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4 - Cultura de massas e o surgimento do novo analfabetismo - GIROUX

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110 HENRYA. GIROUX
10 Existem muitas fontes que tratam desta posição com seriedade. Uma das melhores é
Bowles e Gintis, Schooling in Capitalist America. Ver também Martin Carnoy e Henry M.
Levin, T/jeltmitsofEcliicatiotialRefonníNevsYork: DaviclMckay, 1976), pp. 52-82, 219-44.
•>0 Martin Jay, The Dialectical Imagination (Boston: Little, Brown, 1973), p.65.
•? l Esta abordagem foi amplamente popularizada através dos trabalhos de Hilda Taba,
Teachefs HandbookforElementary Social Sto//£« (Reading, Mass. : Addison- Wesley, 1967);
I Richarcl Suchman, InquityBox: TeachersHandbook (Chicago: Science research Associates.
1967); Joseph j. Schwab, Biolog)' Teacbcr's Handbook (New York: Wiley, 1965).
22. Alvin J. Gouldner, The Dialectic ofldeolog)* and Technology (New York: Seabury Press,
1976), p. 49.
23. Fredericjameson, MarxismandForm(Prmceton, N.J.: Princeton University Press, 1965).
24. Jean-Paul Sartre, Lilerature and Exisíentialism, 3a edição (New York: Seabuiy Press,
1976), p. 49.
25. Ver Apple e King, "What Do Schools Teach?" pp. 29-63, e Bowles e Gintis, Schooling in
Capitalist America. Uma coleção aceitável cie artigos pode ser encontrada em Overly, The
Unstudied Curriculum.
26. Freire, Education for Criticai Consciousness.
27. Ver David Swattz, "Pierre Bourdieu: The Cultural Transmission of Social Inequality",
Harvard Educational Review 47 (Nov. 1977): 545-55; Bourclieu e Passeron, Reproditction;
Bernstein, Class, Codes and Contraí, pp. 85-156. Para um bom estudo generalizado sobre a
política da linguagem, ver Claus Mueller, The Politics of Communication (New York: Oxford
University Press, 1973).
28. M. Greene, "Curriculum and Consciousness", p. 304.
29- Ver Heniy Á. Giroux et ai., The Process of Wríting History: Episodes in American Histoty
(Provídence, R.L: Center for Research in Writing, 1978). Todos os conceitos de escrita usa-
dos neste capítulo são adaptados de a.d. Van Nostrand et ai., Functional Writing (Boston:
Houghton Mifflin, 1978).
30. Giroux et ai, Process of Writing History, p.13.
31. Ibid., p.14.
32. Freire, Education for Criticai Consciousness, pp. 32-89.
33. Giroux et ai, Process of Writing History, p. 24.
34. Ibid., p.33-
35. Paulo Freire, "Conscientization" em The Goal is Liberation (Geneva: United Council of
Churches, 1974), p.2.
36. Freire, Education for Criticai Consciousness, pp. 5-6.
6
A de
e o do
Novo
a
DE HENRYA. GIROUX
Assegurem-se do Conhecimento, vocês que estão congelados! Vocês, famin-
tos, agarrem-se ao livro: ele é uma Arma. Vocês devem assumir a liderança.
Bertold Brecht
N esta era de capitalismo, os americanos parecem estar frente a umimportante paradoxo em torno do relacionamento entre tecnologia,cultura e emancipação. Por um lado, o desenvolvimento crescente
da ciência e tecnologia oferece a possibilidade de libertar os seres humanos
do trabalho desumanizador e exaustivo. Esta liberdade, por sua vez, ofere-
ce à humanidade novas possibilidades de desenvolvimento e acesso a uma
cultura que promove uma sensibilidade mais crítica e qualitativamente
discriminatória em todos os modos de comunicação e experiência. Por
°utro lado, o desenvolvimento da tecnologia e da ciência, construído con-
forme às leis da racionalidade capitalista, introduziu formas de domínio e
controle que parecem mais se opor do que ampliar as possibilidades de
emancipação humana.1
E dentro dos parâmetros deste paradoxo que um exame do valor e
da leitura em uma sociedade multimídia pode ser analisado. A ne-
cessidade de tal perspectiva encontra-se nos laços intrincados, muitas vezes
'gnorados, que existem entre os vários modos de comunicação e as forças
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112 HENRY A. GIROUX OS PROFESSORES COMO INTELECTUAIS 113
políticas que dominam esta sociedade. Falar de uma coisa sem falar da
outra representa não apenas um problema conceituai mas também urna
falha política. Em termos gerais, isto significa que qualquer entendimento
do relacionamento entre a mídia eletrônica e a cultura impressa fica confu-
so a menos que tal relacionamento seja situado dentro do contexto históri-
co e social específico no qual se encontra. Situar a análise em tal contexto
significa opor-se às principais correntes da teoria social que fracassaram no
estudo da dinâmica dos modos visuais e impressos de comunicação dentro
dos conceitos críticos mais amplos de história, cultura de massa e ideolo-
gia.2 Este fracasso, na verdade, indica um fracasso ideológico mais grave
