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UNIDADE 2. Liderança e motivação nas organizações Diogo José Lacerda OBJETIVOS DA UNIDADE Promover o desenvolvimento de competências relacionadas à motivação, como comportamento individual; Embasar teoricamente a análise de situações práticas quanto à atuação do novo perfil de liderança demandado na atualidade; Promover o conhecimento das habilidades técnicas e comportamentais do novo líder e de como desenvolvê-las; Conscientizar sobre a importância dos diversos estilos e aplicações da liderança; Promover reflexões importantes sobre o funcionamento da liderança, seus aspectos de personalidade, comportamentais e contingenciais; Desenvolver capacidades técnicas de análise e diagnóstico de soluções quanto a problemas de liderança, entendendo seu contexto e suas contingências especiais, bem como a aplicação de instrumentos. TÓPICOS DE ESTUDO– // Os desafios da liderança // Teorias da liderança // Identificando líderes Modelos de motivação // Motivação por conteúdo // Motivação por processo A evolução dos estudos sobre liderança A liderança enquanto fenômeno organizacional, que ocorre em instituições produtivas e no dia a dia dos indivíduos, vem sofrendo diversas alterações ao longo dos anos e tem sido objeto de estudo da disciplina de Psicologia Social e do Comportamento Organizacional desde a década de 1930. Conforme aponta Bowditch e Buono (2009), anteriormente ao período da Revolução Industrial, bem como aos adventos da administração científica de Taylor – método de sistematização da administração como ciência e método organizado da direção, controle, coordenação, planejamento e administração dos recursos de uma organização produtiva –, a liderança era tratada muito mais com conceitos filosóficos e teorias com poucas ou nenhuma sugestão validada em situações práticas. Tratava-se de pontos de vista comuns, focados muito mais no que seria uma “boa liderança” do que realmente no que ela representa na realidade. Como pode ser observado, os estudos sobre a liderança passaram por diversos períodos, temáticas e, sobretudo, visões do processo de liderar pessoas nas organizações. A figura do líder era construída à medida que a complexidade administrativa aumentava, em acordo com a evolução e diversificação de produtos e mercados, tanto na esfera pública como na privada, e em atendimento às exigências das pessoas e grupos. Assim, a figura do chefe, do capataz das antigas fazendas e até mesmo do senhor de engenho e do capitão do mato – responsável por buscar os escravos fugitivos – foi sendo substituída pela figura do líder. Ressalta-se que a chefia e a liderança são formas de gestão e uma não exclui a outra. Tratam-se de formas de conduzir, dirigir, controlar, coordenar as pessoas, em determinadas situações, a serem mais eficazes, e em outras, precisando adequar os estilos. Em situações simples, como alta estabilidade do negócio, sem complexidade organizacional ou de mercado e tarefas rotineiras e estáveis, com baixa demanda psicossocial dos funcionários, o processo de influência da liderança parece não intervir nos resultados obtidos. As primeiras teorias da liderança versavam sobre o perfil, analisando a personalidade dos líderes e traços importantes em figuras de liderança de sucesso. Passaram então a uma abordagem funcional básica, segundo a qual esboçavam o que os líderes eficazes deveriam fazer, e depois chegaram a uma abordagem situacional, ou contingencial, que segundo Bowditch e Buono (2009) “propõe um estilo mais flexível, adaptativo para a liderança eficaz”. Contudo, ainda segundo os autores, as teorias da liderança têm passado por críticas a respeito do escopo reduzido, com o qual têm sido utilizadas. As críticas são feitas por que as teorias não estariam sendo utilizadas em contextos maiores, como na liderança para a organização como um todo, mas focadas nos departamentos e nas unidades gerenciais, com a atuação dos líderes face a face com seus subordinados. Os desafios da Liderança Certo dia, um transeunte observa a seguinte cena: dois operários estão construindo um muro, o mesmo muro; havia uma diferença notável entre o pedaço de muro construído por um e pelo outro: o do primeiro estava ainda baixinho, enquanto o do segundo era três vezes maior. O primeiro estava com ar resignado, carrancudo, com evidente má vontade. O outro, ao contrário, cantava, feliz e alegre. O transeunte, intrigado, perguntou ao primeiro: “O que é que você está fazendo? Ele respondeu: Estou construindo um muro, não está vendo? E ele torna a perguntar: E para que você está fazendo isto? E ele responde: Ora, para ganhar a vida… Perguntando a mesma coisa ao outro operário, ele respondeu, com um grande sorriso nos lábios: Estou construindo uma catedral! (CAVALCANTI et al., 2009, p. 16). DICA Procure refletir sobre o sentido do trabalho e sua relação com a administração e a gestão de equipes. Tente responder as questões: qual é o sentido do trabalho na vida das pessoas? Realmente é importante levá-lo em consideração? O que diferencia um funcionário que encontra sentido em sua atividade daqueles que não encontram? As críticas às dificuldades de se conceituar e aplicar a liderança recaem sobre os desafios pelos quais as organizações têm passado: os destinos de um mercado cada vez mais competitivo e em constante mutação. Alcançar excelentes resultados por meio das pessoas tornou-se um aspecto importante a ser considerado para avaliar como as organizações crescem, sobrevivem e prosperam. Cavalcanti et al. (2009) enumeram alguns desafios pelos quais as organizações estão passando: mercados globais ampliados, tecnologia da informação, ambientes ambíguos, concorrência acirrada, consumidores exigentes, obsessão pela qualidade, fusões e aquisições de empresas, incerteza e caos, informações em excesso, estresse, fim do emprego tradicional, envelhecimento populacional, novo cenário e problemas demográficos, evolução do conhecimento e da consciência humana, espiritualidade, consumo excessivo de recursos etc. Como enfrentar essas dificuldades e preparar as empresas para o futuro? Com relação aos colaboradores em especial, como conseguir que todos estejam envolvidos, motivados e comprometidos com os resultados do negócio? Qual seria o papel da liderança nesses contextos de incerteza e alta competitividade? Quais competências seriam exigidas? Para Cavalcanti et al. (2009), a abordagem tecnicista, taylorista, embora muito valorizada pelos gestores, vem demonstrando ser