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Doenças Infecciosas do Sistema Nervoso Central Caroline Leão Objetivo 01: Morfofisiologia das meninges Meninges As meninges são três membranas protetoras, compostas por tecido conjuntivo, que envolvem a medula espinal e o encéfalo. Elas são, da camada mais externa para a mais interna, (1) a duramáter, (2) a aracnoidemáter e (3) a piamáter. As meninges espinais envolvem a medula espinal e são contínuas com as meninges cranianas, que recobrem o encéfalo. Entretanto, a dura-máter encefálica tem duas camadas, enquanto a dura-máter espinal apresenta apenas uma. As duas camadas durais são conhecidas como camada periosteal (externa) e camada meníngea (interna). As camadas durais que envolvem o encéfalo estão unidas, exceto quando se separam para formar os seios da dura- máter (canais venosos revestidos por endotélio) que drenam o sangue do encéfalo em direção às veias jugulares internas. Além disso, não há espaço extradural (epidural) ao redor do encéfalo. Os vasos sanguíneos que entram no tecido encefálico passam por sua superfície e, à medida que penetram no tecido, são recobertos por uma fina camada de piamáter. Três projeções da dura-máter separam partes do encéfalo: (1) a foice do cérebro separa os dois hemisférios (lados) do cérebro. (2) A foice do cerebelo separa dos dois hemisférios cerebelares. (3) O tentório (ou tenda) do cerebelo separa o telencéfalo (cérebro) do cerebelo. As três meninges espinais revestem os nervos espinais até sua passagem pelos forames intervertebrais da coluna vertebral. A medula espinal também é protegida por um coxim de tecido adiposo e tecido conjuntivo localizado no espaço epidural (extradural segundo a Terminologia Anatômica), espaço entre a dura-máter e a parede do canal vertebral. Apresentamos, a seguir, a descrição de cada meninge. Duramáter. A mais superficial das três meninges é uma espessa membrana formada por tecido conjuntivo denso irregular. A duramáter forma um saco desde o forame magno, onde ela é contínua com a duramáter do encéfalo, até a segunda vértebra sacral. Ela também é contínua com o epineuro, o revestimento externo dos nervos espinais e cranianos. Aracnoidemáter. Esta membrana intermediária, delgada e avascular é formada por células e fibras finas e dispersas de material elástico e de colágeno. Ela é chamada aracnoidemáter devido à disposição de suas fibras em forma de uma teia de aranha. Ela está abaixo da duramáter e é contínua com a aracnoidemáter do encéfalo no forame magno. Entre a duramáter e a aracnoidemáter existe um delgado espaço subdural, contendo líquido intersticial. Piamáter. A meninge mais interna é uma fina camada de tecido conjuntivo transparente que adere à superfície da medula espinal e do encéfalo. A pia-máter é composta por finas células pavimentosas e cúbicas entrelaçadas com feixes de fibras de colágeno e algumas fibras elásticas delgadas. Na pia-máter estão muitos vasos sanguíneos que fornecem oxigênio e nutrientes para a medula espinal. Projeções membranosas triangulares da pia-máter suspendem a medula espinal no meio de sua bainha dural. Estas projeções, chamadas ligamentos denticulados, são áreas de espessamento da piamáter. Elas se projetam lateralmente e se fundem com a aracnoidemáter e com a superfície interna da duramáter, entre as raízes anterior e posterior dos nervos espinais em ambos os lados. Como são encontrados em toda a extensão da medula espinal, os ligamentos denticulados protegem a medula espinal contra deslocamentos súbitos decorrentes de traumatismo. Entre a aracnoidemáter e a pia-máter existe um espaço, o espaço subaracnóideo, que contém líquido cerebrospinal – líquido que, entre outras funções, absorve energia decorrente de um impacto. Objetivo 02: Processos infecciosos do SNC e suas transmissões Introdução O sistema nervoso