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1 AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA DEFINIÇÃO SOBRE DOR Uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial. (IASP, 2020) • A dor é considerada uma experiencia biopsicossocial, que inclui componentes sensitivos/discriminativos, emocionais/motivacionais, cognitivos, comportamentais, espirituais, culturais e de desenvolvimento; • Ela interfere na condição emocional, mental, na tolerância ao exercício, no desempenho/realização de atividades; • A dor é um problema comum e os objetivos primários dos fisioterapeutas ao tratar pacientes com dor são: √ Reduzir a dor e disfunção associada; √ Melhorar a função; √ Promoção da saúde e do bem-estar na vida diária. • Os fisioterapeutas devem participar do processo de facilitação da compreensão do fenômeno doloroso pelo paciente. ÁREAS CEREBRAIS ENVOLVIDAS E DIMENSÕES DA DOR (MELZACK E CASEY, 1968) Dimensão sensitivo- discriminativa: • Estruturas anatômicas envolvidas: córtex pré-frontal, giro cíngulo anterior, tálamo, S1 e S2. • Informação processada nessa área: sensação dolorosa, e inclui localização no corpo, qualidade/tipo, intensidade e duração. Dimensão afetiva motivacional: • Estruturas envolvidas: córtex pré- frontal, giro cíngulo anterior, amígdala, hipotálamo e ínsula. • Informação processada nessa área: quais emoções envolvidas na experiência dolorosa e as motivações sobre o que fazer, como agir. Dimensão cognitivo avaliativa: • Estruturas envolvidas: córtex pré- frontal, giro cíngulo anterior, amígdala, hipotálamo e ínsula. 2 AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA • Informação processada nessa área: entendimento sobre a experiência, racionalização, memória da dor, autoavaliação, experiências passadas, o que agrava e o que melhora. Essa dimensão pode ser positiva ou negativa para o desfecho devido as crenças do paciente. Por exemplo, se uma pessoa com dor lombar teve vários quadros de dor que não foram adequadamente tratados ou resolvidos anteriormente, a dor poderá ser mais difícil de ser tratada. Todas essas três dimensões estão ligadas e interagem entre elas. DIMENSÕES DA DOR SEGUNDO MELZACK AND CASEY (1986) (FONTE: SLUKA, 2016) DOR AGUDA X DOR CRÔNICA Dor aguda Dor crônica É resultado direto de uma lesão tecidual, ou lesão tecidual potencial e é um sintoma. Não é protetiva, não possui função biológica. Início bem definido com clara patologia. Ocorre quando dura mais tempo que o normal para a cicatrização do tecido. A dor aguda serve para proteger de um dano tecidual, e se ocorre o dano, para dar tempo de recuperação. O comprometimento é maior do que o esperado em achados físicos ou lesões. Pode ser tratada por tratamento farmacológico ou não farmacológico (anti-inflamatórios ou gelo, por exemplo). A dor ocorre na ausência de dano identificável do tecido. Além disso, define-se esse tipo de dor através do número de meses após a lesão inicial (de 3 a 6 meses após a lesão). É útil, pois possui uma função protetora. Passa a ser considerada como uma doença e não mais um sintoma. 3 AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA ABORDAGEM BASEADA NOS MECANISMOS DE DOR É preciso basear-se no modelo biopsicossocial para realizarmos uma abordagem baseada em mecanismos para o controle da dor. Definimos a biopatologia especifica no processamento da dor, os fatores psicológicos relevantes para a dor e a disfunção do sistema de movimento; O termo “mecanismos de dor” é utilizado para reconhecermos fatores que podem contribuir para o desenvolvimento, manutenção ou aumento da dor; Um paciente poderá ter múltiplos mecanismos de dor acontecendo ao mesmo tempo, e dois indivíduos com o mesmo diagnóstico podem ter mecanismos subjacentes que contribuem para sua dor. Dessa forma, uma abordagem baseada em mecanismo requer a avaliação de mecanismos específicos de dor, bem como a prescrição de tratamentos apropriados. MECANISMOS DE DOR o Nociceptiva (periférica); o Nociplástica (não nociceptiva); o Neuropática. DOR NOCICEPTIVA É uma dor provocada por sensibilização de nociceptores (receptores localizados na pele, músculos, ligamentos, fáscias, vísceras); Alterações de sensibilidade relatadas: • Hiperalgesia (sensação de dor aumentada); • Alodínea (estímulo sensorial que em situação normal não causaria dor); • Hiperestesia (aumento da sensibilidade). Essas alterações estão presentes no local da dor, lesão ou disfunção; É uma dor localizada, aguda, especifica e às vezes difusa; Exemplos: Lesões por cortes, Injeções, depilação, pós-operatório, entorse de tornozelo, cólica menstrual, etc. DOR NEUROPÁTICA É uma dor provocada por lesão ou doença no sistema nervoso somatossensorial, histórico de lesão do sistema nervoso; Os tecidos neurais estão envolvidos; 4 AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA Alterações de sensibilidade relatadas: • Choque; • Dormência; • Queimação; • Agulhadas; • Coceira; • Formigamento. Alteração sensóriomotora exacerbada ou diminuída (força muscular, reflexos, sensibilidade); Sinais e sintomas positivos: dor, hiperestesia, alodínea, hiperalgesia, hiperpatia (reação álgica intensa e desproporcional), espasticidade (tônus aumentado); Sinais e sintomas negativos: anestesia, redução da força, atrofia, hiporreflexia, hipotonia (tônus diminuído), arreflexia (ausência de reflexo), hipoestesia (diminuição de sensibilidade). Exemplo: Lesão do nervo mediano, haverá um padrão de dor na distribuição neuroanatômica. DOR NOCIPLÁSTICA É uma dor provocada por disfunção do SN, sem história de lesão ou doença em tecidos neurais e não neurais; Alteração do sistema nociceptivo no SN; Reações