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Pneumonia é uma infecção do tecido pulmonar por um agente biológico patogênico. Comumente não são diagnosticadas e tratadas adequadamente, motivo pelo qual causa morbidade e mortalidade significativa, principalmente devido a comorbidades e idade avançada. Há várias maneiras de se classificar as pneumonias: AQUISIÇÃO DO PATÓGENO: Depende de onde veio o patógeno, já que pode ser causada por diversos patógenos. Nessa classificação, temos: pneumonias (1) adquiridas na comunidade (PAC), (2) adquiridas no hospital (PAH) ou associadas à ventilação mecânica (PAV). Uma quarta categoria foi introduzida associada aos serviços de saúde (PASS), abrangendo casos com pneumonia em fase inicial infectados por patógenos resistentes a múltiplos fármacos (MDR), normalmente associados com PAH. Os fatores de risco para infecção por patógenos MDR não impedem que a pneumonia seja causada pelos microrganismos comumente associados à PAC. Essas distinções são importantes porque ajudam a definir os agentes infecciosos mais prováveis e, portanto, influenciam fortemente as escolhas apropriadas para terapia antibiótica inicial PADRÃO ANATOMOPATOLÓGICO: Padrão de distribuição da inflamação alveolar. Nessa classificação temos a broncopneumonia (peribrônquica), e a pneumonia lobar (segmento ou lobo pulmonar). A pneumonia resulta da proliferação dos patógenos microbianos nos espaços alveolares e da resposta do hospedeiro a esses agentes patogênicos. Os microrganismos chegam às vias respiratórias inferiores por vários mecanismos. ASPIRAÇÃO DO CONTEÚDO OROFARÍNGEO: é o mecanismo mais comum, através da microaspiração de conteúdo da orofaringe, acontece com indivíduos saudáveis durante o sono. Uma colonização por microrganismos patogênicos, como o Streptococcus pneumoniae, pode acumular microrganismos em quantidades suficientes para infectar o pulmão. INALAÇÃO DE PARTÍCULAS AEROSSOLIZADAS: é o segundo mecanismo mais frequente de infecção pulmonar, inalação de pequenas gotículas aerossolizadas em suspensão que variam de 0,5 a 1 µm (micrometro) de diâmetro e que podem conter microrganismos. Apenas agentes patogênicos relativamente agressivos conseguem de chegar até os pulmões dessa maneira, como Mycobacterium tuberculosis, Legionella pneumophila, Yersinia pestis, Bacillus anthracis e algumas infecções virais. INFECÇÃO DA CORRENTE SANGUÍNEA: é menos comum, mas pode acontecer de o pulmão ser infectado como consequência de uma infecção na corrente sanguínea (hematogênica). A pneumonia transmitida pelo sangue é encontrada na sepse estafilocócica ou na endocardite do coração direito, que são mais comuns em usuários de drogas intravenosas e em bacteremias Gram- negativas. REBAIXAMENTO DE NÍVEL DE CONSCIENCIA: Broncoaspiração pode ser maciça, inclusive gástrica (ex. paciente vomitar e broncoaspirar). Por isso, é indicado entubar rebaixamentos agudos graves de nível de consciência, para proteção de via aérea. Os fatores mecânicos são extremamente importante para a defesa do hospedeiro. Os pelos e as conchas nasais das narinas retêm as partículas maiores inaladas antes que elas possam chegar às vias respiratórias inferiores. A arquitetura ramificada da árvore traqueobrônquica retém microrganismos no revestimento das vias respiratórias, onde a atividade mucociliar e os fatores antibacterianos locais atuam nos patógenos potenciais. O reflexo de engasgo e o mecanismo da tosse conferem proteção essencial contra aspiração. Além disso, a flora normal aderida às células da mucosa da orofaringe, impede que as bactérias patogênicas se liguem e, assim, reduz o risco de pneumonia causada por bactérias mais patogênicas. Quando essas barreiras são ultrapassadas, os macrófagos alveolares são eficientes na eliminação e destruição dos patógenos. Os macrófagos são auxiliados por proteínas das células epiteliais locais (exemplo: proteínas A e D do surfactante) e possuem propriedades de opsonização ou atividade antibacteriana ou antiviral. Após serem fagocitado, mesmo que não sejam destruídos, são eliminados pelo sistema elevatório mucociliar ou pelos vasos linfáticos. OPSONIZAR: é revestir uma célula para se tornar mais apetitoso para o sistema imunológico. Uma bactéria revestida com alguma molécula torna a fagocitose muito mais fácil para o macrófago. A pneumonia ocorre apenas quando a capacidade dos macrófagos alveolares é superada. As células ativam uma resposta inflamatória para reforçar as defesas das vias aéreas inferiores, desencadeando a síndrome clínica da pneumonia. A liberação de mediadores inflamatórios como IL-1 e o fator de necrose tumoral provoca febre. As quimiocinas IL-8 e o fator estimulador das colônias de granulócitos estimulam a liberação dos neutrófilos e sua atração ao pulmão, causando leucocitose periférica e secreções purulentas aumentadas. Os mediadores liberados pelos macrófagos e pelos neutrófilos acarretam o extravasamento alveolocapilar, e até as hemácias conseguem atravessar, causando hemoptise. Esse extravasamento é responsável pelos infiltrados radiográficos e pelos estertores detectáveis á ausculta, enquanto a hipoxemia é resultado do preenchimento dos espaços alveolares. A hipoxemia grave é causada por patógenos bacterianos que interferem na vasoconstrição. O aumento do drive respiratório na síndrome da resposta inflamatória causa alcalose respiratória. A dispneia surge da redução da complacência pulmonar secundaria ao extravasamento capilar, hipoxemia, hiperestimulação do centro respiratório, secreções prófugas e do broncoespasmo pela infecção. Ocorre shunt. SHUNT: sangue que entra no leito arterial sistêmico sem passar pelas áreas ventiladas do pulmão, levando a redução da pressão arterial parcial de oxigênio (Pa02). A presença de microbiota alveolar normal (que deveria ser estéril ou quase) aumenta a possibilidade de uma via alternativa para o desenvolvimento da pneumonia, predominando gram-positivas. O fato de muitos patógenos causadores de PAC serem componentes da microbiota alveolar normal sustenta esse modelo alternativo de patogênese. A microbiota alterada se deve as infecções virais do trato superior, PAC e terapia antibiótica para a PAH/PAV. A fase inicial é de edema com presença de exsudato proteináceo – e geralmente de bactérias – nos alvéolos, raramente evidenciada na clínica ou na necropsia. A segunda fase é chamada de fase de hepatização vermelha, chamada assim pela presença de hemácias no exsudato intra-alveolar celular, deixando o pulmão menos esponjoso (parecido com o fígado) e avermelhado. As bactérias são isoladas em culturas dos materiais patológicos nessa fase. Na terceira fase, chamada hepatização cinzenta, não há hemácias recém-chegados no material extravasado, e as que já estavam presentes estão desintegradas e degradadas. Os neutrófilos são as células predominantes, a deposição de fibrina é abundante e as bactérias já desapareceram. Essa fase é a delimitação bem-sucedida da infecção e à melhora da troca gasosa. Na fase final, chamada de resolução, os macrófagos reaparecem como células predominantes no espaço alveolar e os restos de neutrófilos, bactérias e fibrina já foram eliminados e a resposta inflamatória regrediu. Esse padrão tem sido visto bem claramente na pneumonia pneumocócica lobar, mas pode não ser aplicável nas pneumonias virais ou causadas por Pneumocystis. A PAV pode fazer com que a bronquiolite respiratória ocorra antes do desenvolvimento dos infiltrados detectáveis radiograficamente. O padrão de broncopneumonia é mais comum nas pneumonias nosocomiais, enquanto o lobar é mais frequente com as PACs bacterianas. As pneumonias causadas por vírus e Pneumocytis são processos alveolares, e não intersticiais.A apresentação clínica pode ser típica ou atípica. A pneumonia típica é aquela com os sintomas clássicas, paciente febril e com calafrios, tosse produtiva e purulenta, passa mal, leucocitose, dor pleurítica característica e localizada. Essa pneumonia é causada por bactérias bastante epirogênicas, que