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TRYPANOSOMA SPP Em relação a esse gênero temos duas doenças de importância, a tripanossomíase americana, causada principalmente pelo Trypanosoma cruzi, Trypanosoma rangeli e Trypanosoma lewisi, e a tripanossomíase africana, também conhecida como Doença do Sono, causada pelo Trypanosoma brucei gambiense. Ambos têm as principais formas evolutivas em comum, sendo tripomastigota, epimastigota (no interior dos vetores) e amastigota (no interior das células do hospedeiro). → Ciclo biológico – T. brucei O homem infectado apresenta a forma tripomastigota circulante e amastigota no interior celular. Uma mosca (não infectada – Glossina palpalis), ao ingerir o sangue deste homem, ingere, também, formas tripomastigotas do parasita. Em seguida, no interior desse vetor ocorre a multiplicação das formas tripomastigotas (colonização do intestino) e a transformação delas em epimastigotas, com posterior tropismo para a glândula salivar da mosca (e para a laringe). Diante desta colonização, as formas epimastigotas se transformam em tripomastigotas metacíclicas, que é a forma infectante para o humano. Então, há a inoculação das formas tripomastigotas metacíclicas durante o repasse sanguíneo e, no corpo do hospedeiro, há a invasão celular (principalmente com a interação com o flagelo), em que se transformam na forma amastigota e se multiplicam, colonizando a célula. Então elas voltam para a forma tripomastigota e colonizam os tecidos repetindo o ciclo. → Patogênese da doença Como a forma tripomastigota consegue atingir o SNC? Após a inoculação, as formas tripomastigotas se distribuem e, em algum momento, caem na corrente sanguínea e chegam ao SNC pela disseminação hematogênica. Por serem formas móveis, elas conseguem romper as junções entre as células e saírem dos vasos, chegando no espaço perivascular. Desta mesma maneira, o parasita consegue ultrapassar a BHE – rompendo as junções. Após isso, os pacientes começam a manifestar os sintomas de primeira fase (ou de fase inicial – invasão do parênquima cerebral), que incluem febre, inchaço na face e nas mãos, dor de cabeça, dor nas articulações, dores musculares, inchaço dos nódulos linfáticos e anemia. Quando o parasita atravessa a BHE e invade o SNC, aparecem os sintomas de segunda fase, que incluem confusão, mudança de personalidade, distúrbios sensoriais, má coordenação, sonolência durante o dia e distúrbios do sono a noite. TOXOPLASMA GONDII Tem distribuição geográfica mundial, com alta prevalência sorológica, podendo atingir mais de 80% da população em determinados países. No entanto, casos de doença clínica são menos frequentes (infecção crônica assintomática) e os grupos de risco são gestantes e imunocomprometidos. Pertence ao filo Apicomplexa e dependendo da localização no organismo do hospedeiro pode apresentar diversas formas. A forma livre, presente na corrente na corrente sanguínea, é a forma de taquizoítos. Estes AINDA NÃO EXISTE NO BRASIL! podem se unir e formar ninhos de taquizoítos, e também podem formar cistos, chamados de bradizoítos. → Ciclo biológico O gatinho pode se contaminar de diversas formas via oral (pela alimentação). Assim, pode se contaminar com o oocisto maduro (presente no solo), com o ninho de bradizoítos (presente na carne de diversos animais), ou com taquizoítos. Lembrando que se a ingestão é dos oocistos maduros, esporozoítos são liberados; os bradizoítos liberam os taquizoítos; se ingere o taquizoíto, já chega disponível ao intestino do felino. Essas três formas se transformam em merozoítos, que invadem o epitélio do intestino dos felinos e se transformam em macrogameta (feminino) e microgameta (masculino), fecundando-se e formando o oocisto. Esse oocisto imaturo vai para o intestino dos felinos e é eliminado nas fezes – precisa ficar em ambiente (13 a 15 dias) adequado para sofrer o processo de esporulação (8 esporozoítos) e se transformar em infectante. O homem pode se contaminar por três vias principais, sendo 1) ingestão de oocistos presentes em alimentos ou água contaminada, jardins, caixas de areia, latas de lixo ou disseminados mecanicamente por moscas, baratas, minhocas, etc, 2) ingestão de cistos encontrados em carne crua ou mal cozida, especialmente