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CASO 3 MENINGITE E DELIRIUM Meningites Agudas Etiologia O acometimento meníngeo agudo é causado predominantemente por vírus e bactérias. Quase todos os vírus conhecidos já foram associados a quadros de meningite aguda. A maior parte dos casos estão relacionados com os enterovírus (Echovirus 30, 9, 11, 4, 6, 7, 5, 13 e 21; Coxackievirus B4, B3, B2, B1, B5, B6 e A9; Enterovirus 70 e 71). Outros vírus importantes são: Herpes simplex (HSV-1 e HSV-2); vírus da caxumba, vírus da coriomeningite linfocítica ou linfocitária, adenovírus, vírus varicela-zóster (VZV) e vírus Epstein-Barr (EBV). Até mesmo o vírus da imunodeficiência humana (HIV) pode, eventualmente, levar à meningite nas fases iniciais da infecção. Os principais agentes da meningite bacteriana são: Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae. Outros agentes ocasionalmente envolvidos são: Listeria monocytogenes, Enterobacteriaceae, Streptococcus agalactiae e Staphylococcus aureus. Epidemiologia As meningites agudas virais são geralmente de evolução benigna, e as medidas de controle se baseiam na adoção de atividades de higiene, uma vez que mais de 80% dos casos são decorrentes da transmissão fecal-oral, atribuída aos enterovírus. A meningite viral tem distribuição universal e potencial de ocasionar epidemias. A incidência estimada de meningites purulentas bacterianas é de 0,6 a 4/100.000 habitantes nos países em desenvolvimento, variando de acordo com as regiões geográficas e os meses do ano. Os riscos de morbidade e letalidade na meningite bacteriana estão associados a fatores como: idade (recém-nascidos [RNs]); condições socioeconômicas (locais de baixo desenvolvimento), presença de comorbidades e imunodepressão, e etiologia (bacilos Gram-negativos e S. pneumoniae). Manifestações clínicas A tríade clássica das meningites é composta por cefaleia, rigidez de nuca e febre, embora todos os achados sejam encontrados ao diagnóstico somente em cerca de 50% dos casos. Nos casos de meningite bacteriana, a instalação do quadro pode ocorrer entre algumas horas e poucos dias. A meningite purulenta bacteriana, por seu caráter agudo e potencial de mortalidade, deve ser reconhecida e tratada prontamente. Além da tríade clássica, outros achados frequentes são: confusão mental, vômitos e paralisia de nervos cranianos. Sinais focais são observados em 10% a 20% e podem refletir a presença de uma complicação do processo inflamatório (abscesso cerebral, vasculite, empiema subdural ou trombose de seio venoso). Em 30% dos casos, podem ocorrer convulsões. A presença de papiledema bilateral, quando observada, representa o aumento da pressão intracraniana. Algumas condições associadas ao agente etiológico (bactéria ou cepa), à idade, à resposta específica ou a comorbidades, como asplenia e doenças hematológicas, predispõem a quadro septicêmico com vasculite e intenso processo inflamatório, geralmente associado a N. meningitidis e S. pneumoniae. É caracterizado por toxemia grave, com presença e disseminação de hemorragias de pele iniciadas por petéquias, podendo evoluir em minutos ou horas para hipotensão arterial, choque e óbito. Não há como diferenciar clinicamente a meningite bacteriana da meningite viral. Ambas podem cursar com todas as manifestações de irritação meníngea e hipertensão intracraniana. Contudo, nos casos de meningite viral, geralmente o quadro clinico é mais brando e o estado geral está preservado. Exantema, diarreia, artralgias e sintomas respiratórios podem estar presentes, dependendo do vírus envolvido. Diagnóstico O diagnóstico das meningites se baseia no isolamento do agente no LCR. Entretanto, diversos outros parâmetros podem ser utilizados no auxílio ao diagnóstico e na determinação do tratamento empírico até a confirmação por cultura, métodos sorológicos ou de biologia molecular. De modo geral, a punção lombar pode ser realizada sem a necessidade de exames de imagem (tomografia