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FÍSICA GERAL II Maringá 2009 FÍSICA GERAL II EdItoRA dA UnIvERSIdAdE EStAdUAL dE MARInGá Reitor Prof. Dr. Décio Sperandio Vice-Reitor Prof. Dr. Mário Luiz Neves de Azevedo Diretor da Eduem Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado Editor-Chefe da Eduem Prof. Dr. Alessandro de Lucca e Braccini ConSELho EdItoRIAL Presidente Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado Editor Associado Prof. Dr. Ulysses Cecato Vice-Editor Associado Prof. Dr. Luiz Antonio de Souza Editores Científicos Prof. Adson C. Bozzi Ramatis Lima Profa. Dra. Ana Lúcia Rodrigues Profa. Dra. Analete Regina Schelbauer Prof. Dr. Antonio Ozai da Silva Prof. Dr. Clóves Cabreira Jobim Profa. Dra. Eliane Aparecida Sanches Tonolli Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik Prof. Dr. Eliezer Rodrigues de Souto Profa. Dra. Ismara Eliane Vidal de Souza Tasso Prof. Dr. Evaristo Atêncio Paredes Prof. Dr. João Fábio Bertonha Profa. Dra. Larissa Michelle Lara Profa. Dra. Luzia Marta Bellini Profa. Dra. Maria Suely Pagliarini Profa. Dra. Maria Cristina Gomes Machado Prof. Dr. Manoel Messias Alves da Silva Prof. Dr. Oswaldo Curty da Motta Lima Prof. Dr. Raymundo de Lima Prof. Dr. Reginaldo Benedito Dias Prof. Dr. Ronald José Barth Pinto Profa. Dra. Rosilda das Neves Alves Profa. Dra. Terezinha Oliveira Prof. Dr. Valdeni Soliani Franco Profa. Dra. Valéria Soares de Assis EqUIpE téCnICA Projeto Gráfico e Design Marcos Kazuyoshi Sassaka Fluxo Editorial Edneire Franciscon Jacob Mônica Tanamati Hundzinski Vania Cristina Scomparin Edilson Damasio Artes Gráficas Luciano Wilian da Silva Marcos Roberto Andreussi Marketing Marcos Cipriano da Silva Comercialização Norberto Pereira da Silva Paulo Bento da Silva Solange Marly Oshima Maringá 2009 FoRmAção dE PRoFESSoRES Em FÍSICA - EAd FÍSICA GERAL II Cesar Canesin Colucci João Mura Maurício Antonio Custódio de Melo 5 Copyright © 2009 para o autor 1ª reimpressão 2010 revisada Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos reservados desta edição 2009 para Eduem. Endereço para correspondência: Eduem - Editora da Universidade Estadual de Maringá Av. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Campus Universitário 87020-900 - Maringá - Paraná Fone: (0xx44) 3261-4103 / Fax: (0xx44) 3261-1392 http://www.eduem.uem.br / eduem@uem.br Coleção Formação de professores em Física - EAd Apoio técnico: Rosane Gomes Carpanese Normalização e catalogação: Ivani Baptista - CRB 9/331 Revisão Gramatical: Josie Agatha Parrilha da Silva Edição e Produção Editorial: Carlos Alexandre Venancio Diagramação: Renato William Tavares Capas: Arlindo Antonio Savi Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Melo, Maurício Antonio Custódio de Física geral II. / Mauricio Antonio de Melo; João Mura; Cesar C. Colucci. -- Maringá : Eduem, 2009. 153. il. (Formação de professores em Física – EAD; v.5) ISBN: 978-85-7628-200-6 1. Física. 2. Gravitação. 3. Termodinâmica. I. Colucci, Cesar C. II. Melo, Maurício Antonio Custódio de, III. Mura João CDD 21. ed. 530 M528f 3 Sobre os autores ................................................................................... 5 Apresentação da coleção ..................................................................... 7 Apresentação do livro ........................................................................... 9 1 Gravitação .............................................................................................11 2 Equilíbrio Estático ................................................................................ 35 3 Fluidos ................................................................................................. 47 4 oscilações ............................................................................................61 5 ondas Mecânicas ............................................................................... 79 6 temperatura e Calor ........................................................................... 95 7 primeira Lei da termodinâmica ......................................................... 113 8 Segunda Lei da termodinâmica ........................................................133 9 Referências ........................................................................................153 umárioS FÍSICA GERAL II 4 5 CESAR CANESIN COLUCCI Bacharel em Física pela Universidade Estadual de Campinas. Obteve seu mestrado (1978) sobre supercondutividade e seu doutorado (1993) trabalhando com materiais magnéticos pela mesma Universidade. Em 1993 foi pesquisador visitante no Max Plank Institut (Stuttgart-Alemanha). Desde 1983 é professor do Departamento de Física da Universidade Estadual de Maringá e atualmente ocupa o cargo de Professor Associado. JOÃO MURA Possui graduação em Física (Licenciatura e Bacharelado) pela Universidade Estadual de Campinas (1975) e graduação em Direito pela Universidade Estadual de Maringá (1983). O professor Mura obteve sua especialização em Ensino de Física Experimental (1979), mestrado (2000) e doutorado em Física (2005) pela Universidade Estadual de Maringá. Desde 1976 é professor do Departamento de Física da Universidade Estadual de Maringá. Atualmente ocupa o cargo de Professor Associado. MAURÍCIO ANTONIO CUSTÓDIO DE MELO Licenciado em Física pela Universidade Estadual de Maringá (1987), mestrado em Físico-Química pela Universidade Federal de Santa Catarina (1990), doutorado em Ciências Naturais – Física pela Technische Universität Braunschweig na Alemanha (1995) e realizou um pós-doutorado no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (1995-1997). Professor da Universidade Estadual de Maringá desde 1997, sendo atualmente Professor Associado. obre os autoresS 7 A coleção Formação de Professores – EAD – Física inicia-se com a aprovação do Curso de Educação à Distância em Física (Licenciatura) pela Secretaria de Educação a Distância (SEED) do Ministério da Educação (MEC). O curso terá a mesma carga horária, disciplinas e ementas do curso presencial da Licenciatura em Física da Univer- sidade Estadual de Maringá. O grande desafi o do EAD-Física, além do curso em si, é a oportunidade que ele oferece não somente aos alunos, mas, sobretudo, ao corpo docente que lhe dá sus- tentação. Esse corpo docente terá a hercúlea tarefa de, ao fi nal dos quatro anos de integralização do curso, escrever mais de trinta livros a serem ofertados gratuitamente para o corpo discente. Essa primeira edição, já o reconhecemos, conterá falhas, mas serão aquelas típicas de uma atividade pioneira, baseada numa vontade inequívoca de acertar, de propor- cionar um material didático inédito nascido da prática docente de cada um dos autores e organizadores das obras editadas. A tiragem da primeira edição será bastante modesta, contemplando tão somente o número de discentes e docentes inscritos no programa. Em 2008, oito obras serão editadas, uma para cada disciplina do curso. E assim em todos os anos sucessivos até a integralização do curso em fi nal de 2011. A princípio serão impressos cerca de 200 exemplares de cada título, uma vez que os livros serão utilizados como material didático para os alunos matriculados no Curso de Física, Modalidade de Educação à Distância, ofertado pela Universidade Estadual de Maringá, no âmbito do Sistema UAB. Cada livro traz uma vivência dos docentes que ajudaram na sua organização, sinte- tizando e buscando potencializar os conteúdos que permeiam cada disciplina. Buscam um processo de refl exão, instigação histórica da ciência e um manuseio dos instru- mentos que defi niram a física e a matemática que subjazem aos fenômenos físicos que lhe deram origem. presentação da ColeçãoA FÍSICA GERAL II 8 Com esse intuito, a presentecoleção construiu-se a partir do esforço de uma ab- negada parcela de docentes do Departamento de Física (e, também, de Matemática, Química, Educação e Informática) da Universidade Estadual de Maringá (UEM), e de professores convidados, que buscam a superação da inércia educacional que produ- ziu, em muitas décadas, uma quantidade irrisória de licenciados em Física no país. Agradecemos a todos os colegas da UEM e demais IES, além da administração cen- tral da UEM, que, por meio da atuação direta da Reitoria e de diversas Pró-Reitorias, não mediu esforços para que os trabalhos pudessem ser desenvolvidos da melhor maneira possível. De modo bastante específi co, destacamos aqui o esforço da Reitoria para que os recursos para o fi nanciamento desta coleção pudessem ser liberados de acordo com os trâmites burocráticos e os prazos exíguos estabelecidos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). No que se refere ao Ministério da Educação, ressaltamos o esforço empreendido pela Diretoria da Educação a Distância (DED) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES) e pela Secretaria de Educação de Educação a Distância (SEED/MEC), que em parceria com as Instituições de Ensino Superior (IES) conseguiram romper barreiras temporais e espaciais para que os convênios para libe- ração dos recursos fossem assinados e encaminhados aos órgãos competentes para aprovação, tendo em vista a ação direta e efi ciente de um número muito pequeno de pessoas que integram a Coordenação Geral de Supervisão e Fomento e a Coordenação Geral de Articulação. Esperamos que essa primeira edição da Coleção Formação de Professores – EAD - Física possa contribuir para a formação dos alunos matriculados no curso de Física (mesmo aquele presencial), bem como de outros cursos superiores à distância de to- das as instituições públicas de ensino superior que integram e possam integrar em um futuro próximo o Sistema UAB. Marcos Cesar Danhoni Neves Organizador da Coleção 9 A Física abrange o pequeno e o grande, o velho e o novo. Do movimento de elé- trons até a orbita dos