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1 Saúde Mental/Psiquiatria Laura Borges SAÚDE MENTAL/PSIQUIATRIA TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE Evolução histórica: 1835 – Prichard: descrição de insanidade moral 1874 – Maudsley: privação congênita de senso moral 1891 – Koch: introdução do termo “psicopatia” 1923 – Kurt Schneider: publicação de “Personalidades Psicopáticas” 1941 – Hervey Cleckley: publicação de “A máscara de Sanidade” 1968 – publicação do DSM-II e utilização do termo “personalidade anti-social” 1980 – publicação do DSM –III 1986 – Person: vê a psicopatia como “um transtorno dos impulsos no qual o alívio da ansiedade a curto prazo é mais importante do que qualquer consequência a longo prazo 1987 – publicação do DSM – III – R 1988 – retorno do uso do termo “psicopata” 1994 – publicação do DSM-IV 2000 – DSM-IV-TR 2012 – DSM V Definições: Personalidade: “Modo característico como a pessoa sente, pensa, reage, se comporta e se relaciona com as outras pessoas” (Widiger, 2011) o Persona significa máscara o (Bastos, 1997) Define personalidade: “É o conjunto integrado de traços psíquicos consistindo no total das características individuais, em sua relação com o meio, conjugando tendências inatas e experiências adquiridas no curso de sua existência” Tipologia humana: (E. Kretschmer, W.H. Sheldon) Ela integra várias dimensões e aspectos relacionados a personalidade, constituição corporal, temperamento, caráter e traços de personalidade o Constituição corporal (biotipologia) E. Kretschmer dividiu os tipos humanos em três grupos morfológicos e psicológicos distintos: Os leptossômicos ou astênicos (magro) Os pícnicos (gordos) Os atléticos ou musculares. o Temperamento: Seria, portanto determinado por fatores genéticos ou constitucionais precoces que formariam a base genético-neuronal da personalidade. Exemplos: Indivíduos passivos, hipoativos com temperamento astênico Temperamento astênicos que seriam ativos com forte tendência a iniciativa e a reagir prontamente aos estímulos ambientais. o Caráter: Segundo (Alonso-Fernandéz, 1976) o caráter seria o conjunto de elementos da personalidade de base psicossocial e sociocultural. Ex. As influências do meio familiar e sociocultural desde a primeira infância, em que vão ocorrer reação da pessoa aos diversos estímulos do meio ambiente. o Tipologias Humanas ou Padrões de Personalidade: Consiste em agrupar as pessoas em “tipos” pelas suas características individuais, modos de ser e reagir, fragilidades e pontos fortes. A primeira tipologia foi a da escola Hopocrática 2 Saúde Mental/Psiquiatria Laura Borges A interação entre o temperamento e o caráter gera a personalidade. Cinco domínios: domínio do modelo dos cinco grandes fatores (Big Five) e do modelo alternativo do DSM-V para traços de personalidade. Transtornos da personalidade: considerando os cinco domínios Nível de funcionalidade no Modelo Alternativo do DSM-V: 3 Saúde Mental/Psiquiatria Laura Borges Agrupamentos: 4 Saúde Mental/Psiquiatria Laura Borges Transtornos de personalidade do Grupo A: 1. TRANTORNO DE PERSONALIDADE PARANÓIDE (F60.0) Critérios Diagnósticos: A. Um padrão de desconfiança e suspeita difusa dos outros, de modo que suas motivações são interpretadas como malévolas, que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes: 1. Suspeita, sem embasamento suficiente, de estar sendo explorado, maltratado ou enganado por outros. 2. Preocupa-se com dúvidas injustificadas acerca da lealdade ou da confiabilidade de amigos e sócios. 3. Reluta em confiar nos outros devido a medo infundado de que as informações serão usadas maldosamente contra si. 4. Percebe significados ocultos humilhantes ou ameaçadores em comentários ou eventos benignos. 5. Guarda rancores de forma persistente (i.e., não perdoa insultos, injúrias ou desprezo) 6. Percebe ataques a seu caráter ou reputação que não são percebidos pelos outros e reage com raiva ou contra-ataca rapidamente. 