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Perfis Criminais e Comportamentais 02 1. Criminologia 5 2. A Criminologia e o Comportamento Humano 9 História do Delito 12 Premissa do Crime 13 O Delinquente 17 As Escolas Penais 18 Finalidade das Penas 20 Fatores Condicionantes: Biológicos, Psicológicos e Sociais Introdução 21 3. Condicionantes Biológicos 35 Fatores Bioquímicos 36 Fatores Neurológicos 37 Fatores Psicofisiológicos 38 4. Condicionantes Psicológicos 40 Personalidade 40 Personalidade Normal 41 Personalidades Patológicas 41 Oligofrenias 42 Alienações 42 Demências 43 Personalidades Psicopáticas 43 Personalidade Delinquente 44 Neuroses 44 Incidente de Sanidade Mental 45 Considerações 45 5. Condicionantes Sociais 51 Condição Social versus Violência 51 A Influência Econômica nos Instintos Criminosos 53 Homem Violento e Criminoso: Fruto do Meio Social em que Vive 55 3 Classificação dos Delinquentes 56 Vitimologia 58 Contribuições da vitimologia 60 6. Tipologia das Vítimas 64 Vitimologia, a Ciência Penal e O Iter Victimae - Processo de Vitimização. 65 Perigosidade Vitimal 66 O Artigo 59, Caput do Código Penal Brasileiro 67 O Art. 59, Caput do CP e a Aplicação da Pena. 67 O Consentimento da Vítima (Ofendido). 68 E a "Vítima", Deve ser Punida? 68 Direitos das Vítimas 69 Direitos Humanos 70 Criminologia Prevencionista 70 Princípios Básicos da Criminologia Prevencionista 71 Fatores Criminógenos como Fontes de Abastecimento do Crime na Sociedade 71 Política Criminal de Prevenção do Delito 72 Políticas Criminais para a Prevenção de Delitos: 77 Políticas Públicas de Prevenção da Violência e a Prevenção Vitimaria 79 Principais Programas de Prevenção 80 Prognóstico Criminológico 86 O Exame Morfológico: 87 Exame Funcional: 88 Exame Psicológico 88 Exame Psiquiátrico: 88 Parecer Técnico 88 7. Referências Bibliográficas 91 04 5 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS 1. Criminologia Fonte: www.zamora24horas.com1 origem da palavra Criminolo- gia, hibridismo greco-latino, tem a sua criação atribuída a Raffa- ele Garofalo (Itália, 1851-1934), que com ela intitulou sua principal obra. Consta, porém, que tal vocábulo já tinha sido empregado anterior- mente na França, por Topinard (1830-1911). Este vocábulo, a princípio re- servado ao estudo do crime, ascen- deu à ciência geral da criminalidade, antes denominada Sociologia Crimi- nal ou Antropologia Criminal. A criminologia é uma ciência social, filiada à Sociologia, e não uma ciência social independente, desorientada. Em relação ao seu ob- 1 Retirado em www.zamora24horas.com jeto — a criminalidade — a crimino- logia é ciência geral porque cuida dela de um modo geral. Em relação a sua posição, a Criminologia é uma ciência particular, porque, no seio da Sociologia e sob sua égide, trata, particularmente, da criminalidade. A criminologia é a ciência que estuda: 1. - As causas e as concausas da criminalidade e da periculosidade preparatória da criminalidade; 2. - As manifestações e os efeitos da criminalidade e da periculosi- dade preparatória da criminalidade e, 3. - A política a opor, assistenci- almente, à etiologia da criminali- A 6 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS dade e da periculosidade preparató- ria da criminalidade, suas manifes- tações e seus efeitos. Conceito de Criminologia: A Criminologia é um conjunto de co- nhecimentos que estudam o fenô- meno e as causas da criminalidade, a personalidade do delinquente e sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo. É a definição de Sutherland. Ciência que como todas as que abordam algum aspecto da criminalidade deve tratar do delito, do delinquente e da pena. Segundo a Unesco, a criminologia se divide em geral (sociológica) e clínica. Na concepção de Newton Fer- nandes e Valter Fernandes, crimino- logia é o "tratado do Crime". A interdisciplinaridade da cri- minologia é histórica, bastando, para demonstrar isso, dizer que seus fundadores foram um médico (Ce- sare Lombroso), um jurista soció- logo (Enrico Ferri) e um magistrado (Raffaele Garofalo). Assim, além de outras, sempre continuam existindo as três correntes: a clínica, a socioló- gica e a jurídica, que, ao nosso ver, antes de buscarem soluções isola- das, devem caminhar unidas e inter- relacionadas. A criminologia radical busca esclarecer a relação cri- me/formação econômico-social, tendo como conceitos fundamentais relações de produção e as questões de poder econômico e político. Já a criminologia da reação social é defi- nida como uma atividade intelectual que estuda os processos de criação das normas penais e das normas so- ciais que estão relacionados com o comportamento desviante. O campo de interesse da crimi- nologia organizacional compreende os fenômenos de formação de leis, o da infração às mesmas e os da reação às violações das leis. A criminologia clínica destina-se ao estudo dos ca- sos particulares com o fim de estabe- lecer diagnósticos e prognósticos de tratamento, numa identificação en- tre a delinquência e a doença. Aliás, a própria denominação já nos dá ideia de relação médico-paciente. O objeto da moderna crimino- logia é o crime, suas circunstâncias, seu autor, sua vítima e o controle so- cial. Deverá ela orientar a política criminal na prevenção especial e di- reta dos crimes socialmente relevan- tes, na intervenção relativa às suas manifestações e aos seus efeitos gra- ves para determinados indivíduos e famílias. Deverá orientar também a Po- lítica social na prevenção geral e in- direta das ações e omissões que, em- bora não previstas como crimes, me- recem a reprovação máxima. Quando nasceu, a criminolo- gia tratava de explicar a origem da delinquência utilizando o método 7 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS das ciências, o esquema causal e ex- plicativo, ou seja, buscava a causa do efeito produzido. Pensou-se que erradicando a causa se eliminaria o efeito, como se fosse suficiente fechar as maternida- des para o controle da natalidade. Academicamente a criminolo- gia começa com a publicação da obra de Cesare Lombroso chamada de L"Uomo Delinquente, em 1876. Sua tese principal era a do delinquente nato. Já existiram várias tendências causais na criminologia. Baseado em Rousseau, a criminologia deveria procurar a causa do delito na socie- dade, baseado em Lombroso, para erradicar o delito deveríamos en- contrar a eventual causa no próprio delinquente e não no meio. Um ex- tremo que procura as causas de toda a criminalidade na sociedade e o ou- tro, organicista, investiga o arqué- tipo do criminoso nato (um delin- quente com determinados traços morfológicos). Isoladamente, tanto as ten- dências sociológicas quanto às orgâ- nicas fracassaram. Hoje em dia fala- se no elemento bio-psicosocial. Volta a tomar força os estudos de en- docrinologia que associam a agressi- vidade do delinquente à testoste- rona (hormônio masculino), os estu- dos de genética ao tentar identificar no genoma humano um possível "gene da criminalidade", junta- mente com os transtornos da violên- cia urbana, de guerra, da forme, etc. De qualquer forma, a crimino- logia transita pelas teorias que bus- cam analisar o crime, a criminali- dade, o criminoso e a vítima. Passa pela sociologia, pela psicopatologia, psicologia, religião, antropologia, política, enfim, a criminologia ha- bita o universo da ação humana. 9 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS 2. A Criminologia e o Comportamento Humano Fonte: orientedh.com.br2 m dos aspectos da Criminolo- gia são os distúrbios da perso- nalidade. Dentre os mais frequentes dessesdistúrbios, podemos citar as neuroses, as psicoses, as personali- dades psicopáticas e os transtornos da sexualidade ou parafilias. Neuro- ses são estados mentais da pessoa humana, que a conduzem à ansie- dade, a distúrbios emocionais como: medo, raiva, rancor, sentimento de culpa. Pode-se afirmar que as neuro- ses são afecções muito difundidas, sem base anatômica conhecida e que, apesar de intimamente ligadas à vida psíquica do paciente, não lhe alteram a personalidade como as psicoses, e consequentemente se 2 Retirado em orientedh.com.br acompanham de consciência penosa e frequentemente excessiva do es- tado mórbido (MARANHÃO, 2004, p. 356). Nessa perspectiva, de acordo com Newton e Valter Fer- nandes (2002, p. 213), podemos ci- tar as neuroses obsessivas, caracte- rizadas pela constante de obsessões, fobias e tiques obsessivos, cujas for- mas de projeção alinham-se á clep- tomania, à piromania, ao impulso ao suicídio e ao homicídio. O termo psicose surgiu para enfatizar as afecções mentais mais graves. As psicoses são conjuntos de doenças caracterizadas por distúr- bios emocionais do indivíduo e sua relação com a realidade social, com o convívio em sociedade. Citamos, U 10 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS dentre outras, a paranoica, a maní- aco depressiva e a carcerária. Segundo Genival França (1998, p. 357), "as psicoses paranoi- cas são transtornos mentais marca- dos por concepções delirantes per- mitindo manifestações de autofilia e egocentrismo, conservando-se cla- ros pensamento, vontade e ações". Os paranoicos fantasiam, e nos seus delírios relacionam o seu bem-estar ou a dor com as pessoas que lhes ro- deiam, atribuindo a estas a causa de seu estado. Temos por exemplo, a paranoia do ciúme, a de persegui- ção, a erótica. Seriam paranoicos os assassinos de Abraham Lincon, Gandhi, John Lennon e o que aten- tou contra a vida do Papa João Paulo II (FERNANDES, 2002, p. 221). A psicose maníaco-depressiva, hoje estudada como transtorno