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Obesidade e análise do comportamento - LUCIA CAVALCANTE

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Prévia do material em texto

1
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
2
Universidade da Amazônia
LÚCIA CRISTINA CAVALCANTE
OBESIDADE E ANÁLISE DO
COMPORTAMENTO
Belém
UNAMA
2009
3
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
Catalogação na fonte
www.unama.br
RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA: OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
© 2009, UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
REITOR
Édson Raymundo Pinheiro de Souza Franco
VICE-REITOR
Antonio de Carvalho Vaz Pereira
PRÓ-REITOR DE ENSINO
Mário Francisco Guzzo
PRÓ-REITORA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO
Núbia Maria de Vasconcelos Maciel
SUPERINTENDENTE DE PESQUISA
Ana Célia Bahia Silva
SUPERITENDENTE DE EXTENSÃO – SUPEX
Vera Lúcia Pena Carneiro Soares
“Campus” Alcindo Cacela
Av. Alcindo Cacela, 287
66060-902 - Belém-Pará
Fone geral: (91) 4009-3000
Fax: (91) 3225-3909
“Campus” Senador Lemos
Av. Senador Lemos, 2809
66120-901 - Belém-Pará
Fone: (91) 4009-7100
Fax: (91) 4009-7153
“Campus” Quintino
Trav. Quintino Bocaiúva, 1808
66035-190 - Belém-Pará
Fone: (91) 4009-3300
Fax: (91) 4009-3349
“Campus” BR
Rod. BR-316, km3
67113-901 - Ananindeua-Pa
Fone: (91) 4009-9200
Fax: (91) 4009-9308
EXPEDIENTE
EDIÇÃO: Editora UNAMA
COORDENADOR: João Carlos Pereira
SUPERVISÃO E FOTO DA CAPA: Helder Leite
NORMALIZAÇÃO: Maria Miranda
FORMATAÇÃO GRÁFICA: Elailson Santos
IMPRESSÃO:
C3766o Cavalcante, Lúcia Cristina
Obesidade e análise do comportamento / Lúcia
Cristina Cavalcante. — Belém: Unama, 2009.
176 p.
ISBN 978-85-7691-074-9
1. Obesidade. 2. Análise do comportamento.
3 Psicologia do comportamento.I .Título
CDD: 616.398
4
Universidade da Amazônia
“´Pessoas com excesso de
peso são mais diferentes
que parecidas’. Nem todos
os nossos sujeitos
respondem ao
procedimento da mesma
maneira. As variáveis
pessoais e sociais
envolvidas são relevantes
e muitas vezes
desconhecidas e escapam
ao controle do
experimentador. Parece
que temos em mãos uma
tecnologia que nos permite
fortalecer comportamentos
incompatíveis com a
resposta de comer
excessivamente a ser
eliminada, mas que há
ainda um longo caminho a
percorrer. Encontrar a
resposta controladora
proposta por Skinner é
possível. O problema
central é manter essa
resposta”
Rachel Rodrigues Kerbauy (1977, p. 129-130)
5
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
Às milhares de pessoas que vivem todos os
dias em meio a contingências aversivas, pro-
vindas do ambiente social, físico e fisiológi-
co, derivadas do excesso de peso.
Aos Analistas do Comportamento que cientes
dessas situações aversivas esforçam-se coti-
dianamente para construir conhecimentos e
técnicas eficazes para instrumentalizar aque-
las pessoas a terem uma vida melhor.
À Profª Drª Rachel Rodrigues Kerbauy que ini-
ciou esse empreendimento em terras brasilei-
ras, pelos muitos frutos e pela determinação
de levar o arsenal teórico e metodológico da
Análise do Comportamento à área da Psicolo-
gia da Saúde.
A Arlindo Gomes da Silva (in memorium), pa-
ternidade abundante que me acompanhará
por toda a vida.
Especialmente, à Maria Jacy Cavalcante, a
mais hábil Analista do Comportamento que
já conheci, um exemplo de resistência, sobre-
vivência, competência e maternidade.
6
Universidade da Amazônia
À Universidade da Amazônia e à Fundação
Instituto para o Desenvolvimento da Amazô-
nia, pela acolhida, infraesturura e fomento
dessa pesquisa, aspectos tão necessários à
consolidação da pesquisa na Amazônia.
À direção e a coordenação do curso de Psi-
cologia do Centro de Ciências Biológicas e da
Saúde, pelo crédito e incentivo à minha produ-
ção científica.
Às minhas bolsistas voluntárias Bruna Me-
nezes Castro dos Santos e Rebeca Pereira Ca-
bral pela presença continente e competente nas
longas horas de estudo; jovens talentos de
comportamento responsável e ético, tão neces-
sário nos settings de produção do conhecimen-
to científico.
Às minhas meninas, Ana Luiza e Marina,
que com características e formas distintas ins-
piram sonhos e abastecem realizações. Amo-
res definitivos!
Aos meus mestres e modelos Olavo de Fa-
ria Galvão, Marcelo Galvão Baptista e Lúcia
Medeiros, que sempre foram extremamente
hábeis em dispor contingências para o meu
aprendizado de Análise do Comportamento, re-
forçando positivamente minha formação como
docente e pesquisadora.
AGRADECIMENTOS
Minha eterna gratidão e reconhecimento.
Obrigada a cada um de vocês!
Lúcia Cavalcante
7
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Distribuição dos trabalhos localizados por ano ............................ 38
Gráfico 2: Distribuição dos trabalhos localizados pelos quatro
períodos de tempo analisados .......................................................................... 39
Gráfico 3: Distribuição dos trabalhos localizados por Região Brasileira
nos quatro períodos de tempo analisados ....................................................... 39
Gráfico 4: Distribuição dos trabalhos localizados pelas instituições
geradoras em cada um dos quatro períodos de tempo analisados ................ 41
Gráfico 5: Distribuição dos trabalhos localizados por tipo de instituição
geradora nas quatro Regiões Brasileiras em cada um dos quatro períodos
de tempo analisados ......................................................................................... 42
Gráfico 6: Distribuição dos trabalhos localizados por tipo de produção
bibliográfica gerada nos quatro períodos de tempo analisados ................... 42
Gráfico 7: Distribuição dos trabalhos localizados por número de autores
em cada um dos quatro períodos de tempo analisados .................................. 43
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Lista de palavras-chave selecionadas para a revisão de
literatura ............................................................................................................ 34
Quadro 2: Número de trabalhos realizados e/ou orientados por nove
pesquisadores identificados, distribuídos nos quatro períodos de tempo
analisados ......................................................................................................... 44
Quadro 3: Proporção do número de trabalhos obtidos sobre o número de
trabalhos localizados nos quatro períodos de tempo analisados ................. 47
Quadro 4: Dificuldades relatadas pelos sujeitos para o seguimento da
1ª etapa do programa desenvolvido por Heller (1990) ................................... 75
LISTA DE SIGLAS
UNAMA = Universidade da Amazônia (Belém – PA)
UFPA = Universidade Federal do Pará (Belém – PA)
UFPR = Universidade Federal do Paraná (UFPR)
UnB = Universidade de Brasília (Brasília – DF)
UCG = Universidade Católica de Goiás (Goiânia – GO)
8
Universidade da Amazônia
USP = Universidade de São Paulo (São Paulo – SP)
PUCCAMP = Pontífice Universidade Católica de Campinas (Campinas – SP)
UNICOR = Universidade Vale do Rio Verde (Três Corações – MG)
UEL = Universidade Estadual de Londrina (Londrina – PR)
UNIPAR = Universidade Paranaense (Curitiba – PR)
CESUMAR = Centro de Ensino Superior de Maringá (Maringá – PR)
PUCRG = Pontífice Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(Porto Alegre – RS)
9
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .................................................................................................. 10
PREFÁCIO ............................................................................................................ 12
CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................... 15
1.1 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO: compreendendo a relação
organismo-ambiente .......................................................................................... 16
1.2 UM POUCO DA HISTÓRIA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO NO BRASIL .. 24
1.3 O QUE VEM A SER OBESIDADE? .................................................................... 25
1.4 OBESIDADE SOB A PERSPECTIVA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO .......... 28
CAPÍTULO 2: PERCURSO METODOLÓGICO ......................................................... 32
2.1 A PESQUISA “ESTADO DA ARTE” ....................................................................33
2.2 RELATANDO O CAMINHO ............................................................................... 34
2.2.1 A localização dos trabalhos ........................................................................ 34
2.2.2 Leitura, identificação e caracterização ...................................................... 35
2.2.3 Análise dos resultados .............................................................................. 36
CAPÍTULO 3: DADOS E ANÁLISE QUANTITATIVA ................................................ 37
CAPÍTULO 4: DADOS E ANÁLISE QUALITATIVA ................................................... 46
4.1 A PESQUISA NA DÉCADA DE 70 ..................................................................... 48
4.2 A PESQUISA NA DÉCADA DE 80 ..................................................................... 61
4.3 A PESQUISA NA DÉCADA DE 90 ..................................................................... 84
4.4 A PESQUISA NOS ANOS DE 2001 A 2004 ...................................................... 96
À GUISA DA CONCLUSÃO ................................................................................. 129
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 134
ANEXOS E APÊNDICE ........................................................................................ 147
10
Universidade da Amazônia
dentrar as teceduras de um grave problema de saúde pública
como a Obesidade que, democraticamente, atinge em todos os
continentes pessoas de todas as faixas etárias, sexos e classes
sociais, não é tarefa simples, muito menos deve ser levada a efeito por
uma só ciência.
No entanto, tão importante quanto pesquisar, elaborar e aplicar
estratégias interdisciplinares de enfrentamento ao problema, são os
investimentos de cada ciência na construção crítica e reflexiva de uma
espécie de autodiagnóstico acerca de sua produção científica sobre a
questão. O que se produziu? Como foi feito? Por quem? Com que grupo
de indivíduos? Sob que condições? São perguntas fundamentais para
compreender não apenas o fenômeno, mas as características do conhe-
cimento produzido sobre ele. Se é verdade que o conhecimento cientí-
fico deve animar as iniciativas racionais de modificações da realidade,
tão verdadeiro também é o fato de que este conhecimento é obtido de
forma processual e deve ser permanentemente revisto.