central (SNC) pode ser infectado por vários agentes, incluindo vírus, bactérias, fungos, protozoários e helmintos. Quanto ao início dos sintomas, as infecções do SNC podem ser divididas em agudas, quando os sintomas ocorrem em até sete dias, subagudas, quando os sintomas têm duração entre urna e três semanas, e crônicas quando for maior que quatro semanas. Essa variação temporal está relacionada à virulência do patógeno e à capacidade deste de desencadear reação inflamatória. As manifestações clínicas, a evolução e a morbimortalidade dependem do agente etiológico, da virulência, do local da infecção, da imunidade do hospedeiro e do momento e da efetividade da terapia instituída. As infecções do SNC representam cm tomo de 5% das admissões hospitalares com mortalidade de 15%. O SNC apresenta vários mecanismos de proteção contra a invasão de microrganismos, sendo efetuado principalmente pela barreira hematoencefálica (BHE) e externamente pelas leptomeninges. A BHE é caracterizada pela interposição entre o sistema circulatório e SNC, composta por células endoteliais da microcirculação dos vasos cerebrais, que por junções celulares fortemente unidas, e a característica de alta resistência elétrica, limitam a quantidade de fluxo para celular, restringindo o transporte de íons inespecíficos para a atividade cerebral, assim como proteínas, células e patógenos. Portanto, a integridade desses mecanismos de proteção é fundamental para a saúde do SNC. Existem várias condições predisponentes relacionadas à infecção neurológica, entre elas destacam-se as imunossupressões de qualquer natureza, traumatismos cranioencefálicos, contato interpessoal, infecções em sítios próximos ao sistema nervoso, como crânio, vértebras e cavidade oral. Meningite As meningites são processos infecciosos e/ou inflamatórios agudos, que acometem por contingüidade ou via hematogênica, as meninges e o espaço subaracnóideo. Elas associam-se ao morbi-mortalidade significativa. A sua gravidade clínica indica a importância de seu reconhecimento precoce. O objetivo deste artigo é distinguir os processos infecciosos que acometem o sistema nervoso central (SNC), para que seja rapidamente instituída terapêutica adequada. Epidemiologia A meningite bacteriana é um problema de saúde pública mundial, com incidência anual de 4-6 casos/100 mil adultos, sendo N. meningitidis e S. pneumoniae responsáveis por 80% dos casos. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, a taxa de incidência é 1,4 caso/100 mil habitante/ano, e letalidade de 22,2%. O meningococo é o principal responsável por epidemias no Brasil e possui vários sorogrupos, sendo o sorogrupo C o mais prevalente. A meningite meningocócica pode ocorrer de forma isolada ou associada à meningococcemia, caracterizada pela disseminação hematogênica do agente, resultando em vasculite sistêmica e fenômenos hemorrágicos fulminantes, sendo a forma mais grave da doença meningocócica. A suscetibilidade à infecção é geral, porém, os grupos de maior risco são as crianças menores de 5 anos, principalmente as menores de 1 ano, os idosos acima de 60 anos e os imunodeprimidos. A mortalidade da doença tem se mantido em 18-20% dos casos, chegando a 50% nos casos de meningococcemia. Fisiopatologia O evento fisiopatológico principal é a reação inflamatória induzida por microrganismos invasores, responsáveis pela maioria das manifestações neurológicas e suas complicações. As infecções do SNC podem cursar até três síndromes clínicas: toxemia com alteração intensa do estado geral, síndrome febril, confusão mental com delírio; hipertensão intracraniana (cefaléia, náuseas e vômitos) e irritação meníngea (rigidez nucal, desconforto lombar, sinais de Kernig e Brudzinski). Os principais agentes etiológicos, assim como suas prevalências, são diferentes, conforme a faixa etária e o estado