bi- polar do comportamento, é marcada por crises de excitação psicomotora e estado depressivo. A fase maníaca é caracterizada por hiperatividade motora e psíquica, com agitação e exaltação da afetividade e do humor. O maníaco não permanece quieto, é eufórico. A melancólica ou depres- siva caracteriza-se pela inibição ou diminuição das funções psíquicas e motoras. O indivíduo apresenta um quadro marcado pela tristeza, pessi- mismo, sentimento de culpa. As ten- tativas de suicídio são frequentes nesta fase melancólica (GENIVAL, 1998, p. 356). A psicose carcerária é decor- rente da privação da liberdade do in- divíduo submetido a estabelecimen- tos carcerários que não dispõem, em sua grande maioria, de condições adequadas de espaço, iluminação e alimentação. A pessoa acometida deste mal manifesta a "síndrome crepuscular de Ganser", apresentando sintomas com as seguintes características: es- tranhas alterações da conduta mo- tora e verbal do indivíduo que, quando interrogado, encerra-se em impenetrável mutismo ou passa a exibir para respostas ("respostas ao lado"), como se estivera acometido de um estado deficitário orgânico, não raro acompanhado de sintomas depressivos ou catatônicos (FER- NANDES, 2002, p. 225). A personalidade psicopática é caracterizada por uma distorção do caráter do indivíduo. Os indivíduos acometidos por tal personalidade geralmente apresentam o seguinte quadro característico: são inteligen- tes, amorais, inconstantes, insince- ros; faltam-lhes vergonha e re- morso; são egocêntricos, inclinados a condutas mórbidas. Citamos como tipos, dentre outros: os explosivos ou epileptoides, os perversos ou amorais, os fanáticos e os mitomaní- acos. 11 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS Os explosivos ou epileptoides são indivíduos que manifestam em seu comportamento a habitualidade de um estado colérico, raivoso, agressivo, tanto verbalmente como fisicamente. Os perversos ou amorais são maldosos, cruéis, destrutivos. Tais características revelam-se precoce- mente em crianças, nas tendências à preguiça, inércia, indocilidade, im- pulsividade, indiferença, propensos à criminalidade infanto-juvenil. Na fase adulta, o indivíduo possui grau elevado de inteligência, podendo ser observadas mentiras, calúnias, dela- ções, furtos, roubos. Encontram-se no rol dos amorais os incendiários, os vândalos, os "vampiros" e os en- venenadores (FERNANDES, 2002, p. 209) Os fanáticos tendem a um ânimo constante de euforismo, ex- trema exaltação daquilo que dese- jam. Lutam por seus ideais de forma impulsiva, sem limites, sem con- trole. São capazes de praticar qual- quer ato delinquente na busca inces- sante por seus objetivos. Os mitoma- níacos, por sua vez, são acometidos de um desequilíbrio da inteligência no tocante à realidade. São propen- sos à mentira, à simulação, à fanta- sia. Conseguem distorcer, de forma quase convincente, a realidade dos fatos, podendo chegar a extremos de delírios e devaneios. O estudo da sexualidade anô- mala ou transtornos da sexualidade interessa à medicina legal, são dis- túrbios caracterizados por degene- ração psíquica ou por fatores orgâni- cos glandulares. Citamos como exemplo o sadismo, o masoquismo, a pedofilia, o vampirismo e a necro- filia. O sadismo, também chamado algolagnia ativa, é transtorno sexual em que o indivíduo inflige sofrimen- tos físicos à parceira para obter o prazer sexual. O termo tem origem no nome do Marquês de Sade (1740), que acometido do mal, o re- latou em seus romances Justina e Julieta. O marquês sentia prazer em cortar as carnes de suas parceiras e em tratar as chagas das prostitutas (GOMES, 2004, p. 471). Já o masoquismo é algolagnia passiva, isto é, o indivíduo só conse- gue sentir prazer sexual ao sofrer, ao ser humilhado. Jean Jacques Rous- seau, filósofo francês que viveu nos idos anos de 1712 a 1778, bastante conhecido por sua obra Do Contrato Social (onde trabalha a formação e desenvolvimento da sociedade civil e do próprio Estado), em um de seus livros publicados após sua morte, Confissões, revela ser acometido deste transtorno da sexualidade: "Ajoelhar-se aos pés de uma amante imperiosa, obedecer às suas ordens, pedir perdão de faltas que cometera 12 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS eram para mim gozos divinos" (GO- MES, 2004, p. 471). A pedofilia é parafilia caracte- rizada pela atração por parceiros se- xuais crianças ou adolescentes. O vampirismo é a aberração venérea na qual a gratificação é alcançada com o degenerado sugando obsessi- vamente o sangue de seu parceiro sexual (CROCE; CROCE JÚNIOR, 2004, p. 681). A necrofilia, por sua vez, trata- se de transtorno caracterizado por prática de relações sexuais com ca- dáver. "Alguns necrófilos chegam a violar covas, retirar corpos em de- composição para satisfazerem seu instinto" (GOMES, 2004, p. 474). História do Delito O delito se define por ele mesmo, sempre a partir de uma teo- ria, e a melhor teoria é aquela que se aproxima da realidade histórico-so- cial do objeto questionado. Teoria e prática se implicam de uma tal forma no campo jurídico-penal que até não mais se concebe a menor tentativa de enfoque parcelado, à guisa de análise. E o todo que carece de ser ana- lisado, para que não se perca de vista aquele momento crítico de interco- municação recíproca de fatores e elementos, em perpétua dinamici- dade unitária e autotransformadora. Os fatos sociais, com sua enorme carga valorativa, participam do de- lito como o sol participa do movi- mento dos planetas. A propósito, eli- mine-se o sol da vida dos planetas e se verá que não serão apenas estes que sentirão os efeitos dorepentino cataclismo gravitacional das esferas celestes inseridas na Via Láctea. O delito não existe sem o fato social que lhe regula cibernetica- mente o rumo a ser alcançado, por via de alterações de sentido gerado- ras de novas formas e matizes. Deve ser definido por seu conteúdo, nos limites de sua própria efemeridade factual e contraditória, ao invés de ser aprisionado pelo método esqui- zofrênico de certas filosofias ontoló- gicas ou essencialistas. O delito e suas circunstâncias, historicamente condicionadas, não se amoldam a figurinos estanques desenhados por uma natureza in- trínseca, como se nascessem de um mesmo e único ovo, idêntico a si próprio. Os milhões de anos de vida so- bre a terra atestam exatamente o contrário. Não se há de construir o presente com dispensa dos materi- ais que lhe, servem de sustentáculo. Sem a empiricidade dos fatos, potenciais ou consumados, não vale nenhuma teoria, se procura uma verdade ontológica. Fora dos fatos qualquer teoria tem valor, pois se 13 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS alimenta de si mesma, de seu pró- prio enunciado unilateral. É dolo o que for como tal predeterminado. É culpa o que se encaixa no conceito inventado de culpa. Qualquer estudo sobre delitos ou transgressões sociais não pode prescindir do homem. Por sua natu- reza, o delito induz a uma regulação da coletividade, e, por conseguinte, é uma ação, um fenômeno social. O crime, por incrível que pa- reça, não é necessariamente nocivo para o sistema social, o que faz Durkheim apontar a funcionalidade do crime. O referido filósofo promo- veu a despatologização do crime e assinalou o funcionalismo do crime e da pena. (...) O crime é indispensável à evo- lução normal da moral e do direito. É fator de saúde pública. É funda- mental o legado de Durkheim para se entender o crime, o criminoso e o castigo nas sociedades contemporâ- neas. Sua teoria sistêmica veio con- trariar o determinismo positivo lom- brosiano dominante à sua época. E, profetiza: Não há sociedade sem crime." Delito é a representação dos conflitos sociais mais agudos, por agredir sentimentos como a moral e ética social. Nada é bom indefinidamente e sem medida. Para a própria evolu- ção da autoridade é imprescindível que não seja excessiva, seja por- tanto, contestada. Muitas vezes, com efeito, o crime não é senão uma an- tecipação da moral por vir um enca- minhamento ao direito que será". Se o delito, as transgressões e os crimes são fenômenos sociais, en- tão são históricos. Portanto, obede- cem às estruturas dialéticas da soci- edade em que eles se dão. Pode-se argumentar que alguns crimes não são históricos, como o assassinato e o roubo; ocorrem em todas as socie- dades, independentes do sistema só- cio produtivo. Mesmo assim, nem todos os assassinatos e roubos são considerados como transgressões; o colonialismo é um exemplo – hoje atende sob a alcunha de "globaliza- ção". O conceito de crime não é imu- tável, absoluto, sendo mesmo rela- tivo e por isso é que tem sido discu- tido e não inaceitáveis as definições absolutas de crime. Sociologicamente, crime é a infração de um costume ou de uma lei, contra a qual reage a sociedade, aplicando uma pena ao infrator" e "antropologicamente, crime é qual- quer afronta a uma crença domi- nante como, por exemplo, crime com o desrespeito ao totem" ou crença religiosa ou política. Premissa do Crime Ora, a premissa do crime é o fato social. Não é a tipicidade, nem a 14 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS injuricidade, nem a culpabilidade. O crime já existia, na face da terra, antes que essas expressões fossem inventadas. Povos cultos e ci- vilizados, mesmo nos dias de hoje, conseguem fabricar seus delitos sem que seus mais eminentes dogmatas sequer conheçam o significado nu- clear dessas mágicas palavras do moderno direito penal. Nem mesmo nós, no Brasil, eméritos copistas, nos últimos decênios, das