7. Tem suspeitas recorrentes e injustificadas acerca da fidelidade do cônjuge ou parceiro sexual. B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressivo com sintomas psicóticos ou outro transtorno psicótico e não é atribuível aos efeitos fisiológicos de outra condição médica. Nota: Se os critérios são atendidos antes do surgimento de esquizofrenia, acrescentar “pré-mórbido”, isto é, “transtorno da personalidade paranoide (pré-mórbido) ”. 2. TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ESQUIZÓIDE (F60.1) Critérios Diagnósticos A. Um padrão difuso de distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita de expressão de emoções em contextos interpessoais que surgem no início da vida adulta e estão presentes em vários contextos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes: 1. Não deseja nem desfruta de relações íntimas, inclusive ser parte de uma família. 2. Quase sempre opta por atividades solitárias. 3. Manifesta pouco ou nenhum interesse em ter experiências sexuais com outra pessoa. 4. Tem prazer em poucas atividades, por vezes em nenhuma. 5. Não tem amigos próximos ou confidentes que não sejam os familiares de primeiro grau. 6. Mostra-se indiferente ao elogio ou à crítica de outros. 7. Demonstra frieza emocional, distanciamento ou embotamento afetivo. B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressivo com sintomas psicóticos, outro transtorno psicótico ou transtorno do espectro autista e não é atribuível aos efeitos psicológicos de outra condição médica. Nota: Se os critérios são atendidos antes do surgimento de esquizofrenia, acrescentar “pré-mórbido”, isto é, “transtorno da personalidade esquizoide (pré-mórbido) ” 3. TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ESQUIZOTÍPICA (F 21) Critérios diagnósticos: A. Um padrão difuso de déficits sociais e interpessoais marcado por desconforto agudo e capacidade reduzida para relacionamentos íntimos, além de distorções cognitivas ou perceptivas e comportamento excêntrico, que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes: 1. Ideias de referência (excluindo delírios de referência). 2. Crenças estranhas ou pensamento mágico que influenciam o comportamento e são inconsistentes com as normas subculturais (p. ex., superstições, crença em clarividência, telepatia ou “sexto sentido”; em crianças e adolescentes, fantasias ou preocupações bizarras). 5 Saúde Mental/Psiquiatria Laura Borges 3. Experiências perceptivas incomuns, incluindo ilusões corporais. 4. Pensamento e discurso estranhos (p. ex., vago, circunstancial, metafórico, excessivamente elaborado ou estereotipado). 5. Desconfiança ou ideação paranoide. 6. Afeto inadequado ou constrito. 7. Comportamento ou aparência estranha, excêntrica ou peculiar. 8. Ausência de amigos próximos ou confidentes que não sejam parentes de primeiro grau. 9. Ansiedade social excessiva que não diminui com o convívio e que tende a estar associada mais a temores paranoides do que a julgamentos negativos sobre si mesmo. B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressivo com sintomas psicóticos, outro transtorno psicótico ou transtorno do espectro autista. Nota: Se os critérios são atendidos antes do surgimento de esquizofrenia, acrescentar “pré-mórbido”, isto é, “transtorno da personalidade esquizotípica (pré-morbido) ” Transtornos de personalidade do Grupo B: 1. TRANTORNO DA PERSONALIDADE HISTRIÔNICA (F 60.4) Critérios Diagnósticos: Umpadrão difuso de emocionalidade e busca de atenção em excesso que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes: 1. Desconforto em situações em que não é o centro das atenções. 2. A interação com os outros é frequentemente caracterizada por comportamento sexualmente sedutor inadequado ou provocativo. 3. Exibe mudanças rápidas e expressão superficial das emoções. 4. Usa reiteradamente a aparência física para atrair a atenção para si. 5. Tem um estilo de discurso que é excessivamente impressionista e carente de detalhes. 