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A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARNAÍBA: AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS Pedro Jorge Castelo Lima 1. Introdução A Região Hidrográfica do Parnaíba configura-se como uma das mais importantes da Região Nordeste do Brasil, sendo ocupada pelos Estados do Ceará, Piauí e Maranhão. Suas águas atravessam diferentes biomas, como o Cerrado, no Alto Parnaíba, a Caatinga, no Médio e Baixo Parnaíba, e o Costeiro, no Baixo Parnaíba, tornando diferenciadas as características hidrológicas de cada uma destas regiões. Por conta destas variações, é encontrada ao longo da bacia uma proporcional diversidade de atividades econômicas praticadas e consequentemente, diferentes impactos gerados ao ambiente. Ao longo deste trabalho, discutiremos em especial a atual situação (de modo geral) dos corpos hídricos constituintes da bacia levando em consideração características geográficas, ambientais, dados oriundos de monitoramento realizado em alguns munícipios, entre outros parâmetros que regem a qualidade da água. 2. Referencial Teórico A bacia hidrográfica do rio Parnaíba encontra-se integralmente inserida na Região Nordeste do Brasil, estendendo-se pelos estados do Maranhão, Piauí e Ceará. Segundo a Agência Nacional de Águas – ANA (2015), ela abrange 279 municípios, totalizando 333.056 km² de superfície, o equivalente a cerca de 4% do território nacional. Desses municípios, 39 encontram--se parcialmente inseridos, ou seja, seus territórios extrapolam os limites estabelecidos para o vale; os demais 240 municípios possuem a totalidade de sua área territorial inserida na bacia. A maior parte (99%) das terras do estado do Piauí está inserida na bacia do rio Parnaíba. Apenas o município de Cajueiro da Praia (7.163 hab. e 271,7 km²) encontra-se fora da bacia. Ao todo são 220 municípios piauienses na bacia do rio Parnaíba. O estado do Maranhão possui 35 municípios com terras na área da bacia hidrográfica do rio Parnaíba e, desses, os mais populosos são os municípios de Timon e Caxias, ambos com 155 mil habitantes e cerca de 2,4% da população do estado, e o município de Balsas com 84 mil habitantes (1,3%), conforme IBGE (2010). No estado do Ceará inserem-se na área da bacia do rio Parnaíba terras de 20 municípios sendo mais populosos o de Crateús, com 72 mil habitantes, e Tianguá com 69 mil habitantes, representando 0,85% e 0,81% da população do estado, respectivamente, conforme IBGE (2010). O rio Parnaíba tem sua nascente localizada nos contrafortes da chapada das Mangabeiras, sul do Piauí e sudeste do Maranhão, a qual abriga o Parque Nacional das Nascentes do rio Parnaíba, criado pelo Decreto Federal s/n de 16 de julho de 2002 com 729.814 hectares e que compreende porções de terras dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Apresenta três divisões fisiográficas: o Alto, Médio e o Baixo Parnaíba. A bacia, no entanto, apresenta grandes diferenças inter-regionais tanto em termos de desenvolvimento econômico e social quanto em relação à disponibilidade hídrica. A escassez de água tem sido historicamente apontada como um dos principais motivos para o baixo índice de desenvolvimento econômico e social. Contudo, os aquíferos da região apresentam o maior potencial hídrico da Região Nordeste e podem, se explorados de maneira sustentável, representar um grande diferencial em relação às demais áreas do Nordeste brasileiro no que se refere à possibilidade de promover o desenvolvimento econômico e social (ANA, 2016). A respeito dos recursos hídricos superficiais da bacia, conforme estudo realizado pela ANA (2005), a disponibilidade hídrica da região hidrográfica do Parnaíba (considerando a vazão regularizada pelos reservatórios da região) é de 379 m³/s; equivalente a menos de 0,5% da oferta hídrica nacional (91.071 m³/s), e a vazão média da região hidrográfica é de 767 m³/s, correspondendo a 0,43% da vazão média nacional (179.516 m³/s), a menor em comparação com as outras regiões hidrográficas brasileiras. A população total da região, em 2010, era de 4,15 milhões de habitantes, dos quais 35% encontram-se na área rural. A densidade demográfica é de 12,5 hab./km², com destaque para a sub-bacia hidrográfica do rio Poti, onde se situa Teresina, capital do Piauí, que possui índice de urbanização de 92%. O rio Parnaíba, em seus 1.400 km de extensão, é perene na maioria de seus trechos. Seus principais afluentes são alimentados por águas superficiais e subterrâneas, destacando-se os rios: Balsas, situado no Maranhão; Uruçuí-- Preto, Gurgueia, Itaueiras, Canindé/Piauí e Longá, inseridos no Piauí, e o rio Poti, cuja nascente está localizada no Ceará e se estende pelo Piauí. 