elucubra- ções fantasiosas de divertidos pena- listas alemães (com qual deles esta- remos, nos próximos anos?), chega- mos a nos entender no assunto, o que não é de causar espanto. As pa- lavras, afinal, significam o que se es- pera que elas signifiquem, seja para quem fala, seja para quem escuta. Ninguém escapa à tentação (para evitar-se o termo incompetên- cia) de acrescentar seu condimento preferido, na retransmissão da re- ceita. Um condimento que se pre- tende coincidente com a norma le- gislada ou com os princípios avança- dos de justiça e equidade. A premissa do crime é o fato social porque é este que sintetiza a tipicidade, a antijuridicidade e a cul- pabilidade, sem que a recíproca se mostre verdadeira. É o fato social que controla e catalisa a punibili- dade, marca registrada do crime ou delito. Fato social, ou seja: atitude, comportamento ou realidade intrin- secamente cativos ou persuasivos na vida de relação dos indivíduos. Como fenômeno jurídico (ou antijurídico, pouco importa), de- pende o crime, para subsistir, da re- sistência que lhe opõe a ordem social estabelecida. Matar índios é crime entre os índios, mormente se per- tencem à mesma tribo. Matar índios é serviço à comu- nidade no período de implantação e expansão de colônias europeias no Novo Mundo. Haveria sequestro, entre nós, na confinação forçada de dissidente político em hospital psi- quiátrico? Verdades tão banais se rele- gam, todavia, a segundo plano, nos compêndios de direito penal, ou se reputam reservadas à pesquisa his- tórico-sociológica. Descobre-se que ao penalista cabe penetrar na estru- tura ou essência jurídica do crime, auxiliado, ou não, pelo legislador. É assim que figuras como o es- tado de necessidade, legítima de- fesa, exercício de direito e cumpri- mento do dever ganham ares de au- tonomia ontológica perante os fatos do homem, os mesmos fatos que lhes fornecem, nada obstante, a mais concreta e tangível juridicidade ocasional. No arranha-céu dos dog- matas até o vazio das paredes se transforma em estrutura. E como ele 15 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS é invisível, resiste com altivez cama- leonesca às mais disparatadas trans- formações da sociedade e do indiví- duo, desde tempos imemoriais. O Direito Penal trabalha com três conceitos de delito: material, formal e analítico. O conceito material está vin- culado ao ato que possui danosidade social ou que provoque lesão a um bem jurídico. O conceito formal está ligado ao fato de existir uma lei penal que descreva determinado ato como in- fração criminal Já o conceito analítico expõe os elementos estruturais e aspectos essenciais do conceito de crime. Perguntando a um penalista sobre o conceito analítico de delito, ele irá responder (pelo menos a grande maioria) que o crime é um ato típico, ilícito e culpável. Outros responderão que o crime é um fato típico e ilícito. E agora, também, re- tornando ao conceito de que o crime é um fato típico, ilícito, culpável e punível, haverá respostas apon- tando esses quatros elementos es- senciais. Esses conceitos são funda- mentais para que a hermenêutica possa ser utilizada. Assim, é possível ao intérprete da norma aplicar a norma abstrata ao caso concreto com a segurança que tais situações exigem. Na verdade, os conceitos for- mal e material não traduzem com precisão que seja crime. Se há uma lei penal editada pelo Estado, proi- bindo determinada conduta, e o agente a viola, se ausente qualquer cláusula de exclusão da ilicitude ou dirimente da culpabilidade, haverá crime. Já o conceito material sobre- leva a importância do princípio da intervenção mínima quando aduz que somente haverá crime quando a conduta do agente atenta contra os bens mais importantes. Contudo, mesmosendo importante e necessá- rio o bem para a manutenção e sub- sistência da sociedade, se não hou- ver uma lei penal protegendo-o, por mais relevante que seja, não haverá crime se o agente vier a atacá-lo, em face do princípio da legalidade. Mas esses conceitos são rasos. Eles não traduzem a profundidade do fenômeno criminal. Isso fica visí- vel na diferença que existe na aplica- ção da lei penal pela Justiça Crimi- nal togada e pelo Tribunal do Júri. O crime é muitas vezes visto de forma distanciada, sem emoção, compa- rando-se com jurisprudências e mais jurisprudências; no Tribunal do Júri é tudo insólito, a emoção nos julgamentos está presente, os jura- dos em seu íntimo se colocam no banco dos réus e se perguntam se te- riam feito a mesma coisa. Antes de acusação e defesa discursarem sobre 16 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS legítima defesa e inexigibilidade de conduta diversa, o jurado já fez, pelo menos por algumas vezes, a opera- ção mental de ter se colocado no lu- gar do réu, com as condições pesso- ais do mesmo e na hora dos fatos. Antes da descrição abstrata do crime (utilizado pelo Direito Penal), o ju- rado quer perscrutar os fatores que levaram à ocorrência daquele homi- cídio. O Tribunal do Júri é pura Cri- minologia. Ali estão presentes de- lito, delinquente, vítima e o controle social. A Criminologia moderna não mais se assenta no dogma de que convivemos em uma sociedade con- sensual. Pelo contrário, vivemos em uma sociedade conflitiva. Não basta afirmar que crime é o conceito legal. Isso não explica tudo e não ajuda em quase nada na percepção da origem do crime. O crime é muito complexo, ele pode ter origens das mais diver- sas como o excessivo desnível social de uma localidade, defeitos hormo- nais no corpo de uma pessoa, pro- blemas de ordem psíquica como traumas, fobias e transtornos de toda ordem emocional etc. A Criminologia moderna busca se antecipar aos fatos que pre- cedem o conceito jurídico-penal de delito. O Direito Penal só age após a execução (ex.: tentativa) ou na con- sumação do crime. A Criminologia quer mais. Ela quer entender a dinâ- mica do crime e intervir nesse pro- cesso com o intuito de dissuadir o agente de praticar o crime, o que pode ocorrer das mais variadas for- mas. Mas para que isso seja feito, a Criminologia teve que desenvolver outros conceitos para o delito. Con- ceitos estes mais próximos e íntimos da realidade que o fenómeno crimi- nal apresenta. Diversos conceitos foram sur- gindo no desenvolvimento da Crimi- nologia. Já foram tratados aqui os três conceitos utilizados pelo Direito Penal, os quais são obrigatórios pon- tos de partida da Criminologia, mas não esgotam o problema. Molina (MOLINA, Gomes, 2002, p. 66) leciona que Garofalo chegou a criar a figura do delito na- tural, ou seja, para ele, delito seria: "uma lesão daquela parte do sentido moral, que consiste nos sentimentos altruístas fundamentais (piedade e probidade) segundo o padrão médio em que se encontram as raças huma- nas superiores, cuja medida é neces- sária para a adaptação do indivíduo à sociedade", outros autores, no en- tanto, realçam a nocividade social da conduta ou a periculosidade do seu autor. A sociologia criminal já utiliza outro parâmetro, bastante em voga na atualidade: o de conduta desvi- ada ou desvio. Esse critério utiliza- 17 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS como paradigma as expectativas da sociedade. As condutas desviadas são aquelas que infringem o padrão de comportamento esperado pela população num determinado mo- mento. E um conceito que não se confunde com o de crime, mas que o abrange. Anthony Giddens ensina que podemos definir o desvio como o que não está em conformidade com determinado conjunto de normas aceitas por um número significativo de pessoas de uma comunidade ou sociedade. Como já foi enfatizado, nenhuma sociedade pode ser divi- dida de um modo linear entre os que se desviam das normas e aqueles que estão em conformidade com elas. A maior parte das pessoas transgride, em certas ocasiões, re- gras de comportamento geralmente aceitas. Quase toda a gente, por exemplo, já cometeu em determi- nada altura atos menores de furto, como levar alguma coisa de uma loja sem pagar ou apropriar-se de peque- nos objetos do emprego - como pa- pel de correspondência - e dar-lhes uso privado. A dada altura de nossas vidas, podemos ter excedido o limite de velocidade, feito chamadas tele- fônicas de brincadeira (trote), ou fu- mado marijuana (maconha). Desvio e crime não são sinôni- mos, embora muitas vezes se sobre- ponham. O âmbito do conceito de desvio é mais vasto do que o con- ceito de crime, que se refere apenas à conduta inconformista que viola uma lei. Muitas formas de compor- tamento desviante não são sancio- nadas pela lei. Sendo assim, os estu- dos sobre desvio podem examinar fenômenos tão diversos como os na- turalistas (nudistas), a cultura "rave" ou os viajantes "new age". O conceito de desvio pode aplicar-se tanto ao comportamento do indiví- duo, como às atividades dos grupos. O conceito de desvio tem ín- tima relação com a política de con- trole da criminalidade conhecida como tolerância zero. O controle da criminalidade naquele modelo co- meça na repressão de condutas des- viadas. O Delinquente O delito foi o objeto principal de estudo da Escola Clássica crimi- nal. Foi com o surgimento da Escola Positiva que houve um giro de es- tudo, abandonando-se a centraliza- ção na figura do crime e passando o núcleo das pesquisas para a pessoa do delinquente. A Escola Positiva surgiu no contexto de um acelerado desenvol- vimento das ciências sociais (Antro- pologia, Psiquiatria, Psicologia, So- ciologia, estatística etc.). Esse fato determinou de forma significativa 18 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS uma nova