6. Mostra autodramatização, teatralidade e expressão exagerada das emoções. 7. É sugestionável (i.e., facilmente influenciado pelos outros ou pelas circunstâncias). 8. Considera as relações pessoais mais íntimas do que na realidade são 2. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE NARCISITA (F60.81) Critérios Diagnósticos Um padrão difuso de grandiosidade (em fantasia ou comportamento), necessidade de admiração e falta de empatia que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes: 1. Tem uma sensação grandiosa da própria importância (p. ex., exagera conquistas e talentos, espera ser reconhecido como superior sem que tenha as conquistas correspondentes). 2. É preocupado com fantasias de sucesso ilimitado, poder, brilho, beleza ou amor ideal. 3. Acredita ser “especial” e único e que pode ser somente compreendido por, ou associado a, outras pessoas (ou instituições) especiais ou com condição elevada. 4. Demanda admiração excessiva. 5. Apresenta um sentimento de possuir direitos (i.e., expectativas irracionais de tratamento especialmente favorável ou que estejam automaticamente de acordo com as próprias expectativas). 6. É explorador em relações interpessoais (i.e., tira vantagem de outros para atingir os próprios fins). 7. Carece de empatia: reluta em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e as necessidades dos outros. 8. É frequentemente invejoso em relação aos outros ou acredita que os outros o invejam. 9. Demonstra comportamentos ou atitudes arrogantes e insolentes. 3. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE BORDERLINE (f 60.3) Critérios Diagnósticos Um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem e dos afetos e de impulsividade acentuada que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes: 6 Saúde Mental/Psiquiatria Laura Borges 1. Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado. (Nota: Não incluir comportamento suicida ou de automutilação coberto pelo Critério 5.) 2. Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização. 3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si mesmo. 4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (p. ex., gastos, sexo, abuso de substância, direção irresponsável, compulsão alimentar). (Nota: Não incluir comportamento suicida ou de automutilação coberto pelo Critério 5.) 5. Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante. 6. Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor (p. ex., disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e apenas raramente de mais de alguns dias) 7. Sentimentos crônicos de vazio. 8. Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la (p. ex., mostras frequentes de irritação, raiva constante, brigas físicas recorrentes). 9. Ideação paranoide transitória associada a estresse ou sintomas dissociativos intensos Trauma desorganizador (ponto de fixação que aconteceu na infância): o “Frustração muito intensa, vivenciada como um grave risco do objeto” (Bergeret 1991) o Negligência materna: falta de cuidados básicos, maus tratos, distância afetiva o Édipo traumático: simbiose patológica, superproteção, falta de constância objetal Síndrome borderline: o 4 subgrupos: Psicóticos Neuróticos “Como se” Nuclear Borderline Psicótico: o Problemas graves com teste da realidade e sentido da própria identidade o Desistentes de formar vínculos afetivos e reagindo de forma negativa e hostil à aproximação com os outros Borderline Neurótico: o Vivenciam a depressão anaclítica Busca infrutífera de reunião simbiótica com a mãe idealizada Borderline “Como se”: o Estão situados entre o grupo de neuróticos e psicóticos o Possuem um sentido precário de identidade o Necessidade de agradar e se submeter aos outros como defesa contra a separação e o abandono Borderline Nuclear: o Detentor de características impulsivas, depressivas e agressivas o Destaca-se as relações interpessoais muito tumultuadas 4. TRANTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL (F 60.2) Critérios Diagnósticos: A. Um padrão difuso de desconsideração e violação dos direitos das outras pessoas que ocorre desde os 15 anos de idade, conforme indicado por três (ou mais) dos seguintes: 1. Fracasso em ajustar-se às normas sociais relativas a comportamentos legais, conforme indicado pela repetição de atos que constituem motivos de detenção. 