em reconhecer as qualidades e funções dialéticas em transformação que a
mídia eletrônica e a cultura impressa tiveram na história e continuam tendo
hoje em dia.3 Historicamente, o relacionamento entre as mudanças na socie-
dade e as mudanças na comunicação tem sido determinado menos pela
natureza da tecnologia de comunicação em desenvolvimento do que pela
ideologia dominante e formações sociais existentes em tal sociedade. Por
exemplo, em contraste com os Estados Unidos de hoje em dia, ler em voz
alta e em público era coisa comum durante o final da Idade Média, assim
como ainda o é na China contemporânea. De forma semelhante, em con-
traste com a maior parte dos países ocidentais, não existem leis de direitos
autorais em Cuba, porque o governo acredita que os livros devem ser usa-
dos para difundir a cultura e não para propósitos comerciais:' Isto indica
que existe uma interação complexa entre as mudanças sociais e técnicas, na
qual a forma e uso de um modo de comunicação são determinados por
forças diferentes daquelas da tecnologia existente. Além disso, existem
questões profundas que espreitam por trás das diversas funções que os
modos de comunicação visuais e impressos desempenham em contextos
sociais e históricos diferentes. Quem controla os diferentes modos de co-
municação e no interesse de quem eles atuam? Colocado de maneira mais
sucinta, será que os modos de comunicação operam no interesse da opres-
são ou da libertação? Infelizmente, estas são questões que os principais
teóricos sociais optaram por ignorar.5 Uma maneira de abordar estas ques-
tões é através do que chamei cie dialética do uso e potencial da tecnologia.
Subjacente à dialética da opressão e libertação inerente a todas as
formas de comunicação, encontra-se a distinção fundamental entre o uso
que se faz de um moclo particular de comunicação, como, por exemplo, a
televisão, e o uso potencial que poderia ter em uma determinada socieda-
de. Concentrar-se na contradição entre o uso e o potencial representa uma
maneira viável de analisar-se o relacionamento em transformação entre as
culturas visual e escrita nesta sociedade. Não fazer isso significa ser vítima
de uma espécie de fatalismo tecnológico ou então de uma utopia tecnológica.0
Nos dois casos, a tecnologia é abstraída de suas raízes sócio-históricas,
afastada cios imperativos de classe e poder, e definida dentro da camisa cie
força conceituai do determinismo tecnológico.
Uma abordagem mais crítica tentaria por a descoberto "algumas das
jjaações concretas e complexas entre a criação e distribuição cultural e as
formas econômicas e sociais".7 Isto exige que redefinamos a cultura em
termos políticos e observemos o modo como as culturas visual e escrita
operam como mecanismos de reprodução social e cultural. Contudo, deve-
se primeiramente explicar o conceito de reprodução social e cultural antes
de examinar detalhadamente seus mecanismos. A noção de reprodução
elucida o relacionamento entre cultura e sociedade para sugerir a subordi-
nação da cultura à sociedade dominante. Este ponto é importante por dois
motivos. Primeiro, os antropólogos das correntes dominantes tradicional-
niente clespolitizaram a noção de cultura tornando-a sinônima de "o modo
de vida de um povo".8 Conseqüentemente, tornaram difícil o estudo do
importante relacionamento entre a sociedade e a cultura, particularmente o
relacionamento entre ideologia e controle social. Em segundo lugar, o foco
de dominação nos países industriais desenvolvidos sofreu uma mudança
significativa, e precisamos de uma noção politizada decultura para exami-
nar esta mudança. Uma análise mais frutífera do que aquela dos principais
cientistas sociais pode ser encontrada na obra do teórico social italiano
Antônio Gramsci, bem como no trabalho mais recente da Escola de Frank-
furt e seus seguidores.9
Hegemonia Cultural
Pela perspectiva de Gramsci e outros, o foco de dominação nos países
industriais desenvolvidos do ocidente transferiu-se da confiança na força
(polícia, exército, etc.) para o uso de um aparato cultural que promove o
consenso através da reprodução e distribuição dos sistemas dominantes de
crenças e atitudes. Gramsci chamou esta forma de controle de hegemonia
ideológica, uma forma de controle que não apenas manipulava a consciên-
cia como também saturava as rotinas e práticas diárias que guiavam o com-
portamento cotidiano. A escola de Frankfurt aprofundou muito esta análise
e apontou para o desenvolvimento crescente da tecnologia para reproduzir
a cultura dominante e manter a organização sócio-econômica existente.
