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Moarah Brito | FASAI | 5º período Hipertensão Intracraniana . Introdução ➔ Elevação sustentada (>5 min) da Pressão Intracraniana para acima de 22mmHg em adultos (definição 2019) ➔ Resulta de várias afecções que podem comprometer o encéfalo, tais como: traumáticas, tumorais, vasculares, parasitárias, inflamatórias, tóxicas ➔ Leva a consequências irreparáveis e morte Anatomia e Fisiopatologia ➔ Crânio adulto: esfera oca de paredes rígidas, inelásticas, contendo o forame magno ➔ Tenda do cerebelo: permite a comunicação entre as cavidades ou fossas supra e infratentorial ➔ Cavidade intracraniana: ocupada por parênquima cerebral, meninges, líquor (9%) e sangue (4%) Pressão Intracraniana e sua Medida ➔ A pressão intracraniana (PIC) normal → determinada pela total ocupação do espaço intracraniano e a contínua circulação do sangue ➔ Líquor ◆ Produzido 60% pelos plexos coróides (células ependimárias) nos ventrículos laterais e no teto do 4º ventrículo ◆ Cada plexo coróide consiste em um laço de capilares circundados por uma única camada de células ependimárias. ◆ O fluido que vaza dos capilares porosos é processado pelas células ependimárias para formar LCR nos ventrículos ◆ Passa dos ventrículos para o espaço subaracnóideo através dos forames de Luschka (aberturas laterais) e Magendie (abertura mediana) Moarah Brito | FASAI | 5º período ➔ No espaço subaracnóideo, desloca-se tanto no sentido cranial como caudal, e sua absorção ocorre principalmente nas granulações aracnóideas ➔ Granulações aracnóideas → digitações da aracnóide para o interior dos seios durais, levando o prolongamento do espaço subaracnóideo + absorvido nos seios da dura-máter via granulações aracnóideas ➔ Características do líquor ◆ Proteção mecânica do SN ◆ Proteção biológica ◆ Formação: plexos coróides e epêndima ◆ Circulação lenta ◆ Renovação a cada 8 horas ◆ Volume total: 100-150 cm3 ◆ 0-4 leucócitos/mm3 ➔ Em contato direto com o parênquima nervoso e com a circulação sanguínea e obedece as leis de Pascal Princípio de Pascal ➔ A pressão aplicada num ponto de um fluido em repouso transmite-se integralmente a todos os pontos do fluido Aumento da pressão do LCR do espaço subaracnóideo na mudança da posição horizontal para ortostática → crânio é um recipiente imperfeitamente fechado, permitindo que parte da pressão atmosférica atue no espaço intracraniano através dos vasos sanguíneos ➔ PIC normal: 50-200mm de água ou 15-35mmHg Circulação Sanguínea Encefálica ➔ O encéfalo consome 15% do rendimento cardíaco sanguíneo para necessidades metabólicas ➔ Possui mecanismos de adaptação às flutuações da circulação sanguínea ➔ Fluxo sanguíneo encefálico é igual a diferença entre pressão de perfusão encefálica (PPE) e a resistência vascular encefálica (RVE) FSE/RVE = PPE ➔ PPE: diferença entre a PA no nível das carótidas ao atravessarem a dura-máter (considera-se igual à PA sistêmica)/pressão no nível das jugulares (pressão venosa) PPE = PA - PV *PV = PIC * Paciente com PA alta pode ser mecanismo tentando aumentar a PPE Moarah Brito | FASAI | 5º período ➔ RVE: diretamente proporcional à extensão de seu leito vascular e inversamente proporcional à quarta potência do raio dos vasos → diâmetro dos vasos com papel importante na RVE RVE/Raio vaso^4 = Extensão do leito vascular ➔ FSE se mantém constante, apesar de grandes variações na PA média. ➔ Geralmente, quando há redução da PPE abaixo de 50mm de mercúrio, corre queda no FSE devido auto-regulação ➔ Auto-regulação atua através do diâmetro dos vasos, que é controlado por mecanismos miogênicos e controle químico ◆ CO2→ vasodilatação ◆ O2→ vasoconstrição Relação Volume-Pressão ➔ Espaço intracraniano → invariável em volume e seu conteúdo