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1 May Freitas (Saúde da Mulher) CONSULTA GINECOLÓGICA AVALIAÇÃO CLÍNICA COMO BASE DO ATENDIMENTO EM GINECOLOGIA A consulta ginecológica segue o roteiro habitual das consultas médicas: anamnese, exame físico, elaboração de hipóteses diagnósticas, solicitação de exames complementares, conduta quanto à terapêutica e ao seguimento da paciente. No entanto, há particularidades muito importantes que merecem atenção: • A consulta abordará assuntos íntimos ligados à sexualidade, à higiene menstrual, ao planejamento familiar e a sintomas percebidos nas mamas e no sistema urogenital. É preciso, portanto, que o médico procure deixar a paciente à vontade para que ela possa falar livremente de suas queixas e preocupações, e abstenha-se de emitir julgamentos ou fazer observações que possam constrangê-la, respeitando a fragilidade da paciente neste momento. Da mesma maneira, durante o exame físico procura-se respeitar ao máximo o pudor da paciente, tomando alguns cuidados fundamentais: • Deve-se permanecer afastado quando a paciente, preparando-se para o exame, troca de roupa e veste o avental, com ou sem a ajuda de uma profissional de enfermagem. Isso também é válido para o fim do exame, quando a paciente veste-se novamente. • Durante o exame ginecológico, deixa-se exposta apenas a parte do corpo que está sendo examinada, e o resto do corpo da paciente permanecem coberto. • A cada passo do exame, explica-se à paciente o que será feito e, se necessário, ela é tranquilizada sobre algum temor que expresse no momento. Seguir essas recomendações vai deixar a paciente mais relaxada e vai gerar confiança no profissional. É importante lembrar que, como em qualquer atendimento médico, a avaliação clínica inicial constitui a base de todo o atendimento em ginecologia. Uma consulta inicial bem feita vai reduzir os riscos de exames desnecessários e diagnóstico e conduta incorretos. ANAMNESE ➢ Deve-se realizá-la de forma cordial e atenciosa, evitando constrangimentos que poderiam comprometer a qualidade das informações. ➢ Deve-se ter a compreensão e acolher os receio do exame ou com preocupações acerca do diagnóstico que possa ser feito. ➢ Compreender sua ansiedade e procurar estabelecer um diálogo que a tranquilize e a permita ouvir com calma os seus sintomas e questionamentos ➢ Reforçar o estabelecimento de uma boa relação médico-paciente que já inicia no primeiro momento de cada consulta. O ROTEIRO DA ANAMNESE IDENTIFICAÇÃO ✓ Nome completo da paciente ✓ Idade ✓ Cor autodeclarada ✓ Estado civil (esclarecendo também se a paciente, independentemente do estado civil oficial, tem companheiro ou companheira). ✓ Profissão, grau de instrução, naturalidade, procedência, contatos de endereços e telefones 2 May Freitas (Saúde da Mulher) AH!! Essas informações podem auxiliar na avaliação de possíveis fatores de risco para desenvolver determinadas doenças, como aquelas associadas à faixa etária, à atividade laboral e à procedência. QUEIXA PRINCIPAL E HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL A queixa principal deve ser registrada da forma como a paciente a expressa e na sua linguagem, observando que, por vezes, o motivo da consulta não é propriamente uma queixa, mas necessidade de alguma orientação a respeito da saúde, realização de exame periódico de rotina ou orientação sobre planejamento familiar. São detalhados, então, a evolução e o comportamento dos sintomas referidos no item história da doença atual. Aqui interessa saber: ✓ Quando eles iniciaram? ✓ Qual é sua duração e intensidade? ✓ Fatores associados que os aliviam, agravam ou desencadeiam, explorando cada detalhe. REVISÃO DE SISTEMAS Particular atenção merecem os sintomas urinários e os sintomas relativos ao hábito intestinal, pois muitas vezes motivam sintomas no baixo ventre e no abdome, e, nesse caso, é importante estabelecer se há patologia ginecológica associada ou não. Da mesma forma, sintomas relacionados à coluna, ao aparelho locomotor e aos membros inferiores também são úteis, pois eventualmente podem estar associados à dor pélvica. Informações gerais sobre bem-estar, apetite, humor e qualidade do sono são relevantes, assim como sintomas nos demais sistemas, como sistema nervoso central, circulatório, respiratório, digestório, endócrino, osteoarticular, pele e fâneros. ANTECEDENTES GINECOLÓGICOS E OBSTÉTRICOS São itens da anamnese muito importantes para o ginecologista. Ao não abordar algum dos conteúdos deste item, pode-se perder uma informação fundamental para estabelecer as hipóteses diagnósticas mais adequadas e compreender o que se passa com a paciente. ✓ Primeira menstruação (menarca) e sobre os ciclos menstruais subsequentes, sua regularidade, intervalo, duração, intensidade do fluxo, cólicas ou outros sintomas associados, atrasos menstruais, data da última menstruação e se ela teve as características habituais ou foi atípica. ✓ Se a paciente já parou de menstruar, anota-se também a data da menopausa. ✓ Se for possível, resgatam-se dados sobre o desenvolvimento puberal (telarca, pubarca). ✓ Quando indicado, investigam-se sintomas climatéricos, em especial, alterações menstruais e uso de terapia hormonal. ✓ Aborda-se a vida sexual da paciente de maneira respeitosa, sem manifestar aprovações ou desaprovações, e sem emitir julgamentos. ✓ Se houver alguma recomendação a dar sobre cuidado ou prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), o momento de oferecê-la será ao estabelecer a conduta, na conclusão da consulta. ✓ Anota-se se a paciente já iniciou sua vida sexual e a data da primeira relação (sexarca), informações sobre os parceiros sexuais, uso de métodos de prevenção para as DSTs, libido, prazer e orgasmo, práticas sexuais, dispareunia, vaginismo e sangramento nas relações sexuais. 