Mais recentemente, o trabalho cie Pierre Bourdíeu e Basil Bernstein de-
rnonstrou que a sociedade dominante não apenas distribui materiais e mer-
cadorias como também reproduz e distribui capital cultural, isto é, aqueles
sistemas de significados, gostos, disposições, atitudes e normas que são
direta e indiretamente definidos pela sociedade dominante como social-
mente legítimos.10 A partir desta perspectiva, a reprodução de uma socieda-
de está intimamente ligada à produção e distribuição de suas mensagens
culturais. Como tal, o aparato cultural para reproduzir a cultura dominante
e comunicá-la ao público torna-se uma questão política importante. Com
efeito, a cultura não é então apenas vista como expressão ideológica da
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114 HENRY A. GIROUX
sociedade dominante, mas também refere-se à forma e estrutura da tecnologia
que comunica as mensagens que "estabelecem os alicerces psicológicos e
morais do sistema econômico e político"."
Como expressão ideológica cia sociedade dominante, a cultura domi-
nante está profundamente atrelada ao espírito do consumismo e positivismo.
À medida que a cultura tornou-se industrializada na primeira parte do sécu-
lo vinte, ela desenvolveu novas formas de comunicação para difundir sua
mensagem. A produção de mercadorias passou então a ser acompanhada
pela reprodução crescente da consciência. Além disso, quando o capitalis-
mo do século vinte deu origem à publicidade em massa e sua concomitante
doutrina de consumismo desenfreado, todas as esferas da existência social
foram então informadas, embora longe de serem totalmente controladas,
pela nova racionalidade do capitalismo industrial desenvolvido. O marketing
de massa, por exemplo, mudou drasticamente os domínios do trabalho e
do lazer, e, como assinalou Stuart Ewen, preparou o palco para o controle
da vida diária.
Durante os anos 20 definiu-se o palco através cio qual a diversidade crescente de
organizações corporativas poderia travar uma batalha cultural com uma população
que precisava e pedia por mudança social. O palco situava-se no teatro da vida diária,
e era na intimidade daquela realidade - produtiva, cultural, social, psicológica - que
uma pièce-de-théâtre estava sendo escrita.12
Enquanto a cultura industrializada transformava radicalmente a vida
diária, a administração científica alterava os padrões tradicionais de traba-
lho. A produção artesanal deu lugar a um processo de trabalho fragmenta-
do, no qual a concepção estava desligada tanto da execução como da
experiência do trabalho. Um dos resultados foi um processo de trabalho
que reduzia o mesmo a uma série de gestos pré-concebidos e sern vida.15
Acompanhar estas mudanças no local de trabalho e no campo do lazer
era uma forma de legitimação tecnocrática baseada na visão positivista de
ciência e tecnologia. Esta forma de racionalidade definia-se através dos
supostos efeitos inalteráveis e produtivos que as forças tecnológicas e cien-
tíficas em desenvolvimento estavam tendo nas bases do progresso do sécu-
lo vinte. Embora o progresso nos Estados Unidos nos séculos dezoito e
dezenove estivesse ligado ao desenvolvimento do auto-aperfeiçoamento £
da autodísciplina moral no interesse de construir uma sociedade melhor, o
progresso no século vinte estava despido de uma preocupação com a
melhoria da condição humana e passou a dedicar-se ao crescimento mate-
rial e tecnológico.1' O que uma vez era considerado humanamente possí-
vel, uma questão envolvendo valores e fins humanos, foi então reduzido
ao que era tecnicamente possível. A aplicação cia metodologia científica a
novas formas de tecnologia surgiu como força social gerada por suas pró-
prias leis, as quais eram governadas por uma racionalidade que parecia
existir acima e além ao controle humano.
OS PROFESSORES COMO INTELECTUAIS
Como modo de legitimação, esta forma de racionalidade tecnocrática
tornou-se a hegemonia cultural prevalecente. Enquanto consciência prevale-
cente, ela glorifica a expansão continuada dos confortos da vida e da pro-
dutividade do trabalho através da submissão cada vez maior do público às
leis que governam o domínio técnico tanto dos seres humanos como da
natureza. O preço para a maior produtividade é o refinamento e administra-
ção contínuos não simplesmente das forças de produção, mas da própria
natureza constituinte da consciência.
