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MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 1 2ª edição2ª edição revisada e ampliadarevisada e ampliada Karina Alexandra Batista da Silva Freitas Regina Célia Popim Karina Alexandra Batista da Silva Freitas Regina Célia Popim 2ª edição2ª edição revisada e ampliadarevisada e ampliada Karina Alexandra Batista da Silva Freitas Regina Célia Popim Karina Alexandra Batista da Silva Freitas Regina Célia Popim MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 2 Karina Alexandra Batista da Silva Freitas Regina Célia Popim MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 2ª edição revisada e ampliada Botucatu 2021 Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 3 Apoio: - Depto. de Gestão de Atividades Acadêmicas: - Núcleo de Publicação Interna. Capa e diagramação: Sandro Richard Martins Ficha catalográfica elaborada pela: Seção Técnica Aquisição e Tratamento da informação Divisão de Biblioteca e Documentação - Campus de Botucatu - Unesp Bibliotecária responsável: Rosemeire Aparecida Vicente - CRB 8/5651 Freitas, Karina Alexandra Batista da Silva. Manual de extravasamento de antineoplásicos / Karina Alexandra Batista da Silva Freitas, Regina Célia Popim. – 2. ed. rev. e ampl. – Botu- catu: FMB/HC, 2021 PDF Inclui bibliografia Disponível em: http://www.hcfmb.unesp.br/biblioteca-virtual ISBN: 978-65-87884-11-0 1. Câncer – Enfermagem. 2. Oncologia - Manuais, guias, etc. 3. Qui- mioterapia. 4. Agentes antineoplásicos. 5. Extravasamento de materiais terapêuticos e diagnósticos. 6. Equipes de saúde. I. Título. II. Popim, Regina Célia. III. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Faculdade de Medicina de Botucatu. IV. Hospital das Clinicas. CDD 616.99 MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 4 2021 Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu - HCFMB. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu. ISBN: 978-65-87884-11-0 Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu. Avenida Professor Mário Rubens Guimarães Montenegro, s/n Unesp Campus de Botucatu - CEP 18618-687 - Botucatu-SP Telefone: ++55(14) 3811-6000 superintendencia@hcfmb.unesp.br ELABORAÇÃO Dr.ª Karina Alexandra Batista da Silva Freitas Enfermeira. Doutora em Enfermagem pelo Departamento de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp. Supervisora Técnica do Ambulatório de Oncologia do Hospital Estadual Botucatu – Hospital Das Clínicas de Botucatu – Unesp. Prof.ª Associada Regina Célia Popim Professora Associada – Livre Docente do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 5 COLABORADORES Enf.ª Dr.ª Karen Aline Batista da Silva Doutora em Enfermagem pelo Departamento de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp. Diretora do Departamento de Logística de Atendimento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu. Enfª Me. Talita Oliveira de Lima Mestre em enfermagem pelo Departamento de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Botucatu, especialista em oncologia. Enfermeira assistencial do Ambulatório de Oncologia do Hospital Estadual Botucatu – Unesp. Enf.ª Me. Natália Cristina Godinho Mestre em enfermagem pelo Departamento de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Botucatu, especialista em oncologia. Enfermeira assistencial do Ambulatório de Oncologia do Hospital Estadual Botucatu – Unesp. Enf.ª Esp. Alessandra Passarelli Vigliassi Especialista em oncologia. Enfermeira assistencial do Ambulatório de Oncologia do Hospital Estadual Botucatu – Unesp. Me. Rodolfo Cristiano Serafim Mestre em enfermagem pelo Departamento de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Botucatu, especialista em Informática em Saúde. Analista de Sistemas do Hospital das Clínicas de Botucatu – Unesp. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 6 APRESENTAÇÃO Este manual é destinado a todas as equipes multiprofissionais em oncologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu e contém informações explicativas sobre o extrava- samento de quimioterápicos. Foi elaborado para servir de apoio e orientar quanto as principais condutas de atendimento ao paciente. Traz atualizações quanto ao tratamento de extravasamento de antineoplásicos com o uso de Terapia por Fotobiomodulação. É produto de re- visão e fruto da Tese de Doutorado apresentado ao Departamento de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp com orienta- ção da Prof. Associada Regina Célia Popim. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 7 SUMÁRIO PREFÁCIO.............................................................08 INTRODUÇÃO......................................................09 1. CLASSIFICAÇÃO DOS ANTINEOPLÁSICOS .......12 2. FATORES DE RISCO........................................15 3. PREVENÇÃO.....................................................17 4. UTILIZAÇÃO DE COMPRESSAS......................... 19 5. ANTÍDOTOS......................................................20 6. MANEJO DO EXTRAVASAMENTO.....................25 7. CLASSIFICAÇÃO DO EXTRAVASAMENTO ......... 