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Colisão de Direitos Fundamentais

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 1 
 
 
MBA GERENCIAMENTO DE 
PROJETOS 
DIREITOS E GARANTIAS 
FUNDAMENTAIS 
PROFESSOR: GUILHERME SANDOVAL GÓES 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 2 
ÍNDICE 
AULA 7: A COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS: POR UMA 
ESTRATÉGIA HERMENÊUTICA PÓS-POSITIVISTA DE SOLUÇÃO 3 
INTRODUÇÃO 3 
CONTEÚDO 4 
INTRODUÇÃO 4 
O CONFLITO DE REGRAS E A COLISÃO DE PRINCÍPIOS: OS CONTRIBUTOS DE RONALD 
DWORKIN E ROBERT ALEXY 9 
ESTRATÉGIAS POSSÍVEIS: CONCORDÂNCIA PRÁTICA OU PROPORCIONALIDADE? 16 
ESTRATÉGIA HERMENÊUTICA DA PONDERAÇÃO HARMONIZANTE E O PRINCÍPIO DA 
CONCORDÂNCIA PRÁTICA 18 
A ESTRATÉGIA HERMENÊUTICA DA PONDERAÇÃO EXCLUDENTE E O PRINCÍPIO DA 
PROPORCIONALIDADE 21 
ATIVIDADE PROPOSTA 23 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 24 
REFERÊNCIAS 27 
CHAVES DE RESPOSTA 29 
AULA 7 29 
ATIVIDADE PROPOSTA 29 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 29 
 
 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 3 
Direitos e Garantias Fundamentais – Apostila 
Aula 7: A colisão de direitos 
fundamentais: por uma estratégia 
hermenêutica pós-positivista de 
solução 
Introdução 
Nesta aula, serão estudados os elementos teóricos que possibilitam a 
formulação de uma estratégia hermenêutica de cunho pós-positivista para 
solucionar as hipóteses de colisão de normas constitucionais, mais 
precisamente, de direitos fundamentais. Assim, a proposta da presente aula é 
investigar, inicialmente, as construções doutrinárias de Dworkin e Alexy, cujo 
legado viabiliza a formulação de tal estratégia. Na sequência dos estudos, o 
grande desafio a enfrentar será a formulação dessa estratégia propriamente 
dita, cujo desejo é servir como caminho teórico-conceitual capaz de resolver a 
colisão de direitos fundamentais. 
 
Objetivo 
1. Analisar os principais elementos teóricos que circunscrevem a colisão 
de normas constitucionais de mesma hierarquia, cujo desenvolvimento 
será feito com base nos princípios da concordância prática e da 
proporcionalidade. 
 
 
 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 4 
 
 
 
Conteúdo 
Introdução 
A presente aula tem o objetivo de examinar a colisão de normas 
constitucionais no ordenamento jurídico brasileiro. 
 
Com rigor, é a própria Constituição de 1988 que, a partir da sua dimensão 
compromissória, gesta o conflito de valores contraditórios entre si, como por 
exemplo, as contraposições entre livre iniciativa x direito do consumidor, 
liberdade de contratar x políticas públicas de restrição; igualdade formal x 
igualdade material, desenvolvimento econômico x proteção ambiental, 
propriedade privada versus função social da propriedade, Estado mínimo x 
Welfare State, autonomia privada x direitos trabalhistas e muitas outras. 
 
Trata-se, portanto, de estudo de linhagem epistêmica complexa, uma vez que 
envolve o tensionamento entre normas de mesma dignidade constitucional, 
sem a segurança de um método hermenêutico de aplicação direta. Em linhas 
gerais, a presente aula buscará destacar a solução do conflito aparente de 
normas constitucionais definidoras de direitos fundamentais em tensão sob a 
perspectiva da dogmática pós-positivista, que faz uso científico da 
ponderação de valores, notadamente a partir das festejadas obras de Ronald 
Dworkin 1 e Robert Alexy.2 
 
 
1
 DWORKIN, Ronald. Taking rights seriously. Cambridge: Harvard University Press, 1998. O império 
do direito. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1999. Uma questão de 
princípio. Tradução de Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 
2
 ALEXY, Robert. Teoria da argumentação jurídica. Tradução de Zilda Hutchinson Schild Silva. São 
Paulo: Landy Livraria Editora e Distribuidora, 2001. Teoria de los derechos fundamentales. Tradução 
de Ernesto Garzón Valdés. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1997. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 5 
 
 
De fato, a partir destes trabalhos paradigmáticos, foi possível traçar a 
diferença qualitativa entre regras e princípios, eixo hermenêutico central 
sobre o qual gira a força normativa do direito constitucional hodierno 
(neoconstitucionalismo). 
 
Não se trata apenas de uma diferença quantitativa, que reconhecia as regras 
como normas mais específicas e menos abstratas, aplicadas mediante 
subsunção silogística, enquanto que princípios eram vislumbrados como 
normas abertas carentes de regulamentação pelo legislador democrático e, 
portanto, comandos normativos não autoaplicáveis. Nesse sentido, Humberto 
Ávila, comentando o pensamento de Karl Larenz, destaca que: 
 
Para esse autor os princípios seriam pensamentos diretivos de 
uma regulação jurídica existente ou possível, mas que ainda não 
são regras suscetíveis de aplicação, na medida em que lhes 
falta o caráter formal de proposições jurídicas, isto é, a conexão 
entre uma hipótese de incidência e uma consequência jurídica. 
(negritos acrescidos) 3 
 
De tudo se vê, por conseguinte, que a ideia de aplicação direta dos princípios 
jurídicos é o momento culminante do ataque geral ao positivismo (general 
attack on positivism) feito por Dworkin e, na sua esteira, por Alexy. 
 
 
3
 ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. Rio de 
Janeiro: Malheiros, 2004. p. 27. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 6 
É por isso que, com base no pensamento desses autores, a presente aula vai, 
inicialmente, examinar as diferentes estratégias hermenêuticas de solução do 
conflito entre regras jurídicas e da colisão de princípios constitucionais. Para 
tanto, será necessário examinar a estrutura lógico-normativa de regras e 
princípios, comparando-as de modo a aprofundar a compreensão da questão. 
 