A Indústria da
Hans Enzensberger (1974) argumentou que a mídia eletrônica, operando a
serviço desta racionalidade tecnocrática, tornou-se a principal força no que
chama de industrialização da mente. Assinala que a indústria da mente
transcende a discussão partícularizada das culturas visual e escrita. Ele es-
creve que "Quase ninguém parece perceber o fenômeno como um todo: a
industrialização da mente humana. Este é um processo que não pode ser
compreendido pelo simples exame de sua maquinaria."15 E mais:
O principal negócio e preocupação da indústria da mente não é vender seu produto,
mas "vender" a ordem existente. Perpetuar o padrão de dominação do homem pelo
homem, sern importar quem dirige a sociedade, e através cie quaisquer meios. Sua
principal tarefa é expandir e treinar nossa consciência - a fim de explorá-la.16
Críticos mais recentes foram muito além de Enzensberger, alegando
que a indústria da cultura de massa atual nos Estados Unidos representa
uma afronta à capacidade dos seres humanos de até pensarem em termos
críticos ou, no que se refere a isso, envolverem-se no discurso social signi-
ficativo.17 Aronowitz refere-se a este fenômeno como o "novo analfabetis-
mo", alegando que não apenas o pensamento crítico, mas a própria substância
da democracia está em jogo. Ele aborda esta questão com eloqüência:
A nova situação levanta a questão da competência das pessoas para efetivamente
comunicarem um conteúdo ideacional. Esta questão é a própria capacidade de pensa-
mento conceituai... Como o pensamento crítico é a pré-condição fundamental para
um público ou cidadania autônoma e automotivacla, seu declínio ameaçaria o futuro
das formas democráticas sociais, culturais e políticas.18
Estes críticos vêem a cultura visual em particular como desempenhan-
do um papel significativo e importante na redução do pensamento e imagina-
Ção coletiva a dimensões estritamente técnicas. Entretanto, nenhum destes
Críticos dá suporte ao pesadelo orweliano de uma indústria monolítica da
consciência que opera sem contradições ou resistência. Tal posição é vul-
gar e predominantemente determinista. Além disso, ela deixa de reconhe-
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116 HENRY A. GIROUX
cer que a mídia eletrônica, assim como a cultura impressa, não é tanto uni
agente causai quanto uma força mediadora na reprodução da consciência.19
A tecnologia da indústria da consciência não pode produzir cultura; ela só
pode reproduzi-la e distribui-la. Concomitantemente, a indústria da consci-
ência não é a única agência de socialização. Em outras palavras, a cultura
de massa em suas várias formasgera contradições e também consenso,
embora com pesos diferentes. Tanto em termos objetivos quanto subjeti-
vos, a tecnologia da indústria da cultura de massa cria focos de resistência
alimentados por suas próprias contradições. Por exemplo, ela gera constan-
temente expectativas e necessidades que não pode satisfazer, e, no entanto,
contém em sua tecnologia a possibilidade de real comunicação entre as
pessoas - isto é, as pessoas poderiam se tornar tanto transmissores como
receptores de informação.
Impresso versas Visual ;
A questão importante que ainda resta é se deveríamos fazer uma distinção ;
entre a cultura visual e a cultura impressa em relação a suas possibilidades ;
como força de libertação ou dominação neste momento da história. Pelas ;•
razões delineadas abaixo, creio que a resposta é um retumbante sim. ;
É bastante óbvio que cada cultura tem seu próprio centro de grávida- í
de, proporcionando uma experiência diferente, bem como diferentes for- [
mas de acesso ao conhecimento. Mas o significado disso não é tão óbvio \
quando analisado em termos sócio-políticos. Por exemplo, em termos ideais \
e essenciais, as culturas visual e impressa deveriam ser complementares, '''--
mas, na atual conjuntura histórica, não é isso que ocorre. A cultura visual, "
particularmente a televisão, é a forma de comunicação predominante por- ;
que sua tecnologia oferece possibilidades muito maiores de manipulação e ;
controle social. Isto se torna particularmente evidente quando a mesma é ,
comparada à tecnologia da leitura.
Embora seja verdade que, historicamente, a leitura tenha criado um -.
público de classe específica por causa das habilidades técnicas e críticas ;
necessárias para dela fazer uso, o mesmo não pode ser dito da cultura •
visual, que praticamente eliminou qualquer dependência de um público de
classe específica para usar sua tecnologia ou entender suas mensagens. ;
Colocado de outra maneira, a cultura visual eliminou a necessidade de que
qualquer público específico use o tipo de habilidades críticas e discrimina- ;
tórias que são necessárias para acercar-se de um modo de comunicação. A ;
própria noção de "cultura de massa" sugere não apenas a importância cia j
quantidade, mas também a redução do pensamento e da experiência ao ;
nível da mera condição de espectador. A doença, neste caso, é a impotên- J
cia, e a cura é uma forma de escapismo manufaturado. É claro que a cultura f
impressa também se presta à manipulação da consciência, e num sentido |
OS PROFESSORES COMO INTELECTUAIS 117
importante todos os modos de comunicação podem ser manipuladores A.