3 May Freitas (Saúde da Mulher) o Dispaureunia (dor genital durante ou após a relação sexual); Vaginismo (contrações espasmódicas e involuntárias dos músculos da parede vaginal no momento da penetração do pênis, o que torna o ato sexual doloroso ou o impossibilita). ✓ Questiona-se sobre os antecedentes obstétricos: número de gestações e sua evolução (pré- natal) – partos espontâneos ou instrumentados, cesarianas, abortos, gestações ectópicas, partos prematuros, curetagens, peso e condição dos recém-nascidos, períodos de amamentação, e eventuais complicações decorrentes dos partos, como lacerações, infecções de parede e outras infecções (endometrites, mastites). ✓ Investiga-se sobre sintomas relacionados à vulva, à vagina e ao colo uterino (também denominado cérvice): secreção vaginal e corrimento, características do fluxo (cor, odor, prurido associado), lesões ou alterações da pele e da mucosa observadas pela paciente, adenomegalias associadas, sensações de peso ou saliências na vagina sugestivas de distopias, incontinência ou urgência urinária e suas características. ✓ Também é importante saber sobre tratamentos de infecções com medicamentos tópicos ou sistêmicos, cauterizações ou outros procedimentos ambulatoriais. ✓ Por fim, pergunta-se sobre sintomas relacionados às mamas: dor relacionada ou não ao ciclo menstrual e sua localização, percepção de nódulos, derrame papilar espontâneo ou provocado pela expressão e suas características (seroso, sanguinolento, purulento, leitoso) ANTECEDENTES MÓRBIDOS Interrogar a paciente sobre problemas de saúde ocorridos no passado e sua evolução e resolução. ✓ Doenças e seu tratamento, internações hospitalares, cirurgias e o período de recuperação, alergias (com especial atenção à alergia associada a medicamentos), transfusões de sangue e vacinação. ANTECEDENTES FAMILIARES Toda história de patologias em familiares é relevante – em especial: ✓ Doenças cardiovasculares (hipertensão arterial, varizes, tromboembolismo), ✓ Endócrinas (doenças da tireoide, diabetes) ✓ Osteoporose ✓ Obesidade ✓ Ttumoresda mama ✓ Tumores ginecológicos Anotando-se a idade em que ocorreram, sua gravidade e desfecho. PERFIL PSICOSSOCIAL – CONDIÇÕES E HÁBITOS DE VIDA Contribui para entender quais são as condições gerais de vida da paciente, suas condições de habitação, hábitos de higiene e de cuidado com sua saúde. Pergunta-se sobre sua casa (se é de alvenaria, se há luz, água encanada, esgoto, se há animais na casa) e sobre a estrutura de sua família (com quem vive). São também itens importantes: escolaridade, alimentação, trabalho, lazer, exercícios e atividades físicas, etilismo, tabagismo, uso de outras drogas ou medicamentos. AH!! Ao concluir o roteiro de anamnese, é oportuno perguntar à paciente se há algo mais que ela gostaria de contar, algo que a preocupe ou que ela só tenha lembrado neste momento. Esse cuidado leva em consideração as inibições e os receios que a paciente pode apresentar quando inicia a consulta. 4 May Freitas (Saúde da Mulher) EXAME FÍSICO Embora o foco do exame seja relacionado aos aspectos ginecológicos, ele deve iniciar por uma avaliação geral que inclua peso, altura, observação do estado geral da paciente, ectoscopia (pele e distribuição de pelos), pressão arterial, palpação da tireoide, ausculta cardíaca e pulmonar e avaliação das extremidades. A paciente deve ser orientada sobre a necessidade da realização de exame físico ginecológico anual e sobre como o exame será feito. EXAME DAS MAMAS Deve seguir a seguinte ordem: I. Inspeção estática: Paciente com tronco desnudo, na posição sentada e com braços ao longo do corpo é observada para afastar ou diagnosticar áreas de hiperemia, edema, inversão de mamilos, alteração de volume. II. Inspeção dinâmica: Na posição sentada, com as mãos apoiadas na cintura, a paciente é orientada a contrair os músculos peitorais com o objetivo de expor possíveis abaulamentos, retrações e assimetrias. III. Palpação das cadeias de linfonodos: Os linfonodos que podem ser acometidos por metástases de câncer de mama sempre devem ser avaliados. Inicialmente, palpam-se os linfonodos da cadeia supraclavicular, cervical posterior, cervical anterior e, por último, da cadeia axilar. IV. Palpação de mamas: A paciente deve estar na posição supina e com os braços apoiados sob a cabeça. A palpação deverá seguir movimento circular, abrangendo todos os quadrantes, a região retroareolar e o prolongamento axilar. A palpação deverá ser feita com as duas mãos espalmadas para dar mais precisão ao exame, como percepção de adensamentos e nódulos. No fim da palpação, pode-se realizar a expressão suave dos mamilos para avaliar a presença de derrame papilar. EXAME DO ABDOME Posiciona-se a paciente em decúbito dorsal e inicia-se pela inspeção, observando o aspecto da pele, estrias, hérnias, cicatrizes e diástases dos músculos retos do abdome. A ausculta pode ser feita para pesquisar a presença de ruídos hidroaéreos. Segue-se a percussão e a palpação do abdome, investigando a presença eventual de massas abdominais, de sinais de ascite ou de irritação peritoneal. EXAME PÉLVICO Enluvam-se as mãos para realizar o exame pélvico. Exame da vulva e do períneo Deve ser realizado de forma sistemática, abrangendo a área desde o monte púbico até o ânus. Os linfonodos inguinais também devem ser palpados. Observa-se pele e trofismo vulvar, eventuais alterações como eritema e outras mudanças na coloração da pele, lacerações perineais, secreções e lesões, aspecto do hímen e carúnculas himenais, pequenos lábios e clitóris. Prolapsos urogenitais podem ser investigados, pedindo-se que a paciente faça esforço (manobra de Valsalva). A uretra também deve ser observada quanto à eventual presença de secreções que podem indicar infecções ou a alterações de coloração ou irregularidade da superfície associadas ao prolapso uretral. Exame especular A técnica exige a introdução oblíqua do espéculo em relação ao períneo, aprofundando em direção ao fundo da vagina, ao mesmo tempo em que é feita a rotação para a direita até a posição transversa. Dessa forma, evita-se pressionar a uretra e provocar dor. Deve-se evitar o uso de lubrificantes, porém, se