insuficiente. As competências necessárias ao novo gestor, tanto as hard skills (ou "competências técnicas") quanto as soft skills (conhecidas como "competências comportamentais"), contemplando o repertório de conhecimentos e a experiência com sua aplicação diante de desafios imprevisíveis, são cada vez mais valorizadas, pois são elas que lhe dão um papel central na realidade das organizações. No tocante às pessoas no ambiente profissional, para muitas delas o salário e os benefícios oferecidos já não são as fontes mais importantes de motivação. Segundo Cavalcanti et al. (2009), amplia-se a necessidade pessoal não só de encontrar identificação e satisfação no seu trabalho, mas também de contribuir para um bem maior. Afirmam que o envolvimento das pessoas com o trabalho que executam e a motivação com que o realizam independem da importância da atividade, se é mais estratégica do que operacional ou, ainda, se é mais intelectual do que braçal. Esses são aspectos muito singulares que dizem respeito ao que cada pessoa quer de sua carreira e em que atividades se encontra e realiza de maneira exemplar. As pessoas se sentem realizadas quando podem trabalhar com o que lhes faz sentido. A realização passa por aspectos, como o que se espera ou se deseja do trabalho. Os autores apontam que as pessoas querem oportunidades para utilizar seu conhecimento, talentos e competências parasentirem-se importantes e envolvidas na construção do futuro da organização a que pertencem. Apesar de ser muito difícil, especialmente para os antigos líderes, abrirem mão de seu mindset ou de crenças e atitudes relacionadas aos antigos paradigmas tayloristas da gerência, a mudança de mentalidade se faz necessária. Em contextos de alta variabilidade, incertezas, mudanças, permitir que as pessoas se engajem verdadeiramente, coloquem sua alma, e não apenas a sua mente, para realizar as atividades, exige uma mudança de mentalidade por parte da liderança, que deverá apresentar comportamentos e competências que motivem a equipe, como papéis interpessoais, decisórios e de ligação. A instabilidade de mercados altamente competitivos e diversificados, inseridos em ambientes incertos e de mudanças rápidas, exige que as pessoas, sobretudo o líder, responsável pela gerência e administração, enfrentem as mudanças rapidamente, confrontem as ambiguidades, compreendam as necessidades dos mercados e antecipem-se a suas expectativas, garantindo um senso de direção em meio ao caos e, acima de tudo, conforme Cavalcanti et al. (2009), mantenham a “calma diante da perda de significado do que se ajudou a construir” até então. Ou seja, manter ansiedade e comportamentos em níveis adequados. Essa alta ambivalência exige do líder constante revisão de seus comportamentos e atitudes gerenciais, a fim de garantir adaptação a novos desafios. Vê-se, portanto, que as habilidades eminentemente humanas são cada vez mais importantes na resolução e no enfrentamento dos novos desafios nas empresas. É preciso considerar as necessidades humanas de realização e sentido no trabalho e desenvolver as competências gerenciais, como manter a ansiedade controlada diante das constantes mudanças e exigências e das certezas colocadas em xeque diante de sua ineficácia, além de encarar a ambivalência como parte da nova realidade. Esses são os aspectos eminentemente humanos que estão sendo valorizados. O desafio crítico da liderança encontra-se no fato de o gestor ter de encarar novas responsabilidades, em perceber que o foco mecanicista de antigamente, conforme à gestão taylorista, é insuficiente nos novos contextos. Ele deve conciliar as competências para atingir as metas do negócio considerando as de desenvolvimento das pessoas. Cavalcanti et al. (2009, p. 21) ainda acrescentam que os novos líderes devem ser capazes de “dar continuidade ao constante processo de adaptação das organizações no contexto em que se inserem”, desenvolvendo as pessoas e, inclusive, novos líderes, que serão responsáveis pela continuidade do legado já adquirido. Esta visão se aproxima muito do que Ram Charan chamou de “líder formador de líderes”, ou líder-coach. Barret (apud CAVALCANTI et al., 2009) cunhou seis estágios, ou níveis de desenvolvimento da maturidade organizacional, relacionados a suas necessidades, sua cultura organizacional e o estilo de liderança ideal para cada fase. Como estágios de desenvolvimento, cada um demonstra capacidades próprias do nível de consciência e maturidade organizacional e apresenta, portanto, como cada organização resolve seus problemas, encara sua realidade e se adapta às exigências do ambiente e contexto em que se insere. Variam de uma consciência cujos objetivos relacionam-se estritamente à sobrevivência da organização, o nível 1, até o nível 7, cujos objetivos empresariais estão totalmente partilhados, estágio que o próprio autor reconhece como jamais alcançado pelas organizações, mas que serve de norte em uma escala de maturidade emocional da liderança. No nível 1, a organização tem como necessidade básica a lucratividade e a sobrevivência, são inseguras quanto ao futuro e sentem-se vítimas de qualquer norma, lei, limites ou situações que dificultem o seu ganho financeiro. As pessoas são apenas recursos a serem explorados. Nesta cultura, os líderes tendem a se tornar autoritários e controladores. No nível 2, a preocupação gira em torno do bom relacionamento com os funcionários como forma de manter a sobrevivência da empresa. Os líderes tendem para ser paternalistas e motivados a serem aceitos. Tornam-se superprotetores, pois esperam lealdade em troca de disciplina e obediência. O nível 3 é caracterizado pela consciência de autoestima, voltando-se para as necessidades da organização de ser percebida pelo mercado como a melhor no que faz, buscando excelente reputação. O compromisso da liderança é administrar e direcionar todos os funcionários para o cumprimento das metas organizacionais e fazer a manutenção do status quo. Já no nível 4, as organizações conseguem alinhar suas necessidades básicas, ou seja, seu interesse próprio com o bem comum, e as necessidades e exigências do contexto, sejam dos consumidores ou das agências controladoras, como a esfera governamental. A missão, a visão e os valores organizacionais são medidas basilares para o sucesso, desenvolvendo uma forte identidade organizacional. A liderança é facilitadora e concentra-se no desenvolvimento das habilidades de comunicação interpessoal, resolução de conflitos e de desenvolvimento das equipes. Nos