Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
VARIÁVEIS COMPLEXAS Tiago Loyo Silveira Resíduos e polos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer o resíduo de uma função na singularidade isolada. Identificar um polo de ordem m e um polo simples na singularidade isolada. Utilizar resíduos para calcular integrais. Introdução No estudo das funções de variáveis complexas, as funções analíticas e funções que possuem expansão em série de Laurent possuem lugar especial, já que permitem a manipulação do seu domínio e possível remoção de pontos singulares internos ao contorno da função. Neste capítulo, vamos expandir os conceitos sobre os pontos singula- res. Veremos a sua classificação e manipulação. Ainda, veremos que o polo é uma singularidade relevante ao nosso estudo e, por fim, concluiremos com o uso das singularidades para a resolução de integrais. Singularidades e resíduos Os conceitos de funções analíticas e expansões em série de Laurent são de grande importância para a compreensão de singularidades. Portanto, vamos relembrar esses conceitos. Funções analíticas Dizemos que uma função f de variáveis complexas é analítica se ela está defi nida em um conjunto aberto . Temos, ainda, que f é diferenciável e holomorfa, ou seja, uma função f é analítica se puder ser representada por Cap_6_Variaveis_Complexas.indd 1 01/03/2018 15:16:00 uma série de potências. O termo holomorfa nos diz que f é diferenciável em algum disco aberto C pertencente ao domínio de f e centrado em um ponto z0. Singularidades Até agora, estudamos as funções analíticas e funções que podem ser expressas como séries de potências. Porém, dado o domínio de uma função f, é possível que haja um ponto onde f não é analítica, ou um disco centrado nesse ponto. Esse ponto é denominado singularidade. Ponto singular Sejam um aberto conexo, uma função complexa e . Dizemos que é um ponto singular de f se, e somente se, ou não existe. Singularidade isolada Sejam um aberto conexo, uma função complexa e um ponto singular de f. Dizemos que é um ponto singular isolado se, e somente se, existe um disco aberto de centro em , tal que é o único ponto singular de f que pertence ao disco. Caso contrário, é dito um ponto singular não isolado. Sendo um ponto singular isolado, interior, de f. Da definição de ponto singular isolado, existe uma vizinhança na qual f é analítica, exceto no próprio ponto , digamos . Então, nessa região, a função f pode ser representada pela Série de Laurent. Essa região tem representação gráfica circular, com o seu contorno definido por um número complexo (Figura 1). Resíduos e polos2 Cap_6_Variaveis_Complexas.indd 2 01/03/2018 15:16:00 Figura 1. Função analítica representada por uma série de Laurent. , onde os coefi cientes são dados por: e onde C é um contorno fechado contido em , envolvendo uma vez no sentido positivo. No desenvolvimento acima, o coeficiente do termo é chamado resíduo de f no ponto , e escrevemos . 3Resíduos e polos Cap_6_Variaveis_Complexas.indd 3 01/03/2018 15:16:00 Existem três tipos de singularidades isoladas: singularidade removível — uma singularidade é chamada de removível se a sua série de potências possuir apenas termos nulos ou de expoente positivos. Seja a expressão . Se todas as parcelas tiverem os coeficientes a, b, c e d iguais a zero, o que vem na sequência (...) será uma singularidade removível. Outra análise pode ser feita se, no ponto singular p, existir o limite . Ou seja, o cálculo do limite de f tendendo ao ponto de singularidade nos dirá se a singularidade é ou não removível. Considere a função . Essa função é analítica em todos os pontos fora da origem, mas, na origem, é des- contínua, pois . Dessa forma, a expansão em séries de f(z) ao redor do disco na origem removível é: Nesse caso, não aparecem potências negativas de z. Então, basta definirmos f(0) = 1 para conseguirmos que f seja analítica