2.1. Alto Parnaíba Os principais rios inseridos no curso do Alto Parnaíba são: rio Balsas, rio Uruçuí Preto, rio Gurgueia, rio Itaueiras e o próprio trecho do curso do Alto Parnaíba. Na sub-bacia do Alto Parnaíba, predominam solos associados à classe Latossolo Amarelo, apresentando as seguintes características principais: textura levemente argilosa; perfil profundo; drenagem boa à moderada; distróficos; baixos teores de ferro ou completa ausência de hematita; e níveis medianos e eventualmente elevados de alumínio trocável, tornando-os ácidos a muito ácidos. Outra característica importante refere-se à carência de nutrientes essenciais às plantas (nitrogênio, fósforo e potássio) que, associada a um relevo levemente inclinado, torna esses solos exportadores de nutrientes pela erosão. A vegetação da sub-bacia é tipicamente constituída por elementos de Savana (Cerrado), especificamente dos campos cerrados. As árvores são distribuídas com pequena densidade, distanciadas entre si por espaços abertos, onde a superfície do terreno é completamente recoberta por um estrato arbustivo e herbáceo, de moitas e gramíneas. No Alto Parnaíba, a vocação regional e os usos da água, voltam-se para a agricultura de sequeiro, atividade que utiliza a água precipitada e não depende de irrigação, apesar de existirem algumas propriedades que utilizam desta prática. Mas a principal utilização da água para esta atividade é a navegação, nos rios Parnaíba e Balsas, para o escoamento das safras de soja e arroz. O transporte hidroviário diminui os custos com o escoamento das safras para os portos da região. 2.2. Médio Parnaíba Nesse curso, o rio Parnaíba recebe contribuições de água dos seguintes tributários principais: Canindé/Piauí, que desemboca no Parnaíba, próximo à cidade de Regeneração; e o rio Poti, que desemboca no Parnaíba no município de Teresina, capital do Piauí. A sub-bacia do Médio Parnaíba possui grande diversidade pedológica, porém, predominam superfícies de exposição com Latossolo Amarelo / Latossolo Vermelho-Amarelo, principalmente sob domínio das rochas sedimentares, onde se observa também Neossolos Quartzarênicos. As rochas cristalinas dominantes no semiárido originam Latossolo Vermelho-Amarelo, Podzólico Vermelho-Escuro, Neossolos Litólicos, solos Luvissolos Crômicos e Vertissolo. Na sub-bacia Canindé/Piauí, de sudeste para oeste, tem-se uma grande variedade de vegetação definida, no semiárido, como Savana Estépica (Caatinga), bastante uniforme, com presença da favela (Cnidoscolus phyllacanthus) e xique-xique (Pilocereus gounellei), além de outros, seguindo-se um grupamento hipoxerófilo com catingueira (Caesalpinia pyramidalis), rama-de- bezerro (Piptadenia oblíqua) e marmeleiro (Croton hemiargyreus) No Médio Parnaíba, a vocação principal é a pecuária, na Sub-bacia do Piauí Canindé, principalmente de ovinos e caprinos, enquanto que na Sub-bacia Parnaíba 06 (Poti/ Parnaíba) a vocação é para atividades industriais e extrativistas, na sua parte baixa, próximo à Teresina, e agrícola, com irrigação em sua parte alta, próximo a Crateús. A agricultura irrigada é uma prática que vem crescendo nesta região em virtude das baixas precipitaçõese solos com boa fertilidade. 