deflagram uma resposta imune pronunciada pela sua virulência no organismo no paciente imunocompetente. A pneumonia atípica é aquela com os sintomas menos floridos, paciente com febrícula, tosse hialina ou seca, mialgia, prostração, as vezes acham que estão gripados. Essa é a resposta de organismos não muito virulentos, apesar de também levar a morte. Há também dissociação clínico-radiológico (paciente clinicamente bem e raio X muito ruim). Normalmente, não se classifica pacientes com pneumonia típica ou atípica, é comum os sintomas se sobreporem. - Febre (pode não ser alta ou não apresentar, principalmente em pneumonias atípicas); - Tosse (normalmente purulenta, mas em alguns casos pode ser hialina ou, até mesmo, seca); - Odinofagia (deglutição com dor – dor de garganta. Faz o paciente achar que está gripado); - Taquicardia; - Desconforto torácico (dor pleurítica – dor bem localizada que piora a inspiração ou a tosse, raramente piora à digito pressão); - Sibilância (sons escutados podem estar atenuados devido ao líquido interposto, sibilos audíveis podem estar piores); - Cefaleia (principalmente nas atípicas); - Dor abdominal (paciente com pneumonia de lobo inferior, apresentam dor abdominal nos quadrantes superiores). - Confusão mental (principalmente pacientes idosos, debilitados ou com diagnostico prévio de debilidade mental); - Otalgia (clássica sintomatologia de infecção de via aérea superior, associada a rouquidão); - Sintomas gastrointestinais (diarreia, cólica, dor abdominal); - Prostração ou mialgia; - Derrame pleural (derrame parapneumônico, secundário à pneumonia. Som característico na ausculta pulmonar: egofonia: emissão vocal defeituosa – na ausculta, paciente fala “33” e som sai defeituoso); - Dispneia, taquipneia e hipoxemia (perdendo tecido, inflamando tecido, perdendo local de troca gasosa, reduzindo a complacência pulmonar); - Insuficiência respiratória (quando o quadro é muito grave, paciente não consegue acoplar a ventilação com a perfusão); - Sepsis: maior causa de óbitos por pneumonia. - Arritmia: pode ser bradiarritmia a ou taquiarritmia. Descompensação cardiológica do paciente, que inflamado, acaba fazendo um alto débito. - Descompensação de pneumopatia prévia: principalmente Asma e DPOC, doenças que causam uma hiper-reatividade. Pneumonia boba pode ser suficiente para irritar a via aérea hiper-reativa, resultando as vezes em intubação. - Derrame pleural: derrame pleural secundária a pneumonia chama-se parapneumônico. - Empiema pleural: empiema é pus em uma cavidade já existente no corpo (diferente de abcesso: pus em uma cavidade neoformada pelo processo inflamatório). - Endocardite: inflamação na membrana que reveste a parede interna do coração e as válvulas cardíacas. Pode evoluir para o pulmão e embolizar. Quando há bacteremia pela pneumonia, as bactérias chegam ao coração pela corrente sanguínea, e acabam, principalmente, nos pacientes que já tem alguma doença valvar e idosos com calcificação, grudam na valva e começam “enchuveirando”, inclusive para o pulmão. - Meningite; - Pneumonia Necrotizante: necrose do tecido pulmonar. Paciente perde o parênquima pulmonar e morre. - Bronquiectasia pulmonar: dilatação irreversível da via aérea. Se viver, paciente passará a vida toda com a complicação. - Exames laboratoriais: não é necessário pedir para todos os pacientes. Para pacientes mais graves ou com comorbidades, sugere-se pedir o “KIT SEPSE”, que são exames de cultura, hemograma completo, gasometria com lactato, eletrólitos, glicose, TAP, PTT, INR, ureia, creatinina e hepatograma. Objetivo: identificar disfunção orgânica. A identificação clássica é de uma leucocitose, com desvio a esquerda, por resposta da medula à infecção. Em casos mais raros, o paciente pode evoluir também com leucopenia, principalmente se a infecção for viral, pode ser um sinal de disfunção medular. IMPORTANTE: NÃO EXCLUIR PNEUMONIA PORQUE HÁ LEUCOPENIA. - Investigação etiológica; painel viral; antígeno urinário (pneumonia adquirida na comunidade); escarro; lavado brônquico; secreção traqueal. Exame de imagem é pedido, pelo menos, para fechar o diagnóstico. Quando o paciente não evolui bem, é pedido novamente a título de comparação. RAIO X É possível identificar como se distribui o exsudato no parênquima pulmonar, classificação anatomopatológica. BRONCOPNEUMONIA: focos ou multifocal. PNEUMONIA LOBAR: disseminação uniforme nos lobos. Pneumonia lobar de lobo superior (chamada também de lobo pesado) pode ser confundida com tuberculose. A localização da pneumonia, muitas vezes, sugere sua etiologia. Segmento superior e posterior dos lobos inferiores sugerem broncoaspiração. Disseminação hematogenia, infiltrados diversos, pequenos e periféricos. TOMOGRAFIA 3 indicações: (1) paciente idoso ou com comorbidade importante, (2) paciente tem lesão pulmonar estrutural prévia e (3) ausência de melhora ou casos muito graves. ANTIBIÓTICOS: para infecções bacterianas e infecções secundárias às virais. ESCOLHA DA DROGA - Perfil do paciente: alergias, comorbidades, antibióticos prévios. - Focos e agentes mais prováveis: microbioma local, antibiograma. - Propriedades farmacológicas da droga: toxicidade do fármaco, interações, concentração da droga. TSA do paciente (exemplo): A droga escolhida deve depender de todos os fatores citados acima. - Dose adequada: considerando o germe, correções de dose (pela função renal). - Programação terapêutica: plano B (e se não estiver melhorando?), tempo previsto (passou do tempo previsto – mudar de estratégia). - E se não deu certo? talvez outro agente etiológico. Resistência? Complicação? Tomografia. Será mesmo só infecção? Talvez pode ser outra doença mais delicada. A pneumonia adquirida na comunidade inclui casos de pneumonia infecciosa em pacientes que vivem independente na comunidade e, também, pacientes hospitalizados por outras razões que desenvolvem os sintomas antes de 48h, pois considera-se que a inoculação tenha ocorrido antes da admissão, salvo aqueles que receberam antibioticoterapia endovenosa, quimioterapia ou outros nos últimos 30 dias, esses são considerados tendo pneumonia associada ao tratamento de saúde. ADQUIRIDA NA COMUNIDADE Mais de 10 milhões de casos de pneumonia ocorrem anualmente nos Estados Unidos e resultam em mais de um milhão de hospitalizações. Em geral, 80% dos pacientes afetados são tratados ambulatorialmente e 20% são hospitalizados. A pneumonia é uma das principais causas de morte em todo o mundo, 6ª principal causa de morte nos Estados Unidos. Nos EUA, a taxa de incidência anual global é de 12 casos por 1.000 habitantes, mas essa taxa aumenta para 12-18 por 1.000 entre as crianças < 4 anos, e é de 20 por 1.000 na faixa etária > 60 anos. A taxa de mortalidade associada à pneumonia adquirida na comunidade varia de menos de 5% em pacientes ambulatoriais com acometimento leve, 12% em pacientes que são admitidos em um hospital e pode exceder 40% em pacientes que necessitam de tratamento na unidade de terapia intensiva (UTI). A mortalidade é ainda maior em pacientes que têm doença invasiva grave e idosos institucionalizados. Pode ser causada por diversos patógenos, como bactérias, vírus, fungos e outros microrganismos. Entre os patógenos identificados recentemente estão os metapneumovírus e o coronavírus (responsávelpela síndrome respiratória aguda grave - SRAG). Entretanto, a maioria dos casos é causada por um número relativamente pequeno de patógenos. O mais comum é o Streptococcus pneumoniae. A separação dos agentes potenciais em patógenos bacterianos “típicos” ou microrganismos “atípicos” pode ser útil. TÍPICO: inclui S. pneumoniae, Haemophilus influenzae e (em determinados casos) S. aureus e bacilos Gram-negativos, como Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa. ATÍPICO: inclui Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae e as espécies de Legionella (nos pacientes internados), assim como os vírus respiratórios, como influenza, adenovírus, metapneumovírus humano e vírus sinciciais respiratórios. Os