planetas. Do estudo da termodinâmica até oscilações de um ins- trumento musical. Este livro didático de Física Geral II tem como objetivo ampliar um pouco mais o elenco de aplicações dos conceitos básicos da mecânica e abrir novas fronteiras de conhecimento. O capítulo 1 apresenta discussão básica sobre gravitação, onde os conceitos de força, energia potencial e conservação do momento angular são essenciais. Aqui é apresentado a vocês, pela primeira vez, o conceito de campo. No ca- pítulo 2 juntamos aos conceitos de força e torque para entender o estado de equilíbrio de sistemas mecânicos, chamado simplesmente de estática. Para o estudo dos fl uidos no capitulo 3, alguns novos conhecimentos serão estudados utilizando os conceitos de força e energia. Nos capítulos 4 e 5 estudaremos oscilações e ondas mecânicas. Além de revermos alguns conhecimentos básicos de mecânica, este estudo será a base para entendermos futuramente, por exemplo, as ondas eletromagnéticas e circuitos de corrente alternada. Uma introdução ao estudo da termodinâmica é apresentada nos capítulos 6, 7 e 8, onde veremos limitações do uso dos conceitos básicos da mecânica para descrever fenômenos que envolvam calor. Ao fi nal do livro espera-se que a sua visão seja ampliada e que você aprenda uma série de novos conhecimentos importan- tes na física, e, também, possa correlacioná-los com os já anteriormente aprendidos. Cada capítulo tem uma série de exemplos, que têm o intuito de desvendar a você a aplicação dos conhecimentos estudados. Eles fazem parte integrante do texto, por- tanto devem ser refeitos e entendidos. Ao fi nal de cada capítulo agrupa-se um conjunto de problemas. Não optamos por uma quantidade excessiva, mas foram escolhidos de tal forma a conduzi-lo a expe- riência dirigida de compreensão e fi xação dos conhecimentos. Você, aluno, tem como tarefa fazer os problemas. A compreensão e fi xação têm maior sucesso quando cada um enfrenta a tarefa proposta. Os autores dedicam esta obra à memória da Professora Doutora Marlete Aparecida Zamprônio. A ela, nosso tributo de reconhecimento pelo esforço, dedicação e, prin- cipalmente, amizade demonstrada por ela em nossos anos de trabalho e convivência mútua. presentação do livroA FÍSICA GERAL II 10 11 Gravitação1 1.1 Um pouco de história - Mundo ocidental 1.2 Leis de Kepler 1.2.1 primeira Lei de Kepler 1.2.2 Segunda Lei de Kepler 1.2.3 terceira Lei de Kepler 1.3 Lei da Gravitação Universal de newton 1.4 o Campo Gravitacional 1.5 Corpos em Órbita Circular - Satélites 1.6 Energia potencial Gravitacional FÍSICA GERAL II 12 1 GRAVITAÇÃO 1.1 Um Pouco de História – Mundo Ocidental Este capítulo está relacionado ao movimento de rotação de partículas ou corpos, em torno de um ponto fi xo, de um sistema de referência inercial. Está vinculado à mecânica de rotação dos corpos quando submetidos à ação de uma força central, principalmente, a força gravitacional, que é uma das propriedades da matéria. O movimento das estrelas, da Lua e do Sol pode ter uma explicação relativamente simples, considerando a rotação da Terra em torno de seu eixo, mas apresenta difi culdades quando analisamos o problema em sua plenitude, de forma quantitativa, levando em consideração as forças que os interligam. Nossos ancestrais, muito provavelmente, ao presenciarem certos fenômenos que aconteciam à sua volta, devem ter sentido medo e curiosidade, misturando perplexidade com admiração. Os dias e as noites, o Sol, a Lua e as estrelas, a chuva, os relâmpagos, os trovões e o arco-íris, o calor e o frio, a água, o fogo e o gelo. Todos os eventos eram novidades que se repetiam com certa regularidade, infl uindo diretamente em suas vidas e pareciam estar ligados entre si. Procurar entender esses eventos era vital para a sobrevivência humana. É sob esse clima que o homem evoluiu até nossos dias e muitas de suas indagações ainda continuam sem respostas. Com o passar do tempo, as observações sistemáticas dos fenômenos deram aos homens a possibilidade de fazer uso das mesmas para sua orientação e, a regularidade das ocorrências, permitiu o estabelecimento de calendários e a previsão de eventos. Com tais conhecimentos, ainda que rudimentares, foi possível criar metodologias que possibilitaram o surgimento de uma ciência vinculada às necessidades básicas de sobrevivência. A Astronomia, cujo objetivo, dentre outros, consiste na observação dos astros, estudando seus movimentos, posições e evolução ao longo de períodos pré-estabelecidos, respondia à necessidade de uma ciência causalista e previsora. A Astronomia pré-histórica, atualmente estudada em conjunto por astrônomos e arqueólogos, já acumulava conhecimentos a respeito dos movimentos do Sol, da Lua, das estrelas e de grupamentos estelares. Além disso, observada a regularidade com que o Sol nascia e desaparecia, foi possível estabelecer uma unidade temporal, chamada de dia. Observando as variações que ocorriam na Lua e que, após certo tempo, retornava à mesma situação e posição em relação às estrelas, o homem primitivo pôde estabelecer outra unidade temporal repetitiva, denominada de mês lunar (mês das fases). Também, foi possível estabelecer a duração do ano ( ainda que impreciso quando comparado ao atual) e as estações do ano com suas variações climáticas. O caminhar errante de certas “estrelas” e a existência de estrelas que pareciam estar fi xas no céu, mas que, ao longo de certo período, desapareciam no horizonte de um lado da Terra surgindo no outro lado, instigavam a contagem do intervalo temporal. Muitas outras observações encontram-se registradas em pinturas rupestres nas cavernas, em esculturas e em gravações em blocos de pedras devidamente orientados em relação aoSol nascente. Com a invenção da linguagem escrita (escrita cuneiforme) pelos povos que habitavam a região da Mesopotâmia (atualmente onde encontra-se o Iraque), os registros dos fatos e fenômenos permitiram que o conhecimento acumulado fosse compartilhado com outros povos. Além da observação prática, ao utilizar os conhecimentos matemáticos existentes, os mesopotâmicos estabeleceram um sistema sexagesimal de numeração, dividindo o círculo em 360 graus, cada grau em 60 minutos e cada minuto em 60 segundos. Observando o movimento aparentemente circular do Sol e das estrelas “fi xas”, estabeleceram a duração do período iluminado (dia) e do período escuro (noite) em doze partes iguais (horas). Cada hora foi dividida em 60 minutos e cada minuto em 60 segundos, tal como utilizamos hoje. Determinaram o ano trópico, o período de lunação (mês das 13 Gravitação fases), a inclinação da trajetória anual do Sol por entre as estrelas (eclíptica). Perceberam, ainda, que a velocidade da Lua não era constante ao rotacionar a Terra; previram eclipses lunares (período de Saros); estabeleceram o Zodíaco (faixa em torno da eclíptica onde podem ser encontrados os planetas e as constelações) e a duração da semana, onde cada dia representava um deus-planeta, cujos ciclos de adoração de sete dias, coincidiam com o período de tempo das quatro fases lunares. Desenvolveram e utilizaram equipamentos primitivos, tais como o gnomon, a clepsidra e o pólo, para a compreensão dos fenômenos do céu. Os egípcios desenvolveram, também, uma linguagem escrita (hieróglifos) gravadas em papiro (“primogênito” do nosso papel), onde parte de textos e documentos se perdeu no tempo pela inexorável deteriorização do material utilizado. Estabeleceram um calendário anual baseado nas enchentes e secas do rio Nilo, em cujas margens o império egípcio nasceu e morreu, além de um elaborado calendário lunar. Construíram grandes pirâmides com as faces voltadas para os quatro pontos cardeais. Desenvolveram instrumentos específi cos como o merkhet, uma espécie de gnomon, aperfeiçoaram a clepsidra e construíram um relógio de sol, onde a sombra de um eixo (representando o eixo polar) indicava as horas do dia. A Grécia Antiga deixou um legado importantíssimo para a Ciência Moderna. Utilizando-se dos conhecimentos mesopotâmicos e egípcios anteriores, os gregos desenvolveram a matemática, a astronomia, a poesia e a literatura de forma ímpar. Historicamente, a astronomia grega originou-se com Thales de Mileto (século VI a.C.), cujos discípulos previram a curvatura da Terra e o brilho da Lua como refl exo da luz solar. Pitágoras de Samos admitiu a esfericidade da Terra e contribuiu enormemente com a matemática da época. É lembrado em nossos dias através de sua imortal contribuição, batizada de “Teorema de Pitágoras”. A partir de Pitágoras e seus discípulos, a Astronomia teórica grega teve forte desenvolvimento, principalmente através da construção de modelos para explicar os movimentos dos planetas (estrelas errantes), da Terra, do Sol e da Lua. Aristóteles de Estagira, que viveu no século IV a.C., é considerado um dos maiores sábios da Antiguidade. Discípulo de Platão, outro gigante da cultura grega, afi rmava que nosso universo era fi nito e limitado pela esfera das estrelas fi xas, além da qual nada existiria. Propunha uma estrutura hierarquizada do universo, possuindo cinco elementos primordiais, sendo quatro pertencentes a Terra (terra, água, ar e fogo) e um elemento divino, o éter, que preencheria os céus e seria o símbolo da perfeição. Acreditava nas formas perfeitas dos círculos e esferas e que a Terra estava no centro do Universo, não possuindo movimento de rotação ou de translação (geocentrismo). O pensamento aristotélico, principalmente aquele que dizia ser a Terra o centro do universo, perdurou por quase 2 mil anos, até ser enterrado pela proposição do modelo heliocêntrico. Coube a Aristarco de Samos, que viveu entre os séculos III e II a.C. em Alexandria, no norte do Egito, a proposição de que o Sol seria o centro do universo (heliocentrismo) e não a Terra, propondo, inclusive, que esta