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1 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 2 Universidade da Amazônia LÚCIA CRISTINA CAVALCANTE OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO Belém UNAMA 2009 3 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO Catalogação na fonte www.unama.br RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA: OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO © 2009, UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA REITOR Édson Raymundo Pinheiro de Souza Franco VICE-REITOR Antonio de Carvalho Vaz Pereira PRÓ-REITOR DE ENSINO Mário Francisco Guzzo PRÓ-REITORA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO Núbia Maria de Vasconcelos Maciel SUPERINTENDENTE DE PESQUISA Ana Célia Bahia Silva SUPERITENDENTE DE EXTENSÃO – SUPEX Vera Lúcia Pena Carneiro Soares “Campus” Alcindo Cacela Av. Alcindo Cacela, 287 66060-902 - Belém-Pará Fone geral: (91) 4009-3000 Fax: (91) 3225-3909 “Campus” Senador Lemos Av. Senador Lemos, 2809 66120-901 - Belém-Pará Fone: (91) 4009-7100 Fax: (91) 4009-7153 “Campus” Quintino Trav. Quintino Bocaiúva, 1808 66035-190 - Belém-Pará Fone: (91) 4009-3300 Fax: (91) 4009-3349 “Campus” BR Rod. BR-316, km3 67113-901 - Ananindeua-Pa Fone: (91) 4009-9200 Fax: (91) 4009-9308 EXPEDIENTE EDIÇÃO: Editora UNAMA COORDENADOR: João Carlos Pereira SUPERVISÃO E FOTO DA CAPA: Helder Leite NORMALIZAÇÃO: Maria Miranda FORMATAÇÃO GRÁFICA: Elailson Santos IMPRESSÃO: C3766o Cavalcante, Lúcia Cristina Obesidade e análise do comportamento / Lúcia Cristina Cavalcante. — Belém: Unama, 2009. 176 p. ISBN 978-85-7691-074-9 1. Obesidade. 2. Análise do comportamento. 3 Psicologia do comportamento.I .Título CDD: 616.398 4 Universidade da Amazônia “´Pessoas com excesso de peso são mais diferentes que parecidas’. Nem todos os nossos sujeitos respondem ao procedimento da mesma maneira. As variáveis pessoais e sociais envolvidas são relevantes e muitas vezes desconhecidas e escapam ao controle do experimentador. Parece que temos em mãos uma tecnologia que nos permite fortalecer comportamentos incompatíveis com a resposta de comer excessivamente a ser eliminada, mas que há ainda um longo caminho a percorrer. Encontrar a resposta controladora proposta por Skinner é possível. O problema central é manter essa resposta” Rachel Rodrigues Kerbauy (1977, p. 129-130) 5 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO Às milhares de pessoas que vivem todos os dias em meio a contingências aversivas, pro- vindas do ambiente social, físico e fisiológi- co, derivadas do excesso de peso. Aos Analistas do Comportamento que cientes dessas situações aversivas esforçam-se coti- dianamente para construir conhecimentos e técnicas eficazes para instrumentalizar aque- las pessoas a terem uma vida melhor. À Profª Drª Rachel Rodrigues Kerbauy que ini- ciou esse empreendimento em terras brasilei- ras, pelos muitos frutos e pela determinação de levar o arsenal teórico e metodológico da Análise do Comportamento à área da Psicolo- gia da Saúde. A Arlindo Gomes da Silva (in memorium), pa- ternidade abundante que me acompanhará por toda a vida. Especialmente, à Maria Jacy Cavalcante, a mais hábil Analista do Comportamento que já conheci, um exemplo de resistência, sobre- vivência, competência e maternidade. 6 Universidade da Amazônia À Universidade da Amazônia e à Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazô- nia, pela acolhida, infraesturura e fomento dessa pesquisa, aspectos tão necessários à consolidação da pesquisa na Amazônia. À direção e a coordenação do curso de Psi- cologia do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, pelo crédito e incentivo à minha produ- ção científica. Às minhas bolsistas voluntárias Bruna Me- nezes Castro dos Santos e Rebeca Pereira Ca- bral pela presença continente e competente nas longas horas de estudo; jovens talentos de comportamento responsável e ético, tão neces- sário nos settings de produção do conhecimen- to científico. Às minhas meninas, Ana Luiza e Marina, que com características e formas distintas ins- piram sonhos e abastecem realizações. Amo- res definitivos! Aos meus mestres e modelos Olavo de Fa- ria Galvão, Marcelo Galvão Baptista e Lúcia Medeiros, que sempre foram extremamente hábeis em dispor contingências para o meu aprendizado de Análise do Comportamento, re- forçando positivamente minha formação como docente e pesquisadora. AGRADECIMENTOS Minha eterna gratidão e reconhecimento. Obrigada a cada um de vocês! Lúcia Cavalcante 7 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Distribuição dos trabalhos localizados por ano ............................ 38 Gráfico 2: Distribuição dos trabalhos localizados pelos quatro períodos de tempo analisados .......................................................................... 39 Gráfico 3: Distribuição dos trabalhos localizados por Região Brasileira nos quatro períodos de tempo analisados ....................................................... 39 Gráfico 4: Distribuição dos trabalhos localizados pelas instituições geradoras em cada um dos quatro períodos de tempo analisados ................ 41 Gráfico 5: Distribuição dos trabalhos localizados por tipo de instituição geradora nas quatro Regiões Brasileiras em cada um dos quatro períodos de tempo analisados ......................................................................................... 42 Gráfico 6: Distribuição dos trabalhos localizados por tipo de produção bibliográfica gerada nos quatro períodos de tempo analisados ................... 42 Gráfico 7: Distribuição dos trabalhos localizados por número de autores em cada um dos quatro períodos de tempo analisados .................................. 43 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Lista de palavras-chave selecionadas para a revisão de literatura ............................................................................................................ 34 Quadro 2: Número de trabalhos realizados e/ou orientados por nove pesquisadores identificados, distribuídos nos quatro períodos de tempo analisados ......................................................................................................... 44 Quadro 3: Proporção do número de trabalhos obtidos sobre o número de trabalhos localizados nos quatro períodos de tempo analisados ................. 47 Quadro 4: Dificuldades relatadas pelos sujeitos para o seguimento da 1ª etapa do programa desenvolvido por Heller (1990) ................................... 75 LISTA DE SIGLAS UNAMA = Universidade da Amazônia (Belém – PA) UFPA = Universidade Federal do Pará (Belém – PA) UFPR = Universidade Federal do Paraná (UFPR) UnB = Universidade de Brasília (Brasília – DF) UCG = Universidade Católica de Goiás (Goiânia – GO) 8 Universidade da Amazônia USP = Universidade de São Paulo (São Paulo – SP) PUCCAMP = Pontífice Universidade Católica de Campinas (Campinas – SP) UNICOR = Universidade Vale do Rio Verde (Três Corações – MG) UEL = Universidade Estadual de Londrina (Londrina – PR) UNIPAR = Universidade Paranaense (Curitiba – PR) CESUMAR = Centro de Ensino Superior de Maringá (Maringá – PR) PUCRG = Pontífice Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Porto Alegre – RS) 9 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .................................................................................................. 10 PREFÁCIO ............................................................................................................ 12 CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................... 15 1.1 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO: compreendendo a relação organismo-ambiente .......................................................................................... 16 1.2 UM POUCO DA HISTÓRIA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO NO BRASIL .. 24 1.3 O QUE VEM A SER OBESIDADE? .................................................................... 25 1.4 OBESIDADE SOB A PERSPECTIVA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO .......... 28 CAPÍTULO 2: PERCURSO METODOLÓGICO ......................................................... 32 2.1 A PESQUISA “ESTADO DA ARTE” ....................................................................33 2.2 RELATANDO O CAMINHO ............................................................................... 34 2.2.1 A localização dos trabalhos ........................................................................ 34 2.2.2 Leitura, identificação e caracterização ...................................................... 35 2.2.3 Análise dos resultados .............................................................................. 36 CAPÍTULO 3: DADOS E ANÁLISE QUANTITATIVA ................................................ 37 CAPÍTULO 4: DADOS E ANÁLISE QUALITATIVA ................................................... 46 4.1 A PESQUISA NA DÉCADA DE 70 ..................................................................... 48 4.2 A PESQUISA NA DÉCADA DE 80 ..................................................................... 61 4.3 A PESQUISA NA DÉCADA DE 90 ..................................................................... 84 4.4 A PESQUISA NOS ANOS DE 2001 A 2004 ...................................................... 96 À GUISA DA CONCLUSÃO ................................................................................. 129 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 134 ANEXOS E APÊNDICE ........................................................................................ 