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Atuação do fisioterapeuta na Dor Profa Carolina Marciela Herpich Por que estudar a dor? ➢Necessidade; ➢Direcionamento; ➢Entender melhor o paciente; ➢Raciocínio clinico/ conduta clínica; Sem avaliação e bom entendimento da dor não chega a um bom tratamento! O que é dor?? ➢Sensação e experiência emocional desagradável associada à lesão tecidual, real ou potencial, ou descrita em termos desta lesão. (Associação Internacional para o estudo da dor - IASP). ➢Sensação desagradável frente a algum estimulo; ➢Interpretação/PERCEPÇÃO do cérebro/SNC frente a esse estimulo / DANO ➢Multidimensional ➢Experiencia aversiva (emocional + sensorial). Dor é uma resposta perceptiva de proteção que pode ser evocada por informações sensoriais, psicológicas e contextuais que sugiram ao cérebro que o corpo está em perigo. (Moseley, 2015). O processamento da dor no cérebro envolve uma rede de estruturas que conferem à experiência dolorosa um caráter pessoal, uma assinatura Cognição Memória Emoção Atenção Comportamento Percepção Movimento Funções Autônomas Áreas do cérebro ativadas no processamento na dor. Essas áreas têm outras funções além do processamento das ameaças. E a dor????? Como ela é classificada? ➢NOCICEPTIVA (quando os nociceptores (receptores de perigo) são ativados devido a uma lesão, inflamação ou outro irritante) ➢NEUROPATICA (quando há uma lesão ou doença no sistema somatossensorial) ➢NOCIPLASTICA (Devida a uma sensibilização central - disfunções do processamento nociceptivo dentro do SNC, tais como uma excitabilidade central aumentada e/ou uma inibição central diminuída: • Tipicamente crônica, desproporcional e difusa, sendo a fibromialgia o seu exemplo clássico. (Chimenti , Frey Law, Sluka, 2018) Representação esquemática dos 3 mecanismos de dor que ocorrem no contexto do sistema de movimento e dos fatores psicossociais. ABORDAGEM FARMACOLÓGICA BASEADA NOS MECANISMOS PARA O TRATAMENTO DA DOR Abordagem baseada em mecanismos: comum no manejo farmacêutico da dor: ➢Pacientes com dores nociceptivas inflamatórias: ➢Drogas anti-inflamatórias (por exemplo, AINEs e inibidores do fator de necrose tumoral); ➢Pacientes com dores neuropáticas: ➢Gabapentinóides, devido à sua capacidade de bloquear a atividade do canal de cálcio, que está aumentada nessa condição; ➢Pacientes com dores nociplástica: ➢ Inibidores recaptadores para modular a inibição central. E na Fisioterapia? ➢Muitos dos nossos recursos têm múltiplos mecanismos de ação e são considerados tratamentos multimodais para a dor. ➢Exemplo: o exercício pode alterar todos os 5 mecanismos de dor - nociceptivo, neuropático, nociplástico, psicossocial e de movimento. ➢A abordagem baseada em mecanismo transcende os processos exclusivamente patobiológicos (modelo biomédico); ela inclui a disfunção psicológica e do sistema de movimento (modelo biopsicossocial). ➢Reconhecer a importância dos mecanismos de dor para individualizar o cuidado não é novidade, mas não tem sido aplicado na prática do fisioterapeuta. Dor Nociceptiva ➢Ocorre quando os nociceptores (receptores de perigo) são ativados devido a uma lesão, inflamação ou outro irritante. ➢Os sinais nociceptivos de alarme são transmitidos para a medula espinhal e para o córtex através de vias nociceptivas ascendentes, resultando na percepção da dor. ➢A sensibilização periférica (inflamatória) amplifica a experiência da dor. ➢A dor nociceptiva é aguda e localizada, como em uma entorse de tornozelo. ➢No SNC, os sinais nociceptivos são modulados pelas vias descendentes corticais e do tronco cerebral, que podem ser inibitórias ou facilitadoras. ➢Estes sinais podem também ser modulados pelos componentes emocionais da dor. As Quatro Etapas da Dor • Transdução • Transmissão •Percepção •Modulação Modulação Ascendente na Medula Teoria das Comportas da Dor Melzack e Wall (1965) Estímulos sensoriais suaves (massagem, por exemplo) competem com os estímulos nocivos na