computadorizada [TC] ou ressonância magnética [RM]), exceto nas condições descritas a seguir: Presença de déficit neurológico focal; Histórico de doença neurológica prévia; Crise convulsiva; Presença de papiledema; Alteração do nível de consciência; Imunossupressão. Diagnóstico diferencial As meninges podem ser acometidas por neoplasias, processos autoimunes ou apresentar reação inflamatória a fármacos ou sangue no espaço subaracnóideo. O quadro clínico decorrente é muito semelhante a um processo infeccioso, e tais hipóteses devem sempre ser consideradas nos casos em que não há isolamento em culturas, métodos sorológicos ou de biologia molecular. Tratamento O paciente com meningite aguda deve ser sempre considerado potencialmente grave e deve sempre ser atendido em unidade especializada e com disponibilidade de cuidados intensivos. As primeiras medidas no tratamento das infecções do SNC visam à proteção de vias aéreas e ventilação, tratamento do choque e hipertensão intracraniana, seguidas pela coleta de exames e pela decisão sobre início de antibioticoterapia empírica para meningite bacteriana. Em relação às meningites virais, o tratamento de suporte é, na maior parte dos casos, suficiente para o controle do quadro. Hidratação, uso de antieméticos para controle das náuseas/vômitos e anti- inflamatórios para cefaleia podem ser empregados quando necessários. Em casos decorrentes de infecção por HSV-2 ou VZV, podem-se utilizar aciclovir 10 mg/kg, de 8/8 horas, por 14 dias. A resolução da maior parte dos casos ocorre entre 7 e 10 dias. Fisiopatologia (artigo MENINGITE BACTERIANA, 2018, Vasconcelos et.al) • A Meningite bacteriana é um processo inflamatório das meninges e do espaço subaracnóideo, decorrente da invasão de agentes agressores ao sistema nervoso central (SNC). • O SCN é composto pelo encefálo, tronco encefálico (mesencefálo, ponte e bulbo) e a medula espinhal envolvidos pelas meninges que são compostas por três membranas (dura-máter, aracnóide e pia-máter) juntamente com o líquido cefalorraquidiano. • A dura-máter é a meninge mais externa, espessa e resistente, constituída por dois folhetos, uma camada mais externa aderida aos ossos na região intracraniana, e a outra mais interna próxima ao encefálo e que tem continuidade na medula espinhal. • A aracnóide se localiza entre a dura-máter e a pia-máter, ela quem delimita o espaço subaracnóideo onde é preenchido com o líquido cefalorraquidiano (LCR)6 . • O LCR é um fluido estéril, incolor e aquoso que sustenta o encefálo percorrendo todo o espaço intracraniano, preenchendo os ventrículos, o canal central da medula e os espaços subaracnóides craniano e raquidiano7 . • Já a pia-máter é membrana mais interna, bastante fina, aderida firmemente a superfície do encéfalo e da medula6 . • A inflamação das meninges se origina de duas maneiras, através da corrente sanguínea devido a outras infecções ou por contato direto8 . • Os seres humanos são os únicos hospedeiros da bactéria N. meningitidis, cuja a microbiota é a nasofaringe, essa bactéria se encontra em aproximadamente de 8-25% da população. • Por ser seu habitat natural a sua transmissão é feita de pessoa a pessoa através de secreções respiratórias, como espirro, tosse e outras formas de contato próximo, e os indivíduos infectados assintomáticos ou doentes são as fontes de infecção. • Por razões ainda desconhecidas, o meningococo consegue ultrapassar a barreira faringeana e se disseminar na corrente sanguínea9 . • Após a bactéria colonizar a nasofaringe, ela se fixa ao epitélio local e penetra na mucosa, neste processo invasivo as bactérias lançam enzimas capazes de clivar a molécula de IgA local, agredindo o sistema de defesa do aparelho respiratório, desativando assim os anticorpos do hospedeiro. • Depois de ter vencido a barreira faringeana, as bactérias caem na corrente sanguínea, e o sistema imune do corpo envia glóbulos brancospara combater a infecção. • Os neutrófilos ingerem a bactéria