imunológico dos pacientes. Etiologia Bacteriana Os principais agentes bacterianos são: Neisseria meningitidis (meningococo), Streptococcus pneumoniae (pneumococo), Haemophilus influenzae. Podemos citarainda outros agentes bacterianos, como: Mycobacterium tuberculosis, Streptococcus sp. – especialmente os do grupo B, Streptococcus agalactie, Listeria monocytogenes, Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter sp. Dentre os fatores associados à meningite bacteriana podemos citar: 1. Faixa etária, porta de entrada ou foco séptico inicial; 2. Tipo e local da infecção no sistema nervoso central (SNC); 3. Imunidade prévia; situação epidemiológica local. Viral As meningites virais têm distribuição universal e, em geral, evolução benigna, baixa letalidade e menor risco de sequelas. São frequentemente associadas à ocorrência de surtos, podendo ocorrer casos isolados. A incidência se eleva nos meses do outono e da primavera. Principais agentes etiológicos da meningite viral. RNA VÍRUS: Enterovírus (Poliovírus, Echovírus e Coxsackievirus); Arbovírus; Vírus da caxumba; Arenavírus (coriomeningite linfocitária); HIV 1; Vírus do sarampo. DNA VÍRUS: Adenovírus; Vírus herpes simples tipo 1 e 2 – HSV; Varicela-zoster; Epstein-Barr; Citomegalovírus. Fúngica Os principais fungos causadores de meningite são do gênero Cryptococcus, sendo as espécies mais importantes a C. neoformans e a C. gattii. Outros fungos menos frequentes são: Candida albicans, Candida tropicalis, Histoplasma capsulatum, Paracoccidioides brasiliensis, Aspergillus fumigatus. A meningite criptocócica tem caráter predominantemente oportunista, acometendo principalmente indivíduos com estado imunológico comprometido (aids ou outras condições de imunossupressão). No entanto,a espécie C. gattii pode acometer imunocompetentes, residentes em áreas tropicais e subtropicais, com caráter epidêmico. Em geral, cursa com comprometimento neurológico importante, apresentando evolução grave. Associa-se a elevado risco de complicações, como hipertensão intracraniana e de sequelas, como paralisia permanente de nervos cranianos, déficit cognitivo e hidrocefalia. Modo de transmissão A transmissão ocorre através do contato com secreções respiratórias do portador do agente patogênico (inalação de gotículas de secreção de vias aéreas), havendo necessidade de contato íntimo (moradores da mesma casa, pessoas que compartilham dormitório ou alojamento, comunicante de creche ou escola, namorado). As meningites virais (especificamente causadas por enterovírus) geralmente são transmitidas por via fecal-oral. Apresenta um período de incubação de, em geral, 2 a 10 dias com média de 3 a 4 dias. Para os enterovírus, situa-se entre 7 e 14 dias. Para os casos de meningite tuberculosa, a incubação ocorre nos 6 primeiros meses da infecção. No caso das meningites bacterianas, o agente etiológico pode atravessar a barreira hematoencefálica por: • Acesso direto: fraturas de crânio, defeito congênito de fechamento do tubo neural (espinha bífida, meningocele, meningomielocele, meningoencefalocele) e iatrogênica (punção liquórica inadequada). • Contiguidade: otites médias, mastoidites ou sinusites. • Via hematogênica: ultrapassa a barreira hematoencefálica por ligação com receptores endoteliais, lesão endotelial ou em áreas mais susceptíveis, como o plexo coroide. • Derivações liquórica A lise bacteriana e liberação da suas endotoxinas (Gram- negativas), ácido teicoico e peptidioglicano (Gram-positivas) da parede celular, induzem a produção de citocinas inflamatórias que aumentam a permeabilidade da barreira hematoencefálica, causando edema vasogênico e hidrocefalia através deste mecanismo Por este mesmo mecanismo, há formação de edema intersticial junto com a hidrocefalia. Além disso, a migração de leucócitos resulta em degranulação e liberação de metabólitos