questão real é qual a possibilidade de tornar todas as pessoas manipuladores
da tecnologia cie comunicação de massa. Diversos críticos assinalaram que
o desenvolvimento da cultura impressa ajudou a produzir uma esfera públi-
ca burguesa em massa que nutria a discussão dos eventos, jornais e livros
correntes.20 Este é um ponto crucial, porque a tecnologia da mídia impressa
necessita de uma forma de racionalidade que guarda espaço para a análise
e pensamento crítico. Por exemplo, a cultura impressa é um meio que exige
atenção. Ela não é tão impositiva quanto à cultura visual; carece das quali-
dades ''táteis" da última. Como resultado, devemos nos acercar dela com
intencionalidade; esta forma de intencionalidade torna-se clara quando
consideramos que a palavra escrita é governada pela lógica da concisão,
clareza e persuasão. E tem que ser assim, pelo menos por princípio, porque
a palavra escrita "congela" a informação. Quando lemos, temos mais tempo
de parar e refletir sobre o que foi escrito. Com a palavra escrita é possível
avaliar com mais rigor a validade e valor verídico de um argumento. A
própria forma da tecnologia de impressão conserva uma checagem da ma-
nipulação excessivamente evidente da mensagem escrita. Em outras pala-
vras, existe uma tensão na tecnologia impressa entre sua forma e conteúdo.
O olho crítico que a leitura idealmente exige põe em cheque a manipula-
ção da mensagem.
Existem outras considerações referentes à tecnologia de impressão que
a torna libertadora no momento atual. Ela é barata em termos de produção
e consumo. Conseqüentemente, através da píetora de livros, jornais e revis-
tas que inundam o mercado, tem-se acesso a um grande número de visões
e posições sobre qualquer assunto. A esquerda americana tem sido acusada
de basear-se em demasia na tecnologia de impressão.21 Esta crítica é
elucidativa não por mal representar uma certa dose de elitismo por parte da
esquerda, mas por indicar que a tecnologia de leitura proporciona maiores
oportunidades de transmitirmos nossos pontos de vista do que qualquer
outra forma de comunicação. A esquerda simplesmente não tem acesso à
cultura visual. A televisão, o rádio e a produção cinematográfica são essen-
cialmente controlados pelos interesses governantes. Além do mais, estes
modos de comunicação são importantes demais para os interesses
corporativos para serem democratizados. A mídia visual é atualmente
demagoga da comunicação de uma só via. E isto se deve em parte a seu
Poder de influenciar as pessoas, característica tão endêmica a sua tecnologia
quanto às relações sociais que determinam seu uso unilateral. O poder
desta influência pode em parte ser medido pelos seguintes números : "9o
Por cento dos lares americanos possuem pelo menos uma televisão, ...a
televisão fica ligada em média mais de seis horas por dia, e.^dez por cento
dos lares americanos possuem pelo menos três televisões/'22
Theodore Adorno (1978) escreveu que "quem fala de cultura fala igual-
mente de administração, quer tenha ou não esta intenção."23 Aronowitz
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118 HENRY A. G1ROUX
elucida as colocações de Adorno ao alegar que a cultura visual está indus-
trializando a mente ao colonizar o campo do lazer.2'1 Vale a pena salientar
novamente que tal posição não ignora a interação dialética entre a cultura
visual e o público em geral. As pessoas respondem à cultura visual com
atitudes e necessidades diferentes. A questão é que a cultura visual cresceu
demais e é muito centralizada, penetrando no "espaço privado" dos indiví-
duos a ponto de, em muitos casos, reduzir a cognição e a experiência
humana a uma mera sombra da técnica e da cultura de consumo.
A cultura visual é atualmente acessível como modo de comunicação
de mão única. Além disso, enquanto força motriz no amoldamento da ex-
periência, ela tem algumas vantagens poderosas quando comparada com a
cultura impressa. A cultura visual, especialmente a televisão, situa-se em
estímulos táteis, tais como imagens e sons, os quais, em combinações e
formas diferentes, simulam de maneira muito próxima a realidade cara a
cara. O poder da cultura visual de restringir os padrões de pensamento
provém não apenas das mensagens e mitos que divulga (um tópico por
demais conhecido para ser discutido aqui), mas também das técnicas que
utiliza.