microrganismos atípicos não podem ser isolados pelas técnicas de cultura em meios convencionais e nem podem ser detectados pela coloração de Gram. Esses microrganismos são intrinsecamente resistentes a todos os antibióticos β-lactâmicos e devem ser tratados com um macrolídeo, uma fluoroquinolona ou uma tetraciclina. Em cerca de 10- 15% dos casos de PAC polimicrobiana, os agentes etiológicos comumente consistem em uma combinação de patógenos típicos e atípicos. Em mais de 50% dos casos é impossível determinar o agente etiológico específico. A possibilidade de pneumonia deve ser considerada em qualquer paciente com novos sintomas respiratórios, incluindo tosse, expectoração ou dispneia, particularmente quando esses sintomas são acompanhados de febre ou anormalidades no exame físico do tórax, como roncos e estertores. Pode ser uma apresentação indolente ou fulminante e sua gravidade varia de leve a casos fatais. A apresentação inicial é frequentemente mais sutil em pacientes idosos ou que tenham um estado imune alterado; nesses pacientes, sintomas inespecíficos, como perda de apetite, confusão mental, desidratação, agravamento dos sintomas ou sinais de outras enfermidades crônicas, podem ser as manifestações iniciais da pneumonia. A pneumonia é cada vez mais prevalente em pacientes com comorbidades específicas, que incluem tabagismo, doença pulmonar obstrutiva crônica, diabetes melito, malignidade, insuficiência cardíaca, doenças neurológicas, uso de substâncias narcóticas, bebidas alcoólicas e doença hepática crônica. Frequentemente ocorre febre, taquipneia, calafrios e/ou sudorese. A tosse pode ser seca ou produtiva com escarro mucoide, purulento ou sanguinolento. A hemoptise franca é sugestiva de MRSA-AC (Staphylococcus Aureus Resistente à Meticilina – adquirida na comunidade). Dependendo da gravidade, o paciente pode ser capaz de pronunciar frases inteiras ou apresentar dispneia grave. Se tiver acometimento da pleura, o paciente pode referir dor torácica pleurítica. Até 20% dos pacientes apresentam queixas gastrointestinais como náuseas, vômitos e/ou diarreia. Outros sintomas incluem fadiga, cefaleia, mialgias e artralgias. As anormalidades do exame físico podem variar com a gravidade da condensação pulmonar e a existência ou ausência de derrame pleural significativo. É comum observar aumento da frequência respiratória e utilização dos músculos acessórios para a respiração. A palpação pode detectar acentuação do frêmito toracovocal e a percussão evidencia submacicez e macicez, que refletem a condensação pulmonar ou líquido pleural subjacente. A ausculta detecta estertores, sopros brônquicos e atrito pleural. A apresentação clínica pode não ser tão evidente nos pacientes idosos que, inicialmente, apresentam confusão mental de início súbito ou agravada e poucos sinais clínicos adicionais. Os pacientes mais graves podem apresentar choque séptico e indícios de falência de órgãos. O diagnóstico é evidenciado com base nos exames clínicos e radiográficos, enquanto a etiologia depende de técnicas laboratoriais complementares. DIAGNÓSTICO CLÍNICO o diagnostico diferencial inclui os distúrbios infecciosos e não infecciosos, como bronquite aguda, exacerbações agudas da bronquite crônica, insuficiência cardíaca, embolia pulmonar, pneumonite de hipersensibilidade e pneumonite pós-radiação. Assim, a história detalhada tem importância fundamental. A radiografia é necessária para ajudar a diferenciar entre PAC e outros distúrbios, podendo até sugerirem o diagnostico etiológico. Os achados radiográficos servem como parâmetro para comparações futuras e podem incluir fatores de risco sugestivos de maior gravidade. Exemplo, pneumatoceles indicam infecção por S. aureus, enquanto lesões cavitárias nos lobos superiores sugerem tuberculose. A tomografia computadorizada pode ser útil nos casos suspeitos de pneumonia obstrutiva causada por tumor ou corpo estranho ou suspeita de doença cavitária. DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO A identificação de um patógeno inesperado pode restringir o uso do esquema empírico inicial, reduzir pressão seletiva dos antibióticos e diminuir o risco de resistência. Sem culturas e testes de sensibilidade, não é possível acompanhar cuidadosamente. COLORAÇÃO PELO GRAM E CULTURA DE ESCARRO: O objetivo principal é confirmar que uma amostra é apropriada para cultura. Pode ajudar a identificar alguns patógenos ((S. pneumoniae, S. aureus e bactérias gram-negativas) por seu aspecto característico. A amostra de escarro vai ser apropriada para cultura se conter mais que 25 neutrófilos e menos que 10 células epiteliais escamosas. Muitos pacientes, especialmente idosos, podem não conseguir fornecer amostras adequadas de escarro expectorado. Outros podem já ter começado tratamento com antibióticos e pode interferir nos resultados. A incapacidade de fornecer escarro pode ser causada pela desidratação. As vantagens principais da coloração e da cultura das secreções respiratórias são alertar o médico para patógenos insuspeitos e/ou resistentes e permitir a modificação apropriada do tratamento. HEMOCULTURAS: a positividade da hemocultura é decepcionantemente baixa, sendo apenas 5-14% dos pacientes hospitalizados com PAC positivas e o patógeno isolado mais comum é o S. pneumoniae. As hemoculturas positivas para tal patógeno tem pouco ou nenhum efeito no desfecho clínico e são pouco sensíveis, assim, não são mais consideradas obrigatórias. Alguns pacientes de alto risco – incluindo aqueles com neutropenia secundária à pneumonia, asplenia, deficiências de complemento, doença hepática crônica ou PAC grave – devem fazer hemoculturas. TESTE DE ANTÍGENOS URINÁRIOS: existem dois testes para detectar antígenos pneumocócicos e de Legionella na urina. O de Legionella detecta apenas o sorotipo I, porém é muito sensível. O teste para o antígeno pneumocócico na urina também é muito sensível e específico. REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE: são testes de PCR que amplificam o DNA ou RNA. O PCR de swabs de nasofaringe, por exemplo, se tornou o padrão para diagnóstico de infecções respiratórias virais. Além disso, a PCR pode detectar o ácido nucleico de espécies de Legionella, M. pneumoniae, C. pneumoniae e micobactérias. SOROLOGIA: elevação de quatro vezes no título dos anticorpos IgM específicos entre as amostras de soro das fases aguda e de convalescença geralmente é considerada diagnóstica da infecção pelo patógeno em questão. São menos usados devido o tempo necessário para obter o resultado. BIOMARCADORES: Os dois mais comumente usados são a proteína C-reativa (PCR) e a procalcitonina (PCT). Os níveis desses reagentes de fase aguda aumentam na presença de uma resposta inflamatória, particularmente com patógenos bacterianos. A proteína C-reativa pode ser útil na identificação de piora da doença ou falha do tratamento, e a PCT pode ajudar para diferenciar entre infecções bacterianas e virais e determinar a necessidade de terapia antibacteriana, ou ainda para decidir quandosuspender o tratamento. O custo do tratamento hospitalar é cerca de 20 vezes maior que o do tratamento. Desse modo, a decisão de internar um paciente com PAC tem implicações consideráveis. Os recursos que permitem avaliar objetivamente o risco de desfechos desfavoráveis, inclusive doença grave e morte, podem reduzir as internações hospitalares desnecessárias. Existem dois critérios para avaliar os desfechos desfavoráveis da doença: Índice de Gravidade da Pneumonia IGP, um modelo prognóstico utilizado para identificar pacientes com risco baixo de morte, e os critérios do CURB- 65, que avaliam a gravidade da doença. IGP O médico atribui pontos a 20 variáveis, inclusive idade, doenças coexistentes e anormalidades do exame físico e das análises laboratoriais. Com base no escore resultante, os pacientes são classificados em 5 grupos com as seguintes taxas de mortalidade: G1 0,1%; G2 0,6%; o G3 2,8%; G4 8,2% e G5 29,2%. Assim, do grupo 3 para cima, os pacientes podem ser internados