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1 Saúde Mental / Psiquiatria Laura Borges SAÚDE MENTAL/PSIQUIATRIA TRANSTORNOS DE ANSIEDADE Definição: Estado emocional composto por manifestações: o Físicas: sudorese, taquicardia, incômodo no TGI, vertigem, tremor, leve cefaleia (manifestações autonômicas) o Psicológicas: apreensão, preocupação o Comportamentais: inquietação, sem lugar, mexer a mão Ativa o organismo para situações novas, boas ou más (a ansiedade nem sempre é ruim, ela é importante muitas vezes) Resposta adaptativa x transtorno incapacitante Ansiedade anormal ou patológica: Intensidade: elevada Duração: prolongada ao longo da vida/determinados momentos Frequência: repetição é a regra Interfere, em graus variados, com o desempenho do indivíduo “Paralisa” o indivíduo Sofrimento no portador Variação entre as pessoas Tem ansiedade normal, ansiedade traço (a pessoa já nasceu com uma certa ansiedade que não chega a ser patológica, passa a ser traço da personalidade dela) e ansiedade patológica (ansiedade estado). Transtornos de ansiedade: 1. Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): Preocupação ou ansiedade excessiva, evolução crônica (com algo real ou imaginário) 2. Transtorno do pânico: Crises de ansiedade, curta duração 3. Agorafobia: Evitação de lugares específicos (é um dos mais incapacitantes) 4. Fobia social: Evita situações em que pode ser avaliado (ex: apresentações em público) 5. Fobia específica/simples: situações ou objetos específicos 6. Estresse pós-traumático: Após acontecimento traumático 7. Transtornos de Ansiedade na Infancia/Adolescencia (TAIA) São os transtornos mais comuns Prevalência ao longo da vida: 10% a 30% 1 em 5 pacientes na atenção básica TAG é a mais comum na atenção básica que na população em geral Transtorno de ansiedade social: menos consultas Superposição de sintomas: Ansiedade Somatização Depressão 2 Saúde Mental / Psiquiatria Laura Borges Medo, evitação, preocupação: o Ativação do eixo HPA (hipotálamo-hipófise-adrenal) o Aumento do cortisol o Aumento risco coronário, DM e AVC o Atrofia hipocampal (de forma crônica, não sendo tão significativo) 1. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA (TAG): Preocupação ou ansiedade excessivas, desproporcional a um possível evento, situação que esteja ocorrendo ou que vai ocorrer. Períodos de melhor/piora 3% da população geral Mulheres jovens Relato de: o Dificuldade para relaxar, diz que está sempre tensa, com dores pelo corpo. o Nervosismo, irritabilidade e falta de paciência o Cansaço fácil o Preocupação excessiva com possibilidade da ocorrência de doença ou acidentes. Se alguém viaja ou se atrasa fica quase que paralisada e muito ansiosa até que receba notícias da pessoa. Com isso, pela preocupação constante, tem dificuldade de concentração e esquecimentos frequentes o Geralmente não dormem bem, insônia inicial Deitam-se e ficam pensando, de forma catastrófica, no que poderia acontecer no dia seguinte (viagem ou situação nova) o Sintomas físicos: boca seca, mãos ou pés úmidos, enjoos, diarreia, aumento da frequência urinária, sudorese, dificuldade para engolir ou bolo na garganta. E isso interfere no desempenho pessoal, social e familiar Tratamento: deve ser feito em casos de prejuízos muito grandes - Tratamento deve ser feito nos casos mais severos - Casos leves podem obter alívio com mudanças de hábitos, exercícios físicos regulares, atividades em grupo - A psicoterapia (TCC – terapia cognitiva comportamental), deve ser indicada para aqueles pacientes que não melhoram com as condutas acima ou que apresentam quadros graves o Antidepressivos: mais eficazes na preocupação excessiva (ansiedade mais psíquica), trata depressão associada e tem menor risco de dependência. Venlafaxina 37,5 – 75mg ISRS (qualquer um deles) Tricíclicos (25-50 mg) – são menos usados hoje pelos efeitos colaterais o Benzodiazepínicos (BMZ, CNZ, APZ): mais rápidos, mais eficazes em sintomas físicos, sem piora inicial. Maior risco de dependência. Pode ser usado apenas quando necessário, quando a ansiedade estiver muito forte. Bromazepam Clonazopam Alprazolam Diazepam 2. TRANSTORNO DO