amplificadas, sintomas exacerbados, localização com distribuição difusa, dor migratória e generalizada; Hipersensibilidade não musculoesquelética: temperatura, cheiro, luz, estresse, barulho, emoções, etc. Dor tipicamente crônica; Exemplo: fibromialgia; Algumas condições envolvem mecanismos de dor nociceptiva e nociplástica (por exemplo, sensibilização periférica e central), como dor lombar ou osteoartrite de joelho. FATORES PSICOSSOCIAIS RELACIONADOS À DOR Os 3 processos biológicos de dor podem ser influenciados por fatores psicossociais; Considerar fatores psicossociais não adaptativos pode maximizar a eficácia da terapia para condições de dor aguda e crônica; Depressão ou crenças de medo de evitar, podem aumentar outros mecanismos de dor e contribuir para a manutenção de uma condição dolorosa; 5 AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA Fatores psicológicos são hipotetizados como críticos na transição da dor aguda para crônica e preditivos do desenvolvimento de dor crônica no pós-operatório; As intervenções terapêuticas se beneficiam ao levar em consideração os fatores psicossociais. (Chimenti, Frey-Law, Sluka, Physical Therapy, 2018) SISTEMA DE MOVIMENTO ENVOLVIDO NA DOR A avaliação e tratamento do sistema de movimento são componentes chave no cuidado de pacientes com dor; Conseguimos reconhecer uma marcha antálgica como movimento influenciado pela dor. Síndromes de uso excessivo como condições dolorosas induzidas por movimentos repetitivos. Ou até mesmo o reflexo de retirada nociceptivo como uma ligação bem marcante entre as vias aferentes da dor e o sistema motor eferente; Entretanto, as relações entre a dor e o sistema de movimento são complexas e frequentemente variam muito entre indivíduos; A dor é capaz de produzir maior contração muscular,tônus ou pontos- gatilho. Também pode produzir inibição muscular e comportamentos de medo (cinesiofobia), gerando desuso e incapacidade. Ou também pode facilitar quanto inibir grupos musculares opostos; Intervenções direcionadas podem ajudar a reduzir as respostas motoras que exacerbam a dor ou que melhoram a função, diminuindo os efeitos motores da dor. A incorporação da experiencia dos fisioterapeutas no sistema de movimento com outros mecanismos de dor tem o potencial de elevar nosso nível de cuidado para avaliar e tratar de forma mais eficaz as condições de dor. A dor é MULTIFATORIAL! OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA Avaliar e mensurar fatores biológicos e psicossociais que contribuem para a ocorrência da dor, disfunção de movimento e incapacidade, usando instrumentos válidos e confiáveis; 6 AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA Desenvolver um plano fisioterapêutico baseado em evidencia em colaboração com o paciente, objetivando à modificação da dor, melhora da função e redução de incapacidades, respeitando a ação de outros colegas profissionais de saúde; Quando necessário, encaminhar para avaliação de outros profissionais de saúde. AVALIAÇÃO COM ABORDAGEM NO MECANISMO Primeiramente, deve-se avaliar os sinais e sintomas sugestivos de alterações nos tecidos periféricos e nociceptores, redução da inibição central e/ou aumento da excitabilidade central, sinais e sintomas de dor neuropática, fatores psicossociais e padrões de movimentos alterados; Após a identificação dos mecanismos primários de dor (ou de somente um mecanismo primário de dor), o fisioterapeuta pode ser mais especifico em sua avaliação geral. Por exemplo: paciente encaminhado para dor lombar, o fisioterapeuta pode identificar dor associada a fadiga e disfunção do sono (indicadores centrais), cinesiofobia elevada (fator psicossocial) e fraqueza muscular abdominal (fator do sistema de movimento). Processo inicial da avaliação: COMO AVALIAR A DOR DURANTE A ANAMNESE É preciso considerar diferentes elementos e coleta-los: Características dos sintomas: o Início, qualidade, comportamento nas 24h, localização, fatores que agravam e que aliviam, levar em conta outros segmentos, comorbidades, consultas previas com outros profissionais, experiências positivas e negativas, contexto de vida, busca de Organização e sistematização Anamnese Hipóteses de diagnóstico Exame físico Diagnóstico Objetivos Tratamento 7 AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA red flags, limitações de atividade e participação (escalas de funcionalidade). Mecanismos de dor: o Indicadores potenciais de dor nociceptiva: dor localizada; descrição como intermitente ou aguda durante o movimento; dor constante ou latejante durante o repouso; resposta clara e consistente com fatores mecânicos agravantes ou atenuantes. o Indicadores potenciais de dor nociplástica: inconsistência entre o estimulo e a resposta; imprevisibilidade da distribuição anatômica variável, perturbação do sono. Outras considerações - Expectativas, preferencias e fatores psicossociais (denominados de yellow flags): Rastreio de idade avançada (maior que 50 anos), alta intensidade da dor percebida, longa duração dos sintomas, lesões prévias, comorbidades, baixa percepção de saúde, evitação da atividade por medo de dor (cinesiofobia), percepção de alta demanda no ambiente de trabalho, baixa satisfação com o emprego, alto IMC, problemas pessoais, etc. COMO AVALIAR A DOR NO EXAME FÍSICO Qualidade de movimento ativo e passivo; ADM; Força muscular; Movimentos provocativos de dor; Sinais de suspeita de sensibilização central: o Edema; o Rigidez; o Fraqueza; o Falta de relação entre movimentos específicos e dor. TRIAGEM E TRATAMENTO Fraturas- traumas Febre, perda de peso Histórico de câncer Déficit neurológic o Infecçã o Incontinênci a aguda