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Resumo e respostas - Clássicos

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Resolução dos exercícios de orientação para o estudo dos Clássicos do Pensamento econômico
Prof. Pedro Garcia Duarte
0I. Alves ([1981] 1994)
1) O que é ciência e qual sua relação com o senso comum?
2) Em que tipo de situação aparece o conhecimento? Como enunciarmos com clareza um problema?
3) O que buscam a ciência e o senso comum? Por quê?
4) O que é um modelo? Qual é a sua função?
5) A que se deve o rigor de uma ciência? Por que é mais fácil prever nas ciências exatas do que nas humanas? E na Economia? Quais são as implicações para política?
1) A ciência é uma especialização do senso comum que é permeada por fatos e observações, ao invés de sentimentos e moral e etc.
2) O conhecimento aparece em situações-problema: sem o surgimento de crise, ninguém pararia para refletir sobre algo e produzir conhecimento. Enuncia-se com clareza um problema primeiramente indicando de que partes ele se compõe, ou seja, analisando-o/tomando ciência de todas suas implicações. Depois é sugerível representar o problema graficamente, pois aí podem ser percebidas facetas antes não detectadas do mesmo através da fala ou da escrita.
3)Tanto a ciência quanto a senso comum buscam a ordem, que é uma necessidade do ser humano a fim de melhorar a vida e aumentar a chance de sobrevivência.
4)Um modelo é um artefato utilizado pelo cientista, construído a partir de conceitos, para simplificar seu objeto de estudo.
5) O rigor de uma ciência baseia-se em sua objetividade. É mais fácil prever nas ciências exatas do que nas humanas, pois primeiro estuda-se objetos "de rotina", que sempre agem da mesma forma, por isso é possível prever o movimento do sol daqui a 100 anos. Já o objeto do segundo, o homem, é volúvel (ele tem liberdade), e não age de maneira premeditada sempre. Há também um importante complicador que é a inexatidão e a falha desse objeto de estudo. Mesmo assim, a economia, tenta generalizar em leis as tendências de ações normais do homem. Para a política, entender os incentivos das ações humanas é necessário, pois se toma decisões mais coerentes a realidades das pessoas, facilitando assim o exercício do poder.
Marshall
Economia política ou economia é um estudo da humanidade nos aspectos cotidianos da vida, e serve para examinar a ação individual e social em seus elementos mais estreitamente ligados à obtenção e ao uso dos elementos materiais do bem estar.
Assim, Marshall é materialista e acredita que a economia estuda as causas do bem estar material.
A perdição do pobre é a sua pobreza. Com excesso de trabalho e insuficiência de instrução, cansados e deprimidos, sem sossego e sem lazer, não têm oportunidade de aproveitar o melhor de suas capacidades mentais. É necessário haver classes baixas, ou seja, é necessário haver um grande número de pessoas condenadas desde o berço ao trabalho rude para prover os requisitos de uma vida refinada e culta para os outros?Seria hoje, com a difusão da educação, necessário haver classes baixas? Todos deveriam nascer hoje com uma justa oportunidade de levar uma vida culta, livre dos trabalhos exclusivamente mecânicos, e esta questão está sendo impulsionada pela crescente conscientização da época.
O termo "concorrência" adquiriu um sentido pejorativo, e veio a implicar certo egoísmo e indiferença pelo bem estar dos outros. É certo que há um egoísmo menos deliberado nas formas antigas de indústria do que nas modernas, mas também há um altruísmo menos deliberado. É a deliberação (cálculo, raciocínio, reflexão) e não o egoísmo a característica da era moderna. O homem não é mais desonesto/egoísta do que foi, mas é a decisão de ser algo ou não é o que marca a época moderna.Em um mundo no qual todos os homens fossem perfeitamente virtuosos, a competição não teria lugar, mas o mesmo aconteceria com a propriedade particular e qualquer direito privado. O termo concorrência não é muito adequado para designar as características especiais da vida industrial da época moderna. Precisamos de uma expressão que não indique quaisquer qualidades morais, boas ou más, mas que indique o fato indiscutível de que o comércio e a indústria modernos são caracterizados por maior confiança do indivíduo em si mesmo, mais previsão e mais reflexão e livre escolha. Não há para isto uma expressão adequada, a melhor encontrada é liberdade econômica.