Nos últimos anos tem crescido o contingente de cientistas in-
teressados em realizar “Estados da Arte”, revisões do conhecimento
científico que não apenas historiam, mas, sobretudo, indicam cami-
nhos para a consolidação de teorias explicativas sobre determinados
temas de pesquisa. Ganha a ciência, pois toma consciência de si, ga-
nham os profissionais que configuram responsavelmente suas inter-
venções no conhecimento científico e, por fim, ganha a população
afetada direta e indiretamente, na medida em que passa a contar com
intervenções tecidas com um arsenal de conhecimentos permanen-
temente refletidos.
A Psicologia faz parte do rol das ciências que toma a Obesidade
como objeto de estudo, é bem verdade que por suas características esta
ciência não lança um único olhar sobre o mesmo, é possível identificar
diferentes atitudes epistemológicas nas investigações, o que gera, na-
turalmente, compreensões diversas sobre o fenômeno.
Dentre estes olhares encontramos a Análise do Comportamen-
to, um campo de estudos e pesquisas da Psicologia proposto por B. F.
Skinner na década de 30 nos Estados Unidos, que se caracteriza pela
investigação da relação organismo-ambiente sob uma perspectiva ex-
APRESENTAÇÃO
A
11
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
ternalista, julgando que o comportamento dos indivíduos não é deter-
minado por motivações internas, mas pela sua história de relação com o
ambiente físico e social.
Os primeiros estudos realizados pela Análise do Comportamen-
to sobre a Obesidade ocorreram na década de 60, após o estudo pionei-
ro de Ferster, Nurnberger e Levitt (1962). Dez anos depois, a defesa da
tese de doutorado de Rachel Kerbauy, no Instituto de Psicologia da Uni-
versidade de São Paulo, deu início a estas investigações em território
nacional. Há mais de três décadas, Analistas de Comportamento brasi-
leiros vêm em maior ou menor intensidade investigando a Obesidade,
construindo um acervo de conhecimentos significativos, eleito como
objeto de estudo deste trabalho.
Historiar, sintetizar e analisar esta produção foram nossas me-
tas. A pesquisa de caráter bibliográfico, conhecida como “Estado da Arte”
ou “Estado do Conhecimento”, o nosso caminho. Os resultados geraram
um catálogo com as produções por ano, objeto de análise quantitativa.
Parte destas produções foi obtida e tornou-se objeto de uma análise
qualitativa. Ao final, foi possível esboçar uma espécie de raio x da pro-
dução brasileira entre os anos de 1972 a 2004, apresentado no decorrer
deste texto dividido em cinco capítulos. Embora seja desejável a leitura
contínua do texto, é possível que os iniciados em Análise do Comporta-
mento prescindam da leitura do Capítulo 1, uma vez que o conteúdo
apenas faz uma apresentação didática da Obesidade e da Análise do
Comportamento. Desta forma, é possível iniciar a leitura pelo Capítulo
2, sem prejuízo à compreensão do trabalho.
Esperamos que este texto possa, muito mais que responder ques-
tões, provocar perguntas que incitem a realização de novas pesquisas, abas-
tecendo de razões os Analistas do Comportamento interessados em com-
preender a complexa relação entre comportamento, saúde e doença.
Lúcia Cristina Cavalcante
12
Universidade da Amazônia
ecentemente, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Me-
tabólica (SBCBM) divulgou resultados de uma pesquisa indicando
que mais da metade (51%) da população brasileira está acima de
seu peso ideal. Entre os jovens de 18 a 25 anos, a incidência correspon-
de a 66%, sugerindo que, caso não sejam tomadas medidas preventi-
vas, já nas próximas décadas, o Brasil precisará dispensar elevados re-
cursos financeiros com o tratamento e as consequências sociais de do-
enças associadas ao excesso de peso como diabetes e cardiopatias. Mais
alarmante ainda, esta pesquisa revela que 3% da população brasileira
pode ser incluída na classe de obesidade mórbida.
Há décadas, a obesidade tem sido objeto de estudo de diver-
sos campos do conhecimento científico. No caso das ciências do com-
portamento, como a Psicologia e em particular a Análise do Compor-
tamento (AC), o interesse tornou-se crescente a partir da constatação
de que a obesidade apresenta etiologia multifatorial e suas consequ-
ências afetam a qualidade de vida do indivíduo, de seu grupo familiar,
ocupacional e social.
A Análise do Comportamento não estuda a obesidade em si,
mas as relações entre o indivíduo com obesidade e seu ambiente, iden-
tificando a função que o comportamento alimentar adquiriu para este
indivíduo a ponto de fazer com que o mesmo continue a executá-lo em
excesso, a despeito das consequências adversas. Desse modo, a AC se
destaca como um promissor modelo teórico e metodológico para o es-
tudo da obesidade, o que vem a ser demonstrado neste trabalho reali-
zado por Lúcia Cristina Cavalcante, professora e pesquisadora da Uni-
versidade da Amazônia (UNAMA).
Este livro apresenta uma organização do conhecimento produ-
zido na área, isto é, o seu “estado da arte”. É o principal produto da
pesquisa realizada pela autora com o objetivo de “historiar, sintetizar e
analisar a produção científica sobre obesidade realizada por analistas
do comportamento no Brasil – uma espécie de raio X da produção brasi-
leira entre os anos de 1972 a 2004”.
O livro está dividido em cinco capítulos. Nos dois primeiros, a
autora apresenta a fundamentação teórica e o percurso metodológico
de coleta e de análise do material bibliográfico localizado. No terceiro
PREFÁCIO
R
13
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
capítulo, é apresentada uma análise quantitativa dos 78 estudos seleci-
onados, pormeio da qual se observa o crescente interesse de analistas
do comportamento brasileiros, destacando-se o maior volume de pes-
quisas realizadas nos primeiros anos do século XXI. Nesta análise, a
autora considera o número e o tipo de estudo por ano, por década e por
autor, e também as regiões geográficas brasileiras nas quais os traba-
lhos foram realizados.
No quarto capítulo, o mais extenso, a autora apresenta cuidado-
sa análise qualitativa de 21 pesquisas realizadas em 33 anos de produ-
ção, organizadas em quatro categorias (década de 70, década de 80,
década de 90 e anos 2001 a 2004), por meio da qual são analisados as-
pectos como: delineamento utilizado, participantes, principais resulta-
dos obtidos e questões conceituais mais exploradas, sob uma perspec-
tiva histórica. Muito interessante a forma que a autora elegeu para a
apresentação dos estudos, iniciando com um resumo do trabalho, se-
guido de uma análise do mesmo e ao final, fazendo uma síntese da
produção do autor. A cada apresentação do grupo de estudos, a autora
justifica os critérios utilizados para a seleção dos mesmos, orientando o
leitor sobre o modo de fazer uma pesquisa bibliográfica.
No quinto capítulo, a autora tece importantes conclusões sobre
os resultados encontrados, fazendo, como boa pesquisadora, impor-
tantes comentários e sugestões para estudos futuros. Desse modo, per-
mite um salto qualitativo para os pesquisadores da área, ao organizar o
conjunto de trabalhos já realizados por analistas do comportamento
brasileiros apontando caminhos a serem seguidos.
Para complementar, a autora anexa a lista de todos os trabalhos
localizados, como um catálogo, oferecendo ao leitor uma preciosa fer-
ramenta para estudo.
Os resultados apontam a carência de estudos nas Regiões Norte
e Nordeste, sugerindo a necessidade de incentivos à pesquisa nestas
regiões. A autora também destaca o importante papel das instituições
de ensino superior na realização de pesquisas.
Cabe ainda algumas considerações sobre o percurso realizado
pela profa. Lúcia como docente e pesquisadora. Formada em Bachare-
lado em Psicologia pela Universidade Federal do Pará, concluiu o cur-
so de mestrado no programa de pós-graduação em Psicologia: Teoria
e Pesquisa do Comportamento, também pela UFPA, com dissertação
realizada sob a orientação do Prof. Dr. Olavo Galvão. Em 1997 iniciou
suas atividades como docente na Universidade da Amazônia. Atual-
14
Universidade da Amazônia
mente, é Professora Adjunto VI nesta instituição de ensino superior,
orienta trabalhos de iniciação científica e de conclusão de cursos de
graduação e de pós-graduação, além de ministrar disciplinas em cur-
sos da área de educação (Pedagogia) e de saúde (Psicologia, Fisiote-
rapia e Fonoaudiologia).
Iniciou sua vida acadêmica realizando estudos sobre aprendiza-
gem e desempenho acadêmico, ampliando-os para estudos sobre con-
trole aversivo e, mais recentemente, tem se dedicado a estudar o com-
portamento alimentar de indivíduos com obesidade seguindo o mode-
lo analítico-comportamental. Vários de seus trabalhos foram apresen-
tados em eventos científicos locais e nacionais.
Espera-se que, ao final da leitura deste livro, outro objetivo apon-
tado pela autora seja alcançado: “mais que responder perguntas, [ ]
provocar perguntas que incitem a realização de novas pesquisas, abas-
tecendo de razões os analistas do comportamento interessados em com-
preender a complexa relação entre comportamento, saúde e doença”.
Profª. Drª. Eleonora Arnaud Pereira Ferreira
Mestre e Doutora em Psicologia (UnB)
Psicóloga e Professora Associada I da UFPA
15
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA
Capítulo 1
16
Universidade da Amazônia
1.1 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO: compreendendo a relação organis-
mo-ambiente
A Análise do Comportamento é um campo de estudos e pesqui-
sas da Psicologia, proposto por B. F. Skinner, inicialmente em 1938 com
a obra The Behavior of organisms: an experimental analysis (MATOS,
1990), que se caracteriza pela investigação do comportamento, funda-
mentada epistemologicamente no Behaviorismo Radical (BAUM, 1999;
COSTA, M., 1997; MICHELETTO e SÉRIO, 1993; TODOROV, 1981, 1982;
ANDERY e SÉRIO, 2001; SÉRIO, 1999).