147 10 Universidade da Amazônia dentrar as teceduras de um grave problema de saúde pública como a Obesidade que, democraticamente, atinge em todos os continentes pessoas de todas as faixas etárias, sexos e classes sociais, não é tarefa simples, muito menos deve ser levada a efeito por uma só ciência. No entanto, tão importante quanto pesquisar, elaborar e aplicar estratégias interdisciplinares de enfrentamento ao problema, são os investimentos de cada ciência na construção crítica e reflexiva de uma espécie de autodiagnóstico acerca de sua produção científica sobre a questão. O que se produziu? Como foi feito? Por quem? Com que grupo de indivíduos? Sob que condições? São perguntas fundamentais para compreender não apenas o fenômeno, mas as características do conhe- cimento produzido sobre ele. Se é verdade que o conhecimento cientí- fico deve animar as iniciativas racionais de modificações da realidade, tão verdadeiro também é o fato de que este conhecimento é obtido de forma processual e deve ser permanentemente revisto. Nos últimos anos tem crescido o contingente de cientistas in- teressados em realizar “Estados da Arte”, revisões do conhecimento científico que não apenas historiam, mas, sobretudo, indicam cami- nhos para a consolidação de teorias explicativas sobre determinados temas de pesquisa. Ganha a ciência, pois toma consciência de si, ga- nham os profissionais que configuram responsavelmente suas inter- venções no conhecimento científico e, por fim, ganha a população afetada direta e indiretamente, na medida em que passa a contar com intervenções tecidas com um arsenal de conhecimentos permanen- temente refletidos. A Psicologia faz parte do rol das ciências que toma a Obesidade como objeto de estudo, é bem verdade que por suas características esta ciência não lança um único olhar sobre o mesmo, é possível identificar diferentes atitudes epistemológicas nas investigações, o que gera, na- turalmente, compreensões diversas sobre o fenômeno. Dentre estes olhares encontramos a Análise do Comportamen- to, um campo de estudos e pesquisas da Psicologia proposto por B. F. Skinner na década de 30 nos Estados Unidos, que se caracteriza pela investigação da relação organismo-ambiente sob uma perspectiva ex- APRESENTAÇÃO A 11 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO ternalista, julgando que o comportamento dos indivíduos não é deter- minado por motivações internas, mas pela sua história de relação com o ambiente físico e social. Os primeiros estudos realizados pela Análise do Comportamen- to sobre a Obesidade ocorreram na década de 60, após o estudo pionei- ro de Ferster, Nurnberger e Levitt (1962). Dez anos depois, a defesa da tese de doutorado de Rachel Kerbauy, no Instituto de Psicologia da Uni- versidade de São Paulo, deu início a estas investigações em território nacional. Há mais de três décadas, Analistas de Comportamento brasi- leiros vêm em maior ou menor intensidade investigando a Obesidade, construindo um acervo de conhecimentos significativos, eleito como objeto de estudo deste trabalho. Historiar, sintetizar e analisar esta produção foram nossas me- tas. A pesquisa de caráter bibliográfico, conhecida como “Estado da Arte” ou “Estado do Conhecimento”, o nosso caminho. Os resultados geraram um catálogo com as produções por ano, objeto de análise quantitativa. Parte destas produções foi obtida e tornou-se objeto de uma análise qualitativa. Ao final, foi possível esboçar uma espécie de raio x da pro- dução brasileira entre os anos de 1972 a 2004, apresentado no decorrer deste texto dividido em cinco capítulos. Embora seja desejável a leitura contínua do texto, é possível que os iniciados em Análise do Comporta- mento prescindam da leitura do Capítulo 1, uma vez que o conteúdo apenas faz uma apresentação didática da Obesidade e da Análise do Comportamento. Desta forma, é possível iniciar a leitura pelo Capítulo 2, sem prejuízo à compreensão do trabalho. Esperamos que este texto possa, muito mais que responder ques- tões, provocar perguntas que incitem a realização de novas pesquisas, abas- tecendo de razões os Analistas do Comportamento interessados em com- preender a complexa relação entre comportamento, saúde e doença. Lúcia Cristina Cavalcante 12 Universidade da Amazônia ecentemente, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Me- tabólica (SBCBM) divulgou resultados de uma pesquisa indicando que mais da metade (51%) da população brasileira está acima de seu peso ideal. Entre os jovens de 18 a 25 anos, a incidência correspon- de a 66%, sugerindo que, caso não sejam tomadas medidas preventi- vas, já nas próximas décadas, o Brasil precisará dispensar elevados re- cursos financeiros com o tratamento e as consequências sociais de do- enças associadas ao excesso de peso como diabetes e cardiopatias. Mais alarmante ainda, esta pesquisa revela que 3% da população brasileira pode ser incluída na classe de obesidade mórbida. Há décadas, a obesidade tem sido objeto de estudo de diver- sos campos do conhecimento científico. No caso das ciências do com- portamento, como a Psicologia e em particular a Análise do Compor- tamento (AC), o interesse tornou-se crescente a partir da constatação de que a obesidade apresenta etiologia multifatorial e suas consequ- ências afetam a qualidade de vida do indivíduo, de seu grupo familiar, ocupacional e social. A Análise do Comportamento não estuda a obesidade em si, mas as relações entre o indivíduo com obesidade e seu ambiente, iden- tificando a função que o comportamento alimentar adquiriu para este indivíduo a ponto de fazer com que o mesmo continue a executá-lo em excesso, a despeito das consequências adversas. Desse modo, a AC se destaca como um promissor modelo teórico e metodológico para o es- tudo da obesidade, o que vem a ser demonstrado neste trabalho reali- zado por Lúcia Cristina Cavalcante, professora e pesquisadora da Uni- versidade da Amazônia (UNAMA). Este livro apresenta uma organização do conhecimento produ- zido na área, isto é, o seu “estado da arte”. É o principal produto da pesquisa realizada pela autora com o objetivo de “historiar, sintetizar e analisar a produção científica sobre obesidade realizada por analistas do comportamento no Brasil – uma espécie de raio X da produção brasi- leira entre os anos de 1972 a 2004”. O livro está dividido em cinco capítulos. Nos dois primeiros, a autora apresenta a fundamentação teórica e o percurso metodológico de coleta e de análise do material bibliográfico localizado. No terceiro PREFÁCIO R 13 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO capítulo, é apresentada uma análise quantitativa dos 78 estudos seleci- onados, pormeio da qual se observa o crescente interesse de analistas do comportamento brasileiros, destacando-se o maior volume de pes- quisas realizadas nos primeiros anos do século XXI. Nesta análise, a autora considera o número e o tipo de estudo por ano, por década e por autor, e também as regiões geográficas brasileiras nas quais os traba- lhos foram realizados. No quarto capítulo, o mais extenso, a autora apresenta cuidado- sa análise qualitativa de 21 pesquisas realizadas em 33 anos de produ- ção, organizadas em quatro categorias (década de 70, década de 80, década de 90 e anos 2001 a 2004), por meio da qual são analisados as- pectos como: delineamento utilizado, participantes, principais resulta- dos obtidos e questões conceituais mais exploradas, sob uma perspec- tiva histórica. Muito interessante a forma que a autora elegeu para a apresentação dos estudos, iniciando com um resumo do trabalho, se- guido de uma análise do mesmo e ao final, fazendo uma síntese da produção do autor. A cada apresentação do grupo de estudos, a autora justifica os critérios utilizados para a seleção dos mesmos, orientando o leitor sobre o modo de fazer uma pesquisa bibliográfica. No quinto capítulo, a autora tece importantes conclusões sobre os resultados encontrados, fazendo, como boa pesquisadora, impor- tantes comentários e sugestões para estudos futuros. Desse modo, per- mite um salto qualitativo para os pesquisadores da área, ao organizar o conjunto de trabalhos já realizados por analistas do comportamento brasileiros apontando caminhos a serem seguidos. Para complementar, a autora anexa a lista de todos os trabalhos localizados, como um catálogo, oferecendo ao leitor uma preciosa fer- ramenta para estudo. Os resultados apontam a carência de estudos nas Regiões Norte e Nordeste, sugerindo a necessidade de incentivos à pesquisa nestas regiões. A autora também destaca o importante papel das instituições de ensino superior na realização de pesquisas. Cabe ainda algumas considerações sobre o percurso realizado pela profa. Lúcia como docente e pesquisadora. Formada em Bachare- lado em Psicologia pela Universidade Federal do Pará, concluiu o cur- so de mestrado no programa de pós-graduação em Psicologia: Teoria e Pesquisa do Comportamento, também pela UFPA, com dissertação realizada sob a orientação do Prof. Dr. Olavo Galvão. Em 1997 iniciou suas atividades como docente na Universidade da Amazônia. Atual- 14 Universidade da Amazônia mente, é Professora Adjunto VI nesta instituição de ensino superior, orienta trabalhos de iniciação científica e de conclusão de cursos de graduação e de pós-graduação, além de ministrar disciplinas em cur- sos da área de educação (Pedagogia) e de saúde (Psicologia, Fisiote- rapia e Fonoaudiologia). Iniciou sua vida acadêmica realizando estudos sobre aprendiza- gem e desempenho acadêmico, ampliando-os para estudos sobre con- trole aversivo e, mais recentemente, tem se dedicado a estudar o com- portamento alimentar de indivíduos com obesidade seguindo o mode- lo analítico-comportamental. Vários de seus trabalhos foram apresen- tados em eventos científicos locais e nacionais. Espera-se que, ao final da leitura deste livro, outro objetivo apon- tado pela autora seja alcançado: “mais que responder perguntas, [ ] provocar perguntas que incitem a realização de novas pesquisas, abas- tecendo de razões os analistas do comportamento interessados em com- preender a complexa relação entre comportamento, saúde e doença”. Profª. Drª. Eleonora Arnaud Pereira Ferreira Mestre e Doutora em Psicologia (UnB) Psicóloga e Professora Associada I da UFPA 15 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Capítulo 1 16 Universidade da Amazônia 1.1 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO: compreendendo a relação organis- mo-ambiente A Análise do Comportamento é um campo de estudos e pesqui- sas da Psicologia, proposto por B. F. Skinner, inicialmente em 1938 com a obra