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1 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica CASO CLÍNICO • Há 1 mês, paciente com quadro de náuseas, dispneia progressiva e astenia, além de petéquias há 2 dias. • Leucócitos: 360.000 (VR: 5.000 – 10.000) / Hb: 6,6 / Ht: 22,6. • Diagnóstico: leucemia aguda e sepse / Conduta de urgência para diminuir a morbimortalidade: hidratação e antibioticoterapia (não faria transfusão sanguínea ainda). • Imunofenotipagem (células vivas): identificar a linhagem da célula; aspira o sangue da medula ou periférico (no caso, há muitos blastos) → tubo com solução específica → joga anticorpos (CD) que reconhecem as proteínas da célula. • Imunohistoquímica (células mortas; tumores sólidos): micrótomos → cuba com material específico → anticorpos corados com prata e com receptores → olha na miscroscopia. INTRODUÇÃO • As síndromes mieloproliferativas crônicas, atualmente denominadas neoplasias mieloproliferativas (NMP) – 4ª edição (OMS), são doenças clonais de célula-tronco hematopoética, nas quais há a proliferação aumentada de uma ou mais séries mieloides (granulocítica, eritrocítica, megacariocítica ou mastocítica) com maturação eficaz. A progressão de toda é caracterizada por fibrose medular ou transformação leucêmica. ANORMALIDADES CROMOSSÔMICAS • Identificadas durante a avaliação do cariótipo. • Alteram a expressão de genes que codificam as moléculas críticas para o controle do crescimento celular ou da morte celular programada. • Mantem a capacidade, embora imperfeita, de diferenciação. CÉLULA PRECURSORA MUTANTE • Mantém a capacidade, embora imperfeita, de diferenciação e maturação, com consequente formação de eritrócitos, leucócitos e plaquetas. ASPECTOS COMUNS • Ocorrência da proliferação de mais de um tipo celular, por vezes, panmielose (produção das 3 séries em excesso). • Graus variáveis de esplenomegalia. • Transformação para a leucemia aguda ocorre com frequência variável nas diferentes doenças. CLASSIFICAÇÃO • Considera o tipo de proliferação celular principal. • Inclui: 1. Leucemia mielóide crônica; 2. Policitemia vera; 3. Mielofibrose idiopática crônica/primária; 4. Trombocitemia essencial; 5. Leucemia neutrofílica crônica; 6. Leucemia eosinofílica crônica não especificada; 7. Mastocitose sistêmica; 8. Neoplasia mieloproliferativa não classificável. LEUCEMIA MIELÓIDE CRÔNICA (LMC) • Doença originada de célula hematopoética pluripotente que sofreu mutação resultante no cromossomo Philadelphia (Ph). • 10% não tem o cromossomo Philadelphia → pior prognóstico. Cromossomo Philadelphia ou translocação Philadelphia é uma anormalidade cromossômica que está associada à LMC. Corresponde a uma translocação recíproca envolvendo braços longos dos cromossomos 9 e 22. O proto-oncogene ABL, situado no cromossomo 9, é transferido para o cromossomo 22, na região chamada BCR, onde se torna ativado por um promotor. Encontrado em mais de 90% dos casos de LMC. Entretanto, a presença de tal cromossomo não é suficientemente específica para diagnosticar a LMC, já que ele também é encontrado na LLA (25-30% em adultos e 2-10% em casos pediátricos) e ocasionalmente na LMA. • Incidência: 1-2 casos:100.000 hab/ano. • Idade: 5ª e 6ª décadas. • Masculino/feminino: 1,4/1. • Etiologia: radiação ionizante e quimioterapia prévia com os inibidores da topoisomerase II. IDENTIFICAÇÃO DO GENE BCR-ABL • Se não tiver, é outra doença mieloproliferativa. 