necessário, pode- 5 May Freitas (Saúde da Mulher) se usar soro fisiológico com o objetivo de umedecer o introito vulvar e introduzir o espéculo com mais facilidade. Além da inspeção da vagina e do colo do útero, esse exame permite coleta de secreção vaginal. Com o objetivo de diminuir o desconforto, o espéculo deverá ser o menor possível para permitir a visualização adequada das paredes vaginais e do colo do útero. Na clínica diária, a maioria dos exames poderá ser realizada com espéculo 1 de Collins, salvo em exame de grande multípara, mulher obesa ou com distopia genital. Toque vaginal bimanual Com as mãos enluvadas para realizar o toque vaginal bimanual, pode-se lubrificar os dedos indicador e médio que serão introduzidos no canal vaginal, fazendo pressão uniforme para trás enquanto os pequenos lábios são afastados. Palpa-se a musculatura pélvica, as paredes da vagina, o colo uterino e os fundos de saco vaginais. Colocando-se a outra mão espalmada no hipogástrio, comprime-se a parede abdominal enquanto o colo uterino é delicadamente elevado pelos dedos que realizam o exame vaginal, palpando-se o útero entre as duas mãos. Por meio desse exame, é possível avaliar o útero quanto ao seu volume, posição, mobilidade, consistência, regularidade de superfície e dor à mobilização do colo uterino. A seguir, faz-se a palpação bimanual das regiões anexiais: I. Ovários: podem ser palpados na mulher não obesa, quando adequadamente relaxada durante o exame. II. Tubas uterinas: Algumas vezes o exame pode revelar aumento das tubas causado por inflamações ou acúmulo de líquido em seu interior. III. Fundo de saco de Douglas: Para buscar alguma alteração que possa ser causada por tumores ou por endometriose. Ainda que frequentemente os anexos não sejam palpáveis, sua pesquisa no exame é de grande valor, pois pode detectar anexos anormalmente aumentados por tumores e processos infecciosos. Toque retal O toque retal não é feito rotineiramente em todas as consultas. Ele é útil nas avaliações de pacientes com dor ou massa pélvica identificada, suspeita de endometriose ou neoplasia, na presença de sintomas intestinais ou sangramento ou, ainda, quando for considerada a possibilidade de um tumor nessa área. IMAGEM EM GINECOLOGIA São solicitados pelos ginecologistas para auxiliar no diagnóstico e na definição de conduta a ser adotada na prática diária. A ultrassonografia (US) é uma das técnicas auxiliares de diagnóstico mais utilizadas em ginecologia. Em todo exame de imagem, devem constar o nome da paciente, a data de realização, o número de registro e o médico solicitante. Os médicos executores devem ser informados sobre o motivo da solicitação do exame e os resultados anteriores relacionados. EXAMES COMPLEMENTARES Os exames complementares realizados na rotina da consulta ginecológica são de secreção vaginal e coleta de CP de colo uterino; TECNICA DE COLETA PARA SECREÇÃO VAGINAL: 6 May Freitas (Saúde da Mulher) É realizado com a espátula de Ayre (ponta arredondada); A secreção é colhida do fundo de saco vaginal e colocada sobre uma lâmina previamente preparada com uma gota de soro fisiológico e outra lamina com hidróxido de potássio a 10%; Em seguida, os materiais são cobertos com lamínulas para análise microbiológica; que é realizada no próprio consultório; O exame com hidróxido de potássio facilita a visualização de hifas e de esporos de fungos; TÉCNICA DE COLETA PARA CP Exige amostragem da junção escamocolunar (JEC – fica entre os epitélios colunar e escamoso) para que o exame seja satisfatório; Espátula de Ayre : utiliza a ponta, colocando a parte mais longa no orifício cervical e girando 360º; dessa forma, será coletado células representativasda JEC; Em seguida, espalha o material sobre a lamina previamente identificada; Depois, utiliza a escova endocervical; esta deve ser girada em 360º para descamação e coletaa de células endocervicais; e é colocado em lâmina; Depois de colocados na lâmina, separadamente, os materiais devem ser sobrepostos e fixados com álcool etílico 95% ou outro fixador; OUTROS EXAMES Podem ser necessários, dependendo da clinica do paciente, como achados físicos durante a consulta ou devido ao resultado de CP colhido anteriormente; Estes exames são: coloposcopia; biópsia de colo uterino, vulva, vagina, de endométrio ou endocérvice; Os exames das mamas tambpem podem exigir exames complementares como: punção aspirativa por agulha fina (PAAF) para CP, ou biopsia com agulha grossa para exame histopatológico; COLOPOSCOPIA É incorporado ao exame ginecológico para avaliação das patologias cervicais; Este exame permite a ampliação do trato genital inferior, buscando as alterações estruturais da vagina e do colo uterino; Também é utilizado para avaliar a vulva, nesse caso é chamado de vulvoscopia; Indicações de coloposcopia: quando há resultado de CP de colo uterino alterado, alterações macroscópicas observadas no exame especular (lesões, ulcerações, massas tumorais etc) e sangramento pós-coital sem causa definida; Por meio da coloposcopia é possível realizar biópsia dirigida das áreas suspeitas de lesão de alto grau; ▪ Caso haja sangramento durante o procedimento, usa-se o bastão de nitrato de prata ou sulfato férrico; ▪ Raramente é feita sutura após biópsia, mas os instrumentos e suprimento necessários devem estar disponíveis; 7 May Freitas (Saúde da Mulher) BIÓPSIA NA REGIÃO VULVAR E DA VAGINA É feita utilizando anestesia local; O melhor jeito para obter a amostra é: fazer uma excisão com o bisturi ou uma biópsia por punção Keyes, o qual é torcido na pele e penetra na derme fazendo uma incisão circular; Após procedimento, pode haver sangramento, que e resolvido com bastão de nitrato de prata ou sulfato férrico; Sangramentos maiores podem precisar de suturas interrompidas; BIOPSIA ENDOMETRIAL OU ENDOCERVICAL É um exame de baixo custo que pode ser feito no consultório; É realizado às cegas, por aspiração com cânulas pequenas e flexíveis (Cateter de Pipelle) ou cureta de Novak; Nos