Na sequência dos estudos, nosso desafio será então sistematizar uma 
estratégia hermenêutica de viés pós-positivista capaz de lidar com o conflito 
aparente de direitos fundamentais de mesma dignidade constitucional. 
 
Nessa tarefa, há que se lembrar a maneira pela qual o neoconstitucionalismo 
– impulsionado pela reaproximação entre a ética e o direito – vislumbra a 
normatividade dos princípios constitucionais a partir daquela imagem por nós 
já estudada de que são verdadeiras normas jurídicas capazes de gerar 
direitos subjetivos ao cidadão comum, independentemente da atuação do 
legislador democrático. Com efeito, correta a visão de que o “novo paradigma 
pós-positivista consolida a normatividade dos princípios constitucionais, 
reconhecendo-a como a exata medida do senhorio jurídico-normativo do 
Estado neoconstitucional de Direito, cuja afirmação categórica vem da 
conexão entre a dimensão ética do direito e a dimensão retórico-
argumentativa das decisões judiciais”.4 
 
Resta indubitável que o estudo da normatividade dos direitos fundamentais 
evoluiu lentamente na direção da atual ascensão exegética dos princípios 
constitucionais, que muito embora tenham estrutura semântica aberta, são 
comandos normativos de plena efetividade no plano concreto de significação, 
valendo nesse sentido trazer as palavras do eminente Paulo Bonavides 5 
quando pontifica a nova era de “hegemonia axiológica dos princípios, 
 
4
 GÓES, Guilherme Sandoval. Por uma estratégia hermenêutica pós-positivista para a solução da 
colisão de normas constitucionais. In: A reconstrução do direito. Estudos em homenagem a Sergio 
Cavalieri Filho. Juiz de Fora: Editar, 2011. p. 51. 
5
 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 264. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 7 
convertidos em pedestal normativo sobre o qual assenta todo o edifício 
jurídico dos novos sistemas constitucionais”. 
 
É importante examinar as diferenças qualitativas de regras e princípios 
porque imprescindível para a formulação deuma estratégia hermenêutica de 
solução ponderativa. Por detrás dessa estratégia, desponta a imagem de uma 
Constituição como lugar de ética, política e direito, espaço normativamente 
superior que impõe limites democráticos ao Estado territorial soberano e que 
em muito se aproxima do conceito de lebensraum axiológico, vale explicitar, 
espaço vital de poder democrático inexpugnável, totalmente fora do alcance 
dos poderes instituídos pelo poder constituinte originário. 
 
Para Paulo Bonavides, 6 entre os momentos culminantes da reviravolta que 
afastou o positivismo está a correta compreensão da natureza dos princípios 
jurídicos como “normas-valores com positividade maior nas Constituições do 
que nos Códigos; e por isso mesmo providos, nos sistemas jurídicos, do mais 
alto peso, por constituírem a norma de eficácia suprema. Essa norma não 
pode deixar de ser o princípio”. É razoável afirmar, nesse contexto, que a 
força normativa da Constituição é o cerne da estratégia hermenêutica que se 
tenta delinear, notadamente na árdua tarefa de suplantar óbices quase que 
intransponíveis, daí a imagem da dignidade da pessoa se expandindo por 
toda a ordem jurídica de um verdadeiro Estado Democrático de Direito. 
 
Na formulação de uma estratégia pós-positivista, parece inexorável a 
necessidade de superar a intelecção de que os direitos fundamentais são 
simples normas programáticas não autoaplicáveis submetidas aos conceitos 
de reserva legal, simples ou qualificada. 
 
Ao contrário, a base da nova estratégia exegética é o entendimento de que 
os princípios constitucionais são forças ético-normativas que, juntos, 
 
6
 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 276. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 8 
conjuntos e aliados, geram um espaço normativo sem limites, onde o 
sentimento constitucional de justiça, desraizado e desvinculado do velho 
positivismo legalista, se expressa para além do texto da norma. Claro que 
sempre haverá temores em relação a esse entendimento, questão que 
aparece na temática dos limites impostos ao ativismo judicial. Porém, é 
indubitável a mistura epistemológica do pós-positivismo jurídico que congloba 
diversos elementos fractais como o reconhecimento dos princípios como 
normas jurídicas, a necessidade de reaproximação entre o direito e a ética, a 
promoção do princípio da dignidade da pessoa humana, a proteção dos 
hipossuficientes e muitos outros. 
 
Mais uma vez na esteira do magistério superior de Paulo Bonavides, 7 vale 
fazer rápida compilação de sua visão e que, certamente, é a base teórica 
sobre a qual deve a estratégia pós-positivista se alicerçar: 
 
a) com o pós-positivismo, os princípios passam a ser tratados como 
direitos; 
 
b) os princípios são normas e as normas compreendem as regras e os 
princípios; 
 
c) os princípios fundamentam o sistema jurídico e também são normas 
(normas primárias); os princípios são as normas-chaves de todo o 
ordenamento jurídico; 
 
d) juspublicismo pós-positivista determina a hegemonia normativa dos 
princípios (Müller e Dworkin); 
 
e) conflito de regras se resolve na dimensão da “validade”, a colisão de 
princípios na dimensão do “valor”; 
 
7
 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 264, 
271, 275, 276, 279, 281, 285 e 286. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 9 
 
f) a teoria dos princípios é hoje o coração das Constituições; 
 
g) a jurisprudência dos princípios, enquanto “jurisprudência dos valores”, 
domina a idade do pós-positivismo. 
 
Enfim, parece não restar dúvida sobre a relevância do exame das diferenças 
entre regras e princípios na formulação de uma estratégia hermenêutica que 
tem a missão de solucionar a colisão de direitos fundamentais. 
 
É por tudo isso que vamos nesse primeiro momento examinar a construção 
teórica dos autores Dworkin e Alexy. 
 