2 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica • A consequência da proteína de fusão BCR/ABL1 é o crescimento e transformação celular independentes de citocinas, perda da apoptose, alteração na adesão da célula hematopoética à matriz extracelular por aumento da atividade de integrina e instabilidade genômica. • Transcrição reversa e reação em cadeira de polimerase (RT-PCR). FASES DA DOENÇA E QUADRO CLÍNICO ➔História natural, se não tratada, é bi ou trifásica: • Fase crônica (achado laboratorial): curso indolente; facilmente controlada com quimioterapia convencional; após 2-6 anos, evolui para fase acelerada; ✓ Sintomas: fadiga, mal-estar geral, intolerância ao exercício, anorexia, desconforto abdominal, saciedade precoce (decorrente da esplenomegalia), perda de peso e sudorese intensa. ✓ Sinais: palidez e esplenomegalia. • Fase acelerada: mais agressiva e sintomática; duração de 12-18 meses. ✓ Perda do controle dos níveis eritrocitários, leucocitários (leucocitose), plaquetários, da esplenomegalia, e do número de blastos e basófilos. ✓ Sintomas: fraqueza, emagrecimento, dor óssea, sudorese noturna. Obs.: esplenomegalia acentuada e leucocitose mais difíceis de serem controladas. • Crise blástica: quadro semelhante ao da leucemia aguda de novo (refratária ao tratamento e resulta em morte em 3-6 meses); ✓ Sintomas: fraqueza, febre, sangramento cutâneo mucoso, perda de peso. ✓ Citopenias. EXAMES COMPLEMENTARES • Hemograma completo; • Aspirado de medula óssea, biópsia de medula óssea e citogenética; • Pesquisa da proteína de fusão BCR-ABL por técnica de reação em cadeia da polimerase. DIAGNÓSTICO • Cada fase com suas característas, mas para o diagnóstico é necessária a presença do marcador clonal BCR-ABL. • Fase crônica: ✓ Leucocitose (12.000-1.000.000/mm3), com média de 100.000/mm3, à custa de neutrófilos em diferentes estágios de maturação com picos em mielócitos e segmentados. ✓ Mielograma hipercelular à custa da série granulocítica, sem displasia significativa. ✓ Blastos: representam < 2% da série granulocítica no sangue periférico e < 5% das células nucleadas da medula óssea. ✓ Monocitose absoluta (> 1.500/mm3 ) pode estar presente, mas a fração de monócitos usualmente é < 3%. ✓ Basofilia é um achado comum, e a eosinofilia também pode estar presente. ✓ Anemia normocrômica e normocítica discreta também são observadas. ✓ A contagem plaquetária geralmente fica entre a faixa normal até > 1.000.000/mm3. ✓ A biópsia de medula óssea evidencia hipercelularidade para a idade à custa da série granulocítica. • Fase acelerada (presença de 1 dos fatores): ✓ Leucócitos > 100.000/mm3 , não responsivos à terapia (hidroxiureia ou imatinibe); ✓ Trombocitopenia < 100.000/mm3, não relacionada à quimioterapia; ✓ Trombocitose > 1.000.000/mm3 não controlada pelo tratamento; ✓ Esplenomegalia progressiva, não responsiva à terapia; ✓ Basófilos > 20% no sangue periférico; ✓ Mieloblastos entre 10-19% no sangue periférico ou na medula óssea; ✓ Anormalidade citogenética clonal adicional à presença do cromossomo Ph. • Crise blástica: ✓ Blastos > 20% no sangue periférico ou na medula óssea; ✓ Proliferações blásticas extramedulares. TRATAMENTO • Opções: 1. Cura potencial com transplante de medula óssea alogênico; 2. Controle da doença, sem cura, com inibidores de tirosinaquinase; 3. Terapia paliativa com agentes citorredutores. PROGNÓSTICO • Antes da terapia efetiva, a média de sobrevida é de 2-3 anos. • Atualmente, com a disponibilidade dos inibidores de tirosinaquinase, o maior preditor prognóstico passou a ser a resposta ao tratamento (níveis hematológico, citogenético e molecular). HEMOGRAMA DE PACIENTE COM LMC EM FASE CRÔNICA • Série vermelha: ✓ Anemia discreta normocítica e normocrômica. ✓ Reticulócitos normal ou diminuídos. 