2.3. Baixo Parnaíba O curso do Baixo Parnaíba é formado principalmente pelo rio Longá e pelo trecho do Parnaíba que vai de Teresina até a foz (Baixo Parnaíba). Nas sub-bacias do Baixo Parnaíba, destaca-se a ocorrência de Neossolos Litólicos, Plintossolos, Vertissolos, Aluviões, Latossolos e Neossolos Quartzarênicos nas áreas planas. Esses dois últimos ocupam as superfícies mais extensas. Os Neossolos Litólicos encontram-se nos trechos de relevo movimentado. Os Vertissolos ocorrem em Piracuruca e Buriti dos Lopes, enquanto que os Aluviões acompanham os rios da sub-bacia. Esses dois tipos de solos representam os mais férteis, apresentando boas condições para uso agrícola. Na sub-bacia do Longá, ao leste e a sul, predomina a vegetação de Savana (Cerrado), ao centro destaca-se o complexo de Campo Maior, às vezes situado em superfícies topograficamente baixas, alagáveis e que servem de suporte para gramíneas aquáticas e carnaubeiras (Copernicia prunífera). Ocorrem, neste complexo, Savana Estépica/Savana, Floresta/Savana, com bastante mistura dos seus diferentes representantes No Baixo Parnaíba existem várias atividades, já que a Sub-bacia mais populosa. As atividades vão desde a agricultura irrigada, atividade industrial, extrativismo, pesca, turismo, rizicultura e carcinicultura. As atividades que mais utilizam água são as de rizicultura, que ocorre nas lagoas, de carcinicultura, que utiliza os mangues do Delta do Parnaíba, e a de irrigação de hortaliças e frutas. 3. Dados Complementares 3.1. Saneamento Com relação aos serviços públicos, houve um crescimento entre 1991 e 2000 em todas as Sub-bacias, destacando o crescimento dos serviços de fornecimento de energia elétrica. Apesar do crescimento, os índices continuam baixos, principalmente os de abastecimento de água, com percentuais em torno de 40% de unidades com rede de água, com exceção dos Municípios mais populosos, como Teresina e Parnaíba. Os piores índices são os de coleta de esgoto, com valores em torno de 9% de unidades com coleta, à exceção da região de Crateús, no Ceará, onde os índices são de 16% a 27% de unidades residenciais. Os serviços de coleta de lixo estão em torno de 15% de unidades domiciliares atendidas, em quase toda a Região Hidrográfica, com destaque aos Municípios polarizadores como Balsas, Picos, Floriano, Crateús, Parnaíba e Teresina, com índices em torno de 80%. No entanto, o fato de possuir coleta de esgoto ou lixo, não significa que estes estão sendo tratados e dispostos adequadamente na região, evitando a contaminação dos corpos de água. Ações institucionais são fundamentais na região para a melhoria das condições sanitárias, desde investimentos em sistemas de coleta e tratamento de resíduos líquidos e sólidos até campanhas permanentes de conscientização. Um indicativo da precariedade do saneamento básico é a ocorrência de óbitos por doenças infecciosas e parasitárias, em função do uso da água contaminada por vetores da hepatite, esquistossomose, cólera, entre outras. A região do Baixo Parnaíba apresenta os maiores índices de óbitos desta natureza. Ali se concentra o maior contingente populacional, mas os sistemas de coleta de esgotos e distribuição de água são precários. Um aspecto que chama a atenção é a morbidade por doenças do sistema circulatório que supera a maioria dos casos de óbitos na região, apresentando o maior índice na Sub-bacia do Alto Parnaíba. Este fato pode estar relacionado ao manejo inadequado de agrotóxicos pelos agricultores da região. No entanto, é uma hipótese que precisa ser investigada com mais cuidado. A infraestrutura de saneamento básico na região é precária e repercute sobre a qualidade da água, sendo perceptível pelos atores sociais, justificando assim a relevância do enquadramento dos cursos de água. A existência de planos de recursos hídricos é considerada relevante, uma vez que eles traçarão as diretrizes para a infraestrutura hídrica, para o enquadramento dos cursos de água e para a gestão dos recursos hídricos na região. 3.2. Desenvolvimento econômico regional e usos da água As principais demandas de água na região são para o abastecimento humano, irrigação e dessedentação de animais. De maneira geral a região possui boa disponibilidade hídrica, tanto superficial, como subterrânea, sendo sufi - ciente para garantir a demanda atual. O balanço demanda e disponibilidade hídrica superficial aponta uma situação Excelente em quase todas as Sub- bacias, com exceção das Sub-bacias Parnaíba 03 (Gurguéia) e Parnaíba 05 (Piauí/Canindé), que apresentam condição Confortável. Quanto ao critério Demanda/Vazão Média Anual, todas as Sub-bacias apresentam condição Excelente. O balanço demanda e disponibilidade de água subterrânea, aponta sufi ciência para garantir as demandas atuais. Em toda a região, predominam os usos da água para fins domésticos e lançamento de efluentes. No Alto Parnaíba existe também o uso da água para a navegação e para a geração de energia elétrica. No Médio Parnaíba, o uso em potencial é para a irrigação e a indústria, nas proximidades de Teresina. Na Sub- bacia Baixo Parnaíba a água é utilizada para a irrigação, pesca, carcinicultura e turismo. 