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1 Marcela Oliveira – Medicina 2020 Hepatite é um conjunto de lesões necróticas e inflamatórias que acometem o fígado de modo difuso. São causadas principalmente por vírus, mas podem ser também por medicamentos, distúrbios autoimunes e transtornos metabolitos. As lesões necróticas inflamatórias desses tipos de hepatite são semelhantes. O fígado é organizado em vários lóbulos, que são formados por hepatócitos, agrupados em placas ou cordões interconectados que vão formando uma massa de tecido que é o lóbulo hepático. No meio de cada lóbulo, encontramos a veia centro-lobular. Nos vértices desses lóbulos, encontramos os espaços portais (ramo do ducto biliar, ramo da veia porta hepática e ramo da artéria hepática), essa tríade vai desembocar nos sinusoides, que vai levar o sangue ate a veia centro lobular. Os canalículos biliares são formados na junção entre os hepatócitos, formando o canalículo biliar. Revestindo a estrutura, temos uma bainha de tecido conjuntivo. 2 Marcela Oliveira – Medicina 2020 1. LOBO HEPÁTICO Notamos a presença de 5 espaços portas. Além disso, não conseguimos visualizar o tecido conjuntivo que delimita os lóbulos. No centro, encontramos a Veia Centro-lobular. O tecido é bem homogêneo, formado por cordões de hepatócitos. 2. Tríade portal Na tríade portal, notamos um ramo da artéria hepática formada por uma camada muscular espessa, que internamente é revestida por uma túnica de endotélio pavimentoso, que normalmente é pregueado. Mais central, temos um ramo da veia porta, formado por uma fina camada de células endoteliais pavimentosas. Ela é mais dilatada, e nos cortes histológicos visualizamos as hemácias. O ducto biliar é formado por epitélio cubico com núcleos grandes. 3. Sinusóides Podemos visualizar os hepatócitos, que tem como característica um citoplasma eosinofílico, devido a quantidade de mitocôndria e REL. O núcleo do hepatócito é bem arredondado com nucléolo evidente. Os hepatócitos formam cordões interconectados, sendo delimitado na periferia pelos sinusoides. Na parede dos sinusoides encontramos as células endoteliais e células de Kupfer (macrófagos). O canalículo biliar é formado na junção da membrana de dois hepatócitos, dessa forma, a parede do canalículo é a membrana dos hepatócitos. 3 Marcela Oliveira – Medicina 2020 No tecido normal, temos os espaços portas, tecidos homogêneos e espaços bem delimitados, No fígado com hepatite viral aguda, temos um quadro de necrose extensa, no qual temos a perca do padrão lobular, formando pseudo-lóbulos sendo separados por tecido conjuntivo substituindo células hepáticas que tiveram necrose. Também visualizamos infiltrado inflamatório, e os pontinhos escuros são células monicitticas mononucleares. Visualizamos acumulo de bilirrubina (laranja). Temos também a proliferação de ductos biliares, característico da hepatite aguda viral. 1. BALOZINAÇÃO DOS HEPATÓCITOS OU TUMEFAÇÃO No fígado vamos ter um citoplasma bem volumoso, claro e o núcleo sem uma delimitação visível e o tamanho da célula bem diferente, com um aumento citoplasmático bem grande. O que esta ocorrendo é um aumento da agua, devido a uma alteração do funcionamento da bomba de sódio, retendo esse sódio internamente e fazendo com que a agua entre para tentar equilibrar, possível de ver pela região esbranquiçada. Podemos visualizar alguns linfócitos provenientes do infiltrado inflamatório. Vemos também um acumulo de bilirrubina, resultado dessa balonização. 4 Marcela Oliveira – Medicina 2020 Percebemos um hepatócito com a forma alterada, com citoplasma bem esbranquiçado e um núcleo não delimitado. Pode ocorrer a fusão de hepatócitos adjacentes, gerando uma poliploidia (bi ou multi nucleado). Pode ser chamado de tumefação, pois o citoplasma fica turvo. 