deveria ter movimento de rotação em torno de seu eixo polar e translação em torno do Sol. Em decorrência de tais idéias, quase foi declarado ímpio (herege, infi el), uma punição severíssima para a época. Propôs uma metodologia para medir a distância Terra-Sol, utilizando a distância Terra-Lua como unidade. Elaborou, ainda, uma classifi cação das estrelas quanto ao brilho, admitindo que as mesmas encontravam-se a distâncias diferentes em relação à Terra. Propôs, também, o método do eclipse para determinar o tamanho e a distância da Lua. Além de Aristarco, a Escola de Alexandria teve importantes matemáticos e astrônomos, destacando-se Eratóstenes, Hiparco e Ptolomeu. Eratóstenes, além da construção da tábua de números primos (conhecida como “crivo de Eratóstenes”), construiu, também, um sistema de coordenadas geográfi cas. Escreveu vários tratados sobre as posições de estrelas, porém, o trabalho mais importante foi a determinação das dimensões da Terra, pelo método conhecido como FÍSICA GERAL II 14 “poço de Siene”, quando determinou o comprimento da circunferência terrestre, seu raio, superfície e volume. Hiparco de Nicéia, considerado um dos maiores astrônomos da Antiguidade, escreveu vários tratados sobre Astronomia, Geografi a, Matemática e Mecânica, infelizmente, perdidos no tempo, mas lembrado em citações de seus colegas. Inventou o astrolábio, instrumento para a determinação de distâncias angulares, utilizado, inclusive, pelos navegantes do século XV e XVI, descobridores do continente americano. Utilizou a hipótese do movimento circular uniforme para explicar o movimento do Sol, da Lua e dos planetas conhecidos à época. Era defensor das idéias geocêntricas de Aristóteles. Confeccionou um catálogo estelar dando nome às estrelas e estabelecendo suas coordenadas eclípticas. Sistematizou a trigonometria plana e esférica e determinou o ano trópico com grande precisão. Descobriu o movimento de precessão dos equinócios, calculando seu período temporal (cerca de 26 mil anos). Após Hiparco, o último grande astrônomo grego foi Cláudio Ptolomeu, que viveu já na era cristã (século II d.C.). Em seu livro, Almagesto (em árabe, Hi Magisti Sintaxe), difundiu ao mundo as idéias geocêntricas de Aristóteles, criando um modelo complicado de deferentes, epiciclos, excêntricos e equantes, que proporcionou a descrição dos intricados movimentos dos planetas, do Sol e da Lua. Este modelo fi cou conhecido como “modelo geocêntrico de Ptolomeu”, sendo o universo limitado à esfera das estrelas. No modelo ptolomaico, a Terra era o centro do Sistema Solar, de tal forma que todos os planetas conhecidos, inclusive o Sol e a Lua, gravitavam ao seu redor (fi gura 1.1)1. O modelo geocêntrico foi aceito por mais de quinze séculos, infl uindo enormemente na Filosofi a, na Literatura, nas Artes e nas ciências da época. Ptolomeu também descobriu a refração da luz na atmosfera terrestre e o movimento de evecção da Lua (variação da excentricidade da órbita lunar). Após Ptolomeu, a Astronomia não encontra mais sustentação e, praticamente, desaparece dos interesses da época. O pensamento religioso cristão e a falta de interesse sobre o assunto pelo Império Romano, atuaram no sentido de minimizar as idéias científi cas, induzindo ao esquecimento todo trabalho desenvolvido até então. O pensamento grego praticamente desaparece e, somente no século VII d.C., como resultado da invasão da Europa pelos árabes, é que o pensamento grego começa a ser redescoberto. Os árabes iniciam a tradução do conhecimento grego para o árabe e, dessa forma, contribuem para sua conservação e divulgação. A partir do século IX, membros da Igreja Católica começam a traduzir os textos árabes para o latim, principalmente as idéias aristotélicas, que são abraçadas, adotadas e tidas como verdadeiras. O pensamento escolástico,decorrente da fusão do pensamento grego com o cristão, a partir do século XII, propicia o aparecimento de centros de estudos que reuniam os grandes pensadores da época, surgindo, assim, as Universidades. O pensamento aristotélico, ensinado nas Universidades até meados do século XVI, tornou-se o pensamento ofi cial. Porém, o renascimento das idéias, das artes, das ciências foi aos poucos demolindo a conservadora e inquisitorial Idade Média. Em 1543, ano de sua morte, o monge polonês Nicolau Copérnico apresentou uma nova teoria sobre o Universo, resgatando velhas idéias gregas do heliocentrismo de Heráclides e Aristarco. Segundo o modelo de Copérnico, o Universo é constituído por sete esferas concêntricas, sendo a mais externa, a esfera das estrelas, e a mais interna a esfera de Mercúrio. Todas as esferas, exceto aquela das estrelas, giravam em torno de um ponto central, onde se localizava o Sol, daí o modelo ter sido batizado de “modelo Heliocêntrico de Copérnico”. Nota-se, ainda, que o Universo continuava limitado à esfera das estrelas fi xas, porém, afi rmava Copérnico, que a Terra era um planeta e que todos os planetas giravam ao redor do Sol. Coube a Giordano Bruno, defensor ardoroso das idéias humanistas de Platão, divulgar o modelo heliocêntrico, propondo, inclusive, a infi nitude do Universo. A 1 Na verdade, o universo geocêntrico ptolomaico incluía a idéia de uma Terra ligeiramente descentrada (excên- trico). Figura 1.1 - Modelo Ge- ocêntrico de Ptolomeu (simplifi cado). Figura 1.2 - Modelo He- liocêntrico de Copérnico (simplifi cado). Deferente de Marte Lua Terra Mercurio Vênus Sol Marte Epiciclóide de Marte 15 Gravitação defesa destas posições custou-lhe a vida em 1600, quando foi queimado vivo em praça pública por ordem da Santa Inquisição da Igreja Católica. Outro grande astrônomo do Renascimento foi Tycho Brahe (segunda metade do século XVI). Apesar de ter ligações com as idéias aristotélicas, teve o grande mérito de realizar inúmeras observações planetárias e estelares de grande precisão. Utilizando os preciosos dados coletados pelo seu mestre Tycho Brahe, o astrônomo Johannes Kepler (1571-1630), principalmente, ao estudar os movimentos de planeta Marte, descobriu regularidades importantes, levando-o a propor três relações básicas sobre o movimento planetário, posteriormente batizadas por Newton de “leis de Kepler”. Seu contemporâneo de pesquisas, Galileu Galilei (1564-1642), introduziu o uso do telescópio nos estudos astronômicos realizando importantes descobertas com sua luneta refratora. As montanhas e crateras da Lua, os satélites de Júpiter, as manchas solares, as estrelas difusas da Via Láctea, além das visíveis a olho nu, as fases de Vênus, dentre outras, foram as descobertas mais espetaculares da nova astronomia ótica de Galileu. O sábio italiano, ademais, realizou estudos sobre o plano inclinado, o período pendular, o movimento relativo dos corpos e a razão matemática de um corpo em queda livre. Por sua contribuição experimental às ciências, é considerado o pai do método experimental nas ciências físicas. Também sofreu a ira da Inquisição e quase teve o fi m trágico de Giordano Bruno. “Se eu vi mais longe [do que outros] é porque me encontrava em ombros de gigantes”, disse o próprio Isaac Newton (1642-1727), que nasceu no ano em que Galileu morreu. Newton propôs a Lei de força sobre a Gravitação Universal, estabelecendo as bases da Mecânica Celeste. A Lei da Gravitação Universal foi um marco fundamental nos estudos astronômicos, pois conseguia explicar os motivos da atração entre os corpos celestes, estando eles nas vizinhanças da Terra ou nos confi ns do espaço. Newton inventou, também, o cálculo diferencial e integral; propôs a teoria corpuscular da luz; realizou estudos sobre suas cores e seus espectros. Inventou, também, o telescópio refl etor e, para culminar, descobriu as leis da mecânica clássica, batizadas, mais tarde, como as “três leis de Newton”. A Lei da Gravitação Universal de Newton, as três leis de Kepler e outros estudos decorrentes, serão tratados neste capítulo. 1.2 Leis de Kepler A constante controvérsia sobre as teorias geocêntrica e heliocêntrica estimulou os astrônomos a realizarem medidas cada vez mais precisas dos movimentos planetários. Um conjunto de medidas obtidas pelo astrônomo dinamarquês Tycho Brahe, com um grande sextante e uma bússola ao longo de mais de vinte anos de observação planetária e estelar a olho nu, permitiu que seu discípulo, o astrônomo alemão Johannes Kepler, estabelecesse três leis empíricas para o movimento planetário, válidas para todos os planetas do Sistema Solar conhecidos à época (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno). Analisando cuidadosamente os dados sobre o movimento dos planetas, principalmente, do planeta Marte, Kepler percebeu importantes regularidades em seu movimento em torno do Sol se deixasse de trabalhar com órbitas circulares concêntricas. Acabou adotando órbitas elípticas com o Sol ocupando um de seus focos. Percebeu, então, que poderia generalizar seu pensamento para os outros planetas, construindo, assim, as bases da mecânica celeste. Seu modelo continuaria a ser heliocêntrico, mas as órbitas não seriam mais círculos perfeitos como propunham os astrônomos gregos e Nicolau Copérnico. É importante salientar que Kepler não concebia as forças gravitacionais como causa das regularidades observadas por ele, pois o conceito de força, posteriormente formulado por Newton, ainda não estava claro para os astrônomos da época. Kepler acreditava que o que ligava os planetas às suas órbitas ao redor do Sol era uma força de origem magnética. Antes de apresentarmos as Leis de Kepler, é importante ressaltar que o modelo heliocêntrico de Copérnico proporcionou uma troca de referencial importante. No FÍSICA GERAL II 16 modelo geocêntrico de Ptolomeu, a Terra desempenhava o papel de referencial inercial ao descrever o movimento das estrelas e dos planetas conhecidos. No modelo geocêntrico, além da Terra ser classifi cada como um planeta, o referencial inercial passou a ser o Sol, muito mais adequado quando se estuda o movimento planetário. O referencial inercial fi xo no Sol, não girante, tem inúmeras vantagens em relação ao referencial fi xo na Terra e girante. Somente quando tratamos de corpos ou partículas próximos à superfície terrestre é que podemos considerar a Terra como referencial inercial. 