em unidades de observação até que se possa tomar novas decisões. CURB-65 Inclui cinco variáveis como: Confusão; ureia > 7mmol/L; FR ≥ 30/minuto, PAs ≤ 90 e PAd ≤ 60, e idade ≥ 65 anos. Os pacientes com escore 0, entre os quais a taxa de mortalidade em 30 dias é de 1,5%, podem ser tratados ambulatorialmente. Com um escore de 1 ou 2, o paciente deve ser hospitalizado a menos que o escore seja totalmente ou em parte atribuível a uma idade ≥ 65 anos. Em tais casos, a hospitalização pode não ser necessária. Entre os pacientes com escores ≥ 3, a taxa de mortalidade global é de 22% e esses indivíduos podem necessitar de internação em UTI. Nem o IGP nem o CURB-65 são ideais para determinar a necessidade de cuidar do paciente em uma UTI. Choque séptico ou a insuficiência respiratória no setor de emergência são indicações óbvias para cuidados em UTI. Porém, as taxas de mortalidade são maiores em pacientes menos doentes internados em enfermaria geral e que depois pioram do que em pacientes igualmente enfermos monitorados na UTI. RESISTÊNCIA AOS ANTIBIÓTICOS A resistência aos antimicrobianos é um problema que ameaça reduzir o arsenal terapêutico. O uso inadequado dos antibióticos aumenta a pressão seletiva, e isso pode afetar os padrões locais ou até mesmo mundiais de disseminação clonal. S. pneumoniae A resistência dos pneumococos é adquirida (1) por incorporação e remodelação direta do DNA resultante do contato com outras bactérias comensais orais muito semelhantes, (2) pelo processo de transformação natural ou (3) mutação de alguns genes. A resistência à penicilina pareceu estabilizar-se, mesmo antes da alteração dos limiares da concentração inibitória mínima. A resistência dos pneumococos aos antibióticos β-lactâmicos é atribuída unicamente à baixa afinidade das proteínas ligadoras de penicilina. Os fatores de risco para infecção por pneumococos resistentes à penicilina incluem tratamento antibiótico recente, idade < 2 anos ou > 65 anos, frequentar creche com regularidade, internação hospitalar recente e infecção por HIV. A resistência aos macrolídeos vem aumentando por diferentes mecanismos genéticos. Ocorre resistência dos pneumococos às fluoroquinolonas. As cepas resistentes aos fármacos de três ou mais classes de antimicrobianos com mecanismos de ação diferentes são consideradas MDR. M. pneumoniae A resistência aos macrolídeos está aumentando como resultado de mutação em sítio de ligação no domínio V do RNA 23S. MRSA-AC São adquiridas direta ou indiretamente pelo contato com os serviços de saúde, e também em alguns hospitais. Tem-se a resistência do S. aureus á meticilina por um gene que codifica a resistência aos antibióticos b-lactâmicos. BACILOS GRAM-NEGATIVOS Resistência às fluoroquinolonas entre as cepas de Escherichia coli está aumentando. As enterobacters são resistentes às cefalosporinas. TRATAMENTO ANTIBIÓTICO INICIAL Como o médico quase nunca reconhece a etiologia da PAC antes de iniciar o tratamento, o esquema antibiótico inicial é empírico e tem como proposito cobrir os patógenos mais prováveis. A cobertura para patógenos atípicos oferecida pelo acréscimo de um macrolídeo a um β-lactâmico ou pelo uso isolado de uma fluoroquinolona foi associada claramente à redução expressiva das taxas de mortalidade, quando comparadas com os pacientes tratados apenas com β-lactâmicos. PAC: β-lactâmico + macrolídeo OU fluoroquinolona Se o paciente for alérgico e tiver risco de pseudomonas, substituir por aztreonan. Para a PAC grave, dos dados mostram os benefícios da inclusão de um macrolídeo, como a redução da mortalidade. Se houver preocupação em relação à resistência a macrolídeos, se o paciente estiver bem sob outros aspectos e não tiver recebido antibióticos recentemente, e se a taxa de resistência local à doxiciclina entre os isolados de pneumococos for < 25%, a doxiciclina deve ser usada em vez da monoterapia com macrolídeo. Caso contrário, deve-se usar uma fluoroquinolona, ou um β-lactâmico mais um macrolídeo. A ceftarolina é superior à ceftriaxona como componente β-lactâmico do tratamento intravenoso (IV) empírico da PAC em pacientes hospitalizados na classe de risco PORT III ou IV sem uso recente de antibióticos. As taxas de resposta clínica em pacientes infectados com S. pneumoniae ou S. aureus também favoreceram a ceftarolina. Nos pacientes com PAC internados em UTI, o risco de infecção por P. aeruginosa ou MRSA-AC é maior. A cobertura empírica deve ser considerada quando um paciente tem fatores de risco ou quando a coloração de Gram for sugestiva desses patógenos. Se houver suspeita de MRSA-AC, pode-se acrescentar linezolida ou vancomicina – com ou sem clindamicina para inibir a produção de toxinas – ao regime empírico inicial. Embora tradicionalmente os pacientes hospitalizados sejam tratados inicialmente com antibióticos IV, alguns fármacos – principalmente as fluoroquinolonas – são muito bem absorvidos e podem ser administrados por via oral desde o início em determinados pacientes. Para os pacientes tratados inicialmente com antibióticos IV, a substituição pelos fármacos orais é adequada, contanto que eles possam ingerir e absorver os antibióticos, estejam hemodinamicamente estáveis e mostrem melhora clínica. Esse escore serve para monitorizar, e não para contraindicar fármacos. Com essas variáveis, o paciente pode ter riscos de prolongar o QT (intervalo de tempo entre sístoles) com a droga dada. MEDIDAS ADJUNTAS Hidratação adequada, Oxigenoterapia para hipoxemia, vasopressores e ventilação assistida quando necessária são fundamentais para um tratamento bem-sucedido. INEXISTÊNCIA DE MELHORA Os pacientes que demoram a responder ao tratamento devem ser reavaliados em torno do terceiro dia. Alguns distúrbios não infecciosos podem simular pneumonia, inclusive edema ou embolia pulmonar, carcinoma do pulmão, pneumonites pós- radiação e de hipersensibilidade e doenças do tecido conectivo com acometimento dos pulmões. O patógeno pode ser resistente ao antibiótico escolhido ou um foco sequestrado (p. ex., abscesso pulmonar ou empiema) pode estar impedindo o acesso do(s) fármaco(s) ao patógeno. O paciente pode estar piorando porque o fármaco, a dose ou a frequência de administração estão incorretos. Também pode acontecer de a PAC ser o diagnóstico certo, mas o agente etiológico ser um patógeno diferente. As superinfecções nosocomiais – pulmonares e extrapulmonares – são explicações plausíveis para a falta de melhora ou o agravamento em um paciente hospitalizado. COMPLICAÇÕES Insuficiência cardíaca respiratória, choque e falência de múltiplos órgãos, coagulopatia, exacerbações das comorbidades existentes, infecções metastáticas, abscesso pulmonar(associado à espirações) e derrame pleural complicado. Em geral, a pneumonia por aspiração é uma infecção polimicrobiana causada por aeróbios e anaeróbios. ACOMPANHAMENTO Febre e a leucocitose regridem em 2 a 4 dias nos indivíduos com PAC e saudáveis sob outros aspectos, mas as anormalidades do exame físico podem persistir por mais tempo. As anormalidades das radiografias de tórax demoram mais a regredir e podem necessitar de 4 a 12 semanas para desaparecer, com a rapidez de regressão dependendo da idade do paciente e da doença pulmonar subjacente. Os pacientes podem ser liberados do hospital quando suas condições clínicas, incluindo comorbidades, estiveram estáveis. PROGNÓSTICO Dependa da idade do paciente, das suas comorbidades e do local em que o tratamento é efetuado (ambulatório ou hospital). Os pacientesjovens sem comorbidades evoluem bem e, em geral, recuperam-se por completo depois de aproximadamente 2 semanas. Os pacientes idosos e os que apresentam comorbidades podem demorar várias semanas ou mais para se recuperarem totalmente. A taxa de mortalidade geral da população ambulatorial é < 5%. Para os pacientes que necessitam de hospitalização, as taxas gerais de mortalidade variam entre 2 e 40%. Devido a mortalidade potencial da pneumonia, medidas apropriadas devem ser instituídas para reduzir a possibilidade de