O Behaviorismo Radical, enquanto uma epistemologia, se con-
figurou a partir das reflexões que Skinner desenvolveu sobre a visão de
homem, o objeto de estudo e o modelo de ciência adotados pela Psico-
logia; refelxões estas nascidas de pesquisas realizadas pelo autor des-
de 1931, quando iniciou seu doutoramento em Harvard, mas só explici-
tadas pela primeira vez em 1945, no artigo The operacional analysis of
psichological terms (MATOS, 1990; TOURINHO, 1987).
Para o Behaviorismo Radical, o homem é um ser ativo, sujeito
de sua própria história, construída e reconstruída nas relações com o
ambiente (SKINNER, 1957/19781; SKINNER, 1990; MACHADO, 1994). Com
relação a esta concepção de homem, Micheletto e Sério (1993, p. 14)
afirmam que:
O homem constrói o mundo a sua volta, agindo sobre ele e,
ao fazê-lo, está também se construindo. Não se absolutiza
nem o homem, nem o mundo; nenhum dos elementos da
relação tem autonomia. Supera-se, com isto, a concepção
de que os fenômenos tenham uma existência por si
mesmos... A cada relação obtém-se, como produto, um
ambiente e um homem diferentes.
Para compreender o homem, portanto, é necessário investigar a
relação homem-mundo. Dito de outra forma, é necessário compreender
seu comportamento, definido não apenas como a ação do homem no
mundo, mas a relação/interação deste homem, visto como um organis-
mo vivo, com seu ambiente presente e passado (SKINNER, 1953/2000;
TODOROV, 1981, 1982; MATOS, 1999a; SANT‘ANNA, 2001). Cabe assinalar
1 O primeiro ano se refere à data de publicação original em língua inglesa. O segundo ano se refere à
data da obra lida em língua portuguesa.
17
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
o significado que o termo “ambiente” assume no Behaviorismo Radical:
conjunto de condições ou circunstâncias que afetam o organismo e o
fazem comportar-se (MATOS, 1999b). O ambiente, portanto, não se res-
tringe apenas a eventos no meio físico, como alterações climáticas (ambi-
ente físico) por exemplo, abarca também eventos sociais, ou seja, com-
portamentos de outros indivíduos da mesma espécie que afetam o indi-
víduo em análise. Eventos estes que, para Skinner (1953/2000), Todorov
(1981) e Todorov (1982), constituem o ambiente social.
Para fins de investigação, a Análise do Comportamento utiliza
os conceitos estímulo e resposta para descrever o comportamento. Se-
gundo Keller e Schoenfeld (1950/1973, p. 17), estímulo é “Uma parte, ou
mudança em uma parte do ambiente”, já resposta é definida como “Uma
parte, ou a mudança em uma parte, do comportamento”; não havendo
sentido na utilização de um destes termos sem a referência ao outro.
Micheletto e Sério (1993, p. 12) prosseguem afirmando ainda
que o homem “... Não é uma natureza humana diferente dos demais
fenômenos e nem contém em si duas naturezas distintas, o homem
está submetido a leis universais e é passível de ser conhecido”.
Desta forma, pode-se afirmar que o Behaviorismo Radical rejeita
concepções dualistas de homem, rejeitando a ideia de um homem com-
posto de uma natureza material (o corpo) e outra imaterial (a alma, o
espírito, a mente). O homem é visto como um organismo vivo que possui
apenas uma natureza: a física, que está submetida às mesmas leis que
regem outros aspectos do universo (CHIESA, 1994). Esta interpretação
leva o Behaviorismo Radical a ser considerado uma abordagem monista.
Por conta disso, estímulos e respostas acessíveis de modo dire-
to apenas ao próprio indivíduo, circunscritos no “mundo-dentro-da-
pele”, como sensações e pensamentos, não têm nenhuma natureza
especial diferenciada dos estímulos e respostas públicas, diferindo dos
últimos apenas pela questão do acesso à observação. Estes estímulos e
respostas são denominados de eventos privados (SKINNER, 1953/2000,
1974/1993; LAMPREIA, 1996; TOURINHO, 1999;SIMONASSI, TOURINHO e
SILVA, 2001; TEIXEIRA, 2001; TOURINHO, TEIXEIRA e MACIEL, 2002).
Os eventos privados são vistos pelo Behaviorismo Radical como
frutos da história de interação do organismo com o ambiente externo
físico e/ou social, assim como os eventos públicos. Por conta disso, não
têm existência independente, contrariando a visão de outras aborda-
gens psicológicas que pressupõem o livre arbítrio e/ou o determinismo
interno do comportamento (LAMPREIA, 1996). Desta forma, os eventos
18
Universidade da Amazônia
privados fazem parte da relação organismo-ambiente, mas não podem
ser tomados, em última análise, como as causas do comportamento,
que estariam no ambiente e que seriam as variáveis das quais o com-
portamento é função (SKINNER, 1953/2000, 1974/1993, 1969/1984, 1989/
1991; CHIESA, 1994). Esta interpretação sobre a determinação do com-
portamento permite classificar o Behaviorismo Radical como uma abor-
dagem externalista (TOURINHO, 1999).
Outro aspecto que tem particular importância na compreensão
do Behaviorismo Radical é a ênfase dada por Skinner em toda sua obra
(1930-1990) às consequências das interações organismo-ambiente. O
estabelecimento do conceito de comportamento operante em 1938 é
um marco nesta direção dada à explicação do comportamento.
Em estudos desenvolvidos em sua tese de doutorado, Skinner iden-
tificou um tipo de comportamento: o operante, que não poderia ser expli-
cado pelos estudos até ali realizados, baseado na noção de comportamen-
to reflexo ou respondente, desenvolvida por I. P. Pavlov.
Skinner verificou, em observações experimentais, que as res-
postas do sujeito não poderiam ser explicadas pela presença de estí-
mulos antecedentes eliciadores2, como vinha sendo feito nos estudos
sobre comportamentos e reflexos. Os sujeitos ora respondiam na pre-
sença de um estímulo antecedente, ora não respondiam. As respostas
dos sujeitos tinham sua frequência alterada pelas modificações produ-
zidas no ambiente (estímulos ambientais consequentes). Este novo tipo
de comportamento caracterizava-se pela sensibilidade às consequên-
cias (SKINNER, 1974/1993) e mantinha uma relação muito particular e
bastante diferenciada com o estímulo ambiental antecedente: depen-
dendo das consequências da resposta, a situação onde ela ocorria (estí-
mulo ambiental antecedente) assumia um controle sobre a mesma.
Este controle, denominado discriminativo, fazia com que aspectos des-
ta situação funcionassem para o sujeito como “dicas”, indicativo da pro-
babilidade de certos tipos de consequências serem apresentadas para
aquela resposta. Skinner (1953/2000) passa a se referir ao comporta-
mento operante como uma relação do tipo resposta-estímulo (R-S3),
em contraste à relação do tipo estímulo-resposta (S-R) presente no com-
portamento respondente.
2 Eliciar é o termo técnico usado para se referir à função de provocar uma resposta reflexa que
estímulos possuem, quando apresentados a um organismo, a exemplo da comida na boca (estímulo
eliciador) que gera salivação (respondente). A relação S-R é denominada reflexo ou comportamento
respondente.
3 S do inglês stimulus e R do inglês response.
19
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
É importante destacar que o advento deste novo conceito não
excluiu do campo da Análise do Comportamento as dimensões com-
portamentais que podem ser explicadas a partir do conceito de com-
portamento respondente, uma vez que os estímulos apresentados como
consequência para um operante (R-S) eliciam, sem dúvida, responden-
tes no organismo (S-R). A diferenciação entre eles, operante e respon-
dente, se justifica pela especificidade da interação apresentada em cada
um, especialmente no que tange à ação do sujeito e é muito útil para
efeito de análise comportamental. A partir da proposição do conceito
de comportamento operante, Skinner (1969/1984) passa a analisar a in-
teração organismo-ambiente utilizando o conceito de contingência.
Contingências são enunciados do tipo “se..., então....” que descrevem
relações entre eventos (SOUZA, 1999). Um exemplo de contingência
presente no comportamento respondente seria: “se a luz apagar (estí-
mulo eliciador), então a pupila irá imediatamente se contrair (respon-
dente)” ou esquematicamente apenas S-R.
A Análise do Comportamento a partir do estabelecimento do
conceito de operante passou a empregar a contingência tríplice: S-R-S,
ou seja, estímulo ambiental antecedente-resposta-estímulo ambiental
consequente, para identificar as variáveis das quais o comportamento
é função. Este método de Análise do Comportamento é denominado
análise funcional (TODOROV, 1981, 1982, 1985; COSTA e MARINHO, 2002).
A importância atribuída às consequências no comportamento
operante desencadeou uma série de estudos que culminaram com a
identificação de dois tipos de operações que ocorrem na relação orga-
nismo-ambiente, e interferem na frequência e probabilidade de ocor-
rência de um comportamento: a punição e o reforçamento.
A punição é uma operação que consiste na apresentação de um
estímulo ambiental consequente que diminui a frequência e probabili-
dade de ocorrência das respostas que o produzem. Estes estímulos são
denominados estímulos aversivos (SKINNER, 1953/2000).
Estudos mostraram que esta operação, infelizmente muito usa-
da nas relações humanas, tem apenas eficácia parcial na diminuição da
frequência do comportamento, uma vez que os indivíduos tendem a
não emitir a resposta na presença do agente punitivo, mas na sua au-
sência podem voltar a apresentar o comportamento, que em muitos
casos se apresenta em uma frequência ainda maior que a original.
Outros estudos, a exemplo de Sidman (1989/1995), que avalia-
ram os subprodutos da punição apontam como correlatos da exposição
20
Universidade da Amazônia
sistemática a situações punitivas: o desenvolvimento de alterações or-
gânicas como taquicardia, tremores periféricos, aumento da sudorese,
úlceras, medo, ansiedade, depressão, fobias, dentre outros. Tais efei-
tos fizeram Skinner (1953/2000) propor alternativas à punição para ob-
ter a redução da frequência de um comportamento, sendo a principal
delas a extinção, que se caracteriza pela retirada do evento ambiental
consequente à resposta com alta frequência.
A segunda operação estudada pela Análise do Comportamento
é o reforçamento. Reforçamento é definido como uma operação na
qual um estímulo ambiental apresentado contingentemente a uma res-
posta, aumenta a frequência e probabilidade de ocorrência futura da
mesma (SKINNER, 1953/2000, 1969/1984; HALL, 1975).