orientação nos estudos criminológicos. Ao abstrato indivi- dualismo da Escola Clássica, a Es- cola Positiva opôs a necessidade de defender mais enfaticamente o corpo social contra a ação do delin- quente, priorizando os interesses so- ciais em relação aos indivíduos. Na atualidade, os modelos bi- ológicos de explicação da criminali- dade perderam quase que total- mente a sua força. Todavia, não foram total- mente eliminados, dentro de suas li- mitações também podem contribuir para a compreensão do fenômeno criminal. Na moderna Criminologia, o estudo do homem delinquente passou a um segundo plano, como consequência do giro sociológico ex- perimentado por ela e da necessária superação dos enfoques individua- listas em atenção aos objetivos polí- tico-criminais. O centro de interesse das investigações - ainda que não te- nha abandonado a pessoa do infra- tor - deslocou-se prioritariamente para a conduta delitiva, para a ví- tima e para o controle social. Em todo caso, o delinquente é exami- nado, "em suas interdependências sociais"" como unidade biopsicosso- cial e não de uma perspectiva biopsi- copatológica como sucedera com tantas obras clássicas orientadas pelo espírito individualista e correci- onalista da Criminologia tradicio- nal. No entanto, também não há dúvida de que a Psicologia Criminal, com toda sua técnica de investiga- ção, possa contribuir sensivelmente para a Criminologia com seus estu- dos, individuais ou coletivos, do de- linquente. A Psicologia Criminal destina- se a estudar a personalidade do cri- minoso. A personalidade refere-se, usualmente, aos processos estáveis e relativamente coesos de comporta- mento, pensamento, reação e expe- riência, que são característicos de uma determinada pessoa. Por inter- médio dessas características podere- mos compreender e até prever grande parte do comportamento do indivíduo. O estudoda personali- dade das pessoas em conflito com a lei (e aqui podemos incluir as crian- ças e adolescentes) pode contribuir efetivamente para se entender o fe- nômeno criminal. Uma das maiores contribui- ções criminológicas que a Psicologia pode dar nesse sentido é ajudar na criação de programas que auxiliem a redução da reincidência criminal, campo que ainda não foi explorado totalmente. As Escolas Penais Todas as legislações susten- tam o poder e autoridade do Estado 19 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS para orientar, controlar e punir os seres humanos, com a finalidade de regular a vida social harmoniosa- mente. Por conseguinte, a historici- dade da sociedade humana tem sua imagem nas regulamentações jurídi- cas. Desta forma tendem a se ade- quar aos projetos político-sociais de cada sociedade, nação ou Estado. Longe da uniformidade, o pen- samento jurídico-penal orienta-se por filosofias jurídicas chamadas de Escolas Penais. Mesmo a aceitação da denominação de Escola Penal não é hegemônica. "Não obstante, a denominação se impôs e foi incorpo- rada ao estudo do direito criminal" (Heitor Júnior; Op. cit.: 37). Assim, Mestieri conceitua Es- cola Penal como: "(...) o elenco de soluções típicas do problema penal abrangendo-o em todos os seus as- pectos principais, quais sejam: o de- linquente, a responsabilidade penal, o crime e a pena" (apud; Heitor Jú- nior; op. cit. :37). Dos movimentos que se pro- puseram encaminhar soluções ca- racterísticas aos problemas penais, tentando explicar o crime, a pena, o homem delinquente, sua responsa- bilidade, temos as Escolas: Clássica, Positiva, Intermediária (Eclética) e Nova Defesa Social. Renato Marcão (2002), nos dá um bom resumo das principais Escolas: Escola Clássica: Também chamada idealista, filosófico-jurí- dica, crítico-forense etc., que é livre- arbitrista, invidualista e liberal, con- siderando o crime fenômeno jurí- dico e a pena, meio retributivo. Os clássicos são contratualistas e racio- nalistas; foram, via de regra, jusna- turalistas, aceitando, o predomínio de normas absolutas e eternas sobre as leis positivas. Para a Escola Clássica, a pena é um mal imposto ao indivíduo que merece um castigo em vista de uma falta considerada crime, que volun- tária ou conscientemente, cometeu. Escola Positiva: É determi- nista e defensivista, encarando o crime como fenômeno social e a pena como meio de defesa da socie- dade e de recuperação do indivíduo. Chama-se positiva, não porque aceite o sistema filosófico mais ou menos "comteano", porém, pelo mé- todo. Para a Escola Positiva, o crime é um fenômeno natural e social, e a pena meio de defesa social. En- quanto os clássicos aceitam a res- ponsabilidade moral, para os positi- vistas todo homem é responsável, porque vive e enquanto vive em so- ciedade (responsabilidade legal ou social). Escola Intermediária: Em meio aos extremos bem definidos das Escolas Clássica e Positiva, sur- giram ao longo dos tempos posições 20 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS conciliatórias. Embora acolhendo o princípio da responsabilidade mo- ral, não aceitam que a responsabili- dade moral se fundamente no livre arbítrio, substituindo-o pelo "deter- minismo psicológico". Desta forma, a sociedade não tem o direito de pu- nir, mas somente o de defender-se nos limites do justo. Escola da Nova Defesa So- cial: Depois da II Guerra Mundial, reagindo ao sistema unicamente re- tributivo, surge a Escola do Neode- fensivismo Social. Segundo seus postulados não visa punir a culpa do agente criminoso, apenas proteger a sociedade das ações delituosas. Essa concepção rechaça a ideia de um di- reito penal repressivo, que deve ser substituído por sistemas preventi- vos e por intervenções educativas e reeducativas, postulando não uma pena para cada delito, mas uma me- dida para cada pessoa. Damásio E. de Jesus ensina que na Defesa Social, a pena tem três finalidades: 1. "Não é exclusivamente de na- tureza retributiva, visando também a tutelar os membros da sociedade"; 2. "É imposta para a ressocializa- ção do criminoso"; 3. "A máquina judiciária crimi- nal deve ter em mira o homem, no sentido de que a execução da pena tenha um conteúdo humano". Finalidade das Penas A partir da publicidade do Di- reito Penal, no qual o Estado detém o monopólio da aplicação das san- ções, e também, da não uniformi- dade do pensamento jurídico penal, a aplicação das medidas disciplina- doras adquire o caráter filosófico- utilitário da Escola Penal que tanto o legislador quanto o sentenciador es- tão concertados. Entretanto, dificil- mente o legislador e o sentenciador estão em harmonia entre si no to- cante à finalidade da pena. Tentarei mostrar mais adiante esta terrível contradição no Estatuto da Criança e do Adolescente, e como o Serviço Social vira "marisco" nesta "briga do rochedo com o mar". No momento vamos ver os "instrumentais" jurídico-filosóficos do direito de punir. Assim, temos as teorias Retributiva, Relativa e as Mistas ou Sincréticas. A Teoria Retributiva: Parte do princípio autoritário de que a pena é sempre merecida pelo infra- tor. A sanção penal é essencialmente retributiva porque opera causando um mal ao transgressor. Destina-se à reposição do status quo ante atra- vés da reposição, indenização ou da restituição. Na lição de Cezar Ro- berto Bitencourt, "A pena tem como fim fazer Justiça, nada mais. A culpa 21 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS do autor deve ser compensada com a imposição de um mal, que é a pena, e o fundamento da sanção estatal está no questionável livre arbítrio, entendido como a capacidade de de- cisão do homem para distinguir en- tre o justo e o injusto". Destarte, na teoria retributiva a "pena encontra seu fundamento somente em sua referência ao delito; segundo sua gravidade determina- se sua quantia como que se satisfa- zem as exigências do ordenamento jurídico e a Justiça. Assim como a boa ação merece reconhecimento, a má ação requer reprovação e com- pensação". As Teorias Relativas: Ba- seiam a pena por seus efeitos pre- ventivos. Distinguem dois tipos de prevenção: a geral, e a especial. A geral é a intimidação, ame- aça com sanções os prováveis infra- tores. Dispõe-se a intimidar todos os membros da comunidade jurídica pela ameaça da pena. A especial atua diretamente sobre o autor da violação penal, para que não volte a delinquir, tentando corrigir os que são possíveis de res- socialização e isolar os irrecuperá- veis. Dirige-se exclusivamente ao delinquente, para que este não volte a delinquir. As Teorias Mistas ou Sin- créticas: Mesclam as retributivas e as relativas, afirmando de que a pena é retribuição, sem olvidar dos fins preventivos (buscam reunir em um conceito único os fins da pena). A doutrina unificadora de- fende que a retribuição e a preven- ção, geral e especial, são distintos as- pectos de um mesmo fenômeno, que é a pena. Em resumo, as teorias mistas ou sincréticas acolhem a retribuição e o princípio da culpabilidade como critérios limitadores da intervenção da pena. Fatores Condicionantes: Bioló- gicos, Psicológicos e Sociais In- trodução Parte das reflexões e das pes- quisas sobre aquilo que hoje desig- namos de comportamentos desvian- tes, delinquentes ou criminosos, consoante as perspectivas teóricas, tem-se traduzido numa única e sim- ples questão: por que motivo, ou motivos, alguns indivíduos parecem mais predispostos que outros ao co- metimento de delitos? As respostas têm variado con- soante as épocas históricas e o ma- nancial de conhecimentos teóricos e empíricos disponível. Num primeiro momento, os comportamentos delinquentes fo- ram explicados atravésdo recurso a fatores externos aos homens, mas, de