O conflito de regras e a colisão de princípios: os contributos de 
Ronald Dworkin e Robert Alexy 
Conforme visto antes, a distinção qualitativa entre regras e princípios é um 
dos elementos nucleares da nova interpretação constitucional 
(neoconstitucionalismo), em especial, quando se vislumbra a Constituição 
como um sistema aberto de regras e princípios, em contraposição ao antigo 
axioma autopoiético (sistema fechado de regras jurídicas). 
 
Tal visão aberta da Constituição liberta a interpretação pós-positivista das 
amarras do dogma da aplicação mecânica de regras jurídicas, impulsionando-
a na direção da teoria dos princípios, edificada por sua vez na ponderação de 
valores feita no caso concreto (novo paradigma axiológico-indutivo). 
 
Desloca-se para a centralidade do constitucionalismo da pós-modernidade, o 
sopesamento de bens jurídicos de mesma dignidade constitucional em 
conflito aparente, cuja solução desponta com o sentimento constitucional de 
justiça e com a realização da dignidade da pessoa humana. 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 10 
Tal mudança de paradigma deve especial tributo à sistematização de Ronald 
Dworkin e Robert Alexy. Com efeito, para Ronald Dworkin, as regras são 
comandos normativos aplicáveis sob a forma disjuntiva de tudo ou nada (all 
or nothing). 
 
Isso significa dizer que: se ocorrem os fatos previstos na regra jurídica 
(ocorrência da hipótese de incidência), então só existem duas possibilidades: 
(i) a regra é válida e a consequência jurídica (determinação normativa) deve 
ser aplicada de modo direto e automático sobre o caso concreto, produzindo-
se seus efeitos pré-determinados; ou (ii) a regra é inválida e então deve ser 
desconsiderada na solução do caso concreto e do próprio ordenamento 
jurídico. 
 
Em consequência, as regras são aplicadas segundo o código binário tudo ou 
nada: ou são válidas (tudo) ou são inválidas (nada). 
 
No caso de conflito de regras, somente uma delas é válida, a outra então é 
considerada inválida, saindo da ordem jurídica. Entretanto, observe, com 
atenção, que uma regra pode não ser aplicada num determinado caso 
concreto e, mesmo assim, permanecer no mundo jurídico. Nessa hipótese, 
estamos diante de uma cláusula de exceção positivada pelo próprio legislador. 
 
Ou seja, é certo afirmar que uma regra não será aplicada quando houver 
exceções previamente estabelecidas pela própria lei. Com efeito, no 
ordenamento jurídico positivado pelo legislador democrático, existem diversas 
previsões de exceção (hipóteses de não incidências simbolizadas 
tradicionalmente pela expressão “salvo”) nas quais as regras não serão 
aplicadas, mas permanecerão válidas no mundo jurídico. 
 
É nesse sentido que a resolução do conflito entre regras jurídicas parte do 
pressuposto de que uma determinada situação fática não pode ser regida, a 
um só tempo, por duas regras jurídicas em contraposição, vale dizer, uma 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 11 
mesma hipótese de incidência não pode gerar consequências jurídicas 
diferentes (determinações normativas conflitantes). Igualmente, uma mesma 
consequência jurídica não pode ser determinada por diferentes hipóteses de 
incidência, e.g., uma norma fixa a idade de 70 anos para a aposentadoria 
compulsória para servidores públicos e a outra fixa a idade de 65 anos nas 
mesmas condições da primeira. 
 
É por isso que um conflito de regras jurídicas será solucionado mediante a 
aplicação dos critérios de hierarquia, cronologia ou especificidade. 
 
Assim, para solucionar o conflito de regras, aplica-se o método clássico de 
resolução de antinomias, a saber: 
 
a) o critério da hierarquia, segundo o qual a norma superior prevalece 
sobre a inferior; 
 
b) o critério cronológico, pelo qual a norma posterior prevalece sobre a 
anterior (lex posterior derrogat priori);c) o critério da especialização, que por seu turno estabelece que a lei 
específica predomina sobre a lei geral (lex especialis derrogat 
generali). 
 
Observe, com atenção, que a estratégia hermenêutica (caminho 
metodológico-conceitual) que se emprega para a solução do conflito de 
regras jurídicas é relativamente simples. Nesse sentido, pode-se afirmar que a 
estratégia hermenêutica de solução do conflito de regras jurídicas é muito 
clara, i.e., de simples aplicação, na medida em que o exegeta sabe 
perfeitamente o caminho a trilhar (verificar os critérios de hierarquia, 
cronologia e especificidade). 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 12 
Já com relação à colisão de princípios constitucionais, tais critérios não são 
adequados, especialmente entre os direitos fundamentais, que – como se 
sabe muito bem – são direitos relativos e não absolutos. 
 
Portanto, na solução da colisão de princípios de mesma dignidade 
constitucional, será empregada a ponderação de valores, uma nova estratégia 
hermenêutica que explora a estrutura lógica dos princípios constitucionais 
enquanto comandos normativos aplicáveis segundo uma dimensão de peso 
(dimension of weight), cuja solução será encontrada no caso concreto a partir 
da prevalência do princípio com maior peso relativo e sem que o princípio 
afastado perca sua validade no mundo jurídico (Ronald Dworkin). 
Para este eminente autor, quando os princípios colidem, como, por exemplo, 
a política de proteção dos consumidores de automóveis contra os princípios 
da liberdade contratual, o decisor do conflito deve aferir o peso relativo de 
cada um deles, ou seja, é necessário o juízo de valor para saber qual dos 
princípios em tensão tem maior dimensão de peso no caso a resolver. No 
entanto, o princípio que foi desconsiderado – por ter menor dimensão de 
peso no caso decidendo – não deixa de ser válido na ordem jurídica, apenas, 
não foi aplicado por ter menor peso relativo na solução do conflito. 8 
 
Nesse sentido, a obra de Dworkin é paradigmal, uma vez que demonstra que 
a distinção entre princípios e regras não é meramente de grau (maior ou 
menor grau de generalidade, maior ou menos grau de abstração, maior ou 
menor grau de certeza, maior ou menor grau de densidade normativa), mas, 
sim, uma diferença qualitativa calcada na estrutura lógica das normas e, 
principalmente, no modo de sua aplicação. Como bem destaca Humberto 
Ávila: 9 
Nessa direção, a distinção elaborada por Dworkin não consiste 
numa distinção de grau, mas numa diferenciação quanto à 
estrutura lógica, baseada em critérios classificatórios, em vez de 
comparativos, como afirma Robert Alexy. A distinção por ele 
 
8
 Cf. Ronald Dworkin, Los derechos en serio, p. 77 e 78. 
9
 Cf. Humberto Ávila, Teoria dos princípios, p. 28. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 13 
proposta difere das anteriores porque se baseia, mais 
intensamente, no modo de aplicação e no relacionamento 
normativo, estremando as duas espécies normativas. 
 
