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A icterícia consiste na coloração amarelada da pele e/ou conjuntivas, causada pela elevação da bilirrubina. Quando decorrente da indireta causa tonalidade amarelo-brilhante ou alaranjada e na direta confere pele de cor amarelo-esverdeada. BT = BD + BI Classificação da hiperbilirrubinemia: Significante: BT sérica >15–17mg/dL Grave: BT >25mg/dL Extrema: BT >30mg/dL Primeiras 24h: eritroblastose fetal, hemorragia oculta, sepse ou infecções congênitas, incluindo sífilis, citomegalovírus, rubéola e toxoplasmose. No 3º a 5º dia: geralmente é fisiológica, mas também pode ser uma icterícia não hemolítica familiar (síndrome de Crigler-Najjar) e a icterícia do aleitamento materno precoce. Na 1ª semana: e sepse bacteriana ou infecção do trato urinário; e infecções, principalmente sífilis, toxoplasmose, citomegalovírus ou enterovírus. Após a 1ª semana: icterícia do leite materno, sepse, atresia congênita ou diminuição de ductos biliares, hepatite, galactosemia, hipotireoidismo, FC e crises de anemia hemolítica congênita. Icterícia persistente no 1º mês de vida: colestase, hepatite, doença de inclusão citomegálica, sífilis, toxoplasmose, icterícia não hemolítica familiar, atresia congênita dos ductos biliares, galactosemia ou síndrome da bile espessa pós-doença hemolítica do recém-nascido. DIAGNÓSTICO CLÍNICO HIPERBILIRRUBINEMIA INDIRETA FISIOLÓGICA A icterícia fisiológica é comum, benigna e autolimitada que ocorre nos RN após as primeiras 24h de vida e por poucas semanas. É decorrente do estado de hiperbilirrubinemia total ou indireta fisiológica. FATORES DE RISCO - Idade materna; - Etnia (chineses, japoneses, coreanos e americanos nativos); - Diabetes materna; - Prematuridade; - Drogas (vitamina K3, novobiocina); - Altitude; - Policitemia; - Sexo masculino; - Trissomia do 21; - Contusões cutâneas e extravasamento de sangue (céfalo- hematoma); - Indução pela ocitocina; - Aleitamento materno; - Perda de peso (desidratação ou privação calórica); - Retardo para evacuar e antecedentes familiares de irmão com icterícia fisiológica. ETIOPATOGENIA Geralmente, o nível de bilirrubina indireta no soro do cordão umbilical é de 1-3 mg/Dl e na icterícia fisiológica ela tem uma taxa de elevação < 5 mg/dL/24 h; e por isso, a icterícia se torna visível apenas no 2º ou 3º dia e atinge seu máximo entre o 2º e o 4º dia, com 5-6 mg/dL, caindo para menos de 2 mg/dL entre o 5º e o 7º dia de vida. Evolução da BI Essa icterícia fisiológica seria decorrente dos seguintes fatores: - Aumento do volume eritrócitos/kg; - Alto hematócrito fetal; - Menor tempo de sobrevida dos eritrócitos (90 dias); - Maior eritropoiese (produção 2 a 3x a mais); - Aumento da circulação enterohepática; - Menor captação da bilirrubina plasmática; - Menor conjugação da bilirrubina indireta (BI); - Redução na excreção hepática de bilirrubina; - Imaturidade do fígado neonatal. DIAGNÓSTICO RN a termo: BT até 6-8 mg/dl no 3º dia com pico de até 12 mg/dl; RN pré-termo: BT até 10-12 mg/dl no 5º dia e um pico de até 15 mg/dl. Como ocorre amadurecimento dos sistemas, essa icterícia se limita a 10 dias. O seu diagnóstico só pode ser concluído quando houver a exclusão das causas patológicas. PATOLÓGICA É considerada patológica a hiperbilirrubinemia indireta que ocorre nas primeiras 24h de vida, com associação de outros sinais clínicos, como anemia, plaquetopenia, letargia ou perda de peso. FATORES DE RISCO - Mãe de tipagem O e/ou Rh negativo; - Irmão prévio que necessitou de tratamento para icterícia neonatal; - Mãe diabética; - Peso de nascimento