casos de suspeita de malignidade, um resultado negativo não deve interromper a investigação; CONSULTÓRIOS GINEOLÓGICOS Há tendência de os consultórios serem cada vez mais esquipados para realização de exames diagnósticos complementares, de forma que, em uma única consulta, a paciente possa ter seu diagnóstico firmado e, muitas vezes, resolvidos; ▪ Por exemplo: a avaliação da cavidade uterina sob visualização direta e realização da biópsia dirigida, podendo também ser terapêuticas pois permitem excisão de pequenos miomas e pólios; APARELHOS DE ULTRASSONOGRAFIA É um dos métodos auxiliares mais utilizados pelos ginecologistas para diagnósticos e tomadas de conduta na prática; Este permite diagnóstico rápido e, até mesmo, punções que podem ser feitas em nível ambulatorial com baixo custo; Possui inúmeras indicações; por exemplo: avaliação uterina (da vida fetal até a senescência); avaliação da espessura do endométrio, avaliação de anexos, avaliação de ciclo com monitorização do desenvolvimento folicular ovariano e ovulação, avaliação de massas pélvicas; CONCLUSÃO DA CONSULTA GINECOLÓGICA É fundamental que a consulta seja concluída com a mais completa orientação que se possa oferecer à paciente; para isso, faz-se necessário aplicar um raciocínio clínico e uma avaliação que inclua o exame da paciente com todos os recursos e equipamentos disponíveis; É preciso explicar a paciente em linguagem simples e acessível, quais são as hipóteses diagnósticas e sua fundamentação, a necessidade eventual de exames complementares (que ainda não tenham ido realizados) e como eles serão feitos; Explicar também, quais são as primeiras medidas terapêuticas a serem estabelecidas e a programação do seu seguimento a partir dessa consulta; 8 May Freitas (Saúde da Mulher) A paciente e acompanhante (se tiver) devem ter a oportunidade de expressar as suas duvidas e solicitar o esclarecimento que julgarem necessário; Quando medicamentos são prescritos, é preciso assegurar que a paciente e acompanhante (se tiver) compreenderam como se deve utiliza-lo e como proceder se surgir algum efeito colateral; Deve-se combinar a periodicidade das consultas e os exames de prevenção que devem ser realizados. Dessa maneira, é feito um planejamento que tem por objetivo promoção da saúde e acompanhamento mais adequado para cada paciente; ASPECTOS TÉCNICOS DO EXAME ULTRASSONOGRÁFICO E INDICAÇÕES A US ginecológica deve iniciar por via transabdominal, com a bexiga cheia até uma capacidade cômoda, o que permite investigar a pelve superior e o abdome, as grandes massas (miomas, tumores ovarianos que se estendem para o abdome superior) e os ovários em posição mais alta na pelve. A seguir, a paciente deve esvaziar a bexiga para a avaliação pélvica transvaginal. A US pélvica transabdominal é a escolha em crianças e em mulheres que não tiveram sexarca. Ultrassonografia transvaginal (USTV) Deve ser realizada com a paciente em posição de litotomia, geralmente com uma almofada sob as nádegas para elevar a pelve, e com os membros inferiores flexionados e os joelhos afastados. Um preservativo é utilizado para manter a sonda transvaginal protegida durante os exames. Gel é aplicado sobre e sob o preservativo colocado na sonda da USTV. Os transdutores usados para USTV têm frequências mais altas (≥ 5 MHz) que os usados para US transabdominal (≥ 3,5 MHz), o que garante maior resolução da imagem, mas menor penetração tecidual. A resolução das sondas transvaginais é boa até uma profundidade de 6 a 8 cm. Inicia-se o exame com uma visão geral da pelve, seguida de verificação específica de cada órgão e aspecto da anatomia, sempre ajustando os parâmetros ultrassonográficos (tamanho da imagem, profundidade de penetração, zona focal, ganho e harmônica) para obter boas imagens. As sondas transvaginais são manipuladas por rotação e por angulação com a linha média. Como o campo de visão é muito menor com essa sonda quando comparada à sonda transabdominal, a orientação correta é essencial para o entendimento da imagem. Na US transabdominal, como a sonda pode ser movimentada em diversas direções, a orientação da imagem é limitada somente pela flexibilidade da mão que a segura. A visualização transvaginal é limitada pela posição dos órgãos e pela presença de eventuais massas pélvicas. Assim, em alguns casos, pressionar o abdome enquanto realiza a USTV, para mobilizar útero ou intestinos, pode ser útil para melhorar a visualização dos ovários. Se a US transabdominal não é suficiente e a paciente não tolera a USTV, um exame transperineal ou transretal pode ser considerado. Técnicas ultrassonográficas adicionais que podem complementar a avaliação-padrão são: I. US tridimensional (US3D): As indicações para seu uso em ginecologia não estão bem definidas. No entanto, tem se mostrado especialmente útil para a visualização da cavidade uterina e de anomalias uterinas estruturais e de dispositivo intrauterino (DIU) supostamente malposicionado; II. Histerossonografia: É a infusão intrauterina de solução salina que pode proporcionar melhor visualização do endométrio durante a USTV; III. Ultrassonografia com Doppler colorido: Pode ajudar na avaliação do fluxo sanguíneo de tumores pélvicos. 9 May Freitas (Saúde da Mulher) TÓPICOS DA SISTEMATIZAÇÃO DO EXAME USG AVALIAÇÃO DA BEXIGA Na US transabdominal, a bexiga cheia desloca as alças intestinais e proporciona janela acústica para visualização dos órgãos pélvicos. A avaliação do conteúdo e da parede vesicais permite o diagnóstico de lesões (endometriose,papilomas, carcinomas) e cálculos vesicais. Os óstios ureterais podem ser vistos na base da bexiga. Quando a bexiga está vazia, não é possível o seu estudo pela US. AVALIAÇÃO DA VAGINA A vagina mede aproximadamente 8 a 10 cm de comprimento. Com a bexiga vazia, forma ângulo de 90° com o eixo uterino. Com o enchimento vesical, esse ângulo aumenta proporcionalmente e a vagina é identificada como uma cavidade virtual formada por ecos fortemente ecogênicos. Pode ser mais bem visualizada pela US translabial (com o transdutor entre os pequenos lábios). Os cistos vaginais representam a maioria dos diagnósticos nessa localização. Se a US demonstrar a presença de lesão sólida, deve-se pensar em leiomioma, pois lesões malignas são raras nesse sítio. A US com Doppler colorido também pode auxiliar nessa diferenciação. AVALIAÇÃO UTERINA Ocorrem alterações uterinas dinâmicas conforme a idade, a paridade e o estado hormonal da paciente. O útero evolui da forma infantil para a adulta diminuindo o colo em favor do corpo. O útero é dividido anatomicamente em corpo e colo, os quais são separados pelo istmo. 