Alexy, partindo das considerações de Dworkin, precisou ainda mais 
o conceito de princípios. 
 
Explicando melhor: a estratégia hermenêutica de colisão de normas 
constitucionais com apoio na teorização de Robert Alexy vê os princípios 
(principles) como comandos de otimização aplicáveis em vários graus, 
segundo as possibilidades normativas e fáticas. Ou seja, enquanto os 
princípios são "comandos de otimização", as regras são “comandos de 
definição”. 
 
Com isso, o autor quer dizer que os princípios são normas jurídicas que 
podem ser aplicadas em diversos graus, enquanto que as regras são normas 
que podem ou não podem ser realizadas, isto é, quando a regra é válida 
então deve ser feito exatamente o que determina seu enunciado normativo, 
nada mais e nada menos. Se a regra vale então há que se cumprir 
rigorosamente o que ela prescreve, nem mais nem menos, daí a ideia de 
“comandos de definição” ou “comandos de certeza”. Tal distinção qualitativa 
é primordial na compreensão da estratégia hermenêutica de solução de 
conflitos entre regras jurídicas, ou seja, tal conflito será resolvido da seguinte 
maneira: 
 
a) pela declaração de invalidade de uma das regras e sua 
consequente retirada do mundo jurídico; ou 
 
b) pela introdução de uma cláusula de exceção que afasta o conflito, 
ainda que para uma determinada situação jurídica. 
 
Nesta última hipótese, a introdução de uma cláusula de exceção em uma das 
regras deve ser feita previamente pelo legislador democrático. Se tal cláusula 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 14 
de exceção não tiver sido positivada, a regra não aplicada será declarada 
inválida. 
 
Portanto, somente a declaração expressa de exceção à regra é capaz de 
mantê-la no mundo jurídico após a sua não aplicação num determinado caso 
concreto. Em síntese, uma regra "vale ou não vale juridicamente”, não sendo 
possível a validade de dois juízos de valor reciprocamente contraditórios, 
exceto se houver uma cláusula de exceção efetivamente positivada em uma 
delas. 
 
Diferente é o caso de colisão de princípios jurídicos (normas com dimensão 
de peso, aplicáveis em grau variado), cuja solução não pressupõe a perda de 
validade de um deles, nem muito menos se exige a formulação prévia e 
abstrata de uma cláusula de exceção, tal qual no caso de conflito das regras 
jurídicas. 
 
É a própria qualificação dos princípios como "determinações de otimização” 
que lhes imprime a possibilidade de poderem ser cumpridos em diferentes 
graus, de acordo as possibilidades normativas e fáticas do caso concreto. No 
dizer de Humberto Ávila: 10 “normativas, porque a aplicação dos princípios 
depende dos princípios e regras que a eles se contrapõem, fáticas, porque o 
conteúdo dos princípios como normas de conduta só pode ser determinado 
quando diante dos fatos”. Para Alexy, o critério utilizado para solucionar um 
caso que se traduz em colisão de princípios é a aplicação da "lei de colisão", 
ou seja, por serem "mandamentos de otimização" ou "determinações de 
otimização", a colisão de princípios se resolve pela "ponderação". 
 
A colisão de princípios não demanda que um dos princípios em contradição 
seja declarado inválido e, portanto, eliminado do sistema jurídico exatamente 
porque tais princípios são aplicáveis em graus variados. 
 
10
 Cf. Humberto Ávila, Teoria dos princípios, p. 29. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 15 
 
Logo, a colisão será resolvida levando-se em consideração os elementos 
fáticos do caso decidendo (fatos portadores de juridicidade), estabelecendo-
se entre os princípios colidentes uma relação de preferência condicionada em 
função do seu peso relativo advindo da ponderação de valores. 
 
É importante que o estimado aluno compreenda neste ponto que não existe 
relação de prevalência absoluta entre as normas constitucionais, isto é, não 
há hierarquia entre princípios constitucionais no plano abstrato de 
significação. Não se pode dizer que um princípio prevalece sobre o outro, sem 
considerar as circunstâncias fáticas do caso concreto. Como bem aponta 
David Diniz Dantas:11 
 
A lei de colisão é um dos fundamentos da teoria dos princípios em 
Alexy, refletindo o caráter dos princípios enquanto determinações 
de otimização, com duas nuanças: a) não há hierarquia absoluta de 
precedência e b) os princípios referem-se a situações e ações que 
não são matematicamente quantificáveis. Para Alexy, enquanto os 
conflitos de regras se solucionam no plano da validade, os conflitos 
de princípios só encontram resposta no plano dos valores — na 
dimensão do peso, o princípio que na situação tenha o maior peso 
relativo prepondera. (...) Do pensamento de Alexy podemos extrair 
que uma norma será princípio ou regra não por qualquer 
propriedade intrínseca aoseu enunciado linguístico, mas, pelo 
modo particular que se apresenta quando em colisão com outras 
normas. Se a norma, ao colidir com outra, cede sempre ou triunfa 
sempre, será por ter ela nota típica de regra. Mas se o conflito com 
outras normas ocasiona vitórias e derrotas — segundo as situações 
concretas — é porque estamos diante de um princípio. 
 