é praticamente incompressível ➔ O aumento do volume de um dos seus componentes da cavidade intracraniana → deslocamento dos seus constituintes naturais ➔ Admite-se que novo volume pode ocupar 8% a 10% do espaço intracraniano, sem aumento da PIC ➔ Para que a PIC se mantenha inalterada, é necessário que saia da cavidade intracraniana um volume de líquido igual ao volume deslocado Quando volume é acrescido ao conteúdo normal Diminuição do espaço subaracnóideo periencefálico → redução dos ventrículos por diminuição do LCR → diminui volume sanguíneo→ redução do volume do parênquima nervoso por compressão e atrofia ➔ Esse mecanismo ocorre apenas quando o processo é lento. ➔ Um aumento rápido → aumento da PIC com volumes menores se comparados aos acréscimos lentos ➔ Complacência: capacidade da cavidade de se adaptar ao aumento do volume em seu interior ➔ Elastância: resistência oferecida à expansão de um processo (oposto da complacência) ➔ A partir de um determinado volume, a pressão eleva-se e a complacência diminui rapidamente Fisiopatologia ➔ Qualquer que seja a causa da HIC, ela perturba o funcionamento do SNC por deslocamento e torção do neuroeixo e redução do FSE Hérnias Encefálicas (cones de pressão) ➔ São migrações e torções de estruturas para outros compartimentos intra e extracranianos ➔ Geralmente, ocorrem devido aumento da PIC. ➔ As hérnias mais importantes são a supracalosa, as transtentoriais e as cerebelares Moarah Brito | FASAI | 5º período Hérnia supracalosa (do cíngulo/subfalcina) ➔ Resultado da herniação do giro cíngulo sob a borda livre da foice cerebral e surge nos lobos frontais e parietais ➔ Essa hérnia desloca a artéria cerebral além da linha mediana e comprime o teto do terceiro ventrículo ➔ Determina discreta faixa de necrose no giro cíngulo ➔ Não tem maiores implicações clínicas, exceto quando diminui a circulação nas artérias → infarto isquêmico nos seus territórios de irrigação Hérnia transtentorial anterior ou uncal ➔ Ocorre quando há migração do uncus e porção medial do giro hipocampal através da incisura da tenda do cerebelo ➔ É encontrada em processos expansivos do lobo temporal ou da parte lateral da fossa média acompanhados ou não de HIC, mas pode surgir com qualquer processo expansivo supratentorial ➔ Haverá compressão do nervo oculomotor contra o ligamento petroclínóideo → dilatação da pupila ipsilateral ➔ A medida que a herniação progride, a artéria cerebral posterior pode ser comprimida contra a borda livre do tentório → isquemia do lobo occipital → hemianopsia Hemianopsia → perda parcial ou completa da visão em uma das metades do campo visual de um ou ambos os olhos ➔ A insinuação da porção medial do lobo temporal no forame de Pacchioni comprime o mesencéfalo, diminuindo a luz do aqueduto do mesencéfalo, o que leva à retenção de LCT acima desse nível ➔ A compressão do pedúnculo cerebral causa hemiparesia ou hemiplegia contralateral por comprometimento da via piramidal ipsilateral Pedúnculo cerebral → liga córtex à medula espinhal e ao cerebelo. Localizado na parte anterior do mesencéfalo Hemiplegia: dificuldade de movimentar um dos lados Hemiparesia: impossibilidade de movimentar Moarah Brito | FASAI | 5º período ➔ A compressão e distorção do mesencéfalo → coma, reação de descerebração e óbito Hernia transtentorial central ➔ Mais frequente e grave ➔ Resulta do deslocamento (descendente) no sentido caudal do diencéfalo e porção superior do mesencéfalo através do buraco de Pachionni ➔ Essa hérnia é encontrada nos processos supra-tentoriais que acarretam grande aumento da PIC ou em lesões situadas na linha mediana ➔ O deslocamento no sentido caudal do diencéfalo e mesencéfalo traciona a haste hipofisaria contra o clivo e comprime o teto