The Behavior of organisms: an experimental analysis (MATOS, 1990), que se caracteriza pela investigação do comportamento, funda- mentada epistemologicamente no Behaviorismo Radical (BAUM, 1999; COSTA, M., 1997; MICHELETTO e SÉRIO, 1993; TODOROV, 1981, 1982; ANDERY e SÉRIO, 2001; SÉRIO, 1999). O Behaviorismo Radical, enquanto uma epistemologia, se con- figurou a partir das reflexões que Skinner desenvolveu sobre a visão de homem, o objeto de estudo e o modelo de ciência adotados pela Psico- logia; refelxões estas nascidas de pesquisas realizadas pelo autor des- de 1931, quando iniciou seu doutoramento em Harvard, mas só explici- tadas pela primeira vez em 1945, no artigo The operacional analysis of psichological terms (MATOS, 1990; TOURINHO, 1987). Para o Behaviorismo Radical, o homem é um ser ativo, sujeito de sua própria história, construída e reconstruída nas relações com o ambiente (SKINNER, 1957/19781; SKINNER, 1990; MACHADO, 1994). Com relação a esta concepção de homem, Micheletto e Sério (1993, p. 14) afirmam que: O homem constrói o mundo a sua volta, agindo sobre ele e, ao fazê-lo, está também se construindo. Não se absolutiza nem o homem, nem o mundo; nenhum dos elementos da relação tem autonomia. Supera-se, com isto, a concepção de que os fenômenos tenham uma existência por si mesmos... A cada relação obtém-se, como produto, um ambiente e um homem diferentes. Para compreender o homem, portanto, é necessário investigar a relação homem-mundo. Dito de outra forma, é necessário compreender seu comportamento, definido não apenas como a ação do homem no mundo, mas a relação/interação deste homem, visto como um organis- mo vivo, com seu ambiente presente e passado (SKINNER, 1953/2000; TODOROV, 1981, 1982; MATOS, 1999a; SANT‘ANNA, 2001). Cabe assinalar 1 O primeiro ano se refere à data de publicação original em língua inglesa. O segundo ano se refere à data da obra lida em língua portuguesa. 17 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO o significado que o termo “ambiente” assume no Behaviorismo Radical: conjunto de condições ou circunstâncias que afetam o organismo e o fazem comportar-se (MATOS, 1999b). O ambiente, portanto, não se res- tringe apenas a eventos no meio físico, como alterações climáticas (ambi- ente físico) por exemplo, abarca também eventos sociais, ou seja, com- portamentos de outros indivíduos da mesma espécie que afetam o indi- víduo em análise. Eventos estes que, para Skinner (1953/2000), Todorov (1981) e Todorov (1982), constituem o ambiente social. Para fins de investigação, a Análise do Comportamento utiliza os conceitos estímulo e resposta para descrever o comportamento. Se- gundo Keller e Schoenfeld (1950/1973, p. 17), estímulo é “Uma parte, ou mudança em uma parte do ambiente”, já resposta é definida como “Uma parte, ou a mudança em uma parte, do comportamento”; não havendo sentido na utilização de um destes termos sem a referência ao outro. Micheletto e Sério (1993, p. 12) prosseguem afirmando ainda que o homem “... Não é uma natureza humana diferente dos demais fenômenos e nem contém em si duas naturezas distintas, o homem está submetido a leis universais e é passível de ser conhecido”. Desta forma, pode-se afirmar que o Behaviorismo Radical rejeita concepções dualistas de homem, rejeitando a ideia de um homem com- posto de uma natureza material (o corpo) e outra imaterial (a alma, o espírito, a mente). O homem é visto como um organismo vivo que possui apenas uma natureza: a física, que está submetida às mesmas leis que regem outros aspectos do universo (CHIESA, 1994). Esta interpretação leva o Behaviorismo Radical a ser considerado uma abordagem monista. Por conta disso, estímulos e respostas acessíveis de modo dire- to apenas ao próprio indivíduo, circunscritos no “mundo-dentro-da- pele”, como sensações e pensamentos, não têm nenhuma natureza especial diferenciada dos estímulos e respostas públicas, diferindo dos últimos apenas pela questão do acesso à observação. Estes estímulos e respostas são denominados de eventos privados (SKINNER, 1953/2000, 1974/1993; LAMPREIA, 1996; TOURINHO, 1999;SIMONASSI, TOURINHO e SILVA, 2001; TEIXEIRA, 2001; TOURINHO, TEIXEIRA e MACIEL, 2002). Os eventos privados são vistos pelo Behaviorismo Radical como frutos da história de interação do organismo com o ambiente externo físico e/ou social, assim como os eventos públicos. Por conta disso, não têm existência independente, contrariando a visão de outras aborda- gens psicológicas que pressupõem o livre arbítrio e/ou o determinismo interno do comportamento (LAMPREIA, 1996). Desta forma, os eventos 18 Universidade da Amazônia privados fazem parte da relação organismo-ambiente, mas não podem ser tomados, em última análise, como as causas do comportamento, que estariam no ambiente e que seriam as variáveis das quais o com- portamento é função (SKINNER, 1953/2000, 1974/1993, 1969/1984, 1989/ 1991; CHIESA, 1994). Esta interpretação sobre a determinação do com- portamento permite classificar o Behaviorismo Radical como uma abor- dagem externalista (TOURINHO, 1999). Outro aspecto que tem particular importância na compreensão do Behaviorismo Radical é a ênfase dada por Skinner em toda sua obra (1930-1990) às consequências das interações organismo-ambiente. O estabelecimento do conceito de comportamento operante em 1938 é um marco nesta direção dada à explicação do comportamento. Em estudos desenvolvidos em sua tese de doutorado, Skinner iden- tificou um tipo de comportamento: o operante, que não poderia ser expli- cado pelos estudos até ali realizados, baseado na noção de comportamen- to reflexo ou respondente, desenvolvida por I. P. Pavlov. Skinner verificou, em observações experimentais, que as res- postas do sujeito não poderiam ser explicadas pela presença de estí- mulos antecedentes eliciadores2, como vinha sendo feito nos estudos sobre comportamentos e reflexos. Os sujeitos ora respondiam na pre- sença de um estímulo antecedente, ora não respondiam. As respostas dos sujeitos tinham sua frequência alterada pelas modificações produ- zidas no ambiente (estímulos ambientais consequentes). Este novo tipo de comportamento caracterizava-se pela sensibilidade às consequên- cias (SKINNER, 1974/1993) e mantinha uma relação muito particular e bastante diferenciada com o estímulo ambiental antecedente: depen- dendo das consequências da resposta, a situação onde ela ocorria (estí- mulo ambiental antecedente) assumia um controle sobre a mesma. Este controle, denominado discriminativo, fazia com que aspectos des- ta situação funcionassem para o sujeito como “dicas”, indicativo da pro- babilidade de certos tipos de consequências serem apresentadas para aquela resposta. Skinner (1953/2000) passa a se referir ao comporta- mento operante como uma relação do tipo resposta-estímulo (R-S3), em contraste à relação do tipo estímulo-resposta (S-R) presente no com- portamento respondente. 2 Eliciar é o termo técnico usado para se referir à função de provocar uma resposta reflexa que estímulos possuem, quando apresentados a um organismo, a exemplo da comida na boca (estímulo eliciador) que gera salivação (respondente). A relação S-R é denominada reflexo ou comportamento respondente. 3 S do inglês stimulus e R do inglês response. 19 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO É importante destacar que o advento deste novo conceito não excluiu do campo da Análise do Comportamento as dimensões com- portamentais que podem ser explicadas a partir do conceito de com- portamento respondente, uma vez que os estímulos apresentados como consequência para um operante (R-S) eliciam, sem dúvida, responden- tes no organismo (S-R). A diferenciação entre eles, operante e respon- dente, se justifica pela especificidade da interação apresentada em cada um, especialmente no que tange à ação do sujeito e é muito útil para efeito de análise comportamental. A partir da proposição do conceito de comportamento operante, Skinner (1969/1984) passa a analisar a in- teração organismo-ambiente utilizando o conceito de contingência. Contingências são enunciados do tipo “se..., então....” que descrevem relações entre eventos (SOUZA, 1999). Um exemplo de contingência presente no comportamento respondente seria: “se a luz apagar (estí- mulo eliciador), então a pupila irá imediatamente se contrair (respon- dente)” ou esquematicamente apenas S-R. A Análise do Comportamento a partir do estabelecimento do conceito de operante passou a empregar a contingência tríplice: S-R-S, ou seja, estímulo ambiental antecedente-resposta-estímulo ambiental consequente, para identificar as variáveis das quais o comportamento é função. Este método de Análise do Comportamento é denominado análise funcional (TODOROV, 1981, 1982, 1985; COSTA e MARINHO, 2002). A importância atribuída às consequências no comportamento operante desencadeou uma série de estudos que culminaram com a identificação de dois tipos de operações que ocorrem na relação orga- nismo-ambiente, e interferem na frequência e probabilidade de ocor- rência de um comportamento: a punição e o reforçamento. A punição é uma operação que consiste na apresentação de um estímulo ambiental consequente que diminui a frequência e probabili- dade de ocorrência das respostas que o produzem. Estes estímulos são denominados estímulos aversivos (SKINNER, 1953/2000). Estudos mostraram que esta operação, infelizmente muito usa- da nas relações humanas, tem apenas eficácia parcial na diminuição da frequência do comportamento, uma vez que os indivíduos tendem a não emitir a resposta na presença do agente punitivo, mas na sua au- sência podem voltar a apresentar o comportamento, que em muitos casos se apresenta em uma frequência ainda maior que a original. Outros estudos, a exemplo de Sidman (1989/1995), que avalia- ram os subprodutos da punição apontam como correlatos da exposição 20 Universidade da Amazônia sistemática a situações punitivas: o desenvolvimento de alterações or- gânicas como taquicardia, tremores periféricos, aumento da sudorese, úlceras, medo, ansiedade, depressão, fobias, dentre outros. Tais