Em suma, de todo o exposto, conclui-se que a colisão de princípios não pode 
ser posta em termos de tudo ou nada, de validade ou invalidade no mundo 
jurídico. Há que se reconhecer aos princípios uma dimensão de peso ou 
 
11
 Cf. DANTAS, David Diniz. Interpretação constitucional no pós-positivismo. Teorias e casos 
práticos. São Paulo: Madras, 2004. p. 64-65. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 16 
importância, atribuída à luz dos elementos fáticos do caso concreto (fatos 
portadores de juridicidade). Nesse sentido, a aplicação dos princípios se dá 
mediante ponderação de valores ou ponderação de interesses, 
estabelecendo-se o peso relativo de cada um dos princípios contrapostos no 
plano concreto de significação. Não existe na colisão de normas 
constitucionais superioridade abstrata de nenhum dos princípios em tensão. 
 
Não se poderia encerrar esta segmentação temática sem deixar de trazer a 
crítica de Lenio Streck, no seu artigo “Pendurando a meia na árvore”: “Que, 
por favor, não mais se use a frase ‘na colisão de regras, age-se no tudo ou 
nada’ e colisão de princípios ‘usa-se a ponderação’ e que não mais se escreva 
ou diga que ‘princípios são valores’”. Tal crítica vem da visão do autor de que 
não há distinção entre casos fáceis e casos difíceis. 
 
De qualquer modo, há que se reconhecer que, por serem dotados de maior 
carga axiológica, menor densidade normativa, maior grau de abstração e 
textura aberta, os princípios geralmente indicam apenas o fim colimado ou a 
direção a seguir, não determinando a consequência jurídica (determinação 
normativa) de forma direta. É por isso que os princípios não se prestam para 
a aplicação disjuntiva do código binário do tipo “tudo ou nada”, da mera 
aplicação mecânica do direito calcado na premissa maior (lei) premissa menor 
(fato). 
 
Estratégias possíveis: concordância prática ou 
proporcionalidade? 
Como não há hierarquia in abstracto, o objetivo da ponderação de valores é 
exatamente determinar a dimensão de peso relativo dos princípios colidentes 
após a incidência dos fatos portadores de juridicidade no caso concreto 
decidendo. 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 17 
Aqui, é imperioso compreender que a ponderação de valores não pode ficar 
atrelada tão somente ao princípio da proporcionalidade ou da razoabilidade. 
Grande parte da doutrina, infelizmente, somente destaca a ponderação de 
valores e o princípio da proporcionalidade, focalizando o problema da colisão 
na escolha de um princípio vencedor (que será aplicado ao caso decidendo) e 
de um princípio perdedor (que será afastado do caso concreto, mas 
permanece válido no ordenamento jurídico). 
 
Esta visão é tão preponderante que se chega mesmo a pensar que esse é o 
único resultado possível de um processo de ponderação de valores, qual seja: 
verificar qual é o direito em colisão que tem maior dimensão de peso e que, 
portanto, será apresentado como a solução jurídica para aquele caso concreto 
específico. Mas não é bem assim. Com rigor, existem dois caminhos 
hermenêuticos muito bem definidos (duas estratégias hermenêuticas 
possíveis de aplicação) que podem ser apresentados como sendo o resultado 
de um processo de ponderação de valores e que são: 
 
a) aplicação do princípio da concordância prática, como resultado de uma 
ponderação harmonizante de valores (concessões mútuas ou 
recíprocas dos princípios em tensão, sem sacrifício de nenhum deles e 
com aplicação de ambos de modo atenuado); 
 
b) aplicação do princípio da proporcionalidade, como resultado de uma 
ponderação excludente de valores (escolha de um princípio vencedor, 
com sacrifício dos demais princípios perdedores). 
 
No primeiro caso, o objetivo que se busca é a harmonização dos princípios 
constitucionais em colisão, sendo, pois, resultado de uma ponderação 
harmonizante de valores, pautada pela aplicação do princípio da concordância 
prática, na qual o exegeta vai procurar a solução jurídica que seja capaz de 
conciliar os valores em colisão, ainda que fazendo concessões mútuas, numa 
tentativa desesperada de otimização de todos os direitos envolvidos. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 18 
 
Não sendo possível tal harmonização, deve, então, o intérprete da 
Constituição, efetuar a ponderação excludente de valores a partir da 
aplicação do princípio da proporcionalidade e cujo objetivo será a 
determinação do peso específico dos princípios constitucionais em colisão, 
resultando na escolha de um princípio vencedor. Tais estratégias 
hermenêuticas serão examinadas em seguida. 
 
Estratégia hermenêutica da ponderação harmonizante e o 
princípio da concordância prática 
Gustavo Zagrebelsky 12 vê na pluralidade de valores a condição espiritual da 
sociedade contemporânea e por isso mesmo entende que cada princípio, cada 
valor não pode ser entendido como conceito absoluto, o que evidentemente 
negaria a existência concomitante de outros. Não se pode resolver o conflito 
de valores dando-se vitória a todos, muito embora não se ignore sua 
tendencial inconciliabilidade. 
 
Para esse autor de nomeada, é perfeitamente válido buscar-se algo que seja 
conceitualmente impossível, porém, altamente salutar para o discurso 
pragmático do Direito, isto é, o reconhecimento da não prevalência de um só 
princípio, mas a salvaguarda de vários simultaneamente. Ensina, dessarte, o 
professor da Universidade de Turim que o imperativo teórico da não 
contradição, apesar de ser válido somente para a scientia juris (expressão 
aqui interpretada como sendo o normativismo positivista kelseniano) não 
deve, por outra banda, impedir o avanço da ciência do direito no sentido de 
realizar positivamente as diversidades e até mesmo as contradições do 
pluralismo. 
 