3 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica • Série branca: ✓ Leucocitose moderada a acentuada (50 a 500 x 10 à nona/L). ✓ Desvio à esquerda até mieloblatos. ✓ Predomínio de elementos maduros. ✓ Basofilia e eosinofilia → encaminhar para o hematologista. • Série plaquetária: ✓ Plaquetas normais ou plaquetose. ESFREGAÇO DE SANGUE PERIFÉRICO LMC EM FASE CRÔNICA HEMOGRAMADE PACIENTE COM LMC EM FASE BLÁSTICA LUC: blastos; transformou-se em leucemia mieloide aguda. ESFREGAÇO DE SANGUE PERIFÉRICO EM LCM NA FASE BLÁSTICA MIELOGRAMA • Fase crônica: ✓ Medula óssea acentuadamente hipercelular. ✓ Hipercelularidade da série granulocítica com predomínio de elementos maduros, basofilia e eosinofilia. ✓ Hipercelularidade da série megacarioblástica com megacariócitos de pequeno tamanho e hipolobulados. • Fase acelerada e blástica: ✓ Hipocelularidade das séries eritroblástica e megacarioblástica. ✓ Aumento de blastos, basófilos e eosinófilos e diminuição dos elementos maduros da série granulocítica. BIÓPSIA DE MEDULA ÓSSEA • Tipo Gran: 60% dos casos ✓ Proliferação de granulócitos. ✓ Megacariócitos em nº normal com distribuição difusa. • Tipo Gran/Meg: 40% dos casos ✓ Proliferação de granulócitos. 4 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica ✓ Focos formas imaturas em região não paratrabecular. ✓ Proliferação de megacariócitos isolados ou agrupados. ✓ Fibrose reticulínica. POLICITEMIA VERA • Caracterizada pelo aumento da produção de glóbulos vermelhos independentemente dos mecanismos que normalmente regulam a eritropoese. • Causa desconhecida, mas observa-se predisposição genética em algumas famílias e acredita-se que radiação ionizante e exposição ocupacional a toxinas são possíveis fatores de risco em alguns pacientes. • Leve predominância no sexo masculino (1-2:1). • Média de idade do diagnóstico é de 60 anos, e é rara em < 20 anos. QUADRO CLÍNICO • Os maiores sintomas são associados a hipertensão e anormalidades vasculares. • Queixas principais: cefaleia, tontura, vertigem, zumbido, distúrbios visuais, parestesias, prurido (após banho/aquagênico), eritromelalgia (dor em queimação nas mãos ou pés + eritema, palidez e/ou cianose), hiperuricemia, nefropatia por ácido úrico e gota e úlcera péptica (aumento dos mediadores inflamatórios). • Achados: pletora e esplenomegalia palpável (70% dos pacientes) e hepatomegalia (40% dos pacientes). • Complicações comuns: trombose venosa ou arterial (podem ser o 1º sintoma da doença), hemorragia (afeta 25% dos pacientes). • Complicações raras: evolução para mielofibrose, leucemia mieloide aguda ou síndrome mielodisplásica. EXAMES COMPLEMENTARES • Hemograma completo; • Biópsia de medula óssea e citogenética (cariótipo constitucional); • Nível sérico de eritropoetina; • Pesquisa da mutação JAK2V617F, presente em 95% dos pacientes; • Gasometria arterial ou saturação de oxigênio; • Eletroforese de Hb; • USG de abdome e dos rins; • Prova de função pulmonar. Obs.: Policitemia vera x DPOC → dosagem de eritropoetina sérica (aumentada na DPOC e diminuída na policitemia vera), saturação (baixa na DPOC e normal na policitemia vera) e hemograma (poliglobulia – aumento das 3 séries). CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS • O diagnóstico é feito com 2 critérios maiores + 1 menor ou 1 critério maior + 2 menores. ABORDAGEM DIAGNÓSTICA CLASSIFICAÇÃO • Conforme o risco de trombose. ✓ Baixo: idade < 60 anos + ausência de trombose prévia. ✓ Alto: idade ≥ 60 anos e/ou trombose prévia. HEMOGRAMA NA FASE PROLIFERATIVA • Série vermelha: ✓ Eritrócitos, hemoglobina e