2. Tendência à falsidade, conforme indicado por mentiras repetidas, uso de nomes falsos ou de trapaça para ganho ou prazer pessoal. 3. Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro. 7 Saúde Mental/Psiquiatria Laura Borges 4. Irritabilidade e agressividade, conforme indicado por repetidas lutas corporais ou agressões físicas. 5. Descaso pela segurança de si ou de outros. 6. Irresponsabilidade reiterada, conforme indicado por falha repetida em manter uma conduta consistente no trabalho ou honrar obrigações financeiras. 7. Ausência de remorso, conforme indicado pela indiferença ou racionalização em relação a ter ferido, maltratado ou roubado outras pessoas. B. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade. C. Há evidências de transtorno da conduta com surgimento anterior aos 15 anos de idade. D. A ocorrência de comportamento antissocial não se dá exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou transtorno bipolar. Koch afirmou que “até mesmo nos piores casos as irregularidades não seriam equivalentes a um distúrbio mental”, referindo-se a este último como os casos de insanidade e idiotia. Seu conceito de “inferioridades psicopáticas” envolvia a maioria das doenças mentais “não psicóticas”, bem como o que atualmente chamamos de transtorno de personalidade ou psicopatia. Kurt Schneider escreveu que as personalidades anormais são variações de uma faixa média que se tem em mente. Decisivo é o critério do termo médio, não uma norma de valor. Das personalidades anormais distingue como personalidades psicopáticas aquelas que sofrem com sua anormalidade ou que assim fazem sofrer a sociedade. Os 10 tipos predominantes de personalidade descritos por Schneider: o Hipertímicos o Depressivos o Inseguros de si o Fanáticos o Necessitados de valorização o Lábeis de humor o Explosivos o Frios de sentimentos o Abúlicos o Astênicos Cleckley via o psicopata como um indivíduo não manifestamente psicótico, mas cujo comportamento era tão caótico e fracamente sintonizado às exigências da realidade e da sociedade, indicando uma psicose subjacente. o O termo psicopata perdeu prestígio durante as décadas subsequentes ao trabalho pioneiro de Cleckley. O termo sociopata foi utilizado por algum tempo, refletindo ostensivamente as origens mais sociais do que psicológicas de algumas das dificuldades encontradas por esses indivíduos. Os critérios do DSM-III estreitaram o foco do transtorno para uma população criminosa, propensa a estar em conexão com grupos socioeconômicosinferiores oprimidos e desfavorecidos. Os critérios de Cleckley para psicopatia: o Encanto superficial e boa inteligência o Ausência de delírios e outros sinais de pensamento irracional o Ausência de nervosismo o Inconfiabilidade o Mendacidade ou falta de sinceridade o Falta de remorso ou vergonha o Comportamento antissocial inadequadamente motivado o Fraco Juízo crítico e incapacidade de aprender à partir da experiência o Egocentrismo e incapacidade de amar o Pobreza generalizada em importantes reações afetivas o Perda específica de insight o Irresponsabilidade nas relações interpessoais em geral o Comportamento extravagante e desagradável com, e às vezes sem bebida o Suicídio raramente realizado 8 Saúde Mental/Psiquiatria Laura Borges o Vida sexual impessoal, trivial e fracamente integrada o Incapacidade de seguir qualquer plano de vida Principais tópicos no estudo do comportamento antissocial dos pacientes do segundo Serafim (2003): o Loquacidade/charme superficial; o “Superestima” o Necessidade de