mesencefálico → necrose hipofisária, diabete insípido e paralisia do olhar vertical para cima ➔ A seguir surgem alterações no nível da consciência, dilatação das pupilas, atitude em descerebração e óbito ➔ Infartos isquêmicos e hemorrágicos no nível do mesencéfalo e ponte encontrados nas hérnias transtentoriais lateral e central explicam as graves consequências dessas migrações encefálicas e resultam da imobilidade do sistema vascular vertebrobasilar, que não acompanha a distorção e migração no sentido caudal do tronco encefálico➔ As hérnias cerebelares podem se dirigir para cima (ascendente), insinuando‑se no buraco de Pacchioni, ou, mais frequentemente, para baixo, através do forame magno. A hérnia cerebelar superior ocorre quando há aumento da PIC no compartimento infratentorial e pressão relativamente menor na fossa supratentorial. ➔ A hernia cerebelar superior comprime o mesencéfalo diminuindo a luz do aqueduto do mesencéfalo, o que leva à retenção de LCR acima desse nível. ➔ A hérnia cerebelar inferior, tonsilar ou amigdaliana, resulta da insinuação das tonsilas cerebelares no buraco occipital comprimindo o bulbo. ➔ Ela é mais grave do que as hérnias transtentoriais e cerebelares superiores, acompanha-se de obstrução do trânsito do LCR no nível do quarto ventrículo ➔ Seu quadro clínico caracteriza-se por parada cardiorrespiratória súbita. ➔ As hérnias encefálicas transtentoriais e cerebelares, obstruindo o buraco de Pacchioni ou o forame magno, interrompem a comunicação entre a cavidade intracraniana e o espaço intraraquídeano, explicando a ausência de aumento da pressão do LCR quando ela é medida no espaço subaracnóideo espinal mesmo na vigência da HIC franca. ➔ Esse mesmo fato justifica a contra‑ indicação de colheita do LCR na cisterna magna ou no fundo-de-saco lombar quando existe HIC, porque esse procedimento pode agravar ou desencadear hérnia encefálica com todas as suas consequências. Moarah Brito | FASAI | 5º período Demais complicações Relação entre Hipertensão Intracraniana e Fluxo Sanguíneo Encefálico Mecanismo 1 ➔ Ação direta que a HIC exerce sobre os vasos encefálicos → diminuição dos seus diâmetros → aumento da RVE → queda do FSE→ anoxia cerebral ➔ Queda do FSE e anoxia → acúmulo de CO2 → vasodilatação ➔ A vasodilatação age como mecanismo de defesa para permitir o aumento de afluxo de sangue ao encéfalo ➔ Porém, a dilatação e o aumento do volume de sangue agravam a HIC Mecanismo 2 Elevação da PA (reação vasopressórica) ➔ A isquemia no nível do mesencéfalo ou bulbo, causada pelas hérnias encefálicas, parece ser responsável pela reação vasopressórica ➔ À medida que essa isquemia se acentua, ocorre comprometimento dessa reação vasopressórica ➔ PA caindo → diminui a diferença entre PA e a PIC → acentua isquemia cerebral ➔ A falência desse mecanismo pressórico causa a morte Efeitos da HIC sobre a Pressão Arterial, Pulso e Frequência Respiratória ➔ PA se eleva quando a PIC atinge níveis próximos ou superiores aos da PA ➔ O propósito da elevação da PA é de restaurar o FSE aos centros vitais bulbares ➔ Tríade de Cushing ◆ Elevação da PA ◆ Bradicardia ◆ Arritmia respiratória Manifestações clínicas ➔ O aumento de volume do LCR surge quando há bloqueio parcial ou total do fluxo liquórico → aumento da produção de LCR ou dificuldade na sua reabsorção ➔ O aumento do conteúdo sanguíneo é secundário à vasodilatação encefálica, e o aumento do componente hídrico do parênquima nervoso ocorre em várias circunstâncias ➔ A elevação da PIC pode estar relacionada à dimensão ou localização do componente ➔ Levam ao inchaço ou edema cerebral ◆ Neoplasias, inflamações, granulomas, parasitas (cisticercose e hidatidose), infartos isquêmicos e hemorrágicos, TCE ➔ O quadro clínico é