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Objetivo 01: Fisiopatologia e diagnóstico da fraqueza muscular. Fraqueza muscular ou falta de força é definida como redução da força em um ou mais músculos. De modo geral, é um sintoma que de forma subjetiva leva a pessoa a ter um sentimento de fraqueza, que nem sempre é possível medir esta perda de força e, se por acaso conseguir identificar a perda, denomina-se como forma concreta. Também cabe destacar, que esta fraqueza pode se apresentar generalizada ou localizada, ou seja, de um lado do corpo, em membros específicos, etc. Normalmente esta sensação subjetiva de fraqueza é generalizada e associada a doenças infecciosas como a mononucleose infecciosa e a influenza. Porém, também a casos que esta perda de força ocorra em apenas uma área do corpo (fraqueza localizada ou focalizada), podendo ser seguida de um derrame cerebral, exacerbação da esclerose múltipla ou trauma à raiz de um nervo motor ou de um nervo periférico. 1. O principal centro cortical é a área motora primária, localizada no giro pré- central, que envia o estímulo inicial para a execução do movimento. É o chamado neurônio motor superior (NMS), ou primeiro neurônio, responsável por emitir impulsos para a unidade motora (neurônio motor inferior + fibras musculares). 2. Os prolongamentos do NMS continuam por tratos descendentes no funículo anterior da medula (tratos corticoespinais), até a raiz anterior do nervo espinal. 3. Daí surge o neurônio motor inferior (NMI), ou segundo neurônio, cujo corpo celular está na porção anterior da substância cinzenta da medula. O NMI segue pelo nervo periférico, se distribui pelas fibras musculares e inerva o músculo na junção neuromuscular (JEC). 4. Lesões em qualquer parte desse trajeto podem gerar fraqueza muscular – mas as características clínicas são diferentes de acordo com a localização da lesão. Na junção neuromuscular, a acetilcolina (ACh) é sintetizada na terminação nervosa motora e armazenada em vesículas (quanta). Quando um potencial de ação se propaga por um nervo motor e alcança a terminação nervosa, a ACh é liberada a partir de 150 a 200 vesículas e se combina com os receptores da acetilcolina (AChRs), distribuídos densamente nos picos das pregas pós-sinápticas. O AChR é formado por cinco subunidades (2α, 1β, 1δ e 1γ ou ε) dispostas ao redor de um poro central. Quando a ACh se combina com os locais de ligação no AChR, o canal no AChR se abre, permitindo a entrada rápida de cátions, sobretudo sódio, o que produz a despolarização na região da placa motora da fibra muscular. Se a despolarização for suficientemente intensa, ela dá início a um potencial de ação que se propaga ao longo da fibra muscular, desencadeando a contração do músculo. Tal processo é rapidamente interrompido pela hidrólise da ACh pela enzima acetilcolinesterase (AChE), presente no interior das pregas sinápticas, e por difusão da ACh do receptor. A quantidade de ACh liberada por impulso normalmente diminui na atividade repetitiva (denominada exaustão pré-sináptica). No paciente miastênico, a reduzida eficiência da transmissão neuromuscular associada à exaustão normal resulta na ativação de um número cada vez menor de fibras musculares por impulsos nervosos sucessivos e, por conseguinte, aumenta a fraqueza ou fadiga miastênica. Esse mecanismo também é responsável pela resposta decrescente à estimulação nervosa repetitiva observada aos exames eletrodiagnósticos. Os estudos comprovam que após a idade de 50 anos o volume de massa muscular tem uma queda em torno de 0,5% para 2% ao ano. Esta perda ocorre quando o mecanismo atrelado ao metabolismo das proteínas não estão bem, e como em seres humanos idosos, mesmo saudáveis, o volume de proteína muscular não são o mesmo dos jovens adultos, é inevitável esta perda de RNA responsável pelos principais mecanismos de tradução de proteína. Com a idade mais avançada, a capacidade de capturar aminoácidos do sangue durante e após a alimentação parece comprometido, provavelmente como um baixo resultado de sensibilidade e capacidade de sinalização das moléculas do músculo anabólico, que diante desta dificuldade em detectar a