1.2.1 Primeira Lei de Kepler Normalmente, ao tratarmos de corpos (ou partículas) que executam órbitas em torno de um ponto central, consideramos as órbitas como circulares. A primeira Lei de Kepler apresenta outra visão das órbitas, não as considerando mais como círculos perfeitos, mas sim, como elipses. A órbita circular é um caso especial da órbita elíptica. A lei das órbitas, como é conhecida a primeira lei de Kepler, diz que “ To d o s o s p l a n e t a s s e m o v e m e m ó r b i t a s e l í p t i c a s , e s t a n d o o S o l e m u m d o s s e u s f o c o s ” . A lei enunciada não explicita a causa do movimento e nem porque a órbita é elíptica. É uma lei empírica que descreve somente o movimento dos planetas em torno do Sol, sem qualquer explicação ou dedução teórica. Coube a Newton, mais de um século depois, deduzir as leis de Kepler a partir das leis gerais do movimento para sistemas mecânicos e da Lei da Gravitação Universal, que é uma lei de força aplicável ao movimento planetário, interagindo à distância. A primeira lei de Kepler é, inclusive, uma consequência direta da lei de força central (força que varia com o inverso do quadrado da distância entre os centros dos corpos envolvidos, para o caso gravitacional). Sua dedução, a partir das leis de movimento e da Lei de Gravitação, não é tão simples, pois depende de equações diferenciais não estudadas até aqui. Figura 1.3 - Órbita elíptica de um planeta, com o Sol ocupando um dos focos. Periélio e Afélio representam, respectivamente,o ponto mais próximo do Sol e o ponto mais distante deste ocupado por um planeta. O ponto da órbita mais próximo do Sol é chamado de periélio e o mais afastado de afélio. Para um corpo circulando a Terra, o ponto mais distante que este ocupa na órbita é chamado de apogeu e o mais próximo, de perigeu. O raio médio da órbita do planeta rmédio é a média aritmética entre as duas distâncias ao centro do Sol (periélio e afélio), ou, o que é equivale dizer que: o raio médio é o valor do semi-eixo maior da elipse, a. a dd rmédio = + = 2 maxmin . De acordo com a fi gura 1.4, a dimensão maior corresponde ao eixo maior da elipse e a dimensão menor corresponde ao eixo menor da elipse. Figura 1.4 - Semi-eixos de uma elipse. Periélio Planeta dmáxdmín Sol F1 F2 Afélio Semi-eixo menor Semi-eixo maior Centro Planeta Sol A B F1 F2 17 Gravitação Calculando a distância que une o foco S até o planeta (foco do Sol até o planeta) e do foco S’ até o planeta (foco vazio até o planeta), veremos que a soma das distâncias será a mesma para todos os pontos sobre a curva (órbita), independentemente de onde o planeta se encontra. O Sol ocupa um dos focos e, no outro, não há nada (foco vazio). Podemos considerar, também, o Sol e os planetas como partículas, pois suas dimensões são muito menores do que a distância entre eles. As órbitas dos planetas não são elipses muito alongadas, como sugerem as fi guras 1.3 e 1.4. Na realidade, as órbitas planetárias são quase circunferências e o elemento geométrico que diferencia uma circunferência de uma elipse é um parâmetro denominado excentricidade, simbolizado pela letra e (fi gura 1.5). A distância de cada foco da elipse até seu centro (cruzamento dos eixos) é igual a ea, sendo e um número adimensional (excentricidade da elipse) com valor positivo entre zero e um (0 ≤ e ≤ 1), e a, o raio médio da órbita (semi-eixo maior rmédio=a ). Quando e = 0, a elipse transforma-se em uma circunferência e, para excentricidades maiores que um, obtém- se parábolas e hipérboles. As órbitas planetárias são aproximadamente circulares, com a excentricidade variando de 0,007 (Vênus) até 0,206 (Mercúrio). A da Terra corresponde a e= 0,017. A maior excentricidade corresponde àquela de Plutão, com e=0,25. Newton demonstrou que, quando uma força proporcional a 1/r2 (força central) atua sobre um corpo (corpo ligado ao centro de força gravitacional), as únicas órbitas fechadas possíveis são as elipses e as circunferências (planetas, asteróides, cometas, luas ligadas aos planetas ou ao sol). Para corpos não ligados, como os meteoróides do espaço longínquo e que passam somente uma vez perto do Sol, ainda continua válida a lei do inverso do quadrado à distância, mas as órbitas possíveis são as parábolas e as hipérboles. 1.2.2 Segunda Lei de Kepler A velocidade que um planeta circula o Sol não é igual em todos os pontos da órbita, sendo maior quando o planeta está mais próximo do Sol (periélio) e menor quando está mais distante (afélio), portanto, a velocidade de translação dos planetas é variável. Do afélio para o periélio, o movimento é acelerado e do periélio para o afélio, o movimento é retardado. A explicação física para tais variações na velocidade do planeta está baseada na força de atração gravitacional que o Sol exerce sobre o planeta. Essa força está sempre dirigida para o centro de massa do Sol (força central). Podemos ver pela fi gura 1.6 que, do afélio para o periélio, a força gravitacional possui uma componente tangencial no sentido da velocidade de translação, “ajudando” o movimento, enquanto que, do periélio para o afélio, a componente da força é contrária à velocidade de translação, retardando o movimento. Figura 1.6 - Componentes da força gravitacional no movimento de translação planetária. Mov imen to acel erad o Movimentoretardado Periélio Afélio F1 F2 Ft2 V2 V1 Ft1 Figura 1.5 - Excentricidade das órbitas. FÍSICA GERAL II 18 Na fi gura 1.7 estão representadas as áreas A1 e A2 varridas pelos vetores- posição do planeta. Os intervalos de tempo são Δt1 e Δt2. Se os intervalos de tempo são iguais, então, as áreas varridas também serão iguais, ou seja, A1 = A2. Tendo descoberto esta relação, Kepler enunciou sua segunda regra (a primeira e segunda lei foram publicadas em 1609, no livro Astronomia Nova), também conhecida como lei das áreas, como sendo: “A reta (raio vetor) que une o Sol a qualquer planeta descreve (varre) áreas iguais em intervalos de tempos iguais.” Devido à excentricidade da órbita, o espaço percorrido (deslocamento escalar) pelo planeta na região do periélio (ΔS1) é maior que o espaço percorrido na região do afélio (ΔS2), ou seja, ΔS1 > ΔS2 (fi gura 1.8). Em termos de velocidade média de translação, podemos dizer que ela é maior na região do periélio do que na do afélio. É possível demonstrar a segunda lei de Kepler através do princípio de conservação do momento angular, considerando o planeta como sistema e supondo que a massa do Sol seja muito maior que a do planeta, de tal forma que o Sol permanece em repouso no centro de força (força central). É importante salientar que a segunda lei de Kepler é válida para qualquer força central, de atração ou de repulsão. Quando é inverno no Hemisfério Norte (janeiro), a Terra está mais próxima do Sol (periélio) do que quando é verão (julho). Para o Hemisfério Sul é o inverso. Em função da órbita da Terra em torno do Sol ser uma elipse ligeiramente achatada, as durações das estações não possuem a mesma quantidade de dias. E se a órbita fosse uma circunferência, como seria a duração das estações? 1.2.3 Terceira Lei de Kepler Aproximadamente 10 anos de dedicação ao estudo pormenorizado das tabelas de Tycho Brahe, Kepler visualizou uma relação entre o período de revolução e o raio médio da órbita dos planetas, que fi cou conhecida como 3ª lei de Kepler. A terceira lei de Kepler, também conhecida como lei dos períodos (ou lei harmônica – derivada da harmonia musical), geralmente é deduzida nos livros textos considerando-se órbitas circulares. A dedução baseia-se nas leis de força de Newton (Lei da gravitação e 2ª lei da Mecânica). O raio da órbita é o raio médio r (semi-eixo maior) e o período de revolução (translação) é o ano sideral do planeta T (TTerra = 1 ano). Com exceção de Mercúrio, Marte e Plutão (que não é mais considerado planeta, atualmente), todos os outros possuem órbitas quase circulares (pouco “achatadas”). Mesmo para órbitas elípticas, a terceira lei de Kepler continua válida. Nestes termos, a terceira lei pode ser enunciada da seguinte forma: “O quadrado do período de translação (T2) de qualquer planeta é proporcional ao cubo do semi-eixo maior da órbita elíptica (r3).” tA rA rD tD ∆t1 A1 rB rC ∆t2 tC tB A2 ∆s1 A1 ∆s2A2 Periélio Afélio Figura 1.7 - Lei das áreas. Figura 1.8 - Deslocamentos escalares e velocidades. QUESTÃO 1.1 Em seu periélio, o planeta Mercúrio está a 4,60 x 107 km do Sol. No seu afélio, encon- tra-se a 6,99 x 107 km, e sua velocidade orbital é de 14,00 x 104 km/h. Qual será sua velocida- de orbital no periélio? Sugestão: Fazer uso do princípio de conserva- ção do momento angu- lar como constante do movimento. 