determinado, principalmente, pela distorção e compressão do encéfalo Sinais e sintomas gerais ➔ Decorrem do aumento da PIC e suas consequências (distúrbio do FSE, compressão e torção de estruturas) ➔ Cefaleia ◆ 70% dos com tumores ◆ Dor generalizada ou localizada, apenas 30% relacionada ao local etiológico ◆ Progressivo ◆ Mais intenso à noite (vasodilatação secundária à retenção de CO2 durante sono) ◆ Doenças que levam a elevação da PIC sem desviar estruturas geralmente não geram cefaleia ◆ Dor decorre da dilatação e tração das grandes artérias e veias e compressão dos nervos cranianos Moarah Brito | FASAI | 5º período (trigêmeo, vago e glossofaríngeo) e dura-máter ➔ Vômitos ◆ 70% no curso da doença ◆ Maior frequência ao despertar ◆ Decorre do aumento da PIC ou do deslocamento e torção do tronco encefálico ◆ Podem ou não ser precedidos de náuseas ➔ Edema de papila ◆ Sinal mais característico de HIC (mas não é patognomônico) ◆ Resulta da compressão da veia central da retina pelo LCR contido no espaço subaracnóideo que envolve os nervos ópticos ◆ As queixas de cegueira transitória sugerem cegueira iminente ◆ Um processo expansivo pode comprimir diretamente um nervo ou quiasma óptico → atrofia primária da papila e cegueira, sem que haja edema de papila ou HIC ➔ Alteração de personalidade e no nível de consciência ◆ Geralmente reconhecidas após aparecimento de outros sintomas ◆ Fatigabilidade, apatia, irritabilidade, desatenção, indiferença, diminuição da espontaneidade, instabilidade emocional, sonolência, rebaixamento do nível de consciência, coma ➔ Crises convulsivas ◆ 30% ◆ Mais precoces nos processos expansivos de rápida evolução e nos situados próximo ao córtex motor ◆ HIC crônicas também geram ➔ Tontura ◆ Sem caráter giratório ◆ Mais frequentes quando etiologia resulta em edema de labirinto ➔ Macrocefalia ◆ Crianças com suturas ainda não soldadas ◆ Aumento do perímetro craniano como compensação ◆ Som de pote rachado à percussão do crânio ➔ Alteração de PA, FC e FR ➔ Nervos motores oculares ◆ Frequente ◆ Nervo abducente (75%), nervo oculomotor (20%) e troclear (5%) Sinais e sintomas focais ➔ Disfunção da área onde está localizado o processo responsável pela HIC ➔ Reconhecimento auxilia no tratamento ➔ Podem surgir precocemente ➔ Confunde-se com sintomas gerais ◆ Parestesias e paralisias ◆ Convulsões focais ◆ Ataxia ◆ Distúrbios cognitivos ◆ Alterações endócrinas ◆ Comprometimento dos nervos cranianos Evolução dos sinais e sintomas Fase 1 ➔ Assintomática devido mecanismos compensatórios Fase 2 ➔ Mecanismos de compensação já estão se esgotando ➔ Comprometimento do FSE ➔ Isquemia dos centros bulbares ➔ Primeiros sinais e sintomas (gerais) ◆ Cefaléia ◆ Vômitos ◆ Edema de papila Moarah Brito | FASAI | 5º período ◆ Alteração de personalidade e do nível de consciência ◆ Crises convulsivas ◆ Tonturas ◆ Macrocefalias ◆ Alterações de PA, FR e FC ◆ Comprometimento dos nervos motores oculares Fase 3 ➔ Comprometimento do tono vascular ➔ Paralisia do mecanismo vaso pressórico → aumento do volume sanguíneo encefálico → aumenta HIC ➔ Sinais e sintomas aumentam muito ◆ Comprometimento no nível de consciência ◆ Alteração PA, FC, FR ➔ Possibilidade de regressão do quadro clínico, desde que tratamento adequado seja feito Fase 4 ➔ Sintomas ◆ PA cai (importância de elevação da PA como forma fundamental de manter FSE adequado) ◆ FR e FC irregulares ◆ Coma ◆ Pupilas midriáticas e paralíticas ◆ Morte por parada cardiorrespiratória Fonte: ➔ A neurologia que todo médico deve saber ➔ Neuroanatomia Funcional ➔ Clínica Médica, HCUSP ➔ Anatomia Humana. Elaine N. Marieb ➔ Uma revisão breve sobre pressão intracraniana: um parâmetro clínico a ser considerado. 2021
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