hematócrito: aumentados. ✓ Reticulócitos: normal ou aumentados. • Série branca: ✓ Leucocitose discreta, neutrofilia e basofilia. ✓ Ocasionais metamielócitos e mielócitos. • Sérica plaquetária: 5 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica ✓ Plaquetose moderada ou acentuada. • Fosfatase alcalina aumentada. HEMOGRAMA NA FASE DE FALÊNCIA MEDULAR • Pancitopenia. • Dacriócitos e eritroblastos. OUTROS EXAMES • Concentração de vitamina B12: aumentada. • Saturação de oxigênio no sangue arterial: normal. • Concentração da eritropoetina sérica: diminuída. MIELOGRAMA • Fase proliferativa: ✓ MO intracelular; ✓ Hipercelularidade das séries eritroblástica, granulocítica e megacariocítica; ✓ Sem anormalidades morfológicas ou apenas com megacariócitos gigantes. • Fase falência medular: punção “sêca”. BIÓPSIA DE MEDULA ÓSSEA • Fase proliferativa: ✓ Hipercelularidade trilinear; ✓ Distribuição difusa ou agrupada de megacariócitos pleomórficos; ✓ Sinusóides proliferados e ectasioados; ✓ Fibrose reticulínica: 30% dos casos. • Fase de falência medular: ✓ Hipocelularidade das séries eritroblástica e granulocítica; ✓ Agrupamentos de megacariócitos; ✓ Fibrose reticulínica e colágena. ANORMDALIDADES DO CARIÓTIPO • 25% dos pacientes ao diagnóstico: ✓ Trissomias dos cromossomos 8 e 9; ✓ Del (20q). • 85% dos pacientes com transformação para leucemia aguda: ✓ Monossomia do cromossomo 7; ✓ Del (5q). ESFREGAÇO DE SANGUE PERIFÉRICO EM POLICITEMA VERA EM FASE DE FALÊCIA MEDULAR Célula em forma de lágrima: dacriócitos. HIPERCELULARIDADE GLOBAL AO MIELOGRAMA DE PACIENTE COM POLICITEMIA VERA EM FASE PROLIFERATIVA BIÓPSIA DE MEDULA ÓSSEA COM POLICITEMIA VERA EM FASE DE FALÊNCIA MEDULAR (IMPREGNAÇÃO PELA PRATA) TRATAMENTO • Objetivo: evitar ocorrência e/ou recorrência de trombose e complicações hemorrágicas, minimizar o risco de transformação para leucemia mieloide aguda ou mielofibrose pós-policitemia vera, combater sintomas sistêmicos, tratar complicações e atuar em situações de risco (p. ex., gravidez, cirurgia). • Controle do Ht: manter níveis < 45% em homens e < 42% em mulheres. • Pacientes de baixo risco: flebotomia (7 mL/kg, máximo de 550 mL, até 2 vezes/semana) – induzir um estado de deficiência de ferro, gerando queda do Ht. • Pacientes de alto risco: flebotomia e uso de hidroxiureia (15-20 mg/ kg/dia). ✓ Em casos de gestação, prurido incontrolável e refratariedade à hidroxiureia: alfainterferona (iniciar com 3.000.000 UI, SC, 3 vezes/semana, até 5 MUI/m2/dia). ✓ Fármaco aprovado no Brasil recentemente: ruxolitinibe (bloqueia o complexo enzimático Janus Kinase/KAK, reduzindo a população anormal de células); opção para pacientes intolerantes ou refratários a hidroxiureia. • Pacientes sem contraindicação, intolerância ou história de sangramento maior: ácido acetilsalicílico 100 mg/dia. • Tratamento de suporte: 6 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica ✓ Controle do prurido: - Não farmacológico: tomar banho de morno a frio, enxugar a pele suavemente sem friccionar, hidratar bem a pele; - Farmacológico: anti-histamínicos, bloqueadores de receptores-H2, inibidores da recaptação da serotonina, alfainterferona; ✓ Hiperuricemia e gota: alopurinol. ✓ Eritromelalgia: ácido acetilsalicílico. ✓ Sangramento: suspender AAS e anticoagulação; avaliar possibilidade de doença de von Willebrand adquirida. ✓ Tromboses: tratar conforme protocolo de rotina. PROGNÓSTICO • Sobrevida média dos casos não tratados é de 6-18 meses após diagnóstico, e dos tratados é > 10 anos. • Taxa de mortalidade naqueles tratados é de 1,6-1,7x maior que na população normal