19 Gravitação Matematicamente temos: K r T =3 2 . O valor de K é constante (em torno de 1) para todos os planetas, conforme pode ser visto na tabela 1. Outras tabelas, que colocam o período de revolução em dias ou em segundos e a distância média Terra-Sol (semi-eixo maior da elipse) em metros (m) ou quilômetros (km), dão valores de K diferentes de 1, mas os novos valores obtidos para todos os planetas são sempre os mesmos (constantes). Tabela 1.1 A 3ª lei de Kepler – Dados dos planetas. Note que o período de revolução em torno do Sol e os raios médios de suas órbitas são diferentes para cada planeta, mas o quocientedo quadrado do período pelo cubo do raio médio resulta numa constante aproximadamente igual à unidade. As pequenas diferenças são justifi cadas pelas incertezas nas medidas para os períodos e semi-eixos maiores das órbitas dos planetas. É importante observar que o período de revolução não depende da excentricidade da órbita. Por exemplo, um asteróide movendo-se em uma órbita elíptica achatada (semi-eixo maior r), terá o mesmo período de revolução que um planeta que descreve uma órbita circular com o mesmo raio r. A diferença está nas suas velocidades, pois o asteróide possuirá velocidades variáveis ao longo da órbita elíptica, enquanto o planeta terá velocidade constante (MCU – movimento circular uniforme). As três leis de Kepler são leis universais, ou seja, valem para o nosso sistema solar e também para outros sistemas do Universo onde exista uma grande massa central atraindo massas menores, inclusive para planetas e seus satélites, naturais ou artifi ciais (como a Terra). Vale, inclusive, para grandes estruturas do Cosmos como, por exemplo, a massa de bilhões de estrelas ao redor do centro galático. EXEMPLO 1.1 A distância média do sistema Terra-Sol é de 1,50 x 108 km, e o período de revolução da Terra em torno do Sol é de 1 ano. A distância média do sistema Marte-Sol é de 2,28 x108 km. Qual o período de revolução de Marte ao redor do Sol? Solução: Aplicando a Lei dos períodos, temos: 3 2 3 2 T T M M r T r T = Substituindo os valores dados no problema, e sabendo que 1 ano = 365 dias, fi camos com TM ≈ 682 dias FÍSICA GERAL II 20 1.3 Lei da Gravitação Universal de Newton No ano de 1665, a Inglaterra sofria uma grande epidemia de peste e para escapar da morte certa, Newton refugiou-se na casa de seus pais, na pequena aldeia de Woolsthorpe, pois a Universidade de Cambridge fôra fechada. Naquela época, aos 23 anos de idade, Newton estava preocupado em saber qual a causa que mantinha a Lua girando em torno da Terra. Usando a fórmula da aceleração centrípeta proposta por Huygens, Newton calculou sua aceleração centrípeta, supondo ser a órbita da Lua circular. Realizado o cálculo, fez a si próprio uma pergunta intrigante: qual seria a fonte da força que produz tal aceleração? A indagação a respeito da causa que mantinha a Lua acelerada foi a linha mestra para o pensamento de Newton. Consta na história que Newton, ao observar a queda de uma maçã no pomar, indagou: “será que a força que fez a maçã cair não seria do mesmo tipo daquela que mantém a Lua girando ao redor da Terra?”. Com base nessa indagação, o cientista inglês considerou a hipótese de que cada corpo no universo exerce uma força sobre todos os outros corpos ao seu redor. A aceleração centrípeta da Lua calculada por ele induziu ao pensamento de que a causa da rotação da Lua e da queda da maçã seria a mesma. Deveria haver uma força comum que fosse responsável por tais movimentos. Tal força, denominada de força gravitacional, é o fundamento da lei de atração entre massas, conhecida por Lei da Gravitação Universal de Newton. Em conjunto com as três leis de movimento, Newton publicou, em 1687, a lei da gravitação. Estas leis são os pilares da Mecânica Clássica. A lei da gravitação de Newton pode ser enunciada como: “A força entre duas partículas quaisquer, de massas m1 e m2, separadas por uma distân- cia r entre seus centros, é diretamente proporcional ao produto de suas massas e inver- samente proporcional ao quadrado da distância que as separam”. Matematicamente, o módulo da força gravitacional é dado por 2 21 r mmGFg = . onde G é uma constante universal, calculada experimentalmente pela primeira vez por Lorde Cavendish, em 1798. Atualmente, seu valor é igual a, G = 6,673 x 10-11 Nm2/kg2. EXEMPLO 1.2 Calcule o módulo da força gravitacional entre o Sol e a Terra, sabendo-se que a distância Ter- ra-Sol é de 150 milhões de quilômetros e suas massas são: MS =2 x 10 30 kg e MT = 6 x 10 24 Kg. Solução: Aplicando a Lei da Gravitação Universal de Newton, fi camos com 2 .S T g ST M MF G r = Substituído os valores, temos que Fg = 3,6 x 10 22 N. É uma força atrativa muito grande! Com relação à Lei da Gravitação Universal devemos destacar alguns aspectos fundamentais: 1- A força gravitacional entre duas partículas é atrativa e constitui um par ação- reação (3ª Lei de Newton), agindo ao longo da linha que une seus centros. Assim, as forças possuem o mesmo módulo, mesma direção, mas sentidos opostos. Matematicamente, em termos vetoriais, temos 12 21F F= − Figura 1.9 - Força gravi- tacional entre duas partí- culas. 21 Gravitação 2- A constante universal G não deve ser confundida com a aceleração gravitacional g, provocada pela atração gravitacional da Terra sobre um corpo de massa m. Suas dimensões são diferentes, uma vez que a constante G possui um valor único para todo par de partículas que se atrai em qualquer ponto do Universo e, além disso, é uma grandeza escalar. A aceleração gravitacional g é um vetor, não sendo universal e nem constante, uma vez que depende do ponto onde a partícula (corpo) se encontra em relação à Terra (ou de um planeta qualquer), tomada como referencial inercial. 3- A Lei da Gravitação Universal de Newton é uma lei de força simples, considerada uma força fraca quando comparada às forças elétricas, magnéticas e nucleares, não sendo entendida como uma equação de defi nição de nenhuma das grandezas envolvidas nela (força, massa e comprimento). A lei da gravitação entre partículas relaciona-se somente com as propriedades mensuráveis das partículas envolvidas, implicando na idéia de que a força gravitacional entre elas independe da presença de outras partículas e das propriedades do espaço intermediário. 4- Quando nos referimos aos corpos extensos como, por exemplo, a Terra e o Sol, a lei continua válida, mas devemos considerar cada corpo como composto de inúmeras partículas, calculando as interações (forças) entre elas, par a par, corpo a corpo, através do cálculo integral (também desenvolvido por Newton). Quando se trata de esferas uniformes é possível considerar a idéia do centro de massa para o cálculo da força gravitacional. O que se verifi ca é que o cálculo da interação entre dois corpos que possuem distribuições de massa com simetria esférica (esferas maciças ou ocas) é o mesmo da interação gravitacional entre duas partículas localizadas em seus centros e possuindo suas massas. 5- Quando tratamos a Terra como um corpo esférico de massa MT, a força gravitacional (módulo) que ela exerce sobre uma partícula ou sobre um corpo esférico de massa m, com separação entre seus centros igual a RT, é dada por, 2 T T g R mMGF = . para o corpo ou partícula situado na parte externa da crosta terrestre. Uma força de mesmo módulo, atuando na mesma direção, mas de sentido contrário é feita pelo corpo ou partícula sobre a Terra (lei da ação-reação). Pergunta: Quando você pula de uma escada, porque é você que cai em direção a Terra e não é a Terra que sobe até você? Para pontos situados no interior da Terra (abaixo da superfície externa) o cálculo é diferente. À medida que caminharmos para o interior da Terra ou de qualquer corpo esférico, somente a massa que está abaixo é que exerce força gravitacional sobre nós. As partes que se situam acima do local onde nos encontramos não têm efeito atrativo. Se chegássemos ao centro da Terra, por exemplo, a força gravitacional seria nula. Por quê? Se abríssemos um túnel reto que passasse pelo centro da Terra e saísse do outro lado e soltássemos um corpo de massa m em uma das aberturas do túnel, ele executaria um movimento retilíneo uniformemente acelerado até o centro da Terra (velocidade máxima) e depois seria desacelerado até atin- gir a superfície oposta da Terra (velocidade nula). O corpo executaria um movimento harmônico simples, como se fosse um pêndulo simples, com período constante, desde que desprezadas as forças dissipativas. Figura 1.10 - Forçagravitacional entre corpos com simetria esférica (partículas). R2 Fg Fg R1 m1 m2 r Fg Fg m1 m2 r FÍSICA GERAL II 22 6- A força gravitacional varia com o inverso do quadrado da distância entre o centro dos dois corpos esféricos que se atraem, ou seja, varia com 1/r2. A variação da força F em função da distância d (d=r) pode ser visualizada na fi gura 1.11. Obs.: Dois corpos quaisquer sempre se atraem gravitacionalmente, independentemente do valor de suas massas ou de suas dimensões. Pelo fato da constante G ser muito pequena, a intensidade (módulo) da força atrativa só se torna apreciável se uma das massas for muito grande, como, por exemplo, a Terra. É por esse motivo que duas pessoas próximas não sentem as atrações gravitacionais de uma sobre a outra, mas as forças atrativas existem! Também, deve ser levada em consideração a distância entre os corpos. 