1. O istmo é uma região de estreitamento (= 1 cm de comprimento), mal delimitada, que aumenta consideravelmente no fim da gestação. 2. O corpo uterino localizada acima da inserção das tubas é chamada de fundo. 3. O colo uterino (cérvice) tem uma porção supravaginal que está dentro da cavidade peritoneal, formando um bloco comum com o istmo e o corpo uterino, e uma porção vaginal que faz saliência para o interior da vagina, sendo, portanto, extraperitoneal. Normalmente, o útero da mulher em idade reprodutiva está em leve anteversão e anteflexão. “Versão” refere-se ao ângulo formado entre o eixo longitudinal da vagina e o eixo longitudinal do colo. O útero retrovertido é considerado uma variação da normalidade. “Flexão” refere-se ao ângulo entre o eixo longitudinal do colo e o eixo longitudinal do corpo uterino, que varia entre 100 e 140° e se encontra no local mais fixo do útero (istmo). Se o ângulo estiver aberto para trás, diz-se que o útero está em retroflexão. O grau de distensão vesical e o enchimento do retossigmoide podem alterar a posição do útero. 10 May Freitas (Saúde da Mulher) Em geral, a textura do útero é homogênea, com ecogenicidade de baixa para média. Pequenos vasos (1-3 mm) podem ser identificados na USTV, bem como calcificações vasculares das artérias arqueadas. Deve-se descrever qualquer alteração uterina de contorno, ecogenicidade, bem como a presença de massas ou cistos. Toda patologia identificada, que mereça acompanhamento ou intervenção, deve ser medida em dois planos. A US bidimensional (US2D) e a histerossalpingografia (HSG) são as ferramentas de primeira linha na investigação de anomalias uterinas estruturais, mas geralmente necessitam de exames adicionais para estabelecer o diagnóstico definitivo. MAL FORMAÇÕES CONGÊNITAS UTERINAS Os três defeitos de desenvolvimento do sistema mülleriano são: defeitos de fusão lateral, defeitos de fusão vertical e agenesia. Os defeitos de fusão lateral são os mais comuns e incluem: A. Útero septado/arqueado – Tem uma superfície externa normal, mas duas cavidades endometriais; B. Útero unicorno – Uma cavidade é normal, com tuba uterina e colo do útero, enquanto o ducto de Müller afetado pode não se desenvolver ou vir como um corno rudimentar (que se comunica ou não com o útero). Pode estar associado com um ovário ectópico e, em torno de 40% dos casos, com alterações renais; C. Útero bicorno – Tem fundo com entalhamento = 1 cm e duas cavidades endometriais, e vagina geralmente normal. O grau de separação dos cornos uterinos pode ser completo, parcial ou mínimo (útero arqueado); D. Útero didelfo – É o útero duplo, sendo que a duplicação geralmente limita-se ao útero e ao colo uterino, embora possa ocorrer com a vulva, a vagina, a bexiga, a uretra e o ânus. Os defeitos da fusão vesical, resultam em septo vaginal ou agenesia/disgenesia cervical. E a agenesia mülleriana resulta na síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser (ausência de vagina com útero ausente ou parcialmente desenvolvido). Suspeita-se de anomalia uterina quando o eco endometrial está separado longitudinalmente (sugerindo duplicação), ou se a porção intersticial de uma das tubas não pode ser identificada (sugerindo agenesia). A histerossonografia é útil para delinear a cavidade uterina. A ressonância magnética (RM) e a US3D são os melhores métodos não invasivos de diagnóstico das anomalias uterinas estruturais. A RM pode ser útil no diagnóstico de anomalias uterinas, porém, a princípio, deve-se iniciar a investigação pelo exame ultrassonográfico pélvico transvaginal; tem a desvantagem do alto custo, sendo muitas vezes reservada para os casos que necessitam de complementação. MIOMATOSE Os leiomiomas uterinos são tumores benignos provenientes de células musculares lisas do miométrio, que podem estar associados ao sangramento menstrual intenso ou prolongado e à dor ou à pressão pélvica. O tamanho, a localização no útero (direita, esquerda, central, fúndico ou cervical) e a classificação (submucoso, intramural, subseroso ou pediculado) dos miomas clinicamente relevantes devem ser documentados na US. Os miomas podem ser classificados em: A. Miomas submucosos – Derivam das células miometriais logo abaixo do endométrio, projetando- se para o interior da cavidade uterina. B. Miomas intramurais – Desenvolvem-se dentro da parede uterina. Podem crescer a ponto de distorcer a cavidade uterina ou a serosa. Alguns podem ser transmurais (estendem-se da serosa à superfície mucosa); C. Miomas subserosos – Originam-se do miométrio junto à superfície serosa do útero. Eles podem ter base larga ou pediculada e podem ser intraligamentares (entre as dobras do ligamento largo); D. Miomas cervicais – Localizados no colo uterino. 