níveis 5 e 6, a consciência e os valores da organização variam da valorização do pessoal interno ao apoio às comunidades, incentivando seus funcionários a fazerem a diferença nas comunidades em que estão inseridos. Os líderes seriam, respectivamente, gestores de pessoas e servos/parceiros, extrapolando suas atividades para além do que é exigido pelo trabalho. No nível 7, como foi dito, há uma partilha total das responsabilidades da organização com o ambiente e a comunidade. Compreender os níveis de maturidade da consciência organizacional ajuda a entender como as organizações concebem seu processo de evolução e constroem estratégias para sua própria identidade. Em suma, o porquê de ela existir. Elevar o nível de consciência implica buscar um equilíbrio dinâmico, em seus diferentes graus, entre as necessidades de sobrevivência e de crescimento das organizações, as necessidades de realização pessoal dos colaboradores e a sustentabilidade econômica, social e ambiental. Uma das questões centrais para o amadurecimento dos líderes é sua dificuldade de integrar pensamentos e ações, o saber com o saber fazer, uma vez que, nesse processo de mudança da cultura organizacional, ainda estão apegados aos pensamentos, sentimentos e valores dos modelos passados. Por exemplo, centralizar todas as informações importantes em si para evitar que outros possam, propondo soluções melhores, roubar-lhes o cargo. Os autores ainda concluem que, independentemente do nível em que a organização se encontra, para que os indivíduos se tornem líderes, o primeiro passo é que estejam abertos à transformação pessoal, dando-se a oportunidade de se questionarem constantemente a respeito de crenças e valores, que acabam servindo de base para a tomada de decisões gerenciais. Teorias de Liderança Existem diversas teorias sobre o fenômeno da liderança. Por ser um assunto complexo, tanto do ponto de vista epistemológico (estudo do conhecimento) quanto do campo prático, não existe consenso sobre o que seja uma única liderança. Isso acontece porque o tema engloba, para sua elaboração, o campo das ciências humanas e sociais aplicadas, visando a compreender a importância da liderança e propor ações práticas que facilitem o dia a dia dos gestores. Embora algumas dessas teorias sejam mais difundidas que outras, nenhuma delas, entretanto, é capaz de fornecer todas as respostas e explicar isoladamente as dinâmicas subjacentes à liderança. Somado a isso, as teorias que sofreram críticas por serem voltadas muito mais a um escopo do trabalho das unidades organizacionais e não à estrutura ou a ambientes macro-organizacionais, ainda se mostram inconsistentes no dia a dia, tanto na gestão prática quanto no desenvolvimento das equipes de trabalho. O objetivo,ao apresentar essas diversas teorias, é capacitar o profissional a analisar em quais contextos e momentos elas seriam mais bem utilizadas, respondendo perguntas como: quais seus benefícios para determinada ação ou estratégia? Quais eu poderia conjugar para obter melhor resultado, considerando o momento de minha equipe? Como eu poderia me tornar um líder melhor? Quais conhecimentos e comportamentos eu preciso desenvolver para auxiliar a empresa a atingir resultados mais eficazes? As teorias da liderança são ferramentas que os gestores têm em mãos para lidar com o cotidiano de suas atividades complexas. Teoria dos traços As primeiras teorias sobre liderança focavam nos traços de personalidade, atributos pessoais que envolvem características físicas, mentais e culturais. A hipótese inicial é de que determinadas características pareciam diferenciar os líderes de seus seguidores. Segundo Bowditch e Buono (2010), são as conhecidas teorias das grandes personalidades, uma vez que supõem que os líderes são muito diferentes das pessoas comuns em termos de características de personalidade (conjunto de atributos físicos, psíquicos e culturais) que apresentam em seu momento de vida. Conforme apontam os autores, estudos abrangentes da teoria dos traços procuraram relacionar características específicas com a liderança eficaz. Por exemplo, os traços inteligência, dominância, autoconfiança, altos níveis de energia e atividade e conhecimentos relacionados à tarefa. Os estudos demonstraram, entretanto, que esses atributos não têm necessariamente correlações positivas com a liderança eficaz. Os traços considerados eficazes para a liderança eram analisados de forma isolada. Mesmo na prática da liderança, ao se utilizar um instrumento altamente capaz de medir determinado traço de personalidade ou característica pessoal, por exemplo, o escopo de análise se restringe a sua correlação com a liderança eficaz. Entende-se por personalidade, segundo Robbins et al. (2012), o conjunto de traços mensuráveis apresentado por um indivíduo. Esses traços são características duradouras e estáveis e podem descrever o comportamento dos indivíduos nas situações que se apresentam. Quanto mais consistentes as características ao longo do tempo e quanto maior a frequência com que ocorrem, em diversas situações, maior será a importância desse traço para a descrição do indivíduo. Soma-se a este fato a personalidade ser um atributo que sofre interferência dos contextos e vivências ao longo da vida do indivíduo. Tais determinantes são elaborados não apenas na infância, mas ao longo da vida toda. Ou seja, desde crianças até a idade adulta, e em momentos de grande experiência profissional, a personalidade continua sendo moldada e determinada pelas circunstâncias que o indivíduo experiencia, bem como pelos seus atributos hereditários, herdados biologicamente. A personalidade, portanto, é um conjunto de determinações biológicas, psicológicas, sociais e históricas. Cada um desses aspectos determinará, de maneira singular, como o sujeito reagirá durante sua vida. Robbins et al. (2012) corrobora a visão determinista do desenvolvimento da personalidade humana (atributos hereditários, psicológicos e culturais/situacionais). Trata-se de analisar os traços específicos do indivíduo e como estes vão influenciar sua história de vida. São características hereditárias: a estatura, a beleza, o gênero, o temperamento, a força e flexibilidade muscular, o nível de energia, os ritmos biológicos etc. Esses traços físicos serão pontos determinantes na história de vida do indivíduo, da infância e sua relação com os pais à idade adulta. Também influenciarão suas reações em situações específicas da vida, sendo importantes na determinação de suas características