presença de aminoácidos, demora para ativar os processos de iniciação e alongamento da síntese protéica. E o aumentando da quantidade de aminoácidos no sangue não pode superar esta resistência anabólica. Cabe também salientar que a insulina, em síntese, tem pouca participação no estímulo da proteína muscular, porém é de grande importância para inibir a quebra de proteína nos músculo. Objetivo 02: Diferenciar doença do neurônio motor superior do inferior: O neurônio motor caracteriza-se pela distribuição na região anterior da medula e tronco cerebral desempenhando papel de integração de impulsos de origem do sistema nervoso central e atividade muscular. Para estabelecer determinada função, torna-se necessário uma estrutura aprimorada, de alta atividade metabólica, constituída de um corpo celular, axônio extenso com ramificações dendritícas frequentes sustentadas por um citoesqueleto e porção terminal integrado a junção neuromuscular e músculo esquelético. O corpo celular apresenta alta atividade oxidativa mitocondrial necessárias para a produção de enzimas e outras proteínas responsáveis pela manutenção da integridade funcional, eliminando resíduos tóxicos a célula, estruturando o citoesqueleto para garantia de um transporte axonal adequado, garantindo a neuroproteção diante do stress metabólico. O axônio constitui-se de fibras grossas mielinizadas, de rápida condução, transmitindo um impulso originado por input excitatório glutamatérgico. As patologias que afetam o neurônio motor caracterizam-se por causarem apoptose neuronal, isto é dano na estrutura funcional celular, seja por alterações do DNA ou por stress funcional, ou necrose com agressão direta ao neurônio motor como na poliomielite, além disto, nota-se que as patologias diferem-se na variabilidade de acometimento anatômico, com seletividade por locais e organelas especificas, reforçando as várias possibilidades etiológicas. Os NMS regulam a atividade dos NMI por meio do envio de mensagens químicas (neurotransmissores). A ativação dos NMI possibilita a contração dos músculos voluntários do corpo. Os NMI no tronco cerebral ativam músculos da face, boca, garganta e língua. Os NMI na medula espinal ativam todos os outros músculos voluntários do corpo, tais como aqueles dos membros (superiores e inferiores), tronco, pescoço, bem como do diafragma. Conforme o local topográfico de envolvimento, surgem sintomas e sinais característicos, que possibilitam caracterização clínica. Síndrome do Neurônio Motor Superior Decorre de lesão cortical ou das vias centrais relacionadas com a motricidade: trato córtico-espinal e trato retículo-espinal bulbar sendo seu reconhecimento feito a partir de sinais e sintomas bem definidos. Uma lesão piramidal costuma acometer grupamentos musculares mais extensos, pois um feixe nervoso central influência vários grupos de neurônios periféricos. Assim, uma lesão central costuma levar a fraqueza proporcionalmente mais difusa do que uma lesão periférica. Na fase aguda de uma lesão piramidal temos uma fraqueza tanto proximal quanto distal, que com o tempo vai recuperando na região axial e proximal dos membros, porém sem grande melhora nos segmentos mais distais, pelo fato de haver maior representação cortical dos segmentos distais e por haver outros tratos que também são responsáveis pela inervação proximal, como o trato retículo espinal e vestíbulo-espinal, além de essa ser bilateral. As causas podem ser agudas ou subagudas: Agudas: Acidente Vascular Encefálico; Trauma; Subagudas: Esclerose Múltipla; Esclerose Lateral Amiotrófica; Processos Expansivos (tumores, abcessos bacterianos, tuberculose, neurotoxoplasmose); Quadro clínico Fraqueza muscular Paresiaou Plegia; Trofia Muscular Hipotrofia; Reflexos Em lesões agudas – hiporreflexia/arreflexia no início que evolui para hiperreflexia; Tônus Em lesões agudas – hipotonia no início que evolui para hipertonia; Sinal de Babinsk presente, caracterizando uma hiper-reflexia tendinosa; Reflexos cutâneos abdominais e cremasterianos ausentes; Clônus – presença de contrações musculares repetidas após estiramento do tendão de aquiles ou patelar. No caso de uma síndrome de NMS, a