Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PSICOLOGIA SOCIAL I Aula 7 – Dissonância Cognitiva Mas O Que É Teoria? • Na presente aula, você irá estudar, em detalhes, a Dissonância Cognitiva como uma das teorias mais populares da Psicologia Social. Porém antes, vamos entender melhor o conceito de Teoria. O termo "teoria" pode ser compreendido tanto em uma acepção "forte" como em uma acepção "fraca". • Na acepção “forte”, uma teoria é um princípio ou conjunto de princípios para explicar, organizar, unificar e/ou compreender o sentido de um conjunto de fenômenos. • Na acepção “fraca”, uma teoria é uma crença ou especulação. Teoria Científica • Entendemos por teoria científica um conjunto de afirmações que podem variar em grau de abstração e que se concatenam de forma lógica procurando descrever ou explicar a realidade. • Toda teoria para ser considerada científica deve-se fundamentar em evidências empíricas, ser verificável e possuir poder preditivo. Assim temos como exemplo a teoria Ondulatória da Luz. • As teorias científicas tentam entender o mundo da observação e da experiência e explicar como este mundo natural funciona. Teoria no âmbito da Psicologia Social • Na Psicologia Social, cognição refere-se aos processos cognitivos por meio dos quais as pessoas compreendem e explicam as outras pessoas e a si mesmas. Estes processos cognitivos se associam também a diversos sentimentos e comportamentos. Assim, a partir deste conjunto de processos passamos a compreender aos outros e inclusive a nós mesmos. • Quando consideramos a complexidade das pessoas, a primeira característica que chama a atenção na cognição social é a rapidez com a qual compreendemos e julgamos os outros. Mas essa rapidez de julgamento tem seu preço: embora sejamos bons avaliadores em geral, também cometemos inúmeros erros quando julgamos o que são os outros e o que somos nós. Por esse motivo, para poder entender e diminuir esses erros, a Psicologia Social procura compreender melhor o que acontece nesse processo de julgamento usando diversas teorias específicas. Desta forma, podemos entender a teoria da Dissonância Cognitiva como uma teoria simples, mas de grande aplicação. • Segundo Krüger (1986), no caso da Psicologia Social, não contamos com teorias de grande alcance e sim com as chamadas microteorias. Isto quer dizer que muitas das teorias usadas nesta ciência são válidas em contextos e condições específicas, se fundamentando em pressupostos antropológicos específicos. Na verdade, as teorias mais frequentemente usadas na Psicologia Social são as cognitivas. A Teoria da Dissonância Cognitiva • Você já fez algum dos seguintes atos? ➢ Já avançou o sinal porque estava atrasado? Já fechou o cruzamento porque era a sua vez de passar? Já inventou despesas médicas porque não quer que seu dinheiro seja roubado por políticos corruptos? Já justificou que não foi à academia hoje, mas vai amanhã certamente e vai malhar o dobro? Como é então que conseguimos viver em paz depois de um dia inteiro de tantas mentiras? • A verdade é que não pensamos muito nisso. A maior parte das vezes, elaboramos autênticas justificativas aos nossos pequenos deslizes diários de forma tão automática, que eles passam praticamente despercebidos. Mas seriam essas justificativas tão autênticas e honestas quanto gostaríamos que elas fossem? Vejamos então como anulamos as discrepâncias entre nossas ações reais versus nossas íntimas convicções morais. • A Dissonância Cognitiva é um estado psíquico que consiste em um sentimento de desconforto como consequência da discrepância entre o conteúdo que a pessoa acredita ser verdadeiro e aquilo que a pessoa sabe de fato que é verdade. Da mesma maneira que a ambivalência, a Dissonância Cognitiva refere-se a ideias conflitantes com as crenças pessoais. Na bibliografia esta definição está relacionada às ações e tentativas que o indivíduo manifesta com o objetivo de diminuir o desconforto destes pensamentos. Em outras palavras, a Dissonância Cognitiva refere-se a uma filtragem de dados que o indivíduo realiza procurando depurar as informações que entram em conflito com a bagagem informativa na qual ele já acreditava. Assim, o indivíduo tenta ignorar as informações novas e procura perpetuar as suas crenças. • A teoria da Dissonância Cognitiva ressalta que ideias contraditórias funcionam como fonte motivadora impulsionando o sujeito a criar novas opiniões, a mudar conceitos pré-existentes, almejando diminuir a magnitude da dissonância ou conflito entre as diversas cognições. Desta forma, manter crenças conflituosas, por exemplo, pode causar uma má adaptação no sujeito, a qual é possível piorar na medida em que o ajuste destas crenças à realidade é menos provável. A Utilização da Teoria da Dissonância Cognitiva • A utilização da teoria da Dissonância Cognitiva enfatiza os elementos que ocasionam uma má adaptação, normalmente