psicológicas (como lida com o estresse, seus gostos pessoais, sua capacidade de assimilação e superação de perdas e lutos etc.). CURIOSIDADE O modelo Big Five avalia cinco traços de personalidade importantes e que, segundo Robbins et al. (2010), encontram correlações com o desempenho no trabalho. Para a liderança eficaz, o autor destaca três: a) conscienciosidade, que é tão importante para os gerentes quanto para os funcionários de linha, mas que tem correlações altas com a liderança eficaz. Trata-se da capacidade de manifestar comportamentos de persistência, o estabelecimento de metas altas e a manutenção do esforço com energia e disciplina diante dos desafios organizacionais; b) extroversão, entendida pela abertura a experiências interpessoais, com dominância dos aspectos sociais e grupais, e melhor expressão emocional; c) abertura a experiências, pois estimula criatividade e adaptação, aspectos importantes para a liderança. Teorias comportamentais e funcionais De maneira geral, as teorias comportamentais buscam responder quais comportamentos são importantes para a liderança eficaz. Elas podem ser resumidas como a aplicação dos estilos de liderança (autocrático, democrático e permissivo/laissez-faire) com as duas orientações do líder: voltado para as tarefas ou para as pessoas. ASSISTA O filme O experimento de aprisionamento de Stanford retrata um experimento realizado no Instituto de Psicologia da Universidade de Stanford, Estados Unidos, na década de 1970. Liderado pelo doutor Philip Zimbardo, o experimento tinha como objetivo demonstrar como as relações de liderança e poder, em especial em simulações de aprisionamento de condenados judiciais, poderiam explicar os comportamentos e atitudes nos grupos humanos. ASSISTA O Grid Gerencial de Blake e Mouton (apud BOWDITCH; BUONO, 2009) demonstra como os estilos de liderança autocrático, democrático e permissivo, assim como as orientações voltadas para a produção ou para as pessoas, determinam de quais estratégias comportamentais os gerentes devem lançar mão no dia a dia de suas atividades. https://www.youtube.com/watch?v=yuiPIitwhr4 Gráfico 1. O grid gerencial de Blake e Mouton. Fonte. BOWDITCH; BUONO, 2009. Blake e Mouton concluíram que o melhor estilo de liderança é o que congrega alta preocupação com pessoas e alta preocupação com as tarefas. Nomearam os estilos da seguinte maneira: 1.1 Gerência empobrecida; 9.1 Obediência à autoridade; 5.5 Gerência do homem da organização; 1.9 Gerência de clube de campo e 9.9 gerência de equipe. Concluíram que o estilo altamente voltado para as tarefas e para as pessoas, ou seja, o 9.9 (gerência de equipe), é o mais eficaz de liderança em todas as situações. Ademais, esse estilo enfatiza que é uma possibilidade de a liderança formar novos líderes, visão muito difundida nas necessidades das organizações. Dois comportamentos descobertos pelos pesquisadores da Universidade de Ohio, conforme Robbins et al. (2012), são importantes para facilitar a tomada de decisão quanto ao melhor estilo em determinação situação: Estrutura de iniciação: trata-se de líderes capazes de estruturar o próprio papel e o de seus funcionários na busca por resultados. Isso inclui a organização do trabalho, das relações e a definição de metas. Este líder é capaz de iniciar e focar as necessidades das tarefas importantes a serem realizadas e quais os prazos para tanto. Estrutura de consideração: diz respeito às habilidades interpessoais, como a capacidade de manter relacionamentos de trabalho caracterizados por confiança mútua, respeito às ideias dos funcionários e cuidado com seus sentimentos. Este líder trata como iguais todos os funcionários, expressa apreço e fornece apoio. Diversos estudos sobre a utilização dos estilos comportamentais, conjugados às orientações dos líderes, não obtiveram respostas conclusivas sobre quais estilos trariam os melhores benefícios em termos de liderança eficaz. Entretanto, abriram a oportunidade de se perceber que eles deveriam ser analisados e utilizados a depender da contingência, ou seja, da real situação que seapresenta no cotidiano da gestão de equipes. Dessa forma, são dados importantes para a tomada de decisão de qual estilo deve ser utilizado: constituição e características do grupo, cultura e valores da organização, bem como seu nível de maturidade/consciência, perfil de competências técnicas e comportamentais do líder, objetivos da organização e do departamento etc. Teorias contingenciais À medida que os pesquisadores foram estudando como as organizações empregavam sua liderança, seus modos de utilização e os benefícios da liderança eficaz, práticas aliadas a conhecimentos específicos foram sendo desenvolvidas. Ao que parece, em algumas circunstâncias a utilização de um estilo autoritário apresentava uma produção bastante eficaz. Em outras, todavia, pareceu que um estilo democrático obteve melhores resultados. O estudo dos estilos de liderança e sua orientação, envolvendo comportamentos voltados para produção/tarefas ou pessoas/relacionamentos, resultou que não há um modo ideal de liderança aplicável para todas as situações. Um estilo de liderança ideal seria aquele mais adaptável às circunstâncias reais, das contingências, ou seja, a depender da situação. Bowditch e Buono (2009, p. 126) são categóricos ao afirmar: "De fato, as teorias da contingência combinaram a abordagem de traços e as teorias comportamentais/funcionais para sugerir que os líderes mais eficazes são aqueles capazes de adaptar seus estilos e as suas próprias escalas de valores às exigências de uma situação ou grupo específico." A capacidade do líder de se adaptar às diferentes situações, ser flexível, portanto, é uma das principais competências da liderança contingencial e situacional. Destaca-se o papel do líder em saber identificar suas capacidades, suas forças e fraquezas, uma vez que adaptar os estilos com facilidade às diferentes circunstâncias não é tarefa fácil. Isso exige alto grau de autoconhecimento, autoestima, autoeficácia e desejo de congregar as expectativas da empresa com o que lhe traz satisfação pessoal e profissional. Gaps de liderança, conforme afirma Blake e Mouton, no estilo 9.9, podem ser objeto de treinamento e desenvolvimento. A teoria contingencial de Fiedler demonstra como este ajuste do perfil de liderança pode ser adequado às exigências do contexto (necessidades grupais, necessidades das tarefas). Ela permite analisar como o líder vai exercer da melhor maneira possível sua influência