30 8. DOCUMENTAÇÃO............................................32 9. AVALIAÇÃO DA ÁREA EXTRAVASADA...............34 BIBLIOGRAFIA......................................................36 MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 8 PREFÁCIO Inserir a temática Segurança do Paciente na assistência direta ou indireta a pacientes/familiares, faz parte do cotidiano de equi- pes multiprofissionais, especialmente da equipe de enfermagem. O paciente em atendimento oncológico, com doença em atividade, apresenta fatores de risco que podem provocar um evento adverso, agravando seu atual estado de saúde e/ou seu prognóstico em relação à doença. O conhecimento de enfermeiros acerca da administração de quimioterápicos e, principalmente, seus efeitos colaterais e complicações são de extrema importância para garantir ambientes seguros e confiáveis. É necessário destacar o avanço da enfermagem baseada em evidências, como a Terapia por Fotobiomodulação, que vem apresentando resultados satisfatórios a curto prazo, com custo benefício garantido. Também é necessário enfatizar a importância, o conheci- mento especializado e competência da equipe de enfermagem do Ambulatório de Oncologia do HCFMB, tornando-se referência para todo o país. Disseminar o conhecimento é proporcionar que mais pacien- tes possam se beneficiar de técnicas atuais e relevantes, tendo como ator principal o profissional enfermeiro. A Enf.ª Dr.ª Karina, é uma das enfermeiras com maior conhe- cimento a respeito do uso da Terapia por Fotobiomodulação em pacientes oncológicos do país e vem encorajando os profissionais enfermeiros a aplicar a tecnologia, levando a enfermagem a pata- mares assistenciais até então desconhecidos. Convido a todos a percorrerem as páginas a seguir e, prin- cipalmente, colocar em prática os conhecimentos que serão adquiridos. Dr.ª Karen Aline Batista da Silva MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 9 INTRODUÇÃO De acordo com a estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA) estão previstos para o triênio de 2020-2022, aproxima- damente 650 mil novos casos de câncer ao ano. O câncer de pele, do tipo não melanoma, será o mais incidente na população brasileira, seguido pelos tumores de próstata, mama feminina, cólon e reto, pulmão, estômago e colo do útero. A quimioterapia antineoplásica (QTA) tem se tornado um dos tratamentos mais promissores no combate ao câncer, sendo uma modalidade de tratamento sistêmico em que os agentes antineoplásicos são tóxicos,causando efeitos colaterais. São empregadas com finalidade curativa ou paliativa, dependendo do tipo de tumor, das condições clínicas do paciente e da extensão da doença. Diversas vias de administração podem ser utilizadas, dentre elas: oral, subcutânea, intramuscular, endovenosa, intra – arterial, intratecal, intrapleural, intravesical, intraperitoneal e tópica. No Brasil, a atuação dos enfermeiros frente a terapia anti- neoplásica é permitida e difundida pelas Resoluções 210 de 1998 e 569 de 2018 do Conselho Federal de Enfermagem. A via endovenosa é a mais utilizada para a aplicação desses agentes, devendo o enfermeiro conhecer a toxicidade dermato- lógica local de cada antineoplásico, identificando-os de acordo com seu potencial de causar lesão caso ocorra o extravasamento e/ou infiltração, contribuindo com a segurança do paciente. O tema Segurança do Paciente tomou visibilidade com a publicação To Err is Human, do Institute of Medicine, em 1999, provocando uma mobilização da classe médica, do público em geral, de organizações norte-americanas e de diversos países e MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 10 considerou que 10% dos pacientes internados em hospitais sofram eventos adversos evitáveis. Diante desta complexidade, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu em 2004 a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente (AMSP) com o propósito de definir e identificar, mundialmente, prioridades na área da segurança do paciente e definiu como eventos adversos (EA) os incidentes que resultam em danos não intencionais decorrentes da assistên- cia e não relacionados à evolução natural da doença de base do paciente que não estão associados à patologia, devendo ser notificados. Na área de oncologia, podemos considerar o extravasa- mento de agentes antineoplásicos como um evento adverso importante, causador de um grande problema na qualidade da assistência prestada caracterizado pela infusão de agentes anti- neoplásicos vesicantes para fora do vaso sanguíneo, ocasionando ao paciente danos estéticos e, principalmente, funcionais graves. Os principais sinais e sintomas estão relacionados à ausência de retorno venoso, interrupção da infusão, hiperemia local, edema, a dor pode ou não estar presente. Alguns sintomas como bolhas, necrose, descamação e eritema podem perdurar por dias depen- dendo da medicação extravasada. O tratamento requer gastos excessivos, além de diminuição da qualidade de vida do paciente, limitando seu prognóstico. A incidência é, provavelmente, sub-notificada e estimada em aproximadamente 0,1 a 6% em infusão periférica e 0,3 a 4,7% em acesso venoso central. Deste total, 0,1 a 1% são de antraciclinas. A implementação do cuidado baseado em evidências per- mite ao enfermeiro aplicar a melhor prática clínica, evitando a maioria dos extravasamentos. O treinamento da equipe de enfermagem e a implementação de protocolos profiláticos são cruciais para a prevenção desses eventos. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 11 Diante da problemática apresentada, acreditamos na importância dos enfermeiros especialistas em oncologia, a fim de tornar a prática assistencial no manejo do extravasamento mais avançada e criteriosa. Os dispositivos utilizados para administração de QTA endovenosa devem ser criteriosamente selecionados, após avaliar cuidadosamente a rede venosa. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 12 1 CLASSIFICAÇÃO DOS ANTINEOPLÁSICOS Inicialmente, é preciso diferenciar o termo extravasamento e o termo infiltração de antineoplásicos. Para isso, precisamos salientar as classificações das quimioterapias de acordo com o potencial de lesão de pele. Desta forma, são subdivididas em três categorias: irritantes, vesicantes e não vesicantes. Os antineoplásicos não vesicantes, não causam dano teci- dual quando extravasados, já as irritantes podem causar reações cutâneas como ardor, flebite ou dor mesmo quando infundidas adequadamente e raramente causam necrose. Por outro lado, as vesicantes quando extravasadas causam grandes danos ao tecido subjacente, provocando dor e levando rapidamente à necrose. Portanto, o extravasamento é caracterizado como o escape das drogas vesicantes para fora do vaso e tecidos circunvizinhos e a infiltração é o escape dos medicamentos irritantes e não vesicantes. As vesicantes possuem dois grupos de medicamentos, os ligantes ao DNA e os não ligantes ao DNA. Os não ligantes ao DNA são representados pelos alcaloides da vinca e taxanos e quando extravasados, podem causar necrose tecidual, porém como não se ligam ao DNA celular, apresentam um processo de cicatrização normal por serem rapidamente inativados ou metabolizados. Já os ligantes ao DNA são representados pelos antibióticos antitu- morais, entre eles as antraciclinas. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 13 As antraciclinas (especificamente a doxorrubicina) são as drogas mais temidas durante um extravasamento de antineoplá- sicos, sendo considerado emergência oncológica. Seu mecanismo de ação para lesão tecidual engloba a formação do complexo DOX-DNA. A doxorrubicina liga-se ao DNA e bloqueia a divisão e o crescimento celular, provocando a morte da célula e conse- quentemente necrose. Porém, quando ocorre a morte celular o complexo DOX-DNA continua ativo e é distribuído para as célu- las subjacentes, causando um efeito em cascata, levando a uma necrose crônica, progressiva e aumentada. Visto isso, pode permanecer recirculando no local por 28 dias, por meio da ligações de DNA, aumentando a lesão em 5 cm a partir do local do extravasamento. Um dos mecanismos de lesão induzida por DOX é sugerido ser o estresse oxidativo causado pelo radical semiquinona de DOX. Acredita-se que o mecanismo para a ocorrência desse dano tecidual seja a liberação de radicais livres no tecido. Em geral, o extravasamento da DOX provoca danos ao tecido, variando desde eritema, edema e dor à necrose e ulceração grave da pele, alterando gravemente o prognóstico do paciente. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 14 Quadro 1. Classificação das drogas quimioterápicas de acordo com seu poten- cial de causar lesão de pele. Botucatu, 2021. Fonte: Adaptado de J.A. Pérez Fidalgo et al. / European Journal of Oncology Nursing 16 (2012) 528 a 534 VESICANTES Ligantes ao DNA Não ligantes ao DNA IRRITANTES Gencitabina NÃO VESICANTES Asparaginase Bleomicina Bortezomibe Cladribina Citarabina Decitabina Fludarabina Methotrexate Ciclofosfamida Pemetrexede INIBIDORES DA TOPOISOMERASE II Etoposideo ANTRACICLINAS Doxorrubicina Lipossomal Daunorrubicina Liposomal AGENTES ALQUILANTES Carmustina Ifosfamida Dacarbazina Melfalano ANTIMETABOLITOS Fluoruracil DERIVADOS DA PLATINA Carboplatina Oxaliplatina Cisplatina INIBIDORES DA TOPOISOMERASE I Irinotecano Topotecano ANTRACICLINAS Doxorrubicina Daunorrubicina Epirrubicina Idarrubicina ANTIBIÓTICOS ANTITUMORAIS Dactinomcina Mitomicina C Mitoxantrona* ALCALÓIDES DA VINCA Vincristina Vimblastina Vindesina Vinorelbina TAXANOS Docetaxel Paclitaxel ANTICORPOS MONOCLONAIS Cetuximabe Bevacizumabe Pertuzumabe Rituximabe Trastuzumabe MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 15 2 FATORES DE RISCO Os riscos para extravasamento são multifatoriais e modi- ficáveis. Estão classificados em: fatores mecânicos, fisiológicos e farmacológicos. É amplamente reconhecido que os pacientes estão em grande risco de extravasamento quando expostos a múltiplos fatores de risco. Fatores mecânicos Podem ocorrer durante ou após a punção venosa. As agulhas de metal não devem ser utilizadas para a administração de quimioterapia vesicante, pois causam trauma venoso durante a inserção e não são flexíveis dentro do vaso. A melhor opção são os cateteres com cânula flexível, onde é possível retirar a parte metálica (mandril) após punção. A equipe de enfermagem deve realizar uma avaliação criteriosa do paciente e de suarede venosa antes da punção para a melhor escolha do dispositivo a ser utilizado. Os cateteres periféricos são a opção mais econômica para a administração de quimioterapia, porém seu uso requer equipe de enfermagem treinada e experiente. Outro ponto importante é a fixação do cateter periférico, se estiver mal fixado ou molhado, o mesmo pode desprender-se e causar o extravasamento. O calibre do cateter escolhido também pode trazer compli- cações. A escolha de grandes calibres pode ser traumático para as veias, apesar de menor fluxo os cateteres de pequeno calibre são os mais indicados. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 16 Fatores farmacológicos O esquema de administração e frequência podem con- tribuir para a ocorrência de extravasamento. Muitos agentes antineoplásicos podem causar toxicidade celular e aumentar o risco de extravasamentos. Outros fatores como pH e osmolaridade também estão envolvidos, irritando a parede das veias podendo causar sua ruptura. Para diminuir a irritação venosa, as soluções devem ter o pH fisiológico (7,35 – 7,40) e osmolaridade entre 281 – 282 mOsm/L. Extremos de pH podem diminuir a tolerância da veia e a osmolaridade pode influenciar no grau de lesão do tecido. Fatores relacionados ao paciente Os pacientes podem apresentar problemas venosos pré- -existentes ou situações associadas a uma circulação alterada ou prejudicada, como diabetes, síndrome de Raynaud, linfe- dema e síndrome da veia cava, contribuindo certamente para o aumento do risco de extravasamento. A idade é um importante fator, onde pacientes idosos e crianças podem ter problemas na comunicação e não conseguem relatar o desconforto, além de ter pele e veias frágeis e possível circulação comprometida por outras morbidades, até mesmo relacionada ao câncer. Também são condições que interferem na detecção do extravasamento pelo paciente: deficit sensorial (doenças vasculares, diabetes, neuropatia) sedação, sonolência, deficit cognitivo, estado mental alterado, movimento do paciente durante a administração, veias esclerosadas e móveis e obesidade. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 17 3 PREVENÇÃO Os enfermeiros responsáveis pela administração de quimio- terapia devem estar cientes dos riscos, possuir conhecimento e habilidade técnica e compreender a importância de evitar distra- ções e interrupções durante a administração de quimioterapia. Desta forma, elencamos algumas práticas para a prevenção de extravasamento: - Realizar a avaliação da rede venosa antes da punção, iden- tificando potenciais riscos; - Puncionar as veias a cada 24 horas. Em pacientes com dificuldade de acesso venoso periférico, deve ser indicado o cateter venoso central; - Evitar veias tortuosas e de pequeno calibre; - Escolher criteriosamente o dispositivo, optando sempre por cateteres não agulhados e flexíveis. Dispositivos de infusão com agulhas não devem ser utilizados; - Evitar punção sobre articulações; - Preferir punções em veias do antebraço; - Não administrar em membros inferiores e veia jugular; - Não administrar em membros com edema e esvaziamento ganglionar por mastectomia; - Solicitar acesso venoso central para antineoplásicos vesi- cantes com infusão acima de 1 hora; MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 18 - Testar retorno venoso e realizar flushing com 10 ml de solução salina antes da administração da quimioterapia e entre infusões de drogas diferentes; - Utilizar linha paralela de soro compatível nas infusões em bolus de drogas vesicantes; - Garantir uma boa estabilidade do cateter, utilizando de preferência filmes transparentes para sua fixação; - Manter monitoramento contínuo do acesso venoso do paciente; - Parar a infusão se o paciente precisar se movimentar, tes- tando o retorno venoso e realizando flushing de 10 ml de soro fisiológico, antes de reiniciar a quimioterapia; - Puncionar cateter totalmente implantado com agulha de Hubber, escolhendo o melhor tamanho de acordo com o cateter. A agulha deverá ser fixada com filme transparente e trocada a cada 7 dias, ou antes se apresentar sujidade ou descolamento; - A punção do cateter totalmente implantado poderá per- manecer por 7 dias. Outra forma de prevenção do extravasamento, é o envolvimento do paciente por meio de orientações. A equipe de enfermagem deve criar um relacionamento de confiança com o paciente e familiares, explicando-lhes todos os riscos da terapia antineoplásica, inclusive o extravasamento. Devem ser orientados a entender a gravidade de um extravasamento de quimioterapia, explicando-lhes os principais sinais e sintomas, tornando-os participantes ativos em seus cuidados, comunicando qualquer sinal de dor, edema, hiperemia, parada na infusão. O enfermeiro oncológico precisa estar preparado, adaptando seu conhecimento técnico científico para uma linguagem de fácil entendimento. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 19 4 UTILIZAÇÃO DE COMPRESSAS As compressas devem fazer parte do gerenciamento do extravasamento. Porém é necessário o reconhecimento imediato do tipo de quimioterapia extravasada ou infiltrada, para seu uso correto. A aplicação de compressa morna deverá ser realizada durante 20 minutos, 4 vezes por dia durante 1 ou 2 dias somente para quimioterapias classificadas como alcaloides da vinca. O mecanismo de ação é por meio da vasodilatação para facilitar o aumento da absorção e dispersão do citostático. O uso das compressas frias é utilizado para diminuir a velocidade de absorção da droga nos tecidos, causando uma maior localização e neutralização do quimioterápico extravasado. Deverão ser utilizadas quando os quimioterápicos envolvidos forem antibióticos antitumorais- principalmente as antraciclinas- e os agentes alquilantes, limitando assim a propagação da droga por meio da vasoconstrição. Deve ser realizada por 20 minutos, 4 vezes ao dia, por 1 a 2 dias. Porém, não há evidências científicas que a compressa fria ajude na diminuição da formação de lesões. Seus benefícios podem ser restritos a reduzir o desconforto local. Para infiltrações com quimioterápicos irritantes e não vesi- cantes, também deve ser utilizado a compressa fria local de 15 a 20 minutos, 4 vezes ao dia durante as primeiras 24 horas. A oxaliplatina apesar de ser classificada como irritante, deve-se utilizar compressa morna devido à neurotoxicidade aguda que pode ser causada ou potencializada pelo frio. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 20 5 ANTÍDOTOS Antídotos são agentes que neutralizam ou diminuem os efeitos de um veneno ou medicação. Apesar de vários medicamentos terem sido indicados como tratamento de extravasamento, sua segurança e eficácia são limitadas. Cabe ressaltar que no Brasil, não existem medicamentos cadastrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) como antídotos a extravasamentos, caracterizando seu uso como off label. Dexrasoxane Única medicação aprovada pelo Food and Drugs Administration (FDA) e pela Comissão Européia para o tratamento de extravasamento de antraciclinas. Sua eficácia foi confirmada em ensaios clínicos verificados por biópsia e seu mecanismo de ação ocorre pelo bloqueio da topoisomerase II para que o tecido não seja afetado pela antraciclina. As compressas frias deverão ser evitadas durante a administração de dexrazoxane, suspendendo seu uso no mínimo 15 minutos antes da infusão. Essa prática faz-se necessária para evitar a vasoconstrição do local impedindo que o antídoto chegue corretamente ao local do extravasamento. Já é utilizado há algum tempo para reduzir a cardiotoxicidade induzida pela doxorrubicina e mais recentemente foi observado seu efeito benéfico no tratamento de extravasamento das antra- ciclinas. A droga liga-se ao ferro impedindo a formação de radicais livres que tem papel importante na formação de lesões. Como MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 21 efeito colateral foram descritos náuseas, vômito, dor discreta nolocal da infusão e aumentos reversíveis das enzimas hepáticas. Os kits são para uso em um único paciente, o que inclui um tratamento de três dias consecutivos. É administrado por infusão endovenosa, em uma veia de grosso calibre no braço oposto, afastado da área de extravasamento. A dose recomen- dada baseia-se na superfície corpórea do paciente. Deve- se aplicar no 1° dia 1000 mg/m2, no 2°dia 1000 mg/m2 e no 3° dia apenas 500 mg/m2. A dose máxima recomendada é de 2000 mg nos dias 1 e 2 e 1000 mg no terceiro dia. A função renal deve ser monitorizada em pacientes com alteração de creatinina sendo a dose reduzida em 50%. Após a reconstituição a medicação deverá ser diluída em soro fisiológico em bolsas de 1000 ml e infundida de 1 a 2 horas, com a primeira infusão em um prazo máximo de 6 horas após o extravasamento. Hialuronidase É uma enzima que modifica a permeabilidade do tecido por meio da hidrólise do ácido hialurônico e ajuda a dispersar os alcaloides da vinca do tecido, promovendo a reabsorção. A recomendação da Oncology Nursing Society é aplicar de forma subcutânea 1 ml de 150 UI/ml na área de extravasamento. Em dez minutos ela aumenta a difusão do líquido extravasado em uma área 3 a 5 vezes maior do que uma área não tratada e a permea- bilidade do tecido é restaurada de 24 a 48 horas. É indicada pelos fabricantes de vimblastina e vincristina (não ligantes ao DNA). Apesar da indicação de aplicação da hialuronidase ser na forma subcutânea, em nosso protocolo utilizamos a apresentação tópica, disponível em pomada ou gel de 65 UTR. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 22 Não há contra indicação, podendo ser realizada em crianças e adultos, também sendo aprovada pelo FDA. Fotobiomodulação Atualmente a terapia a LASER (Amplification by Stimulated Emisson of Radiation) ou Fotobiomodulação (FBM) é muito utilizada para acelerar o processo cicatricial e em diversas apli- cações médicas, promovendo melhorias na qualidade de vida dos pacientes e acelerando os tratamentos. Sua classificação é de acordo com o comprimento de onda, podendo distinguir-se em vermelho visível (622-780 nm) e infra- vermelho (780 a 1.500 nm). É uma fonte de radiação não ionizante onde ocorre a ativação de componentes celulares e alteração do metabolismo celular, por meio de reações químicas. Considerada importante alternativa no tratamento de pro- cessos cicatriciais, pois possue ação anti-inflamatória, analgésicaa e de cicatrização. Além disso, não causam efeitos colaterais como aqueles induzidos por alguns fármacos (por exemplo, os corti- coides), evidenciando assim, uma melhora do prognóstico do paciente mais rapidamente. Para a aplicação da FBM, alguns parâmetros devem ser considerados como: comprimento de onda, fluência, densidade de potência e tempo da luz aplicada. A escolha de qual parâme- tro utilizar vai depender da especificidade de cada tratamento. Quando utilizamos a FBM partimos do princípio que “menos é mais”, doses mais baixas de luz são frequentemente mais bené- ficas que doses altas. Para que esse processo aconteça é necessário que a luz seja absorvida e os responsáveis por esta absorção são denomi- nados cromóforos ou fotorreceptores. Entre eles, destacamos o MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 23 citrocomo C oxidase (CCO) que é o principal cromóforo na faixa do vermelho visível. Está localizado