer diversos pensamentos Aristotélico para a Idade Média, entre eles destaca-se o papel da dialética, ao trabalhar com princípios que têm por base opiniões geralmente aceitas, que consiste em assegurar que uma decisão do caso seja aquela classificada como a melhor possível para aquele caso, garantindo assim a aplicação da justiça (SILVA, 2005). 
Por outro lado, durante a Idade Moderna, a retórica passa a ser tratada como mera arte argumentativa tendo sido completamente desacreditada. Há o desenvolvimento do discurso científico, cujo objetivo não é convencer ninguém, mas sim usar de meios como fatos, dados, provas para afirmar a existência de uma verdade, que passa a ser considerada absoluta e irrefutável. No século XX existe uma retomada da Retórica, sendo um dos principais responsáveis o filosofo belga Chaïm Perelman, que, juntamente com Lucie Olbrechts-Tyteca, escreveu O Tratado da Argumentação - A Nova Retórica (NAVARRO, 2013). 
Perelman em suas publicações criticou duramente o positivismo jurídico. Afirmando que o raciocínio jurídico não obedece a um raciocínio logico ou exato, tão pouco se que o direito se resume à lei. Suas obras usaram das mais variadas vertentes do conhecimento para comprovar o equívoco do pensamento positivista. Em sua teoria, Perelman empenha-se em definir as bases de uma lógica jurídica específica, usando uma lógica que não é somente pautada no raciocínio dedutivo, mas faz uso do mesmo (BITTAR; ALMEIDA, 2015). 
Chaim demonstra uma preferência em fazer uso do conceito de retórica em detrimento da dialética, pois para ele a argumentação não visa apenas em convencer os indivíduos, mas fazer com esses de fato apresentem uma adesão aos argumentos levantados. Além disso, existe uma classificação dos argumentos entre aqueles fracos e fortes. Essa classificação pode ocorrer de maneiras distintas, entretanto um deles se sobressai em relação aos demais, entre os critérios para validar um argumento como forte podemos destacar a validade e a eficácia. Além de possuir elementos específicos a autoridade do argumento também depende do contexto, variando de acordo inclusive com a época em que esses são explorados (NAVARRO, 2013). 
As lógicas jurídicas trazem consigo uma preocupação com um tipo de racionalidade prática mais aproximada de técnicas de argumentação ou refutação, do que com a presente na lógica dita formal, que tem uma maneira racional de se posicionar diante de fenômenos científicos. Deste modo, é possível afirmar que os raciocínios jurídicos são raciocínios dialéticos, mas não analíticos. A lógica jurídica não consiste em uma lógica de demonstração formalizada, mas sim em uma lógica argumentativa, que não faz uso de provas analíticas, mas dialéticas, que tem por finalidade convencer o juiz no caso concreto (SILVA, 2005). 
O filósofo belga aponta para o fato de que a justiça advém de valores individuais admitindo um valor mais geral do qual são deduzidas as normas. Sendo tratado como um valor fundado na afetividade, não se apoiando na lógica ou na realidade e sim nos valores emotivos. Tomando como ponto de partida essa noção de valores, Perelman dispõe o juiz em seu papel de decisor. O juiz deve fazer mais do que somente aplicar as leis ele possui a função de interpretar os textos e realizar os julgamentos da maneira que pareçam mais justos, fazendo uso da ética (CABRAL; GUARANHA, 2014). 
A ideia de justiça está pautada de maneira simplista como tratar consiste, em abordar componentes semelhantes de maneira semelhante. Contudo em função de valores próprios, cada indivíduos tece uma ideia distinta da aplicação que deve ter a regra de justiça. Todavia é necessário levar em conta a existência de noções éticas que podem ser tomadas como universais, e se valendo delas o juiz se permite interpretar a lei, em vez de aplicá-la ao pé da letra (CABRAL; GUARANHA, 2014).