A técnica dominante que caracteriza a cultura visual tem suas raízes na
divisão de trabalho que procura igualar na sociedade mais ampla. A frag-
mentação e imediatismo da informação são a ordem do dia. O trabalho
rápido da câmera e a edição elaborada criam o efeito imediato de apelar às
emoções e, ao mesmo tempo, causar um curto-circuito na reflexão crítica.25
Como é impossível para o telespectador, a menos que disponha de um
equipamento de vídeo, reduzir a velocidade ou observar novamente a rápi-
da difusão de imagens, ele tem poucas chances de se distanciar do conteú-
do da produção visual e refletir sobre seu significado. Além disso, as ima-
gens não são apenas apresentadas com a velocidade de uma metralhadora;
elas geralmente carecem de uma unidade particular, como nos noticiários,
ou então de um contexto mais amplo - isto é, elas não têm foco. Neste
contexto, a imagem classifica a realidade, e o fato se torna o árbitro da
verdade. Os situacionistas franceses referem-se ao entesouramento da ima-
gem como "o espetáculo". Como descreve Norman Fruchter:
O espetáculo é a pseudo-reaiidadecontinuamente produzida e, portanto, em contí-
nuo desdobramento, predominantemente visual, que cada indivíduo encontra, habita
e aceita como realidade pública e oficial, negando-se, assim, tanto quanto possível, a
realidade privada cotidiana de exploração, sofrimento e inautenticidade que ele ou ela
experimenta.26
O entesouramento da imagem, o espetáculo, encontra algumas de suas
manifestações no estrelato, na identificação do estético com o "entreteni-
mento", e na glorificação de temas sensacionais e violentos. Em meio a
abundância de imagens estilizadas e excessivamente dramatizadas da realida-
de, a mídia visual, especialmente a televisão, acalenta o público com sua
OS PROFESSORES COMO INTELECTUAIS 1ÍQ
^iDiçac» de "objetividade" e sua preocupação com os "fatos". A objetivida-
de dos meios visuais parece garantir-se pela presença bruta da câmera, com
ua capacidade de focalizar imediatamente um determinado evento ou de
antar todos os gestos e movimentos em sua versão da realidade. Frederic
l^jfieson descreve bem esta posição quando escreve:
Asseguramo-nos na ilusão de que a câmera está testemunhando tudo exatamente
como aconteceu e que tudo o que ela vê é tudo o que há. A câmera é presença
absoluta e absoluta verdade: assim, a estética de representação desintegra a densidade
do evento histórico, achatando-o de volta à ficção.27
Em meio à fragmentação das imagens e transbordamento da informa-
ção, a intrusão do fato aparece como instrumento confiável para por ordem
na confusão e incerteza. Como assinala Gitlin em sua análise da televisão e
da 'cultura do positivismo:
A televisão contribui poderosamente para um fetichismo dos fatos.... Como a história
é desconcertante, complexa e fora do controle popular, o fato bruto assume uma
importância excessiva....Os fatos por si mesmos parecem explicar, tranqüilizar ou alar-
mar, tudo de maneira planejada. Os fatos exigem atenção, entram no fluxo da discus-
são, e. parecendo legítimos e confiáveis, eles orientam - e durante todo o tempo
parecem deixar a escolha para o consumidor, o público.28
Embora a mídia visual não seja a única força a promover a reprodução
social e cultural, é possível que ela seja a mais poderosa. Aronowitz aponta
para estudos que sugerem uma tendência crescente entre os estudantes
para ver as coisas de maneira literal e não conceituai; estes estudos também
têm apontado para a crescente incapacidade dos estudantes de pensar
dialeticamente, ver as coisas em um contexto mais amplo ou estabelecer
relações entre objetos ou eventos aparentemente não relacionados. Ele e
outros autores também se queixam do fato dos estudantes estarem amarra-
dos a "factualidade" do mundo, e parecerem ter dificuldade de utilizar con-
ceitos que poderiam controverter as aparências.29
A resposta de alguns críticos ao poder e sofisticação cada vez maiores
da mídia visual tem sido a exaltação das virtudes dos meios eletrônicos em
geral, mas ao mesmo tempo exigindo uma suspensão da leitura e do mate-
rial impresso.30 Estes críticos apontam para as virtudes e possibilidades da
comunicação em duas mãos inerentes à mídia eletrônica, e sugerem que a
era dos impressos é uma relíquia cultural em extinção. Eles também apon-
tam que a cultura visual não irá embora, e instigam seus leitores a enfrentá-
*a- Esta posição é nobre, porém errônea. A mídia eletrônica está nas mãos
dos monopólios corporativos, e seria necessário uma redistribuição de po-
der e riqueza para colocá-la à disposição do público.31 Embora importante,
esta tarefa deve ser precedida por uma mudança na consciência popular e
acompanhada pelo desenvolvimento de uma luta política em andamento.