sobre o grupo, analisando a favorabilidade da situação. Para exemplificar, um grupo com alta necessidade de acompanhamento, com baixa autoestima derivada de baixos resultados nos últimos tempos, precisará de um líder voltado para as pessoas num primeiro momento. Quando as necessidades de relacionamento, a autoestima e a autoeficácia do grupo estiverem normalizadas, o líder poderá então voltar suas ações para as tarefas/resultados. Para tanto, é necessário que o líder identifique como está a motivação de sua equipe. Para tanto, Fiedler parte de três variáveis situacionais básicas, de acordo com Robbins et al. (2012): Relação líderes-liderados O grau de confiança, credibilidade e respeito que os membros do grupo têm por seu líder. Estrutura da tarefa O grau de estruturação e formalização dos procedimentos e das tarefas no trabalho. Poder da posição O grau de influência que um líder tem em situações como: o poder de contratar, demitir, tomar ações disciplinares, conceder promoções e aumentos salariais. O levantamento dos dados do clima da gestão, ou seja, das necessidades apresentadas pelo líder e seus liderados, que identifica as três situações acima, pode ser obtido pela aplicação do questionário LPC (Least Preferred Co-Worker), de Fiedler, ou, em português, questionário do colaborador menos preferido. Conforme os resultados obtidos na aplicação do questionário LPC de Fiedler, o líder terá em mãos, de maneira objetiva, qual o estilo de liderança a equipe está necessitando naquele momento. Cabe, no entanto, ao departamento de Recursos Humanos saber se o líder é capaz de se adaptar à nova situação apresentada ou, ainda, se ele deverá ser substituído por alguém com o perfil demandado. Decisões análogas são tomadas por base na alteração das tarefas e da equipe. São exemplos de resultados do questionário: 1 1.Situação altamente favorável para o líder, na qual sua equipe partilha de bom relacionamento interpessoal e boa adesão e adequação na divisão das tarefas. Momento em que o líder pode se orientar melhor, lançando mão do estilo orientado para as tarefas, com os comportamentos da estrutura de iniciação. 2 2. Situação desfavorável para o líder, na qual o líder tem pouquíssimo controle e sua equipe se caracteriza por ser um grupo de voluntários que trabalha no levantamento de doações e partilha de baixa estima pela chefia. A decisão estratégica é considerar uma liderança democrática orientada para as pessoas. Hersey e Blanchard (apud BOWDITCH; BUONO, 2009; ROBBINS et al., 2012) propuseram a teoria da liderança situacional. Nela, o líder tem em mãos um instrumento para avaliar em qual momento sua equipe se encontra, avaliando o preparo dos liderados. A liderança situacional enfoca três fatores básicos: A quantidade de comportamento do líder orientado para o trabalho (direção e orientação); A quantidade de comportamento do líder para oferecer apoio socioemocional; O nível de disposição/maturidade dos membros da organização ao realizar uma determinada tarefa, função ou objetivo. Neste modelo, o próprio líder avalia a maturidade dos seus subordinados quanto a: nível de motivação para obtenção de resultados; disposição e capacidade para assumirem responsabilidades; instrução e experiência relevantes para as tarefas. Gráfico 3. Liderança situacional: comportamento dos líderes x liderados. O líder, então, pode avaliar o nível de preparo de seus subordinados (maturidade) e adequar a quantidade de comportamentos de apoio à estrutura de relacionamento, assim como a quantidade de comportamentos voltada para a tarefa à estrutura de iniciação. Decidindo, portanto, qual será seu comportamento de liderança. Os comportamentos do líder podem ser assim definidos: 4 (delegar): passar as responsabilidades pelas decisões e sua implementação; 3 (participar/compartilhar): compartilhar ideias e facilitar a tomada de decisão; 2 (vender/persuadir): explicar as decisões e dar oportunidades para esclarecimentos; 1 (informar/determinar): dar instruções específicas e supervisionar diretamente a execução. Conforme apontam Bowditch e Buono (2009), a vantagem da liderança situacional está no fato de o líder poder avaliar quais são os comportamentos adequados em relação à maturidade e ao preparo dos liderados. Dessa forma, liderados muito imaturos em relação a tarefas e relacionamentos interpessoais necessitarão de maior informação e determinação por parte do líder, ou seja, demandarão maior tempo por parte do líder. Já membros de equipes mais maduras, que demonstram ser mais dispostos e confiantes, exigirão do líder a delegação de responsabilidades, compartilhando a tomada de decisão e a implementação de projetos, demandando menor tempo por parte do líder. De forma geral, a liderança situacional é aquela que permite ao líder verificar quais são as melhores decisões em termos de comportamento, avaliando a capacidade e a motivação de seus liderados, adequando os estilos de liderança e orientações às situações demandadas pela sua equipe. Teoria de troca entre líderes e liderados (LMX) A teoria de troca entre líderes e liderados (LMX) tem encontrado evidências substanciais de que os líderes realmente diferenciam seus liderados, estabelecem o que foi convencionado como: a) grupo de dentro, os quais tendem a receber mais avaliações positivas e demonstrar melhor comportamento de cidadania organizacional; e b) grupo de fora, os quais, preteridos,tendem a receber menos recompensas. Conforme Robbins et al. (2012), o processo de escolha do líder por seus membros pertencentes ao grupo de dentro ou grupo de fora ainda não é muito claro. Ao que tudo indica, tais escolhas são baseadas nos conceitos de identificação, uma vez que os grupos de dentro partilham com o líder características semelhantes de personalidade ou possuem nível de competência superior ao dos demais membros. Os membros do grupo de dentro tendem a estabelecer interações mais fortes com o líder, promover a confiança em relação a suas entregas de desempenho e apresentar maior compatibilidade pessoal, enquanto os membros do grupo de fora tendem a estabelecer interações mais formais com a autoridade. Dois pontos merecem destaque na teoria de troca entre líder e liderados (LMX): como é uma teoria eminentemente relacional, para que os níveis de identificação e recompensa sejam mantidos intactos, ambos, líder e liderados, devem investir em seus relacionamentos. Ambos são responsáveis e é o comportamento do liderado que promoverá a identificação subjetiva por parte do líder, e