A nova retórica de Chaïm Perelman
O conceito de nova retórica, vem pra romper com o que era tido como tradicional, tem sido construído principalmente em decorrência de uma tendência positivista que se instaurou no meio jurídico. Não reduzindo os meios de persuadir e convencer à argumentação, contudo isso foi o seu objeto de estudo, sendo esse o recurso mais utilizado no meio jurídico, a fim de gerar um convencimento através da persuasão (BITTAR; ALMEIDA, 2015). 
Com o surgimento da Nova Retórica, surge também a retomada da discussão acerca da dialética como teoria da argumentação. entretanto, apesar de retomar a dialética Perelman, preferiu chamar sua teoria de Nova Retórica e elencou dois principais motivos pra essa nomenclatura. O primeiro a fim de não houvesse nenhuma espécie de confusão entre aquilo que havia a pretensão de apresentar e o que era compreendido como dialética a partir do pensamento hegeliano. Já o segundo motivo está pautado no fato que a diferenciação entre dialética e analítica, segundo Aristóteles, estava apenas na verossimilhança das ideias principais da dialética em relação à certeza da analítica. Não obstante alguns autores apresentaram criticas com relação a nomenclatura de retórica já que o autor faz um processo de retomada da dialética aristotélica (SILVA,2005). 
Nesse sentido, Chaïm Perelman retoma de algum modo a dialética de Aristóteles, contudo ele realiza uma aplicação em um contexto majoritariamente preocupado com as ciências práticas e não das verdades da demonstração como discurso racional (SILVA,2005). 
Em sua obra, Tratado da Argumentação, Chaïm Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca, se propõem a tecer o estudo a respeito de recursos discursivos usados para obter a adesão dos indivíduos. A veracidade ou não de uma informação constitui apenas um dos motivos pelos quais serão ou não aceitas determinada tese, tendo em vista que ainda levamos consideração se a tese em questão tem utilidade social, se é justa, oportuna ou equitativa. É possível compreender esses valores quando percebemos que alguns valores são muitas vezes mais importantes que a verdade, causando maior comoção e posterior adesão a determinadas teses (SILVA, 2005). 
Perelman levantou a importância de desenvolver técnicas de argumentação da dialética, que tem por finalidade realizar acordos sobre quais são e como serão aplicados os valores. O emissor tem uma tarefa inicial de elencar os fatos, os valores e os “lugares comuns” sendo sua tarefa escolhê-los e dar a eles uma roupagem por meio de técnicas de apresentação (SILVA, 2005).
A teoria de Perelman elencou alguns conceitos importantes entre eles destacamos o acordo e o auditório. O acordo da abertura ao acordo prévio, que são proposições legitimadas já eram previamente aceitas pelos atores sociais envolvidos no discurso, antes mesmo desse ter início. Sendo justamente sobreestas máximas que o orador irá basear seu discurso, procurando passar a aceitação do auditório em relação aos acordos prévios para a tese que ele expõe. E esse procedimento é realizado através de técnicas muito apuradas de argumentação (SILVA, 2005). 
Já o conceito de auditório é utilizado para nomear o discurso analítico ou demonstrativo, que se utiliza de uma lógica formal, com provas impessoais e que deverão ser amplamente aceira por todos. Para o discurso retórico o panorama entre o orador e o auditório, a quem o seu discurso será dirigido, é de suma importância.  Quando pensamos sobre a verdade em geral ela é obtida por uma lógica formal que a torna sempre incontestável e assim, universal. Porém, se tratando da adesão de uma tese por um auditório, ela é algo obtida por meio da argumentação o que a torna variável ou indeterminada (SILVA, 2005). 
Auditório, conforme Perelman, é definido como "o conjunto daqueles aos quais visa o esforço de persuasão” e para quais o discurso do orador deverá ser dirigido a fim de que esses sejam influenciados em sua decisão. Ter um prévio conhecimento de quem será o auditório pra quem será realizado o discurso é uma das etapas vitais para que a argumentação tenha o sucesso esperado, pois assim pode-se realizar uma argumentação direcionada aquele auditório. Sendo assim, essa etapa é bastante mutável dependendo de quem será seu auditório, trazendo consigo uma noção de temporalidade (SILVA, 2005).