de porco ou carneiro e 3) congênita ou transplacentária. → Mecanismos moleculares envolvidos na passagem do Toxoplasma gondii através da BHE Existem três mecanismos, sendo eles 1) entrada paracelular, na qual o parasita migra diretamente através das junções estreitas da camada de células endoteliais, 2) entrada transcelular, na qual parasitas livres no compartimento vascular infectam células endoteliais, se replicam e saem na área basolateral da célula endotelial (lisando a célula hospedeira) e 3) método do “cavalo de Troia”, pelo qual uma célula imune infiltra o SNC, após o que o parasita sai da célula imune e entra no parênquima cerebral. → Mecanismos envolvidos na toxicidade neuronal provocada pelo Toxoplasma gondii São mecanismos envolvidos com a meningoencefalomielite, muito comum em recém- nascidos e imunocomprometidos. Em A, em um indivíduo normal, não infectado, o glutamato (neurotransmissor excitatório) é liberado na fenda sináptica pelo neurônio pré-sináptico, e vai se difundir na fenda e atuar nos receptores pós-sinápticos. Após isso, o glutamato é recapturado pelos receptores GLT-1 presentes nas membranas dos astrócitos, evitando uma excitação excessiva. Em pacientes infectados, esse mecanismo de recaptura pelo GLT-1 fica prejudicado, fazendo com que haja acúmulo de glutamato na fenda, promovendo uma excitação prolongada, a qual provoca danos no SNC. Em B, em condições normais existe a presença da descarboxilase do glutamato (GAD), que converte glutamato em GABA (neurotransmissor inibitório), o qual irá gerar uma resposta de diminuição da excitabilidade no neurônio pós-sináptico. No indivíduo infectado há uma redistribuição de GAD no citosol do neurônio pré- sináptico, gerando uma distribuição inadequada de GABA na fenda sináptica, diminuindo a inibição do neurônio pós, podendo causar dano ao SNC. Há hipóteses que a doença acontece na presença de genes susceptíveis, genótipo do parasita e outros fatores relacionados à resposta imune inata, além de vários outros fatores como estresse e microbiota. → Passagem pela barreira transplacentária A passagem pode ocorrer via células que compõem a placenta, como sincíciotrofoblastos e citotrofoblastos, que entre si apresentam diferenças em relação a permeabilidade ao Toxoplasma gondii (o primeiro apresentaria maior resistência). → Toxoplasmose congênita É um fenômeno bastante complexo (genética materna x genética fetal x genética do parasita). A taxa de transmissão vertical nas primeiras semanas de gestação é menor e há grande dano fetal, e no final da gestação a transmissão vertical pode atingir 80% e, mesmo assim, gerar menor comprometimento no RN. Para que uma toxoplasmose congênita se instale é necessário que a mãe esteja na fase aguda da doença ou tenha havido uma reagudização da mesma durante a gestação. As alterações ou lesões fetais mais comuns devido à toxoplasmose na gravidez variam conforme o período da gestação, tal que no primeiro trimestre pode causar aborto, no segundo pode haver aborto ou nascimento prematuro, podendo a criança apresentar-se normal ou com anomalias graves, típicas. No terceiro trimestre da gestação, a criança pode nascer normal e apresentar evidências da doença alguns dias, semanas, meses ou anos após o parto. Nesta situação, a toxoplasmose pode ser multiforme, mas em geral há um comprometimento ganglionar generalizado, hepatoesplenomegalia, edema, miocardite, anemia, trombocitopenia e lesões oculares. Portanto, a toxoplasmose congênita é uma dasformas mais graves da doença, em geral provocando sintomas variados, mas comumente enquadrados dentro da “síndrome ou tétrade de Sabin”, caracterizada com coriorretinite (90% dos casos), calcificações cerebrais (69%), perturbações neurológicas e retardamento psicomotor (60%) e alterações de volume craniano, causando micro ou macrocefalia (50% dos casos). AMEBÍASE Entamoeba histolytica e Entamoeba díspar São protozoários ameboides, com inúmeros habitats, podendo ser de vida livre (vários gêneros e espécies), parasitas (Entamoeba histolytica), comensais (Entamoeba coli, Entamoeba díspar, Entamoeba hartmanni, E. gengivalis, Endolimax nana, Iodamoeba bütschlii) e de vida livre, mas eventualmente parasitas (Acanthamoeba, Naegleria – essa