em todos os pontos. polo de ordem m — se um ponto z0 é uma singularidade isolada da função f, o ponto z0 será dito polo de ordem m, com , se, e somente se, for finito e diferente de zero, onde m é o maior expoente dos denominadores da expansão em série de potências. Resíduos e polos4 Cap_6_Variaveis_Complexas.indd 4 01/03/2018 15:16:01 Considere a função . Nesse caso, teremos, como série de potências, uma série de Laurent do tipo: Dizemos que essa função possui um polo de ordem 4 em z = 0. Nesse caso, a expansão em séries de potência só é válida fora do disco que possua o polo z = 0. O disco pode ser tão pequeno quanto for preciso, desde que ele possua o polo z = 0 no seu interior. singularidade essencial — quando ocorre para um número infinito de valores de n. Considere a função . A sua série de Laurent será: Temos que o ponto z = 0 é uma singularidade essencial. Polos Seja uma função f tal que possa ser expressa na forma de uma série de Laurent em torno de um ponto singular isolado . A sua representação em série de potência possui um número fi nito de potências negativas, de forma que possa ser expressa por: 5Resíduos e polos Cap_6_Variaveis_Complexas.indd 5 01/03/2018 15:16:01 quando , para algum número r > 0. O ponto é chamado de polo de ordem m da função f. Quando m = 1, dizemos que é um polo simples. Observe que os denominadores do coeficiente possuem expoente negativo na sua representação decimal. Esse quantitativo de deno- minadores é finito, enquanto a expansão em série do coeficiente an vai para ∞. Vejamos a seguinte proposição. Se um ponto z0 é uma singularidade isolada da função f, o ponto z0 será dito polo de ordem m, com , se, e somente se, for finito e diferente de zero. Veja a demonstração. De z0 polo de ordem m, temos: quando , para algum número r > 0. Vamos multiplicar os termos da equação por : Aplicando o limite , obtemos: Portanto, o limite é finito e diferente de zero. Como z0 é um ponto singular isolado, então , tal que: onde . Resíduos e polos6 Cap_6_Variaveis_Complexas.indd 6 01/03/2018 15:16:01 Vamos multiplicar os termos da equação por : Aplicando o limite , obtemos: Entretanto, sabemos que o somatório vai para zero quando . Então, resta-nos analisar o somatório quando . Vamos dividir em casos: 1. Se n < m, então: 2. Se n = m, então: 3. Se n > m, então: Mas, por hipótese, temos: Então devemos ter Logo, bm ≠ 0 e bm+1 = bm+2 = ... = 0. Dessa forma, z0 é polo de ordem m. 7Resíduos e polos Cap_6_Variaveis_Complexas.indd 7 01/03/2018 15:16:02 Seja a expressão . Se nas parcelas existirem coeficientes a, b, c e d diferentes de zero, dizemos que o expoente da parcela de maior grau é também a ordem do polo. Ou seja, na expressão dada, se a ≠ 0, dizemos que o polo é de ordem 4. Se uma função possui polo de ordem maior ou igual a 2, podemos obter o resíduo por meio da expressão: onde n é o expoente da ordem máxima do polo. Se a função f é do tipo e possuir um polo simples em z0, então o seu resíduo pode ser obtido pela expressão: Resíduos em integrais complexas Como defi nimos, o coefi ciente da série de Laurent é denominado resíduo da função f(z) no ponto z0, e escrevemos . Vimos que z0 será uma singularidade removível se, e somente se, existir: Nesse caso, f(z) não possui resíduo no ponto z0, e escrevemos . Por outro lado, se z0 é um polo de ordem m: Então, se m = 1: Resíduos e polos8 Cap_6_Variaveis_Complexas.indd 8 01/03/2018 15:16:02 Dessa forma, se uma função f(z) singularidades, a exemplo z0, é analítica no interior de um contorno C com a remoção da singularidade. Então, ao redor de cada singularidade pertencente ao contorno C, existe um disco definido por uma série de Laurent, com raios diferentes, mas que convergem para o ponto singular. Para calcular a integral em cada ponto singular z0, podemos nos utilizar do resíduo no ponto. De forma que: Ou, pelo somatório de todos os resíduos: Exemplo1 Determine o resíduo da função , onde a, b, c são números reais e . Solução: Para determinar os pontos singulares, façamos az2 + bz + c = 0. Temos que as raízes dessa equação são: e Como , podemos reescrever as raízes como: e Escrevendo , onde p(z) = 1 e , temos: e e Ou seja, . Portanto, z 0 é polo simples e o resíduo é Para z 1 , se segue de forma análoga. 