tóxicos que geram edema citotóxico, crises epilépticas e até mesmo acidente vascular. A consequência desses eventos é o aumento da pressão intracraniana e até mesmo coma. Já a transmissão pode ocorrer até 24 horas após o início da antibioticoterapia adequada, no caso de etiologias bacterianas. No caso das meningites virais, os vírus atingem o SNC por via hematogênica (enterovírus) ou neuronal (HSV). No caso dos enterovírus, ao passarem pelo estômago, são capazes de resistir ao pH ácido e prosseguem para o trato gastrointestinal inferior. Outros vírus se replicam na nasofaringe e se disseminam em linfonodos locais. Após os enterovírus se ligarem a receptores dos enterócitos, eles se replicam em uma célula suscetível, progridem para a placa de Payer (onde ocorre replicação mais intensa) e então uma viremia atinge coração, SNC, fígado, sistema reticuloendotelial. Acredita-se que o enterovírus atinja o SNC através de junções íntimas endoteliais e posteriormente alcance o plexo coroide e o líquor. A infecção causada pelo HSV (vírus herpes simples) atinge o SNC pela via neuronal, através do nervo trigêmeo e olfatório; ou ainda nos casos de meningite asséptica, o vírus se dissemina após uma lesão genital primária, ascendendo pelas raízes sacrais até a meninge. O vírus pode ainda ficar latente nas raízes nervosas do trigêmeo e olfatório, reativando anos depois, causando encefalite ou quadros de meningite asséptica. Manifestações clínicas O quadro clínico da meningite caracteriza-se por febre de início súbito, associada à cefaleia, prostração, náuseas, vômitos, hiporexia, rigidez de nuca, mialgia, agitação, fotofobia e sinais meníngeos. Em neonatos e lactentes, o quadro é caracterizado por irritabilidade, baixa aceitação da dieta, hipertonia/hipotonia, febre, convulsões, choque séptico, convulsão, abaulamento de fontanela, grito meníngeo (criança grita ao ser manipulada, principalmente, quando se flete as pernas para trocar a fralda). A presença de rigidez da nuca quase nuca está presente, sendo necessário analisar o quadro geral, abaulamento da fontanela e dados epidemiológicos para a suspeição de meningococo. Meningite viral: Tendo seu principal representante o enterovírus, associadas ao quadro de meningite, são comuns manifestações gastrointestinais (vômitos, hiporexia, diarreia e dor abdominal), respiratórias (tosse, faringite) e ainda erupção cutânea. No exame físico observa-se um bom estado geral associado aos sinais de irritação meníngea. Em geral, cursa com bom prognóstico e a recuperação do paciente é completa. Tende a ser autolimitada, a duração do quadro é geralmente inferior a uma semana. Meningite criptocócica: deve ser sempre considerada em pacientes com AIDS que apresentam cefaleia, febre, demência progressiva e confusão mental. Meningite bacteriana: O período de encubação é de 2-10 dias e a apresentação clínica pode apresentar-se na forma de 3 síndromes. Meningite tuberculosa: se não tratada, classicamente possui curso da doença dividido em 3 estágios: • Estágio I: Tem duração de 1 a 2 semanas, sintomas inespecíficos (febre, mialgias, sonolência, apatia, irritabilidade, cefaleia, anorexia, vômitos, dor abdominal e mudanças súbitas do humor), e pode estar lúcido. • Estágio II: Surgimento de evidências de dano cerebral com aparecimento de paresias, plegias, estrabismo, ptose palpebral, irritação meníngea e HIC. Podem surgir manifestações de encefalite, com tremores periféricos, distúrbios da fala, trejeitos e movimentos atetóides. • Estágio III ou período terminal: Déficit neurológico focal, opistótono, rigidez de nuca, alterações do ritmo cardíaco e da respiração e rebaixamento do nível de consciência, incluindo o coma. Encefalites Etiologia Embora diversos patógenos como M. tuberculosis, Treponema pallidum, Borrelia burgdorferi, rickéttsias, fungos e amebas de vida livre