Em relação aos cientistas econômicos: as variedades de mentalidade, de temperamento, de preparação e de oportunidades os levam a trabalhar em diferentes caminhos, e a dedicar a sua atenção a diferentes partes do problema.E no comércio,como em outras atividades, é ele influenciado por suas afeições pessoais, por suas concepções de dever e respeito pelos ideais elevados.O motivo mais constante para a atividade de negócios é o desejo de remuneração, de recompensa material do trabalho. Essa remuneração poderá ser gasta egoística ou altruisticamente, para fins nobres ou mesquinhos, e nisto influi a variedade da natureza humana.
O que fez a ciência econômica progredir foi a existência de quantidade monetária, assima exata e determinada medida em dinheiro permitiu à economia avançar sobre as outras ciências sociais.A vantagem que a economia leva sobre os demais ramos da ciência social parece decorrer que o seu campo específico de trabalho dá maior oportunidade de aplicação aos métodos precisos.O economista estuda os estados de espírito através de suas manifestações, os efeitos dos motivos das pessoas em agir sob determinada forma, e se acha que tais estados oferecem à ação incentivos de força igual, ele os trata, à primeira vista, como iguais para seus fins. O economista não fica jugando as suas preferências como nobres ou não, ele só vê as manifestações das suas preferências. Considera dois prazeres iguais, em quaisquer circunstâncias. Exemplo: os prazeres que duas pessoas sentem com fumo não pode ser diretamente comparados, se os desejos de obter qualquer um dos prazeres levem os indivíduos em circunstâncias similares a trabalhar cada um em uma hora extraordinária e que pagam um xelim (moeda) por esse prazer, podemos afirmar que os desejos que despertam são incentivos igualmente fortes para indivíduos em idênticas circunstâncias.
Para fazer ciência, o economista com relação aos dados, coletá-los, ordená-los, interpretá-los e tira conclusões deles.
O lado da vida de que a economia mais se ocupa especialmente é aquele em que a conduta do homem é mais deliberada e onde lhe ocorre, com mais frequência, ponderar os prós e contras de uma determinada ação antes de executá-la. Assim obtêm-se algumas respostas a questões como: por que ganhar dinheiro? De acordo com o princípio do utilitarismo, para atingir fins, ou cumprir seus desejos ou porquese gosta de trabalhar (prazeres e dores movem sua ação). Será sempre verdade, entretanto, que a maior parte das ações devidas a um sentimento de dever e de amor ao próximo não pode ser classificada e reduzida a medidas e leis. É por esta razão que o altruísmo do homem não seria objeto de estudo da economia.
Os problemas que são agrupados como econômicos, pela razão que se referem à conduta do homem sob influência de motivos mensuráveis por um preço em dinheiro, formam um grupo bastante heterogêneo.
*fatos são apenas fatos. É dever do economista estabelecerrelações de causa e efeito a partir dos fatos, seja por indução ou dedução. Somente a razão pode interpretar fatos e deles retirar lições.
*enunciados científicos: postos à prova por observações independentes e especialmente após terem sido aplicados com êxito na previsão de acontecimentos iminentesviram leis
*as leis vão ficando cada vez mais exatas, submetendo-as à provas cada vez mais severas, até que uma única lei contenha e substitua todas as leis.
Embora as medidas da economia raramente sejam exatas e nunca se apresentem como definitivas, está sempre trabalhando no sentido de torná-las exatas e, distante, para ampliar o alcance dos assuntos sobre os quais o estudioso, individualmente, possa falar com a autoridade de sua ciência.
Quase todas as leis da ciência econômica são enunciados detendências. O termo lei não significa então mais do que uma proposição geral ou manifestação de tendências mais ou menos certas, mais ou menos definidas.
Diz-se que a ação econômica normal é a que se pode esperar, a longo prazo e sob certas condições, da parte dos membros de um grupo profissional. (é a lei, a tendência geral).Mas esse termo tem que ser aplicado frequentemente a condições nas quais uma competição perfeita não existe. Portanto nossas leis, ou as situações econômicas normais, não necessitam de situação perfeita pra se manifestar. Mesmo assim (ceteris paribus), todas as doutrinas científicas supõem, tácita ou implicitamente, certas condições e são, nesse sentido, hipotéticas.