Outro conceito que foi abordado na teoria de argumentação de Perelman está pautada na relação entre o que é razoável e o racional. Existe uma ideia de que a racionalidade está relacionada a uma forma mais fixa e imutável, sendo comprovado por aplicações de fórmulas ou cálculos, portanto quando pensamos em raciocinar e argumentar temos uma comprovação de que essas não são atividades racionais, conforme a definição de racionalidade (SILVA, 2005).
As condições que podem possibilitar a racionalidade argumentativa, são encontradas tanto na filosofia do pluralismo, que se vê preocupada com o homem concreto e suas relações, que se destina à escolha de um sentido humano do uso da razão, quanto na ideia de tolerância, fato esse que culmina na abertura de um espaço chamado de razoável e o deixa em sua relação com o tempo e com as práticas reais dos homens (PUC-RIO, 2019).
A identificação da possibilidade de múltiplas escolhas racionais, pautadas em um campo apontado como plausível e razoável, elenca uma situação a ser discutida conhecida como a boa escolha. Entretanto a boa escolha foge ao campo da lógica formal, por outro lado, a racionalidade argumentativa torna capaz a possibilidade de se realizar uma escolha fundada em valores. Caso você tivesse um problema para decidir se a situação em questão é ou não uma boa escolha, se valendo do juízo de valores é possível realizar essa escolha (PUC – RIO, 2019). 
Ademais, o conceito de razoável é tido como o que sofre influência do bom senso ou o que tange o senso comum. O razoável sofre um processo de mutação conforme as circunstâncias que são apresentados. Além disso o razoável também muda de acordo com as mudanças ou evoluções de pensamento que a sociedade sofre. No ramo do direito um critério decisão razoável está envolvido a equidade, pois quando a aplicação da lei parece não ser de alguma maneira justa, já que devemos levar em consideração fatores históricos e pessoais, se recorre ao critério de equidade a fim de promover uma correção da lei (SILVA, 2005). E assim alcançar os objetivos finais.
Aplicação da teoria 
No momento atual estamos no meio da explosão de uma pandemia, que tem atingido quase todos os países, com uma quantidade enorme de pessoas morrendo e outras milhares sendo contaminadas e contaminando. Nesse caos todo, várias cidades brasileiras decidiram tomar algumas medidas de contenção de propagação do vírus entre eles o fechamento dos comércios, limitação de pessoas nos espaços públicos e o uso de máscaras como medida de proteção. Todas essas medidas foram adotadas com a finalidade de não haver um colapso no sistema de saúde. 
Alguns desses decretos tornaram obrigatórios o uso de máscara em espaços públicos e privados, sejam eles abertos ou fechados, todos devem usar máscaras estando sujeitos a aplicação de multas caso seja descumprido o decreto. Num caso hipotético um homem foi multado por não fazer o uso de máscara quando estava trabalhando na rua.
O cidadão em questão tem 45 anos, senhor F., trabalha de maneira autônoma como catador de materiais recicláveis, possui cerca de 2 anos de estudos e é responsável por manter financeiramente uma família de 7 pessoas. Não tendo como pagar a multa em questão devido suas condições sociais o senhor F sofreu um processo por ter colocado em risco a saúde de outras inúmeras pessoas não tendo respeitado o isolamento. Como não haveria condições do mesmo acionar um advogado foi designado um promotor público (Dr. H.) para realizar sua defesa. 
Dr. H. sabia que teria um função complicada já que as provas do crime cometido eram incontestáveis, contudo ele podia recorrer ao recurso da retórica em seu discurso, pois de fato as provas apontavam para uma culpa de seu cliente e a lei era bastante clara quando afirmava que caso não houvesse o cumprimento da medida a multa seria aplicada, todavia ao fazer um julgamento devemos levar em conta o juízo de valores e assim cabia algumas justificativas sobre o não uso do equipamento de proteção individual pelo réu F. 