9Resíduos e polos Cap_6_Variaveis_Complexas.indd 9 01/03/2018 15:16:02 Exemplo 2 Calcule a integral: Solução: Certamente, um dos polos é z = 0. Fazendo , portanto, , com . Mas observe que, se , qualquer que seja k > 0, o ponto não faria mais parte do contorno , logo, nosso único polo é z = 0. , g(0) = 0; e z = 0 (res.f )(z = 0), ou, simplesmente, (res.f )(0). Saiba mais sobre as séries de Laurent e a sua representação nas funções de variáveis complexas (SÉRIES, 2018): https://goo.gl/Uu27Hx Saiba mais sobre as funções analíticas e a sua importância para nosso estudo de variáveis complexas (RAMOS, 2013): https://goo.gl/hznDEp Acompanhe uma aula sobre a classificação das singularidades (IEEEACADEMIC, 2014): https://goo.gl/KLLgjG Resíduos e polos10 Cap_6_Variaveis_Complexas.indd 10 01/03/2018 15:16:03 https://goo.gl/Uu27Hx https://goo.gl/hznDEp https://goo.gl/KLLgjG 1. Qual(ais) é(são) o(s) resíduo(s) da função ? a) e b) e c) i d) –i e) e 2. Qual é o tipo de singularidade e o resíduo da função ? a) Singularidade removível; (res.f ) = 0. b) Polo simples; (res.f ) = 1. c) Singularidade removível; (res.f ) = 1. d) Polo simples; (res.f ) = 2. e) Singularidade essencial; (res.f ) = 0. 3. Determine a integral ao longo do círculo C de raio . a) b) 2 c) –1 d) 1 e) 0 4. Na função , um dos polos de ordem 1 tem singularidade z = i. Qual é o seu resíduo? a) –ei b) –ei .(13 – 9i) c) 10–3.ei .(13 – 9i) d) e) ei 5. Calcule o(s) resíduo(s) da função : a) b) 2 c) 0 d) 1 e) –1 IEEEACADEMIC PORTUGAL. Classificação de singularidades. YouTube, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FQTmGLwjZQk>. Acesso em: 21 fev. 2018. RAMOS, P. Variáveis complexas: funções analíticas. YouTube, 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=bNdFLs0ZaSY>. Acesso em: 21 fev. 2018. SERIES de Laurent. Aracaju: CESADUFS, 2018. Disponível em: <http://www.cesadufs. com.br/ORBI/public/uploadCatalago/19154416022012Vari%C3%A1veis_Comple- xas_10.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2018. 11Resíduos e polos Cap_6_Variaveis_Complexas.indd 11 01/03/2018 15:16:05 https://www.youtube.com/watch?v=FQTmGLwjZQk https://www.youtube.com/watch?v=bNdFLs0ZaSY http://www.cesadufs/ http://com.br/ORBI/public/uploadCatalago/19154416022012Vari%C3%A1veis_Comple- Leituras recomendadas JESUS, D. V. Aplicações do teorema do resíduo. 2007. 79 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Matemática) — Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/96550/ Daynitti.pdf?sequence=1>. Acesso em: 20 fev. 2018. MORICONI, M. Variáveis complexas e aplicações: a vida é mais simples no plano com- plexo.Niterói: UFF, [2018]. Disponível em: <http://profs.if.uff.br/moriconi/complex/ complex.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2018. PIRES, G. E. Notas em análise complexa. Lisboa: Instituto Superior Técnico, 1998. Dis- ponível em: <https://www.math.tecnico.ulisboa.pt/~gpires/Complexa/complexa. pdf>. Acesso em: 21 fev. 2018. SINGULARIDADES e Resíduos. Lisboa: Instituto Superior Técnico, 2018. Disponível em: <https://fenix.tecnico.ulisboa.pt/downloadFile/3779572089125/aced-apontamentos- -sec6.pdf>. Acesso em: 21 fev. 2018. Resíduos e polos12 Cap_6_Variaveis_Complexas.indd 12 01/03/2018 15:16:05 https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/96550/ http://profs.if.uff.br/moriconi/complex/ https://www.math.tecnico.ulisboa.pt/~gpires/Complexa/complexa. https://fenix.tecnico.ulisboa.pt/downloadFile/3779572089125/aced-apontamentos- Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
Compartilhar