não o contrário. Outro aspecto altamente positivo é que o grupo de dentro tende a estabelecer melhores comportamentos de cidadania organizacional. Robbins et al. (2012) entende por cidadania organizacional as ações que contribuem para o ambiente psicológico da organização, como ajudar os outros membros quando isso não é exigido, apoiar os objetivos da organização, respeitar os colegas, oferecer sugestões construtivas e propagar elogios verdadeiros em relação ao local de trabalho. // Liderança carismática Tanto a teoria da liderança carismática quanto a liderança transformacional partilham da mesma ideologia: elas veem os líderes como indivíduos que inspiram seus seguidores por meio de palavras, ideias e comportamentos. Quando se fala de grandes personalidades, como Getúlio Vargas, Nelson Mandela, Luiza Helena Trajano (da Magazine Luiza), Bill Gates (fundador da Microsoft) e Steve Jobs (um dos fundadores da Apple), todos apresentam um dom, uma característica muito particular, de fazer com que outras pessoas os enxerguem de maneira diferente, como se fossem dotados de poderes ou qualidade sobrenaturais, sobre-humanas ou, pelo menos, particularmente excepcionais. Conforme apontam Robbins et al. (2012), aos líderes carismáticos são atribuídas capacidades heroicas ou extraordinárias de liderança. A liderança carismática é um atributo nato, nasce com a pessoa e se trata de uma liderança muito particular e especial, que é capaz de conduzir não apenas os pequenos grupos e equipes (comuns em ambientes de trabalho), mas multidões. Eles são capazes de compartilhar e vender uma visão muito atraente, e assim estabelecer a influência que tanto desejam. Liderança transformacional Um ponto importante de se diferenciar é a liderança transacional e a liderança transformacional. Enquanto a primeira é focada em transações, ou seja, nos relacionamentos humanos, explicando, estabelecendo objetivos e metas claros, oferecendo suporte e feedback, esclarecendo papéis e expectativas, a fim de que todos estejam mais preparados para atingir os resultados esperados em termos de exigências e expectativas. A liderança transformacional é um processo que busca influenciar os liderados a transcender os próprios objetivos pelo bem da organização ou do grupo, sendo capazes de causar um profundo impacto nos seus liderados. Dessa forma, a liderança transacional fornece o suporte necessário, com comunicação assertiva, estabelecimento de metas realistas e esclarecimento das funções e das exigências das tarefas, enquanto a transformacional conta com a capacidade de influenciar os liderados a transcenderem seus objetivos pessoais para o bem da organização. Essas são características especiais que os melhores líderes compartilham entre si. Identificando líderes A identificação de perfis de liderança em potencial ou, ainda, de líderes já preparados para a atuação prática varia de organização para organização. Políticas de Recursos Humanos, temas relevantes para a área em determinado espaço de tempo e a situação econômica das organizações são variáveis que influenciam na gestão de escolha dos líderes. Algumas empresas têm o costume de selecionar os seus líderes em outras empresas, criando assim um corpo de consultores capaz de gerenciar a escolha de novos perfis de liderança, com os requisitos necessários ao sucesso do departamento e do negócio. Outras empresas não selecionam líderes, mas líderes em potencial. E buscam desenvolvê-los por meio de programas de formação de executivos, como trainee e sucessão de carreira, fornecendo-lhes recursos e experiências necessários para sua preparação dentro das especificidades do negócio, como rotatividade de áreas e projetos empresariais, avaliados posteriormente. Fornecem programas de mentoring, coaching, desenvolvimento interpessoal e programas de formação de liderança, bem como de idiomas, àqueles nos quais veem potencial para ocupar cargos de liderança na organização. Conforme Minicucci (2010), alto aproveitamento acadêmico não está necessariamente relacionado à excelente capacidade de liderança empresarial. Há uma correlação positiva, entretanto, não suficientemente grande para fornecer base a um sistema de recrutamento. O aproveitamento dos conhecimentos e das competências já adquiridos em outras companhias economiza os custos do treinamento e do desenvolvimento de novos líderes. Somam-se os benefícios de trazer pessoas já experientes nas áreas específicas do negócio, sendo uma estratégia de baixo custo na identificação de talentos e executivos experientes. Conforme aponta Minicucci (2010, p. 301) sobre pesquisa na Sears, uma empresa que vem utilizando baterias de testes e questionários para identificação de potenciais líderes desde 1944: o grupo executivo é intelectualmente superior ao estudante de faculdade; aceita críticas com mais objetividade e demonstra alta tolerância com diferentes pessoas, maneiras e ideias; dá alto valor às considerações econômicas da organização, bem como ao reconhecimento pessoal; luta pela consecução desse tipo de sucesso. Em resumo, o executivo parece uma pessoa orientada para o objetivo, com um incomum ajustamento pessoal, autoconfiança e ambição que o capacitam a assumir responsabilidades. Para medir a liderança e o desejo de liderar (motivações para a liderança), são utilizados testes de personalidade. Os traços de personalidade mais comumente avaliados são: dominação, agressividade, ascendência, autoafirmação, ousadia, coragem e outros. São testes como o 16PF de Cattell, Inventário de Minnesota, Rorschach e PMK, instrumentos restritos ao uso por parte dos psicólogos do departamento de Recursos Humanos. A capacidade mais avaliada nas organizações é a capacidade de dominar. A identificação de líderes não se restringe a um ou outro método, mas engloba uma bateria de avaliações sobre personalidade, competências e aplicação prática em simulações. Sem dúvida nenhuma, identificar rapidamente baixos escores de dominação no processo permite enxugar os candidatos com perfis mais aderentes às vagas de liderança, ou seja, separar aqueles que querem ser líderes daqueles que não querem. Modelos de motivação Falar de motivação é abordar, ao mesmo tempo, ações do indivíduo em diversos contextos e os impulsos psíquicos, internos, que levam o indivíduo a agir em busca de alcançar determinado objeto ou objetivo. Entretanto, a motivação para a psicologia organizacional e para a administração tem em seu foco de atuação o campo das ciências sociais aplicadas. A motivação