alguma forma inexplicáveis, uma 22 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS vez que foram remetidos para as causas sobrenaturais subjacentes a todo o tipo de eventos e de compor- tamentos. Os comportamentos de- linquentes, e as suas causas e as suas relações, eram simplesmente atribu- ídas à ação de deuses ou outros po- deres sobrenaturais. Num segundo momento, os comportamentos delinquentes pas- saram a ser explicados através do re- curso a fatores internos ou, melhor dizendo, a qualidades intrínsecas a alguns indivíduos, mesmo que rela- tivamente abstratas, como a mal- dade, a imoralidade, o egoísmo ou a desonestidade. Embora ainda per- sistissem explicações de natureza externa, essencialmente sobrenatu- rais, a percepção de que alguns seres humanos transportavam em si uma incapacidade para se conformar às exigências das sociedades moder- nas, intrinsecamente justas e racio- nais, começou a tornar-se preponde- rante. Num terceiro momento, já do- minado por paradigmas científicos ou «positivos», os comportamentos delinquentes passaram a ser expli- cados através do recurso a caracte- rísticas biológicas, psicológicas ou sociais específicas e passíveis de se- rem facilmente observadas e medi- das. Ao longo deste percurso, apenas um pressuposto se manteve inalte- rado. Quem se envolve em delitos é, necessariamente, diferente, e só essa diferença, seja ela biológica, psicoló- gica ou social, permite explicar, e eventualmente prever e prevenir, os comportamentos delinquentes. Este pressuposto marcou todas as refle- xões teóricas que foram desenvolvi- das até quase ao final do século XX. No campo da biologia, por exemplo, a diferença foi remetida para atavismos que se manifesta- vam, quer a um nível intelectual, quer a um nível físico. Até pelo me- nos ao final da segunda grande guerra mundial, os atavismos foram concebidos como sendo hereditá- rios, concepção que legitimou, entre outras práticas «preventivas», o iso- lamento dos «criminosos» ou a sua esterilização forçada, por forma a que não se pudessem reproduzir, e, no limite, a sua eliminação física. No campo da psicologia, a di- ferença foi remetida, quase invaria- velmente, para a questão da perso- nalidade e dos seus diferentes tra- ços, o que sustentou toda uma série de estudos e de programas de trata- mento e de adaptação forçada da personalidade, imatura, impulsiva ou agressiva, do delinquente, às ca- racterísticas e às exigências da vida em sociedade. A própria sociologia não esca- pou a este pressuposto. Os delin- quentes foram quase sempre concei- tualizados como sendo diferentes, 23 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS mesmo que essa diferença se situ- asse nas diferentes tensões ou pres- sões sociais exercidas sobre alguns grupos sociais, e tal motivou todo um conjunto de programas de redu- ção dessas tensões ou pressões como principal estratégia de prevenção de comportamentos delinquentes. O grande marco a inaugurar verdadeiramente os estudos crimi- nológicos encontra-se no surgi- mento do Positivismo e, mais espe- cificamente, da chamada "Antropo- logia Criminal". Nessa ocasião opera-se uma mudança singular no que diz respeito ao objeto das preo- cupações da ciência criminal. En- quanto a Escola Clássica Liberal pre- ocupava-se com o estudo dos postu- lados jurídico – penais, procurando desenvolver uma formulação teórico — dogmática do Direito Penal, o ad- vento da Antropologia Criminal pro- picia uma alteração de perspectiva, voltando os olhos da pesquisa cien- tífico — criminal para o estudo do fe- nômeno do crime e, especialmente, da figura do criminoso. O Positivismo exerce grande influência na conformação dessa nova postura, pois que defende a ir- radiação do método científico para todas as áreas do saber humano, até mesmo às da filosofia e da religião. Nesse contexto, o Direito e especifi- camente o ramo jurídico — criminal, também passaram a sofrer influên- cias importantíssimas desse referen- cial teórico então dominante. O Positivismo Jurídico apro- xima o Direito, o quanto possível, ao método das ciências naturais, objeti- vando limitá-lo àquilo que tenha de concreto, observável, passível de mensuração e descrição. Por isso é que seu resultado acaba sendo a li- mitação do Direito às normas legais, evitando a consideração de fatores axiológicos, metafísicos etc. O afastamento rigoroso das questões que não fossem subsumi- veis ao método de experimentação científico, ensejou, no bojo das ciên- cias criminais, o nascimento da busca de relações e regras constan- tes que tivessem a capacidade de es- clarecer o fenômeno da criminali- dade. A Criminologia exsurge dessa efervescência, desse entusiasmo pelo método científico, dando desta- que nunca dantes constatado ao es- tudo do homem criminoso e à pes- quisa das causas da delinquência. Em meio a esse clima, a crimi- nalidade somente poderia ser estu- dada com sustentação em dados em- píricos ofertados pela demonstração experimental de leis naturais segu- ras e imutáveis. O criminoso passa a ser objeto de estudo, uma fonte de pesquisas e 24 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS experimentos com vistas à desco- berta científica das causas do fenô- meno criminal. A obstinada busca de causas explicativas do agir criminoso em oposição às condutas conforme a lei, somente poderia resultar na nega- ção do "livre arbítrio", apontado até então pela Escola Clássica como ver- dadeiro fundamento legitimador da responsabilidade criminal. É claro que a noção de livre ar- bítrio não poderia servir a uma con- cepção positivista, pois que ensejava um total descontrole e imprevisibili- dade quanto às práticas criminosas. A postura positivista não se coaduna com tal insegurança. Deseja apro- priar-se de um conhecimento que propicie o domínio seguro de leis constantes a regerem o mundo e, por que não, o comportamento humano, inclusive aquele desviado. A conse- quência imediata foi a consideração do criminoso como um "anormal". A partir daí, bastaria dotar o pesquisa- dor de instrumentos hábeis a seleci- onar, de forma científica, os crimi- nosos (anormais), em meio à popu- lação humana aparentemente ho- mogênea ou normal. O primeiro grande passo dado por um pesquisa- dor nesse sentido foi a doutrina pre- conizada por Cesare Lombroso, des- tacando-se a publicação de sua co- nhecida obra "O homem Delin- quente", em 1876. Lombroso entendia ser possí- vel detectar no criminoso uma espé- cie diferente de "homo sapiens", o qual apresentaria determinados si- nais, denominados "stigmata", de natureza física e psíquica. Esses si- nais caracterizariam o chamado "criminoso nato" (forma da calota craniana e da face, dimensões do crânio, maxilar inferior procidente, sobrancelhas fartas, molares muito salientes, orelhas grandes e defor- madas, corpo assimétrico, grande envergadura dos braços, mãos e pés, pouca sensibilidade à dor, cruel- dade, leviandade, tendência à su- perstição, precocidade sexual etc.). Todos esses sinais indicariam um "regresso atávico", tendo em conta sua clara aproximação com as for- mas humanas primitivas. Ademais, Lombroso intentou demonstrar uma ligação entre a epilepsia e aquilo que chamava de "insanidade moral". Percebe-se claramente o con- teúdo determinista das teorias lom- brosianas, o qual conduziria a im- portantes conclusões e consequên- cias para a Política Criminal. Ora, se o criminoso estava ex- posto à conduta desviada forçosa- mente, tendo em vista uma congê- nita predisposição, seria injusto atri- buir-lhe qualquer reprovação que fosse ligada ao desvalor de suas es- colhas quanto à sua conduta, isso 25 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS pelo simplesmotivo de que não atu- ava por sua livre escolha, mas sim dirigido por forças naturais irresistí- veis a impeli-lo para os mais diver- sos atos criminosos. Assim sendo, jamais poderia ser exposto a apela- ções morais e infamantes. Não obs- tante, sendo as práticas criminosas componentes indissociáveis de sua personalidade, estaria a sociedade legitimada a defender-se, impondo- lhe desde a prisão perpétua até a pena de morte. A doutrina lombrosiana, no entanto, foi grandemente criticada e desmentida por estudos ulteriores que comprovaram a inexistência de indícios seguros a demonstrarem qualquer diferença fisiológica, física ou psíquica entre homens que per- petraram atos criminosos e indiví- duos cumpridores da lei. Não obstante, deve ser atribu- ído a Lombroso o mérito de ser o pri- meiro a impulsionar os estudos que dariam origem à Criminologia. Ele iniciou, com a sua Antropologia Cri- minal, os estudos do homem delin- quente, razão pela qual tem sido considerado o verdadeiro "Pai da Criminologia". A partir dele come- çam os mais diversos campos de pesquisa de elementos endógenos capazes de ocasionarem o compor- tamento criminoso. Inúmeras investigações cientí- ficas nos mais variados campos das ciências naturais e biológicas logra- ram conformar um conjunto de teo- rias elucidativas do fenômeno crimi- nal. A esse conjunto costuma-se de- nominar "Criminologia Clínica". Pode-se exemplificar essa cor- rente criminológica com alguns de seus ramos mais destacados: Biolo- gia Criminal, Criminologia Genética, Psiquiatria Criminal, Psicologia Cri- minal, Endocrinologia Criminal, Es- tudos das Toxicomanias etc. Todas essas linhas de pesquisa têm como traço comum a busca de uma explicação etiológica endógena do crime e do homem criminoso. Procura-se apontar uma causa da conduta criminosa que estaria no próprio homem, enquanto alguma forma de anormalidade