11 May Freitas (Saúde da Mulher) A USTV é o exame de imagem mais utilizado para identificar miomas por ter alta sensibilidade e ser acessível e de baixo custo. A localização/classificação de miomas em úteros muito grandes ou com muitos tumores é limitada. Achados ultrassonográficos na miomatose incluem nódulos sólidos bem- definidos, geralmente múltiplos e hipoecogênicos, de dimensões variadas. Pode haver aumento do volume uterino, alteração do contorno uterino (lobulado), alterações fibróticas e calcificações, provocando sombra acústica, e alterações degenerativas. Se os nódulos forem pequenos, a ecotextura uterina pode ser difusamente heterogênea. Calcificação em um mioma geralmente indica que este sofreu necrose. Na US, as calcificações podem aparecer como aglomerados ou formações “tipo anel” dentro de uma massa. À US Doppler, a vascularização dos leiomiomas é, em geral, predominantemente periférica, mas depende do tamanho, da posição e da presença ou não de alterações degenerativas. A histerossonografia caracteriza melhor a extensão de miomas submucosos para a cavidade endometrial e permite a identificação de lesões intracavitárias não vistas na US convencional. A RM é a melhor modalidade para definir o tamanho e a localização dos miomas uterinos e para fazer a distinção entre mioma, adenomiose e adenomiomas. Por ser dispendiosa, geralmente é reservada para o planejamento cirúrgico de casos mais complicados. Também pode ser útil na diferenciação entre mioma e sarcoma uterino. SARCOMA Em geral, os leiomiomas não evoluem para sarcomas, com exceção de raras variantes atípicas ou celulares. Não há nenhum exame de imagem da pelve que possa diferenciar, de forma confiável, miomas uterinos benignos de sarcomas. As mulheres com massa pélvica recém-diagnosticada ou que mudou significativamente de tamanho ou mobilidade, sobretudo se na pós-menopausa, devem fazer US pélvica como estudo de imagem inicial. ADENOMIOSE Caracteriza-se pela presença de tecido endometrial na musculatura uterina,provocando hipertrofia e hiperplasia do miométrio em torno e, assim, aumento do volume, heterogeneidade difusa e consistência amolecida do útero. Algumas mulheres podem ter adenomiose mais localizada, restrita a pequenos nódulos denominados adenomiomas. Um diagnóstico definitivo pode ser feito somente por exame histológico após histerectomia. Os achados de adenomiose para USTV e RM incluem espessamento assimétrico do miométrio (parede posterior geralmente maior), aumento da heterogeneidade miometrial, perda do limite endomiometrial, estrias lineares partindo do endométrio e cistos miometriais. MASSAS CERVICAIS Podem ser identificadas lesões malignas, leiomiomas e pólipos. Os cistos de inclusão cervicais são muito comuns e não representam preocupação. AVALIAÇÃO ENDOMETRIAL E DA CAVIDADE UTERINA O endométrio deve ser avaliado quanto a sua espessura, anomalias focais, ecogenicidade e presença de líquido e/ou massas na cavidade uterina. Caso o endométrio não seja visto na sua totalidade ou não esteja bem definido, deve-se registrar no laudo. A medida da espessura endometrial (EE) é realizada com o útero em corte sagital e deve incluir as paredes anterior e posterior, de uma camada basal à outra, excluindo qualquer líquido que haja na cavidade uterina. Se houver lâmina líquida, os ecos endometriais devem ser medidos separadamente e somados. 12 May Freitas (Saúde da Mulher) No período pós-menopáusico, o endométrio não deve medir mais do que 5 mm de espessura, e aparece como uma fina linha ecogênica Atrofia endometrial (endométrio apagado ou EE <2 mm) é frequente e pode causar sangramento. As pacientes submetidas à terapia de reposição hormonal apresentam EE maior comparadas às que não usam. O líquido na cavidade endometrial de mulheres pós-menopáusicas assintomáticas (sem sangramento) e com EE <3 mm geralmente relaciona-se com estenose cervical, devendo-se pensar em neoplasia endometrial quando o líquido vem acompanhado de endométrio espessado e há sangramento. PÓLIPOS Na US, caracterizam-se por espessamento endometrial, com área focal ecogênica em continuidade com o endométrio, e sempre inteiramente dentro da cavidade uterina, podendo apresentar pequenas áreas císticas de permeio. A realização da US logo após o término da menstruação facilita sua identificação. A US com Doppler colorido pode identificar sua vascularização (pedículo vascular). O diagnóstico definitivo de pólipo endometrial, bem como a determinação de se é maligno ou benigno, são feitos por meio da histologia, após a sua excisão. A USTV é o estudo de imagem de primeira linha na avaliação de mulheres com sangramento uterino anormal (SUA) e geralmente é suficiente para mulheres que têm indicação de retirar o pólipo por histeroscopia cirúrgica. HIPERPLASIA ENDOMETRIAL Em geral, a hiperplasia endometrial manifesta-se associada com SUA e em mulheres pós menopáusicas. A EE é maior que 5 mm, podendo apresentar líquido na cavidade uterina e aspecto pseudopolipoide. O aspecto na US pode ser de espessamento endometrial difuso e homogêneo ou focal e hiperecogênico. A diferenciação entre hiperplasia e carcinoma é feita apenas pela avaliação histológica. 13 May Freitas (Saúde da Mulher) AVALIAÇÃO NO SNAGRAMENTO PÓS-MENOPÁUSICO A EE medida pela USTV é um método não invasivo utilizado para avaliar se o sangramento pós menopáusico relaciona-se com hiperplasia endometrial ou câncer, no caso de endométrio homogêneo. Qualquer lesão endometrial focal necessita de biópsia. DIPOSITUVO INTRAUTERINO Os DIUs mais utilizados atualmente são o T de cobre (com fio de cobre enrolado) e o DIU hormonal de levonorgestrel. Ambos são dispositivos plásticos em formato de T com um eixo central (vertical) e duas hastes transversais, e fio comum de náilon anexado na extremidade distal, o que torna sua verificação clínica e remoção mais fáceis. O DIU de cobre aparece na US como uma linha bastante ecogênica no interior da cavidade uterina, formando sombra acústica posterior. O DIU hormonal (revestido por membrana que libera progestogênio) aparece na US formando sombra acústica entre as extremidades ecogênicas proximal e distal do eixo vertical, diferente do DIU de cobre, que é mais completamente ecogênico. O fio, que se exterioriza na vagina, através do colo, pode ter aparência mais ecogênica. A US é utilizada para verificar a posição do DIU em casos de suspeita de deslocamento, não sendo indicação de rotina após inserção do dispositivo. Atualmente, considera-se um DIU normoposicionado quando sua borda distal se encontra acima do orifício cervical interno do colo uterino (o DIU não deve penetrar