efei- tos fizeram Skinner (1953/2000) propor alternativas à punição para ob- ter a redução da frequência de um comportamento, sendo a principal delas a extinção, que se caracteriza pela retirada do evento ambiental consequente à resposta com alta frequência. A segunda operação estudada pela Análise do Comportamento é o reforçamento. Reforçamento é definido como uma operação na qual um estímulo ambiental apresentado contingentemente a uma res- posta, aumenta a frequência e probabilidade de ocorrência futura da mesma (SKINNER, 1953/2000, 1969/1984; HALL, 1975). As pesquisas da Análise do Comportamento mostraram que exis- tem basicamente dois tipos de reforço: reforço positivo e reforço nega- tivo. A diferença básica entre eles está no fato de que, no reforço posi- tivo o que aumenta a frequência e probabilidade de ocorrência do com- portamento é a apresentação de um estímulo contingente à resposta, enquanto que, no reforço negativo, o que aumenta a frequência e pro- babilidade de ocorrência do comportamento é a retirada de um estímu- lo aversivo ou a evitação do contato com o referido estímulo. Os estudos sobre o reforço positivo realizados pela Análise do Comportamento indicaram como fatores críticos para o estabelecimen- to de uma contingência de reforço: 1) o tempo entre a resposta e a conseqüência e; 2) o esquema de administração da consequência, que pode ser feita de forma contínua, intermitente, dentre outras variações e combinações possíveis (MACHADO, 1980, 1986). Vários autores estudaram os efeitos do reforço negativo. Em geral, estes estudos são realizados em associação com estudos acerca da punição. Tais estudos classificaram os comportamentos reforçados negativamente como fuga e esquiva. Na fuga, a resposta é reforçada pela retirada do estí- mulo aversivo e na esquiva a resposta é reforçada por evitar ou adiar o contato do indivíduo com a estimulação aversiva (SIDMAN, 1989/1995). Embora, haja uma franca defesa nos textos de Skinner e Sidman dos benefícios de estabelecer comportamentos via reforçamento positivo,estu- dos recentes têm problematizado esta questão, uma vez que muitos com- portamentos instalados e mantidos por reforço positivo imediato têm con- sequências futuras altamente aversivas. Um exemplo disso, pode ser o com- portamento de comer em excesso, para o qual existe reforço imediato. Esta discussão leva com que se iniciem reflexões sobre as consequências do uso 21 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO indiscriminado do reforçamento positivo. Somado a isso, é possível pensar que a situação de punição também se apresenta como uma oportunidade de ampliação de repertório, uma vez que os indivíduos passam a apresentar comportamentos alternativos ao punido, estabelecendo outras formas de se relacionar com seu ambiente (PERONE, 2003). Longe de defender a utilização de punição, a análise de quadros como a Obesidade pode servir de incentivo à pesquisa sobre os malefícios da disponibilização de reforçamento positivo e consequente fortalecimento de comportamentos incompatíveis com a saú- de. Aprofundaremos esta questão mais à frente. A proposição do conceito de operante e a identificação da opera- ção de reforçamento fizeram com que Skinner (1989/1991) apresentasse a seguinte questão: “Por que o reforço reforça?”. Na ânsia por responder esta questão, Skinner foi buscar o mecanismo de seleção natural propos- to por Darwin para a evolução das espécies e elaborou o modelo de sele- ção pelas consequências, em 1981. Este modelo propõe que a seleção não atuaria somente na variabilidade anatômica e fisiológica exibida pelos indivíduos, mas também na variabilidade comportamental. O comporta- mento de um indivíduo seria resultado de contingências filogenéticas (atuando no nível das espécies), de contingências ontogenéticas (atuan- do no nível dos repertórios comportamentais individuais) e de contin- gências culturais (atuando no nível das práticas grupais) (SKINNER, 1969/ 1984; MACHADO, 1994; NELSON, 1998; ANDERY, 1999; MICHELETTO, 1999). Acerca da Seleção pelas consequências no nível filogenético, Matos (1990) afirma que: ... A modificação ocorre na reserva genética da espécie e é assim transmitida pelos indivíduos que, consequentemente, sobrevivem. Em nível comportamental, esses indivíduos tor- nam-se sensíveis a diferentes tipos e/ou níveis de estimula- ção, apresentam posturas típicas, sequências reflexas etc. Desta forma, é possível entender porque alguns estímulos con- sequentes ao comportamento têm o poder de aumentar a frequência e probabilidade de ocorrência do mesmo, tais como: água e alimento. Eles adquirem seu poder reforçador pelos efeitos que produzem no organismo. A estes estímulos denominamos reforçadores primários (SKINNER, 1953/2000, 1989/1991). No entanto, Skinner (1953/2000), evocando o segundo e terceiro nível de seleção: a ontogênese e a cultura, identifica outros estímulos consequentes que adquiriam o status de reforçadores pelo pareamen- 22 Universidade da Amazônia to4 ocorrido durante a história de vida do indivíduo com um ou mais reforçadores primários. Estes estímulos serão denominados reforçado- res condicionados e reforçadores generalizados, respectivamente. Ao analisar o comportamento é necessário considerar os três ní- veis de seleção. No entanto, pelas próprias características da ciência que preconiza a eleição de um nível de análise ou ainda um recorte para con- figurar o caminho de investigação de um aspecto da realidade, Skinner (1990) propõe que a Análise do Comportamento investigue o comporta- mento a partir das interações organismo-ambiente que se dão no nível ontogenético (na história pessoal de cada indivíduo), acreditando que neste nível se façam presentes os dois outros níveis de determinação do comportamento: o filogenético e o cultural. Por conta desta eleição para a compreensão do processo de determi- nação do comportamento, uma das críticas mais frequentemente feitas ao Behaviorismo Radical (e por extensão à Análise do Comportamento) é que o homem seria tomado como um autômato e que não existiria a possibilidade de um indivíduo comandar sua própria vida. A exposição feita acima, ainda que pontual e sumarizada, impossibilita a confirmação desta crítica. A elaboração do conceito de autocontrole por Skinner (1953/2000), como controle ambiental exercido pelo próprio indivíduo, a partir da aná- lise das contingências às quais seu comportamento é função (autoconhe- cimento), que lhe possibilita apresentar respostas (respostas controla- doras) para diminuir a frequência de alguns comportamentos e/ou au- mentar a frequência de outros (respostas controladas); descaracteriza a crítica de automação humana frequentemente feita ao Behaviorismo Radical, muito difundida no meio acadêmico (SKINNER, 1974/1993; FRAN- ÇA, 1997; CARRARA, 1998; RODRIGUES, 1999; WEBER, 2002). Em geral, o autocontrole é requerido em que existam contin- gências conflitantes. Na maioria das vezes, as consequências reforça- doras são apresentadas primeiramente que as consequências aversi- vas, mantendo a frequência e a probabilidade de ocorrência da respos- ta em níveis altos, gerando um controle competitivo (KERBAUY, 2000). Um exemplo de controle competitivo e dos prejuízos que este pode causar ao indivíduo pode ser observado no consumo de drogas (SILVA, GUERRA, GONÇALVES e GARCIA-MIJARES, 2001) e na Obesidade (KER- BAUY, 1972, 1977). 4 Pareamento ou emparelhamento de estímulos é o procedimento pelo qual um estímulo previamente neutro em relação a um respondente, adquire a função de eliciá-lo, após ter sido apresentado conjuntamente com o estímulo que originalmente eliciava o respondente em questão (SKINNER, 1953/2000). 23 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO Para Hanna e Todorov (2002, p. 338) os seguintes aspectos fa- zem parte da análise comportamental do autocontrole: 1. Trata-se de uma contingência ou uma combinação de contingências com duas conseqüências para uma mesma resposta – reforçamento e punição – esta resposta é cha- mada por ele de controlada (Rc); 2. Envolve uma história individual onde ocorre o estabele- cimento de propriedades aversivas para o comportamento controlado, idéia esta derivada da afirmação de que res- postas que reduzem a probabilidade deste comportamen- to podem ser fortalecidas; 3. Faz parte da contingência um segundo comportamento – chamado por ele de controlador (Rc1) – que muda algum aspecto que compõe as condições ambientais e altera a probabilidade da resposta controlada; 4. As mudanças na contingência do comportamento contro- lado produzidas pelo comportamento controlador podem: (a) reduzir/aumentar a intensidade de estímulos eliciado- res ou aversivos; (b) produzir/retirar estímulos discrimina- tivos; (c) modificar a motivação através da criação de ope- rações estabelecedoras (emoção, drogas); (d) tornar refor- çadores/punidores altamente prováveis ou improváveis; ou (e) desenvolver alternativas comportamentais que não impliquem punição. Os autores concluem que “Em qualquer desses casos, a mudan- ça produzida pelo comportamento controlador somente alterará a pro- babilidade desse comportamento, se a probabilidade do comportamen- to controlado for alterada” (HANNA e TODOROV, 2002, p. 338). Sendo assim, é importante planejar contingências reforçadoras imediatas para a resposta controladora, de forma a permitir seu fortalecimento. Em resumo, podemos perceber neste item, que a Análise do Comportamento considera o comportamento como uma relação entre organismo e ambiente, que é construída e mantida ao longo de uma história de vida. Embora cada indivíduo tenha traçado uma caminhada peculiar, os processos que permeiam esta relação são plenamente aces- síveis à análise científica, o que permite o estabelecimento de estraté- gias de modificação baseadas, sobretudo, na compreensão da função que o comportamento tem no ambiente e nos limites e possibilidades do repertório comportamental de cada indivíduo. 