1.4 O Campo Gravitacional Na época de Newton, pensava-se a força gravitacional como se fosse uma interação direta entre as massas, conhecida como teoria da ação à distância, posteriormente descartada porque pressupunha que a interação seria instantânea, com velocidade infi nita. O conceito de campo (teoria dos campos) só foi desenvolvido bem depois, por Faraday, para o estudo do eletromagnetismo e, posteriormente, aplicado à gravitação. O conceito de campo leva em consideração que uma partícula de massa M provoca uma alteração no espaço em sua volta, criando um campo gravitacional, que atua sobre qualquer outra partícula que penetra na região, exercendo sobre a segunda uma força gravitacional atrativa. Desse ponto de vista, o campo desempenha o papel de intermediário com respeito às forças entre partículas materiais, ou seja, ele é o “transmissor” das forças gravitacionais entre corpos. O campo gravitacional é um campo vetorial onde, a cada ponto do espaço, podemos associar um vetor, denominado de vetor campo gravitacional. Também é um campo estacionário, pois seu valor, em cada ponto, não varia com o passar do tempo. Assim, todo corpo material, por menor que seja, sempre origina um campo gravitacional. A força gravitacional é uma força decorrente do campo gravitacional, o qual, apesar de não poder ser visualizado ou tocado, existe, pois podemos sentir sua presença. Nosso peso, que é a força com que somos atraídos para o centro da Terra, talvez seja o principal efeito que sentimos. O campo gravitacional é uma das propriedades da matéria, dependendo diretamente da massa que o produz. O fato importante a respeito do fenômeno da gravitação é que massas criam campos e, se tivermos duas massas, cada uma exercerá sobre a outra uma força de atração gravitacional. Imaginemos agora um corpo de massa M. Em sua volta, ele cria um campo de forças em decorrência de sua massa. Qualquer outro corpo de massa m (corpo de prova) que for colocado em sua vizinhança “sentirá” o campo gravitacional, fi cando sujeito a uma força de atração gravitacional. É o que ocorre, por exemplo, com qualquer corpo que estiver nas proximidades da Terra. Ele será atraído para o centro do planeta devido ao campo gravitacional terrestre. A força gravitacional é uma força de campo (o campo é o transmissor da força), existindo por si só, sem a necessidade de que haja contato entre os corpos. A fi gura 1.12 mostra o campo gravitacional produzido por um corpo de massa M e sua ação sobre o corpo de prova (massa m) na sua vizinhança. A cada ponto do espaço ao redor do corpo de massa M associamos um vetor, denominado de vetor campo gravitacional, simbolizado pela letra g, que é a aceleração que um corpo de massa m fi ca submetido quando colocado naquele ponto do campo. O vetor g é defi nido como sendo a força gravitacional por unidade de massa no ponto considerado, ou seja, m Fg = . A força pode ser calculada a partir da intensidade do campo gravitacional, simplesmente multiplicando o vetor aceleração gravitacional pela massa do corpo de Figura 1.11 - Variação da força em função da distância d entre os centros dos corpos d 2d 3d 4d d0 F/16 F/8 F4 F/2 F F Figura 1.12 - Campo de força gravitacional produzido por um cor- po de massa M. Atua- ção sobre outro corpo de prova (m). d F = mg m 23 Gravitação prova colocado no ponto. Como a força é uma entidade vetorial, a força gravitacional tem direção radial (mesma direção do vetor g) com sentido dirigido do corpo de prova para o centro da Massa m e módulo igual a mg, comumente denominado de peso. Assim, quando um corpo de prova de massa m for colocado no ponto, ele fi cará sujeito a uma força gravitacional, a qual, de acordo com a 2ª Lei de Newton, é dada por gmF = . Sabe-se que o módulo da força de atração gravitacional entre duas massas é dado por 2g MmF G r = . Igualando os módulos das duas forças e para pontos externos ao corpo criador do campo, resulta que 2 Mmmg G r = ⇒ 2r MGg = Quando, por exemplo, um corpo de massa m é solto nas proximidades da Terra, ele “cairá” na direção do centro da Terra realizando um movimento retilíneo uniformemente variado. No MRUV, a aceleração é sempre constante em módulo, direção e sentido. A direção do vetor campo gravitacional (aceleração gravitacional) é sempre perpendicular à superfície acima do ponto onde está o corpo (direção do fi o de prumo) e o sentido é sempre dirigido para o centro do planeta. O módulo da aceleração gravitacional varia de ponto a ponto, sendo adotado o valor de g = 9,80665 m/s2 ao nível do mar e para a latitude de 45° N (Meridiano de Greenwich). Generalizando, podemos dizer que o valor do vetor campo gravitacional, em um ponto qualquer nas proximidades da massa M, depende somente do ponto considerado e da massa do corpo que cria o campo, ou seja, é uma característica do local e não da massa do corpo experimental (corpo de prova). Para um corpo esférico (raio r) e homogêneo, o módulo do campo gravitacional tem as seguintes características: a) para pontos na superfície, 20 r MGgg == b) para pontos exteriores ao corpo de massa M (d > r), 2d MGg = c) para pontos no interior do corpo (d < r), o campo gravitacional varia linearmente com a distância, medida a partir do centro do corpo de massa M, ou seja, g é diretamente proporcional à distância do ponto considerado ao centro do corpo (g = Kd), onde K é uma constante. EXEMPLO 1.3 Considerando o raio médio da Terra igual a 6.400 km, a que distância da superfície ter- restre uma pessoa tem seu peso reduzido a 1/5? Dados: MT = 6 x 10 24 kg. Solução: A massa da pessoa não varia, mas seu peso é reduzido a 1/5 em relação ao da superfície terrestre. Nesta situação, a aceleração gravitacional no ponto é igual a g= 9,8/5 m/s2, que corresponde a uma distância d do centro da Terra, dada por 24 11 2 9,8 6.106,67.10 . 5 d −= Assim, d = 7,15 x 106 m, ou d = 7.150 km FÍSICA GERAL II 24 A fi gura 1.13 mostra a variação do campo gravitacional em função da distância ao centro do corpo criador do campo. Figura 1.13 - Variação do campo gravitacional em função da distância ao centro de forças. O campo gravitacional também varia em função da altitude e da latitude sofrendo, ainda, pequenas variações provocadas pelas distorções da simetria esférica da Terra e variações locais de densidade. As tabelas 1.2, 1.3 e 1.4 mostram as variações com a altitude e latitude e, também, as acelerações em cada planeta, inclusive na Lua. Para a Terra, faremos mais algumas considerações. Nosso planeta não é uma esfera perfeita e, também, não pode ser considerada como um referencial inercial, pois além de estar girando em torno de seu eixo de rotação (aceleração centrípeta), possui movimento de translação em torno do Sol com aceleração variada, além de outras acelerações devidas aos movimentos do Sol, da Via Láctea, etc. Devido ao movimento de rotação, o peso aparente (pap) de um corpo de massa m sobre a superfície terrestre não é exatamente igual à força de atração gravitacional que a Terra exerce sobreo corpo, denominado de peso real (p0) do corpo. Se utilizássemos um dinamômetro para medir o peso de um corpo sobre a superfície terrestre, veríamos que no equador o corpo tem peso diferente do que nos pólos. No equador, um corpo se move em um círculo de raio RT (considerando a Terra como esfera perfeita) e com velocidade angular ω, havendo, portanto, uma força resultante que “puxa” o corpo para o centro da Terra (força centrípeta), tal que 2 0ap Tp p Rω= − Como a massa do corpo não varia, podemos dividir a equação anterior por m, obtendo a relação entre o módulo da aceleração gravitacional aparente (gap) no equador e da aceleração gravitacional real (nos pólos), ou seja, 2 0ap Tg g Rω= − (no equador – Latitude 0°) Tabela 1.2 - Variação da intensidade do campo gravitacional terrestre em função da altitude. Tabela 1.3 - Variação da aceleração da gravidade terrestre em função da latitude. Tabela 1.4 - Intensidade do campo gravitacional na superfície do Sol e de seus planetas. 25 Gravitação Substituindo os dados da Terra, teremos: gap = g0 – 0,0339 m/s 2 (no equador - Latitude 0°). Nos pólos, a aceleração centrípeta é nula (distância do corpo ao eixo de rotação é igual a zero), portanto, o peso aparente é igual ao peso real, ou, dito de outra forma, gap = g0 (nos pólos – Latitude 90°) Pelos dados, podemos ver que, considerando a Terra como uma distribuição esférica de massa, a aceleração da gravidade no equador é 0,0339 m/s2 menor do que a aceleração gravitacional nos pólos. Este é um dos motivos de serem as bases de lançamento de satélites próximas do equador. É comum, nos dias de hoje, vermos astronautas fl utuando no espaço ou no interior de naves espaciais, como se não tivessem “peso” algum (levitação). Como isso é possível? Para isso, vamos imaginar uma pessoa de massa m, dentro de um elevador que desce com aceleração a. Nessa situação, existem duas forças atuando no corpo da pessoa, que são: seu peso P, que é a força de atração gravitacional da Terra, e a reação normal do assoalho do elevador (N) sobre a pessoa. A intensidade da força normal de compressão (-N) que a pessoa aplica sobre o piso do elevador é seu peso aparente (Pap), que é a força que seria lida por um dinamômetro que estivesse colocado entre a pessoa e o piso. A fi gura 1.14 permite visualizar a situação proposta. Aplicando a 2ª Lei de Newton para o caso, visto a pessoa e o elevador estarem em movimento acelerado para baixo (MRUV), em módulo, fi camos com ap apP N ma mg P ma P mg ma− = ⇒ − = ⇒ = − ou seja, ( ) apP m g a= − . Se o elevador estiver em queda livre, sua aceleração será igual à aceleração da gravidade, resultando num peso aparente nulo, ou seja, a pessoa levitaria dentro do elevador, não exercendo qualquer pressão sobre o piso. Tudo se passa como se a aceleração da gravidade no interior do elevador fosse nula. Essa situação é a mesma que ocorre com um astronauta em órbita. O peso aparente do astronauta é nulo e ele fl utua no interior da nave numa situação de imponderabilidade. O astronauta, fl utuando no espaço ou no interior da nave, comporta-se como se fosse outro satélite artifi cial, não exercendo pressão nas paredes da nave. Provocando pequenos impulsos sobre os corpos, os astronautas aproveitam os movimentos inerciais dos corpos, locomovendo-os no interior da nave ou em seu exterior. 