A Ciência Econômica não é senão o senso comum ajudado pelos procedimentos organizados de análise e de raciocínio abstrato.
Os usos práticos dos estudos econômicos devem, sem dúvida, estarem sempre presentes no espírito do economista, mas a sua tarefa especial é estudar e interpretar os fatos e descobrir quais são os efeitos de diferentes causas em sua ação isolada e combinada.
O economista necessita de imaginação, principalmente para que possa desenvolver os seus ideais. Mas, acima de tudo, precisa de precaução e reserva para que a defesa desses ideais não ultrapasse a sua compreensão do futuro.
MARSHALL
II. Marshall (1920)
1) Qual é a definição de Economia Política (ou Economia) de Marshall?
2) Como Marshall defende e justifica o estudo da Economia?
3) Por que a Economia leva vantagem sobre as outras ciências sociais?
4) Qual é a relação entre os fatos econômicos e seu método de análise, segundo Marshall?
5) Por que Marshall diferencia Economia de Economia Política? Qual termo deve ser empregado ao nos referirmos à Ciência Econômica?
1) A economia é um estudo da humanidade nas atividades cotidianas da vida.
2) 
3) A economia leva vantagem sobre as outras ciências sociais pois SEU CAMPO ESPECÍFICO DE TRABALHO DÁ MAIOR OPORTUNIDADE DE APLICAÇÃO AOS MÉTODOS PRECISOS. CRIA-SE UMA OPORTUNIDADE PARA PS MÉTODOS E EXAMES CIENTÍFICOS A PARTIR DE QUE A FORÇA DOS MOTIVOS DE ALGUÉM POSSA SER MEDIDA APROXIMADAMENTE PELA SOMA DE DINHEIRO QUE ESSA PESSOA GASTARÁ PARA OBTER ESSA SATISFAÇÃO.
4) Para Marshall, os fatos em si não significam nada, e cabe ao cientista, através da indução e da dedução, estabelecer relações de causa e consequência a partir dos fatos e, assim, formular hipóteses, pô-las a prova a partir de sua observação e, se corretas, transformá-las em leis. As leis devem, então, a partir do desenvolvimento da ciência, ficar cada vez mais gerais até que uma única lei geral englobe e substitua todas as leis.
5) Como a economia estuda os aspectos e as condições econômicas da vida política, social e privada do homem, a expressão "economia política" é mais restrita do que "economia" e, portanto, não deveria ser usada de maneira geral. Assim, o melhor termo é Economia e não economia política.
Lionel Robbins
A definição de uma ciência quase sempre acontece depois da criação da ciência em si.
A definição de economia mais comum é aquela que relaciona a economia ao estudo das causas de bem estar econômico (marshall, cannan, etc.).
 Isso é esquisito, pois a visão de produtividade desses economistas é materialista: Adam Smith distinguia trabalho produtivo do não produtivo se o esforço em questão envolvia ou não a produção de bens materiais tangíveis (visão materialista). A visão moderna, entretanto, vê como produtivo o que é valorizado, porque tem uma importância específica para variados "sujeitos econômicos". Exemplos (opera, ballet, etc..). Mas, se é assim, não seria errado continuar descrevendo a economia como o estudo das causas de bem estar econômico?Os serviços da cantora de ópera são riqueza (posse de algo valorizado). Economia lida com o ato de dar preço a esse serviço, assim como o de o trabalho de um cozinheiro. O que quer que seja que a economia lida, não são as causas do bem estar econômico. Vamos aceitar o uso dos termos "econômico" e “não-econômico" do prof. Cannan como sendo equivalente a relativo a bem estar econômico e não-econômico respectivamente. Então nós podemos dizer que a riqueza da sociedade vai ser maior tanto quanto mais tempo nós dedicarmos a fins materiais, e quão menos a fins não-materiais. Mas mesmo assim ainda resta um problema econômico, que é o de escolher quantas horas por dia devemos relegar a fins materiais e a fins não materiais.
O QUE QUALIFICA UM PROBLEMA ECONÔMICO
1- fins variados/alternativos
2-tempo e recursos para atingir esses fins são limitados (escassos)
3-tempo e recursos podem ser utilizados de maneiras distintas
4-os fins têm importância distinta
Se meios de satisfação não têm uso alternativo, eles podem ser escassos, mas eles não podem ser economizados. Se forem possíveis trocas, não é objeto de atividade alguma com aspecto econômico. Mas quando o tempo e os meios para conseguir algo são limitados e sujeitos a aplicações alternativas, e os fins são capazes de ser distinguido em ordem de importância, o comportamento necessariamente assume forma de uma escolha.