estimulação/tendência ao tédio; o Mentira patológica; o Vigarice ou manipulação; o Ausência de remorso ou culpa; o Insensibilidade afetivo-emocional; o Indiferença/falta de empatia; o Estilo de vida parasitário; o Descontroles comportamentais; o Promiscuidade sexual; o Distúrbios de conduta na infância; o Ausência de metas realistas a longo prazo; o Impulsividade; o Irresponsabilidade; o Fracasso em aceitar responsabilidade pelos próprios atos; o Delinquência juvenil; o Versatilidade criminal. Os pacientes com problemas antissociais são, em sua maioria, do sexo masculino, e de fato a razão masculino- feminino entre os transtornos de personalidade antissocial varia de 4:1 a 7,8:1. Conceito de Transtorno de Personalidade Antissocial segundo o DSM-V: o Característica essencial: padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros, que inicia na infância ou começo da adolescência e continua na idade adulta. Sinônimos: psicopatia, sociopatia ou transtorno da personalidade dissocial. o Transtorno de personalidade, usualmente vindo de atenção por uma disparidade flagrante entre o comportamento e as normas sociais predominantes. Pode também haver irritabilidade persistente como aspecto associado. Transtorno de conduta durante a infância e adolescência, ainda que não invariavelmente presente, pode dar maior suporte ao diagnóstico. Inclui: personalidade (transtorno) amoral, dissocial, associal, psicopática e sociopática. o Os indivíduos com TP tendem a reagir a esses fatores procurando mudar o ambiente, em vez de buscarem uma mudança interna, por atribuírem ao meio os motivos para seu comportamento. Muitos são egossintônicos ao comportamento, não sofrendo, mas aceitando tal comportamento. o Os TP são classificados quanto às suas categorias, podendo um indivíduo apresentar quadro clínico caracterizado por um predomínio de manifestações de um determinado tipo de TP, mas com presença simultânea de características de um outro tipo. Por isso a classificação dos TP não pode ser rigidamente absorvida. Transtorno antissocial da personalidade: o Esse tipo de TP é de importância especial para a Psiquiatria Forense, principalmente pela gravidade dos crimes cometidos por indivíduos portadores de transtornos dessa natureza. Tais indivíduos são capazes de práticas cruéis, embora jamais vistas por eles dessa forma. o Os psicopatas são incapazes de uma verdadeira depressão. As tentativas de suicídio entre esses pacientes tendem a provir da raiva narcisista, ao invés de um genuíno desamparo e desejo de morrer, como os pacientes com transtorno afetivo grave (Meloy, 1988). Responsabilidade penal e imputabilidade: o Responsabilidade penal significa, a obrigação ou o direito de responder perante a Lei por um fato cometido, fato este considerado pela lei vigente como um crime ou contravenção (Miguel Chalub). o A imputabilidade é a capacidade psíquica do agente de entender, no momento do delito, o caráter criminoso do fato e de se determinar de acordo com esse entendimento, resistindo ou inibindo o impulso criminoso. 9 Saúde Mental/Psiquiatria Laura Borges o Segundo Palomba, para que alguém seja responsável penalmente por determinado delito, são necessárias três condições básicas: Ter praticado o delito; Ter tido, à época, entendimento do caráter criminoso da ação; Ter sido livre para escolher entre praticar e não praticar a ação. Art. 26 do Código Penal Brasileiro: o É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. o Redução de pena o Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Inimputabilidade: o Para se apurar a inimputabilidade, existem três critérios: Biológico: depende exclusivamente da existência do transtorno mental; Psicológico: indaga sobre a capacidade do agente no momento do crime seja qual for a sua causa; Biopsicológico: configura-se quando o agente é portador de uma enfermidade, que no momento do fato criminoso, deve ter perturbado suas faculdades mentais, impedindo o autor do delito