o canal endocervical). A US é importante para avaliar as complicações do DIU: infecção associada, migração para o miométrio, perfuração uterina, gestação associada e retenção do DIU. Se o DIU não é visualizado pela US, uma radiografia simples pode ser útil para avaliar a sua localização. Além disso, a US3D pode ajudar a identificar um DIU com suspeita de estar malposicionado pela facilidade de obter o plano coronal e, assim, visualizar os segmentos do DIU simultaneamente. AVLIAÇÃO DOS ANEXOS Ao avaliar os anexos, deve-se primeiro tentar identificar os ovários, pois servem como importante ponto de referência para analisar a presença de doenças anexiais. O volume ovariano varia de acordo com a faixa etária e a fase do ciclo menstrual, principalmente se ocorreu ovulação, e é calculado da seguinte maneira: O volume ovariano médio na pré-menopausa é 4,9 ± 0,03 e na pós-menopausa, 2,2 ± 0,01 cm3. O limite superior do volume ovariano é em torno de 20 cm3 na pré-menopausa e de 10 cm3 na pós-menopausa Aproximadamente 30% dos ovários não são visualizados na pós-menopausa devido à atrofia do órgão. Se uma anormalidade anexial é observada, deve-se avaliar sua relação com ovários e útero, seu tamanho, características ultrassonográficas e padrão vascular à US Doppler. ACHADOS ANEXIAIS FISIOLÓGICOS NA USG A USTV detecta folículos como estruturas anecoicas, circundadas por tecido ovariano mais ecogênico, desde 2 mm de diâmetro. Nos dias 5 a 7 do ciclo menstrual, identificam-se pequenos folículos de 2 a 6 mm em ambos os ovários.29 Por volta dos dias 8 a 10 do ciclo, um folículo alcança 30 10 mm de diâmetro (folículo dominante),30 e cresce aproximadamente 2 mm/dia até alcançar 20 a 25 mm na ovulação. Após a ovulação, aparece o corpo lúteo, que pode variar em tamanho e padrão sonográfico (o mais comum é um pequeno cisto irregular de paredes espessas e com ecos de baixa densidade), e a USTV pode detectar aumento de líquido livre no fundo de saco posterior. O diâmetro do corpo lúteo geralmente não excede 30 mm. Qualquer anormalidade em tamanho, formato, localização, ecogenicidade e padrão sonográfico (cístico, sólido, complexo, septado) deve ser descrita, bem como o diagnóstico diferencial das 14 May Freitas (Saúde da Mulher) causas mais prováveis. As principais variações anatômicas da gônada feminina são os ovários policísticos e o ovário em fita. OVÁRIOS POLICÍSTICOS Os ovários policísticos representam uma das variantes anatômicas mais comuns e podem estar associados à síndrome dos ovários policísticos (SOP). Nesse caso, teriam formato arredondado, em geral maior do que o habitual, bilateral, e contendo mais de 10 folículos imaturos de até 9 mm de diâmetro, visualizados como pequenas áreas anecoicas bem-definidas na periferia. Cerca de um terço das pacientes com SOP pode apresentar ovários normais na US. A imagem multicística (multifolicular) evidencia período pós-puberal, lactação, perimenopausa, usuárias de contraceptivos orais e casos de hipogonadismo. Os ovários de volume normal e com inúmeros folículos de 4 a 10 mm, dispersos pelo parênquima, podem ser encontrados em mulheres sem nenhuma correlação patológica, em um percentual de até 15 a 20%. OVÁRIO EM FITA O ovário rudimentarou em fita está associado à síndrome de Turner e apresenta-se, na US, pequeno, tubular e de difícil definição. Entretanto, sua identificação confirma a síndrome. TUBAS UTERINAS As tubas normais geralmente não são identificadas. A US consegue diagnosticar as duas principais complicações relacionadas: a doença inflamatória pélvica (DIP) e a gestação ectópica (GE). Na DIP, pode-se identificar a sua forma crônica: hidrossalpinge, que se caracteriza por coleção líquida, cilíndrica, no interior tubário. A GE é a gravidez de implantação anômala, ou seja, fora da cavidade uterina. O sítio mais comum é a tuba, podendo também ser cervical, ovariana, cornual ou abdominal. A presença de massa anexial, líquido livre no fundo de saco posterior, útero vazio na US e ß –hCG acima de 1.000 mUI podem constituir a hipótese de GE. O diagnóstico diferencial é feito com gravidez tópica, DIP, hidrossalpinge e tumor de ovário. TORÇÃO OVARIANA Todo ovário aumentado de volume tem risco maior de sofrer torção, que é vista na US como uma área hipoecoica devida à hemorragia. A torção pode ser intermitente ou incompleta, resultando em edema importante e, então, surgem áreas ecoicas e hipoecoicas. Nesse tipo de torção, os achados na US com Doppler colorido serão mínimos ou ausentes. A obstrução venosa e linfática pode levar a ascite. DIFERENCIAÇÃO NA USG DE MASSAS ANEXIAIS BENIGNAS E MALIGNAS O ultrassonografista deve levar em consideração a anatomia e a fisiologia normal e alterada, a informação clínica e a técnica ultrassonográfica. A US pélvica é o exame de imagem de primeira linha para caracterizar massa anexial. As massas anexiais geralmente são de etiologia ovariana, tubária ou provêm dos tecidos conectivos vizinhos (cistos peritoneais). Podem, ainda, ter sua origem em outros órgãos e ocupar a topografia anexial: leiomiomas uterinos, divertículos vesicais, neoplasias ou abscessos intestinais. Podem ser sintomáticas (dor ou pressão pélvica) ou encontradas casualmente durante a US e podem ser fisiológicas (oriundas do processo de ovulação) ou patológicas. As fisiológicas constituem a principal etiologia nas mulheres pré-menopáusicas e geralmente são císticas: 1. Cistos simples – Têm paredes lisas e finas, conteúdo anecoico e reforço acústico distal: a. Na pré-menopausa – Inclusive cistos de até 5 cm são considerados fisiológicos b. Na pós-menopausa – Limiar de 1 a 3 cm é aceitável, e recomenda-se fazer seguimento anual se for maior que esse limiar; 15 May Freitas (Saúde da Mulher) c. Cistoadenoma – Neoplasia benigna que surge do ovário e, às vezes, da tuba. Deve ser considerado se há cisto simples> 5 cm na pré-menopausa ou> 3 cm na pós-menopausa. 