As pesquisas da Análise do Comportamento mostraram que exis-
tem basicamente dois tipos de reforço: reforço positivo e reforço nega-
tivo. A diferença básica entre eles está no fato de que, no reforço posi-
tivo o que aumenta a frequência e probabilidade de ocorrência do com-
portamento é a apresentação de um estímulo contingente à resposta,
enquanto que, no reforço negativo, o que aumenta a frequência e pro-
babilidade de ocorrência do comportamento é a retirada de um estímu-
lo aversivo ou a evitação do contato com o referido estímulo.
Os estudos sobre o reforço positivo realizados pela Análise do
Comportamento indicaram como fatores críticos para o estabelecimen-
to de uma contingência de reforço: 1) o tempo entre a resposta e a
conseqüência e; 2) o esquema de administração da consequência, que
pode ser feita de forma contínua, intermitente, dentre outras variações
e combinações possíveis (MACHADO, 1980, 1986).
Vários autores estudaram os efeitos do reforço negativo. Em geral,
estes estudos são realizados em associação com estudos acerca da punição.
Tais estudos classificaram os comportamentos reforçados negativamente
como fuga e esquiva. Na fuga, a resposta é reforçada pela retirada do estí-
mulo aversivo e na esquiva a resposta é reforçada por evitar ou adiar o
contato do indivíduo com a estimulação aversiva (SIDMAN, 1989/1995).
Embora, haja uma franca defesa nos textos de Skinner e Sidman dos
benefícios de estabelecer comportamentos via reforçamento positivo,estu-
dos recentes têm problematizado esta questão, uma vez que muitos com-
portamentos instalados e mantidos por reforço positivo imediato têm con-
sequências futuras altamente aversivas. Um exemplo disso, pode ser o com-
portamento de comer em excesso, para o qual existe reforço imediato. Esta
discussão leva com que se iniciem reflexões sobre as consequências do uso
21
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
indiscriminado do reforçamento positivo. Somado a isso, é possível pensar
que a situação de punição também se apresenta como uma oportunidade de
ampliação de repertório, uma vez que os indivíduos passam a apresentar
comportamentos alternativos ao punido, estabelecendo outras formas de se
relacionar com seu ambiente (PERONE, 2003). Longe de defender a utilização
de punição, a análise de quadros como a Obesidade pode servir de incentivo
à pesquisa sobre os malefícios da disponibilização de reforçamento positivo
e consequente fortalecimento de comportamentos incompatíveis com a saú-
de. Aprofundaremos esta questão mais à frente.
A proposição do conceito de operante e a identificação da opera-
ção de reforçamento fizeram com que Skinner (1989/1991) apresentasse
a seguinte questão: “Por que o reforço reforça?”. Na ânsia por responder
esta questão, Skinner foi buscar o mecanismo de seleção natural propos-
to por Darwin para a evolução das espécies e elaborou o modelo de sele-
ção pelas consequências, em 1981. Este modelo propõe que a seleção não
atuaria somente na variabilidade anatômica e fisiológica exibida pelos
indivíduos, mas também na variabilidade comportamental. O comporta-
mento de um indivíduo seria resultado de contingências filogenéticas
(atuando no nível das espécies), de contingências ontogenéticas (atuan-
do no nível dos repertórios comportamentais individuais) e de contin-
gências culturais (atuando no nível das práticas grupais) (SKINNER, 1969/
1984; MACHADO, 1994; NELSON, 1998; ANDERY, 1999; MICHELETTO, 1999).
Acerca da Seleção pelas consequências no nível filogenético,
Matos (1990) afirma que:
... A modificação ocorre na reserva genética da espécie e é
assim transmitida pelos indivíduos que, consequentemente,
sobrevivem. Em nível comportamental, esses indivíduos tor-
nam-se sensíveis a diferentes tipos e/ou níveis de estimula-
ção, apresentam posturas típicas, sequências reflexas etc.
Desta forma, é possível entender porque alguns estímulos con-
sequentes ao comportamento têm o poder de aumentar a frequência e
probabilidade de ocorrência do mesmo, tais como: água e alimento.
Eles adquirem seu poder reforçador pelos efeitos que produzem no
organismo. A estes estímulos denominamos reforçadores primários
(SKINNER, 1953/2000, 1989/1991).
No entanto, Skinner (1953/2000), evocando o segundo e terceiro
nível de seleção: a ontogênese e a cultura, identifica outros estímulos
consequentes que adquiriam o status de reforçadores pelo pareamen-
22
Universidade da Amazônia
to4 ocorrido durante a história de vida do indivíduo com um ou mais
reforçadores primários. Estes estímulos serão denominados reforçado-
res condicionados e reforçadores generalizados, respectivamente.
Ao analisar o comportamento é necessário considerar os três ní-
veis de seleção. No entanto, pelas próprias características da ciência que
preconiza a eleição de um nível de análise ou ainda um recorte para con-
figurar o caminho de investigação de um aspecto da realidade, Skinner
(1990) propõe que a Análise do Comportamento investigue o comporta-
mento a partir das interações organismo-ambiente que se dão no nível
ontogenético (na história pessoal de cada indivíduo), acreditando que
neste nível se façam presentes os dois outros níveis de determinação do
comportamento: o filogenético e o cultural.
Por conta desta eleição para a compreensão do processo de determi-
nação do comportamento, uma das críticas mais frequentemente feitas ao
Behaviorismo Radical (e por extensão à Análise do Comportamento) é que o
homem seria tomado como um autômato e que não existiria a possibilidade
de um indivíduo comandar sua própria vida. A exposição feita acima, ainda
que pontual e sumarizada, impossibilita a confirmação desta crítica.
A elaboração do conceito de autocontrole por Skinner (1953/2000),
como controle ambiental exercido pelo próprio indivíduo, a partir da aná-
lise das contingências às quais seu comportamento é função (autoconhe-
cimento), que lhe possibilita apresentar respostas (respostas controla-
doras) para diminuir a frequência de alguns comportamentos e/ou au-
mentar a frequência de outros (respostas controladas); descaracteriza a
crítica de automação humana frequentemente feita ao Behaviorismo
Radical, muito difundida no meio acadêmico (SKINNER, 1974/1993; FRAN-
ÇA, 1997; CARRARA, 1998; RODRIGUES, 1999; WEBER, 2002).
Em geral, o autocontrole é requerido em que existam contin-
gências conflitantes. Na maioria das vezes, as consequências reforça-
doras são apresentadas primeiramente que as consequências aversi-
vas, mantendo a frequência e a probabilidade de ocorrência da respos-
ta em níveis altos, gerando um controle competitivo (KERBAUY, 2000).
Um exemplo de controle competitivo e dos prejuízos que este pode
causar ao indivíduo pode ser observado no consumo de drogas (SILVA,
GUERRA, GONÇALVES e GARCIA-MIJARES, 2001) e na Obesidade (KER-
BAUY, 1972, 1977).
4 Pareamento ou emparelhamento de estímulos é o procedimento pelo qual um estímulo previamente
neutro em relação a um respondente, adquire a função de eliciá-lo, após ter sido apresentado
conjuntamente com o estímulo que originalmente eliciava o respondente em questão (SKINNER,
1953/2000).
23
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
Para Hanna e Todorov (2002, p. 338) os seguintes aspectos fa-
zem parte da análise comportamental do autocontrole:
1. Trata-se de uma contingência ou uma combinação de
contingências com duas conseqüências para uma mesma
resposta – reforçamento e punição – esta resposta é cha-
mada por ele de controlada (Rc);
2. Envolve uma história individual onde ocorre o estabele-
cimento de propriedades aversivas para o comportamento
controlado, idéia esta derivada da afirmação de que res-
postas que reduzem a probabilidade deste comportamen-
to podem ser fortalecidas;
3. Faz parte da contingência um segundo comportamento –
chamado por ele de controlador (Rc1) – que muda algum
aspecto que compõe as condições ambientais e altera a
probabilidade da resposta controlada;
4. As mudanças na contingência do comportamento contro-
lado produzidas pelo comportamento controlador podem:
(a) reduzir/aumentar a intensidade de estímulos eliciado-
res ou aversivos; (b) produzir/retirar estímulos discrimina-
tivos; (c) modificar a motivação através da criação de ope-
rações estabelecedoras (emoção, drogas); (d) tornar refor-
çadores/punidores altamente prováveis ou improváveis; ou
(e) desenvolver alternativas comportamentais que não
impliquem punição.
Os autores concluem que “Em qualquer desses casos, a mudan-
ça produzida pelo comportamento controlador somente alterará a pro-
babilidade desse comportamento, se a probabilidade do comportamen-
to controlado for alterada” (HANNA e TODOROV, 2002, p. 338). Sendo
assim, é importante planejar contingências reforçadoras imediatas para
a resposta controladora, de forma a permitir seu fortalecimento.
Em resumo, podemos perceber neste item, que a Análise do
Comportamento considera o comportamento como uma relação entre
organismo e ambiente, que é construída e mantida ao longo de uma
história de vida. Embora cada indivíduo tenha traçado uma caminhada
peculiar, os processos que permeiam esta relação são plenamente aces-
síveis à análise científica, o que permite o estabelecimento de estraté-
gias de modificação baseadas, sobretudo, na compreensão da função
que o comportamento tem no ambiente e nos limites e possibilidades
do repertório comportamental de cada indivíduo.
24
Universidade da Amazônia
1.2 UM POUCO DA HISTÓRIA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO NO
BRASIL
Apesar da Psicologia, como área de conhecimento, terse feito
presente nos escritos brasileiros desde a época do Brasil Colônia (MAS-
SIMI, 1987; MASSIMI, 1990; ANTUNES, 2001), a Análise do Comporta-
mento chegou ao Brasil apenas em 1961, com as aulas do Prof. Fred
Keller na USP (primeira graduação em Psicologia a surgir no Brasil). O
processo de desenvolvimento inicial dessa área do conhecimento psi-
cológico é mais bem descrito por Matos (1996; 1998).