Além disso, ela subestima o poder da mídia em definir o uso de sua própria
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120" HENRYA. GIROUX
tecnologia. Em outras palavras, mesmo com o acesso cada vez maior
meios de comunicação eletrônicos, tais como câmeras e aparelhos cie vide
bem como meios eletrônicos não visuais como os rádios CB*, o públi °
encara estas formas de comunicação como importantes somente para ativid-°
dês de lazer.32 a~
de
Se a cultura visual no contexto da sociedade de hoje ameaça a auto-refle-
xão e o pensamento crítico, teremos que redefinir nossas noções de
alfabetismo e confiar muito na cultura impressa para ensinar às pessoas os
rudimentos cio pensamento crítico e da ação social. O ponto aqui é que
devemos ir além da noção positivista de alfabetismo que atualmente carac-
teriza as ciências sociais.33 Em vez de formular o alfabetismo em termos de
domínio de técnicas, devemos ampliar seu significado para incluir a capaci-
dade de ler criticamente, tanto dentro como fora de nossas experiências, e
com força conceituai. Isto significa que a alfabetízação permitiria que as
pessoas decodificassem seus mundos pessoais e sociais e, assim, estimula-
ria sua capacidade de questionar mitos e crenças que estruturam suas per-
cepções e experiências. A alfabetízação, como Freire nunca se cansa de nos
dizer, deve estar ligada a uma teoria do conhecimento que esteja em conso-
nância com uma perspectiva política libertadora e que dê expressão máxi-
ma à elucidação do poder das relações sociais no ato de conhecer. Isto é
crucial porque sugere não apenas que deveríamos aprender a ler as mensa-
gens de maneira crítica, mas também que a análise crítica só pode ocorrer
quando o conhecimento serve como objeto de investigação, como força
mediadora entre as pessoas.3/í
A verdadeira alfabetízação envolve o diálogo e relacionamentos so-
ciais livres de estruturas autoritárias hierárquicas. Na atual conjuntura histórica,
a leitura oferece oportunidades para o desenvolvimento de abordagens
progressistas da alfabetízação, tanto como modo de consciência crítica quanto
como trampolim fundamental para a ação social. A cultura impressa é aces-
sível e barata, e seus materiais podem ser produzidos e fabricados pelo
público. A leitura em grupo, bem como a leitura solitária, proporciona o
espaço e distanciamento "privados" raramente oferecidos pelas culturas ele-
trônicas e visuais. A tecnologia dos materiais impressos contém a promessa
imediata de transformar as pessoas em agentes sociais que possam manipu-
OS PROFESSORES COMO INTELECTUAIS 121
j!' f° ,' B e a abreviat"ra de CitizensBcmdQ-ZK* do Cidadão). Refere-se a um serviço de rádio em
Ma tíupla_concedido pelo governo aos cidadãos americanos para comunicação a curta distância entre
NevfvnN »S °<' m°VeÍS' (THe Random House ComPact Unabridged Dictíonarv. Special 2nd Edition,INC\\ York: Random House, Inc, 1996). " '
t r e usar o livro, o jornal e outras formas de comunicação impressa para
eu próprio benefício. Ela contém a promessa de emancipação. Além disso
5 cultura impressa permite o desenvolvimento cie métodos dê
^onceitualização e organização social que poderiam eliminar a papel atual
. s nieios visuais e eletrônicos como força opressiva. Este é o conceito que
w à exortação de Brecht - "Vocês que estão famintos, agarrem-se ao livro:
e|e é uma arma."
35 - mais urgência hoje do que quando ele a escreveu há
piais cie três décadas.
Notas
l Herbert Marcuse, One Dimensional Man (Boston: Beacon Press, 1964): Horkheímer, Eclipse
of Reason; Davici F. Noble, America by Design (New York: Knopf, 1977); Aronowitz, False
Promises.
2. f.W. Freiberg, "Criticai Social Theory in the American Conjuncture", in J. W. Freiberg, ed.,
Criticai Sociology (New York: Irvington Press, 1979), pp. 1-21.
3. Todcl Gitlin, "Media Sociology", Theory and Society 6 (1978): 205-53.
4. M. Hoyles, 'The Histoiy and Politics of Literacy", in M. Hoyles, ed., ThePolitics ofLiteracy
(Lontlon: Writers and Readers Publishing Cooperation, 1977), pp. 14-32.
5. Gitlin, "Media Sociology", p. 205; Aronowitz, "Mass Culture", p. 768.
6. A utopia tecnológica encontra sua expressão mais popular em Marshal McLuhan,
Understanding Media (New York: Signet, 1963); o fatalismo tecnológico é captado com
perfeição em jacques Ellul, The TechnologicalSociety (New York: Knopf, 1965). Uma análise
críticadestas duas posições pode ser encontrada em Henry A. Giroux, "The Politics of
Technology. Culture and Alienation", Left Curve 6 (Verão/Outono 1976): 32-42.
7. M.W. Apple, "Television and Cultural Reproduction", Journal of Aesthetic Education 12
(Out. 1979): 109.
8. Christopher Lasch, Haven in a Heartless World (New York: Basic. 1977), pp. 93-94; Hans
Peter Dreitzel, "On the Political Meaning oi" Culture", em Norman Birnbaum, ed., Beyondthe
Crisis (New York: Oxford University Press, 1977), pp. 83-138.
9. Gramsci, Prison Notebooks- uma amostra representativa excelente dos escritores da escola
de Frankfurt pode ser encontrada em A. Arato e E. Gebhardt, eds., The Essential Frankfurt
School Reader (New York:Urizon, 1978).
10. Bourdieu e Passeron, Reproduction; Bernstein, Class, Codes, and Contrai, vol.3-
11. Dreitzel, "Political Meaning of Culture", p.88.
12. Ewen, Captains of Consciouness, p. 202.
13. Braverman, Labor and Monopoly Capital; Ewen, Captains of Consciouness, p. 195.
M. T. McCarthy, The Criticai Theory of fürgen Habermas (Cambridge, Mass.: MIT Press,
!978j, p.37.