e por meio de várias reações tentam danificar o DNA, esse ataque deveria levar à morte da célula e do invasor, mas não é o que acontece. • A bactéria consegue reparar os danos e segue o seu caminho sem ser afetada pelas células de defesa do organismo. • A cápsula bacteriana é importante para a sobrevivência, pois nelas existem propriedades químicas (enzimas) que irão impedir que os macrófagos a fagocitem7 . • Elas seguem para o Sistema Nervoso Central atravessando a barreira hematoencefálica, assim atingindo o líquido cefalorraquidiano, um lugar desprovido de defesas e rico em nutrientes, o que favorece a sua multiplicação. • Feito isso, as bactérias lançam componentes subcapsulares ativos no caso a endotoxina lipooligossacarídeos, onde as células do sistema de defesa irão produzir interleucinas dando início a resposta imunológica, provocando o quadro clínico principal desta doença, a inflamação das meninges, acompanhado de alterações no LCR10 . • Manifestações Clínicas • As meninges quando sofrem agressões pelos agentes etiológicos, elas inflamam e secretam muco no líquido cefalorraquidiano e devido a esse ganho extra de volume, ele aumenta a pressão entre os espaços epidural, subdural e subaracnóide consequentemente ocasionando compressão encefálica. Com isso deixa claro alguns sinais e sintomas como pirexia repentina, petéquias, cefaleia intensa, náusea, vômito, rigidez de nuca, prostação e confusão mental. As características clínicas são muito variadas e estão relacionadas com a idade, o estágio da doença e com o sistema imunológico do paciente. • Possíveis Complicações :na progressão da doença pode haver delírio e coma, e dependendo da gravidade e dos locais lesionados do encéfalo, o paciente que tem o comprometimento no lobo frontal apresentará convulsões, perda de movimentos, alterações comportamentais e emocionais, a fala e o paladar também poderão ser afetados, se o lobo parietal for afetado haverá perda de sensibilidade e interpretação, se for no lobo temporal haverá perda auditiva, se for o lobo occipital haverá perda da visão e se for no cerebelo haverá perda de equilíbrio; FISIOPATOLOGIA/ FONTE CECIL, MEDICINA INTERNA- Patogênese • São várias as vias pelas quais as bactérias podem ter acesso as meninges: • (1) disseminação hematogênica a partir de um local distante; • (2) ingresso direto a partir do trato respiratório superior ou da pele através de um defeito anatômico (p. ex., fratura de crânio, sequestro erosivo, meningocele); • (3) passagem para o interior do crânio através de vênulas na nasofaringe; • (4) disseminação a partir de um foco contíguo de infecção (infecção dos seios paranasais, vazamento de um abscesso cerebral). • Mas a via mais comum de infecção é a bacteremia por um dos seus agentes mais frequentes: H. influenzae, N. meningitidis e S. pneumoniae. • Normalmente, a bacteremia é iniciada pela adesão de germes de uma cepa infectante à faringe e sua colonização no local. • Essa adesão das cepas à mucosa é facilitada, ampliada porque elas tem a capacidade de produzir proteases que conseguem clivar a imunoglobulina A e dessa forma inativam a defesa de anticorpos locais. • A adesão de BACTERÍAS N. meningitidis às células nasofaríngeas é efetuada por fímbrias ou pili e promovida por danos precedentes, causados por tabagismo ou infecções virais, às células ciliadas • A forma que eles vão proceder, vai depender do tipo da bactéria. • No caso dos meningococos, eles invadem as células da mucosa nasofaríngea por meio de endocitose e são transportados para o lado extracelular, o lado oposto ao lumen, em vacúolos ligados à membrana. • Já O H. influenzae, por outro lado, utiliza os espaços intercelulares ao causar separação das junções de oclusão apicais entre as células epiteliais colunares. • Quando finalmente esses patógenos meníngeos ganham acesso à corrente sanguínea, a sua vida intravascular intravascular é favorecida pela presença de cápsulas polissacarídicas. • Essas