possam invadir o SNC e causar lesão ao parênquima cerebral, os vírus são a causa mais comum de encefalite. Quase todos os vírus já foram relacionados com casos de encefalite, porém, a causa mais comum de encefalite esporádica em todo o mundo é o HSV-1, responsável por 20% dos casos,sendo mais frequente em adultos que em crianças. Outros vírus importantes são: VZV, EBV, o do sarampo, o da caxumba, enterovírus e arboviroses (dengue, vírus do oeste do Nilo, encefalite japonesa, St. Louis). Recentemente, novos casos têm sido relacionados como vírus pouco conhecidos, como o hendra e o nipah. Em pacientes imunossuprimidos, CMV, HSV-2, HHV-6 e HHV-7 podem ocasionalmente causar lesão ao parênquima cerebral. Manifestações clínicas O quadro clínico característico das encefalites é composto pela síndrome febril associada a convulsões, alteração do nível de consciência e/ou comportamento. Sinais focais podem ou não estar presentes e refletem a localização das lesões. A presença de alguns achados pode ajudar no direcionamento dos exames para o correto diagnóstico. Por exemplo, a presença de parotidite é sugestiva de caxumba e um exantema com distribuição em um dermátomo sugere VZV. A presença de sinais de acometimento do neurônio motor (arreflexia, hipotonia, fraqueza muscular) é observada em pacientes com vírus do oeste do Nilo e infecções por Enterovirus 71. A apresentação clínica da encefalite por HSV é, na maioria das vezes, semelhante a de outras encefalites virais. Contudo, devido a uma predileção pelo acometimento da porção inferomedial dos lobos frontal e temporal, achados como anosmia, alucinações olfativas e gustatórias, convulsões parciais complexas, alterações de comportamento, afasia e hemiparesia podem ser observados. Lesões labiais herpéticas não são encontradas na maioria dos pacientes e, portanto, sua ausência não afasta o diagnóstico. Diagnóstico O isolamento do agente etiológico é primordial já que as encefalites são associadas à alta morbidade e mortalidade, porém são potencialmente tratáveis. Em todos os casos suspeitos, deve-se obter LCR através de punção lombar seguindo os mesmos cuidados já descritos. O aspecto mais comum é de um LCR límpido ou turvo, podendo ser hemorrágico nos casos de encefalite herpética. A pressão de abertura frequentemente está elevada (> 20 cmH2O). Transmissão Existem várias formas de transmissão das encefalites virais, que são as mais comuns: Aspiração de gotículas de uma pessoa infectada; Alimentos ou bebidas contaminados; Contato direto com a pele; Reação alérgica a vacinas; Doença autoimune; Bactérias, fungos, protozoários; Efeitos colaterais do tratamento do câncer Os vírus podem causar uma inflamação do tecido cerebral, causando inchaço (edema cerebral). Isso pode levar à destruição das células nervosas, resultando em sangramento (hemorragia intracerebral) e dano cerebral – às vezes permanente. Meningoencefalite herpética O VHS-1 é o agente causal da encefalite aguda esporádica mais frequente, tendo distribuição universal. A infecção primária do VHS-1 acontece habitualmente na mucosa da orofaringe e, na maioria das vezes, é assintomática. Depois da infecção primária, o VHS-1 migra retrogradamente através de ramos do nervo trigêmeo até atingir o gânglio de Gasser, onde permanece em forma latente. A reativação desta forma latente com replicação maciça do vírus pode levar à encefalite virai, acometendo estruturas do tronco cerebral ou, mais frequentemente, os lobos temporais e o sistema límbico. As lesões são graves e rapidamente progressiva e apresentam aspecto necro- hemorrágico e acometem os lobos temporais médio e inferior, o córtex orbitofrontal e https://www.infoescola.com/neurologia/edema-cerebral/ https://www.infoescola.com/neurologia/edema-cerebral/ estruturas do sistema límbico, às vezes bilateralmente. Na maioria das vezes, o