2. Cisto de corpo lúteo – Pode apresentar-se como cisto simples, geralmente maior que o folículo dominante ou, se houver hemorragia interna, como cisto de corpo lúteo hemorrágico (3-5 cm de diâmetro, podendo ser maior); 3. Cisto hemorrágico – Pode ocorrer com o folículo dominante ou com o corpo lúteo; apresenta uma fina rede de ecos lineares ou curvilíneos (padrão reticular), que não se estende por todo o cisto (ao contrário de septos verdadeiros). A hemorragia pode simular septações e nódulos murais. A maioria das massas anexiais pode ser caracterizada usando US em escala de cinza ou associada com o Doppler colorido. Se não for um cisto simples, não tiver potencial para cisto fisiológico, não tiver características das condições específicas descritas, deve-se então verificar se a massa anexial tem características suspeitas de malignidade: 1. Componente sólido – Nodular ou papilar, e que não é hiperecogênico. Se a massa anexial não possui áreas sólidas na US, a chance de malignidade é baixa; 2. Septações – Irregularmente espessadas (> 2-3 mm); 3. Ultrassonografia com Doppler colorido ou com Power Doppler – Com fluxo presente no componente sólido; 4. Presença de ascite, massas peritoneais, linfonodos aumentados (difíceis de detectar na US) associados. Componente sólido é a característica mais significativa de malignidade na US com escala de cinza. GI-RADS A classificação de GI-RADS (Gynecologic Imaging Report and Data System), com base nos achados ultrassonográficos, visa identificar as massas anexiais com alto risco para malignidade, auxiliando no manejo clínico. Segundo esse protocolo, a classificação é a seguinte: 16 May Freitas (Saúde da Mulher) A. Pacientes normais; B. Manejo expectante com seguimento por US por serem lesões funcionais; C. Pacientes provavelmente submetidas à cirurgia (laparoscopia – via preferencial) realizada porvseus ginecologistas clínicos por serem lesões provavelmente benignas e persistentes; D. Pacientes referenciadas para ginecologistas oncológicos para cirurgia, após realização devmétodo adicional de imagem (TC ou RM) por serem lesões provavelmente ou muitovprovavelmente malignas. A RM é indicada quando a US não for capaz de fornecer um diagnóstico confiável e os resultados da RM puderem mudar o manejo ginecológico da massa. ULTRASSONOGRAFIA MAMÁRIA É uma ferramenta que auxilia no esclarecimento de mamografias (MMGs) de rastreamento alteradas, principalmente para avaliar massas assimétricas e diferenciar massas sólidas das císticas; Não deve ser utilizada como exame único de rastreamento para câncer de mama, mas é suficiente para gestantes e mulheres com menos de 30 anos; e sintomas ou achados focais; Ela também pode ser útil para determinar a extensão local do câncer de mama, auxiliando no planejamento pré-operatótio e, inclusive, detectando outros locais com tumoração; Na avaliação de mamas com prótese, ela verifica a integridade da cápsula. Por exemplo, a presença de microgrânulos de silicone livre sugere ruptura. Mas a ressonância magnética é superior à US para avaliar essas pacientes, com custo mais elevado; OBS.: Nos casos de tumores malignos, a US Doppler pode ser utilizada para identificar padrão hipervascular. Porém, em lesões benignas o padrão é avascular; ▪ Para casos duvidosos, pode usar a tomossíntese mamária/mamografia 3D; Novo método que auxilia no diagnóstico do câncer de mama e tem objetivo de reduzir os efeitos da sobreposição de tecido mamário denso na mamografia convencional 2D; 17 May Freitas (Saúde da Mulher) Situações aplicáveis: ▪ Pacientes sintomáticas com lesão mamária palpável; ▪ MMG mostrando mama heterogênea e densa; ▪ Massa palpável em pacientes com menos de 30 anos; ▪ Pacientes grávidas ou amamentando com queixas mamárias; ▪ Diferenciação do tecido mamário normal de uma anormalidade real; ▪ Doença inflamatória, mastite, abscesso; ▪ Trauma mamário, hematoma e necrose gordurosa; ▪ Tecido mamário em mamas com próteses; ▪ Classificação de padrões parenquimatosos; ▪ Guia de punções diagnósticas de lesões císticas ou sólidas; ▪ Pesquisa de doença primária em paciente com nódulos axilares biopsiados positivamente ou com doença metastática; ▪ Nódulos mamários palpáveis em homens; ▪ Acompanhamento de pacientes em tratamento de carcinoma de mama. A US aumenta a sensibilidade da MMG para diagnosticar pequenos tumores, com diminuição da especificidade em relação à MMG isolada. Principais características identificadas na US mamária, de acordo com os critérios utilizados pelo sistema BI-RADS (Btrast Imaging Reporting and Data System) de classificação. As categorias de BI-RADS e as recomendações de conduta são: 1. Incompleta, necessita de imagem adicional; 2. Normal, controle anual; 3. Benigna, controle anual; 4. Provavelmente benigna, recomenda-se controle de 6 meses; 5. Suspeita, necessita de biópsia; 6. Muito suspeita, necessita de biópsia ou cirurgia; 7. Malignidade já definida, conduta conforme tipo e estadiamento. 18 May Freitas (Saúde da Mulher) CISTOS MAMÁRIOS Eles podem ser simples, complicados ou complexos; ▪ Simples: bem circunscritos, com parede lisa,anecoicos, com sombra posterior e ausência de componentes sólidos; ▪ Complexos: tem ecos internos, misturam componentes sólidos e cístico (sempre deve ser investigado); FIBROADENOMAS Mais comum em mulheres entre 15 e 35 anos; Descritos como: nódulos de parede lisa, formato oval ou arredondado, com textura inferior homogênea, sendo que cerca de 20% podem não aparecer na UD; Geralmente se localizam na junção do subcutâneo com o parênquima mamário, e seu tamanho varia de alguns milímetros até 6cm (fibroadenoma gigante); REFERÊNCIAS: PASSOS, E. P.; RAMOS, J. G.; COSTA-MARTINS, S. H. Consulta ginecológica. In: PASSOS, E. P.; RAMOS, J. G.; COSTA-MARTINS, S. H. Rotinas em ginecologia. 7ª ed., Porto Alegre: ARTMED, 2017. p. 85-104. PASSOS, E. P.; RAMOS, J. G.; COSTA-MARTINS, S. H. Imagem ginecológica. In: PASSOS, E. P.; RAMOS, J. G.; COSTA-MARTINS, S. H. Rotinas em ginecologia. 7ª ed., Porto Alegre: ARTMED, 2017. p. 106-132.
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