segunda pode causar uma infecção rara, fulminante e devastadora do cérebro, chamada meningoencefalite amebiana primária, inclusive em imunocompetentes). NAEGLERIA FOWLERI → Como acontece a infecção A Naegleria fowleri é um microrganismo de vida livre que pode ser encontrado em lugares com água, e o homem o adquire ao entrar em contato tanto com o cisto quanto com o trofozoíto na água contaminada. O trofozoíto, então, começa a colonizar o trato nasal e realiza uma invasão direta para o SNC – os pacientes não apresentam sintomas de infecção nasal, indicando grande neurotropismo. No tecido nervoso não há muita informação sobre, mas há algumas associações de sítios de ligação dos trofozoítos, como os receptores de acetilcolina, que provavelmente são comuns a esse microrganismo, tornando possível que a Neagleria atinja o parênquima cerebral. Após a invasão, começa uma migração de células (infiltrado leucocitário) como macrófagos, eosinófilos e neutrófilos, que tem como característica a necrose, a desmielinização e focos hemorrágicos – achados pós morte. ACANTHAMOEBA SPP A infecção por esse gênero também está relacionada à água. Assim, a pessoa entra em contato com os trofozoítos, os quais acabam por aderir a mucosa ocular. Figura 1. Naegleria fowleri Outra forma de contaminação é a conservação de lentes de contato de maneira inadequada, como em água de torneira, que pode conter os trofozoítos, contaminando as lentes – a partir deste contato inicial ocorre a contaminação e os quadros mais graves da doença. O início da contaminação lembra muito uma conjuntivite bacteriana. → Diagnóstico Depende do local da manifestação. Pode-se realizar a pesquisa de trofozoítos e em caso de suspeita de meningoencefalites, realizar exame do LCR. Em caso de ceratite, realizar o raspado de córnea para analisar se existem cistos. Além disso pode ser realizado o exame direto, a cultura (junto com E. coli) e o PCR. TENÍASE E CISTICERCOSE A classe Cestoda compreende um interessante grupo de parasitas, sendo eles hermafroditas, de tamanhos variados, encontrados em animais vertebrados. Os cestódeos mais frequentemente encontrados parasitando os humanos pertencem à família Taenidae, na qual se destacam a Taenia solium e a Taenia saginata. Assim, existem duas doenças relacionadas a esse gênero de helmintos, sendo elas a teníase e a cisticercose. → Como o homem desenvolve a teníase? Existem duas espécies, a Taenia solium e a Taenia saginata, tal que os hospedeiros intermediários são o porco e o boi, respectivamente. A transmissão da teníase acontece mediante a ingestão do cisticerco (encontrado na carne crua ou mal cozida), que se transforma na forma adulta do helminto no interior do intestino do hospedeiro definitivo, o homem. → Como o homem desenvolve a cisticercose? A cisticercose só é causada pelas larvas (cisticercos) da Taenia solium. Sua transmissão acontece pela ingestão dos ovos, liberação do embrião (oncosfera) e transformação deste em larva (cisticerco ou “canjiquinha”). O cisticerco, então, se instala nos tecidos dos hospedeiros intermediários (suínos, bovinos e mais raramente em humanos e outros animais). Neste caso, o homem passa a ser o hospedeiro intermediário da doença. → Sintomas Na teníase, é comum a presença de mais de um indivíduo da mesma espécie, embora a tênia seja conhecida como solitária. Os sintomas incluem tonturas, náuseas, apetite excessivo, vômitos e distensão do abdômen. Já a cisticercose pode se alojar em várias partes do organismo, causando sérios danos, inclusive neurológicos. Pacientes com neurocisticercose normalmente são assintomáticos por vários anos ou podem apresentar sintomas inespecíficos de manifestação neurológica, como cefaleia, confusão mental, ataxia, surdez e epilepsia. → Diagnóstico O diagnóstico da teníase consiste em realizar uma pesquisa de proglotes e, mais raramente, de ovos de tênia nas fezes pelos métodos rotineiros ou pelo método da fita gomada. Na neurocisticercose o diagnóstico clínico tem como base aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais. O laboratorial tem como base a pesquisa do parasito, através de observações anatomopatológicas das biópsias, necropsias e cirurgias.
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