relacionada com a tendência das pessoas em relutar a aceitar informações que podem gerar conflito ou rompimento de hábitos corriqueiros. Assim, o indivíduo sustenta uma consciência parcial das informações, conseguindo sonegar certos elementos a seu estado de consciência, como uma forma de negação. Podemos considerar este fenômeno como uma maneira irracional de se defender frente a informações que representam algum risco às crenças e ideias pré-existentes no sujeito. Tomada de Decisões • Diariamente, tomamos decisões de forma constante. Algumas delas são mais importantes que outras. Mas seja qual for a sua importância, o certo é que continuamente precisamos escolher entre duas ou mais alternativas. Assim, nossas decisões acarretam consequências importantes tanto para nós mesmos como os que podem estar envolvidos de forma direta ou indireta. Desta forma, podemos compreender como este tema passa a ser relevante para a Psicologia Social, já que nossas decisões são também influenciadas pelo que os outros pensam ou pensaram delas. • Antes de poder tomar uma decisão, o sujeito passa por um momento inicial de conflito que Festinger chama de fase pré-decisional do processo decisório. Segundo a teoria da Dissonância Cognitiva, nesta primeira fase o sujeito precisa considerar de forma objetiva as vantagens e as desvantagens das diversas alternativas para poder avaliar cada uma cuidadosamente. • Segundo Festinger, após esta primeira fase a seguinte dá forma à etapa de tomada de decisão propriamente dita. Este é o momento em que o sujeito passa a optar por uma das alternativas. • Finalmente, na terceira fase psicológica do processo conhecida como fase pós-decisional, o indivíduo precisa fazer as avaliações das vantagens e desvantagens da alternativa assumida em contraponto com as alternativas descartadas por ele. Esta avaliação já não é mais racional como a primeira e sim emocional e tendenciosa, pois o indivíduo precisa justificar a alternativa escolhida. • De acordo com a teoria da Dissonância Cognitiva, após a decisão, existe sempre a experiência de certa Dissonância Cognitiva por parte do indivíduo, causada pelo fato de existirem aspectos positivos nas alternativas rejeitadas conjuntamente com aspectos negativos na alternativa escolhida. Nesta terceira e última fase do processo decisório, o sujeito precisa reduzir esta dissonância cognitiva resultante da escolha feita por ele. • Como Aroldo Rodrigues (1992) destaca: "O processo decisório é, via de regra, um processo penoso, pois é precedido por uma situação de conflito a qual, ao ser tomada a decisão, não se extingue totalmente de vez que existem aspectos positivos nas alternativas rejeitadas e negativos na escolhida. Daí a experiência de um inevitável estado de Dissonância Cognitiva e a consequente necessidade de eliminá-lo ou, se isto não for possível, pelo menos reduzi-lo.”(Rodrigues, 1992, p.78). • É interessante assinalar que quanto maior for o conflito na primeira fase do processo, maior passa a ser a motivação do indivíduo para reduzir a dissonância na última fase do processo.Decisões Individuais e Grupais • O processo de tomada de decisão pode ser feito de forma individual ou em grupo. Neste sentido, muitos estudos apontam para o fato de que as decisões grupais são, normalmente, muito mais arriscadas do que as decisões feitas de forma individual. Em relação a esta diferença existem várias explicações, como veremos a seguir. • Uma das explicações consiste em que nas decisões feitas em grupo, a responsabilidade fica dissolvida entre os seus membros, fazendo com que eles se sintam com menos responsabilidade pela decisão. Desta forma, quando a decisão for na verdade um erro, cada um dos membros do grupo passa a defender-se atribuindo ao grupo, e não a si mesmo, a responsabilidade pelo engano feito. Outra forma de explicar esta diferença entre as decisões individuais e grupais é o fato de as decisões grupais terem a tendência de serem mais ousadas do que as individuais, já que prevalece em nossa sociedade uma norma de valorização do risco e da audácia. Em outras palavras, dentro de um grupo, o indivíduo se sente mais respaldado pelos outros membros para poder adotar esta norma e, assim, poder escolher alternativas, dentro do processo de decisão, que implicam mais riscos. Isto pode ser perigoso porque, muitas das vezes, as decisões feitas por grupos acabam sendo inadequadas. • Na verdade, os grupos são, frequentemente, vítimas do que Irving Janis (psicólogo social americano da Universidade de Yale) denominou de groupthink (pensamento grupal). Este fenômeno consiste em deixar-se levar pelo desejo de manter a coesão de grupo e ignorar aspectos objetivos que evidenciam que as decisões tomadas pelo grupo são inadequadas. Assim, os indivíduos seguem o curso de ação preferido pelo grupo e não confrontam o mesmo para se sentirem aceitos pelo grupo em si.
Compartilhar