Tanto os serviços do cozinheiro quanto os das cantoras de ópera são limitados em relação à demanda e podem ser usados para usos alternativos. O economista estuda a disposição de recursos escassos. A economia é a ciência que estuda comportamento humano como a relação entre fins e meios escassos que têm usos alternativos.
A concepção que nós descartamos (materialista) podia ser chamada de concepção classificatória. Ela delimita certos tipos de comportamento humano, o comportamento direcionado a procura de bem estar econômico, e designa esses como o objeto da economia. A concepção que nós adotamos é analítica. Ela não tenta delimitar certos tipos de comportamento, mas sim estudar um aspecto do comportamento humano, aquele que é imposto por influência da escassez.
A análise econômica tem mais utilidade numa sociedade de mercado, mas isso não quer dizer que seu objeto está delimitado a esse fenômeno. As generalizações da teoria do valor são tão aplicáveis ao comportamento isolado humano quanto ao da autoridade executiva de uma sociedade comunista, quanto ao comportamento do homem numa economia de mercado - mesmo que ela não seja iluminadora nesses contextos. O fato principal é a escassez, não o fenômeno da sociedade de mercado, que apenas aumenta a importância da análise econômica.
Robbins parece com Marshall ao dizer que seres humanos têm fins no sentido de terem tendências de conduta que podem ser definidas e entendidas, e pergunta como o progresso humano em relação aos seus objetivos é condicionado pela escassez dos meios. Marshall também diz que a ciência estuda tendências.
Que a preocupação do economista está com os fins menos nobres é uma concepção errada. O economista não se preocupa com os fins dessa forma. Ele está preocupado com a forma que a obtenção desses fins é limitada. Os fins podem ser nobres ou não/ materiais ou imateriais. Se a obtenção de um envolve o sacrifício de outros, esse fim tem um aspecto econômico. Escassez não significa mera infrequência de ocorrência, e sim limitação em relação à demanda (demanda é maior que a oferta). Riqueza não é riqueza devido às suas qualidades materiais, é riqueza, pois é escassa.
Quando nós pensamos em produtividade econômica, assim, nós não pensamos em algo absoluto, apenas produzir algo, mas sim ter o poder de satisfazer certas demandas. Claro que a riqueza muda, assim, de acordo com a demanda (Churchill etc).
NORMATIVA X POSITIVA
A economia positiva trata-se de uma análise objetiva que tenta entender o funcionamento do mundo. Já a economia normativa é tentar compreender como o mundo deveria ser, e assim é em essência uma análise subjetiva. 
A economia lida com fatos observáveis, a ética lida com valores e obrigações. Os dois campos de inquérito não estão no mesmo plano de discurso. Entre as generalizações de positivo e normativo há um buraco lógico que nenhuma ingenuidade consegue esconder e nenhuma justaposição no espaço ou no tempo podem tampar. (ex: preçodo porco -a proposição se é errado que porco devesse ser valorizado, são proposições que não podem ser verificadas. ROBBINS NÂO CONCORDA QUE VALORIZAÇÔEs NO MERCADO SÂO ETICAMENTE RESPEITÀVEIS). Mas isso não quer dizer que economistas não deveriam se empregar em questões éticas também. Ele só quer dizer que não há ligação lógica entre generalizações normativa ou positiva, e que não há nada a ganhar ao invocar as sansões de uma para reforçar as conclusões de outra.
Seria bom delimitar a simples área da ciência com a área mais questionável da moral e da filosofia política. É bom ter em mente quais são as discussões que têm esperança de ter fim do que aquelas que irão pra sempre porque uma moral não pode ser provada melhor que outras.
O que é ciência econômica nos permite escolher com consciência as implicações daquilo que nós escolheremos, quando temos que lidar com escolha entre fins diversos. Claro que não há nada na economia que tire o peso da escolha, nenhuma ciência tem o problema maior da preferência. Mas, para sermos completamente racional, nós temos que saber o que preferimos. Nós temos que saber das implicações das alternativas. RACIONALIDADE DE ESCOLHA NÃO É NADA MAIS E NADA MENOS DO QUE COMPLETA CONSCIÊNCIA DAS IMPLICAÇÔES DAS ALTERNATIVAS. A economia elucida essas questões.