infecção pulmonar. - Cessar o tabagismo, evitar o uso de drogas ilícitas ou de bebida alcoólica em excesso, que podem comprometer a consciência. - A otimização do estado nutricional também é importante, pois pacientes muito abaixo do peso ou obesos estão sujeitos a maior risco. - Uso apropriado e consistente de vacinas podem reduzir em muito o risco de pneumonia em populações selecionadas. A vacinação contra a gripe também deve ser considerada. Embora, em geral, manifeste-se como uma infecção das vias respiratórias superiores, a gripe pode, por si só, causar pneumonia tanto nos indivíduos imunocompetentes quanto nos imunossuprimidos. Fica dentro da classificação de pneumonia nosocomial, pois é adquirida nos hospitais. A diferença entre os estudos da PAV e da PAH é a dependência do escarro expectorado para firmar o diagnostico na PAH. A pneumonia hospitalar e a associada ao ventilador precoces, definidas como infecções que ocorrem dentro dos primeiros quatro dias de internação, tendem a ser causadas por bactérias suscetíveis a antibióticos, enquanto as infecções de início tardio são mais frequentemente causadas por organismos resistentes a múltiplas drogas (MDR), os quais são associados a maior morbidade e mortalidade. Entre os agentes etiológicos potenciais, estão patógenos bacterianos com ou sem resistência a múltiplos fármacos (MDR). Os não MRD são praticamente idênticos aos microrganismos associados à PAC grave, principalmente quando a PAV é desenvolvida nos primeiros 5-7 dias de internação (pneumococo, H. influenzae, S. aureus sensível á meticiclina, E. coli, Klebesiella e etc). A frequência de cada patógeno MDR pode variar entre os hospitais e até mesmo entre as diferentes UTIs da mesma instituição. A maioria dos hospitais tem problemas com P. auriginosa e MRSA. Em casos menos comuns, pode ser causado por fungos ou vírus patogênicos, geralmente em pacientes com imunodepressão grave. A pneumonia é uma complicação comum entre os pacientes que necessitam de ventilação mecânica, e a prevalência pode variar de 6-52 casos por 100 pacientes. A mortalidade global atribuída à pneumonia hospitalar varia entre 30 a 50%. Em qualquer UTI, existe uma média de que 10% dos pacientes têm pneumonia, sendo PAV na grande maioria. Isso depende da duração da ventilação mecânica, com taxa de risco mais alta nos primeiros 5 dias e estabilização (1% ao dia) dos demais casos após 2 semanas. O índice cumulativo entre os pacientes que continuam no respirador ASSOCIADA À VENTILAÇÃO MECÂNICA por até 30 dias pode chegar a 70%. A pneumonia hospitalar aumenta em média a duração da hospitalização em sete a nove dias. Quando um paciente em respirador é transferido para uma unidade de tratamento crônico ou para casa, a incidência de pneumonia diminui significativamente, em especial se não houver outros fatores de risco para pneumonia. Nas unidades para pacientes que necessitam de respirador por períodos longos, a traqueobronquite purulenta torna-se um problema significativo e. em geral, interfere com as tentativas de “desmamar” os pacientes do respirador. Três fatores são fundamentais à patogênese da PAV: (1) colonização da orofaringe por microrganismos patogênicos, (2) aspiração desses patógenos da orofaringe para as vias respiratórias inferiores e (3) comprometimento dos mecanismos de defesa normais do hospedeiro. A maioria dos fatores de risco e suas medidas profiláticas correspondentes referem-se a um desses três fatores. O fator de risco mais evidente é o tubo endotraqueal, que neutraliza os fatores mecânicos normais que impedem a aspiração, tendo microaspiração agravada pelas secreções acumuladas acima do balonete. O tubo endotraqueal e a necessidade de aspirar podem lesar a mucosa da traqueia e facilitar a colonização traqueal. Além disso, as bactérias patogênicas podem formar um biofilme de glicocálice na superfície do tubo, que as protege dos antibióticos e dos mecanismos de defesa do corpo. As bactérias podem ser desalojadas e reinocular a traqueia, ou o glicocálice pode embolizar para as vias aéreas distais, levando consigo as bactérias. Numa porcentagem alta dos pacientes em estado crítico, a flora normal da orofaringe é substituída por microrganismos patogênicos. Os fatores de risco mais importantes são as pressões seletivas dos antibióticos, a infecção cruzada (falta de higiene das mãos) transmitida por outros pacientes infectados/colonizados ou por equipamentos contaminados e a desnutrição. Quase todos os pacientes intubados fazem microaspirações e são colonizados ao menos transitoriamente por bactérias patogênicas. Apenas cerca de um terço dos pacientes colonizados desenvolve PAV. As contagens de colônias aumentam a níveis altos, algumas vezes dentro de alguns dias antes do desenvolvimento da pneumonia clínica; esses aumentos sugerem que a etapa final do desenvolvimento da PAV, independentemente da aspiração e da colonização orofaríngea, seja a violação das despesas do hospedeiro. A pneumonia hospitalar, a associada ao ventilador e a associada ao tratamento de saúde são, muitas vezes, primeiro suspeitadas com a demonstração de piora ou novos infiltrados radiográficos, juntamente com outros sinais clínicos de infecção, incluindo febre, leucocitose e escarro purulento. A oxigenação também pode ter piorado. Em geral, duas das três características clínicas principais (febre, leucocitose, escarro purulento) devem estar presentes. Em pacientes com síndrome de angústia respiratória aguda, no entanto, um único fator clínico isolado deve provocar investigação adicional e cultura microbiológica. Em geral, as manifestações clínicas são as mesmas das outras dos outros tipos de pneumonia: febre, leucocitose, aumento das secreções respiratórias, condensação pulmonar no exame físico, alterações ou aparecimento de novos infiltrados na radiografia de tórax, taquicardia, deterioração da oxigenação e aumento da ventilação por minuto. Todos os pacientes com suspeita de pneumonia hospitalar devem receber uma anamnese e exame físico abrangentes para definir a gravidade da doença e fontes potenciais de infecção. A radiografia de tórax é essencial para determinar a extensão da pneumonia, particularmente se ela é broncopneumonia ou pneumonia lobar. A gasometria arterial, o hemograma completo, os eletrólitos e a função hepáticae renal devem também ser avaliados. Sempre que possível, antes de instituir novos antibióticos, deve ser colhido sangue para cultura, embora ela seja positiva apenas em uma minoria dos pacientes. Já para pacientes submetidos à ventilação mecânica, não há um conjunto de critérios únicos que possa ser utilizado confiavelmente para estabelecer o diagnóstico. A utilização de critérios clínicos quase sempre resulta na superestimação da PAV, principalmente em razão de três situações comuns encontradas nos pacientes de alto risco: (1) colonização traqueal por bactérias patogênicas nos pacientes com tubos endotraqueais; (2) diversas causas possíveis para os infiltrados radiográficos dos pacientes mantidos em ventilação mecânica; e (3) frequência alta de outras causas de febre entre os pacientes em estado crítico. O diagnóstico diferencial da PAV inclui alguns distúrbios como edema pulmonar atípico, contusão pulmonar, hemorragia alveolar, pneumonite de hipersensibilidade, SARA e embolia pulmonar. Nos pacientes submetidos à ventilação mecânica com febre e/ou leucocitose, as manifestações clínicas podem ter outras causas, inclusive diarreia associada aos antibióticos, infecção de acesso venoso central, rinossinusite, infecção urinária, pancreatite e febre induzida por fármacos. Os distúrbios que simulam pneumonia são comprovados comumente nos pacientes em que a PAV é excluída por técnicas diagnósticas precisas. A maioria desses diagnósticos alternativos não requer tratamento com antibióticos; requer antibióticos diferentes dos que são usados para tratar PAV; ou necessitam de alguma outra intervenção, inclusive drenagem cirúrgica ou remoção de cateteres para o tratamento ideal. A questão