física e/ou psíquica. Também todas essas teo- rias apresentam um equívoco co- mum: pretendem explicar isolada- mente o complexo fenômeno da cri- minalidade. Em contraposição à "Crimino- logia Clínica", surge a denominada "Criminologia Sociológica", tendo como seu mais destacado represen- tante Enrico Ferri. A "Criminologia Sociológica" propõe uma revisão crí- tica da "Criminologia Clínica", pondo a descoberto que a insistência desta nas causas endógenas da cri- minalidade, olvidava as importantes influências ambientais ou exógenas para a gênese do crime. Aliás, para 26 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS os defensores da "Criminologia Soci- ológica", as causas preponderantes da criminalidade seriam mesmo am- bientais ou exógenas, de forma que mais relevante do que perquirir as características do homem crimi- noso, seria identificar o meio crimi- nógeno em que ele se encontra. No entanto, a "Criminologia Sociológica" em nada inova no que tange à postura de procurar uma eti- ologia do delito. Os criminólogos ainda insistem em encontrar "cau- sas" para o crime, somente alte- rando a natureza destas, transplan- tando-as do criminoso para o ambi- ente criminógeno. Em suma, muda o "locus" da pesquisa, mas não muda a natureza claramente etiológica desta. Os estudos relativos à atuação do ambiente na criminalidade são variegados, podendo-se mencionar alguns ramos a título meramente exemplificativo: Geografia Criminal e Meio Natural, Metereologia Crimi- nal, Higiene e Nutrição, Sistema Econômico, Mal vivência, Ambiente familiar, Profissão, Guerra, Migra- ção e Imigração, Prisão e contágio moral, Meios de Comunicação etc. Ainda no matiz sociológico deve-se dar atenção especial às cha- madas "Teorias Estrutural Funcio- nalistas", as quais podem ser trata- das como item apartado, tendo em vista suas peculiaridades. As Teorias Estrutural-Funcio- nalistas afirmam que o crime é pro- duzido pela própria estrutura social, inclusive exercendo uma certa fun- ção no interior do sistema, de ma- neira que não deve ser visto como uma anomalia ou moléstia social. A base teórica principal é ofer- tada por Emile Durkheim que dá ên- fase para a normalidade do crime em toda e qualquer sociedade. Aduz o autor em referência que "o crime é normal porque uma sociedade isenta dele é completamente impos- sível". Mas, o autor vai além, che- gando a reconhecer que o crime não somente é normal, mas também "é necessário" para a coesão social, sendo uma sociedade sem crimes in- dicadora, este sim, de deterioração social. Durkheim indica o fenômeno criminal como reafirmador da or- dem social violada e, portanto, legi- timador de sua existência. Toda vez que acontece um crime, a reação de- sencadeada contra ele reafirma os li- ames sociais e ratifica a validade e a vigência das normas legais. Portanto, o desvio é funcional, somente tornando-se perigoso ao exceder certos limites toleráveis. Em tais circunstâncias pode eclodir um estado de desorganização e anar- quia, no qual todo o ordenamento normativo perde sua efetividade. Não emergindo disso um novo orde- namento a substituir aquele que 27 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS ruiu, passa-se a uma situação de ca- rência absoluta de normas ou regras, ficando a conduta humana à mar- gem de qualquer orientação. A isso Durkheim dá o nome de "anomia", efetiva causadora de desagregação e deterioração social. O conceito de "anomia" e o re- conhecimento da funcionalidade do crime no meio social produzem uma revolução quanto às finalidades e fundamentos da pena, vez que estes já não devem mais ser buscados na fantasiosa profilaxia de um suposto mal. Outra formulação teórica rele- vante de matiz estrutural-funciona- lista deve-se a Robert Merton. Ele se apropria do conceito de "anomia" para demonstrar que o desvio não passa de um produto da própria es- trutura social. Portanto, absoluta- mente normal, considerando que esta própria estrutura é que vem a compelir o indivíduo à conduta des- viante. Merton expõe detalhada- mente o mecanismo estrutural que conduz o indivíduo ao crime no seio social: a sociedade apresenta-lhe metas, mas não lhe disponibiliza os meios necessários para o seu alcance legal. O indivíduo perde suas refe- rências, sentindo-se abandonado sem possibilidades "normais" de conseguir seus objetivos. Sem os meios legais, mas pressionado para a conquista de certos objetivos soci- ais, o indivíduo precisa preencher esse vácuo (anomia) de alguma ma- neira. E a única maneira disponível será a perseguição dos fins colima- dos por meios ilegítimos, ilegais e desviantes, uma vez que os legítimos não estão acessíveis. De acordo com Merton: "a desproporção entre os fins cultural- mente reconhecidos como válidos e os meios legítimos à disposição do indivíduo para alcançá-los, está na origem dos comportamentos desvi- antes". E mais: "a cultura coloca, pois, aos membros dos estratos infe- riores, exigências inconciliáveis en- tre si. Por um lado, aqueles são soli- citados a orientar a sua conduta para a perspectiva de um alto bem-estar; por outro, as possibilidades de fazê- lo, com meios institucionais legíti- mos, lhes são, em ampla medida, ne- gados". Outro referencial importante é a denominada "Teoria da Associação Diferencial", produzida por Edwin H. Sutherland. Segundo essa cons- trução teórica, a criminalidade, a exemplo de qualquer outro modelo de comportamento humano, é aprendida conforme as convivências específicas às quais o sujeito se ex- põe em seu ambiente social e profis- sional. Essa linha de pensamento pos- sibilitou a formulação da conhecida "Teoria das Subculturas Criminais", para a qual o sujeito aprenderia o 28 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS crime de acordo com sua convivên- cia em certos ambientes, assumindo as característicasde determinados grupos aos quais estaria preso por uma aproximação voluntária, ocasi- onal ou coercitiva. Afirma Sutherland que o pro- cesso de "associação diferencial" propicia ao sujeito, de conformidade com seu convívio, aprender e apre- ender as condutas desviantes res- pectivas. Dessa forma, tal teoria te- ria a vantagem de poder explicar a criminalidade das classes baixas tanto quanto a das classes altas. Nesse processo de convívio — apren- dizado os infratores menos privilegi- ados praticariam usualmente os mesmos crimes, vez que estariam conectados ao convívio de pessoas de seu nível social e só teriam opor- tunidade de aprender essas determi- nadas espécies de condutas deliti- vas, não lhes sendo possibilitado o acesso a conhecimentos e condicio- namentos que os tornassem aptos a outras condutas mais sofisticadas. De outra banda, os mais abastados teriam acesso ao aprendizado de ou- tras modalidades criminosas ligadas naturalmente ao seu meio social. Em razão disso também difi- cilmente incidiriam nas condutas afetas às classes mais baixas. Há certo ponto de contato en- tre a teoria de Merton e a de Suther- land, pois que a modalidade de con- duta atribuída aos indivíduos das classes pobres e abastadas apresen- taria uma distribuição em conformi- dade com os meios dispostos aos su- jeitos para desenvolverem seus im- pulsos criminosos. No entanto, a formulação de Sutherland tem a pre- tensão de ser mais ampla, forne- cendo uma fórmula geral apta a ex- plicar a criminalidade dos pobres e das classes altas. Para o autor sob comento, qualquer conduta desvi- ante seria "apreendida em associa- ção direta ou indireta com os que já praticaram um comportamento cri- minoso e aqueles que aprendem esse comportamento criminoso não têm contatos frequentes ou estreitos com o comportamento conforme a lei". Dessa forma, uma pessoa torna-se ou não criminosa de acordo "com o grau relativo de frequência e intensi- dade de suas relações com os dois ti- pos de comportamento" (legal e ile- gal). Isso é o que se denomina pro- priamente de "associação diferen- cial". Essa maior abrangência da te- oria preconizada por Sutherland a teria tornado mais completa do que aquela defendida por Merton. Se- gundo a maioria dos críticos, as ex- plicações de Merton seriam bastante satisfatórias para a criminalidade dos pobres, mas não serviriam para 29 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS esclarecer por que pessoas dotadas de todos os meios institucionais e le- gais para a consecução de seus obje- tivos sociais, mesmo assim, perpe- trariam ações delituosas. Portanto, não é sem motivo que o termo "crime de colarinho branco" ou "white collar crime" foi cunhado e empregado originalmente por Edwin H. Sutherland, em data de 28.11.1939, durante uma conferên- cia que se passou na sede da "Ame- rican Sociological Society", com a fi- nalidade de fazer referência a uma espécie de criminalidade praticada por pessoas de nível social elevado, e em especial na sua atuação profissi- onal. Como derradeira represen- tante da linha de pensamento estru- tural — funcionalista pode-se men- cionar a chamada "Teoria das Técni- cas de Neutralização", cujos princi- pais expoentes foram Gresham M. Sykes e David Matza. Trata-se de uma "correção da Teoria das Subcul- turas Criminais", mediante a com- plementação implementada pelo acréscimo dos estudos das "técnicas de neutralização". Estas seriam ma- neiras de promover a racionalização da conduta marginal, as quais se- riam apreendidas e usadas lado a lado com os modelos de comporta- mento e valores desviantes, de forma a neutralizar a atuação eficaz dos valores e regras sociais, aos quais o delinquente, de uma forma ou de outra, adere. Na verdade, mesmo aquele in- divíduo que vive mergulhado em uma subcultura criminal não perde totalmente o contato com a cultura oficial e, de alguma forma, sobre a influência e presta reconhecimento a algumas de suas regras. E desta constatação que partem Sykes e Matza para lograrem expor os meca- nismos usados pelas pessoas para justificarem perante si mesmas e os demais, suas condutas desviantes, infringentes das normas oficiais im- postas pela sociedade. São descritas algumas espécies básicas de "técnicas de neutraliza- ção": a) Exclusão da própria responsa- bilidade — o infrator se enxerga como vítima das contingências, sur- gindo muito mais como sujeito pas- sivo quanto ao seu encaminhamento para o agir criminoso. b) Negação da ilicitude — o cri- minoso interpreta suas atuações apenas como proibidas, mas não cri- minosas, imorais ou destrutivas, procurando redefini-las com eufe- mismos. c) Negação da vitimização — a ví- tima da ação delituosa é apontada como merecedora do mal ou do pre- juízo que lhe foi impingido. 