entre 2.000 e 2.500 g e/ou idade gestacional entre 35 e 38 semanas (maior risco entre 35 e 36 semanas); - Sexo masculino; - Baixo aporte de leite materno na 1ª semana de vida, com perda exagerada de peso pelo RN; - Alta precoce da maternidade (antes de completar 48 horas de vida). ETIOLOGIAS São causas não fisiológicas do aumento da bilirrubina indireta: - Sobrecarga de bilirrubina ao hepatócito; - Doenças hemolíticas; - Incompatibilidade Rh e ABO; - Incompatibilidade por antígenos irregulares (c, E, Kell, etc.); - Deficiência de G6PD, doença genética associada ao cromossomo X que afeta igualmente indivíduos dos ambos os sexos. A maior incidência ocorre em pessoas com ancestrais provenientes do Mediterrâneo; - Esferocitose e eliptocitose; - Hemoglobinopatias (alfatalassemia); - Causas adquiridas; - Infecções, especialmente sepse; - Coleções sanguíneas extravasculares (céfalo-hematomas e outras hemorragias); - Policitemia; - NPO prolongado, baixo aporte de leite; - Anomalias gastrointestinais/com obstrução de trânsito; - Deficiência ou inibição da conjugação da bilirrubina; - Icterícia por leite materno; - Hipotireoidismo congênito; - Síndrome de Gilbert Síndrome de Crigler-Najjar tipos I e II. Outra causa comum é o jejum prolongado que favorece a absorção da bilirrubina no nível intestinal e seu maior aporte para a circulação sanguínea. A icterícia por leite materno se inicia entre 3 e 5 dias de vida, atingindo o pico após 2 semanas, quando começa a declina lentamente, desaparecendo entre 3 e 12 semanas após o nascimento. Ocorre em bebês saudáveis, com bom ganho de peso, sob aleitamento natural, e constitui diagnóstico de exclusão. Pode ser causada por um fator no leite materno que favoreça a absorção intestinal de bilirrubinas, por níveis elevados de beta-glucuronidase no leite ou por uma mutação polimórfica do gene UGT1A1. Não há necessidade de tratamento nem descontinuidade do aleitamento. Em casos de incompatibilidade Rh, a hemólise ocorre quando as hemácias do feto e RN, portadoras do antígeno D, são destruídas por anticorpos maternos IgG anti-D. A icterícia leve pode ser tratável no máximo por fototerapia e ter uma anemia, que pode perdurar entre 1 e 3 meses. Formas moderadas, tratadas com fototerapia por vários dias, às vezes com indicação de exsanguinotransfusão (EST) e pode ter anemia mais profunda e também encontrada até 1 a 3 meses. Formas graves, com hidropsia fetal e péssimo prognóstico. O Coombs direto é sempre positivo, e a contagem de reticulócitos, alta. Em casos de Incompatibilidade ABO a icterícia é caracterizada pela tipagem A ou B em RN de mãe O, (Rh positivo ou negativo). Aparece nas primeiras 24 ou 36 horas de vida, e a hemólise pode ocorrer por até 2 semanas. O nível de BT pode atingir 20 mg/ dL. É menos grave do que a incompatibilidade Rh. É tratada por fototerapia; em alguns casos, a EST é indicada. Prova de Coombs positiva pode ser evidenciada em 20% dos casos. DIAGNÓSTICO Deve-se suspeitar de HBI patológica nos casos de: - Ocorrência nas primeiras 24-36 horas de vida; - Crescimento da bilirrubina sérica em velocidade > 5 mg/dL/24 h; - Bilirrubina sérica > 12 mg/dL em RNs a termo ou 10-14 mg/dL em RNs pré-termo; - Icterícia persistente depois de 10-14 dias de vida; - Antecedentes familiares de doença hemolítica, palidez; - Hepatomegalia e esplenomegalia; - Falta de resposta à fototerapia; - Vômitos, letargia, recusa alimentar, perda de peso excessiva, apneia e bradicardia; - Sinais vitais anormais (inclusive hipotermia). Nesses RN deve-se realizar a dosagem rotineira da bilirrubina sérica ou