3.3. Principais Problemas Os principais problemas com os usos exclusivos da água na região são a degradação da qualidade da água pelo uso exclusivo de lançamento de efluentes e a dificuldade de implantação de uma hidrovia em função da construção do reservatório Boa Esperança. Os principais conflitos e problemas com os usos da água são a degradação da qualidade da água devido o lançamento de efluentes, além do manejo inadequado de insumos agrícolas. O uso inadequado do solo provoca o assoreamento dos corpos de água, principalmente no rio Parnaíba. Existem conflitos entre a navegação e a geração de energia elétrica e a exploração inadequada dos aquíferos, principalmente nas Sub-bacias Parnaíba 03 (Gurguéia), Parnaíba 04 (Itaueiras) e Parnaíba 05 (Piauí/Canindé) e, nas lagoas, há conflitos entre rizicultores e pescadores. A carcinicultura degrada os mangues do Delta do Parnaíba. 3.4. Gestão Alguns projetos e programas relacionados aos recursos hídricos estão em execução na região: Planap/Codevasf, Proágua, PAN-Brasil, Fome Zero, ZEE Baixo Parnaíba, entre outros. No caso do Planap/Codevasf, é fundamental a interseção entre as suas áreas de atuação com as Sub-bacias da Região Hidrográfica do Parnaíba, de forma a compatibilizar as ações de planejamento e gestão dos recursos hídricos com as ações da Codevasf na região. Durante o Seminário Regional do Parnaíba foram definidas questões prioritárias para a região, bem como programas e diretrizes. Com relação à gestão dos recursos hídricos, houve uma grande preocupação com o fortalecimento institucional, principalmente com relação à capacitação dos recursos humanos. Quanto ao meio ambiente, a maior preocupação foi com os recursos hídricos subterrâneos, que vêm sofrendo degradação, tanto em termos de qualidade, quanto de quantidade. Também houve preocupação com o desmatamento da mata ciliar e do assoreamento dos rios e reservatórios. Já em termos de usos múltiplos, a maior preocupação foi com o setor de saneamento, haja vista a precariedade em que se encontra a coleta, tratamento e disposição final dos resíduos sólidos e líquidos na região. Para cada questão prioritária foram traçados programas e diretrizes, base para o Plano Nacional de Recursos Hídricos, e guia para as ações relacionadas aos recursos hídricos na região. Na Região Hidrográfica do Parnaíba existem cinco unidades de Conservação, dos quais quatro são Parques Nacionais (PN) e uma é estação Ecológica (EE). Existem, também, três Áreas de Proteção Ambiental (APA) e três Reservas Indígenas registradas pela Funai, além de interceptar dois Corredores Ecológicos. Os quatro ParquesNacionais situados na Região Hidrográfica do Parnaíba são: Parque Nacional das Nascentes do Parnaíba, Serra da Capivara, Serra das Confusões e Sete Cidades. A APA da Chapada do Araripe está localizada entre os Estados do Ceará, Piauí e Pernambuco, ocupando uma área de 976.730 hectares no bioma Caatinga. Além das unidades de Conservação, existem na região do Parnaíba dois Corredores Ecológicos: o da Caatinga e o Jalapão. 3.5. Infraestrutura A infra-estrutura hídrica da Bacia do Parnaíba é composta por várias barragens e adutoras construídas nos cursos de água, com capacidade de acumulação de 12.417.062.890m³, dos quais, 6.904.502.890m³ já estão construídas, 1,369 milhões de m³ estão em construção e 4.143.560.000m³ estão em projeto, licitadas ou em estudo. Adutora é um substantivo feminino que indica um canal ou conjunto de tubos que fazem o transporte de gases ou líquidos. Uma adutora é uma estrutura que faz parte da rede de abastecimento de água, tem o objetivo de transportar água que esteja em um reservatório até ao local onde vai ocorrer o seu tratamento. Da capacidade de acumulação construída, 5,085 milhões de m³ são relativos à barragem Boa Esperança, a maior e mais importante do Vale do Parnaíba. Esta barragem drena uma área de 87.500Km2 e mantém o regime fluvial do rio Parnaíba com vazão média anual de 301m³/s, correspondendo a 66% da vazão média de longo período da Bacia de contribuição. 