medula. Assim, a medula faz parte do nosso sistema de controle interno da dor. Processo de Cura dos Tecidos Nas dores nociceptivas, não importa qual tecido tenha sido lesado, sempre ocorre um processo de cura semelhante. A maioria dos tecidos se cura entre 6 semanas a 3 meses. Curou? Acabou a ameaça. Acabou a dor! Normal! Dor normal... Fases do Processo de Reparação: 1. Fase Inflamatória: Do momento da lesão – 3 (2-5) dias 2. Fase Proliferativa: De 3 a 21 dias 3. Fase de Maturação: De 21 dias a 18-24 meses Considerar o Curso da Reparação Tecidual 16 17 Dor Neuropática ➢Ocorre quando há uma lesão ou doença no sistema somatossensorial. ➢Pode ser por: ➢Por lesão direta do nervo, como na síndrome do túnel do carpo e na herpes zoster, ou ➢Devida à doenças metabólicas, como na diabetes. RadiculopatiaHIV QuimioterapiaDiabetes Lesão no sistema nervoso Cirurgia AVC Síndrome do canal cárpico (SCC) 7% dos doentes com lombalgia apresentam dor de origem neurogénica 30% dos doentes diabéticos hospitalizados e 20% dos residentes na comunidade têm neuropatia periférica A polineuropatia distal sensorial pode estar presente em 35 a 55% dos doentes com VIH Entre 20 e 40% das doentes mastectomizadas podem apresentar dor neuropática Dependendo do fármaco e da dose, até 40% dos doentes podem desenvolver neuropatia induzida por quimioterapia 8 a 11% dos doentes que sofreram um AVC apresentam dor neuropática A prevalência de dor associada a SCC na população em geral foi estimada em cerca de 16% Prevalência da dor neuropática Causas, descritores, sinais e sintomas da dor neuropática Sensações •Dormência •Formigamento •Queimor •Parestesia •Paroxismo •Lancinante •Choque elétrico •Em carne viva •Penetrante •Profunda Sinais e Sintomas ALODINIA: • dor devido a um estímulo que normalmente não provoca dor; um estímulo não-nociceptivo. HIPERALGESIA: • aumento na resposta a um estímulo que normalmente é doloroso; aumento na sensibilidade dolorosa. Dor Patológica Neuropática Lesão ou doença no próprio nervo Medula espinhalFibra aferente nociceptiva Gilron I et al. CMAJ 2006; 175(3):265-75; Jarvis MF, Boyce-Rustay JM. Curr Pharm Des 2009; 15(15):1711-6; Scholz J, Woolf CJ. Nat Neurosci 2002; 5(Suppl):1062-7. Perda do controle inibitórioSecreção de Substâncias Algogênicas Aumentada Hiperexcitabilidade do neurônio periférico Cérebro Hiperexcitabilidade do neurônio central Facilitação Descendente Dor Nociplástica ➢Devida a uma sensibilização central - disfunções do processamento nociceptivo dentro do SNC, tais como uma excitabilidade central aumentada e/ou uma inibição central diminuída: ➢Tipicamente crônica, desproporcional e difusa, sendo a fibromialgia o seu exemplo clássico. ➢Pode ocorrer independente da atividade periférica do nociceptor. ➢Algumas condições envolvem mecanismos de dor nociceptiva e nociplástica (sensibilização periférica e central), como nas lombalgias ou na osteoartrite do joelho: ➢Condições de dor com sensibilização periférica e central podem responder bem à remoção apenas da entrada periférica, o que pode eliminar a sensibilização central em alguns casos (por exemplo, uma prótese total do joelho). ➢No entanto, a remoção do input periférico pode ter apenas um efeito parcial, com a sensibilização central residual causando e mantendo uma dor contínua. • cartilagem: sem inervação • tecidos periarticulares • osso subcondral • pressão no interior do osso • inflamação sinovial • lesões da medula óssea Dor da Osteoartrose: nas articulações ou no cérebro? • OA: além das alterações patológicas nas estruturas articulares, as mudanças no processamento da dor central ou sensibilização central parecem estar envolvidas na dor, especialmente em OA do joelho muito cedo para a cirurgia, mas com dor generalizada e incapacidade grave. • Intervenções como a ETD, TCC, drogas de ação central e cinesioterapia, tendo como alvo a sensibilizaçãocentral, cognitivo- emocional e a facilitação descendente, podem melhorar a analgesia endógena (restaurar a inibição descendente) em pacientes com OA. Girbés et al. PHYS THER. 2013; 93:842-851 25 Sensibilização Central Central sensitization Em resumo: não aposte que a lesão do tecido é a única e principal causa da dor • Nas condições dolorosas, a sensibilização periférica e a sensibilização central variam ao longo de um contínuo. A sensibilização do SNP contribui mais para com a dor com uma lesão localizada aguda; A sensibilização do SNC contribui nas dores crônica generalizadas, como a fibromialgia (FM). Em outros diagnósticos, como dor lombar (LBP), osteoartrite (OA), artrite reumatóide (RA), tendinopatia calcânea de Aquiles (AT) e disfunções temporo-mandibulares (TDM), as pessoas podem ter ou níveis elevados de sensibilização periférica, ou altos níveis de sensibilização central, ou ambos. DOR PERSISTENTE Como a dor se torna crônica? Dor Aguda e Dor Crônica (Persistente) Tempo que dura a dor até a cura dos tecidos Dor Aguda Dor Crônica Lesão Resposta protetora normal e limitada pelo tempo. Acompanha a reparação do tecido. (Menos de 3 meses) Dor que persiste além do tempo normal de reparação do tecido (Geralmente de 3-6 meses) •Geralmente dano óbvio no tecido •Serve como uma função protetora •Gera um aumento da atividade do sistema nervoso periférico •A dor cessa com a cicatrização •Sem causa periférica aparente •Não tem função protetora •Degrada a saúde e a capacidade •O sistema nervoso central torna-se mais sensível às mensagens de perigo. Dor Normal Dor Patológica Predomínio do Fenômeno de Sensibilização Central Três Mecanismos Envolvidos: 1. Ativação excessiva do sistema ascendente 2. Facilitação das vias descendentes 3. Sensibilização Cognitiva - Emocional Como deve ser o manejo da dor?? ➢Acolher o paciente ➢Tornar ele ativo ➢Direcionamento ➢Multidimensional ➢Entender as crenças Educação em dor + exercícios O Sistema do Movimento Humano: implicações para a Fisioterapia O sistema do movimento humano é a base para a prática, a educação e a pesquisa na Fisioterapia. O movimento é o centro da Fisioterapia. A prática da fisioterapia está associada a um sistema fisiológico do corpo humano: o Sistema do Movimento Humano. Função do Fisioterapeuta • Compreender a fisiologia do potencial motor do corpo humano. • Monitorar o movimento do indivíduo através do seu ciclo de vida para promover um desenvolvimento ótimo, diagnosticar disfunções e intervir para prevenir, corrigir, restaurar e melhorar as limitações das atividades e as restricões à participação de seus pacientes. O que é Explicando a Dor (Explaining Pain - EP) A EP é uma abordagem de tratamento dentro do modelo biopsicossocial fundamentada nas teorias da mudança conceitual e do design instrucional, que é biologicamente plausível e que consiste numa série de intervenções educacionais visando ajudar os pacientes entender a dor como um sinalizador, à percepção, da necessidade de proteger os tecidos do corpo. Que ‘a dor pode ser modulada por crenças’ é um conceito fundamental para a dor como fenômeno biopsicossocial. A proposta que se segue é a de que a dor pode ser melhorada através da modificação das crenças errôneas, o que pode diminuir a catastrofização e reduzir a incapacidade associada a ela, incluindo a cinesiofobia. G. Lorimer Moseley and David S. Butler. Critical Review: Fifteen Years of Explaining Pain: The Past, Present, and Future. The Journal of Pain 2015; 16(9): 807-813 pain neuroscience education (PNE) O‘alfabetizar’ os pacientes na moderna neurociência da dor, dentro de um modelo biopsicossocial, de tal modo que eles sejam capazes de modificar suas atitudes, comportamentos, escolhas de tratamento e de estilo de vida. Numa abordagem biopsicossocial, os profissionais de saúde devem lidar com todos esses mecanismos e com os diversos sistemas envolvidos na produção e na manutenção da dor. BIO PSICO SOCIAL http://pesquisaemdor.com.br/?p=683 http://pesquisaemdor.com.br/?p=683
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