PÂNICO: crises recorrentes e inesperadas (não tem fator desencadeante) de forte ansiedade/medo, sem fator desencadeante, atinge intensidade máxima em 10-20 minutos. A 3 Saúde Mental / Psiquiatria Laura Borges crise passa em 20-40 minutos, seguida por cansaço, fraqueza, pernas bambas, que podem persistir por mais tempo. Importante: para caracterizar uma crise de pânico a duração não deve exceder 30 minutos Crises que duram o “dia inteiro”: rever o diagnóstico (TAG, somatização, simulação ou outra coisa qualquer) Epidemiologia: o 1 a 4% da população, mulheres, 30 anos, rara em crianças e pouco frequente na adolescência (podem ser favorecidas por algumas situações de mudança de vida por exemplo, como mudança de cidade... Na adolescência pode acontecer no início ou no final pelas mudanças). o O transtorno pode durar meses ou anos o Crises podem ocorrer de forma mais espaçada (uma por semana, duas por mês), ou serem mais frequentes (diárias, 3 vezes por semana) Ataques de pânico: o No momento da crise: falta de ar, tremor, tontura, taquicardia, ondas de calor/ frio, sudorese, mãos geladas, formigamento, dor ou desconforto torácico, náuseas o Não é necessário apresentar todos sintomas o Sintomas sempre presentes, isolados ou em conjunto: Sensação de morte iminente, de estar enlouquecendo ou de desmaio. o Pode ocorrer: Despersonalização: sensação de não ser ela mesma Desrealização: sensação de que o ambiente está diferente o Indivíduo acha que vai morrer, vai pro PA, chama o SAMU etc. No hospital a crise já passou. O médico fala que deve ser ansiedade, prescreve um tranquilizante e manda a pessoa para casa. As crises voltam a ocorrer. Aí a pessoa vai ao cardiologista, faz exames e mais exames, vai a outros médicos até que algum levante a hipótese de pânico. (DD: prolapso mitral podem causar sintomas parecidos e pode ser também um achado casual na investigação do paciente com pânico). Critérios diagnósticos: o Fundamental a presença de vários ataques no período de semanas/meses o Um só ataque todo mundo pode ter (associado a situação ameaçadora/estressante, depressão, etc) Porém, algumas pessoas apresentam apenas um ataque, suficientemente grave para causar extrema preocupação com a possibilidade de sofrer novos ataques e gerar manifestações fóbicas, hipocondríacas e evitativas, requerendo tratamento. Evolução do transtorno de pânico: o O quadro pode ser leve, evoluir naturalmente para melhora, a pessoa aprende a lidar com as crises e não precisa de tratamento. o Outros podem desenvolver agorafobia, ansiedade antecipatória, evitação de situações ou lugares, hipocondria Tratamento: o A primeira coisa a ser feita é tranquilizar o paciente: Dizer que a crise não mata, que é passageira, dura poucos minutos, que a pessoa deve procurar um local aberto e mais ventilado (isso tranquiliza), que tem tratamento etc 4 Saúde Mental / Psiquiatria Laura Borges o Apenas um ataque, sem desenvolver agorafobia e sem outros sintomas: não tratar com medicação. Apenas aconselhamento e psicoterapia se necessário o Medicamentoso: qualquer ISRS pode ser utilizado – aumento da ansiedade no início, podem agravar o quadro, então usar benzodiazepínico nos primeiros 7 a 15 dias. Sertralina, iniciando com 25mg/4 dias e aumentar para 50mg Dependendo da frequência das crises: Alprazolam 0,5mg, 2-4 vezes/dia e em caso de necessidade (tem início mais rápido de ação) Rivotril 0,25, sublingual Tratamento por 1 a 2 anos Crise noturna: o paciente acorda a noite com a crise, o diagnóstico émais difícil por ser confundido com patologias cardiovasculares (ex: IAM). 