capsulas polissacarideas conseguem inibir a fagocitose e ALÉM DISSO conferem resistência à atividade bactericida mediada pelo sistema complemento. • Quando consegue se estabelecer em qualquer parte das meninges, a infecção se estende por todo o espaço subaracnóideo. • A replicação bacteriana consegue prosseguir relativamente sem obstáculos. Isso acontece porque os baixos níveis de imunoglobulinas e de complemento no LCR no início da inflamação meníngea resultam em pouca ou nenhuma atividade bactericida. • Ou seja, o próprio ambiente, a composição do líquido propicia que essa inflamação aconteça; porque a presença de agentes da imunidade nele é escassa. • Durante a meningite, as concentrações de imunoglobulinas no LCR aumentam, mas ainda permanecem relativamente baixas. • Pode acontecer uma bacteriemia secundária após essa infecção meníngea e pode, e essa bacteremia por si própria, contribuir ainda mais para a inoculação contínua desses agentes no LCR. • Componentes bacterianos, ou seja a própria configuração da bactéria, como as paredes celulares ou ácido lipoproteico são agentes importantes de inflamação meníngea. • Esses componentes acabam causando liberação para dentro do espaço subaracnoide de várias citocinas pró- inflamatórias, como interleucina-1 e o fator de necrose tumoral a partir das células endoteliais e meníngeas, macrófagos e microglia. • De alguma forma, as citocinas parecem aumentar a passagem de leucócitos ao ativarem várias famílias de moléculas de adesão. • Essas moléculas de adesão interagem com os receptores correspondentes nos leucócitos. • As citocinas também podem aumentar a afinidade de ligação de uma selectina leucocitária, molécula de adesão do leucócito, para o seu receptor na célula endotelial, e assim pode contribuir ainda mais para o trânsito de neutrófilos para dentro do espaço subaracnoide. • Na meningite bacteriana, os neutrófilos se movem para dentro do espaço subaracnoide, mas não conseguem controlar a infecção bacteriana. • Isso acontece porque as propriedades fagocíticas desses neutrófilos são ineficazes como resultado de uma falta de atividade opsônica e bactericida. • Dentro do espaço subaracnoide, os neutrófilos atuam liberando produtos como prostaglandinas, metaloproteinases da matriz e radicais livres que vão romper as junções ocludentes intercelulares endoteliais e a lâmina basal subendotelial. • O aumento da permeabilidade vascular local da barreira hematoencefálica pode causar edema cerebral que pode ser causado também pelo aumento da pressão do LCR como resultado da obstrução do fluxo de líquido cefalorraquidiano por causa da inflamação intersticial nas vilosidades aracnoides. • O fluxo sanguíneo cerebral, que depende da pressão arterial média, parece estar aumentado nas fases iniciais da meningite, mas subsequentemente pode diminuir substancialmente em alguns pacientes, podendo ser responsável por lesão neurológica. Podem ocorrer regiões de pronunciada hipoperfusão localizada, atribuível à inflamação ou à trombose vascular focal, em pacientes com fluxo sanguíneo normal. • Na fase inicial da meningite bacteriana aguda, também ocorre o comprometimento da autorregulação do fluxo sanguíneo cerebral fazendo o fluxo sanguíneo cerebral corresponder diretamente à pressão arterial média, o que pode ocasionar a hiperperfusão ou hipoperfusão do tecido cerebral. • Quando ocorre a recuperação da autorregulação, é restaurada.a capacidade da vasculatura cerebral de manter um nível constante de perfusão apesar de variações na pressão arterial média. Manifestações clínicas Histórico Clínico • Febre de início agudo, cefaleia generalizada, vômitos e rigidez da nuca são comuns a muitos tipos de meningite. • A maioria dos pacientes com meningite piogênica adquirida na comunidadeteve infecção do trato respiratório superior ou doença febril inespecífica, otite média aguda (ou mastoidite), ou pneumonia. • Em pacientes com doença meningocócica os sintomas de mialgia (dor , dor nas costas e fraqueza generalizada são sintomas frequentes. • A doença costuma progredir rapidamente para confusão, obnubilação e perda de consciência. Ocasionalmente, o início pode ser menos agudo, com sinais meníngeos presentes desde alguns dias até uma semana. Achados Físicos Gerais - O sinal de Brudzinski, é pesquisado com o paciente em decúbito dorsal: o examinador segura com uma mão, por trás, a cabeça do paciente enquanto a outra se apoia sobre o peito do paciente. Com isso, é impelida uma força para a flexão passiva do pescoço, sendo o sinal positivo caso haja flexão espontânea dos quadris e joelhos do paciente. - O sinal de Kerning é pesquisado na posição de decúbito dorsal, com o joelho a 90° do corpo e a perna paralela ao corpo. O examinador, então, realiza a extensão da perna lentamente, sendo o sinal positivo quando há dor e resistência que impeça o movimento a aproximadamente 135° da perna com a coxa. Normalmente são observados sinais de irritação meníngea, com rigidez da nuca, sinal de Kernig e sinal de Brudzinski. * A tríade clássica – febre, rigidez da nuca e alteração de consciência – está presente em apenas 44% dos episódios. * No entanto, uma combinação de dois entre quatro sintomas (cefaleia e a tríade clássica) pode ser encontrada em 95% dos pacientes. • Os achados de meningite podem passar facilmente despercebidos em alguns grupos de pacientes: as lactentes; pacientes obnubilados ou idosos com insuficiência cardíaca ou pneumonia; e indivíduos imunossuprimidos. Esses pacientes podem ter meningite sem sinais meníngeos proeminentes. Em pessoas com essas características, a letargia deve ser investigada cuidadosamente, devem ser procurados sinais meníngeos e é recomendável realizar o exame do LCR, se houver alguma dúvida. • Em pacientes idosos, a rigidez da nuca pode ser difícil de avaliar por causa da osteoartrite no pescoço ou da rigidez dos músculos do pescoço relacionada a distúrbios extrapiramidais. • Quando a rigidez do pescoço é causada por meningite, o pescoço resiste à flexão mas pode ser rodado passivamente de um lado ao outro; com doença da coluna cervical, no entanto, a resistência é observada em todas as direções do movimento do pescoço. A presença de erupção cutânea de tipo petequial ou equimótica em um paciente com sinais meníngeos indica quase sempre infecção meningocócica e requer pronto tratamento em virtude da rapidez com que essa infecção pode evoluir. • Raramente ocorrem lesões petequiais ou equimóticas extensas na meningite causada pelos outros agentes. • Habitualmente, ao menos uma ou duas das lesões desses pacientes apresentam características de púrpura purulenta, sendo possível reconhecer estafilococos à coloração pelo Gram. No verão, a meningite asséptica viral pode produzir sinais meníngeos, lesões maculosas e petequiais e pleocitose de várias centenas de células no LCR, às vezes com neutrófilos predominando na fase inicial. • Septicemia meningocócica fulminante pode causar hemorragia nas glândulas suprarrenais ocasionando a síndrome de Waterhouse-Friderichsen, condição caracterizada por início súbito de uma doença febril, grandes hemorragias petequiais nas mucosas e na pele, colapso cardiovascular e coagulação intravascular disseminada. • Em pacientes com fraturas da base do crânio, presença de rinorreia do LCR, equimoses periorbitais, hematomas atrás da orelha (sinal de Battle), hemotímpano, ou sangue no canal auditivo externo são fatores de risco para o desenvolvimento de uma fístula dural e meningite bacteriana. A meningite complicando procedimentos neurocirúrgicos pode ter início insidioso e ser difícil de distinguir das alterações de consciência e dos sinais de irritação meníngea esperados no período pós-operatório. Entretanto, febre ou obnubilação prolongadas são critérios de indicação de exame de LCR. Achados Neurológicos e Complicações As complicações neurológicas em pacientes com meningite bacteriana tratada de forma inadequada podem