30 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS d) Condenação dos que conde- nam — atribuem-se qualidades ne- gativas às instâncias oficiais respon- sáveis pela repressão criminal. e) Apelo às instâncias superiores — sobrevalorização conferida a pe- quenos grupos marginais a que o desviado pertence, aderindo às suas normas e valores alternativos, em prejuízo das regras sociais normais. Note-se que a mais destacável "técnica de neutralização" é a pró- pria criação de uma subcultura. Esta é a maior ensejadora de abranda- mentos de consciência e defesas contra remorsos, na medida em que o apoio e aprovação por parte de ou- tras pessoas integrantes do grupo, ocasionam uma tranquilização e um sentimento de integração que não se poderia obter no seio da sociedade calcada nas normas e valores ofici- ais. Inobstante os avanços obtidos com as "Teorias Estrutural — Funci- onalistas", uma alteração verdadei- ramente radical do modelo de pes- quisa do fenômeno criminal so- mente adviria com o surgimento da chamada "Criminologia Crítica". É com ela que se leva a efeito o aban- dono da mais constante premissa da Criminologia Tradicional, qual seja, aquela de ser o crime uma realidade ontologicamente reificada. A partir das ideias trazidas à tona pela revi- são criminológica crítica, o crime passa a ser visto como uma reali- dade meramente normativa, mol- dada pelo Sistema Social responsá- vel pela edição, vigência e aplicação das leis penais. Por reflexo disso o criminoso deixa de ser encarado como um "anormal" e o crime como manifes- tação "patológica". A explicação para a criminali- dade é agora procurada no desvelar da atuação do Sistema Penal que a define e reage contra ela, iniciando pelas normas abstratamente previs- tas, até chegar à efetiva atuação das agências oficiais de repressão e pre- venção que aplicam as leis. Vislum- bra-se que a indicação de alguém como criminoso é dependente da ação ou omissão das agências esta- tais responsáveis pelo controle so- cial. Percebe-se que muitos indiví- duos praticantes de atos desviantes não são tratados como criminosos, até que sejam alcançados pela atua- ção das referidas agências, as quais são pautadas por uma conduta e exercem um papel altamente sele- tivo. Ser ou não ser criminoso é algo que não está ligado à presença ou não de alguma doença ou anormali- dade, mas sim ao fato de haver ou não o indivíduo sido retido pelas malhas das agências seletivas que 31 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS agem baseadas em orientações nor- mativas e sociais. Propõem as Teorias da Crimi- nologia Radical o abandono do velho modelo etiológico, visando erigir uma inovadora abordagem crítica do Sistema Penal, inclusive propici- ando um sério questionamento de sua legitimidade. A Criminologia Crítica é carac- terizada por certo matiz marxista, pois parte da ideia de que o Sistema Punitivo é construído e funciona com apoio em uma ideologiada so- ciedade de classes. Dessa forma, seu principal objetivo longe estaria da defesa social ou da preocupação com a criação ou manutenção de condi- ções para um convívio harmônico entre as pessoas. O verdadeiro fim oculto de todo Sistema Penal seria a sustentação dos interesses das clas- ses dominantes. Qualquer instru- mento repressivo de controle social revelaria a atuação opressiva de umas classes sobre as outras. Por isso seria o Direito Penal elitista e seletivo, recaindo pesadamente so- bre os pobres e raramente atuando contra os integrantes das classes do- minantes, os quais, aliás, seriam aqueles que redigem as leis e as apli- cam. O Direito é visto como absolu- tamente despido de qualquer finali- dade de transformação social. Ao contrário, é encarado como um ins- trumento de manutenção e reforço do "status quo" social, conservando e alimentando desigualdades pelo exercício de um poder de dominação e força. Impõe-se uma conscientização da gigantesca diferença de intensi- dade da atuação do Direito Penal so- bre setores desvalidos da sociedade, enquanto apresenta-se bastante le- niente e omisso perante condutas gravíssimas ligadas às classes domi- nantes. É nesse contexto que emerge a "Teoria do Labeling Approach" ou "Teoria da Reação Social". Enquanto o pensamento criminológico até en- tão vigente advogava a tese de que o atributo criminal de uma conduta existia objetivamente, como um ente natural e até era preexistente às nor- mas penais que o definiam num mero exercício de reconhecimento, o qual, aliás, consistia em um certo acordo universal, um consenso so- cial; a "Teoria do Labeling Appro- ach" virá para desmistificar todas essas equivocadas convicções. O "Labeling Approach" ou "etiquetamento" indica que um fato só é tomado como criminoso após a aquisição desse "status" através da criação de uma lei que seleciona cer- tos comportamentos como irregula- res, de acordo com os interesses so- ciais. Em seguida, a atribuição a al- 32 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS guém da pecha de criminoso de- pende novamente da atuação sele- tiva das agências estatais. Passa a ser objeto de estudo da Criminologia a descoberta dos me- canismos sociais responsáveis pela definição dos desvios e dos desvian- tes; os efeitos dessa definição e os atores que interagem nessas com- plexas relações. Deixa-se de lado a ilusão do crime como entidade natu- ral pré-jurídica e do criminoso como portador de anomalias físicas ou psí- quicas. Essa nova linha de reflexões produz uma derrocada no mito do Sistema Penal como recuperador dos desviados. Contrariamente, en- tende-se que a atuação rotuladora do Sistema Penal exerce forte pres- são para a permanência do indiví- duo no papel social (marginal e mar- ginalizado) que lhe é atribuído. O su- jeito estigmatizado ao invés de se re- cuperar, ganharia um reforço de sua identidade desviante. Na realidade, o Sistema Penal assim concebido passa a ser entendido como um cria- dor e reprodutor da violência e da criminalidade. Finalmente cabe expor suma- riamente a relação entre a “Sociolo- gia do Conflito” e a “Nova Crimino- logia". Como já visto, a Nova Crimi- nologia põe em cheque a ideia de que as normas de convívio social de- rivam de certo consenso em torno de valores e objetivos comuns. Aí está o ponto de contato com a "Sociologia do Conflito", que apre- goa ser uma tal concepção uma mera ficção erigida com a finalidade de le- gitimar a ordem social. Na reali- dade, essa ordem social seria pro- duto não de consenso, mas do con- flito de interesses de grupos antagô- nicos, prevalecendo a vontade da- queles que lograram exercer maior dominação. Com o esboço desse quadro evolutivo da ciência criminológica, é possível determinar dois principais momentos de mudanças conceituais e epistemológicas: o primeiro deles refere-se à transição do Direito Pe- nal Clássico para o nascimento da Criminologia, sob a égide do Positi- vismo, com as inaugurais pesquisas lombrosianas de Antropologia Cri- minal. Somente aí é que o homem criminoso adquire importância cen- tral nos estudos, que não mais se re- duzem às dogmáticas jurídicas. O segundo momento relevante foi o da mudança radical do referen- cial teórico da Criminologia, propi- ciado pela emergência da chamada "Criminologia Crítica". Nessa oportunidade aban- dona-se o modelo de pesquisa etio- lógico – profilático, mediante um consistente questiona-mento de um longo "processo de medicaliza- ção do crime". O fenomeno criminal 33 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS passa a ser perquirido como criação da própria organização social e não mais como um ente pré-existente, passível de compreensão e apreen- são pela aplicação isolada do método das ciências naturais. A virada epis- temológica propiciada pela "Crimi- nologia Crítica" não desmerece o conjunto dos estudos anteriores e nem representa um ponto final para a pesquisa criminológica. Tão somente faz perceber que são possíveis explicações parciais para o fenômeno criminal, mas ja- mais tal questão pode ser devida- mente desvendada de forma sim- plista e reducionista. A criminalidade e a violência em geral são problemas complexos que somente permitem uma visão ponderada através de um conjunto de saberes e métodos de investiga- ção, os quais, isolados, produzem noções fantasiosas e distorcidas. Não é por outro motivo que atual- mente se fala numa "Criminologia Integrada". Neste item procedeu-se a uma retomada dessa evolução dos estudos criminológicos já anterior- mente levada a efeito em outro tra- balho com um objetivo bastante de- finido: pretendeu-se expor o