15. Hans Enzenberger, The Consciousness Industry (New York: Seabury, 1974).
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122 HENRY A. G1ROUX
16. Ibid., p-16.
17 Um crítico alega que a sociedade americana é caracterizada por uma "taxa decrescente
de'inteligência, a qual representa mais uma tendência do que uma lei imutável. Este proces-
so de obsoletismo intelectual aniquila a memória e a história de forma a incitar uma deman-
da e produção estagnantes. O resultado é uma repetição desmemoriada - uma amnésia
social". Russell jacoby, "A Falling Rate of Intelligence", Telos 27 (Primavera 1976): 144.
18. Aronowitz, "Mass Culture", pp. 768, 770.
19. Ver D. Ben-Horin, "Television without Tears", Sociatist Revieiu 35 (Set./Out. 1977): 7-35.
20. Gouldner, Dialectic ofldeology.
21. Enzenberg, Consciousness Industry, pp. 95-128.
22. Gitlin, Media Sociology, p.791.
23. Theodor Adorno, "Television and Patterns of Mass Culture", em Mass Culture: The Popu-
lar Arts in America, ed. B. Rosenberg e P. Manning White (New York:Free Press (1957), p.93.
24. Aronowitz, False Promises, pp. 50-134.
25. Theodor Adorno, "Television and Patterns of Mass Culture", p.484.
26.Norman Fruchter, "Movement Propaganda and the Culture of the Spectade". Liberation
(Maio 1971), pp. 4-17.
27. Frederic Jameson, "Class and Allegory in Contemporary Mass Culture: Dog Day Afternoon
as a Political Film", College English 38(Abril, 1977): 848. '
28. Gitlin, "Media Sociology", p. 791.
29. Aronowitz, "Mass Culture"p. 770. Ver também D. Lazere, "Literacy and Política!
Consciousness: A Critique of Left Critiques", Radical Teacherü (Maio 1975): 20-21.
30. J. MacDonald, "Reading in an Electronic Age", em J. MacDonald, ed., Social Perspectives
in Reading (Delaware: International Reading Association, 1973), pp. 24-27; Enzenberger,
Consciousness Industry, pags. 95-128.
31. Gitlin. "Media Sociology", passim.
32. O. Negt, "Mass Media: Toois of Dominatíon or Instruments of Liberation?" New Gennan
Critique 14 (Primavera 1978): 70.
33. Exemplos desta tendência foram analisados em Elsasser e john-Steiner, "An Internationa!
Approach". Exemplos representativos das abordagens positivistas do alfabetismo na leitura
podem ser encontrados em R. C. Calfee e P. A. Drum, "Learning to Reacl: Theory, Research,
and Practice", Curriculum Theory 8 (Outono 1978): 183-250.
34. Giroux, "Beyond the Limits".
35. Citado em Hoyles, Politics of Literacy, p.78.
7
Crítica,
e o
Discurso da
HENRY A. GIROUX
E screvendo sobre o ato de estudar, o educador Paulo Freire alega que"estudar é uma tarefa difícil que requer uma atitude crítica e umadisciplina intelectual sistemáticas adquiridas somente através da prá-
tica".1 Ele também argumenta que, subjacentes à natureza desta prática,
encontram-se duas suposições pedagógicas importantes. Primeiro, o leitor
deveria assumir o papel de um indivíduo no ato"de estudar. Segundo, o ato
de estudar não é simplesmente um relacionamento com o texto imediato;
pelo contrário, tem o sentido mais amplo de uma atitude em relação ao
mundo. Vale a pena citá-lo mais detalhadamente nestas questões:
Estudar um texto exige urna análise do estudo daquele que, através do estudo, o
escreveu. Isso exige uma compreensão do condicionamento sociológico e histórico
do conhecimento. E também requer uma investigação do conteúdo em estudo e de
outras dimensões do conhecimento. Estudar é uma forma de reinventar, recriar, rees-
crever, e isto é tarefa cie um indivíduo, não de um objeto. Além disso, nesta aborda-
gem, o/a leitor/a não pode ser separado/a do texto porque estaria renunciando a uma
atitude crítica em relação ao mesmo.... Sendo o ato de estudar uma atitude perante o
mundo, o mesmo não pode ser reduzido ao relacionamento do leitor com o livro ou
do leitor com o texto. Na verdade, um texto reflete o confronto de seu autor com o
mundo. Ele expressa este confronto.... Aquele que estuda nunca deveria parar cie
sentir curiosidade sobre outras pessoas e outra realidade. Existem aqueles que pei-
guntam, aqueles que tentam encontrar respostas e aqueles que continuam procura
cio.2

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