lesão pode estar no córtex, em alguma região subcortical, no tronco cerebral ou na medula: Lesão cortical ou subcortical: monoparesia/hemiparesia sem atrofia (fraqueza em um membro); monoplegia/hemiplegia; distúrbios da fala (compreensão ou expressão); dor de cabeça; quadros convulsivos; alterações de comportamento. Lesão de tronco: sintomas de nervos cranianos (diplopia, ptose, fraqueza ou paralisia facial, distúrbios visuais e auditivos, dificuldade de deglutição) associados a sintomas motores/sensitivos/cerebelares contralaterais; incoordenação em um lado do corpo (envolvimento de fibras cerebelares); sintomas autonômicos (sudorese, taquicardia, hipotensão). Lesão nos tratos medulares: fraqueza bilateral ou localizada em um dos membros; dor nas costas; distúrbios da função intestinal e da bexiga; alterações de sensibilidade (dormência, formigamento, alodinia, queimação). Síndrome do Neurônio Motor Inferior O Sintoma principal da Síndrome do Neurônio Motor Inferior (NMI) é a fraqueza, que pode ser acompanhada de fadiga e dor muscular (mialgia). A diferenciação clínica da síndrome motora periférica da central requer a observação e comparação de alguns aspectos clínicos peculiares, como: o padrão de reflexos, o tônus e o trofismo muscular, a presença ou não de fasciculação, o tipo e o local da fraqueza, além de outros sinais associados. Quando observamos um quadro de fraqueza localizada ou restrito ao território de inervação de um nervo periférico, esse quadro é indicativo de síndrome motora periférica. Quando existe lesão de um motoneurônio, apenas a musculatura dependente de sua inervação é que é acometida, podendo-se inclusive individualizar os músculos afetados. Em pacientes com lesão motora periférica existe uma marcha parética típica, a marcha escarvante, encontrada em alguns tipos de neuropatias e lesões de nervo periférico do membro inferior. Causas Neuropatia Motora Multifocal; Esclerose Lateral Amiotrófica; Quadro clínico Fraqueza muscular Paresia ou Plegia; Trofia muscular Atrofia (mais que na síndrome piramidal) Reflexos Hiporreflexia ou Arreflexia Tônus Hipotonia muscular Uma vez firmado o diagnóstico de síndrome do NMI, podemos progredir no diagnóstico topográfico tentando identificar o segmento da unidade motora acometido pela doença, observando-se os aspectos clínicos peculiares da lesão de cada região. Deve-se considerar o tempo de evolução dos sintomas, tônus muscular, reflexos, atrofia e alterações da sensibilidade. Em relação às síndromes do NMI, temos: Lesão no corno anterior da medula: pode combinar sinais de NMS e NMI (como ocorre na esclerose lateral amiotrófica); dor pode estar presente (relacionadas a cãibras e rigidez); fasciculações; fraqueza bulbar (alteração da fala, dificuldade em deglutir). Lesão da raiz nervosa: dor local e/ou irradiada (geralmente por compressão); alterações sensitivas relacionada a um dermátomo (faixa de pele inervada por um segmento medular); dificilmente causa fraqueza acentuada (compensado por segmentos medulares adjacentes). Lesão de plexo nervoso: pode envolver um ou mais nervos periféricos, poupando outros; fraqueza associada a distúrbios da sensibilidade (dormência, formigamento); dor pode estar presente; fraqueza geralmente em um membro. Lesão de nervo periférico: sinais e sintomas associados à distribuição do nervo (partes isoladas de um membro); dor associada (compressão); alteração sensitiva significativa (polineuropatias, ex: diabetes mellitus); úlceras neurotróficas podem estar presentes (nos casos crônicos); apresentação pode ser em vários nervos (como em algumas vasculites). Lesão da junção neuromuscular: fraqueza proximal; curso flutuante ao longo do dia; fadiga muscular relacionada ao movimento; fraqueza bulbar pode estar associada (alteração da fala, dificuldade em deglutir). Lesão muscular: é uma patologia dentro do próprio músculo, que entra na lista de diagnósticos diferenciais para déficit de NMI. Os sinais são: fraqueza proximal, simétrica e progressiva; dor muscular (principalmente nas etiologias inflamatórias); sensibilidade normal; geralmente associado a causas inflamatórias, metabólicas ou congênitas (ex: distrofia muscular de Duchenne). Objetivo 03: Diagnóstico diferencial de fraqueza muscular e doenças da junção neuromuscular O diagnóstico diferencial da fraqueza muscular é muito importante para prática clínica visto que suas causas são inúmeras: como acometimento do neurônio motor superior, acometimento de nervos periféricos, acometimento da junção mioneural e miopatias. Para determinar a origem da fraqueza muscular é indispensável a realização de um exame clínico completo, incluindo o exame neurológico. Este tipo de fraqueza localizada pode ter várias causas comuns, incluindo doenças metabólicas, neurológicas e musculares primárias, além de distúrbios tóxicos, que são agrupadas em metabólicas, neurológicas, doenças musculares primárias, tóxicas, entre outras: a) Metabólicas: diabetes; doença de Addison; tireotoxicose. b) Neurológicas: derrame cerebral (a fraqueza costuma ser focalizada ou localizada); esclerose múltipla (pode ser focalizada); esclerose lateral amiotrófica (focalizada, evoluindo para generalizada); paralisia cerebral (fraqueza localizada, associada com espasticidade); síndrome de Guillain-Barre; atrofia muscular peroneira; doença de Werdnig-Hoffmann (atrofia muscular espinal). c) Doenças Musculares Primárias: distrofia muscular (Duchenne); distrofia muscular de Becker; distrofia miotônica; dermatomiosite. d) Tóxicas: intoxicação por fosfato orgânico (inseticidas, gás neurotóxico); intoxicação paralizante por mariscos; botulismo. e) Outras: miastenia grave (distúrbio auto-imune que interfere na transmissão dos impulsos nervosos para os músculos); poliomielite (uma doença infecciosa que danifica os neurônios motores); paralisia periódica (relacionada ao potássio, como a paralisia periódica hipocalêmica). As principais Síndromes Clínicas que causam fraqueza muscular são: Corno anterior da medula Causas Poliomielite Causada por um vírus neurotrópico que ataca as colunas de motoneurônios do corno anterior, acometendo desigualmente os grupamentos musculares; Quadro clínico Fraqueza predominantemente focal e assimétrica; Infecções leves – acometimento de músculos com funções semelhantes e sinérgicas; Infecções graves – todo o membro (ou mais de um membro) pode estar acometido; Não existe alteração da sensibilidade; Reflexos miotáticos estão diminuídos ou ausentes; Hipotonia flácida dos músculos da região acometida; Atrofia muscular é proeminente com o passar do tempo. Raiz anterior da medula Ao saírem da medula, os motoneurônios fazem em grupo formando feixes denominados radículas nervosas, as quais se juntam, formando as chamadas raízes ventrais. Lesões desse segmento da unidade motora causam um quadro muito semelhante ao encontro das lesões do corno anterior. Causas Hérnias de disco Lateral – têm o material protuso dos discos intervertebrais passando lateralmente pela medula e comprimindo a raiz anterior, que causa dor radicular precocemente; Central – a dor radicular aparece mais tardiamente; Quadro clínico Faqueza focal; Hipo ou arreflexia; Hipotonia; Atrofia; Não se encontra fasciculaçõesnem alterações da sensibilidade. Neuropatia periférica É o termo genérico que engloba os distúrbios dos nervos periféricos, existindo uma gama muito grande de doenças que causam esse quadro, sendo essencial, assim, que se investigue sua etiologia. Causas Mononeuropatia – apenas um nervo é atingido (traumatismo direto e compressão são causa comuns); Mononeuropatia múltipla – acomete mais de um nervo de modo multifocal e aleatório (diabetes é causa comum); Polineuropatias – processo patológico gradativo, simétrico e de predomínio distal dos nervos periféricos, dando o clássico padrão anestésico em “bota e luva” (neuropatia diabética, carências vitaminicas, como a do alcoolismo.) Quadro clínico Fraqueza restrita aos músculos supridos pelo nervo lesado; Hipotonia ou arreflexia com a evolução do quadro, atrofia proeminente; Não se observa fasciculação. O dado mais importante no diagnóstico de uma neuropatia é a alteração de sensibilidade. Assim, em termos práticos a presença de uma neuropatia periférica é surgida por uma fraqueza localizada ao território de um nervo periférico, associada a