24 Universidade da Amazônia 1.2 UM POUCO DA HISTÓRIA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO NO BRASIL Apesar da Psicologia, como área de conhecimento, terse feito presente nos escritos brasileiros desde a época do Brasil Colônia (MAS- SIMI, 1987; MASSIMI, 1990; ANTUNES, 2001), a Análise do Comporta- mento chegou ao Brasil apenas em 1961, com as aulas do Prof. Fred Keller na USP (primeira graduação em Psicologia a surgir no Brasil). O processo de desenvolvimento inicial dessa área do conhecimento psi- cológico é mais bem descrito por Matos (1996; 1998). Durante um significativo período de tempo, as pesquisas esti- veram concentradas em princípios básicos do comportamento, investi- gados por meio de experimentos com animais infra-humanos. Outro campo que mereceu investimento inicial foi a área da Educação, com as investigações sobre programação de ensino. A partir de 1964, as contingências criadas a partir da instalação da ditadura militar, fizeram com que a Análise do Comportamento no Brasil fosse, por muitos anos, um sinônimo de Psicologia Experimental, área que sofria menor controle coercitivo do Estado. Desta forma, exce- tuando-se a área da Educação, a ampliação das pesquisas para áreas tradicionais como a área da Saúde se deu de forma mais lenta, o que veio a ocorrer no início da década de 80, em tese defendida na pós- graduação do Instituto de Psicologia da USP sobre o tema “Autocontrole do comportamento alimentar” (KERBAUY, 1972). Além da questão relativa aos campos de pesquisa explorados, Matos (1998) nos chama a atenção para a concentração da formação dos primeiros Analistas do Comportamento. Para a autora, esta concentra- ção se deu no eixo Sul-Sudeste, com exceção do Estado da Pará: Um sólido curso de pós-graduação, com uma forte ênfase em Análise do Comportamento, existia na Universidade de São Paulo desde 1970. Outros foram criados, na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, SP, em 1972, e na Universidade de Brasília, em 1974. Um excelente mestrado em Educação Especial passou a ser oferecido na Universidade Federal de São Carlos, SP, a partir de 1980, e um mestrado em Análise Comportamental passou a ser oferecido na Universidade Federal do Pará em 1987. Cursos de especialização em Análise do Comportamento passaram a ser oferecidos regularmente na Universidade Estadual de Londrina, PR, e na Universidade de Caxias do Sul, RS. 25 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO Há poucos dados sobre a migração dos Analistas do Comporta- mento para outras regiões do país, mas a análise dos programas de con- curso para as Universidades Federais revela que a seleção de tópicos circunscritos à Análise do Comportamento iniciou-se em meados da década de 90. É preciso lembrar, no entanto, que na Região Nordeste já há grupos de pesquisa consolidados e que a presença da Análise do Comportamento vem se tornando forte, em áreas como a Psicologia Clínica e Escolar. 1.3 O QUE VEM A SER OBESIDADE? A Obesidade é uma doença crônica de etiologia multifatorial, que se caracteriza pelo acúmulo anormal ou excessivo de gordura no organismo sob a forma de tecido adiposo (ADES e KERBAUY, 2002; AL- MEIDA, LOUREIRO e SANTOS, 2002; SEGAL e FANDIÑO, 2002). O Índice de Massa Corporal (IMC)5 tem sido o método de refe- rência para o diagnóstico da Obesidade, adotado como parâmetro por organismos internacionais, a exemplo da Organização Mundial da Saú- de (OMS), para estimar a prevalência deste distúrbio na população (DO- BROW, KAMENETZ e DEVLIN, 2002). Tal índice estabelece basicamente duas categorias para descrever a condição de um indivíduo que está acima do peso corporal considerado normal: o Sobrepeso e a Obesida- de. O sobrepeso é caracterizado quando o cálculo do IMC resulta em índice que varia de 25 a 29,9 Kg/m2. A Obesidade é caracterizada quan- do o cálculo do IMC atinge índices de 30 a 34,9 Kg/m2. A Obesidade mórbida é aferida quando o índice do IMC ultrapassa 35 Kg/m2, nesta condição o indivíduo já excede o peso normal em mais de 40% (DAMIA- NI, DAMIANI e OLIVEIRA, 2002). Outros autores alertam para as limitações do IMC, já que ele não permite visualizar, por exemplo, a distribuição do tecido adiposo excedente ao longo do corpo, fator comprovadamente relevante e cor- relacionado com algumas doenças associadas à Obesidade como o dia- betes. Conforme Cuppari (2002, p.136), a Obesidade pode ser classifica- da em relação a forma de armazenamento e distribuição da gordura pelo corpo em três grupos: 5 Peso corporal em quilogramas dividido pelo quadrado da altura em metros quadrados. 26 Universidade da Amazônia a) Obesidade andróide: também chamada troncular ou central, lembra o formato de uma maçã. Sua presença se relaciona com alto risco cardiovascular; b) Obesidade ginecóide: caracteriza-se por um depósito aumentado de gordura nos quadris, lembra o formato de uma pêra. Sua presença está relacionada com um risco maior de artroses e varizes; c) generalizada. A Obesidade e o Sobrepeso têm apresentado um aumento pro- gressivo e significativo na população mundial nos últimos 40 anos, atin- gindo indistintamente crianças, adolescentes, adultos e idosos, não só nos países chamados desenvolvidos, mas também alcançando altos ní- veis de prevalência em países com baixos índices de desenvolvimento, a exemplo do que se observa na América Latina (CARVALHO, 2000; DA- MIANI, DAMIANI e OLIVEIRA, 2002), passando, assim, a se configurar como uma epidemia. No Brasil, as pesquisas apontam o mesmo avanço na prevalência da Obesidade, sendo caracterizado por alguns autores como uma transição epidemiológica, uma vez que o país contava com um alto índice de subnutridos e um baixo índice de obesos no início da década de 70, hoje conta com 40% de sua população obesa e apenas 5,7% subnutrida (OLIVEIRA, 2000; NEVES, 2003). A Obesidade já é bem conhecida como fator de risco para patolo- gias graves como o diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão, ar- teriosclerose, alguns tipos de câncer, problemas respiratórios e distúrbi- os reprodutivos em mulheres, dentre outros (GIGANTE, BARROS, POST e OLINTO, 1997; ADES e KERBAUY, 2002; ALMEIDA, LOUREIRO e SANTOS, 2002; SEGAL e FANDIÑO, 2002; DAMIANI, DAMIANI e OLIVEIRA, 2002). No entanto, as alterações e as patologias orgânicas decorrentes da Obesidade, sobretudo a Obesidade mórbida, não expressam comple- tamente o que este quadro pode ocasionar na vida de um indivíduo. In- vestigações têm indicado a relação entre Obesidade e baixa competên- cia social6 (BARBOSA, 2001), expressa em quadros de esquiva e retrai- mento social (KERBAUY, 1987) e dificuldades no estabelecimento de rela- cionamentos amorosos (ROCHA, ABDELNOR e VANETTA, 2001; ROCHA, ABDELNOR, VANETTA e SILVA, 2002), além de quadros de ansiedade e depressão (GONÇALVES e OLIVEIRA, 2003; DOBROW, KAMENETZ e DEV- 6 Competência social pode ser definida pela expressão de sentimentos, atitudes, desejos, opiniões e/ ou direitos, adequada ao contexto situacional, respeitando-se igualmente a expressão destes mesmos comportamentos por outros indivíduos (BARBOSA, 2001; DEL PRETTE e DEL PRETTE, 1999). 27 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO LIN, 2002), gerando consequências significativas para a autoimagem e autoestima dos indivíduos (ALMEIDA, LOUREIRO e SANTOS, 2002), preju- dicando sua interação social e, consequentemente, sua qualidade de vida. Nos últimos anos, novos métodos têm sido construídos com vis- tas a realizar uma intervenção mais efetiva em quadros de excesso de peso. Em especial, nos casos de Obesidade mórbida, a cirurgia bariátri- ca tem sido indicada como um método eficaz para a redução de peso e sua manutenção em longo prazo (GARRIDO JÚNIOR, 2002; OLIVEIRA, LINARDI e AZEVEDO, 2004; BENEDETTI, 2003; FERRAZ et al, 2007). A cirurgia bariátrica pode ter caráter exclusivo ou restritivo e busca dificultar, com maior ou menor intensidade, a absorção de nutri- entes. Essa intervenção cirúrgica pode ser dividida em procedimentos que: 1) limitam a capacidade gástrica, ou seja, cirurgias restritivas; 2) interferem na digestão (cirurgias disabsortivas) e; 3) uma combinação de ambas as técnicas, isto é, cirurgias mistas (MARQUES e GRAIM, 2004; QUADROS, HECKE e ORTELLADO,2005). Um conjunto de critérios estabelecidos pela Federação Interna- cional para a Cirurgia da Obesidade e pela Sociedade Brasileira de Cirur- gia Bariátrica (SBCB) é adotado para a feitura da indicação do paciente para a realização da cirurgia bariátrica. Dentre eles estão: o paciente deve ser portador de Obesidade tipo III (Obesidade mórbida); não ter obtido sucesso em diversos tratamentos clínicos; apresentar comprometimento em sua saúde derivado da presença da Obesidade; ter risco cirúrgico acei- tável; ter capacidade de compreender as implicações que a feitura da cirurgia irá gerar em termos de mudanças em seu estilo de vida. As principais contraindicação da cirurgia são a existência de dis- túrbios psiquiátricos, dependência química, alcoolismo, atraso mental, transtornos alimentares como a bulimia nervosa e resistência à mudança de atitude alimentar e comportamental. Além disso, não é aceitável a realização de cirurgias bariátricas em crianças, adolescentes, grávidas e pessoas com idade avançada; possuidores de varizes esofágicas, doenças imunológicas ou inflamatórias do trato superior; sujeitos com doença cardiopulmonar severa e descompensadora; que tenham quadros alérgi- cos exuberante e nunca tenham frequentado programa de tratamento para perda de peso, considerando a cirurgia bariátrica como tratamento de primeira escolha (CARREIRO e ZILBERSTEIN, 2004). Em alguns casos, é aceitável a realização de cirurgia bariátrica em pacientes com IMC em torno de 32 e 35, desde que seja atestada a presença de comorbidades ou tenham indicações formais do clínico, 28 Universidade da Amazônia endocrinologista e psicólogo, uma vez que esses indivíduos encontram- se com sua saúde extremamente debilitada e necessitam de melhora urgente na sua qualidade de vida (CARREIRO e ZILBERSTEIN, 2004). Os pacientes submetidos a esta cirurgia passam por um longo período de adaptação à nova condição gástrica, seguindo durante alguns meses uma sequência de passos para a reintrodução de alimentos e de atividade física. Por conta de sua história alimentar anterior, a literatura sobre o assunto ressalta que há necessidade da equipe responsável pela alimentação do paciente atentar para possíveis situações, nas quais o paciente poderá se sentir tentado a comer mais do que pode ou a ingerir alimentos que não são tidos como saudáveis. Um exemplo de situação perigosa é o fato de que geralmente o sujeito obeso come mais e pior (quanto à qualidade), no final de semana do que durante os dias da se- mana, e com frequência, justifica esse comportamento relatando que é mais comedido durante a semana para poder comer o que e o quanto desejam no sábado e no domingo (GARRIDO JÚNIOR, 2002). 