principal é saber se uma abordagem por cultura quantitativa como forma de excluir diagnósticos clínicos falso-positivos seria melhor que a abordagem clínica reforçada pelas diretrizes originadas dos estudos sobre cultura quantitativa. ABORDAGEM DE CULTURAS QUANTITATIVAS É a diferenciação entre colonização e infecção verdadeira por meio da determinação da carga bacteriana. Quando mais distal for o segmento analisado do SR, maior a especificidade dos resultados, e menor limiar de proliferação necessária para diagnosticar e excluir colonização. Um aspirado endotraqueal quantitativo consiste em amostras proximais, e o limiar diagnóstico é de 106 UFC/mL. Por outro lado, o método de escovado protegido para obtenção de espécimes fornece amostras distais, e seu limiar é de 103 UFC/mL. A sensibilidade diminui à medida que são obtidas secreções mais distais, especialmente quando são recolhidas às cegas. Outros exames que podem aumentar a positividade diagnóstica são a coloração de Gram, contagens diferenciais de células, colorações para microrganismos intracelulares e detecção de níveis locais altos de proteínas em resposta à infecção. O ponto fraco da abordagem quantitativa é o efeito do tratamento antibiótico. Com os microrganismos sensíveis, uma única dose de antibiótico pode reduzir as contagens de colônias abaixo do limiar diagnóstico. Por outro lado, contagens de colônias acima do limiar diagnóstico durante o tratamento antibiótico sugerem que os antibióticos usados atualmente sejam ineficazes. Em resumo, a experiência com as técnicas de cultura quantitativa é fundamental, com obtenção dos espécimes logo que se suspeitar de pneumonia e antes de se iniciar ou alterar o tratamento com antibióticos. A utilização das culturas quantitativas por broncoscopia resultou no uso significativamente menor de antibióticos no 14º dia depois da admissão ao estudo e taxas mais baixas de mortalidade geral e mortalidade ajustada pela gravidade em 28 dias. ABORDAGEM CLÍNICA A falta de especificidade do diagnóstico clínico da PAV levou ao aperfeiçoamento dos critérios diagnósticos. O Escore Clínico de Infecção Pulmonar (CPIS) foi desenvolvido com base na análise de vários critérios clínicos utilizados no diagnóstico da PAV. A utilização do CPIS permite a seleção dos pacientes de baixo risco, que podem necessitar apenas de tratamento antibiótico por curto período ou nenhum tratamento. Além disso, alguns estudos demonstraram que a ausência de bactérias nos aspirados endotraqueais corados pelo Gram torna improvável a existência de pneumonia como causa de febre ou infiltrados pulmonares, evitando o sobretratamento inadequado dessa doença. Além disso, a ausência de um patógeno MDR nas culturas do aspirado traqueal elimina a necessidade de cobertura para esses microrganismos, permitindo que a terapia antibiótica seja desescalonada. Como as explicações para a redução da mortalidade pelas culturas quantitativas broncoscópicas são as pressões seletivas reduzidas dos antibióticos (que diminuem o risco de infecção subsequente por patógenos MDR) e a detecção de focos infecciosos alternativos. O elemento fundamental do tratamento antibiótico adequado da PAV é a consideração dos padrões de resistência dos patógenos mais prováveis em cada paciente. RESISTÊNCIA AOS ANTIBIÓTICOS Se não fosse pelo risco de infecção por patógenos MDR a PAV poderia ser tratada com os mesmos antibióticos utilizados nos casos graves de PAC. As pressões seletivas dos antibióticos resultam na participação frequente dos patógenos MDR por seleção de cepas de patógenos comuns resistentes (MRSA, enterobactérias produtoras de β- lactamase, P. aeruginosa e espécies de Acinetobacter). β-lactâmicos: A utilização frequente dos antibióticos β-lactâmicos, principalmente das cefalosporinas, parece ser o fator de risco principal para infecção por MRSA ou cepas positivas para β- lactamase de amplo espectro. P. aeruginosa: A P. aeruginosa mostrou ser capaz de desenvolver resistência a todos os antibióticos utilizados rotineiramente. Infelizmente, mesmo que de início sejam sensíveis, as cepas isoladas de P. aeruginosa também mostram propensão a desenvolver resistência durante o tratamento. Espécies de Acinetobacter, Stenotrophomonas maltophilia e Burkholderia cepacia são intrinsecamente resistentes a alguns dos esquemas antibióticos empíricos utilizados. A PAV causada por esses patógenos surge durante o tratamento de outras infecções e a resistência sempre é evidenciada por ocasião do diagnóstico inicial. TERAPIA EMPÍRICA O tratamento deve ser iniciado logo depois da obtenção dos espécimes diagnósticos. O fator principal na escolha dos fármacos é a existência de fatores de risco para patógenos MDR. As escolhas depende dos padrões locais de resistência e – um fator muito importante – da exposição pregressa do paciente aos antibióticos. A maioria dos pacientes sem fatores de risco para infecção por patógenos MDR pode ser tratada com um único antibiótico, porém a proporção desses pacientes é de < 10% em algumas UTIs. A diferença principal entre a PAC e a PAV é a incidência acentuadamente menor de patógenos atípicos neste último grupo; as espécies de Legionella são exceções, porque podem ser patógenos nosocomiais, principalmente quando há problemas de tratamento do suprimento de água potável do hospital. Para os pacientes com fatores de risco para infecção por patógenos MDR consiste em três antibióticos: dois direcionados para P. aeruginosa e um para MRSA. A escolha de um antibiótico β-lactâmico fornece a melhor cobertura, mas a utilização de um fármaco de espectro mais amplo – um carbapenêmico – ainda não é suficiente como tratamento inicial para 10-15% dos casos. TRATAMENTO ESPECÍFICO Quando o diagnóstico etiológico é conhecido, o tratamento empírico de espectro amplo pode ser modificado para tratar especificamente o agente patogênico identificado. Para pacientes com fatores de risco para MDR, os regimes antibióticos podem serreduzidos a um único agente na maioria dos casos. Apenas uma minoria dos pacientes precisa concluir o tratamento com dois ou três antibióticos. A identificação de outros focos infecciosos suspeitos ou confirmados pode exigir a manutenção do tratamento antibiótico. Se o CPIS diminuir nos primeiros 3 dias, os antibióticos devem ser interrompidos ao final de 8 dias. O curso de tratamento por 8 dias é tão eficaz quanto o de 2 semanas e está associado ao desenvolvimento menos frequente de cepas resistentes aos antibióticos. A controvérsia principal em torno do tratamento específico da PAV refere-se à necessidade de manter o tratamento combinado para pneumonias por Pseudomonas. Os índices inaceitavelmente altos de falência clínica e morte por PAV causada por P. aeruginosa, apesar do tratamento combinado, indicam a necessidade de utilizar esquemas mais eficazes – incluindo talvez antibióticos administrados por aerossol. A PAV causada por MRSA está associada ao índice de falência clínica de 40% quando os pacientes são tratados com vancomicina nas doses convencionais. Uma das soluções propostas é administrar tratamento com um único fármaco em doses altas, embora o risco de toxicidade renal aumente com essa abordagem. Além disso, a CIM da vancomicina tem aumentado e uma porcentagem alta das falências clínicas ocorre quando a CIM está na faixa superior de sensibilidade. A linezolida é 15% mais eficaz até que a vancomicina em doses ajustadas e é o antibiótico preferido para insuficiência renal e pacientes infectados por MRSA com CIM alta. INEXISTÊNCIA DE MELHORA as falhas terapêuticas são comuns, especialmente quando infecção causada por patógenos MDR. PAV causada por MRSA está associada ao índice de falência clínica de 40% quando os pacientes são tratados com vancomicina nas doses convencionais. A linezolida parece ser 15% mais eficaz até mesmo que a vancomicina em doses ajustadas e é claramente o antibiótico preferido para pacientes com insuficiência renal e indivíduos infectados por MRSA com CIM alta. A PAV causada por Pseudomonas