déficit sensitivo do mesmo segmento. SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ: acomete sistema nervoso periférico (raízes e nervos); forma desmielinizante clássica cursa com fraqueza e arreflexia distal, de início simétrico, de caráter ascendente e progressivo (<4 semanas); parestesias, hipoestesias e dificuldade respiratória podem estar associados. Junção neuromuscular: As doenças que acometem esse segmento da unidade motora são geralmente sistêmicas, havendo por consequência uma fraqueza de distribuição difusa. MIASTENIA GRAVIS: acomete junção neuromuscular; autoimunidade contra os receptores de acetilcolina musculares localizados na placa motora; pode cursar com fraqueza muscular (fadiga) que melhora com o repouso, alterações oculares como ptose e diplopia (fácies miastênica), alteração na fala, dificuldade para deglutir, engasgos, perda do controle dos músculos faciais, fraqueza nos membros inferiores e superiores, dificuldade para sustentar a cabeça, e dificuldade para respirar; sensibilidade e reflexos geralmente são normais. SÍNDROME DE EATON-LAMBERT: acomete a junção neuromuscular; autoimunidade contra os canais de cálcio pré-sinápticos da junção neuromuscular; cursa com fraqueza proximal inferior; acometimento de membros é preferencialmente proximal e simétrico; na maioria dos casos está associada à neoplasia, principalmente ao carcinoma de pequenas células pulmonares. Músculos Todos os estados patológicos que acometem primariamente as fibras estriadas esqueléticas. A maioria das doenças que acometem os músculos é sistêmica e, frequentemente, causam quadro de fraqueza global. Dores musculares contínuas e de intensidade moderada podem sugerir doença muscular inflamatória, polimiosite ou dermatomiosite, apesar de também ocorrerem em doenças osteoarticulares e neurológicas; caracteristicamente, nas miopatias, a dor piora com a palpação do músculo. Uma dor desencadeada por exercício é sugestiva de um defeito metabólico de utilização dos substratos energético, como defeitos de armazenamento do glicogênio ou lipídico. Causas Metabólicas; Endócrinas; Inflamatórias; Congênitas; Quadro clínico Distribuição proximal da fraqueza; Hipotonia; Preservação do volume muscular e relativa preservação dos reflexos (podem estar um pouco diminuídos); Podem ser encontradas alterações sensitivas ou fasciculação. Os outros distúrbios que causam fraqueza da musculatura craniana e/ou somática incluem as SMC não autoimunes discutidas antes, miastenia induzida por fármacos, síndrome miastênica de Lambert-Eaton (SMLE), neurastenia, hipertireoidismo (doença de Graves), botulismo, lesões expansivas intracranianas, distrofia oculofaríngea, miopatia mitocondrial (síndrome de Kearns-Sayre, oftalmoplegia externa progressiva). O tratamento com penicilamina (usada na esclerodermia ou na artrite reumatoide) pode resultar em MG autoimune verdadeira, mas a fraqueza geralmente é leve, e a recuperação ocorre semanas ou meses após a suspensão do medicamento. Os antibióticos aminoglicosídeos ou a procainamida podem causar exacerbação da fraqueza em pacientes miastênicos; doses muito altas podem causar fraqueza neuromuscular em indivíduos normais. A SMLE é um distúrbio pré-sináptico da junção neuromuscular que pode causar fraqueza semelhante à da MG. Os músculos proximais dos membros inferiores são os mais afetados, porém outros músculos também podem ser acometidos. Os achados nos nervos cranianos, como ptose palpebral e diplopia, ocorrem em até 70% dos pacientes e se parecem com os da MG. Entretanto, os dois distúrbios são, em geral, rapidamente distinguidos, já que os pacientes com SMLE têm reflexos diminuídos ou abolidos e apresentam alterações autonômicas, como boca seca e impotência. A estimulação nervosa produz resposta inicial de baixa amplitude e, com baixas frequências de estimulação repetida (2 a 3 Hz), respostas decrescentes semelhantes àquelas da MG; entretanto, na presença de frequências altas (50 Hz), ou após a realização de exercício, ocorrem respostas incrementais. A SMLE é causada por autoanticorpos dirigidos contra os canais de cálcio tipo P/Q nas terminações nervosas motoras, detectados por