2. Colestase A colestase é o acumulo de bilirrubina, podendo ser intracelular (intrahepatocítica) ou extracelular (extrahepatocítica). A célula não vai ser capa de excretar a bilirrubina que ela produz, acumulando-se e resultando em uma colestase intra-hepática. A não excreção ocorre devido ao fato de que toda a estrutura celular esta alterando devido ao acumulo de agua, então as organelas não funciona corretamente acumulando a bilirrubina. Conforme essa bilirrubina fica acumulada e a balonização vai aumentando, ocorrendo a redução no diâmetro do canalículo, isso porque esse canalículo esta entre as células, então com o aumento das células o diâmetro do canalículo fica diminuído, reduzindo consequentemente o ducto biliar retendo a bile. 5 Marcela Oliveira – Medicina 2020 Já com a necrose das células, vai ocorrer a desestruturação do canalículo biliar. Isso é obvio, pois se a parede do canalículo é formada pela membrana do hepático, se ele sofrer necrose não haverá mais membrana que forma o canalículo. Então, ocorre o extravasamento da bile para o interstício e dai para o sangue. 3. Infiltrado inflamatório A intensa balonização resulta em um infiltrado inflamatório, que modifica todo o arcabouço do tecido hepático. Não vamos mais ter os lóbulos, e as células hepáticas vão sendo substituídos pelas células imunológicas, principalmente linfócitos e monócitos que se infiltram para o tecido hepático para tentar eliminar o vírus da hepatite A, B, C, D. Percebe-se que a posição da tríade portal já não é mais visível. Nesse aumento, podemos ver os linfócitos bem arredondados, com núcleos densos, Os plasmocitos são linfócitos ativados produtores de anticorpos. Já os macrófagos são células que fazem fagocitose e pinocitose, e neste caso eles estão englobando a bilirrubina para tentar eliminar sua concentração extracelular. 6 Marcela Oliveira – Medicina 2020 4. Proliferação ductal Vamos ter uma proliferação dos ductos biliares para tentar retirar toda a bilirrubina que vai ficando acumulada. Essa forma ocorre devido à intensa balonização que resulta em uma necrose. Essa necrose resulta em uma ausência de hepatócitos, sendo substituído por tecido conjuntivo. Podemos ver varias necroses focais, que começam a se juntar. Isso resulta no colapso do arcabouço reticular, formando pontes que vão unir os espaços portais, formando essa característica de uma hepatite aguda fulminante, devido a ausência do hepatócito. 7 Marcela Oliveira – Medicina 2020 Presença de um infiltrado inflamatório bem denso com muitos linfócitos, macrófagos, plasmócitos ao redor do espaço porta. A proliferação ductal é na verdade uma atividade regenerativa. O que ocorre é que no espaço em que divide dois lóbulos, os hepatócitos que ainda não entraram em necrose, começa a se proliferar excessivamente originando células progenitoras epiteliais hepáticas bipotenciais, ou seja, eles estão tentando regenerar o tecido. E essas características dos hepatócitos lembra o epitélio biliar (cúbico). 1. COLAPSO DO ARCABOUÇO RETICULAR Ocorre devido à necrose dos hepatócitos. Não visualizamos mais os cordões de hepatócitos, mas percebemos sinusoides dilatados, pois houve essa destruição maciça dos hepatócitos. No aumento, vemos a presença de hemácias nos sinusoides extremamente dilatados. Sem hepatócitos e com um infiltrado de leucócitos e monócitos. 8 Marcela Oliveira – Medicina 2020 É conhecida também como lesões hepáticas induzidas por drogas/medicamentos (LHID) ou também por Hepatite tóxica. Essas lesões hepáticas são uma complicação potencial de muitos medicamentos usados no tratamento de inúmeras doenças. As características histológicas são parecidas com de outras hepatites, com presença de: Infiltrado inflamatório; diferencia-se pelo predomínio de eosinófilos, enquanto na hepatite viral o infiltrado é de linfócitos. Necrose zonal: nesse caso é zonal,ou seja, atinge zonas diferentes do lóbulo hepático. Nesse caso atinge tanto a zona 3 como a zona 1. Colestase intra-hepática: ocorre porque o medicamento vai alterar o mecanismo intra- hepático de formação da bile, e essa bile não vai ser excretada ficando acumulada. Esteatose Ocorre devido à interferência na síntese de determinadas proteínas no RER. A ausência da produção dessas proteínas interfere no empacotamento dos triglicerídeos em VLDL, ficando acumulado dentro da célula. Portanto, ocorre um acumulo de gordura dentro do hepatócito. A esteatose é visualizada por vacualização citoplasmática, que são espaços esbranquiçados. No aumento, percebemos um vacúolo bem arredondado, bem delimitado. Eles podem se confluir formando um vacúolo grande, podendo deslocar o núcleo e o citoplasma do hepatócito para a periferia.