A ciência não se ancora na presunção que indivíduos sempre agirão racionalmente, mas depende que seja preferível que eles assim o ajam. É desejável escolher fins que possam ser atingidos harmoniosamente. Senão não ia ter que pensar pra escolher, qualquer coisa estaria bom.
III. Robbins ([1932] 1935)
1) Qual a definição de Economia que Robbins atribui a Cannan, Marshal e Pareto? Qual é a crítica de Robbins a essa definição? Qual é a definição de Economia de Robbins? Por que Robbins a considera mais precisa?
2) Qual é o comportamento econômico típico, por excelência? Por quê?
3) Qual é o conceito de escassez definido por Robbins? Qual é a implicação dessa definição para o conceito de riqueza e valor?
4) Qual é a posição de Robbins acerca da divisão entre Economia Positiva e Economia Normativa?
5) Qual é a virtude da Economia, no que se refere à sua racionalidade?
1) Robbins atribui a Cannan, Marshal e Paretoa visão materialista de economia, ou seja, que esta estuda as causas do bem estar econômico. Robbins critica essa definição argumentando que nem tudo o que é valorizado, ou seja, que há demanda, é um bem material tangível. O trabalho de cantores de ópera, por exemplo, tem demanda e possui oferta limitada, ou seja, ocorre escassez.
A visão materialista classifica o comportamento econômico e estuda apenas aquele direcionado ao bem estar econômico, enquanto a visão de Robbins é analítica, ela não tenta delimitar certos comportamentos humanos e sim estudar um aspecto do comportamento humano, aqueles influenciados pela escassez.
2) É aquele condicionado pela escassez.O economista está interessado na maneira que diferentes níveis de escassez de diferentes bens aumentam diferentemente a proporção de valorização entre eles, e ele é interessado na maneira que condições de escassez, sejam vindas de mudanças na oferta ou na demanda, afetam essas proporções. A economia é a ciência que estuda comportamento humano como uma relação entre fins e meios escassos que têm usos alternativos. 
3) Escassez não é mera infrequência de ocorrência, mas sim limitação em relação à demanda. Riqueza não é riqueza devido à suas qualidades materiais, e sim porque é escassa. Algo valorizado é algo demandado.
4) Para Robbins, diferenciar economia positiva de economia normativa é útil, pois assim as sanções de uma não tornam-se as justificativas da outra.
5) Como o objetivo da economia é guiar os homens a fazer as melhores escolhas, pois lhes ensina a saber as implicações das alternativas abandonadas, a economia deve levar em conta que os homens serão racionais. Se eles não forem racionais, tanto importa as consequências de suas escolhas, e aí a economia não teria mais utilidade prática.
Joan Robinson
Mas desde que Freud nos expôs nossa propensão à racionalização e Marx nos mostrou como nossas ideias se originam de ideologias, temos que nos perguntar: em que acreditamos?
A própria economia tem sido em parte, um veículo para a ideologia dominante no período, assim como, em parte, um método de investigação científica.
Um ponto é definido como aquilo que tem posição, mas não grandeza. Não posso definir um elefante, mas reconheço quando vejo um.
Quais são os critérios de uma proposição ideológica, em oposição aos de uma proposição científica?
 A caracterização essencial de uma proposição metafísica é que ela não é capaz de ser comprovada. Não podemos dizer de que forma o mundo seria diferente se ele não fosse verdadeiro. Se adotarmos o critério do prof. Popper, são proposições científicas aquelas que podem ser falseáveis por evidência. As proposições metafísicas também fornecem um quadro do qual se podem formular hipóteses: sem elas, não saberíamos o que queremos saber.
A ideologia, podendo ou não ser eliminada do universo de pensamento das ciências sociais, é certamente indispensável no mundo da ação na vida social. Uma sociedade não pode existir sem que seus membros tenham sentimentos comuns sobre o que é a maneira correta de conduzir seus problemas, e esses sentimentos expressam-se em ideologia.