Durante um significativo período de tempo, as pesquisas esti-
veram concentradas em princípios básicos do comportamento, investi-
gados por meio de experimentos com animais infra-humanos. Outro
campo que mereceu investimento inicial foi a área da Educação, com as
investigações sobre programação de ensino.
A partir de 1964, as contingências criadas a partir da instalação
da ditadura militar, fizeram com que a Análise do Comportamento no
Brasil fosse, por muitos anos, um sinônimo de Psicologia Experimental,
área que sofria menor controle coercitivo do Estado. Desta forma, exce-
tuando-se a área da Educação, a ampliação das pesquisas para áreas
tradicionais como a área da Saúde se deu de forma mais lenta, o que
veio a ocorrer no início da década de 80, em tese defendida na pós-
graduação do Instituto de Psicologia da USP sobre o tema “Autocontrole
do comportamento alimentar” (KERBAUY, 1972).
Além da questão relativa aos campos de pesquisa explorados,
Matos (1998) nos chama a atenção para a concentração da formação dos
primeiros Analistas do Comportamento. Para a autora, esta concentra-
ção se deu no eixo Sul-Sudeste, com exceção do Estado da Pará:
Um sólido curso de pós-graduação, com uma forte ênfase
em Análise do Comportamento, existia na Universidade de
São Paulo desde 1970. Outros foram criados, na Pontifícia
Universidade Católica de Campinas, SP, em 1972, e na
Universidade de Brasília, em 1974. Um excelente mestrado
em Educação Especial passou a ser oferecido na
Universidade Federal de São Carlos, SP, a partir de 1980, e
um mestrado em Análise Comportamental passou a ser
oferecido na Universidade Federal do Pará em 1987. Cursos
de especialização em Análise do Comportamento passaram
a ser oferecidos regularmente na Universidade Estadual
de Londrina, PR, e na Universidade de Caxias do Sul, RS.
25
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
Há poucos dados sobre a migração dos Analistas do Comporta-
mento para outras regiões do país, mas a análise dos programas de con-
curso para as Universidades Federais revela que a seleção de tópicos
circunscritos à Análise do Comportamento iniciou-se em meados da
década de 90. É preciso lembrar, no entanto, que na Região Nordeste já
há grupos de pesquisa consolidados e que a presença da Análise do
Comportamento vem se tornando forte, em áreas como a Psicologia
Clínica e Escolar.
1.3 O QUE VEM A SER OBESIDADE?
A Obesidade é uma doença crônica de etiologia multifatorial,
que se caracteriza pelo acúmulo anormal ou excessivo de gordura no
organismo sob a forma de tecido adiposo (ADES e KERBAUY, 2002; AL-
MEIDA, LOUREIRO e SANTOS, 2002; SEGAL e FANDIÑO, 2002).
O Índice de Massa Corporal (IMC)5 tem sido o método de refe-
rência para o diagnóstico da Obesidade, adotado como parâmetro por
organismos internacionais, a exemplo da Organização Mundial da Saú-
de (OMS), para estimar a prevalência deste distúrbio na população (DO-
BROW, KAMENETZ e DEVLIN, 2002). Tal índice estabelece basicamente
duas categorias para descrever a condição de um indivíduo que está
acima do peso corporal considerado normal: o Sobrepeso e a Obesida-
de. O sobrepeso é caracterizado quando o cálculo do IMC resulta em
índice que varia de 25 a 29,9 Kg/m2. A Obesidade é caracterizada quan-
do o cálculo do IMC atinge índices de 30 a 34,9 Kg/m2. A Obesidade
mórbida é aferida quando o índice do IMC ultrapassa 35 Kg/m2, nesta
condição o indivíduo já excede o peso normal em mais de 40% (DAMIA-
NI, DAMIANI e OLIVEIRA, 2002).
Outros autores alertam para as limitações do IMC, já que ele
não permite visualizar, por exemplo, a distribuição do tecido adiposo
excedente ao longo do corpo, fator comprovadamente relevante e cor-
relacionado com algumas doenças associadas à Obesidade como o dia-
betes. Conforme Cuppari (2002, p.136), a Obesidade pode ser classifica-
da em relação a forma de armazenamento e distribuição da gordura
pelo corpo em três grupos:
5 Peso corporal em quilogramas dividido pelo quadrado da altura em metros quadrados.
26
Universidade da Amazônia
a) Obesidade andróide: também chamada troncular ou
central, lembra o formato de uma maçã. Sua presença se
relaciona com alto risco cardiovascular;
b) Obesidade ginecóide: caracteriza-se por um depósito
aumentado de gordura nos quadris, lembra o formato de
uma pêra. Sua presença está relacionada com um risco
maior de artroses e varizes;
c) generalizada.
A Obesidade e o Sobrepeso têm apresentado um aumento pro-
gressivo e significativo na população mundial nos últimos 40 anos, atin-
gindo indistintamente crianças, adolescentes, adultos e idosos, não só
nos países chamados desenvolvidos, mas também alcançando altos ní-
veis de prevalência em países com baixos índices de desenvolvimento,
a exemplo do que se observa na América Latina (CARVALHO, 2000; DA-
MIANI, DAMIANI e OLIVEIRA, 2002), passando, assim, a se configurar
como uma epidemia. No Brasil, as pesquisas apontam o mesmo avanço
na prevalência da Obesidade, sendo caracterizado por alguns autores
como uma transição epidemiológica, uma vez que o país contava com
um alto índice de subnutridos e um baixo índice de obesos no início da
década de 70, hoje conta com 40% de sua população obesa e apenas
5,7% subnutrida (OLIVEIRA, 2000; NEVES, 2003).
A Obesidade já é bem conhecida como fator de risco para patolo-
gias graves como o diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão, ar-
teriosclerose, alguns tipos de câncer, problemas respiratórios e distúrbi-
os reprodutivos em mulheres, dentre outros (GIGANTE, BARROS, POST e
OLINTO, 1997; ADES e KERBAUY, 2002; ALMEIDA, LOUREIRO e SANTOS,
2002; SEGAL e FANDIÑO, 2002; DAMIANI, DAMIANI e OLIVEIRA, 2002).
No entanto, as alterações e as patologias orgânicas decorrentes
da Obesidade, sobretudo a Obesidade mórbida, não expressam comple-
tamente o que este quadro pode ocasionar na vida de um indivíduo. In-
vestigações têm indicado a relação entre Obesidade e baixa competên-
cia social6 (BARBOSA, 2001), expressa em quadros de esquiva e retrai-
mento social (KERBAUY, 1987) e dificuldades no estabelecimento de rela-
cionamentos amorosos (ROCHA, ABDELNOR e VANETTA, 2001; ROCHA,
ABDELNOR, VANETTA e SILVA, 2002), além de quadros de ansiedade e
depressão (GONÇALVES e OLIVEIRA, 2003; DOBROW, KAMENETZ e DEV-
6 Competência social pode ser definida pela expressão de sentimentos, atitudes, desejos, opiniões e/
ou direitos, adequada ao contexto situacional, respeitando-se igualmente a expressão destes mesmos
comportamentos por outros indivíduos (BARBOSA, 2001; DEL PRETTE e DEL PRETTE, 1999).
27
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
LIN, 2002), gerando consequências significativas para a autoimagem e
autoestima dos indivíduos (ALMEIDA, LOUREIRO e SANTOS, 2002), preju-
dicando sua interação social e, consequentemente, sua qualidade de vida.
Nos últimos anos, novos métodos têm sido construídos com vis-
tas a realizar uma intervenção mais efetiva em quadros de excesso de
peso. Em especial, nos casos de Obesidade mórbida, a cirurgia bariátri-
ca tem sido indicada como um método eficaz para a redução de peso e
sua manutenção em longo prazo (GARRIDO JÚNIOR, 2002; OLIVEIRA,
LINARDI e AZEVEDO, 2004; BENEDETTI, 2003; FERRAZ et al, 2007).
A cirurgia bariátrica pode ter caráter exclusivo ou restritivo e
busca dificultar, com maior ou menor intensidade, a absorção de nutri-
entes. Essa intervenção cirúrgica pode ser dividida em procedimentos
que: 1) limitam a capacidade gástrica, ou seja, cirurgias restritivas; 2)
interferem na digestão (cirurgias disabsortivas) e; 3) uma combinação
de ambas as técnicas, isto é, cirurgias mistas (MARQUES e GRAIM, 2004;
QUADROS, HECKE e ORTELLADO,2005).
Um conjunto de critérios estabelecidos pela Federação Interna-
cional para a Cirurgia da Obesidade e pela Sociedade Brasileira de Cirur-
gia Bariátrica (SBCB) é adotado para a feitura da indicação do paciente
para a realização da cirurgia bariátrica. Dentre eles estão: o paciente deve
ser portador de Obesidade tipo III (Obesidade mórbida); não ter obtido
sucesso em diversos tratamentos clínicos; apresentar comprometimento
em sua saúde derivado da presença da Obesidade; ter risco cirúrgico acei-
tável; ter capacidade de compreender as implicações que a feitura da
cirurgia irá gerar em termos de mudanças em seu estilo de vida.
As principais contraindicação da cirurgia são a existência de dis-
túrbios psiquiátricos, dependência química, alcoolismo, atraso mental,
transtornos alimentares como a bulimia nervosa e resistência à mudança
de atitude alimentar e comportamental. Além disso, não é aceitável a
realização de cirurgias bariátricas em crianças, adolescentes, grávidas e
pessoas com idade avançada; possuidores de varizes esofágicas, doenças
imunológicas ou inflamatórias do trato superior; sujeitos com doença
cardiopulmonar severa e descompensadora; que tenham quadros alérgi-
cos exuberante e nunca tenham frequentado programa de tratamento
para perda de peso, considerando a cirurgia bariátrica como tratamento
de primeira escolha (CARREIRO e ZILBERSTEIN, 2004).
Em alguns casos, é aceitável a realização de cirurgia bariátrica
em pacientes com IMC em torno de 32 e 35, desde que seja atestada a
presença de comorbidades ou tenham indicações formais do clínico,
28
Universidade da Amazônia
endocrinologista e psicólogo, uma vez que esses indivíduos encontram-
se com sua saúde extremamente debilitada e necessitam de melhora
urgente na sua qualidade de vida (CARREIRO e ZILBERSTEIN, 2004).