humana seria vista, portanto, como tudo que seja capaz de animar o indivíduo para agir e provocar comportamentos úteis para o trabalho em um contexto social específico: o das instituições enquanto organizações produtivas. Num primeiro momento, a motivação pode serestudada como os motivos que levam o indivíduo a agir de determinadas maneiras, em especial os comportamentos que visam aos objetivos da organização. Nesse patamar, a motivação é instrumento prático de gestores e líderes. Para Bergamini (2011), a motivação caracteriza-se por comportamentos duradouros, que nascem de fatores dinâmicos da personalidade como um todo, envolvendo a inteligência, as emoções e os sentimentos, o repertório comportamental de vivências adquiridas e já incorporadas ao psiquismo pela aprendizagem. Dessa forma, um motivo é um fator interno que dá início, dirige e integra o comportamento de uma pessoa como um todo. Em paralelo, essa experiência psíquica do indivíduo encontra suas raízes nas forças pulsionais (energias internas que o fazem se movimentar em busca de um objeto de satisfação) e nas demandas humanas. Em determinado nível de análise, fala-se do sujeito como ser único, indissociável, singular. No atendimento das demandas internas do sujeito, o trabalho é um dos caminhos de satisfação, que para a psicanálise é socialmente adaptável. Portanto, num universo de escolhas psíquicas, o sujeito que desloca sua energia pulsional para o trabalho e a dessexualiza das demandas primitivas humanas encontra, ainda que minimamente, adaptação ao contexto social por meio da sublimação dos desejos internos. Quando se fala no nível de motivação, especialmente para os cargos de liderança, é importante analisar a questão do sujeito que ocupa ou pretende ocupar um cargo de liderança. Entende-se que a liderança está em um escalão, no mínimo, acima de um grupo de pessoas e tem por função o planejamento, a direção, o controle e a coordenação do trabalho de cada um dos membros. O desejo de ocupar determinada função assenta-se nas demandas internas de ser capaz de dar respostas e criar (usar a criatividade), ou seja, ter autonomia e espaço para a tomada de decisões. Dessa forma, o trabalho para o líder é uma fonte de satisfação ainda maior do que para os liderados. Seus comportamentos, por exemplo, de levar trabalho para casa ou fazer horas a mais para atingir os resultados, demonstram o quanto há de satisfação ou descargas de energias pulsionais na execução de suas atividades. Conforme coloca Dejours (2011), a motivação para a liderança é elaborada de outra maneira. É o próprio líder que cria esta demanda de comportamentos produtivos, por encontrar satisfação pulsional no trabalho, muito mais do que nas outras pessoas. O desejo e ter a liberdade de responder por maiores responsabilidades empresariais são diretamente proporcionais à posição na hierarquia organizacional. O trabalho, para o líder, encontra lugar especial e privilegiado dentro de sua economia psíquica. Trabalhar oito horas por dia não basta, não é o salário o motivador. Há real satisfação em desempenhar e alinhar seu desejo com as demandas da empresa. Ainda assim, é tarefa do líder zelar pela motivação de sua equipe. Conforme aponta Bergamini (2011), não é possível motivar ninguém, pois essas necessidades nascem internamente e dependem de cada indivíduo em diferentes graus. Entretanto, é possível conduzir e dirigir a motivação dos colaboradores, por exemplo, satisfazendo as necessidades sociais e as tarefas, trabalhando o clima organizacional e a coesão da equipe de trabalho. No filme Amizade colorida, a headhunter Jamie está em busca de um cargo de alta gerência para uma de suas clientes, a Big Apple, na cidade de Nova York. Ela encontra um candidato em potencial, o jovem Dylan, que mora em Los Angeles, e consegue convencê-lo a ir até Nova York e participar de uma entrevista. Deixando de lado a parte romântica da comédia, tente perceber as características que a recrutadora estava procurando no candidato. MOTIVAÇÃO POR CONTEÚDO A motivação por conteúdo estático é assim concebida por focar a motivação, ou o comportamento motivado, independentemente da orientação temporal, mas principalmente sobre o que de fato estimula os indivíduos a apresentarem comportamentos organizacionais e produtivos. a) A hierarquia das necessidades de Maslow Numa das mais antigas teorias motivacionais, Maslow defende que existem cinco hierarquias de necessidades agrupadas: 1) necessidades fisiológicas; 2) necessidades de segurança; 3) necessidades sociais; 4) necessidades do ego ou da autoestima e 5) necessidades de autorrealização. Sem a satisfação das necessidades mais básicas, como a alimentação adequada, não há a possibilidade de a pessoa passar para a próxima fase motivacional. b) Teoria ERC de Alderfer Alderfer, numa tentativa de modificar a hierarquia das necessidades de Maslow, reduziu o número de categorias e defendeu que necessidades superiores podem ser objeto de satisfação e motivação, sem necessariamente as necessidades anteriores estarem satisfeitas. Resumiu a hierarquia de Maslow em: 1) existência, abrangendo as necessidades fisiológicas e de segurança; 2) relacionamento, abrangendo as necessidades sociais e do ego (ou de autoestima); e 3) necessidades de crescimento, abrangendo a necessidade de autorrealização. c) Teoria das necessidades socialmente adquiridas de McClelland David McClelland dividiu três necessidades sociais que são fontes de motivação individual: 1) realização: necessidades de realizar metas pessoais e atingir objetivos de carreira; 2) poder: necessidade de exercer influência em outras pessoas ou grupos, ao conduzi-los a determinados objetivos almejados; 3) afiliação: necessidades sociais e de ser bem quisto pelos demais membros do grupo. McClelland defendeu que todas as pessoas são motivadas, em diferentes graus, em cada uma das esferas, dependendo das necessidades colocadas em determinado momento da vida. c) Teoria de motivação-higiene de Herzberg Para Herzberg, a motivação pode ser dividida em duas dimensões: 1) aspectos e atividades do trabalho que podem evitar a insatisfação, mas que não influenciam os empregados a crescerem e se desenvolverem, os chamados fatores de higiene; 2) aspectos e atividades ligados ao trabalho que efetivamente encorajam em comportamentos motivados. Segundo esta teoria, por exemplo, o salário não é fonte de motivação, mas a sua falta causa desmotivação, devendo o gestor tornar esta demanda higiênica, ou seja, evitar seu