mais clara e pormenorizadamente possí- vel como se chegou à ponderada e racional conclusão de que o "crime" em si não existe na natureza, tra- tando-se do resultado de normas humanas convencionadas. O crimi- noso, portanto, é somente todo aquele que infringe tais normas e não o portador de anomalias. As pesquisas etiológico-profiláticas, que são o original impulso da Crimi- nologia, são impregnadas de um de- terminismo irreal porque baseadas em uma noção ilusória do crime como ente natural pré-jurídico, que o Direito Penal somente faz reco- nhecer e declarar, quando, na ver- dade, o crime é uma criação do Di- reito, podendo inclusive modificar- se ao longo do tempo e das mudan- ças sociais. Ainda que certos eventos criminais possam ser validamente explicados por meio de uma aborda- gem etiológica (o homicídio perpe- trado por um esquizofrênico que acredita estar esfaqueando um monstro), deve-se ter em mente que se trata de um critério válido so- mente de forma eventual e parcial. Além disso, mesmo sua validade eventual em nada atinge a conclusão inarredável de que o crime é uma criação normativa, um filho do Di- reito e das convenções e não um re- bento da natureza. O retorno a uma noção equivocada a este respeito, devido a qualquer espécie de desco- berta científica e novas possibilida- des de intervenção, constitui um enorme retrocesso do pensamento criminológico com riscos de terríveis consequências sociais e individuais. 35 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS 3. Condicionantes Biológicos Fonte: www.meupositivo.com.br3 habitual a questão do crime envolver uma série de refle- xões e comentários que ultrapassam em muito o ato delituoso em si; são questões que resvalam na ética, na moral, na psicologia e na psiquiatria simultaneamente. Sempre há al- guém atribuindo ao criminoso tra- ços e características psicopatológi- cas ou sociológicas: porque Fulano 3 Retirado em www.meupositivo.com.br cometeu esse crime? Estaria pertur- badopsiquicamente? Estaria encur- ralado socialmente? Seria essa a única alternativa? Ou, ao contrário, seria ele simplesmente uma pessoa maldosa? Portadora de um caráter delituoso, etc. Atualmente, apesar da ciência não ter ainda algum con- senso definitivo sobre a questão, sabe-se, no mínimo, que qualquer E 36 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS abordagem isolada do ser humano corre enorme risco de errar. Fatores Bioquímicos Os estudos neste grupo causal procuram dosar algumas substân- cias possivelmente envolvida com o comportamento violento, como por exemplo, o colesterol, a glicose, hor- mônios e alguns neurotransmisso- res. Virkkunen, em 1987, procurou demonstrar a diminuição nos níveis séricos de colesterol em pessoas com comportamento criminoso, da mesma forma como também se as- sociava os baixos níveis de glicose. Como o álcool é frequente- mente relacionado com o comporta- mento violento, foi também estu- dada a sua associação com glicose e colesterol. Fisiologicamente se de- monstra que, de fato, o álcool dimi- nui o açúcar na corrente sanguínea por inibição da produção de glucose hepática. Deste modo, o álcool ao fa- zer diminuir a quantidade de açúcar no sangue pode ser apontado como um fator facilitador do crime. Quanto ao colesterol a situa- ção é mais curiosa ainda. Virkkunen mostrou que a relação entre o coles- terol e o álcool pode ter até uma fi- nalidade discriminante. Ele conse- guiu isolar dois grupos de pessoas envolvidas com o alcoolismo; um grupo representado por pessoas que ficam agressivas quando bebem e outro, por pessoas que bebem, mas não ficam agressivos. Os primeiros mostraram menor nível de coleste- rol do que os segundos. E, estes, me- nor nível ainda do que os sujeitos não delinquentes, verificando-se que a maior violência aparece asso- ciada a menor quantidade de coles- terol. No que diz respeito ao nível neuroendócrino, a hormônio mais relacionado à agressividade é a tes- tosterona. A pesquisa verifica os ní- veis desse hormônio tomando por base três comparações; entre crimi- nosos, entre criminosos e não crimi- nosos (grupo controle) e entre não criminosos relacionando-se com a agressividade e não agressividade. Nas investigações entre pes- soas não criminosas os resultados são muito variáveis e até contraditó- rios, concluindo-se por vezes que não há correlações entre testoste- rona e potencial para agressividade (Rubin, 1987). Entre criminosos e não criminosos (Olweus, 1987; Ru- bin, 1987; Schalling, 1987) os resul- tados são mais consistentes, mas nem sempre são significativos. Al- guns desses resultados mostram cri- minosos apresentando maior nível de testosterona do que os não crimi- 37 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS nosos. Sobre as influências neuro- químicas no comportamento agres- sivo, algumas das substâncias mais estudadas (Rubin, 1987; Magnus- son, 1988; Bader, 1994) são a sero- tonina, que existiria em menor quantidade, o ácido fenilacético e a norepinefrina, que existiriam em maior quantidade nos criminosos. Esses estudos procuram esta- belecer uma correlação entre altera- ções bioquímicas capazes de desen- cadear comportamentos criminosos, bem como as associações entre tais alterações, ingestão de álcool e cri- minalidade. Fatores Neurológicos Esses estudos (Buikhuisen, 1987; Hare & Connolly, 1987; Na- chshon & Denno, 1987; Pincus, 1993) associam desordens do com- portamento com eventuais altera- ções cerebrais, essencialmente no hemisfério esquerdo. Os estudos parecem apontar na identificação das disfunções neu- ropsicológicas relacionadas ao com- portamento violento estar presente no lobo frontal e nos lobos tempo- rais. O Lobo Frontal se relaciona à regulação e inibição de comporta- mentos, a formação de planos e in- tenções, e a verificação do compor- tamento complexo, suas alterações teriam como consequência dificul- dades de atenção, concentração e motivação, aumento da impulsivi- dade e da desinibição, perda do au- tocontrole, dificuldades em reco- nhecer a culpa, desinibição sexual, dificuldade de avaliação das conse- quências das ações praticadas, au- mento do comportamento agressivo e aumento da sensibilidade ao álcool (sintomas positivamente correlacio- nados com o comportamento crimi- noso), bem como incapacidade de aprendizagem com a experiência (sintoma correlacionado positiva- mente com a alta incidência de reci- divas entre alguns tipos de crimino- sos). Os Lobos Temporais regulam a vida emocional, sentimentos, ins- tintos, comandam as respostas vis- cerais às alterações ambientais. Al- terações nesses lobos resultam em inúmeras consequências comporta- mentais, das quais se destacam a di- ficuldade de experimentar algumas emoções, tais como o medo e outras emoções negativas e, consequente- mente, uma incapacidade em desen- volver sentimentos de medo das sanções, postura esta frequente em criminosos. Esses estudos procuram associar o crime com alterações ce- rebrais especificas. (Cristina Quei- rós, A importância das abordagens biológicas no estudo do crime). 38 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS Fatores Psicofisiológicos O enfoque psicofisiológico se baseia essencialmente na avaliação da função cerebral (fisiopatologia), como por exemplo a Atividade Elé- trica da Pele, o Eletroencefalograma e o Eletrocardiograma, trabalhando sobretudo em contexto laboratorial. Falta, no momento, uma metanálise de outros tipos de investigação da função cerebral, como por exemplo, os estudos com PET e SPECT . Os estudos demonstraram que, tanto a ativação tônica (reação global do sujeito na ausência de esti- mulação específica) quanto a ativa- ção fásica (reação a estimulação es- pecífica), é menor nos criminosos. Também apresentam, os crimino- sos, uma média menor do ritmo car- díaco, menor nível de condutância da pele e maior tempo de resposta na atividade elétrica da pele, bem como registros eletroencefalográfi- cos com maior incidência de anor- malidades (Fowles, 1980; He- mming, 1981; Satterfield, 1987; Vo- lavka, 1987; Hodgins & Grunau, 1988; Milstein, 1988; Venables, 1988; Buikhuisen, Eurelings-Bon- tekoe & Host, 1989; Patrick, Cuth- bert & Lang, 1994). Alguns estudos trabalharam também com crianças e adolescen- tes (Magnusson, 1988), e demons- traram que as crianças com compor- tamentos considerados desviantes apresentam maior ativação do sis- tema nervoso. No entanto estudos longitudinais (Raine, Venables & Williams, 1990 e 1995) demonstra- ram que adolescentes com compor- tamentos anti-sociais e que posteri- ormente vieram a cometer crimes apresentavam significativamente menor ativação cardiovascular e ele- trodérmica, do que os que não come- teram crimes. 39 40 PERFIS CRIMINAIS E COMPORTAMENTAIS 4. Condicionantes Psicológicos Fonte: flaviomuniz.com.br4 Personalidade egundo Porot, persona-lidade é a síntese de todos os elementos que concorrem para a conformação mental de uma pessoa, de modo a conferir-lhe fisionomia própria. Em termos gerais podemos dizer que é o hardware da pessoa. Na constituição da persona- lidade interferem ou atuam múlti- plas variáveis de ordem biopsi- 4 Retirado em flaviomuniz.com.br quica (constituição biopsí-quica) somadas às experiências vividas (integração). Como colocado por odon ramos maranhão, consti- tuição é o conjunto da estrutura do organismo e do tempe-ramento. A estrutura da personalidade é integrada por: x tipo morfológico: conformação básica; x tipo tempera- mental: disposição emocio-nal básica; x caráter conjunto de experiências vividas.
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