de mesmo sexo e faixa etária. MIELOFIBROSE PRIMÁRIA • Caracterizada pela proliferação predominantemente de megacariócitos e granulócitos associada a fibrose medular reativa e hematopoese extramedular. • Causa desconhecida. • Há relatos de exposição à radiação e benzeno como fatores de risco, bem como casos raros de fibrose medular familiar, sugerindo predisposição genética. • Incidência: 0,5-1,5 casos:100.00 hab/ano. • Atinge ambos os sexos de maneira igual. • Idade: 6ª e 7ª décadas (raramente afeta crianças). • Sobrevida média: 3-5 anos. QUADRO CLÍNICO • Mais de 30% dos pacientes são assintomáticos ao diagnóstico, e a doença é descoberta pelo achado de esplenomegalia em exame físico de rotina ou por alterações de hemograma. • Fase inicial (pré-fibrótica): o únicoachado pode ser trombocitose, simulando uma trombocitemia essencial. • Quando há sintomas: ✓ Hipermetabolismo: anorexia, emagrecimento e gota. ✓ Esplenomegalia: massa abdominal e peso abdominal. ✓ Falência medular: fraqueza e sangramento cutâneo mucoso. ✓ Outros sintomas constitucionais: fadiga, dispneia, sudorese noturna, febre, hiperuricemia (artrite gotosa e cálculos renais). • Exame físico: ✓ Hepatomegalia: 50% dos casos. ✓ Esplenomegalia: 90% dos casos. Obs.: hematopoese extramedular → medula entra em falência (fibrose) e baço começa a produzir células. EXAMES COMPLEMENTARES • Hemograma completo e avaliação da lâmina de sangue periférico; • DHL; • Biópsia de medula óssea e citogenética; • Pesquisa de BCR-ABL para excluir leucemia mieloide crônica; • Pesquisa da mutação no JAK2V617F, presente em 50% dos pacientes; • USG de abdome. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS • O diagnóstico é feito com 3 critérios maiores + 2 menores. CLASSIFICAÇÃO • O international prognostic scoring system utiliza 5 fatores de risco para estimar a sobrevida ao diagnóstico: 1. Idade > 65 anos; 2. Hb < 10 g/dL; 3. Leucócitos > 25.000/mm3; 4. Blastos em sangue periférico > 1%; 5. Presença de sintomas constitucionais. • Baixo risco: nenhum dos fatores de risco. • Risco intermediário 1: apresenta 1 fator de risco. • Risco intermediário 2: apresenta 2 fatores de risco. • Alto risco: apresentam ≥ 3 fatores de risco. FASES DA DOENÇA • Pré-fibrótica ou celular: ✓ Semelhante a LMC. • Fibrótica: ✓ Falência da medula óssea. 7 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica ✓ Transformação para leucemia aguda: 5-30% dos casos. HEMOGRAMA EM FASE PRÉ-FIBRÓTICA • Série vermelha: ✓ Anemia discreta ou moderada normocítica normocrômica. ✓ Nº de reticulócitos normal ou diminuído. ✓ Dacriócitos e eritroblastos. • Série branca: ✓ Leucocitose discreta ou moderada. ✓ Desvio à esquerda até mieloblastos. ✓ Predomínio de elementos maduros. • Série plaquetária: ✓ Plaquetose com plaquetas gigantes. HEMOGRAMA EM FASE FIBRÓTICA ESFREGAÇO DE SANGUE PERIFÉRICO EM FASE FIBRÓTICA MIELOGRAMA • Fase pré-fibrótica: hipercelular às custas da série granulocítica com predomínio de elementos maduros e da série megacarioblástica com megacariócitos pleomórficos. • Fase fibrótica: punção “sêca”. BIÓPSIA DE MEDULA ÓSSEA • Fase pré-fibrótica: ✓ Hiperplasia das séries eritroblástica, granulocítica e megacarioblástica. ✓ Arranjo em “paliaçada” das células. ✓ Megacariócitos pleomórficos agrupados ou distribuídos em faixa. ✓ Ectasia de sinusóides. • Fase fibrótica: ✓ Predomínio de fibrose reticulínica e colágena. BIÓPSIA DE MEDULA ÓSSEA EM FASE FIBRÓTICA (IMPREGNAÇÃO PELA PRATA) BIÓPSIA DE MEDULA ÓSSEA EM FASE FIBRÓTICA COM OSTEOMIELOFIBROSE 8 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica TRATAMENTO • Único tratamento potencialmente curativo: transplante de medula óssea alogênico (porém, não está indicado na maioria dos casos, em razão da idade avançada dos pacientes e da indisponibilidade de doador compatível). • Tratamento medicamentoso: controle dos sintomas e melhora da qualidade de vida, no entanto, sem aumento de sobrevida. • Baixo risco ou intermediário 1: não costuma ser necessário tratamento específico. • Risco intermediário 2 ou alto risco: terapia convencional, esplenectomia, radioterapia ou transplante de medula óssea alogênico, ou com drogas experimentais. ✓ Terapia convencional: estimuladores de eritropoese nos pacientes com anemia sintomática e sem esplenomegalia importante. ✓ Nos pacientes com anemia sintomática não candidatos ao uso de estimuladores de eritropoese, podem ser usados corticosteroides, talidomida, andrógenos e lenalidomida. • Medicação de 1ª escolha para tratamento da esplenomegalia sintomática: hidroxiureia. ✓ Se refratariedade: inibidores de JAK2 (ruxolitinibe, talidomida, lenalidomida ou cladribina). • Esplenectomia: pacientes com esplenomegalia maciça não responsiva a tratamento medicamentoso e que leva a desconforto importante ou dor, com alta necessidade de transfusão, plaquetopenia grave, hipertensão portal sintomática ou caquexia. • Radioterapia: controle da hematopoese extramedular não hepatoesplênica, hipertensão pulmonar ou dor em extremidades superiores e inferiores, pacientes com hepatoesplenomegalia não responsiva a outros tratamentos. PROGNÓSTICO • A sobrevida depende do estágio no qual a doença foi diagnosticada. ✓ Se na fase fibrótica: 3-7 anos. ✓ Se na fase pré-fibrótica: 10-15 anos. • Maiores causas de morbimortalidade são: falência medular com infecção ou hemorragia, eventos tromboembólicos, hipertensão portal, insuficiência cardíaca e evolução para leucemia mieloide aguda. TROMBOCITEMIA ESSENCIAL • Envolve principalmente a linhagem megacariocítica. • Caracterizada por trombocitose sustentada no sangue periférico, aumento de megacariócitos grandes e maduros na medula óssea e, clinicamente, tromboses e/ou hemorragia. • Causa desconhecida. • Incidência: 0,6-2,5/100.000 hab/ano. • Não há predominância entre os sexos. • Média de idade ao diagnóstico: 50-60 anos. QUADRO CLÍNICO • A maioria dos pacientes é assintomática, e a doença costuma ser descoberta por meio de exames de rotina. • Quando há sintomas: ✓ Anormalidades da função plaquetária: hemorragia (ex.: mucosas como a do TGI e em vias aéreas superiores) e tromboses. ✓ Cefaleia, escotomas, síncopes, dor precordial atípica, livedo reticular, eritromelalgia e distúrbios visuais. ✓ Oclusões microvasculares → ataques isquêmicos transitórios, isquemia digital com parestesia e gangrena. ✓ Alguns pacientes podem abrir o quadro com tromboses em sítios atípicos, como síndrome de Budd-Chiari ou trombose venosa cerebral. • Exames físico: ✓ Hepatomegalia discreta: 15-20% dos casos. ✓ Esplenomegalia discreta: 50% dos casos. EXAMES COMPLEMENTARES • Hemograma completo; • Biópsia de medula óssea e citogenética; • Pesquisa da mutação no JAK2V617F, presente em 50% dos pacientes; • Pesquisa da proteína de fusão BCR-ABL para afastar leucemia mieloide crônica; • Perfil de ferro e provas inflamatórias (PCR e VHS); • Se plaquetose > 1.000.000 células/mm3 → solicitar coagulograma completo, tempo de sangramento e atividade do cofator de ristocitina (fator de von Willebrand:ristocitina – FvW:RCo), para excluir doença de von Willebrand adquirida. DIAGNÓSTICO • Causas de trombocitose: anemia por deficiência de ferro; hipoesplenismo; pós-esplenectomia; neoplasia maligna; doença vascular do colágeno; doenças inflamatórias intestinais; infecção; hemólise; hemorragia; policitemia vera; mielofibrose idiopática; trombocitemia essencial; leucemia mieloide crônica; anemia sideroblástica idiopática; mielodisplasia; pós- cirurgia; rebote: interrupção da ingestão de etanol, após correção da deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico; linfomas. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS São necessários todos os 4 critérios a seguir: 1. Contagem plaquetária > 450.000/mm3 sustentada; 2. Biópsia de medula óssea mostrando proliferação da linhagem megacariótica, com aumento de megariócitos 9 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica grandes e maduros; não deve haver aumento significativo da linhagem eritroide ou granulocítica; 3. Ausência de critérios para: - Policitemia vera: baseia-se nos níveis de Hb e Ht; é necessária reposição de ferro em casos de ferropenia; - Mielofibrose primária: requer a ausência de reticulogênese e fibrose aumentada, leucoeritroblastose em sangue periférico e biópsia de medula óssea hipercelular com atipia da série megacariocítica; - Leucemia mieloide crônica: requer aausência de BCR- ABL; - Síndrome mielodisplásica: requer ausência de displasia (diseritropoese ou disgranulopoese). 4. Demonstração de JAK2 ou outro marcado clonal, ou, na ausência deles, não ter evidência de trombocitose reativa. CLASSIFICAÇÃO • Conforme o risco de trombose. ✓ Baixo: pacientes sem as características de alto risco e com idade < 40 anos. ✓ Intermediário: pacientes sem as características de alto risco e 40-60 anos de idade. ✓ Alto: aqueles com trombose prévia ou plaquetas > 1.500.000 células/mm3 e idade ≥ 60 anos. TRATAMENTO • De acordo com a estratificação de risco, que leva em conta a ocorrência de trombose e sangramento. • Recomenda-se cessar o tabagismo e controlar a obesidade e outros fatores de riscos cardiovasculares para todos os pacientes: ✓ Baixo risco: observação e uso de AAS 100mg/dia. - Naqueles que apresentam > 1.000.000 plaquetas/mm3 , deve-se pesquisar a presença de doença de von Willebrand adquirida antes de iniciar o AAS. Se FvW:RCo > 30%, o AAS pode ser utilizado; se < 30%, deve-se iniciar citorredução por conta do alto risco de sangramento. ✓ Alto risco: agente citorredutor e AAS 100 mg/dia. - Escolha do agente citorredutor: PROGNÓSTICO • Evolução para mielofibrose é incomum. • Transformação para leucemia mieloide aguda ocorre em < 5% dos pacientes e está associada à terapêutica. • Sobrevida média: 10-15 anos. HEMOGRAMA • Série vermelha: normal. • Série branca: leucocitose discreta com neutrofilia. • Série plaquetária: plaquetose (> 600.000 x 10 elevado à nona/L); megaplaquetas. HEMORRAGIA SUBCUTÂNEA APÓS PEQUENO VOLUME OBSTRUÇÃO ARTERIAL COM GANGRENA EM TROMBOCITEMIA ESSENCIAL ESFREGAÇO DE SANGUE PERIFÉRICO 10 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica MIELOGRAMA • Medula óssea: ✓ Hipercelular discreta às custas da hiperplasia discreta da série granulocítica e acentuada da série megacarioblástica. ✓ Megacariócitos de grande tamanho e hiperlobulados. BIÓPSIA DE MEDULA ÓSSEA • Aumento acentuado de megacariócitos de grande tamanho, hipo ou hiperlobulados, isolados ou agrupados. • Fibrose constitui evento raro. ANORMALIDADES DO CARIÓTIPO • 5 a 10% dos pacientes: ✓ Del (13q) ✓ Trissomia do cromossomo 8 ✓ Trissomia do cromossomo 9 ✓ Del (5q) ✓ T (3;3) (q21q26) ✓ Inv (3) (q21q26) Obs.: Leucemia mielóide aguda: células jovens / leucemia mielóide crônica: células maduras.
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