de entender o caráter criminoso ou determinar-se de acordo com esse entendimento. Semi-imputabilidade: o “Ocupam essa faixa cinzenta os estados atenuados, incipientes e residuais de psicoses, certos graus de oligofrenias e, em grande parte, as chamadas personalidades psicopáticas e os transtornos mentais transitórios quando afetam, sem excluir, a capacidade de entender e de querer” (Aníbal Bruno). Responsabilidade criminal do psicopata: o Segundo a Dra. Hilda Morana, o psicopata verdadeiro tem entendimento do que faz. Tem preservado a sua capacidade de compreensão da realidade, mas a capacidade de determinação encontra-se prejudicada pela perturbação da capacidade de controlar-se. Contudo, salvo em casos de psicopatas explosivos, a jurisprudência opta pela plena imputabilidade. Transtornos específicos de personalidade: transtorno antissocial da personalidade: o TP Esquizotípico o TP Esquizóide o TP Paranóide o TP Narcisista o TP Borderline o TP Anti-social o TP Histriônico o TP Obsessivo-compulsivo o TP Dependente o TP Esquiva O psicopata comete 4 vezes mais crimes violentos que o criminoso comum. o 20% da população carcerária é psicopata o Psicopatas cometem 44% dos homicídios de policiais nos EUA o A possibilidade de o psicopata matar estranhos é 7 vezes maior que entre outros criminosos o 50% dos psicopatas reduzem sua atividade criminosa após os 40 anos Transtornos de personalidade do Grupo C: 10 Saúde Mental/Psiquiatria Laura Borges 1. TRANTORNO DA PERSONALIDADE EVITATIVA (F 60.6) Critérios Diagnósticos: Um padrão difuso de inibição social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade a avaliação negativa que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes: 1. Evita atividades profissionais que envolvam contato interpessoal significativo por medo de crítica, desaprovação ou rejeição 2. Não se dispõe a envolver-se com pessoas, a menos que tenha certeza de que será recebido de forma positiva. 3. Mostra-se reservado em relacionamentos íntimos devido a medo de passar vergonha ou de ser ridicularizado. 4. Preocupa-se com críticas ou rejeição em situações sociais. 5. Inibe-se em situações interpessoais novas em razão de sentimentos de inadequação. 6. Vê a si mesmo comosocialmente incapaz, sem atrativos pessoais ou inferior aos outros. 7. Reluta de forma incomum em assumir riscos pessoais ou se envolver em quaisquer novas atividades, pois estas podem ser constrangedoras 2. TRANTORNO DA PERSONALIDADE DEPENDENTE (F 60.7) Critérios Diagnósticos: Uma necessidade difusa e excessiva de ser cuidado que leva a comportamento de submissão e apego que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes: 1. Tem dificuldades em tomar decisões cotidianas sem uma quantidade excessiva de conselhos e reasseguramento de outros. 2. Precisa que outros assumam responsabilidade pela maior parte das principais áreas de sua vida. 3. Tem dificuldades em manifestar desacordo com outros devido a medo de perder apoio ou aprovação. (Nota: Não incluir os medos reais de retaliação.) 4. Apresenta dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas por conta própria (devido mais a falta de autoconfiança em seu julgamento ou em suas capacidades do que a falta de motivação ou energia). 5. Vai a extremos para obter carinho e apoio de outros, a ponto de voluntariar-se para fazer coisas desagradáveis. 6. Sente-se desconfortável ou desamparado quando sozinho devido a temores exagerados de ser incapaz de cuidar de si mesmo. 7. Busca com urgência outro relacionamento como fonte de cuidado e amparo logo após o término de um relacionamento íntimo. 8. Tem preocupações irreais com medos de ser abandonado à própria sorte. 3. TRANTORNO DA PERSONALIDADE OBSESSIVO-COMPULSIVA (F 60.5) Critérios Diagnósticos: Um padrão difuso de preocupação com ordem, perfeccionismo e controle mental e interpessoal à custa de flexibilidade, abertura e eficiência que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes: 1. É tão preocupado com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou horários a ponto de o objetivo principal da atividade ser perdido. 