tem taxa de falha de 40 a 50%, independentemente do esquema utilizado. As causas do insucesso clínico variam conforme o(s) patógeno(s) e o(s) antibiótico(s). Em geral, o tratamento inicial inadequado pode ser minimizado pela utilização do esquema combinado recomendado. A falha terapêutica é muito difícil de diagnosticar precocemente na evolução terapêutica, e a diferenciação entre as várias causas potenciais é difícil. COMPLICAÇÕES além das mortes, prolongamento da ventilação mecânica com aumentos de permanência na UTI e no hospital. Em casos raros, a pneumonia necrosante causa hemorragia pulmonar significativa. As infecções necrosantes causam complicações delongo prazo como bronquiectasia e sequelas parenquimatosas com pneumonias recidivantes. A pneumonia provoca um estado catabólico nos pacientes que já se encontram sob risco nutricional. A perda muscular e a debilitação geral associadas a um episódio de PAV frequentemente exigem reabilitação prolongada. ACOMPANHAMENTO a melhora clínica é evidenciada nas primeiras 48- 72 horas depois de iniciar o tratamento. As alterações radiográficas pioram no início do tratamento, por isso não são uteis quanto os critérios clínicos para indicadores de resposta clínica. Associada com taxas gerais de mortalidade de até 50 a 70%, mas o problema real é a mortalidade atribuível. Muitos pacientes com PAV têm doenças coexistentes que poderiam levar à morte, mesmo que não desenvolvessem esse tipo de pneumonia. Parte da variação dos índices de mortalidade da PAV está claramente relacionada com o tipo de paciente e a UTI estudada. Nos pacientes com traumatismos, a PAV não está associada à mortalidade atribuível, possivelmente porque muitos desses indivíduos estavam saudáveis antes de sofrer a lesão. O agente etiológico também desempenha um papel significativo (S. maltophilia em sistema imune muito deprimido e morte inevitável). Evitar intubação endotraqueal ou pelo menos abreviar sua duração. As estratégias que abreviam a duração da respiração artificial por suspensão diária da sedação e protocolos formais de desmame também têm sido altamente efetivas como profilaxia para PAV. A sedação profunda contínua aumenta o risco de PAV, mas a autoextubação possibilitada pela sedação insuficiente também é perigosa. O conflito de decisão também se aplica ao tratamento antibiótico. A profilaxia antibiótica de curto prazo pode reduzir o risco de PAV dos pacientes comatosos que necessitam de intubação e alguns dados sugerem que os antibióticos reduzem a incidência dessa complicação em geral. Entretanto, o efeito benéfico mais expressivo parece ser a redução da incidência da PAV de início precoce, que geralmente é causada por microrganismos não MDR menos patogênicos. A redução da microaspiração ao redor do balonete do tubo endotraqueal também é uma estratégia para evitar PAV. A simples elevação da cabeceira do leito (no mínimo a 30 graus acima da linha horizontal, mas de preferência a 45) reduz a incidência da PAV. Embora tenha sido muito menos estudada que a PAV, a PAH dos pacientes não intubados – dentro e fora da UTI – é semelhante à PAV. As diferenças principais são as frequências mais altas dos patógenos não MDR e as condições de imunidade geralmente melhores dos pacientes não intubados. Os únicos patógenos que podem ser mais comuns na população sem PAV são os anaeróbios. Embora sejam mais comuns em pacientes com PAH, os anaeróbios geralmente contribuem apenas para as pneumonias polimicrobianas. Assim como ocorre com o tratamento da PAC, o tratamento específico para anaeróbios provavelmente não seja necessário, porque muitos dos antibióticos recomendados são ativos contra anaeróbios. O diagnóstico da PAH é ainda mais difícil que o da PAV. As amostras das vias aéreas inferiores apropriadas para cultura são muito mais difíceis de obter dos pacientes que não estão intubados. Algumas das doenças subjacentes que predispõem o paciente à PAH também estão associadas à incapacidade de tossir adequadamente. Como as hemoculturas dificilmente são positivas (< 15% dos casos), a maioria dos pacientes com PAH não tem resultados de cultura nos quais se possam basear as modificações do tratamento antibiótico. ADQUIRIDA NO HOSPITAL Pneumocitys (Pneumonicystis jirovecii) é um patógeno oportunista (fungo) que causa pneumonia em pessoas imunocomprometidas, principalmente nos pacientes com HIV, em transplantes de órgãos ou doenças malignas hematológicas e naqueles que recebem altas doses de glicocorticoides ou determinados anticorpos monoclonais imunossupressores. O PATÓGENO O gênero Pneumocystis reúne algumas espécies de fungos que são específicos para cada ser, de forma que a espécie que infecta os ratos (P. carinii) não consiga infectar os humanos (P. jirovecii). OBS: Os estudos sobre Pneumocystis são difíceis de serem realizados porque o fungo não sobrevive em nenhum meio de cultura por um período prolongado, fazendo com que o ciclo de vida seja desconhecido. A incidência aumentou drasticamente nos anos 80, onde a PCP em adultos previamente saudáveis marcou o início da epidemia de HIV/AIDS pelo mundo. Mesmo que sua incidência tenha diminuído com a introdução da profilaxia anti- Pneumocystis e TARV combinada, a PPC continuou sendo a principal causa de morbidade associada à AIDS nos EUA e na Europa Ocidental. Também se desenvolve em pacientes com imunocomprometimento secundário a neoplasias hematológicas ou malignas, transplante de células tronco ou órgãos sólidos e tratamento com imunossupressores. A PPC está sendo cada vez mais relatada entre os indivíduos que recebem o inibidordo fator de necrose tumoral alfa e anticorpos antilinfocitários monoclonais para doenças reumatológicas. O pneumocystis tem uma distribuição mundial, sendo transmitido pela via respiratória. Não há evidência de que a água ou fômites desempenhem um papel na transmissão. A infecção por Pneumocystis provavelmente é adquirida de seres humanos aparentemente saudáveis (assintomáticos). Embora ocorra uma infecção generalizada, em hospedeiros imunocompetentes o fungo parece não causar uma doença significativa, visto que os sintomas clínicos ocorram exclusivamente em pacientes com níveis graves de imunodeficiência. POPULAÇÃO DE RISCO ● Pacientes com imunodeficiência congênita; ● Pacientes com imunodeficiência combinada grave (SCID); ● Pacientes com síndrome de hiper-IgM; ● Pacientes com infecção por HIV; ● Pacientes com Linfoma associado ao vírus linfotrópico T humano tipo 1; ● Pacientes submetidos a quimioterapia; ● Pacientes de transplante que usam drogas imunossupressora; ● Pacientes que fazem tratamento prolongado de drogas que causam imunossupressão. Entre os pacientes com infecção pelo HIV, o melhor preditor do risco de desenvolvimento de PCP é a contagem de CD4: Pacientes com a contagem de TCD4 menor que 200 células/mm³ estão em risco de contaminação, especialmente se a contagem for menor que 100 células/mm³, que estão em maior risco (quanto menor a contagem de células, maior o risco). OBS: Pacientes que têm histórico de PCP prévio ou que tem febre inexplicada, perda de peso, ou candidíase oral também estão em maior risco. O ciclo de vida do patógeno envolve uma fase de reprodução sexuada e outra assexuada, e o POR PNEUMOCYSTIS microrganismo existe como forma trófica, um cisto e um pré-cisto em vários estágios. Observa-se que a transmissão pode ser de fontes ambientais, de indivíduo para indivíduo e pode ocorrer transmissão nosocomial. Não pode ocorrer transmissão de animais para indivíduos, pois o patógeno é espécie-específico, logo espécies que invadem animais não invadem humanos. IMUNIDADE Defeitos na imunidade celular e/ou humoral predispõem ao desenvolvimento de PPC. Podem ser defeitos congênitos ou adquiridos como resultado de infecção por HIV ou de tratamento com imunossupressores (glicocorticoides, fludarabina, temozolomida, tensirolimo, ciclosfamida, rituximabe ou alentuzumabe). As células T CD4+ são essenciais na defesa do hospedeiro contra o fungo, e quanto menor a contagem