na unidade IV da cadeia respiratória das mitocôndrias. Durante um processo patológico (como exemplo, extravasamento), as mitocôndrias produzem óxido nítrico (NO) em excesso e como consequência, expulsam o oxigênio da célula, diminuindo consideravelmente a produção de ATP e do metabolismo. A partir desse momento inicia-se um processo denominado estresse oxidativo, que causa toxicidade celular e inibe o processo inflamatório fisiológico, fazendo com que a lesão não consiga evoluir para as outras fases, não ocor- rendo o reparo. Durante a aplicação da FBM, o CCO absorve a energia da luz laser vermelha causando um fotodesligamento do NO, e o oxigênio recupera o seu lugar na cadeia respiratória celular. Dessa forma, ocorre uma redução do estresse oxidativo, um aumento na produção de espécies reativas de oxigênio (ROS), ATP e íons de Ca+, aumentando a diferenciação, proliferação e migração celular, levando ao reparo da lesão. A FBM associada à hialuronidase tópica para extravasamen- tos de antineoplásicos, já é um protocolo validado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu. Em pesquisa retrospectiva que compreendeu o período de janeiro de 2018 a outubro de 2019, observou-se uma ocorrência de 8 extravasa- mentos (entre eles 01 de antraciclina) e 7 infiltrações. Todos esses pacientes foram acompanhados e receberam em média 2 sessões de FBM (1 joule vermelho – 100 mw) e a hialuronidase tópica (65UTR) 3 vezes ao dia, por 4 dias. Seguindo esse protocolo, não houve formação de lesões mesmo no paciente que fez uso de antraciclina. Em estudo experimental com extravasamento de doxor- rubicina em ratos Wistar, pode-se comprovar o benefício da associação entre a hialuronidase tópica e a FBM, evidenciando MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 24 que o uso da associação entre a FBM (660 nm - 1J) com a hialu- ronidase tópica (65 UTR) sobre a lesão do extravasamento foi eficaz no processo de cicatrização da ferida e que a FBM isolada foi capaz de prevenir o aparecimento de lesões. Porém, levando-se em consideração a eficácia da hialuro- nidase na diminuição do edema, aconselhamos seu uso tópico, associado a FBM. A realização da FBM requer profissionais (enfermeiros, den- tistas, fisioterapeutas) habilitados e/ou capacitados para seu uso. O Conselho Federal de Enfermagem em seu parecer 013/2018 autoriza a aplicação da tecnologia pelo enfermeiro. Porém, ressaltamos que o atendimento ao paciente com extravasamento deve ser individualizado, levando-se em consi- deração a medicação extravasada, o peso do paciente, presença de edema, flebite, entre outros. Importante salientar que a partir do momento que ocorra a formação de lesões, deve-se considerar protocolos de tratamento, associando terapias tópicas e controle de infecção local/sistêmica. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 25 6 MANEJO DO EXTRAVASAMENTO Para reduzir a morbidade associada ao extravasamento, é necessário que toda equipe esteja informada e capacitada sobre o protocolo da Instituição. A gestão do extravasamento continua sendo um risco conhecido e um dos principais desafios para os enfermeiros de quimioterapia e para os pacientes que a recebem. Importante salientar que independente do quimioterápico, o início precoce do tratamento do extravasamento é obrigatório, sendo aconselhável a disponibilização de uma maleta com os itens: - 01 seringa de 10 ml; - 02 pacotes de compressa de gaze; - 01 pote de hialuronidase; - 01 compressa ou bolsa de água quente e fria; - réguas de papel descartáveis para mensurar a lesão; - EPIs (luvas de procedimentos, avental impermeável, máscara facial PFF2 ou N95, óculos de proteção, saco plástico). O conhecimento dos enfermeiros que administram quimio- terapia é necessário no diagnóstico diferencial para não confundir a infiltração das drogas irritantes com o extravasamento de vesi- cantes e vice versa. O reconhecimento imediato do extravasamento é fator determinante no prognóstico da lesão. Quando ocorre o MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 26 extravasamento ou apenas suspeita-se, a primeira medida é parar a infusão de quimioterapia. Quando há dúvida no tipo de dor que o paciente está des- crevendo e a repentina parada do retorno do sangue deve-se considerar como extravasamento. Nesse momento, deve-se parar a infusão, não remover o cateter, conectar uma seringa (preferencialmente de 10 ml) e tentar aspirar a droga extrava- sada, anotando a quantidade. Elevar o membro do paciente para facilitar a drenagem, realizar a FBM utilizando laser vermelho (100mW) de 1 a 3 joules, aplicação de compressa térmica (gelada ou morna) e a hialuronidase. A área deverá ser demarcada e se possível fotografada. A drenagem linfática com a FBM pode ser realizada no mem- bro que sofreu extravasamento, se o mesmo apresentar edema importante. Utiliza-se o laser infravermelho de 4 a 6J, pontual, seguindo a cadeia de linfonodos posterior do braço acometido. Não é aconselhado na fase aguda do extravasamento a drenagem manual com massagens vigorosas, a fim de não aumentar a absor- ção do quimioterápico pelos tecidos. A hialuronidase deverá ser utilizada para extravasamentos e para infiltração de medicamentos irritantes, devido ao edema formado. A conduta no extravasamento de quimioterapia em crianças será o mesmo do adulto, o que pode diferir é a quantidade de joules da FBM utilizada. Importante salientar que o setor que não possuir o aparelho de laserterapia, ou se o extravasamento acontecer em período que os membros da Comissão de Curativos, capacitados em laserterapia, não estiverem presentes, o atendimento inicial deverá ser realizado com hialuronidase e compressas térmicas. A FBM deverá ser iniciada o mais rápido possível. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 27 Para facilitar o atendimento durante a detecção de um extra- vasamento, foi elaborado o fluxograma a seguir: Fluxograma 1. Cuidados de enfermagem realizados durante infiltração e/ou extravasamento de antineoplásico em acesso venoso periférico. Fonte: Adaptado de J.A. Pérez Fidalgo et al. / European Journal of Oncology Nursing 16 (2012) 528 a 534 Fluxograma 1. Cuidados de enfermagem realizados durante infiltração e/ou extravasamento de antineoplásico em acesso venoso periférico. Fonte: Adaptado de J.A. Pérez Fidalgo et al. / European Journal of Oncology Nursing 16 (2012) 528 a 534 Suspeita de extravasamento/infiltração Parar a infusão do quimioterápico e não remover o dispositivo Conectar a seringa e aspirar o máximo de quimioterápico possível, retirar a punção Não vesicantes Vesicantes Irritantes Ligantes ao DNA Aplicação de compressas frias 20 min 4x/dia por 24 horas Aplicação de compressas fria 20 min 4x/dia por 24 horas Administrar Hialuronidase TO 4x dia, 30 minutos após a compressa fria Administrar Hialuronidase TO 4x dia, imediatamente após a compressa morna Preencher a documentação pós extravasamento no prontuário do paciente Não ligantes ao DNA Aplicação de compressas mornas 20 min 4x/dia por 2 dias Fotobiomodulação 1 a 3J vermelho (100mw) Fotobiomodulação 1 a 3J vermelho (100mw) Identificar o quimioterápico de acordo com potencial de lesão de pele Aplicação de compressas frias 20 min 4x/dia por 24 horas *Exceto Oxaliplatina Aplicação de hialuronidase tópica, 4x dia, 30 minutos após a compressa fria Realizar interconsulta à Comissão de Curativos Acompanhar o paciente ambulatorialmente MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 28 Se o extravasamento ocorrer por meio de acesso venoso central, verificar se há depósito de líquido próximo ao reservatório dos cateteres totalmente implantados ou na região de saída de cateteres tunelizados. Tentar aspiração da droga presente no local e observar regularmente a presença de eritema, endurecimento, necrose ou queixa de dor local. O médico deverá ser notificado imediatamente para avaliação e solicitação de RX ou tomografia de tórax, para poder determinar a localização do extravasamento e a quantidade de líquido extravasado. Tal fato, é de extrema importância, pois dependendo do local, (pleura e mediastino) outras medidas mais invasivas poderão ser realizadas, como por exemplo toracocentese, toracoscopia e toracotomia. Se o extravasamento limitar-se ao subcutâneo, poderemos realizar medidas tópicas, porém, deve ser considerada uma possível drenagem do líquido, como descrito no fluxograma 2. Após o extravasamento o enfermeiro responsável pelo aten- dimento ao paciente, deverá realizar a evolução de enfermagem, preencher o documento pós-extravasamento de antineoplásicos e o Formulário Eletrônico de Notificação de Eventos Adversos, disponíveis no Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) e Sistema MV, respectivamente. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 29 Fluxograma 2. Cuidados de enfermagem realizados durante infiltração e/ou extravasamento de antineoplásico em acesso venoso central. Fonte: Adaptado de J.A. Pérez Fidalgo et al. / European Journal of Oncology Nursing 16 (2012) 528 a 534 Fluxograma 2. Cuidados de enfermagem realizados durante infiltração e/ou extravasamento de antineoplásico em acesso venoso central. Suspeita de extravasamento/infiltração Parar a infusão do quimioterápico e não remover o dispositivo Conectar a seringa e aspirar o máximo de quimioterápico possível, retirar a punção Identificar a área extravasada por meio de RX ou tomografia de tórax Não vesicantes Vesicantes Irritantes Ligantes ao DNA Aplicação de compressas frias 20 min 4x/dia por 24 horas Aplicação de compressas fria 20 min 4x/dia por 24 horas Administrar Hialuronidase TO 4x dia, 30 minutos após a compressa fria Administrar Hialuronidase TO 4x dia, imediatamente após a compressa morna Preencher a documentação pós extravasamento no prontuário do paciente Não ligantes ao DNA Aplicação de compressas mornas 20 min 4x/dia por 2 dias Fotobiomodulação 1 a 3J vermelho (100mw) Fotobiomodulação 1 a 3J vermelho (100 mw) Pleura Considerar drenagem torácica urgente Mediastino Considerar toracoscopia e/ou toracotomia Subcutâneo Considerar medidas tópicas e possível drenagem de solução Identificar o quimioterápico de acordo com potencial de lesão de pele Aplicação de compressas frias 20 min 4x/dia por 24 horas *Exceto Oxaliplatina Aplicação de hialuronidase tópica, 4x dia, 30 minutos após a compressa fria Realizar interconsulta à Comissão de Curativos Acompanhar o paciente ambulatorialmente MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 30 7 CLASSIFICAÇÃO DO EXTRAVASAMENTO Para uma melhor avaliação dos eventos adversos relacio- nados a antineoplásicos, utilizamos a escala descrita no Comon Terminology Criteria for Adverse Events (CTCAE) – versão 5.0, desenvolvido pelo