Ao pensarmos sobre o senhor F., vimos que trata-se de uma pessoa com baixíssima escolaridade o que não o faz apto a entender a real dimensão do que é uma pandemia tendo em vista que ele não sabe nem o que é um vírus e muito menos quais os meios de transmissão e replicação deste. Afinal, com o advento da globalização houve uma democratização no acesso à internet e assim iniciou um processo de replicação em massa de notícia de teor duvidoso fazendo com que pessoas com mais anos de estudos também caiam nessa desinformação, logo temos que tomar o discernimento como algo particular de cada indivíduo. 
Outro fator de suma importância está relacionado a situação de vulnerabilidade socioeconômica em que se encontra o indivíduo e sua família. Deve-se avaliar quantas pessoas são sustentadas em sua casa, se eles têm ou não casa própria, quais as condições dessa moradia. No caso do senhor F. somente ele trabalha, em um emprego informal, sua casa é própria, mas em condições precárias, fatos esses que tornam totalmente justificável a escolha de prioridades na aquisição de produtos quaisquer e neste caso a compra de uma máscara não é prioritária em relação a compra de um alimento, ainda mais que o senhor F nem entende de fato para que serve essa máscara. 
Ademais, o Estado que é responsável pela saúde e bem estar dos cidadãos, conforme o preconizado pela constituição cidadã, não apresentou nenhuma proposta de projeto ou campanha que visem o fornecimento de máscaras para os indivíduos que encontram-se em situação de fragilidade socioeconômica. 
Após apresentar os argumentos supracitados ao auditório, esses irão fazer ou não um processo de adesão da argumentação em questão, sendo assim também é possível que o juiz realize a apropriação do juízo de valor proposto por Perelman e faça uso do princípio da equidade, a fim de que possa haver alguma forma de flexibilização a punição aplicada ao senhor F, em relação ao decreto do uso obrigatório de máscaras, pois tomando como partido essas questões que relacionam o indivíduo com seu meio de inserção, seria possível afirmar que a justiça realizou uma correção da lei. 
Bibliografia
BITTAR, Eduardo C. B.; ALMEIDA, Guilherme A. de. Curso de filosofia do direito. São Paulo, Ed. Atlas S.A., 2015.
CABRAL, A. L. T.; GUARANHA, M. F. O conceito de justiça: argumentação e dialogismo. 
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S2176-45732014000100003&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 13 abr. 2020. 
NAVARRO, Luize S. A teoria da argumentação de Chaim Perelman. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=0eeee4beb285c604.Acesso em 12 abr. 2020.
PUC-RIO. As Teorias da Argumentação Jurídica: importância para o debate jusfilosófico atual. Disponível em:< http://www2.dbd.pucrio.br/pergamum/tesesabertas/0115455_03_cap_02.pdf>. Acesso em: 17 abr. 2020.
SILVA, Carolina M. C. da. Chaim Perelman – da argumentação a justiça um retorno a Aristóteles. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/101807. Acesso em 13 abr. 2020.
VAZ, Carlos A. L.; TOLEDO, Claudia. A Teoria da Argumentação de Chaïm Perelman. Disponível em:< http://www.ufjf.br/periodicoalethes/files/2018/07/periodico-alethes-edicao-1.pdf>. Acesso em 16 abr. 2020. 
FERREIRA, Letícia M. P. Sociologia jurídica. Disponível em :< http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/52733/a-contribuicao-de-chaim-perelman-para-a-racionalidade-juridica-contemporanea>. Acesso 14 abr. 2020. 
PESSANHA, Jackelline F. Chaïm Perelman e o combate à retórica da eficácia dos sofistas. Disponível em:< http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1692-25302014000100012>. Acesso em 18 abr. 2020.

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