dessas células em pessoas com HIV, maior a incidência da PPC. A carga viral do HIV é outro fator que predispõe os pacientes á PPC. PATOLOGIA PULMONAR O fungo tem um tropismo único pelo pulmão, sendo inalado até o alvéolo, e a pneumonia clínica aparece apenas se o indivíduo for imunocomprometido. O patógeno se prolifera no pulmão, provocando resposta celular mononuclear, fazendo com que os alvéolos sejam preenchidos com material proteináceo e o dano alveolar resulta em aumento de lesão alveolar-capilar e anormalidades de surfactante. Tem-se exsudatos alveolares esponjosos, vacuolados, preenchidos de microrganismos viáveis e não viáveis. Pode ocorrer edema intersticial e fibrose. Em seres humanos não imunossuprimidos, nenhuma síndrome clínica bem-definida está associada a infecção por Pneumocystis. A pneumonia é a principal manifestação clínica em pacientes imunossuprimidos. Pode se apresentar como pneumonia aguda ou subaguda que inicia com uma vaga sensação de dispneia isolada, mas depois manifesta-se como febre e tosse não produtiva, com falta de ar progressiva, terminando em insuficiência respiratória e morte. Pacientes com HIV podem apresentar outras manifestações de imunodeficiência, como perda de peso e candidíase. OBS: Em pacientes sem aids, os corticosteroides são um fator de risco comum quando estão sendo reduzidos, pois passam a desmascarar uma resposta inflamatória à infecção quando a imunossupressão é diminuída. No exame físico, os achados de PPC não são específicos. Observa-se diminuição da saturação de oxigênio, em repouso ou com esforço, que pode progredir para hipoxemia grave caso não tratada. Podem inicialmente apresentar um exame de tórax normal e sem ruídos adventícios, mas depois desenvolvem estertores difusos e sinais de consolidação. ACHADOS LABORATORIAIS Os resultados não são específicos. Os níveis séricos de lactato desidrogenase (LDH) estão elevados pelo dano pulmonar, porém um nível normal não descarta PPC. As contagens de leucócitos periféricos podem estar elevadas em relação aos valores basais do paciente. ACHADOS RADIOGRÁFICOS A aparência radiográfica da PPC sintomática consiste em infiltrados intersticiais bilaterais difusos que são peri-hilares e simétricos. Os infiltrados podem avançar para preenchimento alveolar. A Tomografia computadorizada torácica mostra opacidades em vidro fosco difusas em todos os pacientes. Os cistos e pneumotórax são achados comuns na radiografia de tórax, especialmente em pessoas com HIV. Existe uma grande variedade de achados radiográficos, como padrões assimétricos, infiltrados no lobo superior, adenopatia mediastinal, nódulos, cavidades e efusões. A amostra ideal para o exame diagnóstico depende do quão doente o paciente está. É estabelecido no tecido pulmonar ou em secreções pulmonares por coloração altamente específica do cisto (prata-metenamina, azul de toluidina O ou Giemsa) ou pela coloração com um anticorpo imunofluorescente específico. A demonstração de microrganismos no líquido de lavado broncoalveolar é quase 100% sensível e específica para PPC em pacientes com infecção por HIV e é quase tão sensível em pacientes com imunossupressão de outras etiologias. Embora o escarro expectorado ou swabs da garganta tenham uma sensibilidade extremamente baixa, uma amostra de escarro induzida obtida e interpretada por um profissional experiente pode ser altamente sensível e específica. Os PCR são tão sensíveis que é difícil distinguir os pacientes com colonização (aqueles cuja doença pulmonar aguda é devida a algum outro processo, mas que apresentam níveis baixos de DNA de Pneumocystis nos pulmões) daqueles com pneumonia aguda devido ao Pneumocystis. Sem tratamento, a PPC é fatal. Os pacientes com HIV apresentam curso indolente que se apresenta como intolerância ao exercício moderado ou pressão no peito sem febre ou tosse e uma radiografia torácica PA quase normal, com progressão ao passar de dias/semanas/meses para febre, tosse, infiltrados alveolares difusos e hipoxemia profunda. A maioria dos pacientes com outros tipos de imunossupressão apresentam doença mais aguda que avança em alguns dias para insuficiência respiratória. Os fatores que influenciam o risco de mortalidade incluem a idade do paciente e o grau de imunossupressão e comorbidades, bem como a presença de doença pulmonar preexistente, um nível de albumina sérico baixo, a necessidade de ventilação mecânica e o desenvolvimento de pneumotórax. Os pacientes geralmente não respondem a terapia por 4-8 dias, logo um cuidado de apoio de no mínimo 10 dias é sugerido. Os pacientes cuja condição continue a piorar após 3-4 dias ou não melhorou após 7-10 dias devem ser reavaliados. FATORES DE RISCO ● idade do paciente; ● grau de imunossupressão; ● comorbidades; ● presença de doença pulmonar preexistente; ● nível de albumina sérico baixo; ● necessidade de ventilação mecânica; ● desenvolvimento de pneumotórax. O tratamento de escolha principal é o sulfametoxazol-trimetoprima (SMX-TMP - bactrim) administrado IV ou VO por 14 dias em pacientes não infectados por HIV com doença leve e por 21 dias para todos os outros pacientes. Esse fármaco interfere no metabolismo de folato no organismo, e pode causar leucopenia,hepatite, exantema e febre, bem como reações anafiláticas e anafilactoides, e os pacientes com HIV apresentam incidência alta de hipersensibilidade ao SMX-TMP. Mutações no genealvo para sulfametoxazol que conferem resistência á sulfa in vitro a outros organismos foram encontrados no Pneumocystis. O uso de sulfadiazina mais pirimetamina, um esquema oral usado para toxoplasmose, também é efetivo. Dapsona mais pirimetamina ou dapsona mais Trimetoprima também podem ser usadas. A pentamidina IV ou a combinação de clindamicina mais primaquina (oral) é uma opção para os que não toleram SMX-TMP ou quando esse fármaco não esta fazendo efeito. Esse fármaco alternativo deve ser administrado via IV durante 60 minutos para evitar hipotensão fatal. Pode incluir efeitos adversos como disfunção renal, disglicemia, neutropenia e taquicardia ventricular tipo torsades des pointes. A atovaquona oral também e opção em pacientes com doença leve sem impedimento para a absorção do fármaco. O uso de glicocorticoides pode melhorar a taxa de sobrevida nos pacientes com HIV com doença moderada a grave. Eles parecem reduzir a inflamação pulmonar que ocorre depois do tratamento específico iniciado e os microrganismos começam a morrer, provocando inflamação. Se os pacientes infectados por HIV ou não infectados por HIV estiverem recebendo altas doses de glicocorticoides quando eles desenvolvem PPC, existem vantagens teóricas em aumentar a dose de esteroide (para reduzir a resposta inflamatória aos microrganismos que estão morrendo) ou diminuir a dose de esteroides (para melhorar a função imunológica). É eliminar a causa da imunossupressão retirando a terapia imunossupressora ou tratando a causa subjacente. Os pacientes suscetíveis á PPC se beneficiam da quimioprolaxia durante o período de suscetibilidade. Para pacientes com HIV, contagens inferiores a 200 células/yL de T CD4+ são uma indicação para iniciar a profilaxia. Os pacientes que recebem um curso prolongado de glicocorticoides de alta dosagem parecem estar particularmente suscetíveis à PPC. quimioprofilaxia é útil para pacientes que recebem determinados agentes imunossupressores (p. ex., inibidores do fator de necrose tumoral, globulina antitimócitos, rituximabe e alentuzumabe). O SMX-TMP é o fármaco profilático mais efetivo: poucos pacientes sofrem um surto de PPC quando estão confiavelmente recebendo um esquema quimioprofilático de SMX-TMP recomendado. Vários esquemas de SMX-TMP têm sido empregados com sucesso. Fármacos alternativos incluem dapsona diária, dapsona-pirimetamina semanal, atovaquona e aerossol de pentamidina mensal. Os pacientes que desenvolvem hipersensibilidade ao SMX-TMP podem, ocasionalmente, tolerar o fármaco se um protocolo de dose escalonada for empregado.
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