1.4 OBESIDADE SOB A PERSPECTIVA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO A Psicologia, como ciência e profissão, tem tomado a Obesida- de como foco de análise e intervenção. Entretanto, dadas as caracterís- ticas deste domínio do conhecimento, há na ciência psicológica dife- rentes formas de compreender a Obesidade que geram diferentes for- mas de abordá-la, dentre elas, a Análise do Comportamento. A Análise do Comportamento tem desenvolvido pesquisas so- bre o comportamento alimentar desde o estudo clássico de Ferster, Nurnberger e Levitt (1962). Estes estudos se caracterizam pela descri- ção e análise do comportamento alimentar, em termos da relação orga- nismo-ambiente construída ao longo da história dos indivíduos, visan- do a identificar que condições ambientais (variáveis) instalaram e man- têm o padrão de comportamento observado e, desta forma, identifi- cam a função do mesmo. Além da avaliação de métodos de intervenção para o estabelecimento de mudanças comportamentais e autocontrole do comportamento dos indivíduos obesos. Estes estudos, que inicialmente se desenvolviam dentro do ambiente controlado do laboratório (FERSTER, NUNRBERGER e LEVITT, 1962; GOLDIAMOND, 1965), foram progressivamente estendidos para outros settings como hospitais e consultórios psicológicos (BARBOSA, 2001, por exemplo). 29 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO No Brasil, o primeiro estudo realizado a partir do referencial teórico e metodológico da Análise do Comportamento acerca do com- portamento alimentar de obesos é de autoria de Kerbauy (1972), tese de doutorado em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da USP. Desde este estudo, vários pesquisadores têm investigado este tema sob o mesmo referencial, buscando construir conhecimentos científicos que, em última análise, orientem ações profiláticas e/ou terapêuticas. Sem dúvida, nestes mais de 30 anos de pesquisas brasileiras sobre o tema se construiu um arcabouço de conhecimentos considerável. Estes estudos levantaram questões acerca da função que o com- portamento alimentar tem para o obeso, em outras palavras colocaram a necessidade de identificar o porquê de o indivíduo obeso apresentar um padrão de ingesta de alimento superior ao gasto de seu organismo (KERBAUY, 1988). Responder a esta pergunta, coerentemente com o re- ferencial teórico assumido, passa necessariamente pela descrição e análise das contingências a que o indivíduo está exposto, ou seja, por uma análise funcional de seu comportamento. Estudos, como o de Silva, V. (2001), apontam que a carência de fontes de reforçamento positivo alternativas ao alimento no ambiente do indivíduo obeso, associada à história de exposição às contingências familiares, quan- do, principalmente na infância, o alimento é administrado em substituição a outros reforçadores como contato físico, atenção etc., são fatores relevantes para a instalação e manutenção do comportamento alimentar do obeso. Outros estudos, a exemplo de Kerbauy (1988) e Gonçalves e Oliveira (2003) _ este último, realizado por meio da coleta de dados clínicos de pacientes obesos com psicólogos comportamentais - têm apontado que o comportamento alimentar do obeso seria instalado e mantido também por reforçamento negativo. Em situações que o indivíduo tem contato com um estímulo pré-aversivo ou aversivo e não há a possibilidade da emissão de respostas de esquiva e/ou fuga, ocorre um padrão conjunto de produção de estados corporais (even- tos privados) e supressão de comportamentos operantes (evento público) denominado ansiedade (TORRES, 2000; QUEIROZ e GUI- LHARD, 2001), o indivíduo obeso ingeriria alimento para, pelo me- nos momentaneamente, reduzir os estados corporais experimenta- dos, reforçando negativamente o comportamento de ingerir alimen- tos nestas situações. É importante destacar que, coerentemente com a fundamenta- ção epistemológica da Análise do Comportamento, a ansiedade em si 30 Universidade da Amazônia não é tomada como causa do comportamento alimentar do obeso, mas a situação que a gerou. Nestes termos, a ansiedade é tão produto das contingências quanto o comportamento alimentar do obeso. Outros estudos avaliaram contingências presentes no ambiente social do obeso que podiam estar relacionadas ao padrão de ingestão de alimento apresentado. Estes estudos apontaram a oferta de alimentos e os padrões comportamentais presentes no ambiente familiar como vari- áveis que afetam a instalação do quadro de Obesidade. Estes mesmos estudos também relacionam estas variáveis com as dificuldades em se- guir as prescrições de dieta alimentar, em realizar exercícios periodica- mente e manter a perda de peso, obtida inclusive com o uso de medica- mentos (ALBUQUERQUE e GOMES, 2002; ADES e KERBAUY, 2002). Estes estudos foram progressivamente fornecendo dados para uma área de investigação central da Psicologia da Saúde: a adesão ao tratamento (MA- LERBI, 2000; FERREIRA, 2001, ZANNON e ARRUDA, 2002, por exemplo). Outros estudos têm indicado que o indivíduo obeso é exposto a um conjunto de contingências sociais aversivas, como rejeição de cole- gas, por exemplo, que têm como reflexo dificuldades de estabelecimen- to de relacionamentos amorosos (ROCHA, ABDELNOR, VANETTA e SILVA, 2002), retraimento social (KERBAUY, 1988), solidão, depressão e agressi- vidade, em alguns casos (MULLER, 1999). O estudode Barbosa (2001) rati- fica a relação entre Obesidade e baixa competência social, uma vez que os dois adolescentes estudados apresentaram melhoras nas suas rela- ções interpessoais à medida que foi se configurando a perda de peso. É preciso, no entanto, salientar que programas que usam apenas estratégi- as médicas, mesmo que evasivas, como a cirurgia bariátrica, apesar de produzirem perda de peso, não habilitam o indivíduo a lidar com sua nova situação (ADES e KERBAUY, 2002). Além disso, estes mesmos estu- dos apontam que programas que associam estratégias médicas a estraté- gias comportamentais são mais eficazes, uma vez que este tipo de inter- venção amplia o repertório do indivíduo, em vários aspectos, inclusive no aspecto social, permitindo que ele aprenda a lidar com as novas contin- gências que se configurarão no seu ambiente daí para frente. Esta consta- tação resultou em uma outra série de estudos que visou a construção de programas de redução de peso que abarquem estes dois tipos de estraté- gias, por exemplo (COSTA, J., 1983; HELLER e KERBAUY, 2000). A caracterização do comportamento alimentar do obeso, como comportamento que experimenta como consequência, por um lado, de forma mais imediata, reforço positivo e negativo e, por outro, a médio 31 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO e longo prazo, consequências aversivas relacionadas a questões orgâni- cas e sociais vivenciadas pelo obeso, faz com que esta área de pesquisa esteja em franca ascensão no meio acadêmico e profissional dos Ana- listas do Comportamento. Ades e Kerbauy (2002) apresentam dados que sustentam a im- portância da análise e intervenção em nível comportamental com o in- divíduo obeso. As autoras no trecho abaixo descrevem o comportamen- to de indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica: Com o tempo, M. parou de se incomodar muito com isso, acostumou-se a comer pouco. Porém, a escolha dos alimentos continuou sendo influenciada por antigas preferências: “às vezes prefiro comer um biscoito e não almoçar. Tem que ser um biscoito...”... Não é incomum encontrar pessoas que precisam de um seguimento ainda mais cuidadoso após a cirurgia por ter uma dificuldade muito grande em adaptar-se à nova alimentação que deve ser introduzida aos poucos. Pacientes relatam muita ansiedade e até desespero por não poderem comer mais como antes... Pacientes que entram no programa de mudança comportamental e que iniciam a dieta antes da cirurgia parecem estar mais prontos a aceitar a alimentação no período pós-operatório (líquidos, papas, etc.) e parecem ter mais consciência de que uma reeducação alimentar é necessária. O prognóstico é bastante melhor. O trecho acima é claro ao destacar que a mudança na escolha dos alimentos, fundamental para promover a perda de peso, não é obtida simplesmente com uma intervenção orgânica, por mais abrasiva que esta seja. O indivíduo tem uma história alimentar, seu comportamento ali- mentar foi construído a partir de relações travadas com seu ambiente ao longo de sua vida. A cirurgia modifica o corpo, mas não necessariamente o comportamento, simplesmente porque este adquiriu uma função para aquele indivíduo e a cirurgia não é capaz de alterar esta função. Em resumo, a Análise do Comportamento não estuda a Obesi- dade em si, por ela se tratar de uma patologia orgânica, mas sim a rela- ção entre o indivíduo obeso e seu ambiente que instalou e mantém este quadro, em especial a função que o comportamento alimentar adquiriu a ponto de fazer com que o indivíduo continue a executá-lo em excesso e de forma inadequada, a despeito dos enormes prejuízos sen- tidos nos campos orgânico e social. 