agente etiológico é o VHS-1; no entanto, entre 6 e 15% das meningoencefalites herpéticas são causadas pelo VHS-2. Os sinais e sintomas habituais da meningoencefalite herpética são: febre, cefaleia, confusão mental e alterações de comportamento. Com muita frequência, associam-se crises convulsivas, focais ou generalizadas, e quadros deficitários, como disfasia e hemiparesia. Os sintomas atingem a expressão máxima em duas a três semanas. O diagnóstico da meningoencefalite hcrpética é feito por neuroimagem, pelo exame do LCR e pelo eletroencefalograma. O exame de escolha em neuroimagem é a RM, que pode mostrar lesões com hipersinal em T2 nos lobos temporais médio e inferior, podendo estender- se até a Insula; no entanto, na fase inicial da doença, o exame pode ser normal. O exame de LCR pode evidenciar: hipertensão; pleocitose linfomononudcar, variando habitualmente entre 5 e 500 células; aumento discreto ou moderado da concentração proteica; glicose normal ou, raramente, hipo· glicorraquia discreta; aumento da atividade de adenosina-deaminase (ADA). Ocasionalmente, há hemácias ou xantocromia. Na primeira semana, o diagnóstico de certeza é feito por PCR, que apresenta maior sensibilidade até o quarto ou quinto dia após o início da sintomatologia (cerca de 95%). A especificidade é de quase 100%, de modo que este exame é considerado padrão-ouro para diagnóstico, substituindo a biópsia cerebral. No entanto, a partir da primeira semana, a sensibilidade cai rapidamente. Nesta ocasião, o diagnóstico é feito pela pesquisa de anticorpos específicos da classe IgG. Como existem fatores de interferência que diminuem a sensibilidade na fase aguda, especialmente a presença de hemácias, pode haver resultados falso-negativos. A pesquisa de anticorpos específicos deve ser feita no soro e ao LCR simultaneamente desde a fase aguda; o aumento significativo dos títulos ou a demonstração de irnunoprodução local especifica a partir de oito a 12 dias a contar do inicio do quadro podem constituir a chave diagnóstica, sobretudo quando os dados da RM forem inconclusivos. Quando houver imunoprodução local específica, mesmo de IgG, a sensibilidade diagnóstica será de 97% e a especificidade de 100%. Neurocisticercose A neurocisticercose (NC) é a doença parasitária que mais comumente acomete o SNC, endêmica em países em desenvolvimento e a causa mais frequente de epilepsia não idiopática nessas regiões. ANC é causada pela forma larvária da T. solium em razão da ingestão dos ovos desse helminto. Os ovos estão presentes basicamente em alimentos, como verduras e legumes, crus, mal higienizados ou mãos contaminadas. As oncosferas são liberadas na cavidade gástrica, penetram a parede intestinal, disseminam-se e se instalam preferentemente no sistema muscular esquelético e no SNC. O homem se torna nesse caso, o hospedeiro intermediário. Um mesmo individuo pode apresentar uma ou centenas de lesões, o seu tamanho pode variar de poucos milímetros a alguns centimetros, podendo haver lesões em diferentes estágios. Essa grande variabilidade está relacionada às condições imunológicas do indivíduo infestado e esses aspectos imunológicos do hospedeiro podem ser modulados pelo próprio parasita. As manifestações clínicas da NC podem ser bastante variáveis e inespecíficas. Os indivíduos podem ser desde assintomáticos até apresentar graves sintomas neurológicos. Essa variedade de formas clínicas está relacionada à topografia da lesão, o estágio evolutivo e a interação entre o agente infeccioso e o hospedeiro. Assim, cistos parenquimatosos mais comumente causam crises convulsivas e/ou HIC por efeito de massa, cistos nos ventrículos e cisternas, causam hidrocefalia com HIC, por obstrução ao fluxo liquórico e cistos no espaço liquórico medular causam compressão medular, bloqueio liquórico e/ou meningite. Objetivo 03: Síndromes