1.5 Corpos em Órbita Circular – Satélites Satélites artifi ciais em órbita ao redor da Terra são um fato corriqueiro na vida moderna. Todas as noites, aproximadamente até as 21 horas, e entre as 4 e 6 horas da manhã, é possível observar satélites executando as mais diversas órbitas, parecendo viajar por entre as estrelas. É importante estudar os fatores que determinam as propriedades das órbitas e como os satélites permanecem em órbita, inclusive a Lua, que é nosso satélite natural. Tais respostas são encontradas na aplicação das Leis de Newton da Mecânica Clássica e na Lei da Gravitação Universal. No curso de Mecânica Clássica, quando estudamos o movimento de um corpo (lançamento na horizontal) vimos que, dependendo do módulo da velocidade de lançamento vo, o corpo cai cada vez mais longe à medida que a velocidade aumenta. Galileu já havia percebido que, desprezando as forças de atrito, o corpo iria cada vez mais longe, inclusive podendo girar em torno da Terra (entrar em órbita). Se você lançar uma pedra na horizontal, do alto de um morro, e desprezar as forças de atrito que consomem energia do movimento, a pedra cairá a certa distância de onde você lançou. Aumentando a velocidade, aumentará a distância de queda. Aumentado cada vez mais a velocidade, chegará um ponto em que a curvatura da Terra passa a ser um fator importante. QUESTÃO 1.2 O valor da massa de um corpo sofre variação com a latitude ou com a altitu- de? Será que na Lua, onde a aceleração gravitacional é, aproximadamente, igual a 1/6 daquela da Terra, a massa do corpo variaria? E seu peso? g a g a P - N N Figura 1.14 - Pessoa den- tro de elevador. Forças atuantes. FÍSICA GERAL II 26 À medida que a pedra avança em sua trajetória, ela continuará “caindo” em torno da Terra, como se a Terra “encurvasse” embaixo da pedra. Prosseguindo neste raciocínio, a pedra continuaria a “cair” em torno da Terra, continuamente, retornando ao ponto de lançamento após certo tempo, ou seja, a pedra entraria em uma órbita circular em torno da Terra e como desprezamos as forças de atrito, o movimento se daria com velocidade constante. Portanto, um movimento circular e uniforme (MCU), onde a aceleração gravitacional seria sua aceleração centrípeta (a força centrípeta na órbita seria igual ao seu peso). As trajetórias realizadas por satélites artifi ciais têm excentricidades distintas, desde trajetórias quase circulares até órbitas abertas, quando não mais retornam ao planeta. Nosso interesse são as órbitas fechadas (elipses e círculos) onde o corpo retorna ao ponto inicial de entrada em sua órbita. A trajetória circular é a mais simples de ser estudada, pois muitos dos satélites possuem órbitas quase circulares, inclusive, as órbitas dos planetas do sistema solar e da Lua são quase circulares, possuindo pouca excentricidade, podendo ser tratadas como circulares, em primeira aproximação. A única força que atua em um satélite artifi cial em órbita circular é a atração gravitacional que está orientada para o centro da Terra e, consequentemente, para o centro da órbita. Nesta situação, o satélite realiza um MCU e sua velocidade tangencial é constante em módulo. O satélite não cai em direção à Terra, mas continua “caindo” ao redor dela e sua velocidade tangencial é aquela que ele necessita para manter constante sua distância ao centro da Terra (fi g.1.15) De acordo com a lei da gravitação, a força resultante que atua sobre o satélite (módulo da força gravitacional) de massa m, é a atração gravitacional existente entre o satélite e a Terra (MT). A aceleração está sempre dirigida para o centro da Terra e sua direção é sempre perpendicular à velocidade tangencial do satélite. Pela 2ª Lei de Newton, temos que 2 2 T g c M m mvF G F r r = = = . Da expressão anterior e para órbitas circulares (raio r), isolando a velocidade, fi camos com TGMv r = . A velocidade tangencial do satélite é uma função do raio da órbita, ou seja, para certa órbita, o satélite terá determinada velocidade em torno da Terra. Note, também, que a velocidade orbital não depende da massa do satélite. A última afi rmação implica dizer que, se dividíssemos a estação orbital em várias partes, todas elas continuariam com a mesma velocidade em torno da Terra, constituindo cada parte em si, um satélite artifi cial, inclusive, os próprios astronautas também se comportariam como satélites artifi ciais. A velocidade e a aceleração dos astronautas são as mesmas da estação orbital, de tal maneira que não existe nenhuma força empurrando- os contra as paredes da estação ou contra seu piso. Os astronautasestão em estado de imponderabilidade, no qual seus pesos aparentes são nulos, tal como no caso do elevador em queda livre. É devido a esse estado de peso aparente nulo que os astronautas fi cam fl utuando no interior da nave. Outro dado interessante é que as diversas partes do corpo do astronauta (braços, fígado, coração, cabeça...) também fi cam com peso aparente zero, daí, ele não sente nenhuma força empurrando seu estômago contra o intestino, nem o peso de seu braço, nem a pressão da cabeça sobre seus ombros!!! Esta característica das órbitas circulares (peso aparente nulo) também ocorre para qualquer tipo de órbita, inclusive as órbitas abertas, desde que a única força atuante sobre o corpo for a atração gravitacional. Podemos achar o tempo de revolução de um satélite numa certa órbita de raio r. O satélite demora um certo tempo T (período) para percorrer o perímetro do circulo com velocidade v, assim, Figura 1.15 - Força gravi- tacional, aceleração e ve- locidade tangencial em um satélite em torno da Terra. Fg Fg Fg a a a v v v RT r 27 Gravitação T rv π2= Substituindo a velocidade, anteriormente explicitada, fi camos com 3 2 T rT GM π= . Utilizando a fórmula do período e rearranjando os termos, obtemos 2 2 3 4 T T K r GM π = = . Esta última expressão é a 3ª Lei de Kepler. Note que a constante planetária K não depende da massa do satélite que está orbitando, mas somente da massa do corpo central (centro de força). Para satélites estacionários, normalmente de telecomunicações, o raio da órbita (a partir do centro da Terra), está na faixa dos 42 mil quilômetros. A velocidade de translação (velocidade tangencial) se situa na faixa dos 10,8 mil quilômetros por hora. Assim, o período de revolução é de 24 horas, o mesmo do período de rotação da Terra, portanto, para um observador da Terra, o satélite parece estar parado no espaço como uma estrela fi xa. Como os sinais de rádio e TV (ondas eletromagnéticas) se propagam com a velocidade da luz, o tempo de ida ao satélite e volta à Terra, somados ao tempo de distribuição do sinal pelo planeta é muito pequeno, imperceptível aos nossos sentidos. Tudo parece estar acontecendo em tempo real, mas não é assim. EXEMPLO 1.5 Um satélite, a 1000 km de altura em relação à superfície terrestre, orbita circularmente com velocidade escalar constante. Calcule sua velocidade escalar. Solução: Lembre-se que a velocidade é uma velocidade tangencial e que a altura deve ser somada ao raio da Terra, ou seja, r = RT + h. Adotando RT = 6,37 x 10 6 m e MT = 5,98 x 10 24 kg, teremos TGMv r = Substituindo os valores, fi camos com v = 7,36 x 103 m/s2 ≈ 26.500 k/h. O tempo de revolução seria em torno de 1 hora e 45 minutos. Você, estudante, deve observar que a velocidade orbital não depende da massa do satélite. 1.6 Energia Potencial Gravitacional Quando um planeta gira em torno do Sol, as propriedades orbitais permanecem constantes ao longo de milhões de anos. Tal fato sugere que a energia mecânica (cinética + potencial) se conserva no movimento de translação do sistema Sol-planeta. A conservação da energia mecânica é atribuída ao fato de que os dois corpos (Sol e planeta) se comportam como sistema isolado e que as únicas forças que atuam no sistema são suas forças gravitacionais atrativas e conservativas. Como as órbitas são elípticas, a velocidade tangencial do planeta varia a cada ponto da órbita, sendo maior nas proximidades do Sol (periélio) e menor no afélio. Assim, cada vez que o planeta circula ao redor do Sol, deve haver uma troca de energia mecânica nas suas formas cinética e potencial entre o sistema. FÍSICA GERAL II 28 A energia cinética do sistema planeta-Sol é atribuída, praticamente, somente ao planeta, pois o Sol, como centro atrator e muito mais “pesado” que o planeta, não se move. Com relação a qualquer planeta, a força gravitacional solar é a maior das forças gravitacionais que atua no sistema, constituindo o Sol o centro de forças atrativas que mantêm os planetas presos a ele e gravitando ao seu redor. Nosso sistema de referência inercial está centrado no Sol (a massa M está em repouso) e o planeta é o sistema móvel. O sistema planeta-Sol pode ser tratado como um sistema de dois corpos isolados, de massas m e M, para M>>m, de tal forma que podemos aplicar o princípio de conservação da energia mecânica. O mesmo raciocínio pode ser aplicado a um satélite orbitando a Terra, ao sistema Terra-Lua, ou mesmo a um cometa passando perto do Sol. A energia mecânica total E do sistema de dois corpos isolados é a soma da energia cinética do corpo girante (massa m) somada à energia potencial gravitacional do sistema, ou seja, constantecin gE E U= + = . Já foi visto que a força gravitacional é conservativa, isto é, o trabalho realizado pela força sobre a partícula só dependo dos pontos inicial e fi nal e não da trajetória efetivamente percorrida. O teorema do trabalho-energia diz que “o trabalho realizado pela resultante F das forças que age na partícula, quando esta se desloca de um ponto a outro da trajetória, é igual à variação de sua energia cinética”, ou seja, cinW E= ∆ . Ao atuar somente forças conservativas, introduzimos o conceito de energia de confi guração ou energia potencial U. Neste caso, podemos dizer que, se a energia cinética K da partícula variar de uma quantidade ΔK, quando variar sua confi guração (mudança de posição espacial da partícula em relação ao referencial), a energia potencial U do sistema deve variar de uma quantidade ΔU, de igual valor e oposto, de tal forma que a soma das variações das duas energias deve ser nula, isto é, 0cinE U∆ + ∆ = . Assim, fi camos com cinE U∆ = −∆ . Para uma dimensão, o trabalho realizado por uma força variável dependente da posição(como é o caso da força gravitacional) é dado por ( ) f i r r W F r dr= ∫ , na qual, ri (ponto A) e rf (ponto B) são as posições inicial e fi nal da partícula (em relação ao referencial adotado) ao longo da trajetória, que