32 Universidade da Amazônia Capítulo 2 ______________________________________________________________ Percurso Metodológico PERCURSO METODOLÓGICO Capítulo 2 33 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 2.1 A PESQUISA “ESTADO DA ARTE” “Estado da Arte” ou “Estado do conhecimento” é uma pesquisa de caráter bibliográfico que inventaria e analisa a produção científica de uma dada área do conhecimento acerca de uma temática, constitu- indo-se, desta forma, em “... Uma exposição sobre o nível de conheci- mento e o grau de desenvolvimento de um dado campo” (SPINK apud RANGEL, 1998, p. 73). Para Luna (1999, p. 82), o objetivo deste tipo de pesquisa é fun- damentalmente responder a questões como: [...] O que já se sabe, quais as principais lacunas, onde se encontram os principais entraves teóricos e metodológi- cos, contribuindo por um lado, para caracterizar o conheci- mento produzido, por outro, para desencadear reflexões que sirvam para reorientar a investigação científica acerca da temática em análise; ratificando sua relevância episte- mológica. Neste sentido, Gamboa (1996, p.147) afirma que, ao se referir a pesquisas “Estado da Arte” na área da Educação: Estudos semelhantes [Estado da Arte] aos aqui registrados poderão contribuir para a avaliação crítica dessa trajetória e, conseqüentemente, para potencializar o “salto qualitativo” a que a pesquisa em educação precisa. Não é possível transformar uma realidade sem conhecê-la. Não é possível esse conhecimento sem o rigor da pesquisa. Tais estudos, além disso, adquirem relevância social, uma vez que avaliar a produção científica tem reflexos sobre a qualidade do conhecimento produzido, que em última instância, será fornecido a sociedade em geral, para a prevenção e o enfrentamento de problemas cotidianos. Isto, em muitas áreas, mas especialmente na área da Saúde, confere a estes estudos uma importância estratégica. A julgar pela presença crescente de pesquisas “Estado da Arte” ou “Estado do Conhecimento” no meio acadêmico brasileiro (SILVA, R. et al, 1991; GODOY, 1995; ORTEGA, FAVERO e GARCIA, 1998; ANDRÉ, 2000; HADDAD, 2000: MOLINA, 2007), pode-se afirmar que este tipo de pes- quisa vem se expandindo e se consolidando na comunidade científica. 34 Universidade da Amazônia 2.2 RELATANDO O CAMINHO A investigação de nosso objeto: a produção científica da Análise do Comportamento no Brasil sobre o tema Obesidade, requereu a ado- ção dos seguintes procedimentos metodológicos: 1º movimento: Localização dos trabalhos científicos produzidos com as características eleitas como objeto de estudo; 2º movimento: Leitura, identificação e caracterização dos elementos constituintes de cada trabalho localizado e; 3º movimento: Análise dos Resultados. 2.2.1 A localização dos trabalhos Nesta fase foi eleito um conjunto de palavras-chave que guiou a consulta às bases bibliográficas eletrônicas e convencionais. A escolha seguiu dois critérios: ser termo do arcabouço teórico da Análise do Com- portamento que frequentemente aparece em textos de Análise do Com- portamento e Saúde (a exemplo de autocontrole) (1° grupo de pala- vras-chave) e; ser termo comumente utilizado em textos das áreas médica e nutricional sobre Obesidade (2° grupo de palavras-chave). O resultado desse processo de seleção pode ser visto no quadro abaixo: 1° GRUPO 2° GRUPO Análise do Comportamento Obesidade Autocontrole Sobrepeso Terapia por Contingência Obesidade Mórbida Terapia Comportamental Redução de Peso Psicologia Comportamental Excesso de Peso Terapia Analítico-Comportamental Transtornos Alimentares7 Análise Comportamental Cirurgia Bariátrica Gastroplastia Descontrole Alimentar Épisódico Comportamento alimentar Quadro 1. Lista de palavras-chave selecionadas para a revisão de literatura 7 Embora, a Obesidade não possa ser classificada como um distúrbio alimentar, com uma certa frequência, ela é mencionada em estudos sobre distúrbios de compulsão. 35 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO Para garantir um refinamento maior na busca optou-se também por utilizar sempre duas palavras-chave, uma de cada grupo. Desta for- ma, 70 cruzamentos de palavras-chave foram realizados e utilizados nas bases bibliográficas selecionadas. As bases eletrônicas selecionadas seguiram dois critérios de abran- gência e especificidade. Neste sentido, um exemplo de escolha porabran- gência é a Plataforma Lattes do CNPq, uma vez que disponibiliza currículos de estudantes e pesquisadores brasileiros de todas as regiões do país. A escolha do Index Psi, por outro lado, satisfaz o critério da especificidade, já que disponibiliza resumos de trabalhos exclusivamente da área da Psicolo- gia. Além dessas bases, foram consultadas o Scielo, a Biblioteca de Teses e Dissertações da USP, o Periódico Capes e o acervo das bibliotecas onde existem cursos de Psicologia no Brasil. Desta forma, a revisão da literatura pertinente foi realizada prioritariamente em bases eletrônicas. Após essa incursão, obtivemos diferentes tipos de materiais: o resumo dos textos, apenas a referência bibliográfica completa do texto completo (em forma de artigo, teses, dissertações, por exemplo). Em todos os casos, foi realizada uma pré-seleção que primou por identifi- car no material localizado o uso de termos da Análise do Comportamen- to. Como já foi acentuado no capítulo anterior, a produção brasileira da Psicologia Comportamental não se restringe à Análise do Comporta- mento, uma vez que nos últimos anos cresce um movimento denomi- nado Psicologia Comportamental e Cognitiva que, embora compartilhe com a Análise do Comportamento alguns termos e técnicas, não cons- trói sua análise baseada nos mesmos princípios. Neste sentido, foi pre- ciso perceber a que linha de pensamento os materiais localizados esta- vam circunscritos. Em alguns casos, além da leitura foi necessária a aná- lise do currículo do pesquisador como um todo e o estabelecimento de contato via e-mail com o mesmo. Composta a lista de trabalhos iniciou-se o processo de captação dos textos completos, que compreendeu a requisição dos mesmos via COMUT ou BIREME, a solicitação de cópias aos autores, dentre outras estratégias utilizadas. À medida que se foi acessando os mesmos iniciou- se a fase seguinte. 2.2.2 Leitura, identificação e caracterização Esta fase objetivou extrair de cada trabalho elementos que o re- presentasse e permitissem o estabelecimento de relação com os outros trabalhos, com vistas à composição de um quadro que fornecesse base à 36 Universidade da Amazônia construção de uma espécie de mapa da produção científica brasileira da Análise do Comportamento sobre o tema Obesidade. Neste sentido, di- vidimos em dois grupos os elementos identificados em cada trabalho: 1º Grupo: Dados bibliográficos da obra = autor, instituição de origem, ano, título, tipo de documento bibliográfico resultante (livro, artigo, resumo em congresso etc.); veículo de publicação, lo- cal/região; 2º Grupo: Dados característicos da pesquisa = problema de pesquisa, objetivos, referencial teórico apresentado, metodologia (tipo de pesquisa, local de investigação, fontes de dados, técnicas de coleta e análise de dados); resultados e análise/discussão teórica dos mesmos. Para a tabulação dos dados foi elaborada uma Ficha de Análise (ver Apêndice) que era preenchida a cada novo trabalho analisado, servindo, ao final, como base para o estabelecimento de comparações entre os trabalhos. 2.2.3 Análise dos resultados Nesta fase, as Fichas de Análise foram comparadas e geraram dois tipos de análise: 1. Análise quantitativa dos dados: tomando como parâmetro os dados bibliográficos de cada trabalho, traçou-se um perfil da produção, levando em consideração a década em que foi realizada, a institui- ção, a distribuição por região brasileira, o tipo de produção biblio- gráfica resultante, o veículo de publicação e os autores envolvidos. 2. Análise qualitativa dos dados: tomando como base os dados carac- terísticos da pesquisa, identificaram-se os delineamentos mais fre- quentes, as questões conceituais mais exploradas, os resultados e as conclusões de cada trabalho. A composição desses perfis não intencionou apenas ser uma espécie de diagnóstico (fotografia da produção), tarefa que por si só já seria relevante, mas pretendeu dar elementos à proposição de um ho- rizonte futuro de pesquisa, que pudessem atender as novas demandas que o fenômeno da Obesidade vem trazendo à sociedade brasileira, intenção premente em estudos do tipo “Estado da Arte”. 37 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DADOS E ANÁLISE QUANTITATIVA Capítulo 3 38 Universidade da Amazônia A presente pesquisa identificou entre os anos de 1972 e 2004 um conjunto de 78 trabalhos realizados por Analistas do Comportamen- to brasileiros sobre o tema Obesidade, apresentado em forma de Catá- logo de Trabalhos sobre Obesidade e Análise do Comportamento (1972- 2004) (ver Anexo). A análise do Gráfico 1 revelou uma distribuição irregular desta produção ao longo desses 33 anos, indicando que por vários anos (14 ao todo) nenhum trabalho foi identificado (42,42 % da amostra de tempo analisada). Por outro lado, é patente a intensificação da produção a par- tir do final da década de 90 e nos primeiros anos do Século XXI, a tal ponto que os trabalhos apresentados nestes últimos quatro anos tota- lizam 61,53% do conjunto de trabalhos realizados. O cruzamento desses percentuais com a literatura sobre a incidência da Obesidade na popu- lação permite inferir a existência de uma correlação positiva, entre a incidência da Obesidade (sobretudo em países em desenvolvimento como o Brasil) e o número de trabalhos realizados por Analistas do Com- portamento sobre o tema. Para visualizar-se mais adequadamente o processo de desen- volvimento dessa produção científica, optou-se por dividir o tempo total analisado em quatro períodos, a saber: 1) década de 70 (1971-1980); 2) dé- Gráfico 1. Distribuição dos trabalhos localizados por ano. 39 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO cada de 80 (1981-1990); 3) década de 90 (1991-2000) e, por fim, 4) os primei- ros anos do Século XXI (2001-2004). A partir dessa escala de tempo pode-se verificar a distribuição da produção científica em cada período no Gráfico 2. A análise do Gráfico 2 permite afirmar que a produção e divulga- ção dos trabalhos tiveram um crescimento significativo na passagem da década de 70 para a década de 80 (333,33%). Neste processo, observou- se que o número de trabalho praticamente manteve-se estável no pe- ríodo subsequente, experimentando um aumento significativo no últi- mo período analisado (242,85%). Gráfico 2. Distribuição dos trabalhos localizados pelos quatro períodos de tempo analisados. Gráfico 3. Distribuição dos trabalhos localizados por região brasileira dentro dos quatro períodos de tempo analisados. 