 
12
 ZAGREBELSKY, Gustavo. El Derecho Dúctil. Ley, Derechos, Justicia. Madrid: Editorial 
Trotta, [s.d.], p. 16. No mesmo sentido, as ideias de Constituição compromissória e 
Constituição axiologicamente fragmentada, cuja característica central é a dualidade 
axiológica dos valores constitucionalmente garantidos. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 19 
Nesse diapasão, o processo de interpretação de uma Constituição 
axiologicamente dividida, que se mostra aberta à pluralidade de princípios e 
valores da democracia liberal e da social democracia, torna impossível, ao 
exegeta constitucional, recorrer a qualquer tipo de "formalismo dos prin-
cípios" (expressão do próprio Zagrebelsky). 13 Como bem aponta o eminente 
jurista italiano, fica impossível compatibilizar a aplicação formal-subsuntiva de 
normas sob a forma de princípios, já que não existe hierarquia formal entre 
princípios de mesma dignidade constitucional. 
 
Assim, a estratégia hermenêutica da ponderação harmonizante de valores 
transforma-se em instrumento vigoroso no processo de interpretação 
constitucional, uma vez que seu resultado final buscará a harmonização de 
princípios constitucionais de mesma hierarquia, mediante concessões 
recíprocas, porém, sem sacrifício de nenhum deles. 
 
Sob o ponto de vista de uma estratégia hermenêutica de colisão, é imperioso 
destacar, com muita ênfase, que a busca da concordância prática deve ser o 
primeiro caminho exegético a orientar o intérprete durante o processo de 
ponderação de valores, ou seja, o exegeta não pode escolher um direito 
vencedor, sem que antes tenha tentado alcançar a harmonização dos bens 
constitucionais em conflito. Trata-se,pois, do primeiro e obrigatório passo de 
uma estratégia hermenêutica de solução de conflito de normas 
constitucionais. 
 
Antes de tudo, a primeira tentativa do intérprete da Constituição deve ser a 
busca da ponderação harmonizante de valores, também denominada eficácia 
otimizável, na medida em que a técnica de ponderação nesse caso visa a 
otimizar a aplicação de todas as normas em tensão, sem sacrifício de umas 
em relação a outras. Enfim, aqui os direitos ou bens jurídicos 
constitucionalmente protegidos, que estavam aparentemente em conflito, 
 
13
 ZAGREBELSKY, Gustavo. El Derecho Dúctil. Ley, Derechos, Justicia. Madrid: Editorial Trotta, [s.d.]. 
p.124. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 20 
fazem concessões recíprocas para serem aplicados simultaneamente dentro 
de um mesmo caso concreto. 
 
Na lição do grande mestre português, J.J. Gomes Canotilho: 14 
 
Subjacente a este princípio está a ideia do igual valor dos bens 
constitucionais (e não uma diferença de hierarquia) que impede, 
como solução, o sacrifício de uns em relação aos outros, e impõe o 
estabelecimento de limites e condicionamentos recíprocos de forma 
a conseguir uma harmonização ou concordância prática entre esses 
bens. 
 
Dessarte, note-se que a ponderação harmonizante de valores é pautada na 
aplicação do princípio da concordância prática, garantindo-se a harmonização 
recíproca, isto é, garantindo-se a incidência dos enunciados normativos em 
tensão sobre o mesmo caso concreto, sem exclusão de nenhuma hipótese. 
Konrad Hesse 15 ensina que: 
 
 
(...) bens jurídicos protegidos jurídico-constitucionalmente devem, 
na resolução do problema, ser coordenados um ao outro de tal 
modo que cada um deles ganhe realidade. Onde nascem colisões 
não deve, em ‘ponderação de bens’ precipitada ou até ‘ponderação 
de valor’ abstrata, um ser realizado à custa do outro. Antes, o 
princípio da unidade da Constituição põe a tarefa de uma 
otimização: a ambos os bens devem ser traçados limites, para que 
ambos possam chegar a eficácia ótima. Os traçamentos dos limites 
devem, por conseguinte, no respectivo caso concreto ser 
proporcionais; eles não devem ir mais além do que é necessário 
para produzir a concordância de ambos os bens jurídicos. (grifo no 
original). 
 
14
 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra: 
Livraria Almedina, 1992. p. 1098. 
15
 HESSE, Konrad. Elementos de direito constitucional da República Federal da 
Alemanha. Tradução de Luís Afonso Heck. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1998. 
p. 66- 67. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 21 
 
Em suma, o que importa, aqui, repetir com muita ênfase, é que a estratégia 
hermenêutica preconiza a busca da otimização dos direitos constitucionais em 
tensão como primeiro passo do intérprete na solução da colisão. 
 
A estratégia hermenêutica da ponderação excludente e o 
princípio da proporcionalidade 
Nem sempre o resultado da ponderação poderá desaguar na harmonização 
dos princípios em colisão, ao revés, na maioria das vezes, as circunstâncias 
do mundo dos fatos em conexão com os elementos semânticos da ordem 
jurídica positiva estarão a exigir a ponderação excludente, isto é, a escolha de 
um determinado princípio vencedor em detrimento dos demais. 
 
Nesse caso, serão os fatos portadores de juridicidade (elementos fáticos do 
caso concreto) que orientarão o intérprete na escolha excludente. Com efeito, 
como bem salienta Luís Roberto Barroso, há determinadas situações reais em 
que não é possível aplicar a ideia de concessões mútuas entre direitos 
constitucionais e em especial direitos fundamentais como no caso do famoso 
político flagrado por um jornalista saindo de um motel com vistosa moça 
desconhecida. 
 
Na espécie, temos a colisão entre a “liberdade de imprensa” versus “direito à 
privacidade”. Na solução do caso em liça, o juiz não pode decidir previamente 
qual destes dois direitos tem maior hierarquia in abstrato. Serão os fatos 
portadores de juridicidade que influenciarão a decisão final acerca do direito 
vencedor. Entretanto, uma coisa é certa, o juiz terá que optar por um dos 
princípios em colisão, na medida em que não lhe é dado harmonizá-los 
mediante concessões recíprocas, ou seja, ou bem autoriza a publicação da 
foto privilegiando a liberdade de imprensa, ou não autoriza homenageando o 
direito de privacidade. Não há que falar em ponderação harmonizante, mas, 
sim, em ponderação excludente, após a qual um dos dois direitos 
fundamentais será sacrificado. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 22 
 
E assim é que constatamos o segundo grande caminho hermenêutico da 
ponderação de valores no âmbito do neoconstitucionalismo, a ponderação 
excludente ou eficácia excludentemente ponderável. Dentro deste espectro 
normativo, o intérprete deve eleger um comando constitucional vencedor 
diante da colisão de conflitos normativos que se materializa a partir das 
circunstâncias fáticas do caso concreto. 
 