2. Demonstra perfeccionismo que interfere na conclusão de tarefas (p. ex., não consegue completar um projeto porque seus padrões próprios demasiadamente rígidos não são atingidos). 3. É excessivamente dedicado ao trabalho e à produtividade em detrimento de atividades de lazer e amizades (não explicado por uma óbvia necessidade financeira). 4. É excessivamente consciencioso, escrupuloso e inflexível quanto a assuntos de moralidade, ética ou valores (não explicado por identificação cultural ou religiosa). 5. É incapaz de descartar objetos usados ou sem valor mesmo quando não têm valor sentimental. 6. Reluta em delegar tarefas ou trabalhar com outras pessoas a menos que elas se submetam à sua forma exata de fazer as coisas. 11 Saúde Mental/Psiquiatria Laura Borges 7. Adota um estilo miserável de gastos em relação a si e a outros; o dinheiro é visto como algo a ser acumulado para futuras catástrofes. 8. Exibe rigidez e teimosia Neurobiologia dos Transtornos da Personalidade: Avanços na compreensão da interação gene-ambiente permitem a busca de novas intervenções terapêuticas nessa área. Com a evolução da neuroimagem, da genética e da neuroendocrinologia, pesquisadores puderam identificar genes de suscetibilidade, influências epigenéticas e regulação neuroendócrina do comportamento normal, sendo possível, a partir desse ponto, identificar as diferenças individuais dos temperamentos. Transtorno da personalidade Borderline: o GENÉTICA: É um transtorno multifatorial complexo Há interação de fatores genéticos e ambientais Estudos com família com herdabilidade estimada em 40% A sintomatologia polimórfica do TPB tem sido um desafio para busca de genes de suscetibilidade de fazem associação de variantes genéticas (polimorfismos), e fenótipos sindrômicos evidentes Estudos laboratoriais evidenciaram alterações neuroquímicas, comprometendo a função dos sistemas da transmissão da serotonina, do GABA, envolvido o controle inibitório Sintomas observados no TPB, como agressividade e impulsividade geralmente se desenvolve por disfunção inibitória. Ex. Pacientes com comportamento suicida e agressivo/impulsivo apresentam diminuição do metabólito da serotonina, o ácido 5-Hidroxi-indolacético, no liquido cérebro espinhal. Ocorre então: uma redução central da atividade serotoninérgica nos indivíduos com impulsividade/agressividade e eles demonstraram fraca resposta à estimulação farmacológica com a flenfluramina (agonista serotoninérgico), sugerindo redução central da atividade serotoninérgica, daí tratar esses pacientes com inibidores seletivos da recaptação de serotonina. Os genes candidatos mais amplamente estudados foram os do sistema serotoninérgico. Vários outros genes estão sendo estudados como os dos sistemas dopaminérgico, glutamatérgico, e glicocorticóide. Um estudo da Associação Genômica (GWAS) verificou genes no cromossoma 1(DPD) e no cromossoma 2(PKP4), associados a características fenotípicas do TPB. o MAUS TRATOS NA INFÂNCIA: Influenciam fortemente o desenvolvimento neurológico e a sensibilização ao estresse. Vão ocorrer falta de estímulos necessários ao desenvolvimento de estruturas cerebrais em períodos críticos da neurogênese, da mielização e da modelagem sináptica em áreas fundamentais do cérebro social. Ocorre também a desregulação, pelo estresse do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal (HPA). Vários estudos demonstraram que jovens com risco genético (história familiar de transtorno psiquiátrico) e que foram vítimas de maus tratos físicos encontraram riso 13 vezes maior para sintomas de TPB. o SISTEMA NEURO-ENDÓCRINO: A hiper-reatividade aos estressores tem sido relacionada a níveis elevados do hormônio do estresse, o cortisol basal. O hormônio oxitocina conhecida como hormônio do amor e hormônio da empatia envolvida no processo de interação pais-bebê e interação social. 