4. Relatório de Monitoramento da Qualidade da Água O QUALIÁGUA - Programa de Estímulo à Divulgação de Dados de Qualidade de Água, é uma iniciativa da Agência Nacional de Águas - ANA, na qual estabeleceu os seguintes objetivos, a saber: contribuir para a gestão sistemática dos recursos hídricos, por meio da divulgação de dados sobre a qualidade das águas superficiais; estimular a padronização dos critérios e métodos de monitoramento de qualidade de água no País, conforme as diretrizes especificadas na Resolução ANA nº 903/2013; contribuir para o fortalecimento e estruturação dos órgãos estaduais gestores de recursos hídricos e meio ambiente para a realização do monitoramento sistemático da qualidade das águas e publicidade dos dados gerados e promover a implementação da Rede de Monitoramento da Qualidade das águas - RNQA, no âmbito do Programa Nacional de Avaliação da Qualidade das Águas - PNQA (ANA, 2019). O referido contrato tem duração de 05 (cinco) anos e tem como objetivo realizar o monitoramento dos corpos hídricos superficiais das principais Bacias Hidrográficas do Estado do Maranhão e, posteriormente divulgar os dados a sociedade em geral. As coletas são realizadas em uma frequência trimestral por técnicos da Superintendência de Planejamento e Monitoramento e Laboratório de Análises Ambientais da SEMA, utilizando em campo a Sonda Multiparamétrica YSI EXO 01 que consiste em um instrumento multiparamétrico da YSI que coleta dados com até quatro sensores substituíveis e com transdutor de pressão integrado para a medição da profundidade, com portas inteligentes, onde cada porta aceita qualquer sensor EXO de qualidade de água. 4.1. Padrões Para analisar os dados apresentados nos relatórios, usou-se como base a Resolução CONAMA 357/2005, onde são apresentados os padrões dos parâmetros de qualidade da água de acordo com suas respectivas classes. Vale mencionar que o Rio Parnaíba foi considerado água doce classe 2, tendo como padrões recomendados expressos na tabela a seguir. Tabela 1 – Padrões de água doce - classe 2 (Resolução 357, 2005) pH Condut ividade Turbidez Temp. do ar Temp. da água Salinidad e Oxigênio dissolvido TDS Valores permitidos 6,0-9,0 - Até 100 UNT - - Até 0,5‰ Mínimo 5 mg/L - Ao todo foram analisados cinco relatórios que contemplaram alguns trimestres entre 2017 e 2019. No entanto, já se pode adiantar que a Bacia do Parnaíba pouco foi contemplada em pontos de coleta. Tanto que no primeiro relatório (setembro a dezembro de 2017) nenhum município integrante da bacia fez parte da análise, enquanto nos outros quatro relatórios foi encontrado apenas um município (integrante) em cada. 4.2. Março a Maio de 2018 Data da Coleta pH Condutivi dade (µS/cm) Turbide z (NTU) Temp. do ar (°C) Temp. da água (°C) Salinida de (ppt) OD (mg/L) São Matheus do Maranhão - 4,18 106,3 10,62 27,10 30,02 - 10,62 Dos parâmetros analisados, podemos ver que maioria está de acordo com o previsto nas normas. No entanto, o pH que deveria valor mínimo de 6,0 apresentou 4,18. Vale lembrar que essa recomendação encontrada na norma visa garantir apenas a tratabilidade da água, e com a devida correção em estações de tratamento não gera qualquer risco à saúde humana após seu consumo. As informações de data de coleta e salinidade não foram apresentadas. Vale ressaltar que o parâmetro salinidade é de extrema importância pois juntamente com a quantidade de oxigênio dissolvido pode-se ter uma grande noção do ecossistema no que tange a fauna local. 4.3. Agosto a Dezembro de 2018 Data da Coleta Temp. do ar Temp. da água pH OD Condutivi dade Turbidez Salini dade São Mateus 04/09 25,46 29,79 7,00 6,02 112,40 50,91 0,05 04/12 26,74 28,16 7,60 5,61 123,10 135,87 0,06 A maioria dos dados se encontraram dentro dos padrões estabelecidos. No entanto, a turbidez da coleta do dia 04/12 se encontra acima do limite recomendado de até 100 UNT. Vale lembrar que elevações nos níveis de turbidez em um corpo hídrico podem ser geradas pela presença de matérias sólidas em suspensão, matéria orgânica e inorgânica finamente divididas, organismos microscópicos e algas. Neste parâmetro podemos fazer um paralelo direto com o saneamento