radioimunoensaio em cerca de 85% dos pacientes com SMLE. Esses autoanticorpos levam à redução da liberação de ACh a partir das terminações nervosas. Muitos pacientes com SMLE apresentam um tumor associado, sendo o mais comum o câncer de pulmão de pequenas células, que se acredita ser o fator desencadeante da resposta autoimune. O diagnóstico de SMLE pode indicar a presença do tumor muito antes do que seria detectado, permitindo sua remoção precoce. O tratamento da SMLE envolve plasmaférese e imunossupressão, semelhante à MG. A 3,4-diaminopiridina (3,4-DAP) e a piridostigmina podem ser úteis para os sintomas. A 3,4-DAP atua bloqueando os canais de potássio, o que resulta em despolarização prolongada das terminações nervosas motoras e, consequentemente, aumento na liberação de ACh. A piridostigmina prolonga a ação da ACh, permitindo interações repetidas com os AChRs. O botulismo é causado por toxinas bacterianas potentes, que são produzidas por qualquer uma das oito cepas diferentes de Clostridium botulinum. As toxinas clivam enzimaticamente proteínas específicas, que são essenciais para a liberação de ACh da terminação nervosa motora, interferindo, desse modo, na transmissão neuromuscular. Com maior frequência, o botulismo é causado pelo consumo de alimentos inadequadamente preparados contendo toxina. Raras vezes, os esporos quase ubíquos do C. botulinum germinam em feridas. Nos lactentes, os esporos podem germinar no trato gastrintestinal (GI) e liberar toxina, causando fraqueza muscular. Os pacientes apresentam fraqueza bulbar semelhante à miastenia (p. ex., diplopia, disartria, disfagia) e ausência de sinais e sintomas sensoriais. A fraqueza pode se generalizar para os membros, sendo possível haver insuficiência respiratória. Os reflexos estão presentes no início, mas podem diminuir com a progressão da doença. A consciência mantém-se normal. Os achados autonômicos incluem íleo paralítico, constipação, retenção urinária, pupilas dilatadas ou pouco reativas e boca seca. A demonstração da toxina no soro por bioensaio é definitiva, porém os resultados em geral levam um tempo relativamente longo e podem ser negativos. Os estudos de estimulação nervosa revelam achados de bloqueio neuromuscular pré-sináptico com redução dos potenciais de ação musculares compostos (PAMC), que aumentam de amplitude após estimulação repetitiva de alta frequência. O tratamento inclui suporte ventilatório e cuidados de suporte hospitalar agressivos (p. ex., nutrição, profilaxia para trombose venosa profunda), de acordo coma necessidade. Para que seja efetiva, a antitoxina deve ser administrada assim que possível e pode ser obtida junto aos Centers for Disease Control and Prevention. Dispõe-se de uma vacina preventiva para indivíduos que trabalham em laboratórios ou outros indivíduos altamente expostos. Neurastenia é o termo histórico para uma síndrome de fadiga semelhante à miastenia sem origem orgânica. Esses pacientes podem se apresentar com sintomas subjetivos de fraqueza e fadiga, mas o teste muscular em geral revela a “liberação brusca” ou “fraqueza voluntária” típicas dos distúrbios não orgânicos; a queixa de fadiga nesses pacientes significa mais cansaço ou apatia do que redução da força muscular com esforço repetitivo. O hipertireoidismo é facilmente diagnosticado ou excluído pelas provas de função tireoidiana, que devem ser realizadas como rotina nos pacientes com suspeita de MG. As anormalidades da função tireoidiana (hiper ou hipotireoidismo) podem aumentar a fraqueza miastênica. Uma diplopia que simule os sintomas da MG ocasionalmente pode ocorrer em razão de lesão expansiva intracraniana que comprima os nervos para os MEO (p. ex., meningioma da crista esfenoidal), mas a ressonância magnética (RM) de crânio e órbitas costuma revelar a lesão. A oftalmoplegia externa progressiva é um distúrbio raro que resulta em fraqueza dos MEO, a qual pode estar associada à perda de força dos músculos proximais dos membros e outras manifestações sistêmicas. A maioria dos pacientes com esse distúrbio apresenta distúrbios mitocondriais detectáveis por biópsia muscular.
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