Os pacientes submetidos a esta cirurgia passam por um longo
período de adaptação à nova condição gástrica, seguindo durante alguns
meses uma sequência de passos para a reintrodução de alimentos e de
atividade física. Por conta de sua história alimentar anterior, a literatura
sobre o assunto ressalta que há necessidade da equipe responsável pela
alimentação do paciente atentar para possíveis situações, nas quais o
paciente poderá se sentir tentado a comer mais do que pode ou a ingerir
alimentos que não são tidos como saudáveis. Um exemplo de situação
perigosa é o fato de que geralmente o sujeito obeso come mais e pior
(quanto à qualidade), no final de semana do que durante os dias da se-
mana, e com frequência, justifica esse comportamento relatando que é
mais comedido durante a semana para poder comer o que e o quanto
desejam no sábado e no domingo (GARRIDO JÚNIOR, 2002).
1.4 OBESIDADE SOB A PERSPECTIVA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
A Psicologia, como ciência e profissão, tem tomado a Obesida-
de como foco de análise e intervenção. Entretanto, dadas as caracterís-
ticas deste domínio do conhecimento, há na ciência psicológica dife-
rentes formas de compreender a Obesidade que geram diferentes for-
mas de abordá-la, dentre elas, a Análise do Comportamento.
A Análise do Comportamento tem desenvolvido pesquisas so-
bre o comportamento alimentar desde o estudo clássico de Ferster,
Nurnberger e Levitt (1962). Estes estudos se caracterizam pela descri-
ção e análise do comportamento alimentar, em termos da relação orga-
nismo-ambiente construída ao longo da história dos indivíduos, visan-
do a identificar que condições ambientais (variáveis) instalaram e man-
têm o padrão de comportamento observado e, desta forma, identifi-
cam a função do mesmo. Além da avaliação de métodos de intervenção
para o estabelecimento de mudanças comportamentais e autocontrole
do comportamento dos indivíduos obesos.
Estes estudos, que inicialmente se desenvolviam dentro do
ambiente controlado do laboratório (FERSTER, NUNRBERGER e LEVITT,
1962; GOLDIAMOND, 1965), foram progressivamente estendidos para
outros settings como hospitais e consultórios psicológicos (BARBOSA,
2001, por exemplo).
29
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
No Brasil, o primeiro estudo realizado a partir do referencial
teórico e metodológico da Análise do Comportamento acerca do com-
portamento alimentar de obesos é de autoria de Kerbauy (1972), tese
de doutorado em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da USP. Desde
este estudo, vários pesquisadores têm investigado este tema sob o
mesmo referencial, buscando construir conhecimentos científicos que,
em última análise, orientem ações profiláticas e/ou terapêuticas. Sem
dúvida, nestes mais de 30 anos de pesquisas brasileiras sobre o tema se
construiu um arcabouço de conhecimentos considerável.
Estes estudos levantaram questões acerca da função que o com-
portamento alimentar tem para o obeso, em outras palavras colocaram
a necessidade de identificar o porquê de o indivíduo obeso apresentar
um padrão de ingesta de alimento superior ao gasto de seu organismo
(KERBAUY, 1988). Responder a esta pergunta, coerentemente com o re-
ferencial teórico assumido, passa necessariamente pela descrição e
análise das contingências a que o indivíduo está exposto, ou seja, por
uma análise funcional de seu comportamento.
Estudos, como o de Silva, V. (2001), apontam que a carência de fontes
de reforçamento positivo alternativas ao alimento no ambiente do indivíduo
obeso, associada à história de exposição às contingências familiares, quan-
do, principalmente na infância, o alimento é administrado em substituição a
outros reforçadores como contato físico, atenção etc., são fatores relevantes
para a instalação e manutenção do comportamento alimentar do obeso.
Outros estudos, a exemplo de Kerbauy (1988) e Gonçalves e
Oliveira (2003) _ este último, realizado por meio da coleta de dados
clínicos de pacientes obesos com psicólogos comportamentais - têm
apontado que o comportamento alimentar do obeso seria instalado
e mantido também por reforçamento negativo. Em situações que o
indivíduo tem contato com um estímulo pré-aversivo ou aversivo e
não há a possibilidade da emissão de respostas de esquiva e/ou fuga,
ocorre um padrão conjunto de produção de estados corporais (even-
tos privados) e supressão de comportamentos operantes (evento
público) denominado ansiedade (TORRES, 2000; QUEIROZ e GUI-
LHARD, 2001), o indivíduo obeso ingeriria alimento para, pelo me-
nos momentaneamente, reduzir os estados corporais experimenta-
dos, reforçando negativamente o comportamento de ingerir alimen-
tos nestas situações.
É importante destacar que, coerentemente com a fundamenta-
ção epistemológica da Análise do Comportamento, a ansiedade em si
30
Universidade da Amazônia
não é tomada como causa do comportamento alimentar do obeso, mas
a situação que a gerou. Nestes termos, a ansiedade é tão produto das
contingências quanto o comportamento alimentar do obeso.
Outros estudos avaliaram contingências presentes no ambiente
social do obeso que podiam estar relacionadas ao padrão de ingestão de
alimento apresentado. Estes estudos apontaram a oferta de alimentos e
os padrões comportamentais presentes no ambiente familiar como vari-
áveis que afetam a instalação do quadro de Obesidade. Estes mesmos
estudos também relacionam estas variáveis com as dificuldades em se-
guir as prescrições de dieta alimentar, em realizar exercícios periodica-
mente e manter a perda de peso, obtida inclusive com o uso de medica-
mentos (ALBUQUERQUE e GOMES, 2002; ADES e KERBAUY, 2002). Estes
estudos foram progressivamente fornecendo dados para uma área de
investigação central da Psicologia da Saúde: a adesão ao tratamento (MA-
LERBI, 2000; FERREIRA, 2001, ZANNON e ARRUDA, 2002, por exemplo).
Outros estudos têm indicado que o indivíduo obeso é exposto a
um conjunto de contingências sociais aversivas, como rejeição de cole-
gas, por exemplo, que têm como reflexo dificuldades de estabelecimen-
to de relacionamentos amorosos (ROCHA, ABDELNOR, VANETTA e SILVA,
2002), retraimento social (KERBAUY, 1988), solidão, depressão e agressi-
vidade, em alguns casos (MULLER, 1999). O estudode Barbosa (2001) rati-
fica a relação entre Obesidade e baixa competência social, uma vez que
os dois adolescentes estudados apresentaram melhoras nas suas rela-
ções interpessoais à medida que foi se configurando a perda de peso. É
preciso, no entanto, salientar que programas que usam apenas estratégi-
as médicas, mesmo que evasivas, como a cirurgia bariátrica, apesar de
produzirem perda de peso, não habilitam o indivíduo a lidar com sua
nova situação (ADES e KERBAUY, 2002). Além disso, estes mesmos estu-
dos apontam que programas que associam estratégias médicas a estraté-
gias comportamentais são mais eficazes, uma vez que este tipo de inter-
venção amplia o repertório do indivíduo, em vários aspectos, inclusive no
aspecto social, permitindo que ele aprenda a lidar com as novas contin-
gências que se configurarão no seu ambiente daí para frente. Esta consta-
tação resultou em uma outra série de estudos que visou a construção de
programas de redução de peso que abarquem estes dois tipos de estraté-
gias, por exemplo (COSTA, J., 1983; HELLER e KERBAUY, 2000).
A caracterização do comportamento alimentar do obeso, como
comportamento que experimenta como consequência, por um lado, de
forma mais imediata, reforço positivo e negativo e, por outro, a médio
31
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
e longo prazo, consequências aversivas relacionadas a questões orgâni-
cas e sociais vivenciadas pelo obeso, faz com que esta área de pesquisa
esteja em franca ascensão no meio acadêmico e profissional dos Ana-
listas do Comportamento.
Ades e Kerbauy (2002) apresentam dados que sustentam a im-
portância da análise e intervenção em nível comportamental com o in-
divíduo obeso. As autoras no trecho abaixo descrevem o comportamen-
to de indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica:
Com o tempo, M. parou de se incomodar muito com isso,
acostumou-se a comer pouco. Porém, a escolha dos
alimentos continuou sendo influenciada por antigas
preferências: “às vezes prefiro comer um biscoito e não almoçar.
Tem que ser um biscoito...”... Não é incomum encontrar
pessoas que precisam de um seguimento ainda mais
cuidadoso após a cirurgia por ter uma dificuldade muito
grande em adaptar-se à nova alimentação que deve ser
introduzida aos poucos. Pacientes relatam muita ansiedade
e até desespero por não poderem comer mais como antes...
Pacientes que entram no programa de mudança
comportamental e que iniciam a dieta antes da cirurgia
parecem estar mais prontos a aceitar a alimentação no
período pós-operatório (líquidos, papas, etc.) e parecem
ter mais consciência de que uma reeducação alimentar é
necessária. O prognóstico é bastante melhor.
O trecho acima é claro ao destacar que a mudança na escolha dos
alimentos, fundamental para promover a perda de peso, não é obtida
simplesmente com uma intervenção orgânica, por mais abrasiva que esta
seja. O indivíduo tem uma história alimentar, seu comportamento ali-
mentar foi construído a partir de relações travadas com seu ambiente ao
longo de sua vida. A cirurgia modifica o corpo, mas não necessariamente
o comportamento, simplesmente porque este adquiriu uma função para
aquele indivíduo e a cirurgia não é capaz de alterar esta função.
Em resumo, a Análise do Comportamento não estuda a Obesi-
dade em si, por ela se tratar de uma patologia orgânica, mas sim a rela-
ção entre o indivíduo obeso e seu ambiente que instalou e mantém
este quadro, em especial a função que o comportamento alimentar
adquiriu a ponto de fazer com que o indivíduo continue a executá-lo em
excesso e de forma inadequada, a despeito dos enormes prejuízos sen-
tidos nos campos orgânico e social.