surgimento. MOTIVAÇÃO POR PROCESSO As pesquisas têm indicado que as pessoas variam consideravelmente no modo como reagem aos mesmos estímulos e características em seus trabalhos. Muitas necessidades podem estar simultaneamente em jogo e pode haver diversos outros fatores além das necessidades de satisfação que influenciam a motivação. Dessa maneira, as teorias de processo da motivação focalizam maneiras e mecanismos capazes de produzir e promover os comportamentos motivados, e não somente explicar de onde eles surgem. Trata-se de uma tentativa de trazer respostas aos gestores sobre como promover a motivação nos seus liderados. a) Teoria das expectativas VIE – O comportamento motivado pode ser influenciado por três componentes: 1) uma expectativa de esforço-desempenho, no sentido de que, se o funcionário empregar um esforço maior, terá melhor desempenho; 2) uma percepção de desempenho-resultado, no sentido de que bons desempenhos trarão melhores resultados ou recompensas; 3) valor ou atração a uma certa recompensa ou resultado para a pessoa (valência), ouClique nos botões para saber mais a) Teoria das expectativas VIE – O comportamento motivado pode ser influenciado por três componentes: 1) uma expectativa de esforço-desempenho, no sentido de que, se o funcionário empregar um esforço maior, terá melhor desempenho; 2) uma percepção de desempenho-resultado, no sentido de que bons desempenhos trarão melhores resultados ou recompensas; 3) valor ou atração a uma certa recompensa ou resultado para a pessoa (valência), ou seja, o quanto a pessoavaloriza a recompensa ou o resultado em específico. A grande vantagem da teoria da expectativa é que ela oferece um esquema para entender como a motivação emerge, ligando-se o esforço ao desempenho e às recompensas e ganhos associados. b) Teoria da motivação pelo caminho-meta – Derivada da teoria das expectativas, parte do pressuposto de que as pessoas, ao fazerem opções que refletem suas preferências em termos de relativa utilidade, serão motivadas a produzir quando perceberem que seus esforços as levarão a um desempenho bem-sucedido e à obtenção das recompensas almejadas. A gerência deve, portanto, esclarecer quais são os caminhos necessários para ter um excelente desempenho no atingimento da meta. c) Teoria do estabelecimento de metas – A ideia de que o estabelecimento de metas, de alvos, pode ser uma causa do bom desempenho é intimamente ligada à teoria das expectativas. Dessa forma, as intenções conscientes (metas, alvos) de uma pessoa são os principais determinantes da motivação relacionada à tarefa, visto que as metas dirigem nossos pensamentos e ações. Todavia, nem todas as metas garantem necessariamente o desempenho, uma vez que elas podem entrar em conflito umas com as outras. É papel dos gerentes: estabelecer metas claras e específicas; montar metas suficientemente difíceis para que os subordinados possam percebê-las como desafiadoras, mas não tão difíceis a ponto de serem consideradas impossíveis; envolver os subordinados no estabelecimento de metas sempre que possível. seja, o quanto a pessoa valoriza a recompensa ou o resultado em específico. A grande vantagem da teoria da expectativa é que ela oferece um esquema para entender como a motivação emerge, ligando-se o esforço ao desempenho e às recompensas e ganhos associados. b) Teoria da motivação pelo caminho-meta Derivada da teoria das expectativas, parte do pressuposto de que as pessoas, ao fazerem opções que refletem suas preferências em termos de relativa utilidade, serão motivadas a produzir quando perceberem que seus esforços as levarão a um desempenho bem-sucedido e à obtenção das recompensas almejadas. A gerência deve, portanto, esclarecer quais são os caminhos necessários para ter um excelente desempenho no atingimento da meta. c) Teoria do estabelecimento de metas A ideia de que o estabelecimento de metas, de alvos, pode ser uma causa do bom desempenho é intimamente ligada à teoria das expectativas. Dessa forma, as intenções conscientes (metas, alvos) de uma pessoa são os principais determinantes da motivação relacionada à tarefa, visto que as metas dirigem nossos pensamentos e ações. Todavia, nem todas as metas garantem necessariamente o desempenho, uma vez que elas podem entrar em conflito umas com as outras. É papel dos gerentes: estabelecer metas claras e específicas; montar metas suficientemente difíceis para que os subordinados possam percebê-las como desafiadoras, mas não tão difíceis a ponto de serem consideradas impossíveis; envolver os subordinados no estabelecimento de metas sempre que possível. SINTETIZANDO Nesta unidade, conseguimos aprofundar a visão sobre as responsabilidades da liderança enquanto fenômeno humano voltado especialmente para o ambiente das organizações produtivas. Dessa maneira, de forma geral, vimos que a liderança é um processo de influenciar pessoas e grupos, no ambiente organizacional, a promoverem os comportamentos necessários para atingir os objetivos da organização. A liderança, assim como as organizações, vem sofrendo alterações e atualizações conforme as mudanças do ambiente. Antes da Revolução Industrial, o tema era tratado com conceitos filosóficos e teorias com pouca ou nenhuma sugestão validada em situações práticas. Com o advento da administração científica de Taylor, método de sistematização da administração como ciência, a liderança passou a ser tratada de maneira muito mais prática e tangível, voltada à eficácia. Com o tempo, a liderança passou a ser avaliada enquanto traços específicos da personalidade dos indivíduos. Apenas as características pessoais do líder, ainda assim, não respondem pela complexidade que é liderar uma equipe. O comportamento do líder pode ser orientado para a execução das tarefas ou para as necessidades pessoais dos membros do grupo. A liderança situacional, de forma geral, é aquela que permite ao líder verificar quais são as melhores decisões em termos de comportamento, avaliando a capacidade e a motivação de seus liderados e adequando o estilo de liderança e sua orientação às situações demandadas pela equipe. UNIDADE 2. Liderança e motivação nas organizações OBJETIVOS DA UNIDADE TÓPICOS DE ESTUDO– Os desafios da Liderança Teorias de Liderança Teorias comportamentais e funcionais Teorias contingenciais Teoria de troca entre líderes e liderados (LMX) // Liderança carismática Liderança transformacional Identificando líderes MOTIVAÇÃO POR PROCESSO SINTETIZANDO
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