meníngeas As meninges e as raízes nervosas por elas envolvidas podem ser acometidas por um processo irritativo, causado principalmente por infecção (meningite), ou hemorragia (meníngea ou subaracnóidea), que se exterioriza por uma síndrome clínica cujos componentes dominantes dependem da causa do processo. Na hemorragia meníngea, o quadro instala-se sempre de modo súbito e inesperado, enquantona meningite os sintomas aparecem rapidamente, como nas meningites purulentas, ou mais gradativamente, como é o caso das meningites não purulentas. Suas principais características semiológicas podem ser agrupadas em 3 outras síndromes: hipertensão intracraniana, síndrome radicular (constituída de hiperestesia sensitiva e sensorial, fotofobia, cefaleia, raquialgia, postura antálgica, habitualmente em decúbito lateral e com os membros inferiores semifletidos, rigidez da nuca, positividade das provas de Kernig, Brudzinski e Lasegue) e síndrome infecciosa – quando estiver presente a meningite -, que inclui febre, prostração, astenia, anorexia e taquicardia. • Síndrome toxêmica: Queda importante do estado geral, febre alta, delirium, e quadro confusional. Sinal de Faget (dissociação pulso-temperatura) pode estar presente. • Síndrome da Hipertensão Intracraniana (HIC): decorrente do edema cerebral e do aumento do volume do LCR devidos ao processo inflamatório, manifesta-se basicamente por cefaléia, vômitos e fotofobia sendo a cefaléia holocraniana (que geralmente não cede com analgésico comum), vômitos (geralmente incoercíveis, sem relação com a alimentação), alteração do nível de consciência (vai do torpor mental, obnubilação, coma superficial, podendo chegar até o coma profundo), sinais de estimulação simpática (taquicardia, palidez, hipertensão arterial, pulso fino e rápido, além de sudorese), edema de papila ao exame do fundo de olho (diminuição da acuidade visual e auditiva), convulsões generalizadas ou localizadas e sinais neurológicos localizatórios (paresia ou paralisia espástica). • Síndrome da irritação meníngea: Rigidez nucal, sinal de Kernig, sinal de Brudzinsk e desconforto lombar. Somente 50% dos pacientes apresentam essa tríade. Outros achados são convulsões e sinais neurológicos focais. As manifestações são secundarias ao deslocamento de estruturas intra-espinhais, variação de tensão das raízes inflamadas e hipersensíveis, pela presença de material estranho espaço subaracnóidea (sangue) ou associados a hipertensão liquorica que são produzidos por processos inflamatórios que determinam espasmo da musculatura paravertebral e estiramento das raízes e meninges inflamadas. A irritação meníngea se associa com os sinais abaixo: • Sinal de Kernig: flexão passiva da coxa sobre a bacia, em ângulo reto, com dor e resistência à extensão do joelho. • Sinal de Brudzinski: flexão involuntária da perna ao se tentar fletir a cabeça do paciente. A infecção por meningococo pode levar a meningite e meningococcemia, sendo denominada como doença meningocócica, que é um problema de saúde pública devido ao risco de surtos. 15-20% possuem evolução rápida e muitas vezes fulminante devido a septicemia meningocócica, apresentando prostração intensa, palidez, sinais de toxemia, exantema e/ou petéquias, sufusões hemorrágicas, hipotensão, rebaixamento do sensório, associados ou não a quadro de meningite, com risco de evolução para choque, CIVD e óbito. Compondo a Síndrome de Waterhouse-Friderichsen. Objetivo 04: Medidas de isolamento e prevenção das meningites Medidas iniciais a serem adotadas • Hospitalização imediata dos casos suspeitos. • Precaução respiratória para gotículas durante as primeiras 24 horas de antibioticoterapia. • Coleta de amostras para exames diagnósticos. • Instalação de medidas de suporte geral, como reposição de líquidos e cuidadosa assistência. • Instituição de antibioticoterapia