32
Universidade da Amazônia
Capítulo 2
______________________________________________________________
 Percurso Metodológico
PERCURSO
METODOLÓGICO
Capítulo 2
33
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
2.1 A PESQUISA “ESTADO DA ARTE”
“Estado da Arte” ou “Estado do conhecimento” é uma pesquisa
de caráter bibliográfico que inventaria e analisa a produção científica
de uma dada área do conhecimento acerca de uma temática, constitu-
indo-se, desta forma, em “... Uma exposição sobre o nível de conheci-
mento e o grau de desenvolvimento de um dado campo” (SPINK apud
RANGEL, 1998, p. 73).
Para Luna (1999, p. 82), o objetivo deste tipo de pesquisa é fun-
damentalmente responder a questões como:
[...] O que já se sabe, quais as principais lacunas, onde se
encontram os principais entraves teóricos e metodológi-
cos, contribuindo por um lado, para caracterizar o conheci-
mento produzido, por outro, para desencadear reflexões
que sirvam para reorientar a investigação científica acerca
da temática em análise; ratificando sua relevância episte-
mológica.
Neste sentido, Gamboa (1996, p.147) afirma que, ao se referir a
pesquisas “Estado da Arte” na área da Educação:
Estudos semelhantes [Estado da Arte] aos aqui registrados
poderão contribuir para a avaliação crítica dessa trajetória
e, conseqüentemente, para potencializar o “salto
qualitativo” a que a pesquisa em educação precisa. Não é
possível transformar uma realidade sem conhecê-la. Não é
possível esse conhecimento sem o rigor da pesquisa.
Tais estudos, além disso, adquirem relevância social, uma vez
que avaliar a produção científica tem reflexos sobre a qualidade do
conhecimento produzido, que em última instância, será fornecido a
sociedade em geral, para a prevenção e o enfrentamento de problemas
cotidianos. Isto, em muitas áreas, mas especialmente na área da Saúde,
confere a estes estudos uma importância estratégica.
A julgar pela presença crescente de pesquisas “Estado da Arte”
ou “Estado do Conhecimento” no meio acadêmico brasileiro (SILVA, R.
et al, 1991; GODOY, 1995; ORTEGA, FAVERO e GARCIA, 1998; ANDRÉ, 2000;
HADDAD, 2000: MOLINA, 2007), pode-se afirmar que este tipo de pes-
quisa vem se expandindo e se consolidando na comunidade científica.
34
Universidade da Amazônia
2.2 RELATANDO O CAMINHO
A investigação de nosso objeto: a produção científica da Análise
do Comportamento no Brasil sobre o tema Obesidade, requereu a ado-
ção dos seguintes procedimentos metodológicos:
1º movimento: Localização dos trabalhos científicos produzidos com as
características eleitas como objeto de estudo;
2º movimento: Leitura, identificação e caracterização dos elementos
constituintes de cada trabalho localizado e;
3º movimento: Análise dos Resultados.
2.2.1 A localização dos trabalhos
Nesta fase foi eleito um conjunto de palavras-chave que guiou a
consulta às bases bibliográficas eletrônicas e convencionais. A escolha
seguiu dois critérios: ser termo do arcabouço teórico da Análise do Com-
portamento que frequentemente aparece em textos de Análise do Com-
portamento e Saúde (a exemplo de autocontrole) (1° grupo de pala-
vras-chave) e; ser termo comumente utilizado em textos das áreas
médica e nutricional sobre Obesidade (2° grupo de palavras-chave). O
resultado desse processo de seleção pode ser visto no quadro abaixo:
 1° GRUPO 2° GRUPO
Análise do Comportamento Obesidade
Autocontrole Sobrepeso
Terapia por Contingência Obesidade Mórbida
Terapia Comportamental Redução de Peso
Psicologia Comportamental Excesso de Peso
Terapia Analítico-Comportamental Transtornos Alimentares7
Análise Comportamental Cirurgia Bariátrica
Gastroplastia
Descontrole Alimentar Épisódico
Comportamento alimentar
Quadro 1. Lista de palavras-chave selecionadas para a revisão de literatura
7 Embora, a Obesidade não possa ser classificada como um distúrbio alimentar, com uma certa
frequência, ela é mencionada em estudos sobre distúrbios de compulsão.
35
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
Para garantir um refinamento maior na busca optou-se também
por utilizar sempre duas palavras-chave, uma de cada grupo. Desta for-
ma, 70 cruzamentos de palavras-chave foram realizados e utilizados nas
bases bibliográficas selecionadas.
As bases eletrônicas selecionadas seguiram dois critérios de abran-
gência e especificidade. Neste sentido, um exemplo de escolha porabran-
gência é a Plataforma Lattes do CNPq, uma vez que disponibiliza currículos
de estudantes e pesquisadores brasileiros de todas as regiões do país. A
escolha do Index Psi, por outro lado, satisfaz o critério da especificidade, já
que disponibiliza resumos de trabalhos exclusivamente da área da Psicolo-
gia. Além dessas bases, foram consultadas o Scielo, a Biblioteca de Teses e
Dissertações da USP, o Periódico Capes e o acervo das bibliotecas onde
existem cursos de Psicologia no Brasil. Desta forma, a revisão da literatura
pertinente foi realizada prioritariamente em bases eletrônicas.
Após essa incursão, obtivemos diferentes tipos de materiais: o
resumo dos textos, apenas a referência bibliográfica completa do texto
completo (em forma de artigo, teses, dissertações, por exemplo). Em
todos os casos, foi realizada uma pré-seleção que primou por identifi-
car no material localizado o uso de termos da Análise do Comportamen-
to. Como já foi acentuado no capítulo anterior, a produção brasileira da
Psicologia Comportamental não se restringe à Análise do Comporta-
mento, uma vez que nos últimos anos cresce um movimento denomi-
nado Psicologia Comportamental e Cognitiva que, embora compartilhe
com a Análise do Comportamento alguns termos e técnicas, não cons-
trói sua análise baseada nos mesmos princípios. Neste sentido, foi pre-
ciso perceber a que linha de pensamento os materiais localizados esta-
vam circunscritos. Em alguns casos, além da leitura foi necessária a aná-
lise do currículo do pesquisador como um todo e o estabelecimento de
contato via e-mail com o mesmo.
Composta a lista de trabalhos iniciou-se o processo de captação
dos textos completos, que compreendeu a requisição dos mesmos via
COMUT ou BIREME, a solicitação de cópias aos autores, dentre outras
estratégias utilizadas. À medida que se foi acessando os mesmos iniciou-
se a fase seguinte.
2.2.2 Leitura, identificação e caracterização
Esta fase objetivou extrair de cada trabalho elementos que o re-
presentasse e permitissem o estabelecimento de relação com os outros
trabalhos, com vistas à composição de um quadro que fornecesse base à
36
Universidade da Amazônia
construção de uma espécie de mapa da produção científica brasileira da
Análise do Comportamento sobre o tema Obesidade. Neste sentido, di-
vidimos em dois grupos os elementos identificados em cada trabalho:
1º Grupo: Dados bibliográficos da obra = autor, instituição de origem,
ano, título, tipo de documento bibliográfico resultante (livro,
artigo, resumo em congresso etc.); veículo de publicação, lo-
cal/região;
2º Grupo: Dados característicos da pesquisa = problema de pesquisa,
objetivos, referencial teórico apresentado, metodologia (tipo
de pesquisa, local de investigação, fontes de dados, técnicas
de coleta e análise de dados); resultados e análise/discussão
teórica dos mesmos.
Para a tabulação dos dados foi elaborada uma Ficha de Análise (ver
Apêndice) que era preenchida a cada novo trabalho analisado, servindo, ao
final, como base para o estabelecimento de comparações entre os trabalhos.
2.2.3 Análise dos resultados
Nesta fase, as Fichas de Análise foram comparadas e geraram
dois tipos de análise:
1. Análise quantitativa dos dados: tomando como parâmetro os dados
bibliográficos de cada trabalho, traçou-se um perfil da produção,
levando em consideração a década em que foi realizada, a institui-
ção, a distribuição por região brasileira, o tipo de produção biblio-
gráfica resultante, o veículo de publicação e os autores envolvidos.
2. Análise qualitativa dos dados: tomando como base os dados carac-
terísticos da pesquisa, identificaram-se os delineamentos mais fre-
quentes, as questões conceituais mais exploradas, os resultados e
as conclusões de cada trabalho.
A composição desses perfis não intencionou apenas ser uma
espécie de diagnóstico (fotografia da produção), tarefa que por si só já
seria relevante, mas pretendeu dar elementos à proposição de um ho-
rizonte futuro de pesquisa, que pudessem atender as novas demandas
que o fenômeno da Obesidade vem trazendo à sociedade brasileira,
intenção premente em estudos do tipo “Estado da Arte”.
37
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
DADOS E ANÁLISE
QUANTITATIVA
Capítulo 3
38
Universidade da Amazônia
A presente pesquisa identificou entre os anos de 1972 e 2004
um conjunto de 78 trabalhos realizados por Analistas do Comportamen-
to brasileiros sobre o tema Obesidade, apresentado em forma de Catá-
logo de Trabalhos sobre Obesidade e Análise do Comportamento (1972-
2004) (ver Anexo).
A análise do Gráfico 1 revelou uma distribuição irregular desta
produção ao longo desses 33 anos, indicando que por vários anos (14 ao
todo) nenhum trabalho foi identificado (42,42 % da amostra de tempo
analisada).
Por outro lado, é patente a intensificação da produção a par-
tir do final da década de 90 e nos primeiros anos do Século XXI, a tal
ponto que os trabalhos apresentados nestes últimos quatro anos tota-
lizam 61,53% do conjunto de trabalhos realizados. O cruzamento desses
percentuais com a literatura sobre a incidência da Obesidade na popu-
lação permite inferir a existência de uma correlação positiva, entre a
incidência da Obesidade (sobretudo em países em desenvolvimento
como o Brasil) e o número de trabalhos realizados por Analistas do Com-
portamento sobre o tema.
Para visualizar-se mais adequadamente o processo de desen-
volvimento dessa produção científica, optou-se por dividir o tempo total
analisado em quatro períodos, a saber: 1) década de 70 (1971-1980); 2) dé-
Gráfico 1. Distribuição dos trabalhos localizados por ano.
39
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
cada de 80 (1981-1990); 3) década de 90 (1991-2000) e, por fim, 4) os primei-
ros anos do Século XXI (2001-2004). A partir dessa escala de tempo pode-se
verificar a distribuição da produção científica em cada período no Gráfico 2.