É um segundo túnel hermenêutico (uma segunda estratégia hermenêutica) 
que se abre ao intérprete quando a entrada da harmonização se fecha e que 
conduz inexoravelmente para a vitória de um determinado enunciado 
normativo que por via de consequência afasta a incidência dos outros 
igualmente válidos, porém, sacrificados na solução do caso concreto 
específico. Não há como harmonizar, logo, resta escolher os vencedores e os 
perdedores com espeque nos fatos portadores de juridicidade do mundo real. 
 
Em conclusão, de tudo o que foi analisado nesta aula, é importante destacar 
que a estratégia hermenêutica pós-positivista para a solução da colisão de 
direitos fundamentais deve levar em consideração a aplicação de dois 
grandes princípios, quais sejam, a concordância prática e a proporcionalidade. 
 
Do ponto de vista do estudo realizado, restou patente que o resultado de 
uma ponderação de valores é sempre função de uma decisão que deve seguir 
uma estratégia hermenêutica bem delineada, a saber: 
 
1. identificar os princípios constitucionais em colisão a partir a incidência 
dos fatos reais portadores de juridicidade; 
 
2. verificar se é possível aplicar o princípio da concordância prática, 
optando pela harmonização dos princípios colidentes (ponderação 
harmonizante de valores); 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 23 
3. não sendo possível obter a harmonização, aplicar o princípio da 
proporcionalidade (adequação, necessidade e proporcionalidade em 
sentido estrito) para dimensionar o peso relativo dos princípios em 
colisão de modo a escolher o direito constitucional vencedor 
(ponderação excludente de valores). 
 
 A figura abaixo sintetiza toda essa ideia. 
 
Harmonização de
princípios em tensão
Aula 7: Direitos fundamentais, colisão
e ponderação de valores
Ponderação 
Excludente
(escolha do princípio 
vencedor)
Princípio da concordância 
prática
Subprincípio da adequação
Subprincípio da necessidade
Subprincípio da proporcionalidade
em sentido estrito
 
 
Atividade proposta 
Maria, jovem estudante de Direito, aproveitando a onda de calor que marcou 
o último verão carioca, resolveu praticar topless na praia da Barra da Tijuca. 
Enquanto tomava seu banho de sol, foi fotografada inúmeras vezes por um 
repórter de um importante jornal de circulação nacional. No dia seguinte ao 
evento, uma das fotos foi estampada na primeira página do jornal e era 
acompanhada por uma legenda que informava o fato de "os termômetros 
terem registrado 40º (quarenta graus centígrados) no último final de 
semana". Maria resolve então entrar com uma ação judicial pedindo 
indenização por dano moral. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 24 
 
A partir da situação narrada, responda, justificadamente, se, sob a ótica dopós-positivismo jurídico e da hodierna teoria dos direitos fundamentais, 
assiste razão à Maria, pois, o direito à imagem e à honra é hierarquicamente 
superior à liberdade de imprensa? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Exercícios de fixação 
Questão 1 
Leia o texto abaixo de Luís Roberto Barroso, verbis: 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 25 
“A cláusula constitucional que estabelece a aposentadoria compulsória por 
idade é uma regra. Quando o servidor completa 70 anos, deve passar à 
inatividade, sem que a aplicação do preceito comporte maior especulação. O 
mesmo se passa com a norma constitucional que prevê que a criação de uma 
autarquia depende de lei específica. O comando é objetivo e não dá margem 
a elaborações mais sofisticadas acerca de sua incidência. Uma regra somente 
deixará de incidir sobre a hipótese de fato que contempla se for inválida, se 
houver outra mais específica ou se não estiver em vigor. Sua aplicação se dá, 
predominantemente, mediante subsunção”. 
 
A partir da leitura do texto acima, analise as assertivas abaixo e assinale a 
resposta CORRETA: 
I. Uma regra "vale ou não vale juridicamente”, não sendo possível a 
validade de dois juízos de valor reciprocamente contraditórios, ou seja, 
a regra é um comando normativo de otimização; 
 
II. A cláusula constitucional da aposentadoria acima mencionada pode ser 
enquadrada como um princípio jurídico, pois sua aplicação se dá 
mediante subsunção. 
 
A. ( ) As duas assertivas são falsas; 
B. ( ) A assertiva I é verdadeira e a assertiva II é falsa; 
C. ( ) Ambas as assertivas são verdadeiras; 
D. ( ) A assertiva I é falsa e a assertiva II é verdadeira. 
 
 
 
 
Questão 2 
A posição atual do Supremo Tribunal Federal acerca dos direitos 
fundamentais é no sentido de que: 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 26 
a) ( ) São direitos absolutos, salvo aqueles previstos no art. 5° da 
Constituição Federal de 1988. 
b) ( ) São direitos absolutos em qualquer hipótese. 
c) ( ) São direitos relativos, salvo aqueles previstos no art. 5° da 
Constituição. 
d) ( ) São direitos relativos, mesmo aqueles previstos no art. 5° da 
Constituição. 
 