POR QUE É PRECISO TER MORAL
Como os impulsos egoístas são mais fortes que os altruístas, as exigências dos outros precisam ser impostas a nós. O mecanismo pelo qual são impostas é o senso moral ou a consciência coletiva, senão todo mundo, que é egoísta, só faria o que quisesse e vida social seria um caos. É a honestidade das outras pessoas que é necessária para o meu conforto. Se todos fossem honestos, menos eu, eu estaria numa ótima posição. A necessidade de cada um ser o objeto do bem de todos dá origem à necessidade de moralidade.
DE ONDE VEM A MORAL
O caso é que a mesma situação técnica - a vida social e a propriedade individual - leva a um mesmo resultado: um código moral garantido por sanções.
A algumas pessoas não agrada a ideia de que a moralidade tem uma base física e surge de necessidades biológicas, como se isso degradasse a nobreza da natureza humana ao nível dos animais.
A consciência é moldada numa criança pela aprendizagem do que é aprovado ou desaprovado pelo resto da família, mas ela trabalha interiormente e se transforma num desejo de ser aprovado por aquilo que Adam Smith chamou de "o homem dentro do peito".
Na maioria das sociedades, até tempos recentes, a moralidade era ministrada através da religião - um modo bastante útil de fortalecer o desejo do indivíduo de fazer o que acha direito e de impor uma visão particular do que é direito. Mas isso não significa que se eu não acredito em deus eu possa sair matando todo mundo. Aqueles que acham que é a religião que me impede de fazer coisas imorais estãoerrados, pois a moralidade é desejada e respeitada pelo que ela própria vale; a religião nos é recomendada porque garante a moralidade, não a moralidade porque ela se deriva da religião.
Aqueles que não possuem crença religiosa, ao contrário, estão constantemente inclinados a tentar derivar a moral da razão. O argumento mais comum é que o indivíduo deve fazer o que é direito, pois, se ele não fizer assim, os outros também não farão. Sim, mas não sou todos - sou apenas eu. Os outros farão sem mim.
A conclusão dessa discussão é que os sentimentos morais não decorrem da teologia nem da razão. Constituem uma parte separada do nosso equipamento, assim como a capacidade de aprender a falar.
A razão não vai ajudar. O sistema ético implantado em cada um de nós por nossa educação (mesmo um rebelde é influenciado por aquilo contra o que se rebela) não decorre de quaisquer princípios racionais, aqueles que nos transmitiram esses princípios raramente eram capazes de dar alguma explicação racional pra isso, ou mesmo de formulá-la explicitamente. Eles nos passaram o que a sociedade lhes ensinou, da mesma forma como nos transmitirama língua que aprenderama falar.
Todo sistema econômico necessita de um conjunto de regras, uma ideologia que o justifique e uma consciência de indivíduo que faça com que ele o leve adiante.
As pessoas sofísticas reconhecem a grande variedade de sistemas éticos e assumem uma posição relativista das questões morais.Aqueles que nascem sem esses sentimentos são tratadas como psicopatas.
A ÉTICA PERPETUA A CIÊNCIA ECONÔMICA
Talvez não seja como Myrdal disse que nossos próprios conceitos estão carregados de valores e não podem ser definidos a não ser em termos de avaliação política. Mas não é possível descrever um sistema sem a penetração de julgamentos morais. Porque olhar de fora um sistema implica que existem outros sistemas e que com certeza estamos comparando-o aos outros sistemas. Não podemos fugir de fazer julgamentos e os julgamentos que fazemos decorrem dos preconceitos éticos que se incorporaram à nossa visão de mundo e que estão de certo modo impressos no nosso cérebro. Não podemos fugir de nossos próprios hábitos de pensamento.
MANDEVILLE
Visão de economia: os vícios privados geram benefícios públicos.
SMITH
A grande falácia do Dr. Mandeville é ter representado todas as paixões como totalmente viciosas, independentemente de seu grau ou direção. É por isso que ele trata tudo o que tem referência com o que é, ou deveria ser, o sentimento dos outros como puras vaidades, e através desse sofisma ele estabelece sua conclusão preferida de que os víciosprivados geram benefícios públicos. Foi fácil pra ele provar, primeiro, que a conquista da virtude nunca ocorreu e que se ela existisse poria fim a toda indústria e comércio, e de certa forma a todas as atividades da vida humana. Mas admito que se não tivesse algo de verdade nele tantas pessoas não teriam lhe acatado.