básico, pois o descarte irregular de resíduos sólidos e efluentes não tratados em corpos hídricos causam aumento da turbidez na água. 4.4. Março a Agosto de 2019 Data da Coleta Temp. do ar Temp. da água pH OD Condutivi dade Turbidez Salini dade São Mateus 13/05 29,15 30,15 6,27 4,02 758,90 21,12 0,05 06/08 25,90 29,24 4,26 5,98 126,0 32,69 0,06 Mais uma vez podemos observar valores fora do padrão. É o caso da coleta feita no dia 13/05 onde a quantidade de oxigênio dissolvido está abaixo dos 5 mg/L recomendados. No entanto, não está tão abaixo assim, isto é, seus impactos acabam não sendo tão intensos. Vale lembrar que valores de OD abaixo de 2,0 mg/L O2 pode levar a maioria dos organismos à morte, caracterizando assim uma falta de qualidade no corpo hídrico em questão. Outros parâmetros fora do padrão se encontram na coleta realizada no dia 06/08 como o pH abaixo dos 6,0 recomendados, que pode ter sido causado por fatores naturais, como dissolução de rochas, absorção de gases atmosféricos, oxidação da matéria orgânica e, por fatores antropogênicos, como despejo de esgotos domésticos e industriais. 4.5. Setembro a Dezembro de 2019 Data da Coleta Temp. do ar Temp. da água pH OD Cond. Turb. SS Alcalini dade Trans p. Água Cloretos P o rt o 04/10 29,20 31,60 7,39 6,94 46,80 36,76 46,00 10,0000 0,38 0,0030 08/11 27,26 31,71 7,35 7,50 44,40 12,69 6,00 3,60 NM 300,00 C o e lh o N e to 05/10 26,25 30,52 7,78 7,28 46,40 10,71 12,00 1,6000 0,60 0,0030 08/11 25,35 32,65 7,79 7,58 43,20 12,17 12,00 4,80 0,60 480,00 Para as análises do ano de 2019, as equipes utilizaram a Sonda Multiparamétrica YSI EXO 01, com os seguintes parâmetros: pH, Condutividade, Turbidez, Temperatura do ar, Temperatura da água, Sólidos em Suspensão, Transparência da Água, Alcalinidade, Oxigênio Dissolvido e Cloretos. Felizmente, entre todos os relatórios feitos até então, este foi o único onde os pontos coletados apresentaram todos os parâmetros dentro dos padrões recomendados. 5. Considerações FinaisDe modo geral, pôde-se observar no mínimo a maioria dos parâmetros analisados dentro do padrão recomendado pela norma. No entanto, o levantamento de dados foi muito superficial. Outros parâmetros de crucial importância para a análise da qualidade de uma água não foram considerados como indicadores biológicos. O estado do Maranhão apresenta uma grande extensão territorial e hídrica, com variações em fatores que influenciam nos ciclos hidrológicos como estiagens, e variações em atividades econômicas realizadas. Diferentes atividades socioeconômicas geram diferentes impactos nos corpos hídricos. Considerando toda essa extensão e potencial no estado, a quantidade de pontos estudados pode ser considerada insuficiente e poderia ter sido muito melhor explorado, tanto que de modo geral a bacia hidrográfica do Paranaíba praticamente não foi contemplada com pontos de coleta. De qualquer forma, vale ressaltar a importância do acompanhamento constante da qualidade destes corpos hídricos, pois assim atitudes de fiscalização e mitigações (quanto necessárias) ficam bem mais fáceis, apesar de que no estado do Maranhão ainda existem muitos déficits nesse sentido. Apesar de normas de crucial importância como a Política Estadual de Recursos Hídricos e a criação dos Comitês de Bacias Hidrográficas, ainda há um longo caminho a ser percorrido a fim de assegurar a qualidade dos corpos hídricos no estado. REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (Brasil). Disponibilidade e demandas de recursos hídricos no Brasil. Brasília: ANA, 2005. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (Brasil). Plano Nacional de Recursos Hídricos - Secretaria de Recursos Hídricos. Síntese Executiva. Brasília, MMA, 2006. CAMPOS, N. (Org). Gestão das águas: princípios e práticas. Porto Alegre, 2ª. ed., ABRH, 2003. MARANHÃO. SEMATUR. Diagnóstico dos principais problemas ambientais do Estado do Maranhão, São Luís: LITHOGRAF, 1991. SANTOS, L. C. A. dos. e LEAL, A. C. Política de recursos hídricos no estado do Maranhão. In: CUNHA, L; PASSOS, M. M. dos; e JACINTO, R. (Org). As novas geografias dos países de língua portuguesa: paisagens, territórios, políticas no Brasil e Portugal. Guarda: CEI, 2010.
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