pode ser retilínea ou curvilínea, conforme fi gura 1.16. Em função da equação anterior, fi camos com ( ) f i r r U F r dr∆ = −∫ . Em se tratando da Terra, a força gravitacional (Fg) está sempre dirigida para seu centro (para baixo) e o referencial inercial centrado na Terra está dirigido para cima. Assim, o módulo da força gravitacional adquire o sinal negativo, ou seja, 2)( r mMGrF Tg −= . Substituindo o valor do módulo da força gravitacional na equação da variação da energia potencial, obtemos 2 1 1f i r T T f ir drU GM m GM m r r r ∆ = = − − ∫ . Figura 1.16 - Desloca- mento da partícula sob ação da força gravitacio- nal terrestre. A BFg Fg rf ri m 29 Gravitação Temos que f i f iU U U U U U∆ = − ⇒ = ∆ + . A função energia potencial, quando a partícula se deslocou da posição inicial até a fi nal, é dada por 1 1 f i T i f i U U U GM m U r r = ∆ + = − − + . A escolha de um ponto de referência para a energia potencial é completamente arbitrária. Normalmente, escolhe-se o ponto onde a energia potencial é nula, o que implica dizer que a força gravitacional entre os dois corpos também é nula. Tal ponto ocorre para uma separação infi nita entre os corpos. Fazendo Ui→0 quando ri→∞ e retirando os subscritos, fi camos com T g GM mU r = − . Embora a equação anterior tenha sido deduzida para um sistema isolado Terra- partícula, ela é válida para qualquer par de partículas de massas m1 e m2, com separação entre seus centros de uma distância igual a r, ou seja, 1 2 g Gm mU r = − . A equação da energia potencial gravitacional para qualquer par de partículas varia com 1/r, enquanto que a força gravitacional entre elas varia com 1/r2. Além do mais, a energia potencial é negativa a qualquer distância fi nita, isto é, a energia potencial é nula no infi nito e decresce com a diminuição da distância, o que implica dizer que a força é atrativa. Se a força é atrativa, um agente externo (corpode sua vizinhança) ao aplicar uma força F deve realizar trabalho positivo para aumentar a separação entre elas. O trabalho realizado pelo agente externo produz um aumento na energia potencial quando as duas partículas são separadas, isto é, a energia potencial torna-se menos negativa quando a separação aumenta, visto U variar com 1/r. A energia potencial defi nida anteriormente é uma energia de ligação do sistema isolado de dois corpos. Isto implica dizer que um agente externo deve fornecer uma quantidade igual a +Gm1m2/r para separar as partículas por uma distância infi nita. A equação anterior mostra também que a energia potencial entre as duas partículas é uma característica do sistema m1+m2 e não de cada partícula isoladamente, ou seja, se houver variação da separação, a energia potencial variará, pois cada uma está no campo gravitacional da outra. A força gravitacional pode ser deduzida da expressão da energia potencial do sistema. Para sistemas que apresentam simetria esférica, a relação entre força e energia potencial é dada por 2 ( ) ( ) g Tg dU r GM mF r dr r = − = − . Esta equação permite interpretar de outra forma a energia potencial: “a energia potencial é uma função da posição, tal que sua derivada, com sinal negativo, é igual à força”. Se o agente externo fornece energia maior do que a energia de ligação, a energia restante fi ca na forma de energia cinética da confi guração. A energia mecânica total para um sistema isolado Terra-satélite é dada por 21 2 TGM mE mv r = − . FÍSICA GERAL II 30 A equação mostra que a energia mecânica total pode ser positiva, negativa ou nula, dependendo do valor da velocidade a uma distância específi ca de separação r. Para órbitas circulares e sabendo que a velocidade a uma distância r do centro do planeta é dada por TGMv r = , então, a energia mecânica total será dada por, 2 TGM mE r = − . A equação da energia mecânica também é válida para órbitas elípticas, mas devemos substituir o valor de r pelo valor do comprimento do semi-eixo maior da elipse. A energia mecânica, o momento angular total e o momento linear total de um sistema planeta-Sol, planeta-estrela qualquer, Terra-Lua, Terra-satélite, são constantes do movimento ao considerar o modelo do sistema isolado. Com relação à Terra, devemos fazer as seguintes observações: a) Vamos considerá-la como uma partícula cuja massa esteja totalmente concentrada em seu ponto central. No ponto coloquemos nosso referencial inercial. Para um corpo de massa m, distante RT do centro da Terra (corpo na superfície terrestre), a energia potencial gravitacional será dada por T g T GM mU R = − . Se o corpo estiver a uma altura y da superfície terrestre onde o campo praticamente se mantém constante e colocando o referencial inercial na superfície terrestre, apontando para cima (F(y) = -mg), a energia potencial gravitacional na posição y será dada por mgyyU g =)( . Nesse caso, para y=0, a energia potencial será nula, e aumentará linearmente com a altura. Supomos que a partícula se desloque do ponto a (cujas coordenadas são yo=0 e vo≠0) ao ponto b (com coordenadas x e v, ambas diferentes de zero). A energia mecânica total deve ser a mesma em qualquer confi guração, visto a força gravitacional ser conservativa. Assim, 2 2 0 1 1( ) ( ) 2 2g g o mv U y mv U y+ = + . Observe que, nesta equação, não aparecem a força nem a aceleração. Como a energia potencial inicial é nula e a energia potencial a uma altura y é igual a mgy temos, então, que 2 2 0 1 1 2 2 mv mgy mv+ = . Eliminando as massas, obtemos a equação de Torricelli, ou seja, 2 2 0 2v v gy= − . QUESTÃO 1.6 Utilizando considera- ções sobre energia, de- terminar a velocidade de escape de um corpo de massa m lançado da superfície terrestre. 31 GravitaçãoExercícios 1. Um planeta gira em torno do Sol com raio médio igual a 20 vezes o raio médio da órbita da Terra. Qual seu período orbital em anos e em dias, para que o planeta complete uma revolução em torno do Sol? 2. A distância média (semi-eixo maior) do sistema Saturno-Sol é de 1,43 x 1012 m e seu período de revolução é de 9,35 x 108s. Calcule o valor da constante K, utilizando a lei dos períodos. 3. Dois navios, com 50 mil toneladas cada um, navegam em rotas paralelas separadas por 200 m. Qual o módulo da aceleração de um dos navios em direção ao outro devido à atração mútua entre eles? Trate os navios como partículas. 4. Três esferas uniformes com massas de 2 kg, 4 kg e 6 kg, estão colocadas nos vértices de um triângulo retângulo de lados 3, 4 e 5 m. A massa de 4 kg está no vértice com ângulo reto. Calcule a força gravitacional sobre a esfera de 4 kg. Trate as esferas como sistema isolado. Calcule a energia potencial total do sistema. 5. Calcule o módulo e a direção do campo gravitacional em um ponto P sobre a linha divisória perpendicular de duas partículas com massas iguais separadas por uma distância de 2a, conforme fi gura 1.17. 6. Io, um satélite natural de Júpiter, tem um período de revolução de 1,77 dias e um raio de órbita de 4,22 x 105 km. Determine a massa de Júpiter a partir desses dados. 7. Um satélite rasante desloca-se em uma órbita circular logo acima da superfície de um planeta sem ar. Mostre que sua velocidade orbital (vc ) e a velocidade de escape do planeta (ve ) estão relacionadas pela expressão ce vv 2= . 8. A fi gura1.18 representa uma estação orbital A que gravita em órbita circular de raio r, geoestacionária (período de revolução igual a um dia). Um objeto é lançado da estação para outra que se encontra em B, situada em outra órbita circular de raio 3 r. A posição de lançamento é no ponto C, favorável para que o pacote seja recolhido no ponto M, da órbita de B. O centro do planeta e os pontos M e C estão alinhados. Após quantos dias, depois do lançamento, o pacote será recolhido no ponto M? 9. O campo gravitacional na superfície de um planeta tem intensidade g. Comente o que aconteceria coma essa intensidade se: a) duplicasse a massa do planeta; b) dobrasse o raio do planeta. 10. A que altura, acima da superfície terrestre, deve ser colocado um satélite em órbita circular para que seu período de rotação seja de 12 horas? Figura 1.17 - Massas separadas pela distância 2a. Figura 1.18 - Estação orbital em órbita elíptica. r P M M a B M C A 3r Pacote r FÍSICA GERAL II 32 Anotações 33 Gravitação Anotações FÍSICA GERAL II 34 Anotações 35 Equilíbrio Estático2 2.1 Equilíbrio Estático 2.2 Centro de Gravidade 2.3 Estabilidade do Equilíbrio de Rotação FÍSICA GERAL II 36 2 EQUILÍBRIO ESTÁTICO Estática é o ramo da mecânica que trata do equilíbrio dos corpos. Quando um corpo está imóvel e permanece imóvel no tempo, diz-se que o corpo está em equilíbrio estático. A análise do equilíbrio estático é muito importante nas Engenharias. Os engenheiros devem identifi car todas as forças e torques que agem sobre as vigas e os cabos das estruturas, tendo a certeza de que toda a estrutura pode tolerar as cargas que lhe são e serão impostas. A análise das forças e torques em uma peça mecânica ajuda a determinar a sua durabilidade em uso. Observamos pela fi gura 2.1a que a somatória vetorial das forças externas e dos torques externos é igual a zero. Portanto, o corpo, nesta condição, está em equilíbrio estático. Na fi gura 2.1b, mesmo sendo a somatória vetorial das forças igual a zero, a somatória vetorial dos torques é diferente de zero. Assim sendo, o corpo girará em torno de seu centro de massa. Muitas vezes, considera-se que a condição para que uma partícula esteja em repouso é a de que a resultante das forças sobre o corpo seja nula. Porém, como podemos observar na fi gura 2.1b, se o centro de massa permanecer em repouso, é possível que o corpo gire em torno de um eixo ou de um centro. Não há equilíbrio, se houver rotação. Por essa razão, para que haja o equilíbrio estático, é necessário também que a resultante dos torques que atuam
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