KEYNES continua se preocupando com nossa vesga moralidade. 
Muitos religiosos e filósofos desaprovaram, para não dizermos mais, um tipo de vida principalmente influenciado por considerações de benefícios monetários pessoais. Por outro lado, a maioria dos homens de hoje rejeitam as noções ascéticas e não põem em dúvida as vantagens reais da riqueza. Além disso, parece-lhes óbvio que ninguém pode avançar sem motivações monetárias, e que, à parte de certos abusos reconhecidos, elas cumprem bem seu papel.
SCHUMPETERde certa forma afirma a mesma coisa, em um contexto diferente, quando diz que os homens de negócios não podem dirigir a lealdade de um povo.
ROBINSON
É precisamente a busca do lucro que destrói o prestígio do homem de negócios. Embora possa comprar todas as formas de respeito, a riqueza nunca as encontra de graça. A tarefa do economista é superar esses sentimentos e justificar os caminhos de Mannon para o homem. Ninguém gosta de ter uma má consciência, cinismo puro é um tanto raro. O trabalho do economista não é nos dizer o que fazer, mas mostrar como o que estamos fazendo está de acordo com princípios adequados.
A economia não é apenas um ramo da teologia. Sempre esteve lutando para escapar ao sentimento e ganhar status de ciência. Vimos anteriormente como as proposições metafísicas não só exprimem sentimentos morais, mas também fornecem hipóteses. 
Ométodo científico é outra espécie de elefante - algo que existe e pode ser descrito, mas não definido.
O processo científico, segundo Popper, consiste na tentativa de refutar teorias. O corpo da ciência é constituído, a cada momento determinado, pelas teorias que não foram refutadas. 
A grande dificuldade das ciências sociais em aplicar um método científico é que não se conseguiu chegar a umacordo sobre uma forma de negação de uma hipótese. Sem a possibilidade da experimentação controlada, temos que nos basear na interpretação da evidência, e a interpretação envolve um julgamento, não podemos nunca chegar a uma resposta definitiva. Mas como o assunto está necessariamente impregnado de sentimentos morais, o julgamento é marcado pelo preconceito. O professor Popper critica o método de discussão que pretende se basear na imparcialidade do cientista social. A objetividade da ciência surge, não porque o indivíduo é imparcial, mas porque muitos outros indivíduos estão continuamente testando a teoria dos outros.Já foi por vezes afirmado que economistas são mais rabugentos que os outros cientistas, isso decorre do fato que, quando o julgamento pessoal de um escritor está envolvido numa discussão, a discordância é insultante.A falta de um método aceito por todos para a eliminação dos erros introduz um elemento pessoal nas controvérsias econômicas que se constitui em mais uma dificuldade além de todas as outras.
IV. Robinson (1962)
1) Qual a diferença entre proposições metafísicas e ciência?
2) O que é moralidade e qual sua função?
3) Qual a característica fundamental das ciências sociais que as distinguem das ciências exatas?
1) A diferença entre as proposições metafísicas e as científicas é que as proposições metafísicas não podem ser comprovadas porque elas pretendem ser verdadeiras por definição e seus próprios termos, gerando discussões infindáveis e sem quase nunca chegar a um veredicto; enquanto as proposições científicas podem ser falseáveis pela evidência segundo o critério do prof. Popper.
2) Moralidade é um sinônimo de ideologia para Robinson. É um padrão de comportamento necessário para todo animal social. Como os impulsos egoístas são mais fortes que os altruístas, as exigências dos outros precisam ser impostas a nós. O mecanismo pelo qual são impostas é o senso moral ou a consciência coletiva. Senão todo mundo, que é egoísta, só faria o que quisesse e a sociedade tornar-se-ia um caos.
3) As ciências sociais têm como método científico o julgamento pessoal, que é menos objetivo que o das ciências exatas que podem fazer experiências geralmente trabalhadas num laboratório(experimento controlado).O conteúdo político e ideológico é muito maior na "experiência pública", ou seja, se outros cientistas testarem sua teoria, não dá certo nas ciências sociais como nas naturais pois nós não temos laboratório, e sempre pode-se realizar um raciocínio “ad hoc” que a teoria continua correta.

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