ser graves e incapacitantes. • - Alterações dos nervos cranianos, que afetam principalmente o terceiro, quarto, sexto ou sétimo nervos ocorrem em 5% a 10% dos adultos com meningite adquirida na comunidade e costumam desaparecer rapidamente depois da recuperação. • - Perda auditiva neurossensorial persistente ocorre em 10% das crianças com meningite bacteriana; outros 16% têm perda auditiva condutiva transitória. • Convulsões ocorrem em 20% a 30% dos pacientes e podem resultar de causas reversíveis (febre alta ou hipoglicemia em lactentes; neurotoxicidade da penicilina quando em grandes doses administradas por via intravenosa em pacientes com insuficiência renal) ou, mais frequentemente, de lesão cerebral focal relacionada a infarto e hipoperfusão arterial, trombose venosa cortical ou edema e cerebrite focais. • O aumento da pressão do LCR, que pode ser causado por edema cerebral ou hidrocefalia, está associado a: convulsões; vômitos; disfunção do sexto e do terceiro nervos; reflexos alterados; rebaixamento do nível de consciência ou coma; pupilas dilatadas e pouco reativas; a resposta de Cushing de postura descerebrada, hipertensão, bradicardia e respiração irregular • Sinais cerebrais focais (principalmente hemiparesia, disfasia, deficiência no campo visual e desvio do olhar conjugado) ocorrem em aproximadamente um terço dos adultos com meningite bacteriana adquirida na comunidade. Esses sinais podem se desenvolver por oclusão arterial ou venosa. Além disso, a velocidade do fluxo sanguíneo no cérebro podeestar diminuída em pacientes com aumento de pressão intracraniana, o que pode acarretar disfunção neurológica temporária ou duradoura. Tratamento - A antibioticoterapia empírica deve ser iniciada logo após a punção lombar e coleta de sangue para hemocultura de preferência. É recomendado iniciar antes ou com primeira dose do antibiótico, corticoterapia com Dexametasona 10mg, IV, 6/6h por 4 dias, o que irá diminuir a inflamação do SNC e reduzir os danos neurológicos secundários. Com a identificação do agente específico, a antibioticoterapia vai ser modificada: Neisseria meningitidis: duração de 7 a 10 dias Penicilina cristalina, 250–400.000 U/kg/dia (até 24 milhões U/dia), 4/4h Ampicilina, 200-400 mg/kg (até 12 g/dia), 6/6h Alergia a penicilina: Cloranfenicol Haemophilus influenzae: Ceftriaxone, 100mg/kg/dia (até 4 g/dia), 12/12h, de 7 a 10 dias Streptococcus pneumoniae: duração de 10 a 14 dias Penicilina cristalina, 250–400.000 U/kg/dia (até 24 milhões U/dia), 4/4h Ceftriaxone, 100mg/kg/dia (até 4 g/dia), 12/12h Pneumococo-resistente: Vancomicina, 40 mg/kg/dia (2g/dia), 6/6h Enterobactérias: Ceftriaxone, 100mg/kg/dia (até 4 g/dia), 12/12h, de 14 a 21 dias Listeria monocytogenes: Ampicilina, 200-400 mg/kg (até 12 g/dia), 6/6h, por 21 dias. O paciente deve ficar em isolamento respiratório no caso de hemófilo ou meningococo. Outras medidas são: Hidratação como soro fisiológico ou ringer lactato; Elevar cabeceira da cama; Nos casos de meningite bacteriana por meningococo ou hemófilo, a quimioprofilaxia é importante para evitar disseminação e deve ser iniciada até 24h de preferência. Hemófilos: Rifampicina, 20 mg/kg para crianças e 600 mg/dia para adultos, VO, 1x ao dia, por 4 dias. Adultos da mesma casa e que haja pelo menos 1 criança com < 4 anos não vacinada; Crianças que convivem em ambientes coletivos (creche, orfanato) e tiveram contato; Todos que mantiveram contato íntimo com o caso índice. Meningococo: Rifampicina, 10 mg/kg para crianças e 600 mg/dia para adultos, VO, 12/12h por 2 dias. Alternativa: Ciprofloxacina 500mg, VO ou Ceftriaxone 250 mg, IM dose única em ambos. Aqueles que moram na mesma residência;Relação intima com contato com as secreções orais; Colegas de classe de escola, creche ou berçário e adultos que tenha mantido contato na mesma instituição; Profissionais de saúde que entraram em contato direto com a secreção do pacient
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