A análise do Gráfico 2 permite afirmar que a produção e divulga-
ção dos trabalhos tiveram um crescimento significativo na passagem da
década de 70 para a década de 80 (333,33%). Neste processo, observou-
se que o número de trabalho praticamente manteve-se estável no pe-
ríodo subsequente, experimentando um aumento significativo no últi-
mo período analisado (242,85%).
Gráfico 2. Distribuição dos trabalhos localizados pelos quatro
períodos de tempo analisados.
Gráfico 3. Distribuição dos trabalhos localizados por região
brasileira dentro dos quatro períodos de tempo analisados.
40
Universidade da Amazônia
A análise do Gráfico 3 demonstra a regularidade da produção
científica nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste. Embora, haja uma dife-
rença significativa no volume de trabalhos realizados nas duas regiões,
uma vez que, a primeira aparece como a região que mais produziu tra-
balhos sobre o assunto (28 trabalhos), e a segunda figura, como a tercei-
ra região em número de trabalhos produzidos (15 trabalhos).
Um outro aspecto perceptível no Gráfico 3 é a expressiva partici-
pação que a Região Sul passa a ter neste cenário a partir da década de
90, o que lhe rendeu inclusive o segundo lugar no número de trabalhos
produzidos (24 trabalhos), com uma diferença discreta em relação ao
primeiro lugar.
Outro aspecto patente é a entrada da Região Norte no circuito
de pesquisas sobre o tema nos primeiros anos do Século XXI, mas que já
se apresenta de forma promissora, superando, dentro desse período, o
número de produções da Região Centro-Oeste, uma Região, como foi
assinalado desde o início, com uma tradição de pesquisas sobre o tema,
sustentada pela produção científica da UnB.
Por fim, a ausência da produção de trabalhos na Região Nordeste
enseja a reflexão sobre as contingências que poderiam ter configurado e
mantido este índice. A construção de hipóteses que justifiquem este qua-
dro tomou basicamente dois caminhos: a análise do mapa de distribuição
de fomento à pesquisa no Brasil e; o levantamento da história da chegada
e disseminação da Análise do Comportamento em nosso país.
Diversos eventos em torno do tema “fomentoà pesquisa” têm
sistematicamente indicado a alta concentração de recursos nas Regiões
Sudeste e Sul, onde se localiza o maior número de universidades e
institutos de pesquisa, bem como o maior número de cursos de pós-
graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), algo em torno de 89%
do total de recursos para a pesquisa no Brasil (ver DINIZ e GUERRA,
2002). Regiões como a Norte perfaz apenas 1 % desse montante, além
do que, conta com um reduzido número de institutos de pesquisa e
pós-graduações stricto sensu, a maioria delas com tempo de instalação
bem recente. Esta forma de distribuição dos investimentos tem refle-
xos no desenho do mapa da produção científica brasileira, do qual as
investigações sobre a Obesidade, a partir da Análise do Comportamen-
to, faz parte.
No entanto, este argumento por si só não dá conta de explicar os
resultados obtidos pela Região Nordeste, já que a Região Norte, apesar
dos recursos escassos e do número reduzido de cursos de graduação e
41
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
pós-graduação, especialmente na área da Psicologia, passa a compor um
polo de produção sobre o tema nos primeiros anos do Século XXI.
Desta forma, foi preciso abstrair outras dimensões e características
da Região Nordeste para compreender seu desempenho. Neste sentido, a
análise da história da chegada e disseminação da Análise do Comporta-
mento (exposta brevemente no Capítulo 1) aparece como uma opção de
análise promissora. Como foi discutido naquele momento do texto, a con-
centração da formação dos Analistas do Comportamento no eixo Sul-Su-
deste, a discreta migração para as universidades das outras regiões, exceto
a Universidade Federal do Pará, se apresentam como fatores relevantes,
por um lado, para a compreensão da ausência de trabalhos no período
analisado na Região Nordeste e, por outro, da localização de uma linha de
investigação promissora na Região Norte, no Estado do Pará.
A análise do Gráfico 4 demonstra que a concentração da produ-
ção científica se deu em instituições de Ensino Superior com status de
Universidade. Observou-se que houve, sobretudo, a partir dos primei-
ros anos do Século XXI a presença dessa produção tanto em universida-
des públicas, quanto privadas (ver Gráfico 5). É possível perceber, tam-
bém no Gráfico 4, que houve uma distribuição equilibrada no número
de trabalhos entre instituições públicas e privadas nas Regiões Norte e
Centro-Oeste, não observada nas Regiões Sul e Sudeste, que têm mais
trabalhos produzidos em instituições privadas e em instituições públi-
cas, respectivamente.
Gráfico 4. Distribuição dos trabalhos localizados pelas instituições
geradoras em cada um dos quatro períodos de tempo analisados.
42
Universidade da Amazônia
Dentre as universidades brasileiras, a USP apresentou a produ-
ção mais constante sobre o tema, seguida da UnB e da UCG que apre-
sentaram produções em três dos quatro períodos de tempo analisados.
É possível perceber também que a Região Sul destaca-se como a região
na qual a produção sobre o tema envolve mais Instituições de Ensino
Superior (IES), existindo inclusive parceria entre algumas delas.
Gráfico 6. Distribuição dos trabalhos localizados por tipo de produção bibliográfica gerada nos quatro períodos
de tempo analisados.
Gráfico 5. Distribuição dos trabalhos localizados por tipo de instituição
geradora nas quatro Regiões Brasileiras em cada um dos quatro
períodos de tempo analisados.
Gráfico 6. Distribuição dos trabalhos localizados por tipo de produção
bibliográfica gerada nos quatro períodos de tempo analisados.
43
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
A análise do Gráfico 6 revela que a maior parte dos trabalhos
produzidos tomou a forma de resumos de congresso (41,02%), concen-
trados em três dos quatro períodos de tempo analisados. Sendo que a
maioria desses trabalhos apresentados como resumo não foi veiculada
de outra forma (por meio de artigos, por exemplo), comprometendo as-
sim a divulgação para um público maior de possíveis interessados e be-
neficiários do conhecimento produzido. A produção de trabalhos de con-
clusão de curso e artigos em periódicos científicos foi, respectivamente,
o segundo e o terceiro tipo de produção mais frequente. Além disso, é
necessário destacar dois outros dados: 1) a não localização de livros sobre
Obesidade que utilizem os conceitos e ferramentas de análise da Análise
do Comportamento, embora, se tenham localizados livros que ora ou
outra faziam uso de termos compatíveis com essa abordagem psicológica
(HELLER, 2004); 2) a localização de apenas uma tese de doutorado sobre o
tema Obesidade, a partir da visão da Análise do Comportamento, curio-
samente a primeira produção localizada no Brasil, datada de 1972, o que
significa mais de três décadas sem a realização de um estudo de maior
profundidade acadêmica sobre o tema, fato preocupante, uma vez que,
em geral, uma tese de doutorado é um passo importante para a instala-
ção ou/e fortalecimento de grupos de pesquisa.
A análise do Gráfico 7 releva que a maioria dos trabalhos produ-
zidos foi realizada por apenas um autor (55,12%). Na consulta ao Catálo-
go de Trabalhos (ver Anexo), percebe-se que isso se deve ao fato de
Gráfico 7. Distribuição dos trabalhos localizados
por número de autores.
44
Universidade da Amazônia
que as pesquisas que deram origem aos mesmos são comumente reali-
zadas individualmente (teses, dissertações, monografias de especiali-
zação, por exemplo). Além disso, é esperado que os autores dessas
pesquisas as levem ao conhecimento da comunidade científica (por meio
de congressos) durante mais de uma fase da execução e mesmo após a
sua conclusão, o que gerou mais de um trabalho apresentado referente
a mesma pesquisa.
Trabalhos que envolvem mais de um autor foram registrados
somente a partir da década de 90. No entanto, não foi possível identifi-
car grupos de pesquisa consolidados que investiguem a temática da
Obesidade sob a óptica da Análise do Comportamento. Por outro lado,
é possível perceber a presença significativa de pesquisadores, que jun-
tamente com seus orientandos, vêm priorizando estas investigações. A
consulta ao Quadro 2 consubstancia essa afirmação:
Quadro 2. Número de trabalhos realizados e/ou orientados por nove pesquisadores identificados, distribuídos nos
quatro períodos de tempo analisados.
A análise do Quadro 2 demonstra, inicialmente, que os nove
pesquisadores que realizaram e/ou orientaram trabalhos sobre Obesi-
dade e Análise do Comportamento são todos do sexo feminino, na sua
maioria com pós-graduação stricto sensu em nível de mestrado.
Quadro 2. Número de trabalhos realizados e/ou orientados por nove pesquisa-
dores identificados, distribuídos nos quatro períodos de tempo analisados.
45
OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
No que tange à distribuição temporal dessas pesquisas, verificou-
se que nas décadas de 70 e 80 houve a concentração dos estudos nas
mãos de duas pesquisadoras: Rachel Kerbauy (USP) e Jacira Cunha (UnB/
UCG), que na maioria das vezes publicaram seus trabalhos individual-
mente. A consulta ao Catálogo de Trabalhos permite identificar que a
maioria desses trabalhos foi publicada em apenas um periódico “Ciência
do Comportamento: teoria, pesquisa e prática” (1985), editado pela UCG,
escritos por Jacira Cunha, que para a elaboração desses artigos tomou
como base os estudos realizados por ocasião de sua dissertação de mes-
trado (UnB, 1980), orientada pelo Prof. Dr. João Cláudio Todorov. Este
periódico se constituiu na última publicação localizada da autora.
Da mesma forma, os trabalhos feitos por Rachel Kerbauy (USP)
são desdobramentos de sua tese de doutorado, a primeira e única no
Brasil sobre a temática da Obesidade sob a óptica da Análise do Com-
portamento. É preciso destacar que a autora é a única a se fazer presen-
te no quadro de trabalhos nas quatro décadas analisadas.
Até a década de 90, foi possível identificar uma pesquisadora en-
volvida com o tema: Cristina di Benedetto (UNIPAR). A pesquisadora inau-
gura sua produção

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