3. AGORAFOBIA: Evitação de lugares ou situações por medo de passar mal e não ter ajuda ou não ter como sair do lugar onde se encontra Não teme as situações, apenas tem medo de passar mal. Geralmente associada ao pânico. Situações mais comuns: o Túneis, passarelas, pontes, avenidas largas, rodovias, multidões, igreja, shopping centers, restaurantes, filas, cinemas, elevadores, ficar sozinho em casa etc. Tranquilo na presença de alguém Complicações: depressão, suicídio, diagnóstico errado (tratado como psicótico, esquizofrênico) Tratamento: o Não há medicação específica o Medicação alivia sintomas associados o Terapia cognitivo/comportamental 4. FOBIA SIMPLES: Fobia específica a uma situação ou objeto Diferentes “fisiopatologias” e prevalências o H = M: altura / M > H: tempestade o Início: aprendizado (alguém próximo que tem), condicionamento, espontâneo Fobia de altura: alteração controle postura/equilíbrio (alteração vestibular) Prevalência > 10% (a maioria não procura tratamento). Tratamento: o Não tem tratamento específico o Só tratar se for incapacitante, causar sofrimento e/ou se o tratamento for necessário para o indivíduo. o Psicoterapia o Benzodiazepínico SOS o ISRS (principalmente se tiver alguma comorbidade associada como depressão) 5. FOBIA SOCIAL: Medo persistente e irracional que faz a pessoa evitar situações em que possa ser observada, avaliada pelos outros e encontrar-se em posição humilhante ou embaraçosa Sintomas comuns: 5 Saúde Mental / Psiquiatria Laura Borges o Tremor, rubor, sudorese, taquicardia, tensão, abalos musculares, bolo na garganta, dificuldade para falar, desconforto abdominal, “branco na mente”. o Para o diagnóstico é necessário apresentar forte ansiedade sempre que exposto a determinadas situações, as quais passa a evitar. Prevalência: 13% Início na adolescência (pode ser causada por algum tipo de constrangimento ou bullying sofrido na adolescência) Associada com depressão (50%), abuso de substâncias (30%), suicídio (14%). Mais nos homens Circunscrita ou generalizada (situações limitadas ou diferentes situações do dia, causando maior incapacidade) Desempenho profissional e social Situações comuns: o Falar em público, falar ao telefone, escrever, comer e beber diante de outras pessoas o Usar banheiro público o Relacionar-se com autoridades o Situações sociais: teme dizer coisas tolas ou ser incapaz de responder perguntas o Estacionar o carro Tratamento: o ISRS: Paroxetina (40 a 60) Sertralina (100 a 200) o Clonazepam (3 a 6) – quando a pessoa é exposta a alguma situação raramente o Terapia Cognitivo-Comportamental o Uso de betabloqueador principalmente quando tem sintomas físicos 6. TRANSTORNO DO ESTRESSE AGUDO E ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO: Se apresenta nos seis primeiros meses seguintes a um episódio traumático (ameaça de morte, lesão grave, violência sexual), vivido direta ou indiretamente, ou após eventos traumáticos repetidos o Inicia-se em até 6 meses Paciente evita estímulos associados, reexperimenta o evento traumático e apresenta forte ansiedade Eventos traumáticos: o Intencionais provocados pelo homem: estupro, tortura, assalto, terrorismo, suicídio, mutilação por acidente provocado por outro indivíduo o Não intencionais provocados pelo homem: incêndios, explosões, acidentes automobilísticos, aéreos e aquáticos e acidente grave de trabalho o Provocados pela natureza: ataques de animais, terremoto, furação, enchentes, epidemias, avalanche, erupção vulcânica Sintomas: o Imagens ou pensamentos intrusivos, sonhos, pesadelos, insônia, irritabilidade, evitação, dificuldade de concentração, respostas exageradas a estímulos normais ou banais, dissociação (como se a pessoa voltasse a cena original) Prevalência: 1 a 6% o 8% ao longo da vida o 25% das pessoas expostas a um trauma grave podem desenvolver 6 Saúde Mental / Psiquiatria Laura Borges o Depende da natureza e duração do trauma, fatores de personalidade, suporte social e familiar disponível, pode ter abuso de substâncias. Curso flutuante Tratamento: o Psicoterapia individual o Psicoterapia em grupo o Medicamentos: não tem nada específico, pode ser usado ISRS se tiver sintomas de ansiedade, tratar a insônia Existem traumas menores que podem desencadear problemas futuros que não necessariamente é característico de TEPT Semiologia dos transtornos ansiosos: Ansiedade – quando tratar: Gravidade, frequência, duração interfere com o desempenho e causa sofrimento? < 2 semanas: expectante > 2 semanas: o TCC o Medicação (contínua ou quando necessário) Desejo do paciente Compromisso urgente Sintomas leves de longa duração Sem outra alternativa o Exercícios físicos
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