National Cancer Institute (NCI) e National Institute Health (NIH), ambos norte – americanos. Essa última versão foi lançada em 2017. De um modo geral a escala foi elaborada de acordo com a gravidade do evento adverso, descrita da seguinte forma: Grau 1. Leve: Assintomático, sintomas leves, não é indicada intervenção, apenas observação clínica ou de diagnóstico; Grau 2. Moderado: indicado intervenção mínima, local ou não invasiva, com limitação das atividades apropriadas para a idade, como preparo de refeições, gerenciamento de dinheiro, usar telefone; Grau 3. Grave: mas não imediatamente com risco de morte, indicada hospitalização, limitando o auto cuidado como banho, vestir-se, alimentar-se, tomar medicamentos; Grau 4. Consequências com risco de morte. Indicada interven- ção urgente. Grau 5. Morte relacionada ao evento adverso. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 31 Para cada evento adverso é atribuída uma escala específica, a do extravasamento é classificada da seguinte forma: Tabela 1. Classificação do extravasamento. Botucatu, 2021. Evento Adverso GRAU 1 2 3 4 5 Extravasamento no local de infusão Edema indolor Eritema associado a sintomas (exemplo: edema, dor, endure- cimento, flebite) Ulceração ou necrose, grande dano ao tecido, intervenção cirúrgica indicada Consequências fatais com rico de morte, indicada intervenção urgente Morte Fonte: National Cancer Institute (US). Division of câncer treatament and diagnosis. Comon TerminologyCriteria for Adverse Events (CTCAE) – versão 5.0. 2017. Tradução livre Importante salientar, que mesmo em extravasamentos grau 1, deve ser realizada intervenção pela aplicação dos antídotos descritos no protocolo institucional. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 32 8 DOCUMENTAÇÃO A documentação do extravasamento é muito importante, pois fornece informações sobre o evento, demonstra possíveis deficit no atendimento além de proteger os profissionais envolvi- dos nas questões legais. Cada incidente de extravasamento deve ser cuidadosamente documentado, podendo variar de acordo com a Instituição, porém, alguns itens são obrigatórios, como por exemplo: - Nome e registro hospitalar do paciente; - Data e hora do extravasamento; - Nome do medicamento extravasado; - Sinais e sintomas apresentados; - Local de punção; - Área do extravasamento - Antidoto utilizado. Não realizar a documentação, ou realizá-la de forma incorreta, pode ser interpretada como o não cumprimento dos protocolos da instituição, mostrando uma falha na qualidade do atendimento, comprometendo seriamente a segurança do paciente. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 33 Figura 1. Modelo de Documentação de Extravasamento de Antineoplásicos. Botucatu, 2021. Fonte: Sistema de Prontuário Eletrônico do HCFMB - Unesp MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 34 9 AVALIAÇÃO DA ÁREA EXTRAVASADA A partir da segunda avaliação do paciente, deve-se seguir uma observação criteriosa da área do extravasamento, observando as características do tecido, a presença de inflamação, infecção, necrose, perda de movimentação, edema. Inicialmente esse paciente deve ser acompanhado a cada 48 horas. Para isso, com a intenção de padronizar o atendimento, cria- mos uma ficha de avaliação a ser utilizada durante os retornos. Em nossa Instituição, a avaliação e seguimento é realizada por membros da Comissão de Curativos, que possuem experiência e habilidade na área. MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 35 DIMENSÃO DA LESÃO (altura x largura cm) : EXAMES DE SANGUE HEMOGLOBINA: NEUTRÓFILOS: FLICTEMA íntegro rompido HIPEREMIA marginal central generalizada SANGRAMENTO ausente pouco moderado acentuado EDEMA ausente pouco moderado acentuado PELE ÍNTEGRA CARACTERÍSTICAS DA LESÃO: SECREÇÃO – EXSUDATO ausente pouco moderado acentuado CROSTA não sim pouco aderida muita aderida ODOR não sim CIRCUNFERÊNCIA DO BRAÇO: DOR ausente pouco moderado acentuado DESCAMAÇÃO ausente pouco moderado acentuado TECIDO DE GRANULAÇÃO não sim PLAQUETAS: PCR:DATA: ____/____/_____ GRAU DE EXTRAVASAMENTO CTCAE - 5.0 Edema indolor Morte Eritema associado a sintomas (ex.: edema, dor, endurecimento, flebite) Ulceração ou necrose, grande dano ao tecido, intervenção cirúrgica indicada Consequências fatais com risco de morte, indicada intervenção urgente 1 2 3 4 5 Elaborado por Karina A. B. S Freitas FICHA DE AVALIAÇÃO DA ÁREA DO EXTRAVASAMENTO LOCAL EXTRAVASAMENTO: ANTINEOPLÁSICO EXTRAVASADO: CLASSIFICAÇÃO CTCAE: DATA: ____/____/_____ MANUAL DE EXTRAVASAMENTO DE ANTINEOPLÁSICOS 36 BIBLIOGRAFIA Adami NP, de Gutierrez MG, da Fonseca SM, de Almeida EP. Risk management of extra- vasation of cytostatic drugs at the Adult Chemotherapy Outpatient Clinic of a university hospital. J Clin Nurs.14(7):876-82. Alfaro-Rubio A, Sanmartín O, Requena C, et al. Extravasación de agentes citostáticos: una complicación grave del tratamiento oncológico. Actas Dermo 2006;97(3):169-76 https://www.actasdermo.org/es-extravasacion-agentes-citostaticos-una-complicacion- -articulo-13088897 BONASSA, E.M.A; GATO, M.I.R. Terapêutica oncológica para enfermeiros e farmacêuticos. 4.ed. São Paulo: Atheneu, 2012. Boulanger J, Ducharme A, Dufour A, Fortier S, Almanric K; Management of the extra- vasation of anti-neoplastic agents. Support Care Cancer. 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