empírica conforme a suspeita clínica, o mais precocemente possível, de preferência logo após a punção lombar e a coleta de sangue para hemocultura. • A antibioticoterapia imediata não impede a coleta de material para exames diagnósticos, mas recomenda-se que a coleta seja feita o mais próximo possível do início do antimicrobiano. • Notificação do caso à Secretaria Municipal de Saúde para a investigação epidemiológica e adoção das medidas preventivas cabíveis. Quimioprofilaxia A quimioprofilaxia é a melhor medida para prevenção de casos secundários e de surtos. Está indicada somente para os contatos próximos de casos de meningite por H. influenzae e doença meningocócica. Considera-se como contato próximo moradores do mesmo domicílio, indivíduos que compartilham o mesmo dormitório (em alojamentos, quartéis, entre outros), parceiro, comunicantes de creches e escolas, pessoas diretamente expostas às secreções do paciente, indivíduo que conviveu com o doente por quatro ou mais horas diárias, por pelo menos cinco dos sete dias que antecederam a admissão hospitalar do caso. A droga de escolha é a Rifampicina. Deve ser iniciada, idealmente, até 48 horas da exposição, podendo ser usada até 10 dias no caso de doença meningocócica ou até 30 dias no caso do Haemophilus influenza. Todos os contatos devem ser monitorados durante 10 dias. Para os menores de um ano contactantes não vacinadas, deve ser utilizada a vacina tetravalente nas meningites por H. influenzae. Indicações de quimioprofilaxia: • Todos os contatos próximos de um caso de doença meningocócica, independente do estado vacinal • Contato próximo com casos de doença invasiva por Haemophilus influenzae. • Profilaxia para o profissional de saúde: indicada somente para casos com exposição às secreções respiratórias e vômitos do doente, durante procedimentos invasivos como intubação orotraqueal, ou quando permaneceram no mesmo ambiente que o doente por um período superior a quatro horas, sem utilização de equipamentos de proteção individual (EPI). Profilaxia das meningites bacterianas agudas A quimioprofilaxia está indicada nas meningites por hemófilos e meningococos. A droga de escolha para a profilaxia é a rifampicina e deve ser iniciada, se possível, nas primeiras 24 horas do caso índice, podendo ser começada até o 30º dia pós-contato. A profilaxia em casos de hemófilos deve ser feita nas seguintes situações: Todas as pessoas da residência onde houver um caso de meningite e em que haja pelo menos mais uma criança com idade inferior a quatro anos; Crianças que partilham domicílios coletivos (orfanatos, internatos etc.) que tiveram contato com um caso de meningite. Todos os que tiveram contato íntimo (adultos e crianças), na creche ou na pré-escola de crianças com idade inferior a dois anos em que tenham ocorrido dois ou mais casos de meningite. Quimioprofilaxia: rifampicina, VO, uma vez ao dia por quatro dias (10 mg/kg/dia; máximo de 600 mg/dia). A profilaxia em casos de meningococos deve ser feita nas seguintes situações: € Contatantes íntimos que morem no mesmo domicílio em que tenha havido um caso de meningite ou que compartilhem o mesmo alojamento em domicílios coletivos (quartéis, orfanatos, internatos e outros); € Colegas da mesma classe de berçários, creches ou pré-escolas, bem como adultos dessas instituições que tenham mantido contato com o caso de meningite; € Outros contatantes que tenham tido relação íntima e prolongada com o doente e que tenham tido contato com as secreções orais; € Profissional de saúde que tenha tido exposição a secreções do paciente, sem as medidas de proteção adequadas antes do início da antibioticoterapia; Quimioprofilaxia: rifampicina, VO, de 12/12 horas, por dois dias (10 mg/kg/dia; máximo de 600 mg/dose). Alternativa: ceftriaxona (250 mg IM).
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