12 Saúde Mental/Psiquiatria Laura Borges A oxitocina parece diminuir a responsividade da amígdala para atenuar a ação dos hormônios do estresse e modular a atividade cerebral em redes neurais cognitivas. o NEUROCIRCUITO DA DOR: A automutilação está presente em 70% a 80% dos pacientes com TPB em situações de desconforto. Esses momentos são descritos como sentimento de morte ou incapacidade de sentir, não havendo em geral a percepção de dor. Vai ocorrer o aumento dos opióides no momento do ato, causando anestesia e diminuindo o estresse. o NEUROIMAGEM: Os achados de neuroimagem no TPB apresentam as seguintes localizações: Córtex pré-frontal-diminuição de volume dos córtices orbito frontal esquerdo, medial e dorsolateral. Cíngulo anterior- diminuição do volume e substância cinzenta. Hipocampo- Diminuição de volume e ínsula com diminuição de volume. Tratamento: Tratamento farmacológico dos Transtornos de Personalidade. o As intervenções farmacológicas ou seja o benefício do uso de medicamentos no tratamento no TPs até o momento é, em geral, modesto, e as discussões farmacológicas dedicam-se, predominantemente, ao efeito em geral complicador dos diferentes TPs sobre os transtornos de humor e de ansiedade. o Os medicamentos usados: Transtorno de Personalidade Evitativa: quadro este associado a crise de ansiedade e fobia social os medicamentos utilizados são: ISRS (paroxetina; sertralina; fluvoxamina) IMAO (inibidor de monoaminoxidase) IRSN (venlafaxina) Transtorno de Personalidade Esquizotípica Quadro esse relacionado a esquizofrenia. Tomografias computadorizadas por emissão de fótons em pacientes com esse transtorno sugerem alterações dopaminérgicas. Uso de Risperidona (0,25-2mg/dia) reduzem a gravidade dos sintomas negativos. Uso de Olanzapina da dose média de 9.32 mg /dia promoveu uma melhora no funcionamento global e de sintomas depressivos epsicóticos. Uso de Aripiprazol 10 mg /dia Transtorno de Personalidade Antissocial O primeiro fármaco apresentado foi o carbonato de lítio, que demonstrou reduzir a raiva, o comportamento ameaçador e a agressividade entre adultos e crianças. Outros medicamentos usados são: o Carbamazepina; Oxcarbazepina, Valproato de sódio, Topiramato, antipsicóticos atípicos, Trazodona, inibidores seletivos da recaptação da serotonina. Relatos de casos em sujeitos com TPAS em hospitais de segurança máxima no Reino Unido, evidenciaram melhora no comportamento agressivo após o uso de Clozapina ou de Palmitato de Paliperidona injetável. Transtorno da Personalidade Borderline Técnicas de orientação psicodinâmica, e terapia cognitiva-comportamental e terapia cognitiva-analítica mostraram-se efetivas no tratamento em alguns pacientes com TPB. 13 Saúde Mental/Psiquiatria Laura Borges Segundo uma metanálise realizada por Nose e colaboradores, em pacientes com TPB, antidepressivos e estabilizadores do humor, reduz a raiva e a instabilidade afetiva. O funcionamento global a impulsividade e a agressividade melhoram com o uso de antipsicóticos (Olanzapina, Quetiapina, Risperidona) Em função do grande debate sobre a proximidade e a superposição dos transtornos bipolares e do TPB, não é surpreendente que anticonvulsivantes, como Topiramato, Carbamazepina, Oxcarbazepina e Lamotrigina tenham sido utilizados em diferentes estudos abertos e em um estudo controlado com Ácido Valpróico. O uso de Alprazolam e Tricíclicos não trouxe benefícios. O que há de novo? Acredita-se que a Ocitocina exerça seu papel farmacológico central atuando na via de modulação da atividade neuronal. Achados metanalíticos indicam que a Ocitocina aumenta a atividade pré-frontal, bem como funcional, na conectividade do circuito pré-frontal-amígdala e diminui a conectividade entre a amígdala e o tronco encefálico, regiões que estão envolvidas em comportamentos de luta ou fuga, em resposta às ameaças.
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