Questão 3 
Pode-se afirmar como CORRETO que os critérios da hierarquia (lex 
superior derogat inferioris), segundo o qual a norma superior prevalece 
sobre a inferior, o critério cronológico, pelo qual a norma posterior 
prevalece sobre a anterior (lex posterior derogat priori), e, finalmente, o 
critério da especialização que, por seu turno, estabelece que a lei 
específica predomina sobre a lei geral (lex especialis derogat generali) 
tem emprego adequado: 
 
a) ( ) Na aplicação de princípios e regras; 
b) ( ) No conflito de regras apenas; 
c) ( ) Na colisão de princípios e regras; 
d) ( ) Na aplicação de princípios apenas. 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 4 
Analise as assertivas abaixo e assinale a resposta CORRETA: 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 27 
I. O “domínio eficacial otimizável” não pressupõe o sacrifício de nenhum 
dos enunciados normativos em tensão. No entanto, há que se 
reconhecer que a aplicação da “eficácia ótima” não autoriza o 
intérprete da Constituição a ir além do que é necessário para 
harmonizar os bens jurídicos em colisão. 
II. A interpretação de uma Constituição compromissória axiologicamente 
dividida, que se mostra aberta à pluralidade de valores da democracia 
liberal e da social democracia, torna imprescindível ao exegeta 
constitucional, recorrer aos processos de ponderação de valores para 
alcançar plena efetividade dos princípios constitucionais. 
a) ( ) As duas assertivas são falsas; 
b) ( ) A assertiva I é verdadeira e a assertiva II é falsa; 
c) ( ) Ambas as assertivas são verdadeiras; 
d) ( ) A assertiva I é falsa e a assertiva II é verdadeira. 
 
Questão 5 
Analise as assertivas abaixo e assinale a resposta CORRETA: 
I. A ponderação de valores feita nas hipóteses de colisão de normas 
constitucionais é dita harmonizante quando o exegeta busca 
inicialmente excluir áreas de confrontação para encontrar espaços de 
concessões mútuas. 
II. O primeiro grande passo hermenêutico do intérprete dentro de um 
processo de ponderação de valores deve ser a ponderação excludente 
que escolhe o direito vencedor com maior dimensão de peso no caso 
concreto. 
a) ( ) As duas assertivas são falsas; 
b) ( ) A assertiva I é verdadeira e a assertiva II é falsa; 
c) ( ) Ambas as assertivas são verdadeiras; 
d) ( ) A assertiva I é falsa e a assertiva II é verdadeira. 
Referências 
ALEXY, Robert. Teoria da argumentação jurídica. Tradução de Zilda 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 28 
Hutchinson Schild Silva. São Paulo: Landy Livraria Editora e Distribuidora, 
2001. 
ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos 
princípios jurídicos. Rio de Janeiro: Malheiros, 2004. 
BARROSO, Luís Roberto. Doutrina brasileira da efetividade. In: Temas de 
direito constitucional. Tomo III. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. 
______. A nova interpretação constitucional. Ponderação, direitos 
fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. 
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 25. ed. São Paulo: 
Malheiros, 2010. 
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da 
Constituição. Coimbra: Livraria Almedina, 1992. 
DWORKIN, Ronald. Taking rights seriously. Cambridge: Harvard University 
Press, 1998. O império do direito. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São 
Paulo: Martins Fontes, 1999. 
_____. Uma questão de princípio. Tradução de Luís Carlos Borges. São 
Paulo: Martins Fontes, 2000. 
GÓES, Guilherme Sandoval. Por uma estratégia hermenêutica pós-positivista 
para a solução da colisão de normas constitucionais. In: A reconstrução do 
direito. Estudos em homenagem a Sergio Cavalieri Filho. Juiz de Fora: 
Editar, 2011. 
HESSE, Konrad. Elementos de direito constitucional da República 
Federal da Alemanha. Tradução de Luís Afonso Heck. Porto Alegre: Sergio 
Antonio Fabris Editor, 1998. 
ZAGREBELSKY, Gustavo. El Derecho Dúctil. Ley, Derechos, Justicia. Madrid: 
Editorial Trotta, [s.d.]. 
 
 
 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 29 
Chaves de Resposta 
Aula 7 
Atividade proposta 
A questão da falta de hierarquia de normas constitucionais in abstrato já está 
pacificada na doutrina e na jurisprudência. Em face da necessidade ético-
jurídica de ponderação de valores, a colisão de direitos fundamentais será 
resolvida pela aplicação do princípio da concordância prática ou do princípio 
da proprcionalidade. Ou seja, situação de tensão dialética entre princípios 
estruturantes da ordem constitucional se resolve, em cada caso ocorrente, 
mediante ponderação dos valores e interesses em conflito. 
 
Portanto, na solução da colisão de princípios de mesma dignidade 
constitucional, será empregada a ponderação de valores, como estratégia 
hermenêutica de solução, cujo desfecho será encontrado no caso concreto a 
partir da prevalência do princípio com maior peso relativo e sem que o 
princípio afastado perca sua validade no mundo jurídico (Ronald Dworkin). 
Exercícios de fixação 
Questão 1: A 
Justificativa: As duas assertivas são falsas. Primeiro: muito embora a regra 
seja aplicada no plano da validade, não é um comando normativo de 
otimização, mas, sim, um comando de certeza, do tipo all or nothing. Já a 
segunda assertiva está errada, porque a cláusula constitucional da 
aposentadoria acima mencionada não pode ser enquadrada como um 
princípio jurídico, mas, sim, como uma regra, esta, sim, aplicada mediante 
subsunção. 
 
Questão 2: D 
Justificativa: A alternativa D é a correta, porque uma das principais 
características dos direitos fundamentais é a sua relatividade ou 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 7 30 
limitabilidade. Até mesmo o direito à vida é relativizado na hipótesede guerra 
declarada. 
 
Questão 3: B 
Justificativa: A alternativa B é a correta, porque no conflito de regras jurídicas 
aplica-se um dos critérios de solução, quais sejam da hierarquia, 
cronológico ou da lei específica. Na colisão de princípios, aplica-se a 
ponderação de valores. 
 
Questão 4: C 
Justificativa: As duas assertivas estão corretas. Com efeito, o “domínio 
eficacial otimizável” é aquele que utiliza o princípio da concordância prática 
para fazer a harmonização dos enunciados normativos em tensão. Já o 
caráter compromissório, vale dizer, uma Constituição axiologicamente dividida 
entre o liberalismo e o socialismo gera o tensionamento de bens jurídico-
constitucionais, daí a ideia de ponderação de valores. 
 
Questão 5: B 
Justificativa: A assertiva II é falsa, porque o primeiro grande passo 
hermenêutico do intérprete dentro de um processo de ponderação de valores 
deve ser a ponderação harmonizante e o princípio da concordância prática.

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