40 Universidade da Amazônia A análise do Gráfico 3 demonstra a regularidade da produção científica nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste. Embora, haja uma dife- rença significativa no volume de trabalhos realizados nas duas regiões, uma vez que, a primeira aparece como a região que mais produziu tra- balhos sobre o assunto (28 trabalhos), e a segunda figura, como a tercei- ra região em número de trabalhos produzidos (15 trabalhos). Um outro aspecto perceptível no Gráfico 3 é a expressiva partici- pação que a Região Sul passa a ter neste cenário a partir da década de 90, o que lhe rendeu inclusive o segundo lugar no número de trabalhos produzidos (24 trabalhos), com uma diferença discreta em relação ao primeiro lugar. Outro aspecto patente é a entrada da Região Norte no circuito de pesquisas sobre o tema nos primeiros anos do Século XXI, mas que já se apresenta de forma promissora, superando, dentro desse período, o número de produções da Região Centro-Oeste, uma Região, como foi assinalado desde o início, com uma tradição de pesquisas sobre o tema, sustentada pela produção científica da UnB. Por fim, a ausência da produção de trabalhos na Região Nordeste enseja a reflexão sobre as contingências que poderiam ter configurado e mantido este índice. A construção de hipóteses que justifiquem este qua- dro tomou basicamente dois caminhos: a análise do mapa de distribuição de fomento à pesquisa no Brasil e; o levantamento da história da chegada e disseminação da Análise do Comportamento em nosso país. Diversos eventos em torno do tema “fomentoà pesquisa” têm sistematicamente indicado a alta concentração de recursos nas Regiões Sudeste e Sul, onde se localiza o maior número de universidades e institutos de pesquisa, bem como o maior número de cursos de pós- graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), algo em torno de 89% do total de recursos para a pesquisa no Brasil (ver DINIZ e GUERRA, 2002). Regiões como a Norte perfaz apenas 1 % desse montante, além do que, conta com um reduzido número de institutos de pesquisa e pós-graduações stricto sensu, a maioria delas com tempo de instalação bem recente. Esta forma de distribuição dos investimentos tem refle- xos no desenho do mapa da produção científica brasileira, do qual as investigações sobre a Obesidade, a partir da Análise do Comportamen- to, faz parte. No entanto, este argumento por si só não dá conta de explicar os resultados obtidos pela Região Nordeste, já que a Região Norte, apesar dos recursos escassos e do número reduzido de cursos de graduação e 41 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO pós-graduação, especialmente na área da Psicologia, passa a compor um polo de produção sobre o tema nos primeiros anos do Século XXI. Desta forma, foi preciso abstrair outras dimensões e características da Região Nordeste para compreender seu desempenho. Neste sentido, a análise da história da chegada e disseminação da Análise do Comporta- mento (exposta brevemente no Capítulo 1) aparece como uma opção de análise promissora. Como foi discutido naquele momento do texto, a con- centração da formação dos Analistas do Comportamento no eixo Sul-Su- deste, a discreta migração para as universidades das outras regiões, exceto a Universidade Federal do Pará, se apresentam como fatores relevantes, por um lado, para a compreensão da ausência de trabalhos no período analisado na Região Nordeste e, por outro, da localização de uma linha de investigação promissora na Região Norte, no Estado do Pará. A análise do Gráfico 4 demonstra que a concentração da produ- ção científica se deu em instituições de Ensino Superior com status de Universidade. Observou-se que houve, sobretudo, a partir dos primei- ros anos do Século XXI a presença dessa produção tanto em universida- des públicas, quanto privadas (ver Gráfico 5). É possível perceber, tam- bém no Gráfico 4, que houve uma distribuição equilibrada no número de trabalhos entre instituições públicas e privadas nas Regiões Norte e Centro-Oeste, não observada nas Regiões Sul e Sudeste, que têm mais trabalhos produzidos em instituições privadas e em instituições públi- cas, respectivamente. Gráfico 4. Distribuição dos trabalhos localizados pelas instituições geradoras em cada um dos quatro períodos de tempo analisados. 42 Universidade da Amazônia Dentre as universidades brasileiras, a USP apresentou a produ- ção mais constante sobre o tema, seguida da UnB e da UCG que apre- sentaram produções em três dos quatro períodos de tempo analisados. É possível perceber também que a Região Sul destaca-se como a região na qual a produção sobre o tema envolve mais Instituições de Ensino Superior (IES), existindo inclusive parceria entre algumas delas. Gráfico 6. Distribuição dos trabalhos localizados por tipo de produção bibliográfica gerada nos quatro períodos de tempo analisados. Gráfico 5. Distribuição dos trabalhos localizados por tipo de instituição geradora nas quatro Regiões Brasileiras em cada um dos quatro períodos de tempo analisados. Gráfico 6. Distribuição dos trabalhos localizados por tipo de produção bibliográfica gerada nos quatro períodos de tempo analisados. 43 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO A análise do Gráfico 6 revela que a maior parte dos trabalhos produzidos tomou a forma de resumos de congresso (41,02%), concen- trados em três dos quatro períodos de tempo analisados. Sendo que a maioria desses trabalhos apresentados como resumo não foi veiculada de outra forma (por meio de artigos, por exemplo), comprometendo as- sim a divulgação para um público maior de possíveis interessados e be- neficiários do conhecimento produzido. A produção de trabalhos de con- clusão de curso e artigos em periódicos científicos foi, respectivamente, o segundo e o terceiro tipo de produção mais frequente. Além disso, é necessário destacar dois outros dados: 1) a não localização de livros sobre Obesidade que utilizem os conceitos e ferramentas de análise da Análise do Comportamento, embora, se tenham localizados livros que ora ou outra faziam uso de termos compatíveis com essa abordagem psicológica (HELLER, 2004); 2) a localização de apenas uma tese de doutorado sobre o tema Obesidade, a partir da visão da Análise do Comportamento, curio- samente a primeira produção localizada no Brasil, datada de 1972, o que significa mais de três décadas sem a realização de um estudo de maior profundidade acadêmica sobre o tema, fato preocupante, uma vez que, em geral, uma tese de doutorado é um passo importante para a instala- ção ou/e fortalecimento de grupos de pesquisa. A análise do Gráfico 7 releva que a maioria dos trabalhos produ- zidos foi realizada por apenas um autor (55,12%). Na consulta ao Catálo- go de Trabalhos (ver Anexo), percebe-se que isso se deve ao fato de Gráfico 7. Distribuição dos trabalhos localizados por número de autores. 44 Universidade da Amazônia que as pesquisas que deram origem aos mesmos são comumente reali- zadas individualmente (teses, dissertações, monografias de especiali- zação, por exemplo). Além disso, é esperado que os autores dessas pesquisas as levem ao conhecimento da comunidade científica (por meio de congressos) durante mais de uma fase da execução e mesmo após a sua conclusão, o que gerou mais de um trabalho apresentado referente a mesma pesquisa. Trabalhos que envolvem mais de um autor foram registrados somente a partir da década de 90. No entanto, não foi possível identifi- car grupos de pesquisa consolidados que investiguem a temática da Obesidade sob a óptica da Análise do Comportamento. Por outro lado, é possível perceber a presença significativa de pesquisadores, que jun- tamente com seus orientandos, vêm priorizando estas investigações. A consulta ao Quadro 2 consubstancia essa afirmação: Quadro 2. Número de trabalhos realizados e/ou orientados por nove pesquisadores identificados, distribuídos nos quatro períodos de tempo analisados. A análise do Quadro 2 demonstra, inicialmente, que os nove pesquisadores que realizaram e/ou orientaram trabalhos sobre Obesi- dade e Análise do Comportamento são todos do sexo feminino, na sua maioria com pós-graduação stricto sensu em nível de mestrado. Quadro 2. Número de trabalhos realizados e/ou orientados por nove pesquisa- dores identificados, distribuídos nos quatro períodos de tempo analisados. 45 OBESIDADE E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO No que tange à distribuição temporal dessas pesquisas, verificou- se que nas décadas de 70 e 80 houve a concentração dos estudos nas mãos de duas pesquisadoras: Rachel Kerbauy (USP) e Jacira Cunha (UnB/ UCG), que na maioria das vezes publicaram seus trabalhos individual- mente. A consulta ao Catálogo de Trabalhos permite identificar que a maioria desses trabalhos foi publicada em apenas um periódico “Ciência do Comportamento: teoria, pesquisa e prática” (1985), editado pela UCG, escritos por Jacira Cunha, que para a elaboração desses artigos tomou como base os estudos realizados por ocasião de sua dissertação de mes- trado (UnB, 1980), orientada pelo Prof. Dr. João Cláudio Todorov. Este periódico se constituiu na última publicação localizada da autora. Da mesma forma, os trabalhos feitos por Rachel Kerbauy (USP) são desdobramentos de sua tese de doutorado, a primeira e única no Brasil sobre a temática da Obesidade sob a óptica da Análise do Com- portamento. É preciso destacar que a autora é a única a se fazer presen- te no quadro de trabalhos nas quatro décadas analisadas. Até a década de 90, foi possível identificar uma pesquisadora en- volvida com o tema: Cristina di Benedetto (UNIPAR). A pesquisadora inau- gura sua produção
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