transcutânea, realizada no esterno. Outros exames: - Investigação laboratorial da hiperbilirrubinemia indireta; - Bilirrubina total e frações; - Hemoglobina, hematócrito, contagem de reticulócitos; - Tipagem da mãe e RN, sistemas ABO e Rh (antígeno D); - Prova de Coombs direta (sangue de cordão ou amostra do RN) CLASSIFICAÇÃO DE RISCO COMPLICAÇÕES A principal complicação é a encefalopatia bilirrubínica. Se desenvolve quando a BI atinge 20mg/dl. Quando o nível sérico de bilirrubina se eleva de maneira significativa (hemólise maciça, eritroblastose), sua capacidade de ligação à albumina e a outrasproteínas plasmáticas fica excedida, resultando em uma maior fração livre lipossolúvel. Esta tem a capacidade de se difundir e impregnar as células nervosas do encéfalo. Fase aguda: primeiros dias e perdura por semanas. Caracterizada por letargia, hipotonia e sucção débil. Pode aparecer hipertonia (com retroarqueamento do pescoço e do tronco, progredindo com apneia, coma, convulsões e morte) com hipertermia e choro agudo de alta intensidade. Fase crônica: (Kernicterus) crianças sobreviventes. Apresentam tétrade paralisia cerebral atetoide grave, neuropatia auditiva, paresia vertical do olhar, displasia dentária e, ocasionalmente, deficiência mental. TRATAMENTO Os tratamentos utilizados são: a fototerapia, a EST, e, em alguns casos, a imunoglobulina standard endovenosa. A fototerapia consiste na exposição do RN a uma fonte de luz azul que converte a bilirrubina indireta impregnada na pele e nas mucosas, em outra substância (lumirrubina) que é incolor, atóxica, hidrossolúvel e não se acumula no cérebro. A dose de irradiância deve ultrapassar 5microW/cm2/nm a 425 a 475 nM. O RN deverá permanecer despido e com proteção ocular. A distância entra a fonte iluminadora e o paciente deve ser de 30 cm. Em casos de colestase não se faz a fototerapia pela possibilidade do desenvolvimento do Síndrome do Bebê Bronzeado, que ficam com um tom escuro, cinza-acastanhado da pele, soro e urina. A exsanguineotransfusão é indicada principalmente em casos de doença hemolítica grave por incompatibilidade Rh podendo ser indicada logo após o nascimento, quando BI for superior a 4mg/dL e/ou hemoglobina inferior a 12g/dL no sangue de cordão. A técnica mais utilizada é a do puxa-empurra, por meio da veia umbilical, utilizando um sangue de um doador. HIPERBILIRRUBINEMIA DIRETA A elevação do nível da bilirrubina direta é sempre patológica. Nessa icterícia, a pele torna-se em um tom esverdeado ou amarelo-acastanhado opaco. As principais causas são: - Obstrução; - Sepse; - Doença do trato biliar; - Toxinas; - Inflamação; - ITU; - Infecções congênitas; - Doenças metabólicas ou genéticas. Apesar de não ser neurotóxica, possui potencial de gravidade da atresia biliar. Além disso, a icterícia pode ser o primeiro sinal de disfunção hepática. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Podem estar presentes: como urina de cor escura, fezes acólicas (descorada) e hepatomegalia. Muitas vezes no início do quadro aparentam bom estado geral e adequado ganho de peso. DIAGNÓSTICO Na investigação inicial deve-se analisar: hemograma completo, contagem de plaqueta, bilirrubina total e direta, ALT, AST, fosfatase alcalina, glicose, tempo de protrombina, albumina α-1 antitripsina, substâncias redutoras da urina e ecografia abdominal Entre os critérios que indicam hiperbilirrubinemia grave, está o aumento da bilirrubina direta > 1 mg/ dL, se BT < 5 mg/ dL, ou quando bilirrubina conjugada > 20% da bilirrubina total se BT > 5 mg/dL.1
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